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Polioralidade: A voz midiática


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Resumo l Existem poucos trabalhos relativos à oralidade e à sonoridade midiáticas, em particular na


mídia radiofônica. A presente pesquisa apresenta propostas para configurações textuais sonoro-orais,
partindo de texturas das massas sonoras, obtidas pela união de vozes, ampliando, dessa forma, o leque
de paisagens para as ambiências sonoras. Com a evolução das máquinas sensórias, o homem viu essas
possibilidades expressivas perderem a importância, não sendo mais capaz de contar com as sutilezas
de modulação da voz. É nossa proposta resgatar as possibilidades ilimitadas do uso vocal, por meio de
vozes múltiplas, possibilidade já usada correntemente no Brasil em vinhetas, aberturas de programas e
em peças comerciais.
Palavras-chave l oralidade/sonoridade, paisagem sonora, ambiências sonoras.

Title l Poliorality: the Voice of Media


Abstract l There exist only a few words related to media orality and sonority, particular the radio. This
research presents a few proposals for the sound-oral textual configurations, departing from the texture of
sound masses, which are obtained through the union of voices, thus spreading the possible backgrounds
for sound environments. With the evolution of sensorial machines, man saw such expressive possibilities
losing their importance, no more able to count on the subtleties of voice modulation. Our proposal is to
rescue the unlimited possibilities of the vocal usage, through multiple voices, which was already common
in Brazil in vignettes, program overtures and commercial plays.
Keywords l orality/sonority, sound landscape, sound environments.

“Onde a palavra cessa, começa a canção, exultação da


mente explodindo adiante, na voz”
(Tomás de Aquino, Comment in Psalm, Prólogo)

