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Economia II

Distribuição e pobreza
A distribuição, pelos vários agentes da economia, dos frutos da atividade
dessa mesma economia, é um elemento essência para a compreensão do
sistema económico.
De facto, o nível de satisfação das necessidades de um agente está ligado
ao montante de recursos que lhe estão disponíveis para o efeito. Estes
recursos, que ele pode mobilizar no sentido de ter acesso aos bens que
satisfazem as suas necessidades, e que determinam se ele é pobre ou rico,
são de tipos variados: saúde, liberdade, inteligência, e não apenas dinheiro.
Um pobre não é apenas uma pessoa que não tem dinheiro, mas uma pessoa
a quem faltam meios concretos para satisfazer as necessidades mais
básicas.
Porém tem se verificado que um baixo nível de rendimentos pode gerar um
acesso limitado à saúde, liberdade ou dignidade, compondo-se assim um
fenómeno associado que perpetua o estado de pobreza. Daí que se fale de
uma cultura de pobreza, mais do que uma situação de pobreza.
Assim é possível verificar que o problema da distribuição é extremamente
complexo e globalizante.

Mercados de fatores
Ao abordar o problema da distribuição dos frutos da produção pelos vários
agentes é importante referir uma distinção ente duas fontes de ganhos para
o agente:
 Rendimento Corresponde ao dinheiro recebido como remuneração
dos fatores detidos pelo agente (salários, rendas, lucros)
 Transferências  Depois de recebido o rendimento, o agente paga e
recebe dinheiro devido a outras atividades, que nada têm a ver com a
produção. Na verdade, ele vê-se obrigado a passar parte desse ganho
para outro, por meio de impostos, multas, ofertas etc., mas por outro
lado recebe subsídios e ofertas (remessas dos emigrantes p.exe.).

O funcionamento livre e correto do mercado dos fatores, tal como nos


outros mercados, gera eficiência. No entanto, eficiência não é sinónima de
equidade. Na verdade, o mercado limita-se a combinar as várias forças em
presença sem interferir na sua posição relativa, apenas as combinando da
forma mais eficiente. Daí que a sociedade tenha de intervir no sentido de
garantir a justiça e a equidade.

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Mas como funciona o mercado de fatores?
O mercado dos fatores é um mercado como outro qualquer com uma:
- Oferta – feita pelas famílias, que oferecem trabalho, emprestam capital
ou arrendam terra.
- Procura – feita pelas empresas.

Procura dos fatores produtivos


A procura de fatores produtivos caracteriza-se:
 A procura de fatores produtivos é extremamente interdependente
porque se por exemplo não houver trabalhadores as máquinas não
funcionam sozinhos e vice-versa.
 A procura de fatores produtivos é derivada. As empresas não
procuram trabalho pelo trabalho em si, mas porque querem vender.
No consumo, as pessoas querem bens pelos bens em si. No fundo, as
empresas só querem fatores porque as pessoas querem bens. É a
procura de bens que gera oferta, a qual, por sua vez, gera a procura
de fatores.

Qual é o comportamento ótimo da empresa que gera a procura de fatores?


Empregar uma unidade adicional de trabalho (L), terra (T) ou capital (K)
tem como custo para a empresa, o preço desse fator (salário, renda, juro).
Por outro lado, o beneficio adicional de uma unidade de L, T ou K é o valor
da produtividade marginal do fator em euros, ou seja o montante de bem
adicional produzido (produtividade marginal física), multiplicada pela
receita marginal (o preço) desse montante adicional de bem.
O ótimo dá-se quando existir igualdade entre os dois lados, ou seja, preço
de fator, por exemplo o salário (W), for igual ao produto da receita
marginal (Rm) pela produtividade marginal física do trabalho (PmL).

W=PmL*P
R= Pmk*P
T=PmT*P

Se:
Custo marginal<Produtividade marginal* receita marginalQd do fator 
Custo marginal>Produtividade marginal* receita marginalQd do fator 
O ótimo será quando Cm=Pm*Rm

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O mesmo se passa nos outros fatores. Ou seja a regra ótima de distribuição,
consiste em igualar o preço do fator à sua produtividade marginal.
Como a produtividade marginal é decrescente, as curvas da procura dos
fatores são decrescentes.

Oferta dos fatores produtivos


As famílias oferecem fatores:
Terra(T)
Trabalho(L)
Capital(K)
A utilização dos fatores gera rendimentos:
Terra: gera rendas(t)
Trabalho: gera salários(w)
Capital: gera juros e lucros(r)

Assim convém distinguir entre os três fatores: terra, trabalho e capital.

Terra
A terra engloba todos os recursos que se tiram diretamente da natureza.
A terra tem a característica de, de certa forma, a sua oferta ser fixa. A
disponibilidade de recursos naturais é geralmente limitada a uma
quantidade definida, sem possibilidade de ser alargada. Por essa razão,
qualquer que seja a remuneração dada à terra, a quantidade oferecida é a
mesma: a curva da oferta da terra é uma reta vertical.

Assim, enquanto que a quantidade de equilíbrio transacionada no mercado


da terra (T*) é definida pela oferta, a renda de equilíbrio (t*) é definida pela
procura, a oferta não consegue influenciar em nada a renda.

Isto acontece em todos os recursos e bens em que a oferta é perfeitamente


rígida. A oferta de quadros de um pintor morto, por exemplo, nesse caso,
quem vende está completamente à mercê da procura para definir o preço. À
remuneração destes bens chama-se renda económica pura (remuneração
de um fator de oferta fixa onde a oferta não consegue influenciar em nada a
renda). É uma renda porque se todos os compradores combinarem entre si,

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podem descer até zero o preço, e a oferta nada pode fazer senão continuar a
oferecer a mesma quantidade.

No entanto, não se pode esquecer que a terra só é fixa no global. É claro


que a terra usada numa quinta, ou na produção de milho pode variar. Nesse
sentido, e por isso, a renda passa a ser, ao nível da empresa, custo variável,
mesmo que só no longo prazo.

Trabalho
Ao contrário da terra e do capital, que são compostos por coisas, o trabalho
é composto por pessoas.
Daí que deve haver cuidados particulares com o trabalho, justificando um
estudo mais pormenorizado, a consideração de fatores não económicos etc.
Por exemplo se há remunerações diferentes para pessoas diferentes
(médicos e mecânicos), as consequências são muito mais importantes para
a sociedade, do que quando e trata de outro fator.
O mesmos e diz do desemprego. Economicamente, o desemprego de
trabalho é igual ao de outro fator, mas socialmente não. Uma máquina
parada têm muito menos consequências que uma pessoa desocupada, como
efeitos psicológicos, sociais etc.
O trabalho como atividade humana exige um tratamento especial.
Mas por outro lado, as leis económicas aplicam-se igualmente aos serviços
de trabalho como aos outros bens e fatores. Por exemplo: se se atirar pela
janela uma pessoa, as consequências psicológicas sociais culturais etc. são
muito mais graves do que se atirar uma cadeira. Mas, em termos físicos, a
pessoa e a cadeira obedecem igualmente, na queda, à lei da gravidade.
Assim, em economia, por exemplo, se o preço do trabalho sobe, tal como o
de outro bem, é de esperar redução da procura.

Assim é possível determinar as características da oferta de trabalho.


 Dimensão da população ativa – fatores como a taxa de nascimento e
morte, migrações determinam o nº de pessoas que existe em certo
momento num país disponível para trabalhar. Mas se este é o nº
potencial de trabalhadores, o montante de trabalho realmente
prestado numa economia depende da participação dessa população.
Ativa no processo de produção. Tal participação depende
crucialmente de circunstâncias como o nível de desemprego, o
horário de trabalho etc.
 A oferta de trabalho pode ser visto como uma escolha do trabalhador
entre dois bens: dinheiro e descanso. O trabalho exige esforço, mas
gera rendimentos. Cada trabalhador deve determinar o equilíbrio que
mais lhe convém entre o número de horas de descanso e de trabalho
(cuja utilidade reside na remuneração). Assim ao aumentar a

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remuneração de uma hora de trabalho, o agente estará disposto a
sacrificar mais descanso ou lazer, pois o ganho do trabalho é agora
mais atraente.

No entanto, por vezes ocorre o aparecimento de uma zona na oferta de


trabalho negativamente inclinada, sobretudo em salários mais altos, o que
significa que um aumento de salário reduz a quantidade oferecida de
trabalho.

Exemplo:
Um trabalhador trabalha 40horas semanais, a 10 euros por hora, pelo que
ganhará 400 euros por semana. O que sucederá se o salário passar para 15
euros por hora?
Se o indivíduo poder escolher o número de horas que trabalha, pode
trabalhar apenas 35 horas semanais ao novo salário, ganhando 525 euros
por semana, ou seja, com um maior salário pode ganhar mais, trabalhando
menos horas.

Porquê?
Porque o efeito de substituição é dominado pelo efeito rendimento. Se no
caso normal se verifica o raciocínio de que “salário maior torna o descanso
mais caro, pois deixa-se de ganhar mais dinheiro para descansar”, que
incorpora o efeito de substituição. Por vezes o efeito rendimento é
suficientemente forte para inverter o sentido da relação. Nesse caso o
raciocínio passa a ser “já estou a ganhar tanto, que já chega, vou gozá-lo,
trabalhando menos”. O trabalhador agora, a salário superior, consegue o
mesmo rendimento com menos trabalho e, por isso, reduz o esforço,
invertendo o sentido da curva.

Isto põe explicar, por exemplo, o comportamento dos habitantes dos países
subdesenvolvidos, que ao receber o salário de segunda-feira deixam de
trabalhar o resto da semana. Num país onde existem poucas coisas para

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comprar, não há incentivo para trabalhar mais do que o necessário para
satisfazer as necessidades básicas. Para quê acumular rendimentos, se
quase não há bens para comprar?

Outras determinantes da oferta de trabalho:


Dificuldades, riscos e incomodidades da tarefa
Dotes e qualidades especiais das pessoas
Discriminação
Sindicatos e associações patronais

Capital
Este fator, ao contrário dos outros dois, é um fator produzido.
A principal razão da importância dada ao capital reside no facto de se ter
verificado que os métodos indiretos de produção são extremamente mais
produtivos que os diretos. A diferença entre apanhar peixes à mão e fazê-lo
indiretamente através de uma cana de pesca é muito grande. Assim, parar
de apanhar peixe à mão durante um dia e construir uma cana de pesca para
produzir menos peixe hoje, mas compensa dando muito mais peixe de
futuro. É esta a produtividade marginal do capital, que determina a procura
de capital.

Capital Instrumentos de produção. Há 2 tipo de capital:


 Capital físico - Consiste no fator produtivo, propriamente
dito: todos os instrumentos de produção que são utilizados
no processo. O capital físico distingue-se:
 Estruturas: que se podem exemplificar pelos
edifícios
 Equipamento: constituído por máquinas e
outros instrumentos de produção
 Stocks: Que são formados pelo
armazenamento de matérias-primas ou
produtos acabados, para uso futuro.
 Capital financeiro – Não é diretamente um fator produtivo,
mas representa a posse de capital físico e facilita a sua
transação. Visto que é difícil transacionar diretamente a
propriedade de uma fábrica ou de uma máquina, existe um
papel que as representa. Esse papel (ações, obrigações) não
produz nada, mas representa capital físico (máquinas,
fábricas etc.) que produz bens no futuro, e que depois
transfere esses ganhos para os donos do capital financeiro.
Há vários tipos de capital financeiro:
 Ações: representa a posse direta do capital

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 Obrigações e letras: constituem dividas desse
capital
 Depósitos: que se baseiam na entrega de
dinheiro a um intermediário, que depois o
transformará em capital

O que caracteriza este capital:


Nasce de uma redução do consumo (poupança). Exige, assim, um
sacrifício de consumo hoje (parar de produzir à velha maneira,
poupar dinheiro), para investir, e assim ter mais amanhã.
No entanto a pessoa só poupa hoje para poder consumir mais
amanhã. Assim, um bem de capital tem como característica essencial
o facto de custar um valor hoje e fornecer, em troca, uma sequência
de ganhos no futuro:
o Uma máquina dá lucros da venda da sua produção
o Uma ação dá dividendos
o Um depósito ou obrigações dá juros.
Assim todo o capital dá rendimento. Mas existem tantas formas diferentes
de usar a poupança que teve de se arranjar uma forma de comparar o nível
de ganhos nas várias alternativas.
O rendimento anual do tipo de capital, dividido pelo custo desse capital, dá
a taxa (percentual) de rentabilidade de capital, que é facilmente comparável
com outras aplicações.
Assim, a oferta de capital, que representa a vontade de poupar das famílias,
será tanto maior quanto maior for a remuneração futura desse sacrifício
presente. Como poupar representa um sacrifícios, é preciso paga-lo, e
por isso quanto maior a remuneração maior a poupança.

Está relacionado com o tempo. A decisão de investir tem a ver com


um custo hoje, para ter ganhos esperados no futuro. Assim existe
fortes influências de alguns elementos sobre a oferta de capital:
o Risco (risco inerente a uma inovação)
o Alterações tecnológicas (muito ligadas ao capital)
o Alterações no valor da moeda (inflação)

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Pobreza e equidade
O mecanismo do mercado de fatores dá uma distribuição dos rendimentos,
mas essa distribuição apesar de ser eficiente não é necessariamente justa.
A justiça de distribuição depende da situação inicial de riqueza, ou seja da
posse de fatores produtivos.
Assim convém saber o que determina essa distribuição inicial da
propriedade dos fatores produtivos. O que determina essa distribuição é:
Riqueza material (ligada à terra e ao capital) – Os ricos são os que
possuem grandes quantidades de recursos naturais ou que dominam
capital físico ou financeiro.
Riqueza ligada ao trabalho – Muitas desigualdades no acesso aos
resultados da produção resulta de uma desigual distribuição dos
elementos humanos, que se relacionam com o trabalho, como
discriminação, educação, capacidades pessoais, influência político-
social.

Da má distribuição nasce a pobreza ou seja uma situação em que o acesso


aos bens necessários para satisfazer as necessidades está abaixo de um
certo nível considerado normal.

Há vários tipos de pobreza:


Tipos de Características Via de resolução
pobreza
Sub- O total da produção é demasiado pequeno para dar uma Desenvolvimento
desenvolvi quantidade satisfatória a todos, mesmo que fosse bem económico
mento
distribuída.
Flutuações Choques e perturbações que a economia sofre, e que Medidas de
económicas afetando certos estratos da economia menos favorecidos, estabilização
(transitória
podem fazê-lo cair numa situação de pobreza. Daí que esta económica
s)
pobreza aumente em períodos de depressão e crise.
Má Má distribuição do bolo global que, se fosse repartido de Estratégia de
distribuiçã forma mais equitativa, daria suficiente para todos. A pobreza redistribuição
o da
resulta de uma desigualdade de acesso aos bens produzidos,
produção
causada pelas desigualdades sociais e económicas.
Novo tipo Tem causas muito mais profundas e estão ligados aos Processo de confronto
de pobreza elementos mais essenciais da estrutura do indivíduo e da do indivíduo e da
sociedade. São situações de pobreza, marginalização e sociedade consigo
isolamento que resultam de doenças, pessoais e sociais, próprio. Neste sentido
mesmo quando resolvidos os problemas de desenvolvimento sempre haverá pobreza.
e estabilidade e distribuição.

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Para além da distinção destes vários tipos de pobreza, com diferentes
naturezas, causas e remédios é importante notar um outro aspeto, essencial
para a compreensão da pobreza. Trata-se da constatação de que a pobreza
tem características cumulativas de círculo vicioso. As várias causas de um
certo estado de pobreza tendem a agir e reagir entre si, criando uma
interação de motivações que constituem uma verdadeira armadilha de
pobreza. Daí falar-se em cultura de pobreza. Um pobre é pobre porque é
pobre.
Por exemplo: Um pobre, desempregado, devido à sua situação de carência,
tem tendência a ter fome e problemas de saúde. Estes reduzem a sua
possibilidade de encontrar e manter um emprego e, consequentemente, de
ganhar dinheiro. Sendo pobre, é marginalizado, sem formação, o que
aumenta as suas dificuldades em melhorar a sua situação.

Estratégias de solução para a pobreza:


Distribuição de transferências diretas (esmolas, programas
diretos de combate à pobreza) – Esta estratégia foi um fiasco dado
que a sua politica se dirigia mais para as manifestações do que às
causas da situação. Daí que este programa só se justifica para casos e
situações especiais, onde a pobreza ou é de natureza transitória,
eliminando-se por si, ou não tem solução, sendo a assistência a única
forma de abordar. Em situações de calamidade ou situações pessoais
de dependência, a assistência direta tem sentido, mas não para o caso
geral de pessoas válidas, em condições de se aproveitarem das
oportunidades de mercado. Nestas as transferências diretas podem
anular os incentivos para resolverem a sua situação e criar uma
dependência paralisante. Por outro lado, as transferências diretas
podem acompanhar outras estratégias de combate ao problema, de
forma a aliviar momentaneamente os sintomas, enquanto os efeitos
do outro remédio não se fizer sentir. Mas é essencial que esta ajuda
seja bem delimitada e restrita no tempo, sob pena de tornar
inoperantes os resultados das estratégias que acompanham.
Redistribuição direta dos fatores produtivos (ex: reforma agrária,
nacionalização do capital etc.) – Atua sobre as causas. A má
distribuição da terra e do capital está normalmente na origem da
desigualdade, e consequentemente da pobreza. Assim as politicas de
redistribuição dos ativos, parecem ser o modo mais natural e
economicamente mais direto de resolver o problema. No entanto,
existem grandes dificuldades políticas em fazê-lo, devido à natureza
e intensidade dos interesses envolvidos. Por esse razão, as
redistribuições bem sucedidas estão normalmente ligadas a grandes
convulsões politicas, onde se aproveita a alteração no quadro
sociopolítico para redefinir a distribuição de riqueza. Mesmo assim,

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em alguns casos, poucos anos depois a distribuição continua tão
assimétrica como antes, apenas tendo mudado os titulares de riqueza.
Esforços de estabilização e desenvolvimento – Estes esforços
dirigem-se mesmo ás causas fundamentais da situação de pobreza,
constituindo portanto método mais adequado para a eliminar.

A complexidade das situações de pobreza exige combinação de estratégia:


Orientação no processo de crescimento económico no sentido de
favorecer o trabalho não especializado, fator produtivo que é detido
sobretudo pelos mais pobres.
Fornecimento de serviços públicos nos campos da saúde, educação,
assistência etc. que permitam aos pobres aproveitar as oportunidades
de desenvolvimento que a primeira componente traz.

Tendo sempre em conta que estas duas variáveis serem


interdependentes. Alguns dos principais falhanços de desenvolvimento
dos mais pobres têm-se verificado por esquecimento desta dualidade.
Assim, certos países (como o Brasil) conseguiram realizar um forte
desenvolvimento centrado no fator trabalho, mas a falta de
infraestruturas de acesso aos mais pobres cortaram-nos desses ganhos.
Outros (por exemplo Sri Lanka) fizeram um grande esforço no campo
de serviços públicos básicos, mas esquecera o desenvolvimento.
Esta estratégia acompanhada da assistência necessária a casos especiais
é um exemplo de politicas compostas e multifacetadas que podem ter
sucesso em situações concretas de pobreza.

