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Ementa

Histórico das construções metálicas; parâmetros técnicos de projeto, utilização de


perfis estruturais e os vários tipos de aço; modulação construtiva em edifícios de aço;
interferência dos sistemas de estabilização; sistemas construtivos industrializados;
interação entre estrutura e vedação e os vários tipos de acabamento.

Objetivos

• Promover conhecimentos sobre a arquitetura para desenvolvimento de projetos


de edifícios em aço;

• Produzir conhecimentos aplicados ao desenvolvimento arquitetônico e sua


melhor coordenação com as modulações estruturais e construtivas no contexto
de projeto e construção de edifícios com sistemas construtivos em aço, de acordo
com as normas brasileiras vigentes.


APRESENTAÇÃO

Prezados alunos,

Sejam bem-vindos ao módulo Arquitetura e Construção Industrializada em Aço.

Nosso objetivo é informar-lhes, de modo prático, a maneira adequada de se enfocar


o processo arquitetônico dentro do sistema industrializado de construções com estruturas
metálicas. A visão do todo e as dimensões de qualidade arquitetônica e construtiva definirão
nosso trabalho. A compreensão da integração entre projeto-fábrica-obra permitirá atingir
os resultados esperados.

As discussões por meio dos “chats” farão nosso trabalho mais proveitoso. Contamos com
a participação de todos e esperamos, desse modo, estar de alguma maneira contribuindo
para ampliar seus conhecimentos.

Ascanio Merrighi

Professor do Curso de Pós-Graduação


em Construções Metálicas


1
INTRODUÇÃO

O enfoque deste curso será o caminho para o desenvolvimento do projeto de arquitetura


e sua implementação, considerando-se dois pontos de impacto surgidos com a Revolução
Industrial.

Primeiro – O conceito da qualidade do processo de fábrica sobre o


processo artesanal: precisão, rapidez de execução e racionalização, controle
de perdas, entre outras características, fazem parte do diálogo concepção-
projeto.

Segundo - A idéia da logística da ação projétil, ordenando as intenções


arquitetônicas. Seis são as ações logísticas necessárias ao bom desempenho
técnico da construção: projeto, detalhamento, fabricação, pré-montagem,
transporte e montagem.

Esses são dois pontos de impacto que tratam da qualidade construtiva do objeto
arquitetônico. Os conceitos técnicos relativos à fábrica e à produção terão de ser assimilados
pelos arquitetos e pelos engenheiros, somando-se a condicionantes técnicos próprios, sendo
sempre o principal deles a qualidade arquitetônica do objeto construído.

Como síntese desse raciocínio, podemos concluir a existência, a partir da Revolução


Industrial, da dicotomia – qualidade construtiva/qualidade arquitetônica, que demanda
esforço dos arquitetos em harmonizá-las mediante o desenvolvimento dos projetos e a
integração dos profissionais (arquitetos e engenheiros) envolvidos em sua implementação.
Atingir essa harmonia implica compreender, detalhadamente, cada um dos conceitos
acima.

Quando falamos de qualidade de fábrica, podemos assumir que precisão, rapidez,


racionalização e controle de perdas advêm do melhor aproveitamento de equipamentos, do
uso dos insumos e da mão-de-obra empregada. Assumimos também que todas essas ações
deverão trazer relação de custo-benefício na viabilização de uma obra, considerando-se
seus principais precedentes e particularidades, isto é, intenção do cliente, interpretação do
arquiteto e as bases financeiras estimadas.

Já a logística da ação do projeto exige conhecimento de cada uma das seis etapas
descritas no segundo tópico. O pensar arquitetônico, por ser abrangente, absorve com
facilidade os condicionantes de cada etapa. A abordagem do tema das estruturas de aço,
sob o ponto de vista da concepção arquitetônica que a origina, visa ser mais qualitativa que
quantitativa, buscando esclarecer os elos entre o conceito do projeto e sua materialização
na obra.


2
HISTÓRICO DAS ESTRUTURAS
METÁLICAS NO BRASIL E NO MUNDO

2.1 Os princípios da industrialização e o aço

A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, e seu desenrolar nos seguintes


trouxe não apenas novos conceitos como produção em série e linha de montagem, mas
também novos tipos de material e tecnologia. Um grande número de invenções era
introduzido, simultaneamente, no cotidiano das pessoas, trazendo consigo novas tipologias
arquitetônicas para atender as suas demandas de espaço físico e compor os sistemas de
transporte e parques industriais que surgiam como temas das cidades.

O ferro fundido foi largamente usado como material estrutural a partir da industrialização
dos processos e da invenção dos maquinários. Um registro de patente de Sir Henry Bessemer
(1813-1898) em 1855, portanto dentro do cenário das invenções industriais, transformou-
o num material com qualidades estruturais ainda mais interessantes, provavelmente já
inseridas nas disciplinas que abordam as características mecânicas do aço. A operação seria
insuflar oxigênio na solução incandescente de ferro fundido retirado dessa grande parte
do carbono presente em sua constituição, trazendo mais “flexibilidade” ou “ductibilidade”
à sua consistência. O aço é basicamente o material resultante desse processo que pode
ser sofisticado e conduzido às mais diversas direções pela metalurgia. Tal direcionamento
origina os diferentes tipos de aço conhecidos.

As características estruturais do aço de ter maior resistência que o ferro fundido


a esforços de tração, torção ou flexão sem romper-se bruscamente são as principais
responsáveis pela mudança estética das obras que passam a utilizá-lo em relação àquelas
que se valiam do ferro fundido como material estrutural. Os elementos formais comuns às
estruturas em ferro são praticamente os mesmos das construções não-metálicas que as
precedem como arcos plenos e elementos verticais sujeitos principalmente à compressão,
como na ponte em Coalbrookdale, a pioneira das construções metálicas.

Ponte Coalbrookdale
Projeto: T. M. Pritchard
Localização: Coalbrookdale,
Inglaterra
Construção: 1775/79


Já nas construções em aço, mantém-se a leveza visual conquistada com o ferro fundido,
e começam a surgir cabos, tubos e vigas respondendo satisfatoriamente às solicitações
mencionadas, o que, anteriormente, era exclusivo da madeira, um material com limitações
literalmente naturais. Os elementos confeccionados em aço traziam a seu favor a grande
resistência mecânica do material, aliada à versatilidade do processo de fabricação. Sua
agilidade de sistema construtivo foi testada em situações de guerra, como nas pontes e
torres de Willian Jenney, e futuramente aplicada em edifícios como o Leiter I e outros,
que veremos a seguir em seus respectivos contextos.

Edifício Leiter I
Projeto: Willian Le Baron Jenney
Localização: Chicago, EUA
Construção: 1879

2.2 A construção metálica no mundo

O que mais nos interessa abordar é que a utilização do


aço na construção civil possibilitou o surgimento de vários
tipos delas, que hoje fazem parte do nosso cotidiano. Talvez o
maior exemplo sejam os edifícios de múltiplos andares em sua
solução estrutural trivial de pilares (colunas) e vigas. Um dos
pioneiros a desenvolver essa concepção foi o norte-americano
George A. Fuller (1851-1900), que construiu em Chicago, em
1889, o Edifício Tacoma, um dos primeiros em todo mundo,
onde as paredes externas não eram de alvenaria autoportante,
sendo sua estrutura independente, constituída por elementos
de aço dispostos em retícula tridimensional ortogonal.

Os precedentes do desenvolvimento tecnológico dessa


solução estão inseridos no contexto da Revolução Industrial, e
sua introdução no cenário das cidades ocorreu principalmente
em duas situações: no momento de afirmação econômica
das cidades norte-americanas e no de modernização das Edifício Tacoma
cidades européias em suas grandes exposições tecnológico- Projeto: Holabird and Roche
industriais. Localização: Chicago, EUA
Construção: 1889
Em Chicago, um incêndio de grandes proporções destrói Demolição: 1929
praticamente toda a cidade no ano de 1871, apressando a
aplicação das tecnologias em desenvolvimento para construção de edifícios altos que
pudessem abrigar vários imóveis simultaneamente. Não apenas o aço e o esquema

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estrutural possibilitariam esse feito, mas outras invenções, principalmente o elevador,
tornariam possível sua aplicabilidade e ocupação. A cidade foi reconstruída no ritmo da
necessidade imposta pela catástrofe, e a tipologia arquitetônica originária desse contexto
conquistaria, definitivamente, o cenário das cidades norte-americanas, sendo ainda mais
utilizada em Nova Iorque, tornando-se posteriormente, o ponto comum das paisagens
urbanas de todo o mundo.

Chicago prosseguiu como o principal cenário onde


arquitetos e calculistas desenvolviam seus projetos, não
exclusivamente naquela cidade, cujo movimento inicial
consagrou-se na história da arquitetura como a Escola
de Chicago. Lá sediava-se o escritório do arquiteto Loius
Sullivan, autor, entre outros, do Edifício Carson Pirie Scott
& Company. Sullivan foi nesse período inicial o mais notório
de uma série de profissionais da cidade ou nela trabalhando
que depuraram a expressão estética e as soluções tecnológicas
das torres de andares múltiplos. Chicago continuou e mantém-
se como a principal referência ao desenvolvimento tecnológico
dessa tipologia em seus dois principais aspectos: expressão
arquitetônica e sistema estrutural.

