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Análise da Eficiência do Reforço de Solo Mole, com a

Técnica CPR, para duplicações da BR-135 e Ferrovia


Transnordestina, em Campo de Perizes-MA.
Eduardo de Oliveira Macedo 1
Engegraut Engenharia e Geotecnia, Rio de Janeiro, Brasil, eduardo@engegraut.com.br

Joaquim Rodrigues 2
Engegraut Engenharia e Geotecnia, Rio de Janeiro, Brasil, joaquim@engegrautcom.br

RESUMO: Este trabalho exibe resultados e análises de monitoramento com placas de recalque,
extensômetros magnéticos ou aranhas magnéticas, piezômetros e ensaios pressiométricos realizados
após tratamento geotécnico de solo mole com a técnica CPR (Consolidação Profunda Radial). O
tratamento ocorreu para viabilizar tecnicamente a duplicação da rodovia BR-135 além de uma
ferrovia existentes, em Campo de Perizes-MA. A região apresenta, no perfil geológico, espessa
camada de solo mole, de alta compressibilidade. Sobre a camada tratada foi construído aterro, com
dimensões descritas no item 3. A seção instrumentada, na altura da estaca 1994+0,00, foi
monitorada por período mínimo igual a 2 meses. O objetivo deste estudo foi verificar a eficiência
do tratamento geotécnico, analisando a magnitude do recalque, tempo de adensamento e a rigidez
do solo de fundação antes e após o tratamento.

PALAVRAS-CHAVE: Solo mole, tratamento geotécnico, monitoramento.

1 INTRODUÇÃO compressibilidade do solo de fundação, de


modo a minimizar ou eliminar o recalque
Ao logo da BR-135, no interior do perante às cargas de projeto, atendendo ao
Maranhão, entre a capital e o município de custo e ao cronograma físico da obra.
Bacabeira-MA, há na formação geológica A técnica adotada pelo DNIT foi o CPR.
espessos depósitos de solos moles, muito O trabalho foi desenvolvido entre as estacas
compressíveis. Estudos básicos foram 1968+0,00 e 1996+0,00, em trecho com
necessários para caracterizar o solo de 500m de extensão e 30m de largura,
infraestrutura, de modo a adotar solução adjacente a ferrovia Carajás. Durante o
geotécnica para viabilizar obras de procedimento executivo foi necessário
duplicação de ferrovia ou rodovia, com 18 constante monitoramento geotécnico.
km de extensão. Este trabalho apresenta resultados do
Segundo a NBR 6484, (ABNT, 2001) a monitoramento com placas de recalque,
terminologia mole é para solos com SPT com extensômetros magnéticos (aranhas
menor do que 5 golpes/30 cm. Para magnéticas), piezômetros e ensaios
Sandroni (2010) existem ainda os solos pressiométricos para avaliar o desempenho
"extremamente moles" com SPT menor ou da técnica citada.
igual a 1 e/ou resistência não-drenada
menor do que 12 kPa.
Em alguns casos, como no projeto citado, 2 TRATAMENTO GEOTÉCNICO
seria impossível alterar o traçado do projeto
geométrico, como tentativa de “evitar” o Tratamentos geotécnicos melhoram a
depósito de solo mole. Desta forma, foi adotada resistência não-drenada (Su), reduzem a
solução de tratamento geotécnico para reduzir a magnitude do recalque e aumentam a
estabilidade global, melhorando a
rigidez/resistência de solos compressíveis. A
maioria das técnicas de tratamento consiste
em inserir materiais ou agregados,
distribuídos em malha triangular ou quadrada,
em forma de colunas verticais.
Solos moles tratados, geralmente, são
interpretados como compósitos híbridos
semirrígidos, menos deformáveis quando
comparados à condição original.

