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Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica, v. 36, n.

1, 1306 (2014)
www.sbfisica.org.br

Tensão, calibre e frequência das cordas de instrumentos


(Tension, frequency and caliber of string instruments)

Francisco Catelli1 , Gabriel Abreu Mussato2


1
Universidade de Caxias do Sul, Mestrado em Educação e Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Matemática,
Caxias do Sul, RS, Brasil
2
Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil
Recebido em 13/5/2013; Aceito em 11/6/2013; Publicado em 6/2/2014

As afinações abertas em instrumentos musicais envolvem alterações nas frequências de algumas cordas, com
uma consequente modificação em suas tensões. De quanto se deve alterar o diâmetro de uma corda de um ins-
trumento musical, de modo que, ao ser afinada acima ou abaixo da frequência prevista originalmente, sua tensão
permaneça o mais próxima possı́vel da tensão original da afinação padrão? A resposta a esta questão apresenta
interesse para os professores de fı́sica, dado que envolve os principais conceitos de mecânica ondulatória. São
apresentados os princı́pios básicos da fı́sica ondulatória aplicada às cordas, e por meio deles e dos dados forne-
cidos pelos fabricantes, conclusões a respeito do diâmetro que as cordas deveriam ter são então estabelecidas.
Também é proposta a construção de dois dispositivos para a medida da tensão de cordas, naqueles casos em que
tais dados não são fornecidos pelos fabricantes; um dos dispositivos é mais elaborado, enquanto que o outro é
bastante simplificado. Tanto os dados fornecidos pelos fabricantes quanto os retirados dos dispositivos propostos
podem propiciar um enriquecimento das aulas de fı́sica ondulatória.
Palavras-chave: mecânica ondulatória, afinação de instrumentos, afinação aberta, tensão em cordas.

The open tunings of musical instruments involve changes in the frequencies of some strings, with a consequent
change in tension. How much should be altered the diameter of a musical instrument string so that, as tuned
above or below the pitch originally planned, the tension is kept as close as possible to the original of standard
tuning? The answer to this question presents interest to physics teachers, since it involves various concepts of
wave mechanics. The basic principles of wave physics applied to the strings are presented. Using these principles
and the data given by the manufacturers, conclusions are established about the expected diameter of the strings.
It is also proposed the construction of two string tension measuring devices for the occasions in which these
data are not supplied by the manufacturers. One of the devices is more elaborate, while the other one is greatly
simplified. Both data from the manufacturer and the proposed devices can provide an enrichment of lessons on
wave physics.
Keywords: wave mechanics, instruments tuning, open tunings, string tension.

1. Introdução esta é afinada numa nota (frequência) diferente daquela


prevista originalmente pelo fabricante. Isso ocorre, por
O problema discutido neste trabalho refere-se à va- exemplo, quando um instrumento de cordas – violão,
riação da tensão na corda de um instrumento quando viola, guitarra – é ajustado em afinação aberta;2 algu-
1 E-mail: fcatelli@ucs.br.