A única forma de conhecer e eliminar a situação de pobreza é quando


isto é feito pelo próprio pobre. Por isso, a estratégia não pode impor
nada de fora, mas integrar o interessados na sua execução, criando
oportunidades de desenvolvimento que os mais pobres possam
aproveitar.

Convém também distinguir entre conceito relativo e subjetivo da


pobreza. Este problema está ligado à diferente perceção do que pode ser
considerado como satisfação mínima das necessidades. De facto, o nível
de pobreza varia: quando o nível geral de satisfação sobe, sobe o nível
de pobreza.
O combate à pobreza passa também pela luta pela igualdade. Definição
de igualdade:
Igualdade de direitos políticos (eliminação da discriminação)
Igualdade de direitos económicos (igual ponto de partida para
todos)

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Igualdade de resultados económicos (que se atinge quando toda a
gente se encontra sempre na mesma situação económica).

A principal questão relacionada com a busca de igualdade prende-se


com o efeito que a redistribuição pode ter sobre a eficiência
produtiva (conflito eficiência/equidade).
À medida que o bolo é mais bem distribuído, ele fica cada vez mais
pequeno. Ou seja ao retirar o produto aos ricos para o entregar aos
pobres, reduz-se a atividade de ambos. Os ricos pensam que não vale
a pena esforçar-se se depois lhe tiram o produto desse esforço,
enquanto os pobres pensam, que dado que recebem o mesmo sem
esforço, este não é necessário.

No entanto o conflito será pequeno se o mercado funcionar bem.


A questão central do conflito eficiência equidade reside no facto de
os custos em eficiência representarem o que a sociedade paga por ter
equidade, que é um benefício por si. Por outro lado, um bom
programa deve ter como finalidade principal quebrar o círculo
vicioso da pobreza, melhorando a sua situação de educação, saúde,
integração na sociedade etc.

Ciclos Económicos
Situação Inicial:
Imagine-se uma economia composta por 3 pessoas: Robinson Crusoé,
Sexta-feira; Adam Smith. O quadro seguinte representa as procuras que
cada agente faz de cada tipo de bem:

Procura diária dos 3 bens pelos três agentes


R. Crusoé Sexta-Feira Adam Smith Total
Pão 2 8 6 16
Bananas 4 2 12 18
Explic.Economia 2 8 0 10

É possível deduzir daqui, para cada um dos 3 mercados, a procura global,


como se vê no quadro. No entanto, a agregação dentro de cada mercado
não representa ainda uma análise global. Para conseguir fazer cálculos
globais, o problema que se defronta é o da agregação entre mercados, a
agregação de bens distintos: como somar pães com bananas e com
explicações. A única forma de o fazer, é operar na mesma unidade, numa
unidade que representa o que há de comum entre estes bens: o valor. Para
medir o valor qualquer dos bens serve como medida. Escolhida a unidade,

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por exemplo o pão, apenas é preciso procurar a forma de medir o valor dos
outros bens nesta unidade, ou seja obter o preço de equilíbrio das bananas e
das explicações em termos de pão.
Cada mercado da economia só estará em equilíbrio se a procura for igual à
oferta. Mas por que razão os agentes produzirão exatamente a quantidade
que seja igual à procura? O único motivo que leva os produtores a
produzirem é a vontade de consumir. Só há oferta porque há procura.
Cada oferta de alguém só existe porque esse alguém quer procurar alguma
coisa. Cada um produz o que sabe fazer melhor e troca-o pelos bens que
pretende consumir. Mas, sendo racional, só quer produzir um valor igual ao
do seu consumo, para poder consumir tudo o que pretende, mas não
desperdiçar. Por essa razão, a oferta de cada mercado tem de ser, em
valor igual à procura de bens de consumo que o produtor faz.
Igualando a procura e a oferta de cada mercado, todos medidos em pão
obtém-se o equilíbrio desejado.

Oferta de pão = 2 pães+ 4 bananas* preço das bananas (em pão) + 2


explicações * preço das explicações (em pão)

Assim o equilíbrio de cada mercado pode ser escrito da seguinte forma:


Mercado do Pão: 16=2+4PB+2Pe
Mercado das bananas: 18=8+2PB+8PB
Mercado de explicações: 10=6+12PB

Resolvendo o sistema obtém-se: Pp=1; Pb=2; Pe=3


Assim cada banana vale dois pães, e cada explicação vale três.

Procuras diárias de bens, medidas em pão


R. Crusoé Sexta-Feira Adam Smith Total
Pão 2 8 6 16
Bananas 8 4 24 36
Explic.Economia 6 24 0 30
Total 16 36 30 82

Este quadro é equivalente ao anterior, mas as quantidades em vez de serem


medidas em unidades físicas estão avaliadas aos seus preços em pão. Assim
sendo já é possível fazer cálculos agregados. A última linha inferior, soma
das colunas, representa o total da oferta em cada mercado.
Como era de esperar a oferta em cada mercado é igual à procura do
mercado, visto que os preços utilizados foram os de equilíbrio de mercado.
É possível também obter O PIB desta economia 82.

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Entrada de novo membro:
Imagine-se que entrou nesta nova economia um economista com as
mesmas características de Adam Smith. Assim sendo a ilha passou a
apresentar a seguinte situação económica:

Situação económica, após chegada de Say


R.Crusoé S. Feira A. Smith JB Say Total
Pão 2 8 6 6 22
Bananas 8 4 24 24 60
Explic.Economia 6 24 0 0 30
Total 16 36 30 30 112

È visível que esta chegada veio perturbar todos os mercados, que agora se
encontram todos desequilibrados e existia mesmo desemprego no mercado
das explicações, com um excesso da oferta de 30 unidades.

Procuras e ofertas de cada mercado


Ofertas Procuras Excesso de oferta
Pão 16 22 -6
Bananas 36 60 -24
Exp.Economia 60 30 30
Total 112 112 0

Apesar de todos os mercados estarem desequilibrados, a economia global


estava em perfeito equilíbrio, com a oferta global (112 pães) igual à procura
global (112 pães). O desemprego que se verificava não resultava de um
excesso global de oferta, mas de uma má afetação do emprego entre os
mercados. O excesso de oferta de trabalho num mercado era resultado do
excesso de procura nos demais. Se Say mudasse a sua produção, passando
a produzir os pães e bananas que deseja, em vez de explicações, continuaria
a produzir 30 unidades, mas o mercado passaria a estar equilibrado. De
facto este excesso de oferta global nunca poderia acontecer, pois só se
verifica oferta quando alguém procura. É porque pretende consumir que o
agente oferece a sua produção. Por outras palavras: a oferta cria a sua
própria procura.

A Introdução de Moeda:
Voltando-se á situação inicial, decidiu-se introduzir uma moeda que serviria
de intermediário nas trocas e definiu-se que o preço do pão era igual a meia
moeda; preço da banana era igual a uma moeda e preço das explicações era
igual a uma moeda e meia.

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Procuras diárias de bens, medidas em moeda
R. Crusoé Sexta-Feira Adam Smith Total
Pão - 4 3 7
Bananas 4 - 12 16
Explic.Economia 3 12 - 15
Total 7 16 15 38

A situação nada mudou. De manhã todos iam à padaria e assim Sexta-feira


e Smith entregavam a Robinson a verba correspondente. Depois todos iam
comprar bananas, pagando a Sexta-feira. Finalmente todos iam às aulas
pagando ao professor. Destas transações resultava no fim do dia uma
situação igual à situação inicial, o que permitia repetir, no dia seguinte, o
mesmo comportamento.

Aparece o desemprego:
Robinson decidiu um dia não comer três bananas, e Smith comia menos
duas bananas e menos quatro pães.

Procuras de bens nesse dia


R. Crusoé Sexta-Feira Adam Smith Total
Pão - 4 1 5
Bananas 1 - 10 11
Explic.Economia 3 12 - 15
Total 5 16 11

Claro que a oferta de todos os mercados manteve-se inalterada porque os


produtores para conseguirem fazer os consumos e as poupanças que
desejavam, tinham a continuar a vender como dantes. Assim sendo a
procura e a oferta na economia passaram a ser as seguintes:

Procuras e ofertas de cada mercado


Ofertas Procuras Excesso de oferta
Pão 7 5 2
Bananas 16 11 5
Exp.Economia 15 15 0
Total 38 31 7

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Existe um desequilíbrio não só individual, mas também agregado com
grave desemprego global: a lei de Say falhou. Para explicar este
acontecimento surgiu a lei de Walras. Esta lei afirma que, numa
economia, a soma de toda as ofertas é sempre igual, em valor À soma
de todas as procuras.
Só que, ao referir-se a todas esta lei quer mesmo dizer todas, ou seja,
incluindo também a moeda. Note-se que existe uma procura excedentária
de moeda, no valor de 7 unidades exatamente igual ao excesso de oferta
total no mercado de bens, portanto a lei de Walras verifica-se.
O problema nasce do facto de, para produzir moeda, não se necessário o
emprego de fatores de produção. A moeda vale porque a sociedade
convenciona que ela vale. Daí que, quando há um desequilíbrio no mercado
da moeda, existe necessariamente, devido à lei de Walras, um desequilíbrio
de sinal contrário nos mercados dos bens agregados, resultando nu
desemprego agregado ou num excesso agregado de procura na economia.

Desta história deduz-se quatro elementos essenciais:


1. Problema de agregação que exige que se encontre uma medida-
padrão de valor, o numerário.
2. Lei de Say onde se afirma que “ a oferta cria a sua própria procura”.
Esta lei é simplesmente o resultado do facto de um produtor apenas
colocar oferta com o objetivo de obter meios para satisfazer a sua
procura. Por isso, o total das ofertas terá de ser igual ao total das
procuras. Apesar de se poderem verificar desequilíbrios em alguns
mercados, nunca existirão desequilíbrios globais.
3. Funções da moeda:
a. Unidade de conta
b. Intermediário geral das trocas
c. Reserva de valor
4. A única lei que se verifica é a lei de Walras, que determina que o
total das ofertas seja igual ao total das procuras, incluindo a moeda
entre os bens.

Medição Económica
De forma a estudar a economia agregada temos de adicionar as várias
partes para estudar o todo.
Ora pretendemos medir a utilidade total retirada por todos as pessoas da
economia a partir do consumo de todos os bens. No entanto a utilidade é
extremamente difícil de medir por duas razões:
Não temos unidade para medir a utilidade
Não conseguimos que ninguém nos diga qual a utilidade média de
um bem, quanto mais conseguir medir a utilidade média de toda a
sociedade.

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Assim temos de procurar outra forma aproximada de medir a utilidade: o
preço.
O preço é medido numa unidade clara: a moeda
O preço é conhecido por todos, pois é divulgado no mercado.
Assim apesar de não ser igual à utilidade, está relacionado com ela.
No entanto o preço é uma má aproximação:
O preço, no mercado concorrencial, é uma aproximação da utilidade
marginal e não da utilidade média. Isso quer dizer que, ao medir a
utilidade pelo preço, exclui-se o excedente do consumidor, que não
passa pelo mercado. O produto do preço pela quantidade, não capta a
utilidade total, escapando-lhe exatamente o excedente do
consumidor.
Para bens como a água, que tem um enorme excedente do
consumidor, esta aproximação é bastante má.

Por outro lado, o preço só é aproximação da utilidade marginal se os


mercados funcionarem bem, sem externalidades intervenções
estatais, monopólios etc. Assim muitos preços são diferentes da
utilidade marginal, por perturbações mais variadas da concorrência.
Noutros casos, existem bens que, tendo utilidade, não passam pelo
mercado, não existindo preços para eles.
Assim os indicadores agregados ( PIB, PNB, etc) são um mau indicador
de utilidade:
 Não englobam bem como o ar, uma paisagem, cuja utilidade
média é alta, mas a marginal é nula (bens livres ou não
escassos)
 Não mede adequadamente o valor dos bens que não sejam
transacionados do mercado e por isso não têm preço, coo o
amor e a amizade. O valor dos bens que não são
transacionados em mercado competitivo, devido à intervenção
do Estado ou por mau funcionamento do mercado está mal
referenciado no PIB.

Apesar destas contrariedades os agregados, usando os preços como medida


de valor, são a melhor forma prática de medir a utilidade, pois não está
disponível uma função utilidade que nos meça a utilidade média.

16
Assim a nossa abordagem ao agregado passa a ser a seguinte:
Y= pl *q1 + p2*q2 + p3*q3 + … pn*qn
Onde cada preço multiplica a quantidade do bem.

No entanto surge aqui um problema: a inflação. Pode acontecer que os


preços variem, sem que a composição do produto varie. O que se passa na
inflação é que a unidade de medida, o valor da moeda modificou-se.

Surge assim a distinção entre preços correntes e preços constantes:


Preços correntes Mede-se o produto criado no país usando os preços
que vigoram no ano corrente.

Quantidade 2005* Preços de 2005

Para se saber se uma economia está ou não a crescer, os preços correntes


não são suficientes visto que para a mesma quantidade os preços podem ser
diferentes. Daí a existência de preços constantes.

Preços constantes  O metro utilizado é o mesmo tentando, assim captar


a variação da quantidade.

Quantidade 2005* Preços de 2004

Esta é a diferença entre produto real e produto nominal: os mesmos


produtos calculados a preços do próprio ano (preços correntes) dão o valor
do produto corrente ou nominal; se usarmos os mesmos preços, apenas
variam as quantidades dão o produto real.

Assim, para comparar com o produto do ano anterior, se queremos saber


quanto mais se produziu, devemos calcula-lo a um mesmo nível de preços.

X(1+Vn) = X(1+Vr)*(1+Vp)
Onde:
Vn  Crescimento nominal (a preços correntes)
Vr  crescimento real

Exemplo:
O valor do produto nacional português em 1972, a preços de 1971, foi de
214503. Assim temos:

17
Produto Nacional Português
Preço 1971 Preços 1972
Quantidade de 71 198585
Quantidade de 72 214503 231244

Logo o volume aumentou 214503/198585= 8%. (o preço mantêm e a


quantidade varia)
Os preços aumentaram 231244/214503 = 8% (a quantidade mantém-se e o
preço varia).
A esta variação dos preços chamamos variação do deflator ou
deflacionador do produto, pois é aquela variação que devemos tirar à
variação total para termos a variação real.

O segundo tipo de variação de preços dá-se quando os preços relativos


variam. Aí as quantidades do produto podem ficar na mesma, o nível de
preços também, e o valor Y varia. A economia agregada é incapaz de tratar
este problema.
De facto, os preços relativos das coisas em 1913 são completamente
diferentes dos de 2005. Havia coisas que hoje se pode comprar e não havia
em 1914 (não existiam por isso não se podiam comprar o que equivale a
dizer que tinham preço infinito)

O que queremos medir é o circuito económico que pode ser representado:

- Despesa nacional
- Produto nacional
- Rendimento nacional

18
este circuito é um fluxo logo, podendo ser medido durante certo tempo.
Estas três medidas têm de dar necessariamente o mesmo valor apesar de
significam coisas diferentes. Logo:

Despesa nacional = Rendimento nacional = Produto nacional

Produto nacional
Verificando o fluxo à saída das empresas, medimos o montante de bens
produzidos, a que chamamos produto nacional, a soma dos bens realizados
e comprados:

Produto = Bens agrícolas + Bens industriais + serviços

No entanto não podemos somar valor de todos os bens produzidos por


todas as empresas, visto existir um problema da dupla contagem. Por
exemplo: no valor do pão está incluído o valor da farinha. Se para calcular
o produto somamos o produto do moinho (farinha) com o da padaria (pão)
a farinha vem contada duas vezes: uma vez como produto final do moinho
e outra vez como componente do valor do pão, somada a farinha. Assim, a
soma do valor total das vendas das empresas todas (a sua produção) é
muito superior ao valor realmente produzido no país (o produto), pois o
valor das vendas de uma empresa não representa o que ela produziu, mas o
valor que ela produziu e comprou produzido.
Assim considera-se apenas o valor acrescentado, ou seja o aumento de
valor que se incorporou sobre a matéria-prima.
Exemplo:

Vendedor Valor da venda Valor acrescent


Agricultor (trigo) 5 5
Moagem (farinha) 12 7
Padaria (pão) 20 8

O agricultor vendeu trigo no valor de 5€, o moinho acrescentou-lhe 7€ e a


padaria acrescentou-lhe 8€. O valor produzido é de 20€, o valor do bem
final.
Deste modo, o produto nacional é composto pela soma dos valores
acrescentados nas várias empresas da economia, que podemos dividir nos
setores agrícola, industrial e de serviços.

Em suma há duas formas de calcular a produção:


 Produto final
 Valor acrescentado

19
Despesa Nacional
Outra forma de medir o mesmo fluxo é procura-lo à porta de casa dos
utilizadores dos bens. Nesse caso estamos a medir as compras com
outro agregado chamado a despesa nacional.
Calcula-se:

PIB= consumo (C)+ Estado (G) + Investimento (I)+ Exportações(E)-


Importações (Im)

Rendimento Nacional
A terceira forma de medir o mesmo fluxo é fazê-lo no lado do mercado
dos fatores. Aí medimos os rendimentos, ou seja o dinheiro que há para
gastar.
Calcula-se:

Rendimento N= Salários (w)+Rendas (Re)+ Juros (j)+ Lucros (L)

É importante referir que o produto, a despesa e o rendimento são


conceitos diferentes, mas porque estamos a medir o mesmo fluxo, o seu
valor de agregado é igual.

Há algumas distinções a fazer no:


Produto nacional
Bruto/ Liquido
O valor bruto não tem em conta o gasto das máquinas. Na prática nós
não pagamos isso, mas daqui a uns anos a máquina deixa de funcionar
e então temos de pagar tudo. Logo em cada ano devemos calcular o
valor que gastamos de capital este ano: as amortizações.
Outra forma de analisar esta questão é olhar para os investimentos. Os
investimentos destinam-se a aumentar a capacidade produtiva, no
entanto uma parte desse investimento, destina-se a repor a capacidade
que já existia, mas que foi gasta (depreciação). À parte do investimento
que é realmente aumento da capacidade chamamos investimento
liquido, enquanto o total investido se chama de investimento bruto.
O total produzido é o produto bruto, enquanto se retirarmos o que foi
produzido para repor o capital gasto, dá o produto líquido.

Liquido = Bruto – Amortizações

20
Interno/ Nacional
Produto Interno – Tudo o que é produzido dentro do país,
independentemente de ser produzido por portugueses, americanos ou
chineses etc.
Produto Nacional – O que é produzido por residentes habituais no
país.

Produto Nacional = Produto Interno+ Rex

Rex= Rendimento do exterior – Rendimentos para o exterior

Exemplo:
1) O Benfica vai jogar a Liverpool, a receita que daí advém será
registada no PIB da Inglaterra, e no PNB de Portugal (dado que os
jogadores são residentes habituais em Portugal).
2) Os emigrantes portugueses a residirem em França. É PIB de França
pois é produzido dentro das fronteiras de França e PNB de França
pois residem em França.

