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PROFESSORES

A Justiça e os Professores
Arnaldo Santos
19/1/2019, 0:22  412  13 

Justiça é dar a cada um aquilo que é seu e cada professor deu o seu
trabalho no tempo de congelamento na expetativa de ter a respetiva
retribuição relativa à progressão na carreira: o que é seu é seu.

Quando, em 2005, o Governo deu início ao processo de congelamento das


carreiras (progressões e aumentos) dos professores, a mensagem que fez
passar nessa altura foi clara: o país, neste momento de crise, não consegue
pagar as carreiras dos professores. No entanto, outras leituras poderiam ser
feitas pelo comum dos mortais de Boa Fé: não tem dinheiro agora, não há
problema, paga quando tiver, ou; parece que o país está em crise devido à má
gestão dos sucessivos governos, neste sentido os professores são solidários com
os outros portugueses e, por uma questão de justiça, contribuirão com o seu
esforço e das respetivas famílias, para um bem maior – o equilíbrio financeiro
do país.
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Nestas breves linhas há dois conceitos fundamentais qua importa considerar e


desenvolver: Boa Fé e Justiça. O que são? Como se ensinam às crianças na
escola? Bem, sem recorrer a complexas elaborações jurídicas que justificam a
construção de teses de doutoramento, podemos dizer que Boa Fé é a
intenção com que fazemos as coisas, é o que está no início da ação
ou da omissão.

E justiça? A justiça tem um conceito objetivo, como nos ensina o Professor


Eduardo Vera Cruz Pinto, justiça é dar a cada um aquilo que é seu, e o
que é que é seu e o que é que é de cada um, é o que cada um merece,
e merece na medida em que dá, e deve dar de acordo com as suas
capacidades.

Ora, se respeitarmos esta fórmula, se a aplicarmos juntamente com a boa


intenção de fazer as coisas, veremos que os professores estão de Boa Fé ao
quererem ver aplicado, às suas vidas e das suas famílias, o mais elementar
conceito de justiça. Se é dar a cada um aquilo que é seu, cada professor deu o
seu trabalho durante o tempo de congelamento, na expetativa de ter a
respetiva retribuição relativa à progressão na carreira; o que é que é seu e o
que é que é de cada um? É aquilo que cada um merece, por Direito, na
progressão da carreira durante o tempo de congelamento, porque os
professores deram, não deixaram de trabalhar, os filhos de todos nós não
deixaram de ter aulas, as escolas não fecharam, o país educativo não parou; e
deve dar de acordo com as suas capacidades, cada professor deu mais do que
as capacidades que tem, porque ganhar o mesmo durante 9 anos com a vida
cada vez mais cara é, como facilmente se compreende, ter menos capacidades.

Vir alguém a terreiro apresentar desculpas, porque não podemos considerar


argumentos, como faz o senhor primeiro-ministro, dizendo que não há 600
milhões de euros para pagar o tempo de congelamento das carreiras aos
professores é, como diz o povo, apresentar desculpas de mau pagador, que está
de Má Fé. Se o senhor primeiro-ministro não sabe onde é que se pode ir buscar
o dinheiro, o que coloca em causa a sua gestão, o melhor é cada português
tomar atenção ao seu voto nas próximas eleições.

Estes problemas da Boa Fé e da Justiça passariam despercebidos, e não seriam


particularmente graves, se no Governo (que faz os Decretos-Leis) e na
Presidência da República (que os promulga) não tivéssemos dois ilustres
licenciados (pelo menos) em Direito. Estranho é que, em Portugal, temos cada
vez mais licenciados em Direito, e temos um país cada vez mais injusto. Por
aqui se percebe que Direito e Justiça podem ser torcidos até ao limite,
passando ao avesso do Direito, ao que não está certo, ao que não é correto, ao
que não é justo. Diz-se, de acordo com o Art.º 2.º da Constituição, mas não se
pratica, que vivemos num Estado de Direito… É uma boa conceção, é bonita,
mas infelizmente não é verdade. Nós vivemos num Estado de Lei, para o
melhor e para o pior, que é o que está inscrito no púlpito da Assembleia da
República – LEX.

Os homens fazem as leis à sua medida, em função dos seus interesses, da sua
boa ou má fé, da sua justiça ou injustiça. Não podem é querer que leis e Direito
se confundam porque não são a mesma coisa. Já se sabe: há muito Direito
para além das leis, e muitas leis fora do Direito.

Professor e Jurista
Agora que entramos em 2019...

...é bom ter presente o importante que este ano pode ser. E quando vivemos
tempos novos e confusos sentimos mais a importância de uma informação que
marca a diferença – uma diferença que o Observador tem vindo a fazer há quase
cinco anos. Maio de 2014 foi ainda ontem, mas já parece imenso tempo, como
todos os dias nos fazem sentir todos os que já são parte da nossa imensa
comunidade de leitores. Não fazemos jornalismo para sermos apenas mais um
órgão de informação. Não valeria a pena. Fazemos para informar com sentido
crítico, relatar mas também explicar, ser útil mas também ser incómodo, ser os
primeiros a noticiar mas sobretudo ser os mais exigentes a escrutinar todos os
poderes, sem excepção e sem medo. Este jornalismo só é sustentável se
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