Na Europa, a principal forma de manifestação das


tecnologias emergentes nos séculos XVIII e XIX eram as
exposições universais promovidas por suas principais cidades.
Edifício Carson Pirie Scott & Co.
Um importante marco na história da arquitetura surgido nesse
Projeto: Louis H. Sullivan
contexto é também referência, quando falamos em construção Localização: Chicago, EUA
metálica. Na Exposição Universal de Londres, em 1851, Joseph Construção: 1898-99
Paxton concebe um edifício de grandes proporções (cobria
uma superfície de 70.000m²) com tecnologia então usualmente aplicada a estufas e jardins
de inverno. A construção ficou famosa pela transparência conseguida com a combinação
da leveza de sua estrutura metálica e o fechamento em vidro de todo o conjunto nomeado
o Palácio de Cristal.

Palácio de Cristal
Projeto: Joseph Paxton
Localizações: Londres, Inglaterra /
Sydenham, Inglaterra
Construção: 1851
Remontagem: 1852
Destruição (incêndio): 1936

O destino imediato da construção após a exposição realizada no High Park talvez fosse
parte integrante do pacote de demonstrações tecnológicas que representava. O edifício de
aço e vidro foi desmontado e completamente remontado noutro local (Sydenham),
demonstrando a versatilidade introduzida por aquele sistema na construção civil. Para
além do impacto causado principalmente por sua dimensão e tecnologia construtiva, o

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Palácio de Cristal não introduzia algo de novo no aspecto formal de sua arquitetura. O
conjunto tinha a escala horizontal como predominante, e seus principais elementos formais
eram abóbadas de arcos plenos com numerosos montantes verticais estruturando suas
fachadas sem muito exigir (ao menos, proporcionalmente) das vigas horizontais. Algo
evidenciado na exposição de Londres foi que a tecnologia estava mais avançada que a
apropriação estética de seus recursos, o que seria contornado nas décadas seguintes até
a consolidação da arquitetura moderna especialmente na escola que melhor representou a
interface projeto-indústria-obra, a Bauhaus (1919-1933) na Alemanha. Contudo, vários
elementos (treliças, contraventamentos) comuns às obras de aço hoje foram aplicados
com sucesso no Palácio de Cristal.

Se os americanos tinham suas novas cidades em momento


de afirmação econômica e fizeram dos arranha-céus um
símbolo dessa consolidação, a questão na Europa era outra.
Suas principais cidades já eram consolidadas com escala e
legibilidade urbana incompatíveis com edifícios exageradamente
verticalizados, e o desafio principal seria permeá-las com a
infra-estrutura necessária para promover a modernização e
a agilidade que garantiriam seu desenvolvimento econômico.
Os novos parâmetros da industrialização fizeram Georges-
Eugène Haussmann, prefeito de Paris de 1853 a 1869,
conceber um audacioso plano de reformulação da cidade com
abertura de grandes bulevares e avenidas largas e instalação
de novos equipamentos urbanos ao longo desses percursos. O
mundo foi oficialmente convidado a ver de perto o resultado
na Exposição Universal de Paris em 1889. Duas obras do
conjunto construído para abrigá-la seriam consagradas com
marcos históricos da construção metálica: a Torre Eiffel e a
Torre Eiffel
Galeria das Máquinas.
Projeto: Gustave-Alexandre
Eiffeil
Localização: Paris, França
Construção: 1889

Galeria das Máquinas


Projeto: C.L.F. Dutert e V. Contamin
Localização: Paris, França
Construção: 1889
Demolição: 909

Na exposição parisiense, o incômodo constatado em Londres da discrepância entre


a técnica e a sua apropriação formal começou a dar sinais de superação pelos arquitetos
e pelos engenheiros envolvidos na concepção de suas obras. Todo parque de exposições,
como de costume nesses eventos, deveria ser desmanchado após sua realização, o que
aconteceu realmente com a Galeria das Máquinas vinte anos depois e seria reconsiderado
no caso da Torre Eiffel, que permanece até hoje como o maior símbolo da cidade.

Há registros do espanto causado pela torre na época em que foi erguida; o espanto
estético foi acompanhado de protestos contra seu “mau gosto”, sendo talvez a maior prova

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da inovação formal bem sucedida, confirmada ao longo dos tempos por sua permanência.
O impacto maior continuava, contudo, por conta da técnica: o detalhamento do projeto
e sua fabricação aliados à experiência precisa da montagem da torre, são provavelmente
seus maiores legados. Além dos elementos treliçados e contraventados, da transparência
e leveza da combinação metal-vidro, as duas principais obras de Paris tinham a conquista
da verticalidade resolvida em seus problemas de estabilização, apoios rotulados de colunas
e arcos ogivais que venciam grandes vãos (as proporções também eram gigantescas na
Galeria das Máquinas).

O desenvolvimento da tecnologia do aço aplicada às construções prosseguiu em ambos


os cenários. Tanto os norte-americanos como os europeus valem-se das estruturas metálicas
como principal opção estrutural de suas construções por motivos que serão mais elucidados
nos tópicos seguintes. Nessas duas regiões, outras alternativas estruturais foram usadas
em maior escala apenas em ocasiões históricas, em que o aço deveria ser estrategicamente
resguardado para outras finalidades, diga-se destrutivas, principalmente nos períodos
precedentes às guerras. Noutros países desenvolvidos, com parques siderúrgicos capazes
de atender a demanda da construção, as estruturas metálicas também prevalecem sobre
as demais, chegando à quase totalidade das construções em áreas sujeitas a terremotos
pela maior segurança que oferecem.

Para concluir, ainda devemos destacar o trabalho de alguns arquitetos no contexto


histórico das construções metálicas, lembrando ser sua realização prática resultado
evolutivo da interação entre as concepções arquitetônicas e tecnológicas com a depuração
do cálculo na fase de projeto e sua correta fabricação e montagem. Os conceitos das torres
habitacionais ou comerciais de aço e vidro, seus modelos de estabilização e sua postura
estética inovadora, entre outras soluções, são resultado da interação entre arquitetos,
como Ludwig Mies van der Rohe, em seus projetos mais conhecidos, como o Edifício
Seagram, e calculistas, como Fazlur Kahn, que desenvolveu o conceito de torre tubular
contraventada aplicado em edifícios como o John Hancock Center.

Edifício Seagram
Projeto: L. Mies van der Rohe
Localização: Nova Iorque, EUA
Construção: 1957

John Hancock Center


Projeto: Bruce Graham - SOM
Localização: Chicago,EUA
Construção: 1969

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2.3 A construção metálica no Brasil

A Revolução Industrial chegou ao Brasil e a outros países então colônias quando essa
acontecia na Europa, muitos anos depois de seus efeitos e impactos serem absorvidos no
cotidiano das nações mais avançadas no seu processo. Tentativas de se instalar processos
fabris e desenvolvimento industrial foram reprimidas nas colônias e, posteriormente, em
países recém-independentes da América Latina. O acesso a tecnologias exclusivas dos
países em desenvolvimento industrial só era possível por meio de importação, e isso só
ocorreu no Brasil após a mudança da família real portuguesa em 1808 para o Rio de Janeiro
e posterior abertura dos portos nacionais.

As primeiras construções metálicas no Brasil eram compradas prontas e trazidas até


nossos portos onde eram descarregadas, transportadas e montadas nos locais de destino.
Foram poucos, mas notáveis, esses casos, como o da Estação Ferroviária de Bananal no
interior de São Paulo, edificação não apenas com estrutura metálica independente (colunas
e vigas) mas também com toda sua vedação de paredes em painéis metálicos e telhas
de cobertura do mesmo material. Outros casos podem ser mencionados, como o Teatro
José de Alencar e a Residência Brennand, em Fortaleza e no Recife, respectivamente.
O que mais interessa, no entanto, é identificar no contexto brasileiro como ocorreu e
vem ocorrendo a inserção da cultura dos processos industrializados de construção e as
estruturas metálicas como matriz desses.

Estação Ferroviária de Bananal


Projeto: Desenvolvido na Bélgica
Localização: Bananal, SP
Construção: 1889

Teatro José de Alencar


Projeto: Desenvolvido na Escócia
Localização: Fortaleza, CE
Construção: 1810

Tardiamente, a primeira consolidação expressiva do que viria a ser o parque siderúrgico


nacional só ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, sendo a primeira siderúrgica de
grande porte, inaugurada em 1946. Nas décadas seguintes, vimos a ampliação constante

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desse quadro até a consolidação do País como sétimo maior produtor e quinto maior
exportador mundial de aço. Historicamente podemos dizer que as investidas mais incisivas
para desenvolver o mercado nacional da construção em estruturas metálicas só ocorreu
mesmo nessa segunda metade do século XX tornando-se mais evidente nos seus últimos
vinte anos, a partir de fins da década de 1970.