2.1 A Técnica Consolidação Profunda


Radial (CPR)

O CPR, basicamente, é a expansão de


cavidades em meio drenante artificial.
Consiste, após a utilização de geodrenos,
em inserir tubos no solo para formar bulbos Figura 1. Esquema de célula unitária CPR, mencionada
de compressão, via expansão de cavidades, no item 2 (Almeida e Marques, 2010).
de baixo para cima, a cada metro de
profundidade e com pressão e volume As figuras 2 a 4 mostram a sequência
controlados, além do completo controle do esquemática do CPR e os detalhes dos bulbos
excesso de poropressão gerado. de geogrout formados após o tratamento CPR.
A etapa inicial consiste em fazer pré-
furos, para cravar geodrenos ou drenos
fibroquímicos para, em seguida, introduzir
geogrout (massa solo-cimento) formando
bulbos de compressão no solo, de baixo
para cima, a cada metro de profundidade,
com pressão e volume controlados. No
processo executivo, os bulbos de geogrout –
de elevada rigidez – geram excesso de
poropressão que é dissipado por geodrenos,
provocando adensando do solo argiloso. O Figura 2. Etapa I: execução de pré-furos.
resultado é um solo híbrido de baixa
compressibilidade, formado por bulbos de
geogrout e argila adensada.
Adota-se o conceito de célula unitária,
usual em projetos de solos moles (Almeida
e Marques, 2010), onde o solo tratado é
composto por duas partes: bulbos de
geogrout e bulbos de solo adensado,
mostrado na figura 1. Cada uma destas
partes representa um percentual da célula Figura 3. Etapa II: cravação de geodrenos.
unitária que, juntas, formam o compósito
semi-rígido, onde a rigidez é caracterizada
pelo módulo de elasticidade equivalente.
Figura 6. Seção ilustrativa de projeto da região tratada.
Aterro com 1,90m de altura. O NA está próximo à
Figura 4. Etapa III: Inserção de geogrout no interior da superfície do terreno.
camada mole.
Características do solo mole, antes do
tratamento:
 =Peso específico argila = 14 kn/m3
e0 = índice de vazios = 2,6
LL = Limite de Liquidez = 90%
LP = Limite de Plasticidade = 25%
σ'vm = Tensão de pré adensamento = 20 KPa
Cr = Índice de Recompressão = 0,2
Cc = Índice de Compressão = 1,4
Cv = Coef. de Adensamento Vertical = 1 E-4
Figura 5. Destaque em foto: geogrout proveniente dos cm²/s
bulbos de geogrout formados após tratamento CPR.

O terreno, antes do tratamento,


Como critério de execução, ao
apresentava três camadas distintas:
confeccionar-se o bulbo, via expansão de
. Profundidade 4 a -0 m: de solo muito mole;
cavidades, são monitorados a deformação
. Profundidade -0 a -11 m: argila mole;
provocada (volume) e a tensão gerada no
. Profundidade maior que -11m: solo
solo. O controle geotécnico do excesso e
resistente.
dissipação da poropressão, assim como o
Estudos, de maio/2013, realizados por
desenvolvimento do módulo de cisalhamento
consultores da construtora, baseados em
dá números ao desempenho do tratamento.
resultados CPT-U, relatam que o recalque
médio estimado, sem tratamento, seria de
1,16m. As figuras 7 e 8 apresentam os
3 O ESTUDO DE CASO
resultados dos ensaios de campo realizados.
Este estudo exibe resultados do monitoramento
geotécnico do tratamento CPR, na duplicação da
BR-135 / ferrovia anexa existente, em Campos
de Perizes-MA. O projeto executivo tem 18 km
de extensão e 30 m de largura, onde apenas o
trecho crítico com 0,5 km foi tratado com CPR.
No local havia solo mole compressível com
cerca de 10m à 13m de espessura.
PZ e 02 (dois) ensaios pressiométricos (PMT)
antes e após tratamento. A tabela 1 apresenta
os parâmetros do solo após o tratamento CPR.

Tabela 1. Parâmetros do solo após tratamento.


Parâmetro Valor
hs 11,0m
L 3,0 m
AT 16,0 m²
g 1,20 m
Es 4.000 kPa
Eg 180.000 kPa
Yg 18 kN/m³
Ys 14 kN/m³
ac = Ag / AT 0,13
yeq = yg x ac + ys x (1-ac) 14,5 kN/m3
yacr = yeq - ys 0,50 (aprox.)
Figura 7. Resultados de ensaios CPT-U pré-tratamento, hs, – espessura de solo mole tratado
de maio/2013, realizados por consultores. L – distância entre bulbos geogrout
AT – área unitária tratada
Ag – área do bulbo geogrout
g – diâmetro do geogrout
Es – módulo pressiométrico do solo tratado
Eg - módulo pressiométrico do bulbo geogrout
ys – peso específico da argila tratada
yg – peso específico do geogrout
yeq – peso específico do solo compósito (tratado)
yacr – acréscimo de peso específico devido ao geogrout
NOTA: Conforme conceito de célula unitária (Almeida
e Marques, 2010) os módulos pressiométricos podem
ser utilizados para determinar o módulo do solo
compósito (híbrido geogrout-argila).

