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PRODUÇÃO DE
TEXTOS DISSETATIVOS
PARA CONCURSOS
Niterói – 2017
A linguagem apropriada à dissertação (nível e grau de pessoalidade)
FRASE 1 FRASE 2
Uso coloquial da língua: “tá a fim” Uso do padrão culto da língua
Jargão popular: “descascar um abacaxi” Ausência de gírias ou jargão
Uso da primeira pessoa: “eu acho” Uso da 3ª pessoa do singular que
(imprime um grau máximo de imprime maior grau de impessoalidade ao
pessoalidade ao texto). texto.
Observe que a frase 1 apresenta algumas características que são impróprias para uma redação cuja
proposta seja a elaboração de um texto dissertativo-argumentativo.
Isto porque a dissertação é um texto que pode se prestar a duas finalidades principais:
- expor ideias;
- argumentar em defesa de uma opinião.
Essas características, que garantem maior credibilidade ao texto produzido, estão contempladas na frase
2, mas não estão na frase 1.
Analisei todos os fatos e concluí que o réu é É preciso tomar decisões para coibir a
culpado. (presença do eu – grau máximo de criminalidade.
pessoalidade)
É indispensável que as autoridades esclareçam
Após todos os fatos terem sido analisados, os recentes casos de corrupção no país.
concluímos que o réu é culpado. (presença do
nós – grau intermediário de pessoalidade) A diretoria da empresa elegeu um novo
coordenador executivo.
Após a análise de todos os fatos, concluiu-se que
o réu é culpado. (presença da terceira pessoa Os deputados votaram um projeto de lei que vai
do singular + partícula se – grau máximo de de encontro aos interesses da população.
impessoalidade).
As autoridades competentes devem garantir ao
Preciso tomar decisões para que isso não cidadão o direito de ir e vir.
aconteça de novo com a gente.
Está sendo comprovada a importância da escrita
Precisamos tomar decisões para que isso não à mão no processo de aprendizado.
volte a acontecer.
O uso de operadores argumentativos para organizar os argumentos
João quer ir à ...porque quer ter uma profissão porque indica causa
escola... melhor. explicação ou justificativa.
Observação:
De acordo com Garcia (1988), legitimamente, só os fatos ou fenômenos físicos têm causa;
os atos ou atitudes praticados ou assumidos pelo homem têm razões, motivos ou
explicações. Da mesma maneira, os primeiros têm efeitos; e os segundos, consequências.
Operadores que apresentam argumentos que indicam ideias contrárias, ou seja, operadores
que ligam enunciados (= orações, frases) de sentido contrário, aqui temos dois grupos:
Grupo A : mas, porém, contudo, todavia, no entanto, etc;
Grupo B : embora, ainda que, posto que, apesar de (que),...
Toda oração que vem à direita dos operadores: mas, porém, contudo, todavia e no
entanto sempre tem o argumento mais forte, o argumento que predomina. Exemplo:
a) O candidato esforçou-se para causar boa impressão mas ele não foi selecionado.
Observe que o argumento que está à direita do mas é o mais forte, podemos dizer que ele
vence o argumento anterior.
É diferente, porém, o que acontece com os operadores: embora, ainda que, posto que, apesar
de (que). Esses operadores admitem o outro argumento, colocando apenas uma ressalva. Por
isso, o argumento introduzido por eles não predomina sobre o outro argumento.
Exemplos:
a) Embora o time tenha jogado bem, perdeu.
Mesmo trocando a ordem das orações, não mudaria o efeito de sentido.
b) O time perdeu, embora tenha jogado bem.
Operadores que indicam o argumento mais forte de um enunciado (= frase, oração): até,
mesmo, até mesmo, inclusive, pelo menos, no mínimo.
Exemplos:
a) A apresentação foi coroada de sucesso: estiveram presentes personalidades do mundo artístico,
pessoas influentes nos meios políticos e até o Presidente da República.
b) O homem teme o pensamento como nada mais sobre a terra, mais ainda que a ruína e mesmo
mais que a morte. (Bertrand Russel) - O filósofo usou o operador mesmo para indicar o que seria
(para ele) o argumento mais forte neste enunciado.
c) O rapaz era dotado de grandes ambições; pensava em ser, no mínimo, prefeito da cidade onde
tinha nascido.
Operadores que se distribuem em escalas opostas: quase: o argumento indica
maioria; apenas (só, somente, poucos): o argumento aponta para a negação da
totalidade. Exemplos:
A maioria dos alunos estuda bastante: quase 80%.