A própria formação de profissionais brasileiros envolvidos na elaboração de projetos


é tardia dentro do nosso contexto universitário. A dos arquitetos, por exemplo, foi
primeiramente possível através da Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, sendo
que a primeira a ostentar o nome de “Escola de Arquitetura” foi a de Minas Gerais, hoje
vinculada à UFMG, em Belo Horizonte, em fins da década de 20 e começo de 30. Como
abordado no capítulo introdutório, a existência de profissionais qualificados a cargo do
desenvolvimento dos projetos e do planejamento da obra é essencial para o sucesso das
experiências em construção industrializada. O descompasso de quase meio século entre o
início da formação profissional e a existência de um parque siderúrgico próprio talvez tenha
induzido a cultura de projeto e construção brasileira na direção tecnológica do concreto
armado, por não ser esse um sistema que exija a industrialização de seus processos.
Quando nos liberamos dos entravés que impediam o surgimento de estéticas próprias
de arquitetos brasileiros em sistemas de construções metálicas, os resultados foram
satisfatórios e surgiram obras como o Pavilhão CSN e o Pavilhão do Brasil na Exposição
Universal de Bruxelas. Ambos os projetos são de autoria do arquiteto que melhor explorou
o aço nesses primórdios dos edifícios “genuinamente” brasileiros: Sérgio Bernardes.

Pavilhão CSN
Projeto: Sérgio Bernardes
Localização: São Paulo, SP
Construção: 1954

Pavilhão do Brasil
Projeto: Sérgio Bernardes
Localização: Bruxelas, Bélgica
Construção: 1958

A arquitetura brasileira, mesmo considerando sua tradição histórica direcionada a


outro sistema estrutural, não abriu mão das vantagens oferecidas pelo aço em situações
consideradas ideais para sua utilização como em um de seus mais conhecidos conjuntos de
arquitetura moderna, em Brasília. Oscar Niemeyer e a comissão construtora da nova capital

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optaram pela rigidez da padronização e agilidade construtiva dos sistemas industrializados
para consolidar o eixo monumental com os edifícios da Esplanada dos Ministérios e do
Congresso Nacional. Além das estruturas metálicas, foram desenvolvidos e introduzidos
na obra de Brasília sistemas de pré-fabricados de painéis em argamassa armada e lajes
pré-moldadas que contribuíram para sua inauguração dentro do cronograma previsto.

Posteriormente, deu-se seqüência ao desenvolvimento dessas tecnologias que foram


aplicadas em grande escala nos projetos de outro arquiteto que havia iniciado sua carreia
na rica experiência profissional de Brasília, João Filgueiras Lima. Ele introduziu conceitos
de industrialização e sistemas de estrutura metálica na maioria de suas obras, como nos
hospitais da rede Sara Kubitscheck e nos diversos Tribunais de Contas da União,
construídos em várias cidades brasileiras.

Esplanada dos
Ministérios e
Congresso Nacional
Projeto: Oscar
Niemeyer
Localização:
Brasília, DF
Construção: 1960

O esforço das siderúrgicas em aproximar as experiências de projetos autorais com o


mercado imobiliário foi intensificado nas últimas três décadas. O objetivo é desenvolver o
mercado, introduzindo, cada vez mais, soluções industrializadas e a construção metálica
em vários segmentos, deste que é o responsável pela maior fatia de vendas das empresas
do setor nos países mais desenvolvidos. A tecnologia do aço tem sido aplicada em edifícios
comerciais, principalmente naqueles onde o retorno do investimento é mais rápido quanto
menor for o tempo desprendido nas construções, como shopping centers, ou em soluções
de moradia popular para enfrentar a falta crônica de habitações no País, com a rapidez
necessária, aliada ao baixo custo que essa tipologia impõe.

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Hospital Sara Kubitscheck
Projeto: João Filgueiras Lima
Localização: Brasília, DF
Construção: 2000

Tribunal de Contas da União


Projeto: João Filgueiras Lima
Localização: Belo Horizonte, MG
Construção: 1998

Shopping do Vale e Centro


Cultural USIMINAS
Projeto: Sito Arquitetura
Localização: Ipatinga, MG
Construção: 1998

Habitação Social
projeto: USIMINAS,
COHAB-MG
localização: Juiz de Fora, MG
construção: 1999

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3
PARTIDO ARQUITETÔNICO
E SOLUÇÃO ESTRUTURAL

3.1 A formação do arquiteto

A partir deste tópico, começaremos a abordar o papel do arquiteto no processo de


projeto e sua relação com as demais disciplinas envolvidas, principalmente com o trabalho
do calculista. O entendimento entre essas duas disciplinas é o que consideramos crucial
para o bom desenvolvimento, a organização e a estruturação dos conceitos arquitetônicos
definidos na fase de estudo preliminar do projeto. O arquiteto não pode ser espectador das
decisões e definições estruturais nem o calculista deve restringir-se a ser o executor do
detalhamento das soluções apresentadas na fase inicial do projeto. O aspecto definidor da
imagem e da expressão de uma obra nasce do entrosamento entre os conceitos arquitetônicos
e estruturais adotados, o que é impossível sem o diálogo corrente entre os profissionais
responsáveis por ambos.

O arquiteto maduro que compreende a responsabilidade


de sua profissão tem sua formação como resultado de
respostas pessoais e culturais ao processo de desenvolvimento
das habilidades inerentes à profissão. Sua atividade lida com
a conciliação entre conceitos aparentemente díspares, como
arte e técnica, sensação e razão, identificação e orientação,
pessoal e público, que necessariamente devem ser abordados
e solucionados em qualquer projeto. O contexto profissional
brasileiro inverteu valores, principalmente nos últimos
vinte anos, que, por omissões e apropriações indevidas de
atribuições de ambas as partes (arquitetos e engenheiros),
diminuiu substancialmente os casos de obras com significativo
valor arquitetônico em nossos ambientes urbanos, sejam
monumentais, sejam triviais, empobrecendo esse contexto
das mais perceptíveis maneiras.

O principal aspecto que será abordado daqui por diante


John Hancock Center
em nosso curso são os mecanismos de controle do arquiteto
Projeto: Bruce Graham - SOM
no processo de projeto que levará os conceitos definidos na Localização: Chicago,EUA
sua concepção a ser materializados no canteiro de obra. Pela Construção: 1969
sua formação, o arquiteto é quem deve controlar e assumir
responsabilidade pelo processo de projeto em todas as disciplinas envolvidas e deve dividir
com o calculista a responsabilidade pelas definições que resultam na integridade física da
construção em suas soluções propostas no projeto executivo. É assim nos contextos da
Europa, dos EUA e do Japão, principalmente, e já foi no nosso, embora nunca com infra-
estrutura industrial favorável, como na realidade atual.

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As idéias iniciais definidas nos primeiros estudos da situação de projeto pelo arquiteto
saem das relações por ele levantadas junto ao cliente, a órgãos públicos e a entidades
regulamentadoras. Os principais balizadores dessas decisões são os anseios dos
proprietários; os dados físicos relativos ao lugar/terreno e seu entorno, as necessidades
levantadas na definição dos programas; as expectativas de apresentação daquela tipologia
à sociedade, que serão exploradas; as limitações de legislação e a dimensão e disposição
de investimento no projeto. Os principais viabilizadores dessas definições são as soluções
técnicas que as procedem ou surgem, simultaneamente, no processo inicial de projeto,
sendo, principalmente: a descrição geométrica das formas exploradas, a racionalização
de sua estrutura espacial, a ordem de grandeza dos elementos estruturais aplicados a
cada situação, o modelo de estabilização estrutural a ser utilizado nas situações
específicas de cada projeto.

Pela sua formação, acreditamos que é responsabilidade do arquiteto o estabelecimento


dos parâmetros estruturais básicos que serão desenvolvidos e depurados na atuação
do calculista no processo e, com base nesse, detalhado com a interação entres esses
profissionais. Esse é o esforço que a atuação profissional exige para atender aos anseios
do cliente e às exigências e possibilidades apresentadas pela situação de projeto.

Ver o Estudo de Caso Número nº1 - Partido arquitetônico e solução estrutural: o Caso
do John Hancock Center.

3.2 Conceito e desenvolvimento de projeto

Abordaremos, de forma simplificada, caminhos adotados


por diferentes arquitetos, principalmente, em três situações
de projeto: aqueles nos quais a estrutura é desenvolvida como
principal elemento de expressão da imagem da edificação,
como no projeto do Banco de Hong Kong, outros em que a
estrutura encontra-se embutida na solução plástica apresentada
pela obra, sem leitura direta de sua estrutura, e ainda uma
última abordagem na qual a estrutura é percebida, mas não
representa a principal forma de expressão da construção,
apenas faz parte de seu conjunto.

Na primeira abordagem descrita, temos as propostas


tecnicistas como, freqüentemente, as explora o arquiteto inglês
Norman Foster e como, brilhantemente, o fizeram os arquitetos
Renzo Piano e Richard Rogers no projeto executado para o
Centro Georges Pompidou, em Paris. O edifício de Piano e
Rogers tem complexa solução de fabricação com elementos Banco de Hong Kong e Shangai
principais da estrutura fundidos em processos semelhantes ao Projeto: Norman Foster
de fabricação ou usinagem de peças para a aviação e indústria Localização: Hong Kong, China
naval, em escalas compatíveis às suas. Em contraponto a esta Construção: 1983
solução temos a aparência frágil do seu exterior, gerada pela
leveza visual de seus contraventamentos, de suas colunas e vigas treliçadas de fachada.
Neste projeto, a técnica é a responsável por toda a expressividade de sua imagem e foi
explorada de maneira sublime, interpondo-se com as soluções de organização do programa,
como na camada de circulação vertical por escadas rolantes, disposta na fachada principal.

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Esse é o artifício, entre outros, que permite explorar a transição da estrutura pesada
interna à leveza dos elementos de fachada através de sua profundidade.

