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Tradição belicosa: relativo Dentro deste tópico cabe ressaltar, primeiramente, o que
à guerra.
representava o rei dentro da sociedade e da política portuguesa.
Devido à tradição belicosa de Portugal, cuja origem remonta à sua formação na Baixa
Idade Média, passando pelas batalhas contra os árabes e os espanhóis, o rei era o senhor das
guerras e das terras. As propriedades do rei, suas terras e seus Público: tudo o que diz
respeito ao uso de todos, ao
tesouros confundiam-se no seu aspecto público e privado, daí as povo, ao coletivo.
rendas e as despesas do Estado poderem ser aplicadas, sem Privado: tudo o que é restrito
ao particular, aquilo que não
maiores justificativas legais, tanto nos gastos da família real chega ao conhecimento de
quanto em obras públicas. todos.
foram criados sete bispados: Bahia (1551), Rio de Janeiro (1676), Maranhão (1677), Pará
(1719), Mariana (1745) e São Paulo (1745). Foram poucos bispados, com longas vacâncias
(períodos em que o cargo de bispo ficou vago) ente um bispo e outros, estes, por sua vez,
muito sujeitos ao poder real.
Para entender essa sujeição, faz-se necessário explicar Arrematação: durante o período
colonial, era possível arrematar
o Padroado, poder que concedia ao rei a criação e o vários cargos administrativos,
como o de Contratador de
provimento de bispados (isto é, a indicação dos bispos), a Dízimos, Juiz, Escrivão etc.
autorização para o estabelecimento de ordens religiosas, a Arrematar um cargo significava
comprá-lo por um determinado
delimitação de jurisdições eclesiásticas (divisões territoriais período de tempo. O
arrematante de um cargo
que delimitavam, geograficamente, até onde ia a autoridade poderia retirar lucros para si,
mas tinha que pagar uma
de determinada paróquia), a cobrança e administração dos quantia fixa à Coroa, relativa à
arrecadação de impostos e
dízimos, a remuneração do clero e a conservação das igrejas. rendas em seu cargo.
Os dízimos eram a principal fonte de recursos da Fazenda
Real e corresponderam, em 1686, à metade da arrecadação.
Sua arrematação era, por isso, bem disputada. Metade dos dízimos era paga à Coroa com
o fornecimento de mercadorias, que podiam, claro, ter seu valor superestimado. As
questões de foro religioso eram encaminhadas para a Mesa de Consciência e Ordens
(1532), encarregada de cuidar de matérias como autorização para pedir esmolas, construção
de capelas e igrejas, hospitais, ordens religiosas, universidades (que não existiram no Brasil
Colonial, onde se instalaram apenas cursos superiores isolados nos colégios jesuíticos e
seminários), resgate de cativos, etc.
Os clérigos, em grande parte, eram funcionários públicos: os vigários, cônegos,
bispos etc., todos eles com postos dentro da estrutura da Igreja Católica. Muitos se
tornavam padres apenas para ter com que viver, recebendo salários anuais chamados
côngruas e exercendo outras atividades paralelamente ao sacerdócio, como comércio e
agricultura. Os bispos eram considerados nobres vinculados à Coroa, por isso sua atuação
religiosa era freqüentemente limitada por interesses políticos.
Finalmente, não eram raros os choques entre prelados (clérigos) e colonos devido a
três motivos principais: defesa da liberdade dos índios (no caso dos jesuítas) e cobrança de
taxas e multas como penalidades eclesiásticas, consideradas extorsivas por muitas
autoridades laicas.
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Havia, ainda, em cada vila, uma Câmara, composta por um juiz (que podia ser um
juiz-de-fora, juiz ordinário, juiz de vintena), três vereadores, um procurador e outros
funcionários, como o escrivão. Aqui seria importante chamar atenção para, pelo menos, três
aspectos. Deve ser deixado claro, mais uma vez, Conselho Ultramarino: criado em 1643. Para
este órgão eram remetidas todas as cartas e
que, apesar dessa separação de funções, na prática despachos provenientes dos governos
não havia divisão de poderes, tampouco hierarquia ultramarinos, com exceção das ilhas do Norte
da África. Algumas de suas competências
bem definida. Assim, os poderes geral, provincial eram autorizar o provimento de ofícios e
mercês, além de autorizar a expedição das
e local não eram substancialmente distintos. As naus.