Custo de fator/ Preço de mercado

Preço de mercado =Custo de fator+Impostos indiretos (Ti)- Subsídios (Z)

Rendimento Nacional
Transferências
Os rendimentos são aquilo que paga os fatores produtivos. Mas quando os
rendimentos são entregues aos que os ganham há logo perturbações como:
impostos, subsídios, ofertas, movimentos de dinheiro que nada têm a ver
com o pagamento dos fatores, mas que no fim determinam quem fica com
o dinheiro. a tudo isto dá-se o nome de transferências.
A alteração que as transferências fazem no montante de cada agente recebe
é que vai determinar realmente quanto dinheiro cada um tem para gastar.
Quem recebe o rendimento são as famílias, o estado (por ter terra e
dinheiro emprestado), e as empresas (se os seus donos deixarem lá ficar
dinheiro). Se ao rendimento recebido pelas famílias somarmos as
transferências internas (o que as famílias recebem do Estado) e as
transferências externas (exemplo: remessas dos emigrantes) que elas
recebem temos o rendimento pessoal.

21
Rendimento pessoal = w+j+Re+L+ transferências internas+ Transferências
externas

Se ao rendimento pessoal tirarmos os impostos pagos pelas famílias, temos


o rendimento disponível, que é o que as famílias têm para gastar.

Rendimento disponível = Rendimento pessoal – Impostos diretos famílias –


Contribuição SS das famílias

Rendimento Nacional
+ Transferências do Estado para particulares (trp)
+ Remessas
= Rendimento Pessoal
- Contribuições
- Impostos indiretos
= Rendimento disponível

Rendimento/ Riqueza
Rendimento é um fluxo, enquanto que riqueza é um stock, acumulação
de tudo que o país foi juntando por sucessivas poupanças, e é composto
pela moeda, pela propriedade e os títulos financeiros.

Fluxo – É a medição de um processo em evolução, o acréscimo feito ao


longo de um período de tempo.
Stock – É a acumulação desse processo, medido num instante.
Um fluxo é como um rio, o stock é como um lago.

Importantes igualdades:
Despesa nacional = PNB ( a preços de mercado)
Rendimento nacional = PNL (a custo de fator)

Índice dos Preços dos Consumidores cabaz de compras que representa o


que um consumidor médio gasta. As quantidades são sempre as mesmas,
portanto a única coisa que varia é o preço sendo portanto possível avaliar a
intensidade de inflação.
A taxa de inflação pode ser medida de várias formas:
1) Como IPC é calculado todos os meses, a variação desse índice é a
taxa mensal de crescimento.
2) Taxa homóloga mede o crescimento que o índice teve ao longo do
ano. No entanto esta taxa é muito variável. Por exemplo, uma taxa
de (% pode ser resultado de uma subida lenta ao longo do ano, ou de

22
uma manutenção do índice com uma subida brusca no fim, ou de
uma subida seguida de descida parcial.
3) Daí se calcule a taxa média que é a variação percentual da média
do índice nos últimos 12 meses e relação a média dos 12 meses
anteriores.
Cuidado com as estatísticas
As estatísticas gostariam de medir tudo, mas não conseguem. Por exemplo:
nas medições do produto, despesa e rendimento o cálculo estatístico é feito
apenas para as transações que passam pelo mercado. Assim, se alguém
produz e vende, as estatísticas contam essas transações, mas se alguém
produz para si próprio essa atividade já não é contada.

Quando se faz uma estatística tem de se ter em conta:


Amostragem
Como é impossível atender a todas as situações, medem-se algumas e
depois utiliza-se métodos especiais que nos permitem avaliar todas as
situações. É assim que se fazem as previsões eleitorais etc.
Mesmo quando se mede tudo, por exemplo censo, na realidade isto é
uma amostra, pois deduz-se que a análise feita nesse momento se
mantém válida durante uns anos, para poder tirar conclusões.
Daí que se compreende que as amostras para serem o mais rigorosas
possíveis tem de ser aleatórias, isto é perfeitamente ao acaso.

Medida de localização
Uma vez obtida a amostra queremos ter informação concreta sobre “à
volta de quanto anda este fenómeno”. Para isso a teoria estatística
utiliza as medidas de localização, que são essencialmente 3:
o Média – A mais usada, mas que é uma construção
aritmética sobre valores da distribuição
o Moda – Representa o valor mais vezes observado
o Mediana – Observação do meio, aquela que tem tantos
valores observados acima com abaixo.
Estas são três alternativas que nos permitem ter uma ideia da localização do
problema. As três são boas mas dão nos resultados diferentes. Exemplo:
Uma fábrica de sapatos, ao lançar o seu produto, decide contratar uma
empresa de estudos de mercado para lhe dizer qual o tamanho do pé das
pessoas dessa região. O estudo concluiu que a dimensão do pé era de
tamanho 40. Lançando muitos sapatos de tamanho 40, a empresa teve um
grande prejuízo e a razão foi simples: o tamanho dos pés dos homens era de
41, das mulheres era 39, a média dava 40, mas quase não havia pessoas

23
com o pé nº 40. Ou seja a medida que deveria ser usada era a moda e não a
média.

Razão para isto acontecer

A maior parte dos fenómenos comparta-se da seguinte forma:

Esta distribuição é conhecida pelo nome de distribuição de Gauss ou


normal: um valor normal, à volta do qual está a maioria dos casos, e
depois alguns estranhos, fora do normal que são poucos e que são
tantos os situados acima como abaixo. Nesta distribuição a média, a
moda e a mediana tem os mesmos valores, logo não faz diferença qual
das três medidas usar. Mas há muitos casos em que a distribuição não é
normal e nesse caso é importante ter em atenção qual a medida de
localização usar.

Medida de dispersão
É fundamental ter ideia de qual o grau de confiança que se pode ter na
informação. Dois alunos com média de 12 podem ser completamente
diferentes: um pode ter notas regulares todas à volta do 12, e outro
pode ser extremamente irregulares com notas entre 5 a 18. Para o
primeiro a média é relevante enquanto que para o segundo o valor 12
nada significa.
Assim sempre que nos dão uma medida de localização (por exemplo
uma média) devem sempre dar-nos alguma forma de ter uma ideia de
qual a garantia que se pode ter na qualidade dessa informação.
Exemplo:
 Uma possível informação relevante é o tamanho da amostra. Ter
uma amostra com 200 pessoa sé diferente a ter uma amostra de
10.
 Outra informação relevante é a frequência dos acontecimentos.
Num estudo sobre a poliomielite foi escolhida uma amostra com
200 crianças. A vacina foi administrada a 100 crianças, enquanto
as outras 100 não eram vacinadas. O resultado foi um sucesso
nenhuma das 100 crianças teve a doença. Mas por acaso nenhuma

24
das outras 100 crianças também teve a doença, visto esta doença
ser rara.

Informação errónea
Um dos erros mais frequentes na interpretação das estatísticas, e um dos
mais difíceis de evitar, dá-se quando a informação que se fornece é
verdadeira, esta relacionada com a conclusão, mas não é informação
relevante para a conclusão. Exemplo: é verdade que morreu mais gente em
desastres de aviação o ano passado que em 1910. Mas isso não significa
que os aviões sejam menos seguros agora do que no passado, o que
acontece é que agora muito mais gente anda de avião. O indicador correto
aqui deveria ser uma percentagem (percentagem de passageiros que
morreram em desastres) e não um valor absoluto.
Outro exemplo idêntico é quando se compara a riqueza de dois países
através dos seus produtos nacionais. È claro que um país maior tem de ter
mais produto, só porque tem mais gente. O indicador que deveria ser
utilizado é o PIB per capita.
Outra situação verifica-se na escolha do período base de cálculo de uma
taxa de crescimento. Os sindicatos escolhem como referência o ano em que
os salários estiveram mais altos, para acentuar a descida, enquanto que os
patrões escolhem o ano de crise.

Correlacção errónea
Falácia do post hoc – uma correlação não implica uma causalidade, e pode
até ser coincidência.
Por exemplo quando uma conclusão tirada num momento de tempo é
extrapolada para o futuro, ou a suposição de que a evolução futura será
igual à do passado, ou seguirá uma linha proporcional à verificada.

Representação errónea
Um dos meios mais fáceis de dar uma ideia errada de um número é
representá-lo num gráfico. Um gráfico é uma das formas mais simples de
sugerir uma interpretação errada das estatísticas.

Sempre que se faz medições estatísticas deve-se perguntar:


1. Quem diz?
2. Como é que ele sabe?
3. O que é que falta?
4. Será que alguém mudou o assunto?
5. Será que faz sentido?

25
O equilíbrio económico global
Os consumidores comportam-se de forma a igualar, para todos os bens
(x,y) que consomem, a taxa marginal de substituição ao rácio dos
respetivos preços.

TMSx,y = Umx/ Umy = px/py

Os produtores de bens (x,y) comportam-se de forma a igualar, nos seus


consumos de fatores produtivos, a taxa marginal de substituição técnica ao
rácio dos preços dos fatores.

TMSTx L,K= PmLx/PmKx = w/r


TMSTy L,K= PmLy/PmKy= w/r

Os produtores comportam-se nas suas vendas de produtos de forma a


igualar a receita marginal ao custo marginal.

Rmx=Cmx Rmy=Cmy

No mercado de fatores, as empresas procuram igualar o valor da


produtividade marginal ao preço do fator (w= salários, r = renda de
capital).

px*PmLx= w; px*PmKx= r
py*PmLy = w; py*PmKy=r

Vamos analisar a interação dos agentes:


Os consumidores estão dispostos a trocar x por y à taxa TMSx,y e que o
mercado trocava à taxa px/py. Mas os preços são decididos fora e, ao
analisar o problema do consumidor, não é possível influencia-los.
Os produtores decidem todos em conjunto sobre os dois bens. Da equação
de equilíbrio das suas escolhas de fatores produtivos deduz-se:

Repare-se que se esta a usar os dois princípios essenciais:

26
 Principio da racionalidade que se encontra nas equações w= PmL*p
e PmK*p
 Principio do equilíbrio dos mercados, que faz com que w e r sejam
iguais para as empresas, o que significa que os mercados de trabalho
e de capital estão em equilíbrio.
A dedução é que para qualquer fator (K ou L), o rácio das
produtividades desse fator nas duas produções tem de ser igual ao rácio
dos preços. Chamemos a este rácio de produtividades marginais taxa
marginal de transformação (TMT).
A taxa marginal de transformação significa o que se ganha de y, se
sacrificar uma unidade de x ao transferir recursos de x para y. Se tirar
uma unidade de recursos (L ou K) de x para y, ganho TMT de y por
cada unidade de x perdida. É a forma como na produção se troca, se
transforma x em y. Trata-se da inclinação da curva de possibilidades de
produção, que no ponto de equilíbrio será igual à inclinação da curva de
indiferença.

Vamos supor que uma hora de trabalho produz três unidades de y, e a


mesma hora de trabalho produz uma unidade de x. Isto quer dizer que a
produção troca 1 unidade de x por 3 de y. Suponha-se também que o
preço relativo de x é 4 (1 de x = 4 de y). Que acontece se se reduzir uma
unidade de x?

O mercado quereria trocar A por C, enquanto a produção passa de A


para B. A passagem de A para B foi feita ao longo da curva de
possibilidades de produção, enquanto a passagem de A para C foi feita
ao longo de uma reta de mercado. E é uma reta porque, como os preços
são dados, o mercado troca sempre 1 de x por 4 de y, e daí que a
inclinação da linha de mercado seja constante.
Note-se que o ponto A não é de equilíbrio pois TMT=Pmy/Pmx=3;
px/py=4. O mercado valoriza mais o x do que a produção. Logo vale a

27
pena passar recursos das empresas que produzem y para as que
produzem x, até ao ponto onde a linha de mercado é tangente à curva
das possibilidades de produção.

Repare-se que TMTx,y=PMLy/PMLx=px/py=PMKy/PMKx. Esta


inversão dos termos deve-se ao facto de se a produtividade de K e L no
bem y for maior que a de x, então o preço de y tem de ser menor que o
de x. Logo PMy/PMx=px/py.

Se TMSx,y=px/py= TMTx,y, temos a conclusão que TMSx,y= TMTx,y.


Assim se descobre de onde vem os preços. Eles são o valor que iguala
TMS e TMT. Os preços não são determinados nem pelos consumidores,
nem pelos produtores, mas pelos dois. Ele é a inclinação da curva de
indiferença e da fronteira de possibilidades de produção e para determinar
isso temos de ter em conta os mercados de x e y, com os mercados de K e
L. É a interdependência: tudo tem a ver com tudo.
Entramos assim no equilíbrio geral walrasiano: determinar
simultaneamente o vetor de preços de todos os bens e de todos os fatores,
que equilibram todos os mercados. E se um mercado está em desequilíbrio,
a sua influência sobre os outros vai fazer com que os outros mercados,
possivelmente também fiquem em desequilíbrio.

Em resumo:

Consumidor:
y
TMSx,y= Umgx/Umgy=px/py

px
py
x
Produtor:
y
TMST L,K= PmgL/PmK= W/r

W
R
x
TMSTx L, K= PmgxL/PmgxK= W/r

28
TMSTy L, K= PmgyL/PmgyK= W/r

Maximiza-se o lucro quando:


Rmg x= Cmg x
Rmg y= Cmg y

Logo,

W= px*Pmg Lx = py*PmgLy
R= px*PmgKx= py*PmgKy

px*PmgLx=Py*PmgLy= Px/Py= PmgLy/PmgLx


px*Pmgku= Py*PmgKy=Px/Py=PmgKy/PmgKx

TMT= PmgLy/PmgLx

No equilíbrio, a taxa marginal de transformação é igual ao rácio dos preços.

TMT= PmgLy/PmgLx= Px/Py

Se a produtividade de y for mais alta, o preço de x é que deve ser mais alto,
daí a inversão de correspondência.

Economia de Robinson Crusoé


Robinson Crusoé depara-se, no seu dia a dia, com um problema
económico, de consumo e de produção.
Ele tem de decidir entre:
 Descanso
 Trabalho para consumir cocos
Ele tem uma função de utilidade que diz as suas preferências entre cocos e
lazer.

A inclinação desta curva de indiferença é a taxa marginal de substituição de


descanso por cocos.

29
O tempo em que ele não está a descansar está a apanhar cocos. A função de
produção é:

A inclinação desta curva é a produtividade marginal do trabalho. Repare-se


que nesta economia muito simples, a produtividade marginal do trabalho
equivale à taxa marginal e transformação. Na verdade, a TMT deveria
ser PMLc/PMLd, mas o lazer tem a produtividade marginal unitária, pois
custa sempre uma hora de trabalho produzir uma hora de lazer.
TMT= PMLc/PMLd= PML c/1= PMLc
Logo, se trocarmos uma unidade de um bem (lazer) por outro, o que
conseguimos em termos de cocos é a produtividade marginal do trabalho
nos cocos. O preço relativo do descanso face aos cocos é a produtividade
marginal do trabalho.

O dia tem apenas 24 horas, logo o lazer e o trabalho somados têm de ser
24. Assim l= 24-d

Determina-se assim o ponto de equilíbrio, que é aquele onde TMS=PML


visto que nesta economia a PML=TMT
Repare-se que a inclinação da curva representa o preço relativo dos cocos e
do descanso: quantos cocos estou disposto a sacrificar por uma unidade de
descanso. Note-se que a curva de indiferença mudou a inclinação porque
em vez do bem descanso (d), o eixo das abcissas apresenta um mal
económico que lhe é complementar, o trabalho (l=24-d).
Se Robinson trabalhar uma hora, ele obtém um montante de cocos igual à
sua produtividade marginal, e cada coco par ele vale a sua utilidade
marginal. Assim o benefício de trabalhar mais uma hora é: PML. Se em vez
de trabalhar essa hora, ele descansa, o benefício é a utilidade marginal do
descanso Logo:
PML= UMc= UMd  PML=Umd/Umc  TMT= TMS

30
Exercício:
Suponha o modelo de Robinson Crusoé, cuja função de produção de apanha de cocos é
dada pelo seguinte quadro:
Horas de trabalho 0 1 2 3 4 5 6
Cocos apanhados 0 20 35 45 50 53 55

A) Calcule a produtividade marginal do trabalho em cada ponto, e represente


graficamente o produto total e o produto marginal.

Horas de trabalho 0 1 2 3 4 5 6
Cocos apanhados 0 20 35 45 50 53 55
Pm L 20 15 10 5 3 2

B) Considere que Robinson Crusoé descobriu um instrumento rudimentar, mas que lhe
permite apanhar mais 5 cocos independentemente do número de horas de trabalho.
Calcule a nova função de produção e produtividade marginal. Represente graficamente.

Horas de trabalho 0 1 2 3 4 5 6
Cocos apanhados a) 0 20 35 45 50 53 55
Pm L (a) 20 15 10 5 3 2
Cocos apanhados b) 5 25 40 50 55 58 60
PmLc b) 20 15 10 5 3 2

C) Se o descanso e os cocos forem bens normais, será que o Robinson vai trabalhar
mais, e portanto consumir mais cocos, após ter feito esta descoberta?
Dado que a produtividade marginal é a mesma, os preços relativos não alteram. O que
acontece foi que ele ficou mais rico visto que obtém mais 5 cocos trabalhando o mesmo.
A sua riqueza aumenta, pelo efeito rendimento. Se aumenta a riqueza diminui o
trabalho, apesar do seu consumo aumentar.

31
D) Suponha agora que ele descobre outro instrumento, que tem a característica de lhe
permitir apanhar mais 20% de cocos do que antes de qualquer descoberta. Calcule a
nova função de produção e de produtividade marginal, e represente graficamente.

Horas de trabalho 0 1 2 3 4 5 6
Cocos apanhados a) 0 20 35 45 50 53 55
Pm L (a) 20 15 10 5 3 2
Cocos apanhados c) 0 24 42 54 60 64 66
PmLc c) 24 18 12 6 4 2

e) Dado a descoberta efetuada em d) e supondo que o descanso e os cocos são bens


normais, será que o Robinson vai dedicar mais tempo à apanha dos cocos e descansar
menos? Do que depende a sua resposta?
Há variação da produtividade marginal do trabalho, logo os preços relativos variam. Se
a produtividade aumenta o preço relativo do descanso fica mais caro logo:
Efeito substituição d L
Efeito rendimento d L
? ?  o resultado depende da força dos dis efeitos.
Se normalmente domina o efeito substituição espera-se uma diminuição do descanso e
um aumento do trabalho.
F) Um deslocamento das preferências de Robinsos pode ser causado por um efeito
rendimento? E pode causar um efeito rendimento?
Um deslocamento das preferências pode causar um efeito rendimento

A economia descentralizada
Caracteriza-se por existir uma enorme quantidade de pessoas a tomar
decisões.

Comportamento das famílias:

32
As famílias querem maximizar a sua utilidade, mas estão sujeitas à
restrição orçamental: p*c=W(T-d)+A
Onde,
 p é o nível geral de preços
 c é o conjunto de todos os bens consumidos
 p*c é o preço do consumo  salário real medido em unidades de
bens de consumo, que dão utilidade.
 T é o período de tempo
 D o descanso
 W o salário e
 A os lucros

Umc/Umd=P/w
Máximo consumo
Descanso=0
descanso
Máximo descanso
Consumo= 0

O equilíbrio dá-se na tangencia entre a curva de indiferença e a restrição


orçamental, ou seja onde TMSc,d = Umc/Umd = p/w
Note-se que nem todos os pontos da reta podem ser atingidos, pois não se
pode descansar mais de um dia por dia. Na verdade, não se pode comprar
tempo de descanso com os lucros, como acontece na reta a partir de d=T.