Centro Georges
Pompidou
Projeto: Renzo
Piano e Richard
Rogers
Localização: Paris,
França
Construção: 1976

No contexto brasileiro, um arquiteto que quase sempre evidencia as soluções


estruturais de seus projetos em aço é o paulista Siegbert Zanettini, que destaca tanto os
elementos estruturais principais como a freqüente opção de estabilização pela triangulação
dos quadros, com contraventamentos expostos nas fachadas, como fez no projeto de
seu próprio escritório. O já citado arquiteto João Filgueiras Lima vale-se da expressão
estrutural em alguns de seus projetos como preponderante, como faz principalmente na
proposta para os Tribunais de Contas da União, aplicadas em diversos terrenos sempre
com o destaque para a viga treliçada, que estrutura e organiza, de uma só vez, todo o
prédio. Em outros de seus projetos, como nas propostas para a rede Sara, temos maior
integração entre os elementos estruturais e a forma com que o edifício ocupa a paisagem.
A estrutura está exposta, mas faz parte das superfícies que geram a forma proposta, e não
são a forma como empregada noutras obras, respondendo mais pelo ritmo apresentado.
Ainda dentro desse conceito, temos, como exemplo, uma residência em Belo Horizonte
e a Escola Guignard, onde as peças estruturais encontram-se à vista, mas compõem o
conjunto volumétrico no mesmo plano das vedações.

Residência
Projeto: Cid Horta
Localização:
Belo Horizonte
Construção: 1994

Escola Guignard
Projeto:
Gustavo Penna
Localização:
Belo Horizonte
Construção: 1995

Os arquitetos podem ainda utilizar a estrutura estritamente como sustentação do


edifício, distribuição interna, programa e como sustentação da vedação externa, que gera
sua proposta estética, sem em nada deixar que os elementos estruturais transpareçam
na leitura externa da edificação. É o caso, por exemplo, da proposta vencedora do Quarto
Prêmio Usiminas de Arquitetura em Aço para o Centro de Arte Corpo, onde a escolha do
aço como o material estrutural da proposta não tem relação direta com sua linguagem
e expressividade. Curiosamente, esse projeto explora as propriedades físicas do aço por
meio da vedação e do jogo de aberturas, dobras e permeabilidade de sua casca externa,

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em estratégia semelhante à do escultor consultor da equipe, que definiu a ideologia a
ser apropriada na concepção arquitetônica apresentada no concurso. Esses são conceitos
estéticos (de comunicação e linguagem), ou seja, estratégias de desenvolvimento da
ideologia de um projeto que não pretendemos abordar aqui.

Vamos nos reter e prosseguir concentrando-nos nas teorias por trás da organização
e das soluções técnicas disponíveis para melhor atender a determinadas solicitações
surgidas nas situações de projeto. Ao longo dos demais capítulos, teremos a oportunidade
de associar os projetos usados noutros exemplos às três categorias discutidas neste tópico.
O mais importante a ser reforçado com as informações deste capítulo é que edificações
com estrutura de aço não, necessariamente, têm de expor suas colunas, vigas ou demais
elementos. A escolha do aço como material estrutural pode estar associada, exclusivamente,
às vantagens técnicas e comerciais que essa opção traz consigo.

Posto de Estiva
Projeto: João Filgueiras Lima
Localização: São Luís, MA
Construção: 1998

Escritório de Arquitetura
Projeto: Siegbert Zanettini
Localização: São Paulo, SP
Construção: 1986

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Centro de Arte Corpo
Projeto: Alexandre
Brasil, Carlos Alberto
Maciel, Éolo Maia e Jô
Vasconcelos
Localização:
Nova Lima, MG
Concurso: 2002

3.3 Parâmetros de projeto e coordenação modular

Neste item, descreveremos sobre os parâmetros que levarão à utilização de


determinadas soluções estruturais definidas pelo arquiteto ainda na fase do anteprojeto
arquitetônico ou mesmo no estudo preliminar.

Os precedentes dessas definições são as possibilidades de sistema de modulação que


será desenvolvido em determinadas situações de projeto, bem como os vãos básicos mais
adequados a responder as solicitações do programa arquitetônico de cada tipologia. O
estabelecimento desses parâmetros tem precedentes nos aspectos de programa de cada
projeto e noutros condicionantes relativos, por exemplo, a combinação entre os itens de
tal programa.

Podemos ilustrar esse comentário com uma destas situações: se há sobreposição de


pavimentos-tipo do uso predominante ao qual a edificação se destina com pavimentos
de garagem, a tendência é prevalecer a modulação mais adequada àquela com padrões
de operação mais rígidos (garagem) sobre os demais; a modulação, por questões de
economia, será a mais adequada à organização dos fluxos de estacionamento, porém
coordenada com as necessidades do uso predominante. Dada a complexidade das soluções
arquitetônicas, não é demais lembrar que isso ocorrerá caso a referida “economia” seja

23
a referência mais importante do projeto. O contraponto dos itens de projeto na definição
das modulações e também do parâmetro “economia” nas construções industrializadas é
a modulação de fabricação e transporte das peças estruturais. Quantificando, podemos
dizer que, enquanto a organização de estacionamentos tende a levar as modulações para
múltiplos e submúltiplos de 5 metros (2,5 m; 7,5 m; 10 m), a modulação que melhor aproveita
o critério de transporte tende aos múltiplos e submúltiplos de 6 metros (4 m; 3 m; 12 m).

A ferramenta de conciliação desses e de outros parâmetros de projeto em direção ao


melhor aproveitamento de material e menor desperdício de esforços é a coordenação
modular. Um bom projeto apresenta soluções, não necessariamente uniformes e
repetitivas, que combinam suas mais variadas solicitações amparadas numa mesma
referência elementar, denominada módulo.

Historicamente, vários sistemas de medidas e modulações foram propostos por


arquitetos estudiosos do assunto, principalmente ao longo do século XX. Os módulos
básicos que veremos nos quadros a seguir usam cada qual uma referência diferente para
estabelecimento das relações de medidas. Existe intenção de unificar os sistemas e a
utilização global na mesma referência, o que ainda não é realidade, ficando os pontos
de interseção restritos aos grandes módulos de transporte: a dimensão padronizada dos
contêiners, dos vagões dos trens e das carrocerias
das carretas são de 12 metros com o meio módulo
de 6 metros. Nessa dimensão, até mesmo o sistema
imperial de medidas (em pés e polegadas) está
coordenado, nas medidas de 20 e 40 pés do meio-
contêiner e do contêiner, respectivamente.

A primeira tentativa efetiva de padronização


da indústria foi justamente a adoção do metro com
seus múltiplos e submúltiplos decimais no Sistema
Internacional (SI), que engloba, como sabemos,
não apenas grandezas dimensionais, mas também
outras, como peso e força. O sistema métrico de
medidas começou a ser comparado a sistemas
antropomórficos por arquitetos interessados em
estabelecer relações entre as necessidades humanas
e as dimensões métricas. Um dos primeiros a
fazer uma correlação métrico-antropomórfica foi o
arquiteto franco-suíço Le Corbusier, na experiência
do Modulor, que combinava, diretamente, medidas
relacionadas com o corpo humano; seu valor em
metros, base científica do estabelecimento de
valores numéricos, foi a série de Fibonacci, que
compõe o número com soma dos dois valores que
o precederam.

24
Neufert foi o primeiro a parametrizar medidas humanizadas com uma fração do metro,
mais precisamente, sua oitava parte. Com esse valor, o módulo de 125 mm estabeleceu
o sistema de coordenação modular que serviria de base para a reconstrução urgente da
Alemanha, no pós-guerra, na década de vinte, mediante sistemas industrializados.

Ainda hoje, as medidas propostas pelo alemão são usadas para desenvolvimento
de projetos, sem contudo relacionar os valores apresentados à base que os gerou: um
sistema de coordenação modular com módulo básico de 1/8 metro ou 125 milímetros. O
consenso ocorreu com a interferência da International Organization for Standardization
(ISO), que definiu como “Módulo Fundamental de Norma” a medida de 600 milímetros e
sistemas de coordenação modular baseados em seus múltiplos e submútiplos. Esses valores
abrangeriam as medidas dos itens pesados dos espaços de transporte de 3 metros, 6
metros e 12 metros, as peças de perfis estruturais feitos em série também nessas mesmas
medidas, chegando às medidas mais delicadas do material de acabamento de 100mm x
100mm (por exemplo, nas cerâmicas de fachada) e as várias outras medidas comuns a
esse material, como 150mm x 150mm, 300mm x 300mm ou 400mm x 400mm, passando por
placas industrializadas e painéis pré-moldados. Paralelamente a essa padronização da ISO,
temos o sistema imperial, usado pelos americanos, e o sistema dos japoneses, baseado na
referência histórica local das medidas dos tatamis, com módulo básico de 900mm.