2 Afinação aberta é um tipo de afinação alternativa à convencional, cujo padrão de notas das cordas soltas é mo-
dificado para produzir diferentes sonoridades e modos de execução. Esse procedimento é conhecido como scordatura
e vem sido utilizado com regularidade na música desde o Século XVI, atribuı́do a alaudistas franceses dessa época
(http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/10557/000598714.pdf?sequence=1). Compositores posteriores como Bi-
ber, Vivaldi e J.S. Bach usaram essa técnica em diversos instrumentos e padrões de afinação. Dentre os diferentes tipos de scordatura,
a afinação aberta é um dos mais usados. Nela, as frequências das cordas soltas correspondem a notas cujo intervalo forma um tipo
especı́fico de acorde, geralmente uma trı́ade maior, menor e em casos menos usuais acordes de outros tipos. As afinações abertas para
guitarra e violão mais conhecidas são a E (mi) aberto, G (sol) aberto e D (ré) aberto, em que as notas formam os acordes mi maior,
sol maior, e ré maior, respectivamente. As afinações abertas do tipo maior são bastante usadas, também, para técnicas de slide, pois
permitem a execução de todas as notas da escala maior de uma determinada tonalidade usando apenas três posições do braço do
instrumento. Diversos músicos renomados são conhecidos por usar afinações abertas, entre eles Keith Richards dos Rolling Stones e
David Gilmour do Pink Floyd. Há outros tipos de afinação alternativa, cada um com uma finalidade especı́fica. Uma delas, a afinação
dropped, consiste em baixar a frequência da corda mais grave, por exemplo, passando do E (mi) para o D (ré), afinação tı́pica em
gêneros musicais mais “pesados” (http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_guitar_tunings{#}Dropped). Outras afinações utilizam
padrões ainda mais diferenciados para produzir sons que remetem a outros instrumentos, como a sitar, por exemplo. Muitas culturas
afinam seus instrumentos de cordas de modo particular e variado. O caso da viola caipira, instrumento tı́pico da música folclórica
brasileira, possui diversos padrões, muitas vezes, com nomes próprios regionais como “cebolão”, “rio acima” e “cana verde” (ver
http://www.casadosvioleiros.com/A{%}20Viola/afinacoesdaviola.htm.). A possibilidade de afinações alternativas é muito ampla e
propı́cia às mais diversas formas de experimentação.

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mas cordas, que correspondem (na afinação aberta) a dentes às notas D (agudo), G (grave) e D (grave) ficarão
notas mais graves, ficam menos tensionadas, caso seja menos tensionadas (mais “frouxas”), o que pode, como
usado um encordoamento fabricado originalmente para argumentado acima, comprometer em certa medida a
ser usado na afinação convencional. Sabe-se que cordas sonoridade e a “tocabilidade” do instrumento. É para
de maior calibre (diâmetro) soam com frequências natu- estas situações que este trabalho pretende unir respos-
rais de vibração mais baixas (são mais graves); cordas tas da fı́sica5 para questões que envolvem diretamente
mais tensionadas (“esticadas”) soam com frequências outra área, a música.
naturais mais altas. Uma solução prática para este problema é a de subs-
Como regra, as tensões das seis cordas de um violão tituir estas três cordas por outras, de maior calibre.
ou guitarra não são muito diferentes umas das outras;3 O mercado de cordas de guitarra disponibiliza encor-
se fossem, teriam, numa certa medida, sonoridades di- doamentos de diversos calibres (diâmetros); tomando
ferentes, e o instrumento como um todo soaria “dese- como exemplo a nota E (mi) aguda, esses diâmetros vão
quilibrado”. Além disso, tensões muito diferentes tor- em geral de 0,008” (encordoamentos “leves”) até 0,012”
nariam a execução, digamos, menos confortável para o (encordoamentos “pesados”), de 0,001” em 0,001” ou,
músico, já que algumas cordas ofereceriam menor re- o que é menos comum, em saltos de 0,0005”.
sistência ao serem pressionadas contra os trastes, e ou- Retornando ao problema, pode-se agora enunciá-
tras, mais. Então, no caso de uma afinação aberta, essa lo da seguinte maneira: com qual calibre (maior) de-
tensão menor alteraria a sonoridade de algumas cordas vem ser substituı́das as cordas afinadas mais baixas, de
em relação a outras, e assim influiria na “tocabilidade” modo a manter a tensão de todas as cordas do instru-
do instrumento. mento o mais próximo possı́vel das tensões originais, a
Aperfeiçoando um pouco mais a pergunta: quais partir dos calibres disponı́veis?
deveriam ser as caracterı́sticas destas cordas, em ter- Para encaminhar a resposta, será necessário prever a
mos de calibre, de modo a tornar as tensões em to- variação da tensão de uma corda quando esta é afinada
das as cordas o mais possı́vel parecidas com aquelas do – por exemplo – um tom abaixo, bem como a relação
encordoamento original, projetado para uma afinação entre o diâmetro das cordas e a tensão dessas. Será
convencional? Um primeiro nı́vel de resposta é trivial: explorada primeiramente a relação entre a frequência
bastaria, por exemplo, substituir as cordas que são afi- de uma corda e a tensão à qual ela é submetida. A
nadas em tons mais baixos por outras, de maior calibre, primeira corda, a nota E (mi), mais aguda, de um ins-
visto que essas exigem uma maior tensão para soar com trumento como um violão (com cordas de aço), ou uma
a mesma frequência de uma corda equivalente, mas de guitarra, será tomada como referência.
menor calibre. Mas, qual deveria ser este calibre?
A afinação convencional das cordas de um violão ou 2. Frequência e tensão
guitarra, das notas mais agudas às mais graves é a se-
guinte: E (mi), B (si), G (sol), D (ré), A (lá) e E (mi); Sabe-se que a velocidade v de um pulso transversal (ou
a estas notas correspondem frequências de vibração es- de uma onda transversal) numa corda é dada ideal-
pecı́ficas. Um exemplo de afinação menos convencio- mente pela expressão
nal, mas mesmo assim bastante comum é o da afinação