Comportamento das empresas:


As empresas querem maximizar os seus lucros (A)
A= p*y-W/L
Onde,
P= preço
Y= produção
W= salário
L= trabalho

O ponto ótimo do produtor será no ponto em que PML= w/p: a


produtividade marginal do trabalho iguala o salário real.

A interação das famílias e das empresas gera o equilíbrio geral, que será no
ponto:

TMSd,c= w/p = TMT d,c (=PML)

33
Agregando as restrições orçamentais para todas as famílias temos:

p*C=W*L+A

que diz que o total o consumo da economia iguala a soma dos salários com
os lucros.

Agregando os lucros para todas as empresas temos:

A= p*Y- w*L

Deste equilíbrio geral, somado as restrições orçamentais de todas as


famílias, e as funções de lucros de todas as empresas resulta a igualdade
básica:

p*C=p*Y+w+L (lei de Walras)

Esta equação diz que a despesa total(p*c) é igual ao produto (p*Y) que é
igual ao rendimento (A+w*L). Chegamos novamente há expressão
rendimento = despesa = produto.

Se acontecer um choque nesta economia, tal que a função de produção suba


ou desça a economia deve ajustar-se a um novo ponto de equilíbrio. Este
ajustamento pode ser decomposto em dois efeitos:
Efeito substituição tem a ver com alterações das escolhas entre produto
e lazer. Se a função de produção subir, então a produtividade marginal do
trabalho subirá, aumentando o preço do descanso. Logo por efeito
substituição os consumidores vão descansar menos e consumir mais.

Efeito rendimento Dado que a produção subiu, e mesmo mantendo-se a


produtividade marginal do trabalho, a economia fica mais rica, pelo que os
agentes vão descansar mais e consumir mais, por efeito de rendimento.
O efeito final, que será a soma do efeito substituição e do efeito
rendimento, vai depender do efeito que é mais forte. Normalmente o efeito
substituição domina o efeito rendimento, e por isso o descanso desce e o
trabalho sobe.

A economia com crédito


Vamos introduzir o tempo neste modelo, assim temos de criar dois
momentos de tempo, hoje e amanhã. Bens em períodos de tempo diferentes

34
são diferentes. Mas vamos supor que é possível transportar consumo de
hoje para amanhã. Mas não guardando fisicamente o bem. Como
transportar consumo então?
Através do mercado do crédito, ou seja dos títulos, um papel que se compra
hoje por 1 unidade e que amanha rende 1 unidade mais um juro.
O aparecimento deste titulo e do corresponde mercado (mercado de
crédito), permitem um novo tipo de transações, as transações através do
tempo. O título é a única coisa que passa de um período para o outro tudo o
resto desaparece.

Qual o interesse de criar o papel e este mercado?


Quem compra o título está a transportar consumo de hoje, para amanhã, ou
seja está a poupar.
Quem o vende recebe hoje dinheiro, que pode consumir, mas tem de o
pagar amanhã, logo transferiu consumo de amanhã para hoje.
O preço dessa transação é a taxa de juro. Tem de se pagar esse preço por
consumir já a quem está disposto a adiar o seu consumo. A taxa de juro é o
preço do tempo, ou o ganho da poupança.

Assim sendo e olhando para uma família a restrição orçamental é:


(1+r)*bo+p*R1=p*c1+b1 hoje e
(1+r)*b1+p*R2=p*c2+b2 amanhã
ou seja, a equação agora diz que o dinheiro que ele têm (o que produziu
este período p*R1 mais o que guardou do período anterior (1+r)*bo) é
igual ao que ele vai gastar neste período (consumindo p*c1 ou poupando
b1).

Podemos então construir a restrição orçamental intertemporal:

C1+C2/(1+r)=R1+R2/(1+r)+ (1+r)*b0/p - b2/(p*(1+r))

Onde o lado direito representa o que ele tem para gastar nos dois momentos
de tempo, enquanto o lado esquerdo representa o consumo que se pode
fazer também no mesmo horizonte.

35
Se chamarmos riqueza (W= rendimento e poupança) ao que o consumidor
tem para gastar, e considerarmos W constante, então a restrição pode
escrever-se:

W= c1+c2/(1+r) ou,

C2= W(1+r) – c1(1+r)

A restrição dá as possibilidades de consumo hoje e amanhã. Pode-se pedir


emprestado o máximo, e consumir hoje W, não consumir nada amanhã, ou
pode não se consumir nada hoje (poupar tudo) e consumir tudo ((1+r)*W)
amanhã, ou pode-se escolher um ponto intermédio.

O consumidor pode escolher entre consumir hoje e amanhã, representadas


por uma curva de indiferença. O ponto escolhido será aquele em que a
curva de indiferença toca a reta de rendimento.
Nesse ponto é onde a taxa marginal de substituição intertemporal = TMSI =
Um1/Um2= 1+r, ou seja vai transferir consumo de hoje para amanhã, até
que a ultima unidade hoje valha (1+r) unidades consumidas amanhã. Se
valesse mais, valia a pena pedir emprestado, aumentando o consumo hoje e
diminuindo amanhã. Se valesse menos era o contrário.

Imagine-se duas pessoas que são iguais em tudo menos no padrão temporal
de rendimento (recebem a mesma riqueza mas em períodos diferentes).
Então vemos que W= r1+R2/(1+r) e o total W (riqueza) é igual para os
dois.
Assim se uma pessoa tiver de rendimento R1 e R2, o seu consumo de
equilíbrio pode ser c1 e c2, mas isso implica que ele peça emprestado no
primeiro período (c1-R1) e pague no segundo (R2-c2= (c1-r1)(1+r))

36
Enquanto isso o outro agente consome exatamente o mesmo que o primeiro
(pois tem iguais preferências), mas agora poupa inicialmente, para
consumir mais no período seguinte.

Teorema da Separabilidade de Fisher Devido à existência de um mercado


de crédito, qualquer que seja a distribuição temporal dos rendimentos, o
ponto de consumo é sempre o mesmo para as mesmas preferências e
riqueza pois a condição TMSI= 1+r é igual para os dois.

Exercício:
1) Considere-se um modelo a funcionar em dois momentos de tempo (1,2), com dois
agentes económicos (Z, V). Os valores da poupança nominal (b0,b2) e de rendimento
real (R1, R2) dos dois agentes são os do quadro abaixo. A taxa de juro é 5% e o nível
geral dos preços é 1.

B0 B2 R1 R2
Z 50 20 70 80
V 50 50 100 90

A) qual a riqueza que cada agente tem para gastar em consumo, o longo da sua vida?
W= R1+R2/(1+r)+b0*(1+r)/p –b2/(p(1+r))
Wz= 70+ 80/(1.05)+50*(1.05)/1 – 20/(1.05)= 179,64

Wv= 100+ 90/(1.05)+ 50*(1.05)/1 – 50/(1.05)= 190,60

B)Calcule a restrição intertemporal dos agentes Z e V. Represente graficamente.


W= c1+ c2/(1+r)
C2= W(1+r)-c1(1+r)

179,64= c1+c2(1,05)
C2= 188,62 -1,05c1

190,60= C1+C2/1,05
C2= 200,13 -1,05C1

c) Suponha que a riqueza inicial do senhor Z duplicava. O que acontece à restrição


orçamental.

W= 70+80/(1,05)+100(1.05)- 20/(1.05)= 232,14


232,14= c1+c2/(1.05)
c2= 243,75-1,05C1

37
d) Suponha agora que, nas condições iniciais, a taxa de juro sobe 1 ponto percentual
qual o efeito sobre a restrição orçamental do senhor V?

W= 100+ 90/1,06 + 50(1,06)- 50/(1,06) = 190,74


190,74= c1+c2/1,06
c2= 202,18-1,06c1

e) De que depende a escolha do nível de consumo presente e futuro de cada agente?


A escolha do ponto ótimo depende:
1. Das preferências U(C1, C2)
2. Riqueza w(e, Y1, Y2, b0,b2)

2) Os agentes Z e V tem preferências idênticas no que respeita à distribuição temporal


dos seus consumos. Eles revelaram que, quaisquer que sejam os níveis de consumo
presente e futuro, por cada unidade adicional de consumo presente não estão dispostos a
ceder mais do que 100*(1/C1)^2 unidades de consumo futuro, e modo a manterem o
mesmo nível de utilidade. Supondo que as condições iniciais se mantém:
a)Qual será o ótimo de consumo presente e futuro de cada agente?
Agente Z
179,64=C1+C2/1,05
1,05=100/(C1^2)
c2= 178,37
c1= 9,76

Agente V
190,60= C1+C2/1,05
1,05= 100/(c1)^2

38
C2= 189,86
C1= 9,76

b)E qual será a poupança de cada agente no momento 1 (b1)?


B0(1+r)/p+y1=C1+b1/p

Agente Z
50(1,05)+70= 9,76+b1
b1= 112,74

Agente V
50(1,05)+100= 9,76+b1
b1= 142,74

c) Como se vão alterar as escolhas do senhor Z se a sua riqueza inicial


duplicar? Podemos identificar efeito riqueza? E efeito substituição?
Agente Z
232,14= c1+c2/1,05
1,05=100/(c2)^2
c2= 233,5
c1= 9,76

d) Como se vão alterar as escolhas do senhor V se a taxa de juro subir 1


ponto percentual? Podemos identificar efeito riqueza? Efeito substituição?
Represente graficmente.
190,74= c1+c2/1,06
1,06=100/(c1)^2
c2= 191,88
c1=9,71

Esta economia pode sofrer dois tipos de perturbações:


Uma alteração na taxa de juro (r) tem um efeito de substituição
intemporal uma vez que uma subida de r faz com que as pessoas
adiem o seu consumo e portanto consumam mais no futuro. No
entanto tem também um efeito riqueza (rendimento) que depende da

39
situação liquida do consumidor. Suponha-se que domina o efeito
substituição.

Este facto altera o equilíbrio, aumentando consumo amanhã e descendo


o de hoje.

Uma descida da produção leva à descida do consumo quer pelo


efeito rendimento e substituição. Relativamente ao trabalho, nada se
sabe pois enquanto que o efeito rendimento vai no sentido de descer
o lazer (aumentar o trabalho), o efeito de substituição vai no sentido
de o subir (descer o trabalho). Suponha-se que domine o efeito
substituição.

Mas agora convêm distinguir entre choques temporários e choques


permanentes.
Choques permanentes Se a diminuição na produção é permanente, ou
seja permanecerá nos dois períodos de tempo. Exemplo: Choques do
petróleo, onde o preço sobe e fica alto.
Choques temporários se são temporários, só tendo efeitos num período.
Exemplo: mau ano agrícola onde o clima só é mau nesse ano.
Esta distinção é muito importante, porque o seu efeito sobre os ciclos
económicos é muito diferente.

Choques temporários:
Exemplo: mau ano agrícola

40
Isso vai fazer com que se verifique um efeito rendimento e substituição que
altere C1 e L1, hoje, mas não amanhã. Na situação intertemporal, verifica-
se o seguinte:

Repare-se que o C2 é o mesmo mas o C1


diminuiu. Só é possível situar se num novo ponto, alterando a inclinação da
reta do rendimento, ou seja mudando a taxa de juro, assim teve um efeito
intertemporal. Mas porque há uma subida da taxa de juro?
As pessoas estão mais pobres assim vão preferir pedir emprestado agora e
mais tarde como tudo voltará ao normal, elas compensam. No entanto, é
impossível que toda a gente consiga pedir emprestado, pois há mais quem
queira pedir emprestado do que emprestar. Logo a subida da oferta dos
títulos reflete-se na subida da taxa de juro. Esta subida torna o crédito mais
caro e reduz a procura ao nível anterior.

Resultado final do mau ano agrícola:


Consumo – desce o consumo hoje, mantém-se amanhã
Trabalho (lazer) – Pressupondo que domina o efeito substituição,
desce o trabalho, aumenta o lazer
Produto – A diminuição do trabalho agrava a descida inicial da
produção, logo o produto hije desce. Amanhã não há efeitos.
Taxa de juro – a taxa de juro sobe
Salário – O salário (igual á produtividade marginal do trabalho) tem
um movimento indefinido. Por um lado, a descida da função de
produção foi acompanhada por uma descida da produtividade. Mas a
descida do trabalho aumentou a produtividade, compensando essa
descida. No entanto, ao analisar o efeito substituição, vê se que a
inclinação desceu, pelo que o salário real desceu.

Choques permanente:
Exemplo: Choque de petróleo que se reflete nos dois momentos.

41
Isso vai fazer com que se verifique um efeito rendimento e substituição que
altere o consumo e o trabalho (lazer), hoje e no futuro.
Na situação intertemporal verifica-se o seguinte:

As pessoas estão mais pobres hoje e amanhã, assim não haverá uma tensão
de capitais, pelo que a inclinação da nova reta, ou seja a taxa de juro, seja
modificada. Não há pois efeito de substituição intertemporal. Há apenas um
efeito riqueza, muito mais forte que no primeiro caso.

Resultado final do choque do petróleo:


Consumo - Desce o consumo hoje e no futuro
Trabalho (lazer) – O efeito sobre o trabalho (e lazer) é duvidoso, mas
deve dominar o efeito substituição, descendo o emprego 8subindo o
lazer).
Produto – A descida do trabalho agrava o efeito da descida inicial,
logo o produto desce nos dois períodos
Taxa de juro – mantém-se
Salários – A descida da produtividade (para o mesmo nível de
trabalho) foi compensada pela descida de trabalho, que aumento a
produtividade, mas o salário desceu, como se vê no efeito de
substituição.

A economia com moeda


Vamos agora introduzir no modelo a moeda.

Se houver uma modificação do montante de moeda em circulação, a oferta


altera-se. Isto só pode ser feito pelo Banco Central, e pelos bancos.
Se variar o produto (y), os preços (P) ou a taxa de juro nominal
(i=r+inflação), varia a procura de moeda.

42
A restrição orçamental do agente passa a ser:

Onde a riqueza que ele tem é o que produziu este período (p*R1) mais o
que guardou do período anterior (1+r)*bo+mo

Em termos agregados, a restrição passa a ser:


(1+r)*B0/p+M0/p+Y1= C1+B1/p+M1/p

As condições de consistência agregativa implicam que:


 O total dos títulos disponíveis é zero (para uma pessoa que empresta
há uma que pede emprestado)
 Não se pode guardar bens para o no seguinte e só se pode comer o
que existe, logo Y1=C1
 Como a moeda não caiu do céu, temos de supor que Mo=M1.Claro
que cada pessoa pode aumentar o seu stock de moeda de um período
para o seguinte, mas o total de moeda mantém-se constante.

Até agora o nosso modelo representa-se por estes 4 gráficos:

Choque na produção:
Para além das perturbações já estudadas, a descida do produto (e no caso
do choque temporário, da subida da taxa de juro) isso tem o efeito de
descer a procura de moeda. Como resultado dá-se uma subida dos preços.

Choque na oferta da moeda:


Se o Banco central aumentasse a moeda, verificar-se ia um aumento
proporcional dos preços. Porquê? Um aumento da moeda vai fazer com que
as pessoas tenham mais dinheiro do que queriam. Como não querem
guardar esse dinheiro tentam gastá-lo. Mas como não há variação na

43
produção, o único efeito é a subida do preço. O aumento da moeda tem
efeito sobre a riqueza mas a subida de preços faz descê-la, e anula esse
efeito.
Nos outros mercados não tem qualquer efeito visto que se está em
equilíbrio.

Choque na procura da moeda:


Se subir a procura da moeda, vemos que isso vai fazer descer os preços.

Esta descida de preços reequilibra o mercado monetário, sem ter efeito


sobre Y ou r, logo os restantes gráficos ficam na mesma.

Exemplo:
Analise os efeitos sobre o nosso modelo dos seguintes choques e represente
graficamente:
a) Descoberta do petróleo em Xabregas.
È um choque permanente positivo
M= P*y/v(i)
A taxa de juro não varia logo v(i) mantém-se. No
entanto, o rendimento altera logo y sobe. Se as
pessoas estão mais ricas, procuram mais moeda
para gastar, logo dá-se um deslocamento da curva,
pelo que baixa o preço.

b) Aumento da oferta de moeda

Choque no mercado monetário

Um aumento da oferta da moeda leva à


subida dos preços. As pessoas tem mais
moeda, querem gasta-la, a produção não
responde, sobem os preços.

c)Uma subida dos preços permanente

Choque negativo permanente

O rendimento diminui  contrai-se


a procura de moeda  subida dos
preços

e) Aumentam as greves no período


atual

Choque temporário negativo na produção M= P*y/v(i)


O rendimento total diminui, logo a procura de
moeda tende a diminuir.
A taxa de juro sobe, logo também por44esta via a
procura de moeda diminui.
f)Baixam os impostos sobre os lucros, e aumentam os impostos sobre os salários.
O nosso modelo não é capaz de analisar esta questão. Os produtos de redistribuição não
têm resposta neste modelo.

A economia com Estado


O Estado é um consumidor, com a diferença que não trabalha, tem outra
forma de obter meios para consumo:
 Cobrar impostos
 Dividas
 Emitir moeda

Assim as restrições do estado podem ser escritas do seguinte modo:


G= T +dB/p+dBM/p
Onde,
G - representa o consumo do Estado
T – o nível de impostos
dB/P – é a variação real do nível da dívida
dBM/P – representa a variação real do montante de moeda emitido pelo
Banco Central

Note-se que o dinheiro que o Estado recebe, não chega a sair da sociedade,
visto que o Estado retira esse montante com o propósito de os gastar na
sociedade. Assim, o total dos recursos que a sociedade dispõe antes e
depois dos impostos é igual. Mesmo que o dinheiro seja desperdiçado ou
gasto em corrupção, ele continua a circular na economia e não chega a sair
da sociedade. No entanto, o controlo desse dinheiro é retirado às empresas,
para ser entregue ao Estado. Nesse sentido o dinheiro do domínio da
sociedade para o Estado, e as pessoas vão mudar as suas decisões por terem
menos dinheiro.
A utilidade que as pessoas tiram dos gastos do Estado, não nos interessa,
pois o importante é estudar o ciclo económico, ou seja a reação da
economia aos choques que vai sofrendo. Quando o Estado tira dinheiro à
sociedade, ela vai reagir, pois agora tem menos dinheiro do que antes, é
isso que nos interessa. O benefício dos gastos do Estado não tem impacto
neste estudo.

Há, no entanto, um destino que o Estado pode dar ao seu dinheiro que
elimina os efeitos do choque sobre a economia. Se as despesas de Estado

45
forem gastas em subsídios, ou transferências para a sociedade, o dinheiro
passa de umas mãos para outras, mas a sociedade como um todo fica com o
mesmo montante de dinheiro para gastar.