Falamos até agora com foco na medida do módulo básico de projeto ou em sua menor
referência. Ao abrirmos a visão, retornaremos à situação inicial de projeto, na qual se faz
necessário definir a base geométrica a partir da qual o projeto se desenvolverá em relação
aos parâmetros condicionados pelo terreno, pelo programa e
por todas as outras questões com as quais os arquitetos lidam
ao desenvolver seus conceitos preliminares. O módulo
fundamental e o sistema de coordenação modular são as
principais ferramentas e a estruturação, organização e relação
entre a definição das medidas de projeto e as ações logísticas
que tornarão possível sua implementação prática. Um projeto
bem coordenado, concebido dentro da lógica de produção
industrializada, ao entrar em processo de fabricação e
montagem minimiza perdas de material e esforços de
implementação, sendo concebido em direção favorável a sua
viabilidade econômico-financeira. Reforçando o que já foi
descrito, lembramos que modular não significa tornar tudo
igual tampouco significa a garantia de que todos os componentes
serão totalmente aproveitados em suas dimensões de fábrica.

25
Simulação de elementos em situação de projeto e suas relações com o módulo fundamental de norma

É necessário ponderar sempre os parâmetros específicos de cada situação com


inteligência e originalidade; essa é a função do arquiteto. Abaixo veremos algumas
simulações hipotéticas que envolvem o estabelecimento de modulações de projeto e
descrição geométrica sobre as bases dos módulos fundamentais e sistemas criados para
situações específicas de projeto. É sempre bom lembrar que o estabelecimento da modulação
é espacial, e não deve ser pensado apenas em relação às dimensões em planta.

RETÍCULA ORTOGONAL TRIDIMENSIONAL


e MODULAÇÕES MAIS COMUNS

3,00m x 3,00m
6,00m x 6,00m
6,00m x 12,00m
8,00m x 8,00m
7,50m x 5,00m
7,50m x 7,50m
7,50m x 10,00m
7,50m x 15,00m

Simulações de descrições geométricas de projetos sobre bases modulares pré-definidas.

26
Representação das relações entre elementos de projeto e coordenação modular através dos
eixos estruturais. Fonte: norma Alemã DIN 1800

3.4 Conceitos estruturais e sistemas de estabilização no


projeto arquitetônico

Os conceitos de organização e a lógica de funcionamento com base nos quais as


estruturas podem se desenvolver foram muito bem classificados e descritos por Heino
Engel em seu livro Sistemas Estruturais (ver Referências). Eles podem ser usados na
aplicação direta de determinado conceito estrutural em uma situação de projeto ou servir de
base para a criação de um conceito misto, combinando elementos daqueles originalmente
listados. Engel organiza as soluções estruturais em cinco grandes grupos:

1. Sistemas de Forma Ativa: estruturas de cabos, tendas, pneumáticas ou arcos;

2. Sistemas de Vetor Ativo: treliças planas, planas combinadas, curvas e espaciais;

3. Sistemas de Seção Ativa: pórticos, vigas, malhas de vigas e lajes;

4. Sistemas de Superfície Ativa: placas, placas dobradas e cascas;

5. Sistemas de Altura Ativa: retículas modulares, sistemas tubulares (perimetrais),


de vão livre (núcleo central), edifícios-ponte.

27
Todos esses conceitos são soluções espaciais para o desenvolvimento da estrutura,
respondendo favoravelmente às solicitações do projeto arquitetônico e às ações de forças
que devem ser absorvidas pela estrutura sem abalar sua integridade. A observação é
válida para cada uma das solicitações físicas representadas abaixo: ações verticais como
sobrecarga e peso próprio das estruturas e ações horizontais, como a ação do vento. Toda
solução estrutural é sujeita a esses esforços e, seja em aço ou não, tem necessidade
de um sistema de estabilização que garanta sua performance dentro dos parâmetros
estabelecidos no projeto.

Em estruturas metálicas, a definição do princípio de estabilização tem relação direta


com a proposta arquitetônica e deve ser decidida pelo arquiteto juntamente com o
estabelecimento dos conceitos de projeto vistos anteriormente. Em linhas bem básicas,
estabilizar a estrutura significa garantir que sua fôrma não será abalada durante a
ocorrência de quaisquer das solicitações para as quais a edificação foi projetada a suportar.
A Figura acima ilustra bem as duas situações físicas que devem ser evitadas para que uma
estrutura esteja estabilizada: a diagonal dos quadros estruturais não pode variar, assim
como os ângulos das ligações devem permanecer inalterados. Isso vale para os três planos
da estrutura e traz para a situação de projeto a necessidade de estabilização nos dois
planos verticais (longitudinal e transversal à edificação) e nos planos horizontais das lajes
de piso e da cobertura da construção.

As soluções mais comuns de sistemas de estabilização partem justamente das duas


observações ilustradas na Figura acima, principalmente das primeiras que apresentaremos:
os sistemas de pórticos rígidos e os sistemas de contraventamento. Resumidamente,
a solução de ligações rígidas impede diretamente a variação dos ângulos das ligações, e
com isso, mantém estável o quadro estrutural. A opção dos contraventamentos insere
uma peça estrutural na diagonal do quadro formado pelas colunas e vigas, garantindo a
integridade desse e fixando sua dimensão diagonal.

O princípio é simples e baseia-se no fato de o triângulo ser geometricamente


indeformável. As barras diagonais são mais freqüentemente notadas nas construções
em aço por serem uma solução mais barata que o enrijecimento completo das ligações.

28
A última inclui soluções mais complexas com inserção de placas espessas e maior volume
de solda ou parafusos, aumentando tanto o peso global da estrutura quanto o trabalho
(homens-hora), necessário para confeccioná-la. As ligações mais comuns às estruturas
metálicas são consideradas como semi-rígidas ou semi-rotuladas, podendo também ser
rotuladas.

As duas soluções apresentadas podem responder pela estabilização nos planos


verticais, tanto no transversal quanto no longitudinal ao edifício. No plano horizontal, a
estabilização é garantida pela interação da laje (pano rígido) com a retícula de vigas,
sistema denominado de vigas mistas. Na ausência da laje ou de outro elemento que possa
acrescentar rigidez suficiente ao plano horizontal, este deve ser igualmente estabilizado por
contraventamentos ou ligações rígidas entre as vigas ou o engradamento de cobertura. Um
caso típico são as coberturas de galpões, quase sempre estabilizadas com cabos ou barras
de contraventamento no plano abaixo das telhas. A estabilização pelas lajes nos sistemas
de vigas mistas nos leva à terceira opção de estabilização da estrutura. A inserção de um
elemento dentro do quadro estrutural ou falceando-o, com rigidez suficiente para garantir
sua forma inicial, também é uma solução para o problema: esses são as denominadas
paredes de cisalhamento. A rigidez necessária para garantir a performance da parede
como estabilizadora da estrutura pode ser atingida com alvenarias de blocos ou tijolos,
com painéis pré-moldados, ou com paredes moldadas no local. O dimensionamento final
de qualquer uma dessas definições depende de cálculo do mesmo modo que os outros
elementos estruturais.

Outro sistema comumente usado como estabilizador da estrutura é a utilização de um


núcleo central rígido. Basicamente, a lógica dessa opção é amarrar a retícula estrutural,
com ligações semi-rígidas e sem contraventamentos, a uma torre com rigidez suficiente
para garantir que o esquadro e o prumo das peças estruturais permanecerão os mesmos
estabelecidos no projeto e na montagem. A torre do núcleo central rígido quase sempre
é combinada com elementos do programa, mais precisamente com aqueles associados
à circulação vertical da edificação, como caixa de escadas e elevadores. O inconveniente
dessa solução é o descompasso entre as tecnologias. A opção mais freqüente para execução
de torres rígidas é em concreto armado, os núcleos de concreto, e sua velocidade de
execução, por necessidade técnica da cura do material, é bem menor que a do restante da
estrutura em perfis de aço, podendo comprometer o rendimento global da execução.

29
Outro aspecto estrutural que deve ser proposto pelo arquiteto, ainda na fase de
anteprojeto, é a ordem de grandeza dos elementos estruturais. A questão é bem abordada
no livro Estruturas de Aço, Conceitos, Técnicas e
Linguagem de autoria do arquiteto Luís Andrade. Ele lista
as dimensões em relação ao vão que devem ser
consideradas quando se usa vigas “I” de almas cheias ou
vazadas (alveolares), treliças fixas e variáveis, arcos
treliçados, vigas vierendeel e vigas mistas. A definição de
orden de grandeza das colunas é menos complexa.
Colunas de aço ocupam área bem inferior que nas demais
soluções estruturais, e sua resistência pode ser ajustada
com a variação da espessura da chapa que as compõe.
Como as vigas, as colunas também podem ser mistas, de
almas cheias ou vazadas e, ainda, treliçadas ou
compostas.

30
Ordem de grandeza estrutural

Tipo Representação gráfica (sem escala) altura (a) x vão (v)

Vigas “I”
a = v/20
Alma cheia

Vigas “I”
Alma vazada a = v/20
(alveolares/castelares)

Treliças
a = v/20 ~ a = v/30
Seção fixa

Treliças
am = v/20 ~ a = v/30
Seção variável

Vigas
a = v/15 ~ a = v/25
vierendeel

Vigas
a = v/25
mistas

31
4
AÇÃO PROJETUAL

4.1 As matérias-primas de fabricação da estrutura

A siderurgia e a metalurgia desenvolveram aços com composição adequadas a aplicações


em estruturas e outros componentes construtivos. As características destacáveis desses
aços são a resistência mecânica garantida (Ex.: 300, 350 Mpa ou mais), soldabilidade,
conformabilidade, aderência a pintura e, em alguns casos, maior resistência à corrosão
atmosférica e/ou a altas temperaturas. Os aços ditos patináveis têm maior resistência à
corrosão. Foram incorporados à prática arquitetônica na década de 1950 pelo arquiteto
norte-americano Eero Saarinen: são aços inicialmente desenvolvidos e utilizados para
fabricação de vagões ferroviários, sem pintura ou qualquer outro tratamento superficial,
que formam uma camada autoprotetora (pátina) contra agentes químicos agressores.