1. no princípio era a voz... potencialidades expressivas, “[...] uma espécie de


impressão digital sonora” (César, 2001, p. 31).
“O homem cumpre um dever essencial ao agra- O primeiro enunciado da Bíblia é uma citação
decer aos deuses que lhe outorgaram o privilégio vocal: “Deus disse: ‘Faça-se a luz!’” (Gênesis 1.3).
da voz ...” (Plutarco) A ação aconteceu pela comunicação oral. “A
habilidade de falar é tão importante, que se torna
A voz humana é um elemento fundamental na difícil conceber a vida sem linguagem” (Piccolotto
confecção de ambiências sonoras. Seja transmitindo & Soares, 1991, p. 7). Lendas e mitos de criação
informações, por intermédio de textos pré-produ- dos povos antigos são unânimes em representar a
zidos ou criados no momento da gravação, seja criação do mundo como resultado do som da voz
lançando mão de uma vasta gama de possibilida- dos deuses. O homem pré-histórico manifestou-se
des onomatopaicas. Ela é o mais rico veículo de primeiramente por sons e gestos. No processo de
evolução, ele descobriu que os sons emitidos na
luta, na dor e no esforço exprimiam sentimentos.
Dessa consciência surgiram as primeiras sílabas,
Data de recebimento: 17/11/2004. numa imitação do mundo ao seu redor (Nunes,
Data de aceitação: 30/09/2005. 1971, p. 1)1.
* * Doutor em Artes pela USP, professor nos cursos de Radialismo
e Educação Artística e coordenador do Núcleo de Pesquisa O homem primitivo transmite seus sentimen-
em Comunicação “Códigos e Linguagens: Crítica, Produção e tos de temor, louvor, misticismo pela manifestação
Memória”, da USJT, regente de coral e pianista.
E-mail: mjsergl@osite.com.br- grupal, pelo canto cultual (entende-se aqui toda e
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qualquer manifestação falada, gritada, e talvez até velocidade da emissão, mudanças de timbre e de
cantada). Essas invocações mágicas têm o poder altura, nas regiões grave, média e aguda4.
de encantamento, quando realizadas com paixão, Às vezes, um leve titubear no momento de
sobretudo se cantadas. “Através da iniciação e dos emitir determinadas palavras muda completamen-
rituais, as comunidades arcaicas estabelecem cul- te o sentido da mensagem; a imitação pela voz
turalmente a origem da condição humana [...] e, caricata reporta-nos ao personagem imitado; ou a
ao se fazerem existentes, através do canto mítico, força emocional empregada ao expressar uma ação
produzem quase-signos em que o aparelho fonador ou sentimento leva-nos a “ver” esses estados orali-
produz, equivalentemente, um som tão analógico zados. A voz é o meio reprodutor mais eficiente
quanto o do atributo do Ente Sobrenatural” (Man- da paisagem sonora.
guel, 1997, p. 298). Esse termo, empregado pela primeira vez por
O curandeiro, nas tribos aborígines, realiza suas Murray Schaffer (1991), para designar os elemen-
curas, proferindo palavras cujo sentido é desconhe- tos constituintes do universo sonoro, como ruído,
cido. A pronúncia de certas palavras tem o poder silêncio, som, timbre, amplitude, melodia, textura
de realizar curas de doenças, atrair chuva ou sol. e ritmo, é amplamente utilizado hoje em dia pelos
A ênfase empregada em tal discurso não deixa profissionais de áudio para identificar “uma compo-
margem a dúvida sobre seu encantamento. A voz sição sonoplástica em que elementos constituintes
tem um poder sobrenatural, pois é o instrumento da sonoridade e da oralidade são selecionados e
de comunicação com os espíritos. Pela prática da associados como interface de um mesmo texto,
magia oral, os espíritos atraem ou repelem bonda- realizado como um mesmo ambiente acústico”
de, vingança ou cólera. (José, 2002, p. 6). A paisagem sonora, ao unir os
Interessa-nos o fato de que, com a inflexão das efeitos e trilhas da sonoplastia, confecciona uma
frases, influenciadas pelo efeito das emoções inten- estética do rádio, preenche e configura o tempo/
sas, ocorrem variações de intensidade, andamento, espaço radiofônico, expande-se para o design sono-
subidas e descidas do som, numa fala mais apaixo- ro, e finca-se como um ícone para as ambiências
nada e agitada que a nossa, uma fala que é canto sonoras, em especial, para a mídia radiofônica.
(Jaspensen, citado em Schafer, 1991, pp. 270-1). Uma busca de ampliação de recursos na paisa-
Nós, homens da era da máquina, perdemos as gem sonora tem levado alguns docentes do curso
sutilezas de modulação na voz. Certamente, o ho- de Radialismo da Universidade São Judas Tadeu
mem primitivo, medieval e renascentista tinha na a realizar experiências orais/sonoras. A disciplina
voz um instrumento vital. Todas as novidades eram Projeto Experimental possibilita essas buscas.
lidas em voz alta pelo arauto. Cabia a ele, expressar
por intermédio da leitura, a intenção do texto. Não 2. a polioralidade5
precisávamos que McLuhan2 nos contasse que, do