4 RESULTADOS
Figura 8. Resultados de ensaios Vane Test: Su e Sur,
pré-tratamento.
4.1 Placas de recalque (PR)
Su = resistência não drenada
Sur = resistência não drenada residual O aterro construído após o tratamento atingiu
de 1,95m de altura. A tabela 2 apresenta o
O CPR foi executado em meio drenante resumos dos resultados. Na figura 9, pode-se
artificial previamente instalado com malha observar os resultados das placas de recalques
triangular de 1,5m x 1,5m, seguido de bulbos em forma de gráfico (recalque x tempo).
de geogrout distribuídos em malha triangular,
com espaçamento igual a 3m x 3m, que Tabela 2. Resultado de placa de recalque (PR).
atingiram cerca de 10m de profundidade, Item CPR
rmax. 77 mm
tratando toda a camada mole. Sobre o CPR vat 1,5 mm/dia
foi lançado 1,95 m de aterro, sendo o ef 93,3%
monitoramento feito com placas de recalque t 30 dias
(PR), aranha magnética vertical (AM), rmax = recalque máximo monitorado
piezômetro (PZ) e pressiômetro (PMT). A vat = velocidade de recalque durante aterro
t = tempo para estabilização: velocidade de recalque zero.
seção monitorada foi na altura da 1994+0,00, ef = eficiência do tratamento para redução de recalque.
onde foram instaladas 5 (cinco) PRs, 01 ef = (recalque monitorado)/(recalque teórico sem
(uma) vertical com 07 (sete) AMs, 01 (um) tratamento).
Figura 9. Resultados de PRs após tratamento CPR. Figura 11. Resultados de AMs após CPR.

4.2 Aranha Magnética Vertical (AM) 4.3 Piezômetro (PZ)

A instrumentação AM, pouco usual no Brasil, O piezômetro, do tipo corda vibrante, foi
consiste em dispositivo eletromagnético que é instalado antes da construção do aterro, à 5m
introduzido em pré-furo revestido, para mensurar abaixo da interface do solo tratado-aterro. Os
recalque em subcamadas de solo. Esse resultados, apresentados na figura 12, mostram
dispositivo, que possui garras semelhantes a uma que os excessos de poropressão gerados durante
aranha, desce dentro de um tubo de a formação dos bulbos de compressão do solo
revestimento. foram completamente dissipados.
Ao ultrapassar limite do tubo, a aranha
fica ancorada (presa) no solo. As leituras são
feitas por um torpedo que desce por um tubo
guia e, ao encontrar cada AM, dispara sinal
sonoro. O esquema de instalação de AM é
apresentado na figura 10.

Figura 12. Resultados de piezômetro.