Choque nos gastos com financiamento com impostos:


Os gastos públicos, mesmo que sejam para o bem dos consumidores, não
são controláveis pelos consumidores, por isso o efeito que conta é apenas o
dos impostos. E os impostos são como uma subtração do produto (descida
paralela da função de produção). O que é produzido é o mesmo que antes,
mas agora uma parte é retirada e vai para o Estado.
Considere-se:

A) Aumento temporário da despesa paga por impostos


Como o aumento dos gastos é temporário, só há impostos hoje. Isso
significa que hoje verifica-se uma descida do produto disponível para os
consumidores, mas no futuro é tudo igual à situação antes de choque.
O efeito rendimento hoje reduz o consumo, diminui o lazer e aumenta o
trabalho, visto que se as pessoas estão mais pobres tem de trabalhar mais. O
aumento do trabalho vai gerar aumento do produto.

A descida do consumo hoje e a manutenção do consumo amanhã vão


causar um aumento da taxa de juro.
A subida da taxa de juro e o aumento do produto tem um efeito contrário
sobre a procura de moeda (o Y sobe mas a velocidade também) e
consequentemente sobre os preços é duvidoso.

B) Aumento permanente da despesa paga por impostos


O efeito é igual ao anterior, com a diferença de que não há agora variação
na taxa de juro (logo a velocidade não varia e os preços descem de certeza).

Choques nos gastos com financiamento com divida

46
Como o Estado não produz nada, divida são impostos adiados. O que se
verifica é que o Estado tira ás pessoas, prometendo pagar no futuro, mas no
futuro, de forma a pagar o que deve a uns vai tirar a outros. Logo, hoje á
uma descida na produção disponível para consumo dos particulares e
amanhã há só um efeito redistributivo.

Pode existir divida externa, onde os gastos são financiados à borla para o
país, mas no futuro é preciso paga-lo ao exterior, com impostos amanhã, e
logo isso significa uma descida do consumo. Trata-se do inverso do choque
temporário pago com impostos hoje, pois o efeito dá-se amanhã. Isso vai
descer a taxa de juro e descer os preços hoje.

Choques nos gastos com financiamento com moeda


Quando o Estado emite mais moeda para pagar as suas compras ocorrem
dois factos:
 Dá dinheiro aos consumidores, que ficam com mais dinheiro para
gastar,
 O facto dos consumidores terem mais dinheiro, não significa que haja
mais bens para comprar, logo há um aumento da procura não
acompanhado por um aumento da oferta. Como consequência
aumentam os preços (inflação).
Logo os consumidores tem mais dinheiro para gastar, no entanto os bens
estão mais caros, logo não há uma variação do salário real. Assim a

47
inflação é um imposto, pelo que este modelo comporta-se exatamente como
os modelos anteriores, excetuando o mercado monetário. Neste mercado
além de aumentar o produto (e de subir a taxa de juro no caso de Aumento
temporário), sobe a oferta da moeda, o que sobe os preços.

Exercicio 27:
Considere as seguintes medidas de politicas e faça análise gráfica dos seus efeitos sobre
os vários indicadores da economia agregada.

a) Compra especial de automóveis pelo Estado, este ano, financiada por impostos.
Aumento dos gastos financiados por impostos –transitório

Trabalho: Por efeito riqueza sobe o trabalho hoje, mas no futuro não se altera.
Consumo: desce o consumo hoje, o consumo não se altera
Produto: Sobe o produto hoje porque se trabalha mais, mas no futuro não se altera
Taxa de juro: A taxa de juro sobe como resultado da redução da poupança
Salário real: Se a produtividade marginal do trabalho diminui é natural que o salário
desça, mas no futuro não há efeitos
Nível geral de preços: A taxa de juro sobe logo por esta via a procura de moeda desce
No entanto a produção sobe logo a procura de moeda sobe. Se a produção se sobrepor á
taxa de juro, a procura de moeda sobe logo os preços descem.

48
b)Construção de um novo aeroporto em Lisboa, financiada por emissão de dívida
interna.
Não é possível financiar G de forma permanente por dívida já que ela tem de ser paga
em algum momento. Logo é idêntica à alínea anterior visto que hoje há uma redução
dos bens disponíveis para consumo, e amanhã há que pagar a divida cobrando impostos
para o efeito. No período dois só há um efeito redistributivo, o estado tira a uns para
pagar a outros.

c) Compra pelo Estado de mais computadores importados, financiada por emissão de


dívida externa.
A hipótese de pedir um empréstimo externo para comprar bens produzidos no país não
tem interesse. Pedindo ao exterior, recebe moeda estrangeira. Como compra no país não
a pode usar e tem de a converter em moeda nacional o que iria aumentar o stock de
moeda nacional. A moeda externa ficava no banco e no momento seguinte era paga, sem
efeito real.

d) Aumento das pensões de reforma em Portugal totalmente financiada pela União


Europeia.
Os financiamentos da União Europeia representam uma expansão mas possibilidades de
consumo presente e futuro para o Estado.

Conclusão:
1) O equilíbrio geral, numa economia perfeitamente competitiva, é obtido
através da consideração simultânea de todas as condições marginalistas
dos vários problemas individuais. Esta constatação é importante visto
que mostra que nenhuma decisão individual está em equilíbrio enquanto
não estiverem todas em equilíbrio. De facto, consumidores, produtores,
empregadores precisam de obter preços para reagir a eles. E os preços
só aparecem como resultado de todas as decisões.

TMS= Rácio dos preços = TMT

Umi/Umj= pi/pj = Pmj/Pmi

Verificou-se também a lei de Walras que afirma que a totalidade das


procuras é igual, sempre, á totalidade das ofertas. Isto implica que se

49
todos os mercados menos um estiverem em equilíbrio, então o outro
também tem de estar equilibrado.

2) O fenómeno dos ciclos económicos é causado pela contínua perturbação


a que o sistema está sujeito.
Há três tipos principais de choques:
 Choques produtivos – os seus efeitos implicam movimentos no
produto, semelhantes aos verificados no consumo e no emprego. O
efeito no salário é duvidoso e os movimentos na taxa de juro só se
verificam em choques temporários e são contrários ao do produto (se
o produto desce, a taxa de juro sobe, e vice versa).
 Choques sobre a quantidade de moeda – Alterações na quantidade de
moeda apenas tem impactos proporcionais no nível de preços, não
afetando as variáveis reais.
 Choques nas despesas públicas – A variação dos gastos do Estado
cria um efeito de variação semelhante sobre o produto, mas inverso
sobre o consumo e sobre os salários reais. O efeito na taxa de juro só
se verifica se o choque for temporário, e é no mesmo sentido da
variação dos gastos, e existe efeito duvidoso sobre os preços, exepto
no caso de financiamento monetário onde os preços aumentam com a
moeda.
Condições de consistência agregativa – São as condições que se
verificam na economia global, e que resultam da soma de todas as
restrições orçamentais. Existem no modelo de equilíbrio 3 tipos:
1. Lei de Walras – que diz que a totalidade das ofertas de todos os
mercados é igual à totalidade das procuras;
2. B1= B2= 0, ou seja, a nulidade do total de stock de ativos
líquidos;
3. Y=C ou seja a igualdade da oferta à procura de bens, por não
haver a possibilidade de guardar bens.

Desemprego e inflação

Dois grandes problemas da economia são:


 Desemprego
 Inflação
Ora o nosso modelo de equilíbrio pouco nos fala sobre estes dois
assuntos.

Desemprego
Desemprego: situação de quem quer trabalhar e não o faz pois não
encontra emprego.

50
Não existe um mas sim vários tipos de desemprego:
 Desemprego Voluntário
 Desemprego Friccional
 Desemprego Involuntário

Desemprego voluntário
Este tipo de desemprego é composto por pessoas que, ao nível de
salário verificado, não querem trabalhar. Trata-se de pessoas que não
encontram o tipo de trabalho ou de remuneração que pensam suficiente
para justificar o esforço. É o caso de advogados que se mantém
desempregados por não ter lugar como advogados, mesmo que possam
arranjar trabalho como varredores de ruas.

O nível P.ativa representa o total da população ativa, enquanto o


equilíbrio de mercado é definido pelas curvas de oferta e procura de
trabalho ao nível (L*). A diferença (P.ativa-L) representa o nível de
desemprego voluntário. Essas pessoas só estariam dispostas a trabalhar
se o nível de salário fosse mais alto.

Fatores: O nível de desemprego voluntário é afetado por várias variáveis


mas sobretudo as relativas ao funcionamento do mercado do trabalho,
como por exemplo: o subsídio de desemprego que vai fazer com que as
pessoas estejam dispostas a esperar mais tempo por um emprego que
realmente lhe agrade.

Desemprego Friccional
Qualquer pessoa que deixe um emprego, mesmo que queira continuar a
trabalhar e haja lugar para ele na economia, é normal que leve algum
tempo a encontrá-lo. Assim, em cada momento, existe sempre um certo
número de pessoas nesta situação: querem trabalhar e há emprego para
elas, mas ainda não o encontraram. Há portanto uma falta de informação
entre procura e oferta de trabalho. Ocorre por exemplo: aquando da
procur ado primeiro emprego e mudança de emprego.

51
Fatores: A causa deste desemprego reside portanto na imperfeição dos
mecanismos de ajustamento do mercado de trabalho. Mau sistema de
informação sobre as vagas de trabalho, dificuldades de transporte e
comunicação são as razões mais frequentes deste desajustamento.

O nível de equilíbrio L* não é imediatamente atingido, por imperfeição


e lentidão no ajustamento do mercado, encontrando-se a sociedade na
situação L’. A diferença L*-L’ é constituída por pessoas que querem
trabalhar e para quem há emprego, mas quando, devido a essas
imperfeições, o emprego e o candidato ainda não se encontraram.

Perante uma descida de produto das empresas reduz-se o total de postos


de trabalho. Nessa situação a busca de emprego, mesmo para aqueles
que têm vagas algures, torna-se mais difícil. Se há menos emprego, é
mais difícil encontrar um do que quando há muitos.

Desemprego involuntário
Este desemprego caracteriza-se por não existir suficientes postos de
trabalho para as pessoas que querem trabalhar ao salário de mercado.
Ora esta situação só pode acontecer se existir algo que impeça o
mercado de se ajustar.
Ora nesta análise de que todos os mercados equilibram isto é
impossível, o mercado pode levar algum tempo a ajustar, no entanto,
não é possível conceber uma situação em que o mercado se mantém
sistematicamente fora do equilíbrio.

Fatores: A única forma de criar este desemprego é através de


interferências institucionais, que impedissem este mercado de se ajustar:
como por exemplo: a imposição de salários mínimos excessivamente

52
altos, leis que impeçam o despedimento, ou contratos coletivos de
trabalho distorcidos etc.

A fixação de salários acima do equilíbrio leva a que a quantidade


oferecida de trabalho(L’’) seja superior à quantidade procurada(L*). A
diferença (L’’-L*) representa exatamente a existência de pessoas que,
estando dispostas a trabalhar à remuneração (wmin), não encontram
emprego:

Assim, segundo o nosso modelo, a única razão porque alguém pode estar
desempregado são:
 Ou porque não está disposto a trabalhar por esse salário
 Ou porque estando disposto ainda não encontrou o lugar que
existe vago para si.

Convém também distinguir desemprego:


 Em sentido lato- inclui todas as pessoas que não têm emprego,
mas que também não querem trabalhar. Exemplo: os estudantes
que vão para a universidade
 Em sentido restrito – Não inclui estas pessoas.

Taxa de desemprego = Desempregados/ População Ativa* 100


População Ativa = Desempregados + Empregados

Inflação
A inflação define-se como a subida sustentada e generalizada dos preços.

MV(i)= PY
Onde,
M= stock de moeda
V(i)= velocidade de circulação da moeda
I= taxa de juro (influencia positivamente a V(i))

53
P = Preços
Y= Produção

Mas o que pode causar a subida generalizada dos preços?


1) A subida sistemática do stock de moeda. De facto a inflação resulta do
facto da moeda ser uma má medida de valor, e ir perdendo valor e
originando a subida dos preços das coisas.
A inflação aparece, em geral, como um ajustamento normal da
economia a um excesso de moeda. Se há moeda a mais para as trocas
que se podem fazer, o valor da moeda desce (os preços sobem), até que
em termos reais, a moeda readquira o mesmo valor que tinha.
2) Choques no mercado dos bens que podem ter um efeito temporário,
aumentando ou diminuindo a taxa de inflação.
3) Inflação inercial. A inflação inercial é o facto frequente, de em
economias que sofreram fortes e longos processos de inflação, mesmo
quando se reduz ou elimina o fluxo de nova moeda na economia, esta se
manter durante algum tempo. Este facto deve-se ao facto de as pessoas e
instituições, habituadas á situação de crescimento continuado de preços,
terem dificuldade em se habituar à nova situação der estabilidade.

Problemas decorrentes da inflação:


1) A inflação é um imposto para as pessoas, pois desvaloriza a quantidade
de moeda que as pessoas têm no bolso, em contrapartida de aumentar o
dinheiro disponível ao Estado para gastar.
2) A inflação não é neutra, não afetando todos da mesma maneira e criando
problemas de injustiça.
3) A inflação não é previsível, criando instabilidade, falsificando o
mecanismo de preços, sobretudo os preços futuros, criando ineficiência,
desperdiçando recursos e reduzindo o crescimento.

Relação entre desemprego e inflação - curva de Phillips


Pillips acreditava que existia uma relação inversa entre o nível de
desemprego (u) e a taxa de inflação (п). Segundo ele níveis altos de
inflação estavam ligados a baixo desemprego, e vice-versa.

No entanto chegou-se á conclusão de que isto era falso. Não é possível


encontrar uma relação generalizada entre a inflação e o desemprego.

54
A economia Keynesiana
A grande depressão de 1929 caracterizou-se por um choque na economia,
onde predominavam o desemprego e deflação e que pôs em causa toda a
teoria existente (teoria do equilíbrio geral). E permitiu o aparecimento de
uma nova teoria que conseguia explicar o ambiente dessa altura- teoria
keynesiana.
O centro da ideia de Keynes é que os mercados não equilibram, pelo menos
a curto prazo, porque a economia está sempre a ser perturbada sendo
instável.
Quanto aos agentes estão dominados por estados de espirito alternados, que
causam contínuos choques, os quais se mantém devido ao mau
ajustamento. Assim os agentes não são racionais.
Repare-se que se violam os dois princípios básicos da Economia: os
mercados não equilibram (pelo menos em parte), e os agentes são
irracionais (pelo menos em certas situações). Se os agentes são irracionais e
os mercados não equilibram, então toda a análise feita até agora não é
válida, porque foi esse o ponto de partida.
A principal conclusão que se retira desta teoria é que agora o Estado pode e
deve manipular o sistema, no sentido de melhora-lo, calculando através dos
modelos qual o choque que a economia sofre e qual a política correta para
o corrigir.

É importante não esquecer que esta teoria não vai romper com a teoria
existente anteriormente, mas sim procura explicar a situação de exepção
que ocorreu em 1929.

O modelo está dividido, no mercado de bens, em duas partes: a procura e a


oferta.

Lado do consumo
No lado da procura, o consumo das famílias é a parte mais importante na
despesa da sociedade.
Para estudar o consumo, Keynes inventou o conceito de função consumo,
que define as principais determinantes do nível de consumo em certo
momento. O autor resume essas determinantes do nível de consumo
completamente ao nível do produto: o consumo privado das famílias (C) de
uma sociedade depende fundamentalmente do rendimento global (Y) dessa
sociedade.
Na visão keynesiana existem dois conceitos fundamentais:
 Propensão marginal de consumo (PmC) – definida como o

acréscimo de consumo feito por mais uma unidade de rendimento

55
 Propensão média ao consumo (PMC) – o peso médio do consumo
no produto

Assim a função consumo será dada pela seguinte reta:

C= a + b*Y

Onde, b*Y percentagem do que se gasta

Outro componente da procura é o consumo público do Estado: a despesa


pública, que é um componente da despesa total. Trata-se de todas as
despesas do Estado em bens e serviços.
Os gastos públicos são uma componente autónoma (?)

Lado da oferta
A economia encontrava-se abaixo da curva de possibilidades de produção,
num uso deficiente dos recursos disponíveis: havia desemprego. Dado este
facto é possível aumentar a produção sem quaisquer custos adicionais. O
salário não sobe se aumentar a procura, porque os desempregados são
muitos e estão todos dispostos a trabalhar. Repare-se que aqui há almoços
grátis.
A função oferta pode ser representada dizendo que a produção realizada é
inferior ao máximo que seria produzivel com determinados recursos, o
produto potencial (Yp).

Y<Yp

Assim na situação de desequilíbrio a produção efetivamente realizada nesta economia


(Y) é inferior a esse máximo possível, existindo desemprego.

56
Equilíbrio Keynesiano

Através desta análise obtemos:

Graficamente temos:

Vamos supor que a propensão a consumir é menor que 1 (b<1), ou seja por
cada escudo recebido, o consumo é menor que esse escudo. Nesse caso só
há um ponto de igualdade entre a procura e a oferta. Nesta estrutura geral
de desequilíbrio, chama a esse ponto equilíbrio keynesiano.
É claro que este equilíbrio keynesiano que nasce de uma estrutura que é de
desequilíbrio e de irracionalidade, tem um significado muito diferente do
equilíbrio do modelo anterior. Neste caso apenas significa que neste ponto
a procura total (causada por esse nível de rendimentos) é igual á oferta
total, ou seja:

Y= D= a+ b*Y + G

Graficamente esse ponto obtém-se pela interceção entre a curva da procura


e uma linha com inclinação de 45º, a linha na qual as ordenadas (D) são
iguais Às abcissas. Nesse ponto encontramos o nível de procura e de
produção de equilibrio (y*). É claro que este equilíbrio não tem a ver com o
que analisamos atrás. Ele apenas significa que a procura e a oferta, definida
deste modo porque estamos numa situação de desequilíbrio, são iguais. O
ambiente é todo o desequilíbrio mas, o facto de, nesse ambiente, D=Y, gera
uma situação parecida com a de equilíbrio.

57
Determinado o ponto de equilíbrio, será que haverá algum mecanismo de
ajustamento que leve a economia a esse ponto?
Sim, se a oferta for maior que Y*, as empresas não conseguem vender e
vão acumulando stock de bens invendáveis, sendo obrigadas a reduzir a
produção. Se a produção for pouca, haverá excesso de pressão sobre os
stocks, e as empresas são levadas a produzir mais. Assim se tende para o
ponto de equilíbrio.

Algebricamente o ponto de equilíbrio é dado pela expressão:

Y*= (a+G)/(1-b)

Note-se que embora o ponto Y* seja o ponto de equilíbrio, nada obriga a


que esse ponto seja o ponto de pleno emprego (Yp), pelo que se deduz que
a economia pode manter-se durante muito tempo, numa situação de
desemprego.

Porque razão a economia está aqui?

A produção é baixa

Se a produção é baixa não vale a pena contratar mais trabalhadores

Se o rendimento dos consumidores é baixo não há procura

Se não há procura as empresas não conseguem escoar os seus stocks pelo


que diminuem a produção

Se diminuem a produção podem despedir trabalhadores

Se despedem trabalhadores os seus rendimentos diminuem pelo que a


procura diminui

Se a procura diminui a produção baixa

58
È portanto um ciclo vicioso.
Segundo Keynes a razão mais importante deste desentendimento entre
agentes reside na presença de moeda. Se os trabalhadores fossem pagos em
bens, isso criaria a própria procura de bens para a empresa. A lei de Walras
diz exatamente que os bens só são produzidos porque alguém os procura, e
a procura é igual á oferta. Mas como o salário é pago em dinheiro, e as
empresa não sabe como esse dinheiro será gasto, se vai fazer procura dos
seus bens, a empresa não arrisca, não contrata trabalhadores, e por isso não
dá dinheiro o que confirma os seus temores.
Mas será que o estado pode alterar esta situação?