aberta em G maior. Neste caso, as notas das cordas sol- T
tas do instrumento são D, B, G, D, G, D, também do v= , (1)
µ
agudo para o grave. As notas D (agudo), G e D (grave)
correspondem, respectivamente, às notas E, A, E da onde µ é a densidade linear de massa da corda definida
afinação original rebaixadas de um tom.4 Tocando (em como
afinação aberta) todas estas cordas soltas, ouve-se um
acorde de sol maior. Se as cordas utilizadas forem as de m
um encordoamento convencional, as cordas correspon- µ= , (2)
L
3 Um conhecido fabricante de cordas fornece os seguintes valores da carga à qual uma corda é submetida, em kg, para um encordoa-

mento de guitarra, do agudo para o grave: 7,35 (E); 6,98 (B); 7,35 (G); 8,34 (D); 8,84 (A); 7,94 (E). No caso de encordoamento para
violões acústicos, a diferença de carga entre a 1a corda, a mais aguda, e a 6a , mais grave pode chegar próximo a 50% de diferença:
7,35 kg para E (agudo) e 10,52 kg para E (grave). Este fato não invalida o problema avaliado aqui: a compensação da diminuição da
tensão devida à afinação mais baixa de uma corda através da substituição por outra, de maior calibre. Quanto à unidade de medida
dessa carga: é um hábito dos fabricantes exprimirem-na em kg; conforme será indicado a seguir no texto, a tensão, dada em N, é obtida
multiplicando os valores da carga, em kg, pela aceleração da gravidade, em m/s2 .
4 Sem aprofundar o assunto, para baixar a frequência da nota E (329,6 Hz) para a da nota D (292 Hz), (ou seja, um tom) basta
1
dividir por duas vezes a primeira pelo fator 2 12 ≈ 1, 059463 [1]. O procedimento para rebaixar outras notas de um tom (numa escala
temperada) é o mesmo. Cada operação de dividir uma dada frequência por esse fator baixa-a de um semitom.
5 Alguns fabricantes de cordas fornecem “calculadoras” que permitem dimensionar a tensão das cordas em função da frequência com

a qual elas são afinadas e seus calibres (por exemplo, “string tension 101, em http://www.daddario.com/DAstringtensionguide.Page?
AxPageID=2371{&}Mode=0{&}ActiveID=2871. Este trabalho pretende esclarecer, do ponto de vista de conceitos de fı́sica ondulatória,
como esses cálculos são efetuados.
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onde L é o comprimento da corda, e m, a massa [2] didade) ao primeiro harmônico; neste caso, o compri-
Num instrumento de cordas as ondas que geram mento de onda λ é igual ao dobro do comprimento L da
corda, conforme indicado no primeiro quadro da Fig. 1.
sons musicais são estacionárias; é possı́vel então relaci-
onar o comprimento da corda aos harmônicos que nela A velocidade desta pode ser definida [4] como segue
podem ser estabelecidos (Fig. 1).
Será feita referência daqui para frente (por como- v = λf = 2Lf. (3)