Deere Company Administrative


Center
Projeto:
Eero Saarinen and Associates
Localização: Moline , Illinois, EUA
Construção: 1958

Saarinen especificou, pela primeira vez, o produto em 1958, no premiado edifício da


sede administrativa da Deere Company, próximo a Chicago, nos EUA. Outro exemplo
de aplicação desses aços é a Capela Santana do Pé-do-Morro, onde o arquiteto Éolo
Maia, em um trabalho com pequena dimensão e grande complexidade, dimensionou seus
elementos com a preocupação pertinente de longevidade do projeto. Essas soluções
requerem cuidados de projeto e outros periódicos de manutenção da mesma forma como
qualquer outra: não existem soluções construtivas cuja longevidade seja independente das
precauções de uso e dos cuidados de manutenção.

33
Capela Santana do
Pé-do-Morro
Projeto: Éolo Maia
Localização: Ouro Branco, MG
Construção: 1980

O processo siderúrgico de fabricação dos aços planos, utilizados na confecção de


elementos estruturais e outros componentes construtivos, tem três graus de beneficiamento.
Após a produção do ferro gusa e da placa, primeiro produto siderúrgico com o aço-base
para vários fins, seguem-se processos de laminação (redução de espessura com controle
de largura):

• laminação a quente: placas transformadas em Chapas Grossas (CG), Bobinas


a Quente (BQ) ou Chapas Finas (CF).

• laminação a frio: BQs transformadas em Bobinas a Frio (BF)

• linhas de revestimento: BFs são transformadas em Bobinas Zincadas (BZ)


no processo mais destacado de revestimento, a Galvanização. BFs podem ainda
ser revestidas por ligas de alumínio e zinco (Galvalume, Zincalume, etc.) e por
processos de pintura ainda na Usina, gerando os produtos Pré-pintados.

Cabe ressaltar que os aços planos geram produtos para as mais diversas aplicações.
A principal é direcionada à indústria automotiva, com especificações que exigem rígidos
controles de qualidade. Os produtos planos são aplicados, além da construção civil, em
indústrias de linha branca (eletrodomésticos), linha marrom (computadores e componentes
eletroeletrônicos), diversas indústrias de base e bens de capital (naval, ferroviária,
equipamentos pesados, etc.). Mais de 3.000 produtos, com diferentes especificações de
qualidade, espessura e largura são comercializados por usinas como estas.

Os produtos beneficiados em usinas de aços longos, aplicados nas estruturas de aço,


são os perfis laminados nas seções típicas “I” e “H”. O processo siderúrgico é semelhante
e o aço-base aparece primeiramente na forma de tarugo, que é transformado na seção
estrutural previamente determinada pela deformação gradativa da seção retangular original
(laminação). O processo é bem ilustrado no livro do arquiteto Luís Andrade, Estruturas de
Aço: Conceito, Técnicas e Linguagem.

34
35
Laminação a frio

36
A dimensão padronizada desses produtos segue a lógica descrita anteriormente do
módulo fundamental de norma ISO, em múltiplos e submúltiplos de 600 milímetros, com
fortes resquícios das unidades em Sistema Imperial (EUA) pela demanda de exportação. O
exercício da atividade de projeto é estreitamente ligado a essas dimensões na sua interface
com produtos industrializados.

Estoque de bobinas

Quadro de dados técnicos

ESPESSURA LARGURA
TIPOS DE AÇO PRODUTOS APLICAÇÕES
mm mm
LAMINADOS A Tubos, perfis soldados, placas de
900,0 a
QUENTE ESTRUTURAIS: CG chapa grossa 6,00 a 152,00 base de pilares, chapas de ligação,
3900,0
(chapas grossas soldáveis, com enrijecedores.
e tiras a quente) resistência mecânica Tubos, perfis eletrossoldados,
715,0 a
estipulada BQ bobina a quente 1,80 a 5,00 conformados a frio estruturais e não
1870,0
NÃO PATINÁVEIS estruturais.
PATINÁVEIS -
Tubos, perfis soldados,
>resistência à 715,0 a
BG bobina grossa 5,01 a 12,70 eletrossoldados e conformados a frio
corrosão 1870,0
estruturais ou não.
RESISTENTES
A ALTAS CFQ chapa fina a 680,0 a Painéis de revestimento e
1,80 a 5,00
TEMPERATURAS quente 1870,0 detalhamentos diversos.
680,0 a Estampados em padrão xadrez para
NÃO ESTRUTURAIS BP e CP bobina de piso
2,50 a 12,70 1870,0 CP pisos.
e chapa de piso
715,00 BP
LAMINADOS A ESTRUTURAIS e Tubos, perfis conformados a frio
700,0 a
FRIO NÃO ESTRUTURAIS BF bobina a frio 0,38 a 3,00 não estruturais pós pintados para
1850,0
(tiras a frio) soldáveis, boa esquadrias, móveis, etc.
aderência a pintura, Chapas de revestimentos e detalhes
boa capacidade de 700,0 a
CFF chapa fina a frio 0,38 a 3,00 diversos de componentes pós
conformação a frio 1850,0
pintados.
REVESTIDOS 700,0 a Perfis conformados a frio estruturais
(galvanizados) BZ bobina zincada 0,38 a 2,65 e não estruturais
1830,0
Telhas, painéis de vedação e
ESTRUTURAIS e frigoríficos
NÃO ESTRUTURAIS 750,0 a
CZ chapa zincada 0,40 A 2,30 Calhas, rufos, eletrocalhas,
proteção contra 1605,0
Chapas e detalhamentos diversos
corrosão pela para revestimentos e outras
BEG bobina 750,0 a
camada de zinco, boa 0,40 A 2,00 aplicações com ou sem pós pintura
eletrogalvanizada 1600,0
conformabilidade Bobinas base para pré-pintados
CEG chapa 750,0 a Formas incorporadas a laje (steel
0,40 A 2,00
eletrogalvanizada 1600,0 decks)

37
O desenvolvimento de um bom detalhamento, tanto do projeto de fabricação e
montagem quanto do arquitetônico/projeto executivo, parte da dimensão padronizada dos
produtos básicos que saem das usinas. As bobinas, como a da imagem ao lado, são um
exemplo de primeiro elo da cadeia produtiva a ser beneficiado nos diversos componentes
que serão incorporados à obra, no canteiro. Os projetos estruturais (fabricação e montagem)
geralmente seguem perfis normatizados, que
têm seu comprimento desenvolvido de seção
baseado nos padrões mais utilizados de largura
de bobina, sendo 900, 1.000, 1.100, 1.200 e 1.500
mm. Isso garante o melhor aproveitamento das
bobinas quando cortadas longitudinalmente
(pelo Sliter), para terem suas tiras conformadas
a frio, soldadas ou fundidas entre si. O
detalhamento de componentes arquitetônicos
não estruturais, por não seguir normalmente
nenhum padrão preestabelecido, deve ser
especialmente atento a essas dimensões, ao
especificar dobras, soldas, furações e conexões
entre elementos que serão fabricados valendo- Corte longitudinal de bobinas: “Slitter”
se dessas matrizes.

O primeiro beneficiamento industrial dos produtos planos fabrica, principalmente,


perfis, telhas e fôrmas-laje (steel-deck). Abaixo, os principais tipos de perfil do mercado
nacional:

Informação sobre perfis estruturais

PERFIS PROCESSOS EQUIPAMENTO LIMITAÇÕES* SEÇÕES TÍPICAS NOMENCLATURA


ESTRUTURAIS * mercado brasileiro DE PROJETO
Conformados a frio Perfilado Sliter e perfiladeira Espessura (e) de U, C, Cartola, Z, Ex: U150X50X4,75
chapa: 4,75mm caixa, cantoneiras (h = 150mm, e =
4,75mm)
Dobrados Sliter e dobradeira Espessura de chapa: U, C, Cartola, Z, Ex: C100x50x17x2,0
12,5mm, caixa, cantoneiras (h = 100, L =
Comprimento: 3,6 50,e=2,00mm)
ou 8 m.
Eletro-soldado Fusão por alta Sliter e equipamento Altura (h) máxima: Seções I e H fixas Ex: VE 500 x 79
freqüência específico 500mm (não variam ao (h= 500mm, 79kg/m)
longo do perfil)
Soldados Arco submerso Sliter e solda perfis customizados Seções I e H Ex: VS 1400 x 424
automática (CNC) por projeto fixas ou variáveis (h= 1400mm,
424kg/m)
Senoidal Sliter, conformação e 330 < h > 1.200 mm Seções I e H Ex: VSS 1200 x peso
solda especial 120 < flanges > fixas ou variáveis (h= 1400mm)
350mm
Laminados Abas paralelas Laminador (Usina) Seções I e H Seções I e H fixas Ex: W 610 x 174,0
padronizadas (h= 610mm,
altura máxima: 174,0kg/m
610mm
Não paralelas Laminador (Usina) Seções I , C e Seções I , U, PLL, UPN, IPN,
cantoneiras cantoneiras
altura máxima
:110mm
Tubulares Com costura Perfiladora e fusão perfis customizados Circulares e
(solda de topo) por projeto quadradas
Sem costura Laminador (Usina) Diâmetro máximo: Circulares e
300mm quadradas

38
Geralmente, os perfis são fabricados em seções padronizadas para aplicações diversas,
principalmente estrutural. Os perfis “de prateleira”, produzidos em série pelos clientes diretos
das siderúrgicas, têm padrões de comprimento baseados principalmente nas modulações
de transporte, 3 metros, 6 metros e 12 metros de extensão, independentemente das
seções. Fabricantes de perfis e de estruturas desse elo da cadeia produtiva (primeiro
beneficiador) produzem também perfis por projeto, minimizando as perdas de matéria-
prima na fabricação da estrutura.