Se o Estado gastar dinheiro, a produção aumenta.

Se a produção aumenta pode-se contratar mais trabalhadores,

Se as pessoas tem mais dinheiro aumentam o consumo

Se a procura aumenta, pode-se produzir mais

Logo o aumento dos gastos causa imediatamente um aumento dos


rendimentos igual a si próprio, mas desencadeia enormes quantidades de
aumentos futuros, devido ao consumo. Este é o chamado efeito
multiplicador.

Será que o rendimento continuará a aumentar para sempre?


Não. O b é a propensão marginal de consumir, ou seja, se tens mais um
euro quanto se vai gastar a consumir (logicamente que b terá de ser igual
ou menor a 1, visto que parte desse euro geralmente vai para poupança).

dY=dG+bdG+(b)^2dG+(b)^3dG+… cuja soma é dY=dG/(1-b)

Logo se:
∆ G= 1000

59
∆ Y= 1000 + b1000 + b²1000 + b³1000 ...

Como a parcela é mais pequena com a anterior, logo isso dará uma soma
finita determinada pela seguinte expressão:
1000 =‫ع‬/(1-b)

Graficamente a variação é fácil de observar. O aumento de G é


representado por uma subida paralela da curva da procura. A interceção
com a reta da inclinação de 45º dá o novo ponto de equilíbrio. É fácil de
ver que, devido á inclinação relativa das curvas, o aumento do produto
(variação em Y*) é maior que o aumento inicial da procura (aumento de
G).

Este é o modo como Keynes pretende acabar com o desemprego. A razão


do desemprego é a falta de procura. Por algum motivo (desconfiança,
depressão, instabilidade) a procura (consumo, investimento) diminuiu.
Como a procura desceu as empresas não vendem, e como não vendem
despedem trabalhadores e, como despedem trabalhadores, desce o
rendimento, e eles têm menos dinheiro e consomem menos, o que ainda
reduz mais a procura, etc.
A forma de quebrar este ciclo consiste em alguém (por exemplo o Estado)
gastar dinheiro. Se esse alguém começar a procurar, as empresas vendem.
Como vendem, contratam trabalhadores, o que sobe o rendimento e
aumenta o consumo, o que aumenta a procura e faz de novo contratar mais
trabalhadores...
Keynes propõe portanto que o Estado gaste dinheiro, mesmo em atividades
não diretamente produtivas.

No entanto convém reforçar que este multiplicador monetário só funciona


quando a economia está abaixo do pleno emprego.
Caso contrário, ocorrerá inflação visto que mais procura não pode ser
satisfeita pela oferta visto que todos os recursos estão empregues. Pelo que
se a procura sobe, e a oferta não consegue subir visto que não há recursos
para tal, levará a uma subida dos preços.
Assim conclui-se que o modelo de Keynes só se aplica em situações de
desequilíbrio. Se a economia estiver em equilíbrio deve-se aplicar o modelo
do equilíbrio geral.

60
Extensão do modelo
Vamos inserir a este modelo 3 componentes, de forma a torna-lo mais
realista:
 Impostos
 Investimentos
 Moeda

Impostos
O total de consumo não deve ser determinado pelo rendimento, mas pelo
rendimento disponível. O dinheiro pago em impostos, em princípio, é
considerado perdido pelos agentes, e não afeta as decisões de consumo.
Logo:

C= a + b*(Y-T)

Moeda
O mercado monetário é parecido com o modelo anterior:

M* V(i) = P * Y

Existe, porém, uma diferença essencial que resulta não do mercado


monetário em si, mas do modo como ele se articula com o resto da
economia.

Antes de mais os preços são considerados constantes, visto que se não se


consegue vender os produtos em stock, não se vai aumentar os preços.
Se os preços são fixos e o rendimento é determinado pelo mercado de bens
pelo que se pode considerar também constante, só resta um elemento para
ser determinante pelo mercado monetário: a taxa de juro.
Neste modelo a taxa de juro é o custo da moeda, ficando livre de
influências de consumo, podendo ser determinada pelo mercado monetário.

Agora considera-se a taxa de juro e não os preços (visto que não nos
interessa estudar os preços pois eles são sempre constantes), com as
consequentes implicações para os gráficos. A oferta de moeda continua a
ser independente e a procura é agora decrescente com a taxa de juro (visto

61
que é o custo de oportunidade de ter moeda, aumentando a velocidade de
circulação quando sobe e, assim, diminuindo a procura de moeda).

Investimento
A consideração da taxa de juro leva a tomar em conta os seus efeitos no
mercado de bens.
Visto que a taxa de juro pode ser tomada como o preço ou, mais
exatamente, o custo de oportunidade de um investimento, ao subir a taxa de
juro desce o investimento e o consumo.
Este raciocínio reside na hipótese de que a taxa de juro é o custo do
empréstimo que quem quer investir tem de fazer.
É claro que esta ideia esquece que o juro é o custo para quem investe ou
compra a crédito, mas é o ganho para quem poupa e empresta. Sendo um
preço tem de ter como determinante uma oferta e uma procura. Keynes
esquece este facto, tornando esta análise muito mais simples.

Deste modo, e tomando agora o investimento como parte da procura global


podemos escrever:

D= C + I + G

Logo, uma subida da taxa de juro diminui a procura global (visto que fica
mais caro pedir emprestado para investir,  as pessoas investem menos 
a procura diminui).
Deste modo, o equilíbrio no mercado monetário determina o nível de taxa
de juro de equilíbrio que depois vai definir o montante de investimento
dessa economia, como se pode ver no gráfico:

O nosso modelo final é portanto:

C = a + bY  propensão marginal de consumir


I = I (i)  Eficiência Marginal de Capital

62
M =P¯ L(Y,i)  Preferência por liquidez
Y< Yp  Estado de depressão

Propensão média a consumir  em média quanto as pessoas consomem


de rendimento (c/y)
Propensão marginal de consumir  variação do consumo quando varia o
rendimento (var c/var u) = b
Propensão marginal de poupar  (var s/ var y)
Propensão média a poupar  s/y

Exercício 39 e 40:
1)Considere a função consumo C= 4+0,85 Y
a)Interprete a componente autónoma da função consumo.
A componente autónoma é 4 e significa o rendimento que ele consome,
independentemente do seu rendimento.

b) De acordo com o quadro, calcule e represente a função poupança desta economia.


Rendimento Y 30 32 34 36 38 40 42
Consumo C 29,5 31,2 32,9 34,6 36,3 38 39,7
S= Y-C 0,5 0,8 1,1 1,4 1,7 2 2,3

2) Considere o quadro abaixo:

Rendimento Y 30 32 34 36 38 40 42
Consumo C 31,2 33 34,6 36,1 37,5 38,8 40

a) Calcule a propensão média e marginal a consumir e a poupar em cada ponto, no


quadro abaixo.

Propensão Média a consumir  em média quantos as pessoas consomem do seu


rendimento
Propensão marginal a consumir  variação do consumo quando varia o rendimento

Rendimento Y 30 32 34 36 38 40 42
Consumo C 31,2 33 34,6 36,1 37,5 38,8 40
PMC= C/Y 1,04 1,03 1,02 1,00 0,99 0,97 0,95
PmC= Var c/ Var Y nd 0,9 0,8 0,75 0,7 0,65 0,6
PMS= S/Y -0,04 -0,03 -0,02 0 0,01 0,03 0,05
PmS= Var S/ Var Y Nd 0,1 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4

b) Calcule a curva de procura total desta economia. E compare a procura total com o
produto disponível. Classifique cada ponto, em termos de situação face ao equilíbrio.
Calcule o ponto de equilíbrio em que a procura iguala o produto. Represente
graficamente.
Rendimento Y 30 32 34 36 38 40 42
Consumo C 31,2 33 34,6 36,1 37,5 38,8 40
G 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5
D=C+G 31,7 33,5 35,1 36,6 38 39,3 40,5

63
Y- D -1,7 -1,5 -1,1 -0.6 0 0,7 1,5
D>Y D>Y D>Y D>Y Y=D D<Y D<Y

Exercício 41:
Considere a função C=4+0,85Y e que os gastos públicos são 0,5.
a)Calcule o ponto de equilíbrio da economia.
Y=D
Y=4,5+0,85Y
Y= 4,5/(1-0,85)= 30

b) Considere que os gastos passam para 0,7. Volte a calcular o ponto de equilíbrio.
Y=D
Y=4,7+0,85Y
U=4,7/(1-0,85)= 31,3

c)Calcule sucessivamente os aumentos do consumo resultantes dos sucessivos aumentos


do rendimento. Some os sucessivos aumentos da procura, até chegar ao aumento final.
Variação de C= 0,2*0,85+0,2*(0,85)^2+0,2*(0,85)^3+…= 1,3
VarG/(1-b)=
0,2/0,15= 1,3
d)Calcule o multiplicador dos gastos públicos:

Multiplicador = VarY/Var G= 1,3/0,2= 6,6

e) Calcule o aumento do rendimento no final de 3 periodos e de 77 períodos.


Vary= bVarG+varg*(b)^2+(b)^3varG
Yn= (1-(b)^n)/(1-b)
Var y= Yn*var G

Y3= 1-(0,85)^3/1-0,85= 2,57


Var y= 0,514

Y77= 1-(0,86)^77/(1-0,85)= 6,67


Var y= 1,334

No fim de 77 períodos o feito multiplicador já está quase concretizado, pois acabará


quando var y atingir 1,3.

Choques

64
Neste modelo há apenas dois tipos de choques (políticas, neste caso):
 Políticas monetárias
Financiamento por impostos
 Políticas orçamentais Financiamento por divida
Financiamento por moeda

Os choques produtivos não ocorrem neste modelo, visto que estamos


abaixo do pleno emprego, logo alterações na produção não tem impacto no
ponto de equilíbrio. Se a descida da função de produção for tal que
influencia o ponto de equilíbrio keynesiano, deixamos de estar numa
situação de depressão. Logo este modelo deixa de ser válido, devendo-se
aplicar o modelo de equilíbrio.

Aumento dos gastos financiados por emissão de moeda


Imagine-se que o Banco Central emite moeda, logo aumenta a oferta de
moeda.
Como há mais dinheiro, as pessoas vão gastar esse dinheiro na Bolsa, para
se livrarem da moeda que não querem. Com a subida da procura dos títulos,
sobe-se o seu preço, e cai a taxa de juro. Isto vai fazer aumentar a procura
de moeda e o investimento. O impacto no investimento repercute-se na
economia através do multiplicador.

No entanto, a subida do produto, devido ao efeito multiplicador, vai


aumentar a procura de moeda, o que faz subir um pouco a taxa de juro,
descendo o investimento e compensando, em parte o efeito inicial.

Este é o chamado efeito de crowding out e traduz-se no facto de a subida


dos gastos públicos fazer descer o investimento privado.
A situação final é de aumento do produto, do consumo e do investimento e
descida da taxa de juro

65
Aumento dos Gastos Financiados por dívida
O impacto imediato da subida dos gastos é uma subida da despesa nacional
que, depois, vai aumentar ainda mais, devido ao efeito multiplicador.
Simultaneamente, como o produto sobe, sobe a procura de moeda, o que,
como a oferta é a mesma, faz subir a taxa de juro, para repor a procura
igual à oferta. Isto vai ainda ter um efeito de descida de investimento, o que
compensa parte da subida inicial do produto.

Isto é o efeito do aumento dos gastos, na verdade a emissão de dívida não


tem qualquer impacto real. De facto, antigamente como havia um montante
fixo de produto partilhado entre os privados e o Estado, se o Estado
consumia mais, o setor privado tinha de consumir menos. Agora como há
excesso de capacidade, o produto pode aumentar e, por isso, a dívida não
reduz tanto o produto disponível para consumo pelo setor privado. (?)

Aumento dos Gastos Financiados por impostos


Por um lado, a subida dos gastos faz subir a despesa, o que aumenta o
produto pelo multiplicador.
Por outro lado, desce o consumo, por aumento de impostos, o que também
tem um efeito multiplicador, mas no sentido contrário, a descer.
No efeito total, a subida dos gastos domina o descida de consumo por
aumento de impostos, logo há uma subida do produto, mas muito menor
que no caso anterior. A este teorema que diz que os gastos financiados por
impostos também são uma forma de financiar a economia chamou-se
Teorema de Haavelmo.

Como o produto sobe, sobe a procura de moeda, o que, como a oferta é a


mesma, faz subir a taxa de juro mas menos que no caso anterior. Isto vai
fazer descer o investimento e a procura da moeda, o que compensa parte da
subida inicial da procura.

66
Aumento dos Gastos Financiados por emissão de moeda
Como a oferta de moeda sobe, esta leva à descida da taxa de juro.
Se a taxa de juro desce, esta leva ao aumento dos Investimentos.
Se aumentam os investimentos, e se D=C+G+I, a despesa aumenta.
Se a despesa aumenta, Y aumenta logo de acordo com a expressão de
Fisher a procura de moeda aumenta.
Se a procura de moeda aumenta a taxa de juro volta a subir um pouco, logo
os investimentos diminuem e a despesa também.

Exercício 43:
Recorrendo ao modelo keynesiano, identifique os efeitos sobre os principais agregados
económicos (rendimento, investimento, taxa de juro e nível geral de preços) dos
seguintes acontecimentos.

a) Um excecional ano agrícola.


Um excecional ano agrícola corresponde a um choque na função de produção,
aumentando o produto potencial. Não afeta os resultados do modelo keynesiano porque
estamos abaixo do pleno emprego.

b)O Estado decide construir o Centro Cultural de Belém, financiado por impostos.

A subida dos gastos públicos reflete-se numa subida da despesa e consequentemente do


rendimento. Se Y sobe dá-se um aumento da procura da moeda. Uma vez que a oferta
de moeda é fixa, isso vai provocar uma subida da taxa de juro que levará a uma quebra
do investimento e consequentemente da procura agregada. A diminuição de I levará a
uma descida da despesa, no entanto é de menor intensidade que o efeito inicial, pelo que
Y aumenta.

c) O Banco central vende títulos do estado (em troca recebe moeda que retira de
circulação, pelo que a oferta de moeda desce.

67
A redução da oferta da moeda leva a uma subida da taxa de juro, o que se vai refletir
numa queda do investimento e consequentemente, da procura agregada e numa descida
do produto (com efeito multiplicador). A descida do produto irá fazer diminuir a procura
de moeda, descer a taxa de juro, aumentando o investimento e o produto. O efeito
dominante é no entanto o efeito inicial.

d) Investidores adiam decisões de investimento

A queda de confiança dos investidores leva a uma queda do investimento, o que


significa, via efeito multiplicador, uma quebra da procura agregada e do produto. A
redução de Y provoca uma diminuição da procura da moeda e uma descida da taxa de
juro que vai reanimar um pouco o investimento.

e)Estado fecha direções gerais e reduz alguns impostos.


Por um lado a despesa desce devido à diminuição dos gastos, mas como os impostos
descem, o consumo aumenta logo a despesa aumenta. Porém, o impacto da redução dos
gastos é maior e Y diminui, pelo que a procura da moeda diminui, desce a taxa de juro,
aumenta os investimentos e o Y aumenta um pouco.

f)Atribuição de subsídios financiados por moeda

O aumento dos subsídios (despesa pública) vai aumentar a despesa agregada e o


produto. Esse efeito é reforçado pelo aumento da oferta da moeda que leva à procura
agregada da moeda a aumentar ainda mais. No mercado monetário, o aumento da oferta
leva a uma descida da taxa de juro que se reflete positivamente no investimento. Porém
com o aumento de Y aumenta a procura de moeda o que leva a uma subida da taxa de
juro, quebra no investimento e alguma quebra na despesa agregada e Y.

68
O debate da economia global
Segundo os Keynesianos, a economia deveria ser continuamente
acompanhada por uma política de estabilização onde, através de alterações
de G e T, se controla a procura agregada. O Governo deveria portanto
através dos seus gastos ou impostos, manipular a situação económica.
Chama-se a isso política orçamental.
No entanto este modelo torna-se ineficaz em períodos de pleno emprego
pois leva ao aparecimento de uma enorme inflação, que foi notória aquando
do choque do petróleo nos anos 70.
Nessa altura, tomaram força os que defendiam a antiga teoria do equilíbrio
e que tinha sido esquecida durante décadas pela hegemonia keynesiana.

Na verdade, os países devem optar por uma estratégia mista. O Estado tem
de intervir para corrigir falhanços de mercado, devido há falta de
concorrência, externalidades, etc. No entanto o papel do Estado não é o de
substituir a economia, não pode controlar totalmente a economia pois esta
não é controlável.
A função do estado é, sim, criar estabilidade e orientar e economia, no
sentido de permitir que os agentes possam exercer a sua função livremente.

Interdependência mundial
A grande diferença entre as relações internas e internacionais são:
 Existência de leis diferentes, em cada território
 A moeda
 Comportamento do Estado na atividade económica é diferente: os
gastos públicos e os impostos, as dívidas internas e externas, o
montante emitido de moeda, são diferentes de país para país.
 Segurança que o Estado cria para as transações internas e que falta
nas internacionais
 Obstáculos culturais, geográficos, etc.

Balança de pagamentos
A balança de pagamentos  É o documento contabilístico que regista
todos os fluxos económicos que se fazem através da fronteira, ou seja, das
relações económicas da sociedade com exterior. Este registo faz-se de
acordo com o método contabilístico básico das partidas dobradas. Todas as
transações têm um registo a débito e um registo a crédito, pelo que o saldo
da balança de pagamentos é zero.

A balança de pagamentos está dividida em contas ou balanças da seguinte


forma:

69
Balança corrente + -
Balança comercial Exportações Importações
Balança de serviços (ex: turismo, transporte, seguros) Exportações Importações
Balança de rendimentos (ex: juros, rendas, dividendos Os pagamentos de salários… que Nosso pagamento
e salários) os nossos (que vivem cá!) a trabalhadores e
trabalhadores e investidores investidores
recebem no exterior. estrangeiros.
Balança de transferências unilaterais. Ex: remessas Oferta de dinheiro feitas por ele a Oferta de moeda
dos emigrantes, transferências da EU, cooperação entre nós feita por nós a ele
Estados, pensões de emigrantes regressados.

Surge depois a balança de capitais que se divide em:


Balança financeira ml prazo Exemplo: investimento, Compra de ações, empréstimos a
mais de um ano
Balança financeira curto prazo + erros e omissões Empréstimo a menos de um ano, letras

Balança básica = balança corrente + balança financeira ml prazo


registando as transações que têm a ver com os movimentos normais da
economia
Balança de operações não monetárias = balança corrente + Balança
capitais  esta balança regista o efeito liquido de todas as transações entre
a economia e o exterior. Se a BONM for positiva significa que depois de
todas as operações feitas, entrou mais dinheiro do que saiu. Se é negativa
quer dizer o inverso.

As operações monetárias ou variação de reservas são o último tipo de


transações, e vão compensar o resultado das outras transações.