Figura 1 - Ondas estacionárias numa corda. O primeiro quadro refere-se ao harmônico fundamental, ou primeiro harmônico, o segundo
quadro ao segundo harmônico, e assim sucessivamente, até o quarto harmônico As frequências, de cima para baixo, em Hz, são: 15,2;
30,4; 45,8 e 61 (imagem produzida pelos autores).
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Então, substituindo a Eq. (3) na Eq. (1), e con- O resultado prático de tudo o que foi exposto acima
siderando que L e µ não variam, pode-se escrever que pode ser resumido assim: se a frequência de uma corda
f 2 ∝ T , ou, comparando duas frequências f1 e f2 com for reduzida de um tom, de mi para ré no exemplo an-
as respectivas tensões T1 e T2 , resulta que terior, a tensão reduzirá por um fator 0,797; se agora
esta corda for substituı́da por outra de maior calibre (de
( )2 0,010” por 0,011”), mantendo-a afinada nessa mesma
f2 T2 nota ré, a tensão aumentará por um fator 1,21. Con-
= . (4)
f1 T1 siderando simultaneamente os dois efeitos (reduzir a
Como exemplo, a frequência da corda E (mi) aguda frequência e aumentar o calibre) chega-se a uma va-
será considerada no tom fundamental aproximada- riação na tensão que pode ser expressa pelo fator 0,797
mente 330 Hz, e a da corda ré aproximadamente 294 Hz. x 1,21 = 0,96. (Se esse resultado fosse igual a 1 não ha-
A expressão (4) prevê que o rebaixamento na frequência veria diferença em relação à tensão original). Ou seja,
de uma mesma corda de 330 Hz para 294 Hz (um tom) consegue-se dessa forma uma tensão muito próxima da-
equivale a uma redução da tensão por um fator 0,797 quela projetada inicialmente pelo fabricante para uma
(T2 = 0,797 T1 ). afinação convencional.