Empresas do mercado brasileiro estão equipadas com diversos equipamentos do mais


alto grau de tecnologia disponíveis no mundo. O arquiteto e engenheiro francês Marc
Mimram, em palestra recente na Feira Construmetal 2004, desmistificou abordagens
usuais do mercado brasileiro. Sobre não estarmos preparados a desenvolver e a fabricar
elementos estruturais complexos, por falta de infra-estrutura, disse que não percebia essa
carência no parque industrial brasileiro. Reforçou seu ponto de vista, afirmando que várias
das suas concepções de projeto eram produzidas por empresas das indústrias naval e
aeronáutica, lembrando empresas brasileiras importantes nesses dois setores.

Marc Mimram:
posto de pedágio
em auto-estrada ou
porta de entrada a
Paris?
Conceito de Projeto

Ficando restritos àquelas que fabricam estruturas metálicas e outros componentes


construtivos industrializados, muitos ficariam surpresos com o que se defrontariam em
visitas a instalações industriais brasileiras. Beneficiamentos de matérias-primas básicas por
máquinas de corte a plasma e laser de alta precisão, fabricação de perfis por equipamentos
com matriz CNC (que lêem informações de fabricação diretamente de arquivos eletrônicos)
são mais comuns que imaginamos. O arquiteto francês reforçou sua abordagem sobre o
projeto “diferente”, com criações originais, dizendo que, em qualquer lugar ou situação de
projeto, é difícil para o arquiteto trazer o cliente para junto dos propósitos que pretende
defender. Essa argumentação deve ser consistente, bem embasada e responsável diante
dos envolvidos direta e indiretamente. Os meios para atingir os argumentos necessários
para tal são o conhecimento, as informações atualizadas e o domínio das ferramentas de
controle do processo de projeto.

39
Equipamento robotizado:
fabricação de perfis
senoidais em Betim-MG

A qualidade do material base de quaisquer dos produtos mencionados tem por


referência a especificação técnica do aço. Existem várias origens de nomenclatura técnica;
algumas especificações do mesmo aço podem aparecer de forma diferente, dependendo
da referência. Cada especificação diz respeito a uma determinada qualidade de material.
Por exemplo: um aço estrutural patinável, soldável, com boa condição de conformação a
frio e 350 Mpa de resistência mecânica (limite de escoamento) e determinada composição
química pode aparecer como USI SAC 350 (pela Norma Técnica Usiminas), como NBR
5008 CGR-500 (pela Norma Técnica Brasileira NBR ou ABNT) ou ainda como ASTM
A588 (pela ASTM - American Society of Testing and Measurement). Basicamente, os
aços estruturais aplicáveis na construção civil terão em sua especificação os seguintes
parâmetros: garantia de resistência mecânica mínima, alongamento, nível de conformação
a frio, maior ou menor resistência à corrosão, soldabilidade e capacidade de aderência à
pintura. Aços não estruturais também são utilizados em construção civil e podem aparecer
nos detalhamentos de vários itens de projeto sem responsabilidade estrutural como guarda-
corpos, guias para paredes divisórias a seco, suportes de bancadas ou mesmo peças de
mobiliários. Os aços não estruturais mais comumente encontrados no mercado são os
chamados SAE: SAE 1008, SAE 1010, SAE 1020. Esses aços não podem desempenhar
funções estruturais em uma construção, sob risco de sérias conseqüências. Nos casos
em que se pretende utilizá-los com esta finalidade, devem ser feitos testes de resistência
mecânica, com equipamento próprio, para certificar sua característica. Mesmo assim, essa
prática não é recomendável, uma vez que tal material não foi fabricado com garantia de
homogeneidade de sua qualidade ao longo da bobina ou da chapa.

4.2 Projeto e notação técnica

O projeto arquitetônico em um sistema industrializado visa obter a melhor performance


do processo como um todo. Juntamente com o projeto de fabricação e montagem da
estrutura e projetos complementares, compõe o tripé das informações para a obra. É,
preferencialmente, expresso em milímetros, o que ainda é pouco aceito nos desenhos
técnicos de obra no Brasil. Sua base é o raciocínio de que o gerenciamento do processo
construtivo será alimentado por componentes originários das fábricas. Um projeto
desenvolvido adequadamente é muito importante para o resultado das outras etapas da
logística industrial. O projeto arquitetônico define todas as premissas que serão depois
trabalhadas nos projetos de fabricação e de montagem (estrutural). A coordenação modular
entre os componentes construtivos, a modulação estrutural e a forma de interação entre os

40
componentes, aliadas a dados físicos e necessidades do programa, vão compor, junto com
o conceito explorado no projeto, o resultado da obra.

Desenho técnico do projeto arquitetônico: pacote executivo de um edifício de habitação social com estrutura
independente em perfis formados a frio. Este é o primeiro dos 41 desenhos que compõem o pacote.

Para que a condição técnica seja atingida, é necessário explicitar em desenhos e


especificações todos os dados importantes à perfeita compreensão do projeto. Essa
precaução dará aos responsáveis por seu desenvolvimento e execução um ambiente com
linguagem comum para intercâmbio de informações técnicas, minimizando as chances de
interpretações erradas e facilitando a comunicação. A apresentação gráfica (Figura 10)
dos eixos referenciais, em sistemas de coordenadas com letras em um sentido, números
no outro e marcação dos níveis, formam, juntamente com as cotas convencionais, esta
representação comum. O arquiteto deve trabalhar com essa lógica porque é assim que o
calculista definirá o projeto e que a fábrica o executará.

Com base nessa mesma referência técnica, o montador erguerá a estrutura no canteiro
de obras. Assim, como é natural essa necessidade de coordenação entre as diferentes
atividades envolvidas na construção de um edifício, se conclui que a melhor estratégia de
desenvolvimento do projeto arquitetônico é considerar, desde seu início, tais referências
como balizadoras da organização e estruturação do projeto. O arquiteto, como ponto
de partida da definição física de qualquer empreendimento ou construção, é quem deve
estabelecer os parâmetros básicos e as referências elementares desse dentro de seus
objetivos. A esses cuidados segue o processo de projeto até atingir sua versão executiva ou
o detalhamento arquitetônico. Esse é um dos diferenciais entre projetos de arquitetura em
sistemas industrializados e convencionais. A precisão industrial permite listas de material
(Figura a seguir) completas com controle total sobre possíveis perdas. Definição precisa

41
dos volumes quantitativos de acabamentos, relações de peças, dados de paginação de
lajes, fechamentos, acabamentos, esquadrias e instalações são partes desse conjunto em
todas as suas disciplinas.

Desenho técnico de fabri-


cação da peça estrutural,
no caso, um pilar fabricado
a partir de perfil formado
a frio

Essas preocupações não são mais restritas às questões diretas como rapidez e precisão
construtiva, redução dos custos indiretos de administração da obra, melhor controle de
qualidade dos itens da construção e de seu resultado global. Recentemente crescem em
importância abordagens de desenvolvimento auto-sustentável e conseqüente controle
dos desperdícios processuais. Conceitos que são totalmente aplicáveis às metodologias de
projeto e construções industrializadas com impacto mais direto que imaginamos em nosso
cotidiano. Basta pensar no impacto do transporte de material para um canteiro de obras
urbano e o posterior transporte de seus resíduos para fora dele. Seu reaproveitamento é
algo a se pensar, mas a medida realmente efetiva para abordá-lo seria sua eliminação,
levando para o mesmo canteiro somente o que será usado na construção, no formato
especificado e detalhado no projeto. Sustentabilidade, baixo impacto ambiental e energia
contida nos processos da construção industrializada são hoje seus principais aliados.

4.3 Detalhamento

O diferencial de projeto pelo detalhamento da estrutura, do seu conceito à concepção


de peças estruturais especiais é marca registrada na proposta estética de vários arquitetos.

42
Só para mencionar alguns dos mais famosos: Mies Van der Rohe, Renzo Piano, Richard
Rogers, Norman Foster, Glen Murcutt, Piere Koenig, João Filgueiras Lima, Paulo Mendes da
Rocha, entre vários outros - que têm na sua relação direta e expressiva com a tecnologia
e seu refinamento dentro do conceito de projeto como uma marca clara nos respectivos
portfólios. O cuidado em definir detalhes de uma estrutura de aço é, da mesma forma que
os demais aspectos de projeto abordados até aqui, também inerente e imprescindível ao
processo de fabricação das estruturas de aço.