São poucos os alunos que não estudam, apenas 20%.
Os operadores que indicam uma relação de tempo no enunciado: quando, assim que, logo
que. no momento em que... Exemplo:
a) Assim que Antonio chegar, peça para ele vir a minha sala.
Operadores que indicam finalidade, objetivo no enunciado: para, para que, a fim de (que)...
Exemplo:
a) Eu estudo para entender melhor a minha profissão. (Eu estudo com que objetivo? com
que finalidade?)
Informações disponíveis em: https://portuguesemdestaque.blogspot.com.br/2013/06/operadores-argumentativos_12.html. (adaptado)
E, também, nem, tanto... como, não só... mas também, além de, além disso, ainda:
operadores que estabelecem relação de conjunção, ligação, adição. Os argumentos levam para
uma mesma conclusão. Alguns ligam argumentos de mesma força argumentativa, outros
acentuam o argumento de maior relevância.
Mesmo, até mesmo, até, inclusive: estabelecem hierarquia dos elementos numa escala e
assinalam o argumento mais forte.
Mas (porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto), embora (ainda que, apesar de (que), por
mais que, mesmo que): assinalam oposição entre elementos semânticos.
Isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras, ou melhor, de fato, pelo/ao contrário, ao
invés de, ou: estabelecem relações de correção ou redefinição e colaboram para o ajustamento
da precisão de sentido, enfatizando um argumento mais forte, mais claro, orientando para uma
determinada conclusão. Semanticamente, reforça-se o enunciado anterior.
Ou, ou então, quer...quer, seja... seja, seja... ou: estabelecem relação de disjunção
argumentativa. Constituem dois enunciados distintos, com orientações discursivas diferentes, em
que um tem por função provocar o interlocutor de forma a levá-lo a modificar sua opinião, ou, no
mínimo, aceitar a opinião expressa pelo outro enunciado.
Mais... (do) que, menos... (do) que, (tanto, tão, tal, assim)... como, (tanto, tão)... quanto, de
longe: operadores que estabelecem relação de comparação, apontando inferioridade,
superioridade ou igualdade. Têm caráter argumentativo por serem aplicados quando se tem em
vista uma dada conclusão; os enunciados tendem a favorecer ou desfavorecer algo ou alguém.
Um pouco, pouco, quase, apenas, só, somente: “Pouco” limita, restringe, assim como as
diferentes formas de negação. “Um pouco” aponta para uma direção positiva, no sentido da
afirmação. “Apenas”, “só” e “somente” argumentam com caráter de restrição, de exclusão e
valorizam o argumento apresentado. “Quase” restringe, e direciona para a negação.
Lá, aqui, ali, aí, é que: palavras realçam e enfatizam os argumentos apresentados. Sem essas
marcas, os enunciados tornar-se-iam despercebidos.
DICA:
O emprego de operadores argumentativos, além de enriquecer a
qualidade do texto, também ajuda a construir a argumentação.
Características:
expor, definir, enumerar ou explicar fatos e elementos de informação;
razoável grau de objetividade;
linguagem cuidada, com estruturas lexicais e sintáticas corretas e adequadas;
clareza, simplicidade e rigor;
uso de estruturas impessoais, de nominalizações e modalidades de possibilidade, certeza ou
probabilidade, em vez de juízos de valor ou sentimentos de apreciação.
Estrutura:
introdução: apresentação do tema (referência ao percurso seguido no texto; objetivos e intenção do
autor) ou constatação;
desenvolvimento do tema (explicação, demonstração e estabelecimento lógico entre os dados
enunciados);
conclusão (síntese do exposto).
Características:
o argumentador se propõe a convencer ou a persuadir seu destinatário sobre algum tema
polêmico;
há uma tese/opinião defendida que é claramente identificada pelo destinatário;
o texto usa um registo adequado ao destinatário e ao tema tratado;
os argumentos utilizados podem ser diversificados: proverbiais, universais, experiência pessoal,
históricos, exemplares, científicos …
Estrutura:
O texto argumentativo deve começar por uma introdução, normalmente um parágrafo; segue-se o
desenvolvimento, em parágrafos, com os respectivos argumentos e contra-argumentos, seguidos de
exemplos; finalmente, uma conclusão, de parágrafo único, que retoma a afirmação inicial provada ou
contrariada.
Os vários parágrafos devem estar encadeados uns nos outros pelos articuladores do discurso ou
conectores lógicos (de causa-efeito-consequência, hipótese-solução, etc.).