4.3 Pressiômetro (PMT)

Este ensaio é um teste de carregamento


executado em campo, dentro de um furo de
sondagem. Uma sonda cilíndrica inflável é
Figura 10. Esquema de instalação de AM. posicionada nas profundidades de ensaio,
dentro do pré-furo executado. O
Os resultados de Ams (figura 11) mostram equipamento pressiométrico utilizado foi o
que a maior magnitude de recalque, pós- TEXAN, que possui unidade de controle
tratamento, ocorreu nas camadas superiores, hidráulico durante o carregamento,
cerca de 2,5 m sob à interface do solo tratado- monitorando a resposta do solo ensaiado.
aterro. Nesta profundidade, o recalque Os dados coletados definem a relação
monitorado foi 35 mm. tensão-deformação (ou volume / pressão) do
solo com a profundidade. Com os dados
extraídos do ensaio pressiométrico, determinou-
se a pressão limite e o módulo pressiométrico.
Estes ensaios foram feitos antes e depois do Os resultados obtidos antes e após tratamento
tratamento com CPR para avaliar o ganho de são mostrados na tabela 4 e figura 13.
rigidez no solo tratado. A pressão limite
(equação 1) no solo, obtida no ensaio, é: Tabela 2. Resultados de ensaios PMT:
Prof.
PL PL* E
PL = PL  σ 0, H Ensaio Ensaio
(1) (kPa) (kPa) (kPa)
(m)
Condição Pré-CPR
Onde, 4,0 90 46,0 433,0
PL* - pressão limite líquida PMT-01
7,0 188 114,0 918,0
PL – pressão limite Condição Pós-CPR
H,0 – tensão horizontal do solo, no repouso PMT- 4,0 258 214,0 2.525,0
01b 7,0 654 580,0 5.916,0
O módulo cisalhante (G) é determinado no PMT- 4,0 383 339,0 2.879
02b 7,0 878 804,0 5.013,0
trecho de recarga, obtido no gráfico Pressão x
Condição Geograut
Volume, pela equação 2: 1,0 1921 1.921,0 160.300,0
PMT-gr
1,0 830 830,0 202.750,0
V Logo,
G  PL* 
V (2) Es,pós = 4.083,0 kPa – valor médio.
Eg = 181.525,0 kPa – valor médio
Onde,
V – volume da cavidade
V – acréscimo de volume

O módulo de deformação longitudinal (E) é


obtido como na equação 3.

E  G  21   (3)

Onde,
 - coeficiente de Poisson Figura 13. Resultados de ensaio PMT.

A tabela 3 apresenta classificação dos O módulo pressiométrico do solo tratado


solos, quanto à consistência, conforme ou solo compósito (Eeq), foi determinado
módulo pressiométrico e pressão limite. conforme equação 4.

Tabela 1. Ensaio pressiométrico PMT, Briaud (1992). Eeq = 85% Es + 15% Eg (4)
Pressão
Módulo Eeq = 25.373,0  argila dura (Briaud, 1992).
limite
Tipo de solo pressiométrico
líquida
E (kPa)
PL* (kPa)
Argila mole 0 – 200 0 – 2500 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Argila média 200 – 400 2500 – 5000
Argila rija 400 – 800 5000 – 12000
Com base nos resultados obtidos, conclui-se:
Argila muito rija 800 – 12000 – 25000
1600
Argila dura >1600 >25000 i) A estimativa de recalque teórico
Areia fofa 0 – 500 0 – 3500 sem tratamento seria 1,16 m, baseado em
Areia medianamente 500 – ensaios CPT-U. Com o tratamento CPR
3500 – 12000
compacta 1500
verificou-se que a eficiência da redução de
Areia compacta 1500 – 12000 – 22500
2500 recalques foi 93%, com tempo de
Areia muito compacta >2500 > 22500 estabilização de 30 dias. A magnitude
média de recalque atingida foi 7,5 cm.
ii) Os recalques em subcamadas,
monitorados com AMs, mostram que os
maiores adensamentos ocorreram próximo à
interface aterro-solo tratado. Os resultados
para a profundidade até 5m foram 3,5 cm.
iii) Foi verificado que o excesso de
poropressão gerado durante a formação dos
bulbos de compressão foi completamente
dissipado pelos geodrenos, mostrado no item
4.2.
iv) Comparando-se os módulos
pressiométricos antes e após o tratamento,
pela método da célula unitária, o solo de
fundação que possuía consistência mole,
adquiriu, após tratado, consistência
equivalente a de uma argila rija.
Os resultados mostram que o desempenho
CPR foi prognosticado, com diminuto
recalque e rápido adensamento.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos colegas de trabalho que


contribuíram para realização desse estudo.

REFERÊNCIAS

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. (2001) NBR 6484: Solo - Sondagem
de simples reconhecimento com SPT - Método de
ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2001.
Almeida, M. S. S. e Marques, M. E. S. (2010). Aterros
Sobre Solos Moles – Projeto de Desempenho. Ed.
Oficina de Textos.
Briaud, J. L. (1992). The Pressurometer. Published by:
Taylor and Francis/Balkema. p.50.
EBGEO (2010). Recommendation for design and
analysis of Earth structures using geosynthetic
reinforcements.
Sandroni, S. S. (2010). Sobre a prática da engenharia
geotécnica com dois solos difíceis: os extremamente
moles e os expansivos. Proc. XV Congresso
Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica, Gramado. pp. 97-187.

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