Balança monetária + -
Variação de reservas dos bancos Diminuição das reservas Aumento das reservas
Variação de reservas do banco central Diminuição das reservas Aumento das reservas
(Balança de Liquidação Oficial)

70
A soma de todos estes registos dará a balança de pagamentos cujo saldo
será sempre nulo.

Exercício:
Como se regista:
a) Uma exportação:
Créditona Balança corrente
Débitona balança de reservas se o pagamento for em dinheiro
Na balança de capitais a curto prazo se for uma letra

b) Remessa de emigrantes
Crédito Balança de transferências unilaterais
DébitoReservas dos bancos

c) Um investimento de Portugal no estrangeiro


DébitoBalança de capitais de ml prazo
CréditoReservas nos bancos

No entanto há outra forma de apresentar a balança de pagamentos:


Balança Corrente
Mercadorias
+ Exportações de mercadorias
- Importações de mercadorias
Serviços Balança de bens e serviços
+ Turismo
+ Transportes
+ Outros serviços
Rendimentos(juros, rendas, dividendos, salários)
Transferências correntes (remessas dos emigrantes, transferências da UE, cooperação entre Estados, pensões de emigrantes
regressados)
+ Transferências correntes privadas
+ Transferências correntes públicas

Balança de capital
Transferências de capital e outros ativos não financeiros (são mudanças de propriedade sem
contrapartida, ex: transferências da EU para financiar infraestruturas, transferências de património resultante do regresso de emigrantes, perdão
de uma divida de um país terceiro face a Portugal)
Aquisição/ cedência de ativos não produzidos não financiados (patentes, licenças, marcas,
transferências de jogadores de futebol, aquisição de terrenos)

Balança financeira (inclui transações que implicam a mudança de titularidade entre residentes e não residentes de ativos e passivos
financeiros e outras variações nos ativos e passivos financeiros da economia sobre o exterior)
Investimentos diretos (criação de filiais)
- I.D. de Portugal no exterior
+ I.D. do exterior em Porugal
Investimentos de carteira (ex: aqisição por um residente de títulos de tesouraria americano)

71
- Ativos
+ Passivos
Balança de
operações
Derivados financeiros (ex: compra e venda de contratos de futuros ou opções)
não Outros investimentos (ex: variação de ativos e passivos de curto prazo nos bancos, incluindo créditos comerciais, e de ativos e
passivos das autoridades monetárias que não sejam classificadas como reservas)
monetárias
Ativos de Reserva (são os ativos de reserva do banco de Portugal denominados em moedas diferentes do euro, que representa as
responsabilidades face a não residentes na zona euro, ex: aquisição, pelo banco de Portugal, de títulos de divida americana.

Erros e omissões
Balança de pagamentos

Exercício 45:
Efetue os seguintes lançamentos na Balança de Pagamentos:
a) Exportação pagável a 3 meses.
Débito  b. financeira – outros investimentos – concessão crédito
Crédito  B. Mercadorias – comercial – exportações
b) Viagem feita por um português ao estrangeiro, paga a pronto
Débito  B. serviços – importações
Crédito  B. financeira – saída de reservas
c) Recebimento de uma transferência de um emigrante
Débito  B. Financeira (outros investimentos) – entrada reservas
Crédito  Transferências correntes (recebimento remessas)
d) Empréstimo externo obtido pelo Estado para financiar um novo centro cultural
Débito  B. Financeira - Outros investimentos - (entrada de reservas)
Crédito  B. Financeira – outros investimentos – obtenção de empréstimo
e) Oferta ao exterior de mercadorias
Débito  Transferências Correntes (doação)
Crédito  B. Mercadorias – comercial – exportação
f) Doação ao estrangeiro, posteriormente usada para nos comprar mercadorias
Débito Transferências correntes (doação)
Crédito B. financeira – outros investimentos - saídas reservas

Débito B. financeira - outros investimentos - entrada de reservas


Crédito Balança de mercadorias – comercial – exportações
g) Importação paga em moeda estrangeira
Débito B. Mercadorias – comercial - importações
Crédito B. financeira – outros investimentos – saída de reservas

Comércio internacional
Porque é que os países trocam entre si ? :
1. Diferenças na capacidade de produção – Certas características que
são diferentes de países para países como clima, recursos naturais,
cultura etc. assim os países que produzem certos melhor certos bens
vendem aos que não produzem ou o produzem mais caro.

72
2. Diferenças de gostos. Se dois países produzirem chá e café, mas cada
um deles gostasse de uma das bebidas, diferente da do vizinho, o
comércio seria muito intenso.
3. Rendimento de escala crescente – Se aumentar a escala de produção
cada produto fica mais barato. Este rendimento de escala crescentes
levam cada país a especializar-se num bem, comprando o resto do se
consumo aos demais.

Assim os países têm grandes vantagens em se abrirem ao comércio.


Como se representa graficamente estas trocas?

O bem será exportado pelo país que tem o preço interno mais barato e
importado pelo que tem o preço mais elevado. A exportação fará subir o
preço no país exportador e descê-lo no país importador, até se chegar a um
preço intermédio, igual nos dois países (preço internacional).
A quantidade exportada será o excesso de oferta ao preço internacional e a
quantidade importada o excesso de procura no país importador.
No caso de um pequeno país, cujo volume de produção e comércio não é
suficientemente grande para alterar a procura e oferta mundial, ele vai
importar ou exportar, consoante o preço internacional for inferior ou
superior, respetivamente, ao preço interno, mas o seu comércio com o
exterior não afeta os preços internacionais.

Quem ganha e quem perde com o comércio?

País exportador País importador


Beneficiado Os produtores pois podem Os consumidores pois tem
produzir mais e ganham acesso a produtos mais baratos
mais. e de melhor qualidade.
Prejudicado Os consumidores perdem Produtores porque deparam-se
pois o preço sobe. com mais concorrência.

As trocas permitem que haja mais ganhos que perdas pois:


País exportador País importador
Produtores São mais relevantes pois foi por produzir São menos importantes pois

73
muito do bem que ele foi exportado. foi por produzir pouco do
bem que ele foi importado.
Consumidores No entanto estes são menos importantes Pesam mais pois foi por
economicamente visto que foi por gostarem gostar do bem que ele é
pouco do produto que o preço desceu. importado

No entanto apesar de globalmente a economia sair beneficiada, nem todos


os agentes saiem beneficiados.
No caso do país exportador quem perde são os consumidores, mas cada um
deles perde pouco (pois o peso de cada pessoa no consumo desse bem é
pequeno).
Mas no caso do país importador quem perde são os produtores, que são
poucos, mas cada um deles perde muito, logo têm grande interesse em
impedir a sua perda. E como os que ganham são muitos, mas cada um
ganha pouco, têm pouca motivação e interesse em forçar o seu ganho. Pelo
que os produtores vão tentar impedir a importação junto do Governo,
surgindo o protecionismo.

Tradicionalmente argumenta-se que o comércio internacional pode ser


prejudicial para os países que não conseguem produzir nada mais barato
que outros que são mais ricos e poderosos e têm condições de produção
mais eficiente em geral.
Este argumento foi contestado por David Ricardo, que apresentou a ideia
da vantagem comparativa. Distingue assim:
Vantagem absoluta  Um país tem vantagem absoluta sobre o outro se
utilizar, na produção de um determinado produto, menor quantidade de
recursos produtivos (trabalho) por cada unidade do produto
A vantagem comparativa  diz que um país tem vantagem em entrar em
comércio com os outros, não apenas quando existe uma diferença absoluta
de custos de produção, mas quando existe uma diferença relativa. Assim
um país pode ser absolutamente mais eficiente na produção de todos os
bens, mas tem vantagem em especializar-se nos bens em que tem vantagem
relativa devido ao custo de oportunidade.
O princípio da vantagem comparativa leva à especialização internacional
da produção: cada país especializa-se nos bens em que tem vantagem
comparativa e entra no comércio com os outros países para adquirir os
restantes bens que necessita. Exporta os produtos onde tem vantagem
comparativa e importa os restantes.

Exercício 47:
No quadro abaixo estão indicados as quantidades produzidas de vinho e tecidos entre
Portugal e Inglaterra:

74
Portugal Inglaterra
Vinho 4 2
Tecido 3 1

a) Admitindo que todos os custos são redutíveis ao trabalho, quais os custos de


produção de vinho e de tecido.
Portugal Inglaterra
Vinho ¼= 0,25 ½= 0,5
Tecido 1/3= 0,3 1

b)Qual o país que tem vantagem absoluta na produção de vinho? E de tecido?


Portugal tem vantagem absoluta na produção de vinho e tecidos

c)Qual o preço relativo do vinho e do tecido em Portugal e em Inglaterra?

Portugal Inglaterra
Vinho Pv/Pt 0,75 0,55
Tecido Pt/Pv 1,33 2

Inglaterra tem vantagem relativa no vinho logo irá exportar vinho, Portugal tem
desvantagem relativo logo vai importar.
Portugal tem vantagem relativa no tecido logo irá exportar tecido, Inglaterra tem
desvantagem relativa logo irá importar.

d) Qual será o preço relativo, se os países entrarem em comércio.


0,5<Pv/Pt<0,75

Politica comercial
Muitos países continuam a criar obstáculos à entrada dos produtos
importados. Esses obstáculos são:
 Cobrança de tarifas – Impostos sobre os produtos importados que
por isso lhe sobem o preço, tornando-os menos apetecíveis ao
consumidor.
 Quotas – Que fixam quantidades máximas ás importações.

1) Tarifas

Em consequência deste imposto, o preço pago pelo consumidor sobe para o


preço com imposto e reduz-se a quantidade importada (que é igual à
diferença entre procura e oferta interna, ao preço).

75
A importação desce de (A-A’) para (B-B’). Esta descida faz-se porque os
produtores nacionais aumentaram a sua produção de (A-B), ao longo da
curva da oferta, e a procura desceu de (A’-B’), ao longo da curva da
procura, ambos os movimentos causados pela subida do preço.

2) Quotas

A quota tem o mesmo efeito sobre o mercado no entanto ainda distorce


mais a economia do que a tarifa.
Agora não é o Estado que tem a receita, mas sim os importadores que
conseguiram obter as licenças de importações.

Então quem ganha e perde com o protecionismo?


Quem ganha são os produtores e trabalhadores nacionais do produto que
era importado, e que agora já não pode ser sem sofrer custos adicionais.
Conseguem assim ter preços mais altos para a sua produção, ou vender
mais a esses preços.
Quem perde é todo o resto da sociedade, sobretudo os consumidores o bem,
que pagam as ineficiências dos produtos nacionais.

É portanto melhor, que em vez de criar ineficiência, o país opte por


importar, dedicando-se a outro setor em que tivesse vantagem comparativa.

Exercício 48:
Represente graficamente os efeitos económicos da proteção. Particularmente:
a) Promoção de ineficiência na produção nacional
b) Edução de consumo nacional
c) Receitas governamentais adicionais

76
Razões para a existência de protecionismo:
 Não económicas – é preciso colocar barreiras para protege esta
indústria devido a razões não económicas (defesa, cultura) que se
sobrepõe à eficiência.
o Certificar-se que não haja nenhum motivo económico por
detrás desse motivo não económico (exemplo: ganhos para a
indústria a proteger)
o Será que a sociedade está disposta a pagar os custos de
ineficiência que resultam dessa barreira, para ter o tal
beneficio não económico.
Se assim for, deve-se usar subsídios e não cobrar tarifas visto que se o
governo e o povo querem manter essa produção, devem paga-lo
diretamente, e não refletir o custo disfarçadamente sobre os consumidores
de bens.
 Económicos – vários motivos económicos têm sido apresentados:
o Produzir e comprar internamente é bom porque acumula
reservas e poupa moeda estrangeira. Isto está errado visto que
a acumulação de reservas não é um bem em si, não dando
diretamente utilidade.
o Temos de proteger os produtores nacionais deste setor da
concorrência externa. Surge o problema de porque é que que a
sociedade quer proteger produtores ineficientes, não tendo em
conta os custos enormes que a sociedade paga.
o Temos de evitar a concorrência do trabalho estrangeiro
barato. O que interessa é a produtividade assim se estes países
são mais produtivos, produzindo mais barato os outros países
devem procurar especializar-se noutros setores em que tenham
vantagem comparativa.
o Retaliação. Se os outros praticassem comércio livre, nós
eliminávamos as nossas barreiras, mas como os outros países
se protegem, é justo que também o façamos. Mas se os outros
fazem asneira, não é razão para nós também fazermos. Criar
barreiras traz enormes custos para a sociedade.

Apesar disto há alguns motivos económicos que podem ser considerados


válidos, como justificação do protecionismo:
 Tarifa ótima – Se um país tem uma ineficiência motivada por um
monopólio, a distorção que uma tarifa introduz pode reduzir essa
ineficiência. A tarifa ao reduzir a nossa procura de bens importados,
faz descer os preços mundiais desse bem (embora faça subir o preço
interno desse bem), pois o país é um grande cliente.

77
 Indústria nascente – Pôr barreiras para proteger e ajudar uma
indústria que acabou de se fundar e que, por isso, tem dificuldade em
concorrer com as empresas estrangeiras, mais experientes. No
entanto é importante, nestes casos, saber se precisa mesmo de ajuda,
se a sociedade está disposta a abarcar com estes custos, e se
posteriormente ela trará benefícios que compensem os custos. Se
assim for deve-se optar pelos subsídios.
 Redução do desemprego – Se o desemprego é uma distorção, a nova
distorça de barreiras pode melhorar a situação.
Os movimentos de capitais
O mercado financeiro funciona na mesma forma como no mercado de bens.
As pessoas que querem emprestar ou pedir emprestado podem aceder aos
mercados financeiros internacionais. Assim, como o comércio faria com
que os preços se igualassem para o mesmo bem, também aqui a interação
entre os agentes dos dois mercados igualam a taxa de juro entre os países.

As quantidades importadas (I) ou exportadas (E) de capitais (pedidos ou


oferecimentos de empréstimos) são determinados pelos excessos de
procura ou oferta interna e capitais, a essa taxa i*.
Se o país for pequeno, sem influência na taxa de juro mundial, ele terá
tendência para se aproximar dessa taxa de juro internacional, tendo uma
balança de capitais negativa ou positiva conforme a sua taxa de juro interna
esteja abaixo ou acima da internacional.

Problemas monetários internacionais


A moeda estrangeira é um bem como outro qualquer, cujo preço (a taxa de
cambio) é determinado pelo mercado.

78
Existe uma procura de moeda estrangeira por parte de todos os que
querem importar, enviar transferências, rendimentos e capitais lá para fora
e que só podem fazê-lo na moeda estrangeira.
Existe uma oferta de moeda estrangeira, por parte de todos os que
exportam, que recebem transferências, rendimentos e capitais lá de fora e
que querem converter a moeda estrangeira na nacional, para poderem fazer
compras cá.
O equilíbrio entre estas duas curvas determina a taxa de câmbio ou seja
quantas unidades da nossa moeda temos de dar pela moeda deles.
Exemplo:
Conversão do euro em dólar. A taxa de câmbio mede o número de euros a
dar por cada dólar.

Se Portugal tem um aumento no desejo de capitais americanos, e aumenta


as importações, a procura da moeda estrangeira aumenta. Isso quer dizer
que, com a antiga taxa de câmbio, temos um excesso de procura de moeda
estrangeira que se revela num défice da balança de operações não
monetárias (d). Se o preço da moeda estrangeira subir (que é uma
valorização do dólar face ao escudo, ou seja, uma desvalorização do escudo
face ao dólar) para o novo equilíbrio, a balança torna a equilibrar.

Assim, só há saldos na balança se a taxa de câmbio não se puder ajustar. Se


a taxa for perfeitamente flexível, como qualquer outro preço, a oferta é
igual à procura e a balança está sempre equilibrada.

No entanto os países têm criado vários regimes cambiais:


 Taxa de câmbios perfeitamente flexível – Onde o Estado deixa a
taxa completamente livre. Aqui o mercado cambial está em
equilíbrio e a balança de operações não monetárias está sempre
equilibrada, não existindo entrada ou saída de reservas do país. Esta
politica tem o inconveniente de as empresas nunca saberem a taxa de
juro em vigor.

79
 Taxa de câmbio perfeitamente fixa – O Estado fixa por lei e
mantém-na, como qualquer outro preço tabelado. Assim, o mercado
cambial está normalmente desequilibrado. O equilíbrio do mercado
dar-se-á, ás vezes acima da taxa legal fixada, outras vezes abaixo,
criando saídas ou entradas de reservas, respetivamente.

O regime de câmbios fixos pode ser dividido em três variantes:


 Câmbios fixos credíveis – fixa a taxa num lugar que é credível,
ás vezes é abaixo outras vezes é acima.
 Câmbios fixos não credíveis – A taxa de câmbio fixada por lei é
muito diferente do nível onde se costuma dar o equilíbrio.

Um dos casos mais frequentes dá-se quando alguns países as suas taxas de
câmbio a valores muito valorizados, isto é com taxas de cambio muito
baixas. Nesta situação a balança de operações não monetárias está em
défice permanente, o que implicaria uma saída permanente de reservas. De
forma a que as reservas não desapareçam, estes sistemas são acompanhados
por proibições ou limites nas transações. Daí que surja o mercado negro
onde se transaciona moeda estrangeira à taxa próxima da realidade do
equilíbrio. Entretanto os poucos que tem acesso à moeda estrangeira,
beneficiam de produtos estrangeiros a preços muito baixos.
 Câmbios fixos mas não constante (crawling peg)– Alguns
países prevendo um crescimento da procura de meda estrangeira
no futuro, e querendo controlar a taxa de câmbio o governo fixa a
taxa de câmbio, mas numa trajetória ascendente e não num valor.
A lei diz o valor de uma taxa de câmbio inicial e afirma que ela
vai crescer todos os meses uma percentagem.

 Flutuação controlada – A taxa de câmbio é livremente determinada


pelo mercado, tal como nos câmbios flutuantes. Só que o Estado,
embora respeitando sempre as leis de mercados, intervém neste

80
mercado através das reservas. Assim se houver um aumento da
procura de moeda estrangeira em vez de deixar desvalorizar o escudo
ou criar um défice que fizesse sair reservas, o que o banco português
faz é aumentar a oferta de dólares. Ao vender dólares livremente no
mercado, o Banco de Portugal coloca a oferta de dólares de tal forma
que a taxa de câmbio de equilíbrio é muito semelhante à que era
antes do choque de aumento das importações.

Os bancos centrais da União europeia criaram o sistema monetário europeu


onde se garantia uma estabilidade para as suas moedas. Assim era fixada
para cada moeda uma taxa central e os bancos centrais garantiam, que sem
violar as regras de mercado, essa moeda não se afastaria mais do que uma
certa percentagem desse nível central. Assim as moedas viviam livremente
dentro de uma banda de flutuações, sempre que a taxa de câmbio se
aproximava dos limites, o banco central comprava ou vendia a sua moeda
(vendendo ou comprando moeda estrangeira) até forçar a moeda a manter-
se dentro da banda de flutuação.

