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RESUMO
Os antibióticos são as drogas mais prescritas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Assim, investigou-se a utilização dos antibacterianos prescritos no tratamento dos pacientes
internados na UTI de uma Santa Casa de Misericórdia do Brasil. Foi realizado um estudo
observacional, descritivo e prospectivo, incluindo 157 pacientes. As hipóteses diagnósticas
mais freqüentes foram infecção respiratória (28,7%) e sepse (15,9). O consumo de
antibióticos foi de 182,8 Dose Diária Definida (DDD) por 100 leito-dias. Predominou o uso
de β-lactâmicos (107,8 DDD por 100 leito-dias), o antimicrobiano mais consumido foi a
ceftriaxona (31,9% e 50,3 DDD/100 leito-dias). A promoção de ações educativas e uma
política racional para o uso de antimicrobianos são medidas de imensa importância na
prevenção de infecção em UTI.
_________________________________
1 – Doutorando pela Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO) – Vinculado a Universidade Federal do
Ceará. Mestre em Ciências Farmacêuticas (UFC).
2 – Doutoranda pela Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO) – Vinculado a Universidade Federal do
Ceará. Chefe do Laboratório de Análises Clínicas da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza.
3 – Graduado em Enfermagem. Enfermeiro do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS Geral/Fortaleza-CE).
4 – Professora Doutora da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do
Ceará. Docente do Mestrado em Ciências Farmacêuticas (UFC).
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ABSTRACT
Antibiotics are the most prescribed drugs at the Intensive Care Units. Thus, the profile of use
of the antibacterial ones prescribed in the treatment of the patients interned in the UTI of a
Saint Casa de Misericordia of Brazil was investigated. A observacional, descriptive and
prospectivo study was carried through, including 157 patients. The most frequent diagnosed
hypotheses were respiratory infection (28.7%) and sepses (15.9%). The antibiotic consume
was 182,8 DDD (daily dose definite) per bed a day. The most given antibiotic were the ß-
lactamics (107.8 DDD per 100 beds a day), such as ceftriaxone (31.9% and 50.3 DDD/100
beds a day). Educational actions, in order to promote a permanent guard on the use of
antibiotics at hospitals, along with a rational politic to regulate the their use are very important
measures to prevent of infection in UTI.
INTRODUÇÃO
Uma das principais preocupações mundiais quanto ao uso racional de medicamentos
está relacionada à utilização de antimicrobianos. O aumento da resistência bacteriana a vários
agentes antimicrobianos acarreta dificuldades no manejo de infecções, contribui para o
aumento dos custos do sistema de saúde e determina uma redução na qualidade de vida de
pacientes e familiares. Porém, nos países em desenvolvimento, poucos recursos são
empregados na monitoração de ações sobre o uso racional de antimicrobianos e os dados
sobre o uso desses agentes em hospitais são limitados, não sendo o cenário brasileiro diferente
(CASTRO et al., 2002).
Os antibióticos são as drogas mais prescritas nos hospitais e o aumento da resistência
bacteriana a essas drogas é uma ameaça à saúde pública. Muitas evidências sugerem que
existe uma associação entre o uso de antimicrobianos e o desenvolvimento da resistência
bacteriana (ROGUES et al., 2004). Assim, torna-se necessário estabelecer um mecanismo de
vigilância sobre o uso de antimicrobianos.
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Apesar das bases que fundamentam o uso racional de antimicrobianos terem sido
amplamente discutidas e enfatizadas na literatura, ainda são constatadas preocupantes
situações de mau uso. Paralelamente, parece não haver ainda aceitação adequada das políticas
de Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e de farmácia e terapêutica em
hospitais (CASTRO et al., 2002).
O uso de antibióticos, assim como de qualquer medicamento, pode implicar no risco
da ocorrência de efeitos nocivos para a saúde humana. Os antibióticos constituem um
importante recurso para o tratamento de doenças infecciosas, porém seu uso indiscriminado
e/ou inadequado tem levado à seleção de cepas resistentes às drogas mais potentes utilizadas
atualmente (WOLFF, 2002).
METODOLOGIA
O estudo foi realizado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa da
Misericórdia de Fortaleza (SCMF), Estado do Ceará, Brasil. Realizou-se um estudo
observacional, descritivo e prospectivo, onde foram avaliados os prontuários de pacientes
internados no período de 1º de Novembro de 2005 à 30 de Junho de 2006. O projeto de estudo
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foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas envolvendo Seres Humanos da Universidade
Federal do Ceará, sendo aprovado sem restrições em 24 de fevereiro de 2005, de acordo com
o parecer constante do processo número 39/05. O responsável legal pelo paciente era
informado sobre o estudo por meio da leitura do termo de consentimento, e com a assinatura
do termo, era, então, realizada a coleta de dados e os demais procedimentos do estudo.
A escolha do paciente foi feita considerando como critério de inclusão os pacientes
que apresentavam os seguintes dados no prontuário: nome, idade, sexo, naturalidade, hipótese
diagnóstica e prescrição contínua e regular dos antibacterianos. O preenchimento desse
critério era demonstrado pelo registro desses dados no prontuário médico, que era examinado
todos os dias com antecedência. No período da pesquisa foram atendidos 202 pacientes na
UTI da SCMF, mas apenas 157 pacientes participaram do estudo. Os 45 pacientes excluídos
da pesquisa apresentaram dados incompletos em seus prontuários.