mesmo modo que “a máquina de costura [...] criou Tomando como referência o coro ou jogral6, en-
a longa linha reta nas roupas [...] o linotipo acha- contrado com freqüência nas sociedades clássicas,
tou o estilo vocal humano”. Schafer3 propõe ser procuramos criar uma nova textura, uma nova
fundamental trabalhar com o som vocal bruto, forma de volume oral/sonoro dentro da peça ra-
“recomeçar como os aborígines, que nem mesmo diofônica.
sabem a diferença entre fala e canto, significado e O jogral sempre foi um ícone da sociedade, de
sonoridade” (Schafer, 1991, pp. 207-8). seu modo de pensar, de sentir e de agir. Em todas
Da voz humana podemos extrair infinitas pos- as manifestações que envolvem muitas pessoas, elas
sibilidades de nuances: quebras rítmicas, gamas de atuam, de forma inconsciente, como um grande
intensidade e mudanças de tom, da posição da jogral. Nas partidas de futebol, nos shows musicais,
língua na boca ao articular palavras e frases, dife- nos discursos políticos e nas cerimônias religiosas,
rentes maneiras de usar os lábios, a abertura da boca, a assistência interage com os personagens prin-
a posição da língua e do véu palatino, sutilezas na cipais, ovacionando, vaiando, cantando. Sempre
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que duas ou mais pessoas estão reunidas, a mani- o ouvinte com o ambiente da ação (Lesky, 1971).
festação polioral está presente. Esse costume estendeu-se pelo Império Romano
O coro já existia na Grécia antiga, introduzido e atravessou a Idade Média, quando tomou um
por Arion, que o retirou do canto cultual. Ele aspecto mais religioso, sendo essa técnica utilizada
determinava o que o coro cantava e introduzia sá- até os dias de hoje.
tiros que falavam em versos. Aliás, o drama grego A recente montagem da tragédia grega Medéia,
consistiu, primeiramente, de odes cantadas por um sob a direção de Antunes Filho, apresentada na
coro, que também executava movimentos rítmi- cidade de São Paulo, mostra-nos a utilização plena
cos. “Em sua forma, a tragédia grega compartilha- das nuances vocálicas para criar uma dimensão
va ao mesmo tempo do espetáculo dramático e da dramática. Com o uso de um cenário enxuto, a
composição musical, numa mistura de diálogo, atenção volta-se para a exploração de vasta gama
canto e dança, distribuídos entre os atores propria- dos itens que passamos a analisar a seguir.
mente ditos e o coro, este acompanhado por ins- O coro grego, do qual deriva o jogral, é a forma
trumentos musicais, ora intervindo diretamente no mais eficiente de treino da sincronia, da precisão
jogo cênico e contracenando com os intérpretes, rítmica e da dosagem da intensidade de sentimen-
ora participando isoladamente em passagens líricas tos para transmitir determinada idéia. O leque de
ou coreográficas” (Araújo, 1978, p. 68). Doze ou possibilidades amplia-se na mesma proporção do
24 participantes compunham o coro da tragédia número de integrantes envolvidos. É apoio funda-
em sua fase áurea (chegaram a cinqüenta coristas, mental para criar-se uma paisagem sonora, uma
originariamente). Eles eram a representação do ambientação para determinados textos.
povo grego. A junção de vozes permite a utilização de recur-
As falas do coro no drama grego eram tão im- sos como a similaridade rítmica (quando todos falam
portantes quanto as dos protagonistas, fazendo na mesma tomada de respiração, ao mesmo tempo,
parte do enredo do drama. No coro (acreditamos na mesma velocidade) ou a similaridade tímbríca
que suas intervenções sejam mais uma fala cantada, (quando se escolhem vozes com características
um Sprechgesang7, do que propriamente melodias semelhantes). Podemos afirmar que essas opções
entoadas) predominam os sentimentos e as ponde- propiciam gamas sonoras de homogeneidade ou
rações. O corista atua como “espectador articula- heterogeneidade, homofonia ou polifonia vocal.
do, motivado pelo pathos da ação”, enquanto as Vozes com características semelhantes, faladas
falas dos protagonistas discutem e desenvolvem o ao mesmo tempo, produzem efeitos homofônicos.
enredo, o tema. A mistura de vozes diferenciadas timbristicamen-
Essas diferenças são expostas com muita clareza te, vozes de prata unidas a outras de bronze, graves
em Os persas, de Ésquilo. Esse drama é iniciado com unidas a vozes agudas, vozes fortes a vozes fracas,
a entrada do coro de conselheiros persas, cujo can- suaves a roucas, aspiradas a nasalizadas, agressivas
to expressa a preocupação com a sorte reservada a receosas, acanhadas a dinâmicas, sobretudo se
ao exército persa. Em Édipo Rei, de Sófocles, o povo emitidas defasadamente, possibilitam uma polifo-
grita sua dor e sua miséria, roga e leva seus lamentos nia oral.
ao rei. Em Medéia, de Eurípides, o canto do coro Para cada clima desejado, monta-se um grupo
tem a função de fazer a protagonista refletir sobre vocal específico. Vozes masculinas graves, de timbre