3. Tensão e calibre das cordas 4. Como determinar as tensões das cor-


das, na ausência de dados dos fabri-
Agora, o segundo efeito será analisado: a variação da
tensão com o diâmetro da corda. A pergunta é então a cantes?
seguinte: qual é o efeito de aumentar o diâmetro de uma
corda em sua tensão, com tudo o mais (comprimento e Muitos fabricantes (a maioria deles) não fornecem os
frequência) mantido constante? A tensão aumentará, é dados da tensão de afinação padrão de suas cordas.
certo, mas quer-se saber de quanto. Para os leitores que possuam o gosto e “pendores” para
O diâmetro D da corda aparece explicitamente a a experimentação, é sugerida a seguir a confecção de um
partir da massa m da corda na Eq. (2), com ρ = m dos “instrumentos”, apresentados nas Figs. 2-a e 2-b.
V ,
onde V é o volume da corda e ρ a massa especı́fica do Não são, é claro, instrumentos destinados à execução
material (em geral, aço). Fazendo o volume da corda musical, são isto sim dispositivos de medida (direta) da
V = (πD2 L)/4, chega-se a tensão de uma corda quando afinada na frequência para
a qual ela foi construı́da, respeitado o comprimento es-
ρπD2 L pecificado pelo fabricante.
m= (5a) O material necessário para a construção do dispo-
4
e por meio da Eq. (2), sitivo da Fig. 2-a, o mais simples, é o que segue: uma
peça de madeira de dimensões aproximadas de 100 cm
ρπD2 de comprimento por 4 cm de largura e 2,5 cm de es-
µ= . (5b) pessura, uma balança de mola (adquirida no comércio
4
Por fim, substituindo a Eq. (5-b) na Eq. (1) e rear- informal ou ferragens), uma corda de violão ou gui-
ranjando, obtém-se tarra, prego (3,2 mm de diâmetro), parafuso, furadeira
e brocas. Adicionalmente, será necessária uma tira de
T = ρπD2 L2 f 2 , (5c) metal de aproximadamente 1 cm x 6 cm, de espessura
aproximada de 0,2 mm, alicate, parafuso com porca e
no caso que interessa aqui (L e f constantes), esta brocas diversas. Essa tira de metal constituirá a peça
equação indica que T será proporcional a D2 na qual a corda é presa, e pode ser vista na ampliação
( )2 da balança, também na Fig. 2-a. A “chave” para afi-
T1 D1 nar a corda é feita com o prego dobrado num ângulo
= . (6)
T2 D2 de 90◦ ; este é afixado numa das extremidades da peça
Verificar-se-á agora o efeito deste aumento de tensão de madeira, previamente perfurada com a broca de 2,5
no caso anterior, ou seja, o efeito na tensão de substi- mm. Se este orifı́cio prévio não for feito, é provável que
tuir (por exemplo) uma corda de diâmetro 0,010” por a madeira rache ao pregar o prego em sua posição (ver
outra de 0,011”, mantido tudo o mais constante (estes a Fig. 2-a e a ampliação para mais detalhes).
são dois diâmetros bastante comuns no mercado de cor- Basta agora retirar o gancho da balança de mola, e
das para instrumentos musicais). Nestas condições, a adaptar um dispositivo para prender a parte da corda
Eq. (6) indica que a tensão aumentará por um fator que possui uma “bolinha” de fixação, através da tira de
1,21: T2 = 1, 21T1 metal, como mostrado na ampliação da Fig. 2-a.
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Figura 2 - a) Versão simplificada de um dispositivo destinado à medida da tensão de uma corda de violão ou guitarra. A “chave” de
afinação é um prego dobrado a 90◦ , a frequência da corda é controlada por um aplicativo de smartphone (Nesse trabalho, foi usado
o aplicativo para a plataforma Android denominado gStrings ⃝. R Esse aplicativo é de uso livre, sem custos.) e a tensão é medida por
meio de uma balança de mola. Ver o texto para mais detalhes. b) Uma versão mais sofisticada do mesmo dispositivo. A frequência é
controlada por um afinador conectado ao captador magnético do instrumento; a tensão também é medida numa balança de mola. Os
dois dispositivos, para os objetivos desse trabalho, funcionam de maneira equivalente.

Um parafuso é colocado na outra extremidade da (o prego dobrado) é girada por meio de uma alicate,
peça de madeira, de modo a acoplar nele o anel da ba- e a afinação controlada por meio de um aplicativo de
lança de mola. Por fim, a corda6 é instalada, e pequenas smartphone, ou através de um afinador de instrumen-
peças de madeira são colocadas de modo a funcionar tos. Como acontece quando uma corda é instalada num
como cavaletes da corda; esses cavaletes devem estar instrumento qualquer, deve-se tomar bastante cuidado:
separados de uma distância de 64,8 cm (o comprimento se a corda rompe durante a afinação, suas extremida-
padrão de uma escala7 ). Agora, a “chave de afinação” des por um efeito de chicote, podem ferir o operador
6 Um “truque” que pode facilitar a instalação da corda na “chave” consiste em enrolar algumas voltas no prego, e em seguida fixá-la