No entanto a dimensão do banco central estava limitada pela dimensão das


suas reservas. Assim a sua garantia nunca podia ser plena. Surgem assim os
especuladores.
Quando a taxa de cambio se aproximava do limite superior da banda
enquanto que:
 O Banco Central aumentava a oferta da moeda estrangeira
 O especulador, pedia dinheiro emprestado, para comprar moeda
estrangeira, apostando que a taxa de câmbio iria superar a banda fixada
pelo Banco central
Dá-se assim uma luta entre estas duas forças, que permanece até que um
desiste por não ter mais reservas.
Se os Bancos Centrais tiverem mais reservas:
 A certo momento o especulador esgota o seu crédito, deixam de pedir
mais euros emprestados e desistem. Assim, a taxa de cambio desce e o
euro desvaloriza. O especulador, que tem muitas libras, tem de comprar
euros para devolver a quem lhe emprestou e perde muito dinheiro pois
comprou as libras mais caras do que as vendeu. O Banco Central
conseguiu manter o seu compromisso e o prejuízo do especulador é
grande.

81
 Mas se o especulador conseguir convencer muita gente que o euro vai
desvalorizar, as reservas dos Bancos Centrais podem não ser suficientes
para aguentar a pressão dos especuladores, e nesse caso terá de desistir.
O equilíbrio sobe acima da banda e o escudo desvaloriza-se. Os
especuladores, nesse caso, compram os escudos mais baratos, ou seja,
vendem as libras a um valor mais alto do que as compraram. Pagam os
escudos a quem lhos emprestou e ficam com a diferença de ganho.

Teoria de David Hume (mecanismo preço- espécie):


Se dentro do país a moeda circula sem problemas, o mesmo não se passa a
nível global devido à infinidade de moedas que existem. Assim, para nos
entendermos quanto às relações internacionais é preciso montar um
conjunto de regras.
Deste modo, até à 1ºguerra as trocas efetuavam-se utilizando como moeda
o ouro. Logo pagar em ouro era pagar em moeda. O sistema era bom
porque havia um mecanismo que resolvia o problema, mecanismo este que
foi explicado por Hume.
Se um país tinha défice, pagava-o em ouro, ou seja saía moeda do país. Se
havia menos moeda os preços desciam. Com preços menores o país
tornava-se mais competitivo (exportava mais e importava menos) o que
anulava o défice resolvendo o problema.

Implicações da abertura na economia


Uma das consequências mais importantes da abertura das economias ao
exterior é a relação que se tende a estabelecer entre as respetivas taxas e
juro (i), taxa de inflação (п) e taxa de desvalorização (ê).

п= п*+ê
I= i*+ê

Estas equações dizem que, numa situação de mercado sem barreiras, a taxa
de inflação interna (п) é igual à taxa de inflação externa (п*) somada com a
desvalorização que a moeda nacional sofre. O mesmo se passa com a
inflação.

Se a taxa de câmbio for fixa (ê= 0) logo as equações ficam:


п= п*
I= i*
Neste caso o país tem de se adaptar perfeitamente à taxa de juro e de
inflação externa, ou toda a gente vai comprar e pedir emprestado lá fora.

Exercicio 49 e 50:
1) Diga se as seguintes moedas valorizaram ou desvalorizaram.

82
Quantidade de USD ou IENE por euros
USD IENE
2001 0,90 108,7
2002 0,95 118,6
2003 1,13 131,0
Variação= 0,95/0,9= 5,6%
USD/€ Var. (%) IENE/€ Var (%) As variações positivas significam
2001 0,9 108,7 apreciação da moeda nacional em
2002 0,95 5,6% 118,6 9,1% relação ás moedas estrangeiras e
1,13 18,9% 18,9% 131 10,5% vice versa.

2) Considere o mercado cambial da libra em relação ao euro. Identifique o impacto:


a)Portugal aumenta as suas exportações de cortiça para o Reino Unido.
As exportações se forem pagas em moeda estrangeira, aumentam a respetiva oferta
provocando uma desvalorização da libra/ valorização do euro, em regime de câmbios
flexíveis. Em regime de câmbios fixos este movimento traduz-se num desequilíbrio no
mercado cambial, gerando uma acumulação de divisas por Portugal. Em regime de
flutuações controladas só no caso em que ultrapassem os limites desejáveis é que há
intervenção do Governo.

b) Os portugueses procuram fazer mais férias em Londres


Trata-se de uma importação de turismo, que se for paga em moeda estrangeira aumenta
a respetiva procura, provocando uma valorização da libra/ desvalorização do euro, em
regime de câmbios flexíveis. Em regime de câmbios fixos este movimento traduz-se
num desequilíbrio do mercado cambial, gerando uma perda de divisas por Portugal. Em
regime de flutuação controlada só no caso em que se ultrapassem os limites desejáveis é
que há intervenção do Governo, nesse caso ele deve ir ao mercado vender libras.

c) Os especuladores decidem comprar libras, apostando que o euro vai continuar a


desvalorizar-se.
A ação dos especuladores tem a ver com a noção de que a intervenção dos Governos
tem os seus limites. Face a pressões no sentido de desvalorização do euro acima de um
nível fixado pelo Governo, os especuladores pedem euros emprestados e vendem-nos no
mercado por troca de liras. Este movimento valoriza a libra contra o euro. O Governo
tenta contrariar este ataque vendendo libras (das suas reservas) contra euros,
aumentando assim a oferta de libras. Entra-se num braço de ferro do qual sairá vencedor
o mais forte.

83
A situação atual do mundo
Há uma distribuição desigual do produto e da população pelos vários
países.
Esta constatação permite a diviso do mundo em 4 grandes grupos.

Grupos Países Características


Economias abastadas Europa Ocidental, América Países que já atingiram um nível de conforto e de
do Norte, Austrália, Japão desenvolvimento.
Semidesenvolvidos Hong Kong, Singapura, São pobres, mas demonstram um elevado
Coreia do Sul e Taiwan potencial dinâmico que lhe garante um
crescimento muito acelerado.
Países que atingiram América Latina, OPEP, Sociedades que não resolveram as questões de
um nível intermédio Tailândia, Países do Leste da distribuição dos frutos do desenvolvimento pelos
de desenvolvimento, Europa seus membros e, por isso, tem graves
mas que se desigualdades no seu seio
depararam com
dificuldades.
Países mais atrasados Países africanos Baixo crescimento ou mesmo estagnação, e com
graves desigualdades de distribuição.

A história do desenvolvimento
 A primeira revolução que se deu no planeta foi a revolução neolítica que permitiu
ao homem pela primeira vez controlar as energias biológicas, possibilitando assim um
crescimento da população.
 No entanto, até ao séc. XVIII o Mundo sofria fortes flutuações da evolução, quer
da produção quer da população motivados por vários choques naturais ou humanos.
Não se verificando até 1750, períodos de subida sustentada do nível do produto per
capita.
 Foi com a revolução industrial, que se iniciou na Inglaterra, e o posterior
aproveitamento e exploração das riquezas coloniais que se iniciou o processo de
afastamento entre os países industrializados por um lado, e o conjunto dos restantes
países, por outro. Assim, até aos fins do século XVII os desvios nos níveis de
desenvolvimento económico e técnico dos diversos países eram pouco relevantes e
países que hoje considerarmos como desenvolvidos encontravam-se mais atrasados
quando comparados com algumas nações do Mundo Oriental como a China e Índia.
 Com a revolução industrial, e em menos de dois séculos, o nível de crescimento
económico dos países que se industrializaram atingiram valores surpreendentes,
sobretudo se pensarmos na lenta evolução verificada até aquela data: a população
cresceu exponencialmente, o nível de vida da população cresceu, o volume de trocas e
a produção industrial aumentou. Viveu-se apartir daqui a Pax Britânica.

84
 Os vizinhos da Grã-Bretanha começaram a copiar as experiências que aí se
faziam e que tão bem sucedidas se mostravam. Daí que a revolução industrial se
estendeu á França, Prússia e outros Estados da Europa Central e do Norte que
procuraram adaptar as suas unidades produtivas ás novas tendências de produção.
 No resto do Mundo, a história foi diferente. Grande parte dos países estava debaixo
do domínio colonial até ao fim da II Guerra Mundial o que teve consequências nestes
países.
 América Latina – aqui registaram-se alguns exemplos de desenvolvimento
precoce e bem sucedido, como a Argentina. Mas a instabilidade social e a
grande disparidade na apropriação de riqueza haveriam de gerar mais tarde lutas
politicas internas que destruiriam grande parte dos resultados obtidos.
 Ásia – Grande variedade de resultados. Uns países fecharam-se a esta
revolução, outros não, uns países atingiram um enorme desenvolvimento e
outros não.
 África – devido a várias razões a África foi a que apresentou mais obstáculos ao
desenvolvimento.
 A grande guerra (1914- 1918) veio abalar esta fase de desenvolvimento,
destruindo as economias e alterando o equilíbrio de forma permanente:
 A guerra foi uma das responsáveis pela revolução russa em 1917, e pela
subida de Lenine ao poder.
 A destruição da economia dos países vencidos no conflito, as grandes
indemnizações exigidas aos vencidos, resultou na hiperinflação austríaca
e alemã dos anos 20, aproveitada pelos nazis.
 Este facto também levou ao crash na bolsa de Nova Iorque em 1929 que
originou uma enorme deflação e desemprego.
De forma a fazer face à crise, os países desenvolvidos lançaram-se e politicas
Beggar-thy-Neighbour procedendo à subida das barreiras alfandegárias que
estenderam a crise para o resto do mundo.
 A recuperação da crise foi lenta, ajudada por politicas de despesa pública, como o
New Deal nos EUA.
 Entretanto a Revolução russa começara com o comunismo de guerra, que juntava
as ideias marxistas com as necessidades de guerra civil. Após a guerra civil a Rússia
estava de rastos pelo que Lenine teve de recuar face ás ideias marxistas, criando a
NEP, que consistia num mercado quase livre dos produtos agrícolas.
 A morte de Lenine e a subida de Estaline ao poder levam:
 Ao fim da NEP
 Coletivização forçada dos camponeses
 Aparecimento do plano quinquenal, concebido na Gosplan
 Na Alemanha, a hiperinflação e situação de desordem, que se vivia na
Alemanha levaram à subida ao poder de Hitler que resolveu esta situação
através do rearmamento alemão, e levou á 2º Guerra Mundial.

85
 Saída da II guerra mundial, a cena internacional vê-se dominada pelas duas
superpotências e pela guerra-fria.
 O horror da instabilidade da década de 30 motivou os países a procurarem
fortemente a estabilidade. Daí se terem feito os acordos de Bretton Woods
(onde se reorganizou o sistema financeiro e se decidiu criar o fundo
Monetário Internacional e o banco internacional) e o Gatt.
 Apesar de o mundo estar partido em dois blocos a hegemonia da única
potência com aparelho produtivo que não foi afetado pela guerra, e o
isolamento da União Soviética determinaram que as décadas de 50 a 60
fossem de Pax Americana. A calma internacional e o empurrão do Plano
Marshall permitiram um desenvolvimento entre 1945 a 1973 a que se deu o
nome de “os trinta gloriosos anos”.
 A Europa que perdera a hegemonia caminhou para a unificação com a criação
da CEE no tratado de Roma.
 A URSS livre de Estaline em 1953, abre-se ao exterior, procurando seguir
uma politica mais parecida com os restantes países da Europa.
 Na China, triunfa uma revolução em 1949 liderada por Mão Tsé Tung que
enveredou por uma coletivização forçada, ainda mais radical que a soviética,
para tal lança vários programas de desenvolvimento:
 1958 – Grando salto em frente
 1966 – revolução cultural
que foram grandes fiascos. Só a liberalização permitiu o desenvolvimento
do país.
 As independências levaram ao aparecimento de uma nova força que não se
identificava com nenhuma das potências da época: o Terceiro Mundo. Estes
começaram-se a organizar em 1955 em Bandung, onde se cria o Movimento dos Não
alinhados, que vai tomando cada vez mais uma característica revolucionária.
 A meio da década de 60 começam-se a avistar problemas com o EUA que começa
a ter taxas de crescimento mais reduzidas, perante o crescimento de outras economias.
O Movimento dos países não alinhados também começa a contestar a hegemonia
americana.
 O fim do sistema monetário internacional de Bretton woods em 1971, deixou a
economia mundial quase sem defesas necessárias para suportar os choques. E isto
torna-se evidente com o choque do petróleo em 1973.
 Para fazer face a este choque os estados tomam medidas keynesianas, esquecendo-
se que o choque fora na esfera produtiva e não podia ser resolvido por expansão na
procura, como em 1929. Estas medidas agravaram assim a situação levando á
estagflação: onde existe ao mesmo tempo estagnação, desemprego e inflação.
O choque permitiu que os países exportadores de petróleo acumulassem grandes
excedentes, que não conseguiam gastar imediatamente, criando uma entrada de
depósitos nos grandes bancos internacionais. Assim os bancos desceram as taxas de
juro, o que aliciou muitos países a recorrerem a empréstimos, de forma a se
desenvolverem.

86
 No entanto as medidas keynesianas levaram a subida dos preços de todos os
produtos, o que originou uma nova subida do preço do petróleo: o segundo choque do
petróleo.
Para fazer face a este choque os países reduziram a procura o que levou à crise da
dívida. De facto os países de forma a se desenvolverem tinham pedido grandes
empréstimos quando a taxa de juro era baixa. No entanto a subida da taxa de juro
internacional e a diminuição da procura dos países desenvolvidos colocou estes países
em grandes dificuldades.
Em 1985 Gorbatchev inicia uma politica de abertura, glasnost e de reformas
Perestroika com poucos efeitos económicos, mas que liberta os países do Leste da
Europa em 1989 e desagrega a URSS.
 A viragem do milénio foi marcada por uma abertura económica mundial sem
precedentes onde se vive um período de globalização caracterizado por paz, diálogo e
progresso tecnológico.

A história do desenvolvimento
Crescimento – é um conceito quantitativo que se refere ao aumento do rendimento per
capita, fruto do aumento do stock de capital, melhoria das técnicas de produção,
aumento da produtividade do trabalho, inovação tecnológica.

Desenvolvimento – É um conceito qualitativo que mede o bem-estar da população


associado ao aumento do poder de compra, alfabetização, escolaridade obrigatória e
esperança média de vida e mede o alargamento do leque de escolhas disponíveis para
a sociedade.

Assim o desenvolvimento traz simultaneamente uma melhoria das condições de vida e


um aumento dos riscos.

O desenvolvimento tem 3 características:


1. As vantagens do desenvolvimento são muito profundas e tem vantagens sobre
toda a sociedade.
2. O processo de desenvolvimento é muito caro, quer em termos económicos quer
em termos sociais. As gerações que o protagonizam sofrem profundamente com
as intensas transformações que esse processo traz consigo.
3. Devido ás enormes transformações que gera, o desenvolvimento leva a conflitos
na sociedade. A evolução da sociedade beneficia claramente algumas pessoas e
grupos, em detrimento de outras que veem, pelo menos a curto prazo, a sua
situação muito deteriorada.

Assim só uma sociedade unida, em todas as suas dimensões, empenhada em


enfrentar os custos do progresso, flexível, para ultrapassar os conflitos que dele

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nascem, e conscientes das vantagens e dos riscos do desenvolvimento pode
conseguir desenvolver-se.

Quatro elementos fundamentais para o processo de desenvolvimento:


1. Acumulação de capital – Quem se quer desenvolver tem de sacrificar
consumo hoje para guardar para amanhã (poupança). Só assim poderá
acumular capital para investir no progresso tecnológico.
2. Liberdade de mercado e a abertura ás relações económicas com o exterior
são também fundamentais para o desenvolvimento. Só com liberdade e
concorrência é possível permitir que os empresários inovem.
3. Progresso tecnológico – aplicado aos métodos de produção
4. Promoção das condições de vida das populações– Só há desenvolvimento
se os agentes económicos dessa sociedade se quiserem desenvolver. Para
tal o desenvolvimento tem de dar especial atenção às condições de vida
das populações em alternativa aos grandes projetos de investimento
baseados em capital físico, que não melhorem as condições de vida.

Equilíbrio da pobreza:
“Pobre é pobre porque é pobre”

È possível encontrar certas constantes que caracterizam, em geral o


processo de desenvolvimento moderno.
Nicholas Kaldor apresentou “os seis factos estilizados”:
1. O produto real por trabalhador cresce a uma taxa aproximadamente
constante (Y/L)
2. O stock de capital por trabalhador cresce a uma taxa
aproximadamente constante (K/L9
3. O ratio capital - produto tem uma tendência horizontal (K/Y)
4. A taxa de lucro tem uma tendência horizontal, enquanto que a taxa
de salário cresce a uma taxa mais ou menos constante
5. As remunerações totais do trabalho e do capital repartem o produto
total em partes mais ou menos fixas
6. Existe uma grande variabilidade nas taxas de crescimento do produto
por trabalhador entre países.

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Teoria e doutrina económica
Teoria – procura o conhecimento rigoroso e definitivo
 Adam Smith – que descreveu o funcionamento do mercado,
através da mão invisível.
 David Ricardo – introduziu as leis dos rendimentos decrescentes e
constrói o primeiro modelo da evolução da economia.
 John Stuart Mill
 Karl Marx – baseado no modelo ricardiano Marx cria o
comunismo, que aparece como alternativa à economia de
mercado.
 Teoria marginalista que defende que o valor é dado pela utilidade
marginal e o custo pelo custo marginal.
 Fisher – Apresentava a teoria monetária completa com a equação
M*V= P*Y
 Keynes – Modelo de desequilíbrio, para uma economia em
depressão.
Doutrina – Opinião, visão particular

Doutrina Social da Igreja


A abordagem do cristão aos problemas da economia pode ser resumido
num pensamento muito simples: “A economia dirige-se para o Homem e o
Homem dirige-se para Deus”.
Assim a doutrina Social da Igreja centra-se em dois princípios essenciais:
 Solidariedade – Sendo todos os homens filhos de Deus é importante
que se sintam solidários nas suas escolhas e atitudes, devendo incluir
o próximo na sua função utilidade.
 Subsidiariedade do Estado –

Para além da solidariedade e a subsidariedade a preferência pelos mais


pobres e a caridade também descrevem a DSI.

Temas da DSI:
 Trabalho – Sendo o fator trabalho o principal ativo dos pobres a
Igreja preocupa-se com as relações entre o trabalho e o capital, os
problemas de desemprego, a dignidade do trabalho, igualdade no
trabalho no que respeita ao trabalho feminino, jovens, minorias etc.
 Salário justo – O mercado livre pode gerar um salário abaixo do
mínimo necessário a uma vida decente, e nesse caso tal salário não
pode ser aceite.

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 Função social da propriedade – apesar de defender o princípio da
propriedade privada, todas as pessoas, sendo filhas de de Deus,
devem partilhar os seus bens com os mais necessitados.
 Sistema económico – a Igreja admite a importância da economia na
sociedade, mas chama a atenção para aplicação cega e automática
dos princípios económicos, esquecendo as realidades humanas que
lhe estão ligadas (economicismo).

Há que ter em conta que é indispensável que haja uma relação direta entre a
doutrina social da igreja e a teoria económica pois ambas são
indispensáveis para a realização da política económica. Verificar se existe
compatibilidade entre uma visão particular do mundo e os resultados da
análise rigorosa e cientifica da realidade é um elemento importante do
estudo de qualquer doutrina.

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