sua decisão de matar os filhos. bronze, possibilitam a emissão de uma fala lúgubre,
Cabe ao coro descrever situações, narrar as “par- criando-se dessa forma uma paisagem sonora de
tes do drama, acontecidas em outro tempo ou outro mistério, de horror. Vozes femininas agudas criam
lugar (a técnica do flashback no cinema pode ser um clima festivo. A mistura pensada de vozes
comparada a ele)” (Schafer, 1991, p. 243), lembrar conflitantes emitidas de forma defasada cria a
a importância da celebração dos cultos, da tradição, paisagem sonora do caos, da metrópole. O uso do
declarar a culpa e sua expiação, refletir sobre o jogral amplia o espectro sonoro em possibilidades
destino ou descrever peculiaridades, familiarizando quase ilimitadas em torno de paisagens sonoras.
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O jogral na peça radiofônica tem a função de É essencial que se experimente reproduzir, por
aconselhar, alertar, advertir, sinalizar, localizar o meio de inflexões, o significado da palavra, e, ainda,
ouvinte dentro do conto. O jogral possibilita ainda que se estabeleça o peso que esta palavra deve ter
oralizar a consciência dos personagens, narrar a no contexto da frase. As inflexões são a música das
história, produzir efeitos onomatopaicos, aconse- palavras, o vetor que lhes dá relevo e interesse. Mas
lhar, torcer, tornar público o inconsciente coletivo é preciso que essas inflexões sejam verdadeiras,
e as cobranças da sociedade. sinceras e ditas com naturalidade, para serem
O jogral dá ritmo e movimento à peça radiofô- convincentes. As inflexões ascendentes traduzem
nica e propicia volume e equilíbrio sonoro, por meio interesse, curiosidade, entusiasmo ou cólera; as des-
de contrastes, de contrapontos entre as vozes femi- cendentes, indiferença, desdém, raiva; as diretas,
ninas e masculinas, entre as vozes graves e agudas, sentimentos tranqüilos ou enunciações.
entre os diferentes timbres vocais. O número de Ainda, cada palavra ganha um peso dentro da
doze participantes, habitual na tragédia grega, é frase, realçando seu significado. As palavras de
ideal para se obter peso, massa sonora, possibili- valor e os acentos de insistência podem ter caráter
tando toda a gama de possibilidades de timbre. afetivo ou intelectual. Os acentos afetivos recaem
sobre palavras que nos comunicam uma emoção;
3. a caverna das infinitas os acentos intelectuais dão ênfase a determinadas
possibilidades palavras importantes no contexto.
Há várias maneiras de destacar essas palavras:
Para utilizar adequadamente a voz nos moldes das articulá-las com maior nitidez, acentuar certos
propostas acima descritas, sugerimos alguns passos termos, retardar a palavra que antecede a principal,
na elaboração dos textos. Cada palavra tem uma subir ou baixar a voz, ou mudar seu tom, sempre
intenção, um sentido, uma curva psicográfica, que sem exageros, naturalmente. O movimento também
se vale das vogais e das consoantes para sua cons- deve ser observado. Tranqüilidade e desânimo pe-
trução. Dessa união, utilizando-se uma emissão dem movimentos lentos; agitação e pressa, movi-
correta, a palavra ganha sentido. Descobrir esse mentos rápidos.
sentido e transformá-lo em voz é nosso grande O colorido na dicção, definido pelo timbre das
desafio. vozes, é outro fator a se considerar. Alegria e arreba-
tamento pedem um timbre brilhante, de voz de
“As vogais, como diziam os antigos humanistas ouro; textos calmos pedem voz de prata, de tona-
rabínicos, são a alma das palavras, e as consoan- lidade suave, clara e delicada; trechos declamados,
tes, seu esqueleto. Em música, são as vogais que na tragédia e na oratória, pedem vozes de bronze,
dão oportunidade ao compositor para a invenção graves e volumosas, além de fortes; textos que explo-
melódica, enquanto as consoantes articulam o ram aspectos de ternura, tristeza e nostalgia pedem
ritmo. Um foneticista define a vogal como o pico vozes de veludo, doces e macias, graves e tranqüi-
sonoro de cada sílaba. É a vogal que fornece asas las; mistério, medo, pavor, pedem vozes caverno-
para o vôo da palavra” (Schafer, 1991, p. 224). sas, muito graves.
Ao buscar essa interação, é preciso falar de tal
A vogal é o som puro, sem obstáculo, que em- maneira, que cada som ganhe vida.
presta cadência e ritmo, que projeta a voz. Se conseguirmos isso, podemos até fazer com
O uso da prosódia vem em auxílio da desco- que seu sentido original definhe e morra, dando
berta da força interna de cada sílaba dentro da lugar a um novo sentido, a uma nova sintaxe den-
palavra. tro do contexto da frase.
A emissão correta exige a observação rigorosa Criamos, assim, poemas sonoros, nos quais a
do acento tônico nos vocábulos de mais de uma oralidade e a sonoridade estão de tal forma imbri-
sílaba. A sucessão de sílabas tônicas e átonas inter- cadas, que se torna difícil dizer se emitimos uma