aı́ de maneira provisória através de fita adesiva. A seguir, o prego dobrado é girado, de modo que a corda se enrole sobre ela mesma, o
que garantirá sua boa fixação. A afinação prossegue da mesma forma pela qual um violão ou guitarra são afinados.
7 Para o leitor familiarizado com o mundo dos instrumentos de corda, este é o comprimento da escala de guitarras Fender⃝, R por
exemplo. Já as guitarras fabricadas pela empresa Gibson⃝ R possuem um comprimento de escala menor, igual a 629 mm. Escalas maiores
são encontradas nas guitarras barı́tono; um modelo da PRS⃝ R possui comprimento de escala de 704 mm. Foram escolhidos exemplos de
fabricantes bastante conhecidos.
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ou alguma pessoa próxima. Usar cordas novas torna o ajustado de modo a manter (aproximadamente, visto
procedimento mais seguro. que nem todos os diâmetros de corda estão disponı́veis
A Fig. 2-b mostra uma versão mais sofisticada do no mercado) a tensão original da corda, em afinação
mesmo dispositivo, munida de um captador magnético. padrão. É claro que os fabricantes (alguns deles) pro-
O captador permite amplificar o som da corda, e (ou) duzem encordoamentos especı́ficos para determinadas
conectar o dispositivo a um afinador por meio de um afinações. Cabe destacar ainda que tudo o que foi abor-
cabo. Entretanto, para as finalidades desse trabalho, dado neste trabalho valeria para qualquer outro instru-
as duas versões funcionam de maneira perfeitamente mento de cordas, indo de cavaquinhos até contrabaixos,
equivalente. A carga à qual a corda é submetida, com qualquer comprimento de escala.
em kg, pode ser lida diretamente na balança de mola Adicionalmente, foi sugerida a construção de um
(multiplicando-a por g, 9,8 m/s2 , obteremos a tensão dispositivo para aferir de modo aproximado a tensão
em N). Os estudantes ficam invariavelmente surpreen- de afinação daquelas cordas cujos parâmetros não são
didos ao saber que os instrumentos musicais são feitos fornecidos pelos fabricantes. Numa primeira aborda-
de modo a suportar cargas equivalentes a algo da ordem gem, voltada aos ambientes de ensino e aprendizagem
de 50 kg (lembre que são seis cordas), ou, em unidades da fı́sica, apenas os dados encontrados na página oficial
de tensão, 500 N. de fabricantes de cordas são suficientes. Para aqueles
Os valores que podem ser obtidos com esses disposi- casos em que o interesse dos estudantes cresce além do
tivos são bastante consistentes com aqueles fornecidos previsto, cabe um pequeno projeto no qual dispositi-
pelos fabricantes: da ordem de 70 N para as cordas em- vos como os sugeridos neste trabalho são fabricados,
pregadas nos dispositivos das fotos da Fig. 2: cordas mi medidas são feitas, e assim por diante. Então, esse tra-
(agudo), de metal maciço e diâmetro igual a 0,254 mm balho é útil, primeiro para compreender do ponto de
(0,010”), com escala de comprimento padrão. Outras vista fı́sico o que ocorre, e depois é útil para a busca de
cordas podem ter suas tensões de operação medidas, combinações frequência – diâmetro que atendam a de-
tais como cordas de nylon de violão clássico, ou cordas mandas especı́ficas. No que diz respeito aos professores
para frequências mais baixas, encapadas; os dispositi- de fı́sica, a utilidade desse trabalho revela-se especial-
vos descritos acima funcionarão perfeitamente também mente no fato de os principais conceitos de mecânica
nesses casos. Como regra, se os diâmetros e materiais ondulatória se fazerem presentes, através de uma área
de cordas de diferentes fabricantes forem idênticos, as que costuma atrair bastante a atenção dos alunos: a
tensões de afinação também o serão. música Seja como for, é importante aproveitar a oportu-
nidade ı́mpar de ver diferentes campos do conhecimento
em ação: fı́sica, música, matemática, entre outros
5. Conclusões
Retomando: se uma corda for afinada abaixo (ou Referências
acima) da nota para a qual ela tinha sido projetada,
[1] Mário Goto, Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica 31,
a variação na tensão pode ser encontrada a partir da
2307 (2009)
expressão (4), e das frequências correspondentes, que
podem ser obtidas como indicado na nota 5. Por ou- [2] J.G. Roederer, Introdução à Fı́sica e Psicofı́sica da
tro lado, se uma corda for substituı́da por outra de Música (EDUSP, São Paulo, 2002).
calibre (diâmetro) diferente, o efeito desta substituição [3] Paulo Mors, Cad. Cat. Ens. Fı́s. 11, 123 (1994)
na tensão da corda pode ser obtido da expressão (6). [4] D. Halliday, R. Resnick e J. Walker Fundamentos de
O resultado dos dois efeitos conjugados (diminuir a Fı́sica – Gravitação, Ondas e Termodinâmica (LTC,
frequência e aumentar o diâmetro da corda) pode ser Rio de Janeiro, 2012), v. 2, 8a ed.

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