Veja a seguir o modelo de parágrafo apresentdo por Othon Moacir Garcia, conhecido como parágrafo
padrão:
Em outras palavras:
EXEMPLO:
DICA:
Sempre que for fazer uma redação, leia com atenção as orientações dadas na prova.
Se estiver pedindo apenas que se escreva um texto dissertativo, sem solicitar a defesa de um
ponto de vista, você poderá apresentar apenas fatos relacionados ao tema, sem se posicionar
sobre eles.
A tese deve ser formulada em uma frase, em geral, afirmativa, na qual se emita um juízo de valor
sobre o tema a ser tratado.
O argumento é uma comprovação da tese, é a reunião do ponto de vista defendido com fatos que
o justificam, como esquematizado a seguir:
ARGUMENTO = OPINIÃO + FATOS (dados, informações, exemplos, citações etc.)
Veja um exemplo:
TESE: A família não pode ser considerada a única responsável pelos menores infratores que interferem no bom
funcionamento na máquina social.
FATO: “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
ARGUMENTO: Como previsto não só no ECA mas também na própria Constituição, se algo não vai bem na
educação e no cuidado de uma criança ou um adolescente, a responsabilidade não deve ser atribuída
exclusivamente à família, visto que a sociedade e o Estado também têm sua parcela de responsabilidade.
NO PARÁGRAFO:
O número de jovens e até mesmo crianças que estão envolvidos com práticas criminosas na atualidade é
alarmante. Basta caminhar pelos centros urbanos das principais capitais do país, como Rio, São
Paulo e Salvador, para constatar essa triste realidade. Diante desse cenário, muitos brasileiros
acabam atribuindo o problema a uma família negligente. Isso, de fato, não é totalmente incorreto.
Entretanto, há de se considerar, que, como previsto não só no ECA mas também na própria
Constituição, em seu art. 227, se algo não vai bem na educação e no cuidado de uma criança ou um
adolescente, a responsabilidade não deve ser atribuída exclusivamente à família, visto que a
sociedade e o Estado também têm sua parcela de responsabilidade. Portanto, se a família negligencia
seus dependentes, tal tarefa precisa ser assumida por esses outros corresponsáveis.
Argumento por exemplificação = informações históricas ou do cotidiano, divulgadas pelas mídias, exemplos reais
de conhecimento de todos, informações retiradas da literatura ou de outras áreas não científicas para servir como
ilustração etc.
Veja um exemplo:
TESE: A liberação da arma de fogo para civis pode aumentar os problemas com a violência no Brasil.
FATO: Policial atira contra grupo de adolescentes e mata um menor de idade com um tiro pelas costas.
ARGUMENTO: Se um policial que é treinado para o uso de armas de fogo acaba cometendo um ato criminoso como
esse, imagina um civil, que não recebe treinamento nenhum.
NO PARÁGRAFO:
Não é difícil perceber que a liberação da arma de fogo para o uso por civis pode ocasionar um problema
ainda maior para a sociedade. Recentemente, um fato divulgado nos noticiários chocou a população:
um policial atirou em direção a um grupo de jovens e acabou matando um adolescente de 16 anos
com um tipo pelas costas. Se um profissional treinado para o ofício age com tal descontrole,
imagina um cidadão comum que não recebe preparo nenhum? Desse modo, torna-se difícil sustentar
o argumento de que a liberação da arma diminuirá o número de casos de violência, visto que, como
demonstrado, pode acabar provocando ainda mais mortes.
Argumento por meio da relação causa x efeito = um fato que teve uma causa e um efeito.
Veja um exemplo:
NO PARÁGRAFO:
O Brasil tem potencial para investir em diversos tipos de transportes metropolitanos, desafogando a malha
rodoviária que já se encontra saturada a muito tempo. A greve dos caminhoneiros, que fez o país
parar, demonstra que o funcionamento do país é dependente do sistema rodoviário: são os
caminhões que transportam a comida, as pessoas, os produtos em geral. Logo, é importante investir
em outros modais, como o ferroviário e o aquático para que se disponha de outras opções de transporte
tanto para a população quanto para a circulação de mercadorias.
Veja a seguir a construção de dois textos dissertativo-argumentativos. Observe a tese, os argumentos, os operadores
argumentativos empregados etc. As redações apresentadas obedecem ao padrão Enem, que se enquadra no tipo
dissertativo-argumentativo.
INTRODUÇÃO Tema: “Se a Constituição Cidadã fosse respeitada, a sociedade brasileira viveria uma real cidadania? Por quê?”