câmaras podiam cuidar de assuntos da capitania
como um todo e o governador, de assuntos locais. Da mesma forma, eram freqüentes os
embates de poder entre as autoridades, por exemplo, entre o governador e o ouvidor, pois
ambos possuíam uma rede de ação bem ampla e podiam recorrer a autoridades superiores
sem passarem por cargos intermediários. No que concerne à execução da justiça, podia-se
recorrer das decisões judiciais passando-se das decisões de juízes ao ouvidor, governador,
Relações, Casa de Suplicação, Conselho Ultramarino, chegando até ao Desembargo do
Paço.
A criação de vilas respondia ao intento de centralizar o poder, pois estendia a
autoridade real aos lugares mais distantes, levando o poder da Coroa às populações mais
dispersas. Inicialmente, as câmaras gozaram de grande autonomia, mas pouco a pouco
foram se transformando numa simples extensão do governo da capitania.
Quando da elevação de um povoado à categoria de vila, uma das primeiras
preocupações era a localização e instalação da Casa de Câmara e Cadeia, do pelourinho e
da igreja. O levantamento do pelourinho fazia parte da cerimônia de fundação, ele
simbolizava o núcleo legal, era instrumento e símbolo de autoridade. Durante a Guerra dos
Mascates (1710-1711), por exemplo, o governador de Pernambuco mandou erguer um
pelourinho em Recife, núcleo urbano que prosperava muito, mas ainda não era vila.
Durante o período do predomínio dos olindenses em Recife, a primeira medida que eles
tomaram foi demolir o pelourinho, ou seja, destruir o símbolo de autonomia de Recife. A
praça de algumas vilas, por tudo isso, pode ajudar a refletir sobre a lógica administrativa e
social portuguesa, perceptível através da grande proximidade espacial entre pelourinhos,
câmaras, igreja e capelas.
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Organização militar
A integração do colono à ordem metropolitana também se fez por meio das ordens
militares, uma vez que a patente das milícias correspondia a um título de nobreza, que
emanava poder e prestígio. Na colônia, as patentes valiam mais do que um diploma de
bacharel. Segundo documentos da época, as tropas regular e auxiliares não respeitavam
nem os funcionários da justiça.
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Dragões. Apesar das medidas coercitivas, foi impossível controlar os moradores das Minas
Gerais nas primeiras décadas de existência da Capitania. A violência foi característica
marcante da ordem político e social das Minas, manifestando-se na política, na extorsão
tributária, nas relações entre brancos e negros e nas relações pessoais.
A generalização dos conflitos intra-autoridades foi traço comum da administração
Oligarquia: pequeno grupo de pessoa portuguesa nas Minas, porque a indisciplina dos
que controla e domina o governo e os
negócios públicos. funcionários (ansiosos por voltar a Portugal, enriquecer
ou simplesmente adquirir prestígio social na Colônia), a
falta de sintonia nas suas atuações, o poder dos potentados locais e a distâncias dos centros
de poder fomentavam a desobediência. O Estado tinha dificuldade de estender seu poder e
levar a ordem aos recantos mais longínquos, daí a necessidade da Coroa se apoiar nos
oligarcas. A concessão de privilégios, sob a forma de propriedades ou arrendamentos de
cargos era feita como forma de cooptar os poderosos locais. A desordem reinante nas
Minas seria inerente a essa economia do dom, cuja ineficácia completa é aparente, tendo
sido a maneira encontrada pelo Império português de manter certa submissão dos distantes
vassalos. Resumindo, a necessidade de se utilizar dos potentados para levar autoridade à
Economia do Dom: concessão de favores e
periferia, o excesso de poder dos funcionários, privilégios em troca de fidelidade e apoio
aliado à falta de hierarquia clara entre eles, e a político e material.
confusão a esfera pública e privada resultavam
numa sensação de desgoverno propícia à eclosão de revoltas.
A viabilidade da manutenção temporária da resolução de conflitos entre colonos e a
Coroa portuguesa dependia, basicamente, de três condições:
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