caladas constitui a cadência e o ritmo das frases. fala cantada ou um canto falado.
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Todas as proposições de Schafer para redesco- SCHAFER, M. O ouvido pensante. Trad. de M. Fonterrada
brir a voz humana, cantando, recitando, rugindo, et al. São Paulo: Edunesp, 1991.
__________. A afinação do mundo. São Paulo: Edunesp,
gritando, apregoando, entoando, usando melismas,
1997.
sons onomatopaicos, sussurros, emissões somen- SIMAS, A. L. B. Eduque sua voz e sua fala. Porto Alegre: A
te com vogais, exclamações, inflexões, glissandos, Nação, 1970.
efeitos de eco, entre tantas outras possibilidades, VALENTE, H. de A. D. Os cantos da voz – Entre o ruído e o
podem ser aplicadas à fala em grupo, ao jogral. silêncio. São Paulo: Annablume, 1999.
__________. As vozes da canção na mídia. São Paulo: Via
Essa proposta da união de possibilidades ilimi-
Lettera, 2003.
tadas do uso da voz, multiplicada pelo número de WISNIK, J. M. O som e o sentido. Uma outra história das
participantes, amplia de forma espantosa o leque músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
do espectro sonoro, propiciando a criação de verda- ZUMTHOR, P. “Permanência da voz”. Trad. de M. I.
deiros poemas sonoros, resgatando a plenitude da Rolim. O Correio (órgão da Unesco), nº 10, “A palavra
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oralidade empregada pelo homem antes do achata-
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mento imposto pela sociedade industrial, tornan- de A. Pinheiro & J. P. Ferreira. São Paulo: Companhia
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da mídia radiofônica.
Notas
Referências bibliográficas
1 É necessário diferenciar voz, fala e linguagem. Voz é a
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Lettres, 1991. filósofo canadense, é autor de diversos livros, destacando-
CÉSAR, C. Inspiração, transpiração e emoção. São Paulo: se, entre eles, A galáxia de Gutenberg (1962) e Os meios de
Ibrasa, 2001, 3ª ed. comunicação como extensões do homem (1964).
__________. Prática de locução AM e FM – Dicas e toques. 3 Murray Schafer, compositor e artista plástico canadense
São Paulo: Ibrasa, 2002, 9ª ed. nascido em 1933, tem-se dedicado ao ensino da música. Ele
FERREIRA, L. P. (org.). Voz profissional: O profissional da propõe um novo “olhar” sobre o mundo pelo viés da
voz. Carapicuíba: Pró-Fono, 1995. escuta, apontando novos caminhos para a atuação sobre o
HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, ambiente sonoro.
2002, 11ª ed. 4 Os parâmetros básicos da linguagem musical podem
HAVELOCK, E. A. A musa aprende a escrever. Lisboa: clarear essas possibilidades: a) altura – pelo registro vocal
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Cultrix, 1973. parâmetro, em soprano (voz feminina aguda), contralto
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Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. Ainda, o peso das sílabas tônicas e átonas evidencia a
MARZ, M. L. Vozes da voz. Dissertação de mestrado. São inflexão melódica; b) timbre – permite reconhecer as
Paulo: PUC-SP, 1990. qualidades de cada voz: ouro, bronze, gutural, nasalada, etc.
NUNES, L. Manual de voz e dicção. Rio de Janeiro: MEC, É determinado pelo sexo, pela idade, pela caixa óssea
1971. craniana e pela espessura das pregas vocais; c) modos de
NUNES, M. R. F. O mito no rádio. A voz e os signos de ataque – formas de emitir o som determinam a clareza da
renovação periódica. São Paulo: Annablume, 1993. pronúncia (articulação fonética) e do fraseado, da textura
PICCOLOTTO, L. & SOARES, R. M. F. Técnicas de vocal; d) intensidade – é determinada pela maior ou menor
impostação e comunicação oral. São Paulo: Loyola, 1991. energia empregada na fala. Essa gradação vai do grito até o
QUINTEIRO, E. A. Estética da voz. Uma voz para o ator. sussurro; e) duração – estabelece o maior ou menor tempo
São Paulo: Summus, 1989. de cada sílaba na palavra, ou da palavra na frase. O modo
SANTAELLA, L. Cultura das mídias. São Paulo: de alongar sílabas tônicas dá à palavra um valor expressivo
Experimento, 1996. muito grande. A esses parâmetros podem-se aplicar outros,
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tais como a velocidade da fala, ritmo, acentos e pausas artista medieval que ganhava a vida divertindo o público ou
(Valente, 1999, p. 105). o divulgador da poesia trovadoresca.
5 A polioralidade é a junção de várias vozes, especialmente 7 Técnica de emissão vocal muito usada por Schoenberg e
escolhidas por semelhança ou distinção de timbre. outros compositores de sua escola para designar uma
6 Jogral é o grupo de pessoal que lê textos, alternando espécie de declamação musical, entre o canto e a fala.
partes individuais e partes coletivas. Não confundir com o

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