CONTEXTUALIZAÇÃO
Corrupção. Pobreza extrema. Violência. São vários os fatores que violam a Constituição e levam o Brasil a
TESE viver um momento de sua história que preocupa a todos os brasileiros. Apesar disso, a Constituição de
(pelo menos 2 frases) 1988, denominada de Cidadã, pode garantir que uma real cidadania seja vivida na sociedade
brasileira, pois ela trouxe de volta o Estado Democrático e garantiu direitos básicos fundamentais.
Primeiramente, vale lembrar que essa Constituição trouxe de volta o Estado Democrático, que havia
sido abolido pelo regime militar. Com isso, práticas como a tortura e a censura deixaram de ser
DESENVOLVIMENTO
praticadas, e a sociedade usufrui de mais liberdade. Além disso, o voto direto e secreto passou a vigorar,
ARGUMENTOS
(dois ou três parágrafos o que aumentou a participação popular no processo democrático. Essas medidas garantiram ao
no estilo padrão): cidadão seu pleno exercício da cidadania.
tópico frasal
comentário Em segundo lugar, a Constituição também garante direitos básicos fundamentais como o direito à vida,
conclusão.
à igualdade, à educação etc. Desse modo, qualquer ação que viole tais fundamentos, passa a ser tratada
como crime, sob o regimento legal. Assim, tanto as instituições quanto os indivíduos precisam agir de
acordo com a lei, o que propicia que toda ação seja pensada com cuidado. Nesse sentido, a Carta
Magna também acaba contribuindo para que a ocorrência de crimes diminua.
Diante do exposto, comprova-se que o respeito à Constituição tem potencial para garantir o pleno
CONCLUSÃO
retomada e confirmação exercício da cidadania. Logo, para que essa cidadania seja recuperada, é necessário que os três poderes
da tese: 1 frase
PROPOSTAS (ENEM): 1 ou instituídos (Executivo, Legislativo e Judiciário) sejam os primeiros a respeitarem a lei, evitando a
duas frases elaboração de emendas com o propósito de atenderem a seus próprios interesses, colocando as
FECHAMENTO DO TEXTO:
1 frase necessidades da população em primeiro lugar. Essa e outras medidas podem trazer de volta a real
cidadania e minimizar os fatores que violam a constituição.
A quantidade de problemas enfrentados pela sociedade brasileira atual só aumenta. Seja na saúde, na
CONTEXTUALIZAÇÃO
TESE educação, nos transportes, na segurança, seja na política e na economia, os desafios parecem
(pelo menos 2 frases) insuperáveis. Entretanto, uma análise atenta revela que a culpa por essas crises frequentes é não os do
governo mas também da própria sociedade.
Embora sejam eleitos para defender os interesses dos cidadãos, os políticos não priorizam os interesses
dos cidadãos. Ao contrário, o orçamento que deveria ser destinado aos setores que precisam de
DESENVOLVIMENTO
atenção é desviado pela corrupção, como tem sido mostrado nos principais noticiários. Nem mesmo as
ARGUMENTOS
(dois ou três parágrafos CPIs, como a Lava Jato, conseguem dar conta de reduzir tal delinquência política. Nesse sentido, o
no estilo padrão): governo deixar de cumprir com eficiência suas obrigações.
tópico frasal
comentário Ademais, muitos desses problemas ocorrem em função de a sociedade não se mobilizar para exigir que
conclusão.
seus direitos sejam cumpridos. Antes das manifestações de 2013, a última grande mobilização popular
havia sido o movimento “Caras Pintadas” que depôs o presidente Collor. Mesmo assim, após 2013, o
desejo de luta da população esfriou. Embora os problemas persistam, a sociedade está calada, assistindo
a tudo pela televisão. Desse modo, a própria população corrobora a perpetuação das mazelas sociais.
Considerando tudo isso, há de se concordar que os infortúnios sociais são mantidos por aqueles que
CONCLUSÃO
retomada e confirmação
da tese: 1 frase deviam resolvê-los. Para mudar esse cenário e garantir o perfeito funcionamento dos serviços básicos, a
PROPOSTAS (ENEM): 1 ou
duas frases sociedade precisa cobrar que os gestores públicos cumpram suas obrigações, distribuindo as verbas
FECHAMENTO DO TEXTO: adequadamente pelos diversos setores. Somente assim o país encontrará soluções para suas inúmeras
1 frase
crises.
A seguir, serão apresentadas cinco propostas de redação. Leia-as com atenção. Depois, eleja
um tema e escreva sua redação.
1) Proposta UNESP – 2009 (15-20 linhas)