Para a realização da coleta dos dados, foi utilizado um questionário estruturado e
padronizado, onde foram registrados os dados obtidos quando da análise do prontuário dos
pacientes internados. Este questionário foi desenvolvido pelos autores, tendo como base
estudos já publicados (PLASCENCIA, et al., 2005; TOUFEN et al., 2003). Com a aplicação
desse instrumento, obtiveram-se as variáveis demográficas, clínicas do paciente, bem como os
dados sobre as principais características da prescrição dos antibacterianos.
Para fornecer uma análise quantitativa e comparativa quanto ao consumo de
antimicrobianos durante o estudo, foi utilizado o cálculo da Dose Diária Definida por leito
dias (DDD/leito-dias), definido por (GOMES e REIS, 2001).
A DDD foi desenvolvida pelo Norwegian Medicinal Depot (NMD) e recomendada
pela OMS, a partir de 1981, para uso em estudos de utilização de medicamentos (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2006). Como condição necessária para alocação de DDD está a
prévia classificação do fármaco pela Anatomical-Therapeutic-Chemical (ATC) (SANTOS,
2002).
De acordo com a Classificação ATC da Organização Mundial de Saúde, os agentes
antibacterianos estudados nesse trabalho correspondem a nove grupos terapêuticos: J01C
(penicilinas), J01D A (Cefalosporinas), J01G (Aminoglicosídeos), J01D H (Carbapenêmicos),
J01X A (Glicopeptídeos), J01X D (Imidazóis), J01M A (Quinolonas), J01F F (Lincosaminas)
e JO4 A (Antimicobacterianos).
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Hipóteses diagnósticas
No momento da admissão do paciente na UTI da SCMF, o médico fazia a anamnese
do paciente e citava no prontuário a hipótese diagnóstica principal.
Observou-se que, entre as hipóteses diagnósticas, as mais prevalentes foram a infecção
respiratória (28,7%), sepse (15,9%), acidente vascular cerebral (10,8%) e hipertensão arterial
sistêmica associada a Diabetes mellitus tipo II (7,6%). A Tabela II apresenta a distribuição
percentual das Hipóteses Diagnósticas dos pacientes atendidos durante o presente estudo.
AVC: acidente vascular cerebral; DM II: diabetes mellitus tipo II; HAS: Hipertensão Arterial
Sistêmica; ICC: Insuficiência Cardíaca Congestiva.
(n): número de pacientes
No estudo realizado por Toufen et al. (2003) foi relatado um percentual de 58,5% para
as admissões em UTI por infecções respiratórias, ressaltando a importância de serem
implantadas medidas preventivas para reduzir a ocorrência de tal infecção.
Segundo estudo retrospectivo realizado no Serviço de Clínica Médica do Hospital
Geral de Caxias do Sul, em que foram analisadas as causas primárias de internação hospitalar
de pacientes do SUS, 19% das admissões ocorreram devido à enfermidades respiratórias
(GODOY et al., 2001). Desse modo, indica a necessidade de se reduzir a ocorrência de
infecções respiratórias no ambiente nosocomial, pois esses pacientes ao apresentarem
complicações futuras poderão vir a sobrecarregar as UTIs.
Finfer et al. (2004) em estudo realizado na Austrália relataram que a origem da
maioria dos casos de sepse (79,3%) são as infecções respiratórias, e, associaram essa alta
incidência ao fato de mais da metade da população estudada ter sido composta por idosos,
que, em geral, apresentam um risco maior quando acometidos por essas infecções.
No período do estudo, foi encontrada como segunda maior causa de internação na UTI
da SCMF a sepse (15,9%). De acordo com Finfer et al. (2004), podem ter sido originadas a
partir de infecções respiratórias. A sepse e suas seqüelas são as maiores causas de mortes em
UTI. A sua incidência é crescente e os pacientes acometidos apresentam sintomatologia cada
vez mais complexa. O entendimento da sepse é ainda incompleto, sua terapia é limitada e a
resposta inflamatória do hospedeiro à diferentes agressões por microorganismos ou por seus
produtos é de tal complexidade que a torna o maior desafio no tratamento de pacientes
críticos.
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35,0 31,9%
Consumo de antimicrobianos (%)
30,0
25,0
20,0 16,9%
14,4%
15,0 12,0%
10,0 6,4% 5,2%
5,0
0,0
e
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Ci
Antimicrobianos
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Monoterapia
32%
Politerapia
68%
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CONCLUSÕES
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em número de DDDs, e criar um indicador próprio que serviria para comparar o consumo de
antimicrobianos dos vários hospitais públicos do Brasil. Tal indicador também poderia ser
comparado com os indicadores de outros programas de qualidade hospitalar e da literatura
especializada, com o objetivo de se detectar desvios de consumo passíveis de uma análise
mais acurada.
AGRADECIMENTOS
A Área Técnica dos profissionais da Unidade Terapia Intensiva e do Laboratório de
Análises Clínicas da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, pela colaboração e apóia na
execução do projeto.
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