É impossível para qualquer fabricante de estruturas omitir-se da etapa do detalhamento


das peças estruturais, de suas ligações soldadas ou parafusadas, dos elementos especiais,
como escadas, peças de estabilização e outras. O profissional de arquitetura envolvido
nesse processo pode, como acontece nos casos acima mencionados, interagir diretamente
com essa etapa de projeto para daí tirar proveito e reforçar suas diretrizes. Mais uma vez,
tal interação deve ocorrer com o envolvimento dos demais participantes nos propósitos
colocados pelo projeto. Sem sua compreensão, nenhum outro profissional, ou mesmo o
cliente final, poderá contribuir para sua melhor execução e seu melhor aproveitamento.

Hospital da Rede Sarah, Rio de Janeiro


Projeto: João Filgueiras Lima
Localização: Rio de Janeiro, RJ
Construção: 2005

4.4 Fabricação

A fabricação da estrutura ocorrerá dentro de um ambiente controlado, com as melhores


condições possíveis de trabalho. Todos os processos anteriores serão seus alimentadores.
As informações completas de fabricação seguirão diretamente os equipamentos por vias
eletrônicas ou seus operadores por meio dos desenhos técnicos de fabricação. Os processos
de fabricação serão operações diretas sobre as matérias-primas recebidas pelos fabricantes,
a saber: basicamente chapas grossas, bobinas, chapas diversas e perfis. Não apenas é
possível, como desejável ao bom curso de uma obra, a interação dos profissionais de projeto
com essa fase da industrialização. Para que ocorra de forma convincente e realmente
útil, é necessário conhecer o potencial e as limitações dos equipamentos disponíveis nos
fabricantes de estruturas . A seguir alguns exemplos de operações básicas:

CORTE: corte a gás ou oxicorte, pode ocorrer por máquinas sofisticadas, com vários
bicos ou por simples maçaricos; processos mais precisos e rápidos são os cortes a plasma
ou, num nível ainda superior de qualidade, o corte em máquinas a laser. Estas últimas
permitem operações do mais variado tipo, em curvas ou formas preestabelecidas, que
operam com informações eletrônicas recebidas diretamente dos arquivos de CAD (máquinas
CNC). Pantógrafos e outros equipamentos são usados para cortes não convencionais como
aqueles em curvas de raios grandes, preestabelecidos.

43
SOLDA: também existem vários processos, como arco submerso, eletrodo revestido,
mig-mag com arame contínuo, solda por alta freqüência ou eletrofusão. São basicamente
regidos pelas normas da American Welding Society (AWS). Cada processo têm seu
mecanismo de junção das partes de aço e seu tipo de proteção do cordão de solda durante
a fase de ‘cura’ dela. Existem meios para verificar se uma solda atingiu corretamente seu
objetivo, como testes de líquido penetrante ou radiografias. Basicamente uma solda deve
ligar duas peças de aço, devendo ser de um material compatível com essas, a fim de gerar
um produto acabado de maior resistência que o aço próximo.

FURAÇÃO: marcações e execução de furos por meio de brocas convencionais,


principalmente para execução de ligações parafusadas tanto na fase de pré-montagem
quanto na montagem do canteiro de obras.

CALANDRAGEM: a calandra é um equipamento que aplica raios e curvaturas


preestabelecidas a chapas, ou mesmo a perfis e peças estruturais ou não, já fabricadas.

PRÉ-MONTAGEM: é uma operação que antecipa ações de montagem no canteiro.


Deve ser utilizada sempre que as condições da obra exijam agilidade de montagem ainda
maior, ou em situações onde atrasos no cronograma que precede a montagem da estrutura
tornarem necessárias as medidas de pré-montagem. Sua real eficácia na redução de custos
e agilização da montagem deve ser avaliada na contraposição imediata com seu impacto
no transporte das peças pré-montadas. Muitas vezes a relação volume/peso de transporte
pode não ser atraente.

Peças fabricadas e inspecionadas, prontas para Furação e marcação: permite rastreabilidade desde
expedição. a chapa.

Perfis sendo cortados por máquina oxicorte Partes de uma peça, já furadas e cortadas, sendo
soldadas.

44
4.5 Transporte e montagem

Nas construções convencionais, é transportado para a obra material básico, como


areia, cimento, brita, madeira, vergalhões, tijolos e outros. Após o fim de sua execução, os
resíduos gerados são transportados de volta para locais de depósito ou reaproveitamento.
Nas construções com estruturas de aço, totalmente industrializadas ou semi-industrializadas,
a estrutura gerada pelo desenvolver de seu processo tem de ser transportada para o
canteiro de obras e erguida segundo os mais precisos critérios de nivelamento e prumo
das peças. Basicamente, devem ser observadas as referências de economia dos padrões
de transporte, não concebendo peças que excedam o espaço físico típico ou os pesos mais
usuais das carretas, em torno de 30 toneladas. Esses e outros parâmetros existem como
balizadores das ações de projeto e podem e devem ser excedidos quando necessários, desde
que suas conseqüências sejam conhecidas e aprovadas pelos envolvidos no desenrolar do
projeto e da obra. A grande vantagem da industrialização é o poder de antever problemas
e pensar nas soluções antes que esses ocorram, reduzindo o impacto das surpresas e
outras inconveniências. O transporte e a montagem das estruturas e outros componentes
construtivos são etapas fundamentais do planejamento das obras industrializadas.

Existem muitos tipos de equipamento para transporte e montagem de estruturas de


aço muito bem descritos no Manual da Construção em Aço: Transporte e Montagem,
recentemente publicado pelo Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA).

Padrão Básico de Transporte: 2600 x 12000 x 2900mm (contêiner, carreta, vagões)

Tabela para dimensionamento e qualificação de escolta

Largura Comrimento Altura


De 2,60 a 3,20m - somente licença De 18,15 a 25,00m - somente licença De 2,90 a 5,00m - somente licença
De 3,21 a 3,80m - 1 batedor De 25,01 a 30,00m - 1 batedor De 5,01 a 5,50m - 1 batedor
De 3,81 a 5,00m - 2 batedores De 30,01 a 35,00m - 2 batedores Acima de 5,51m - 2 batedor da PF
Acima de 5,00m - 1 batedor credenciado Acima de 35,00m - 1 batedor credenciado
1 batedor da PF 1 batedor da PF

De forma bem elementar, podemos mencionar as carretas convencionais com


carrocerias de 12 metros de extensão, ou mesmo os caminhões equipados com braços
hidráulicos, que podem responder sozinhos pelo transporte e pela montagem de estruturas
de pequeno porte (caminhões munck). Equipamentos de montagem são específicos para
determinadas situações de projeto e dependem muito das situações do canteiro de obras,

45
dos espaços disponíveis, do peso e da dimensão das peças a ser içadas e locadas nos
pontos de montagem. Gruas e guindastes são os mais usados nessas operações.

O objetivo desta abordagem não é entrar nos inúmeros detalhes pertinentes a cada
uma dessas disciplinas. Ao abordá-las de forma genérica, no contexto da Arquitetura de
Edifícios em Aço, estamos reafirmando a relação de cada uma delas com o processo de
projeto e contribuindo para que um número maior de arquitetos e engenheiros fiquem
conscientes de que cada uma delas pode ser controlada e abordada
desde a fase mais inicial de seu desenvolvimento. A prova dessa
relação direta está em uma simples constatação: o que alimenta
essas etapas da construção industrializada em estruturas de aço
é o projeto.

As ações e as considerações sobre projetos acerca dos quais


discorremos nestes últimos tópicos são as que se seguem ao
estabelecimento das diretrizes e conceitos que um determinado
projeto vai abordar. Não falamos aqui do importante e essencial
plano das idéias e sua força, falamos de maneiras para
desenvolvê-las tecnicamente com intenção de valorizar seus
princípios e controlar sua correta execução. Tarefa, diga-se,
complexa e difícil.

Em projeto vencedor do Prêmio Usiminas de Arquitetura em


Aço sobre Habitação Social, os arquitetos Sylvio Podestá e Mateus
Pontes levaram os aspectos de projeto que abordamos aqui a
níveis muito detalhistas. A solução de projeto que propuseram
chega a definir uma unidade residencial modular com dimensões
baseadas no módulo de transporte, que, em casos extremos,
poderia ser totalmente fabricada e transportada pronta sobre Projeto Habitacional
uma carreta. O diferencial do projeto arquitetônico está nas Modular

inúmeras maneiras de agrupar e organizar esses módulos, como Projeto: Sylvio Podestá e
Mateus Pontes
está ilustrado ao lado. Todos os componentes da obra foram Ano: 1999
especificados e definidos junto com a modulação construtiva
desenvolvida no projeto.

46
5
ESPECIFICAÇÕES E ASPECTOS
TÉCNICOS

O desenvolvimento de um projeto é um processo constante e seqüencial de tomada


de decisão. Até então foram abordados, sobre seus aspectos técnicos, os parâmetros que
balizam as decisões estruturais e espaciais (dimensionais) dos projetos arquitetônicos.
Nesta seção, os esforços serão concentrados nos parâmetros físicos que demarcam
as decisões de especificação do material dos sistemas construtivos complementares
escolhidos, diante das várias opções para materializarem as decisões espaciais de projeto.
É mais uma etapa da seqüência lógica de um projeto de arquitetura, qual seja: definições
do programa, terreno e suas características potenciais, setorização, organização espacial,
desenvolvimento espacial e solução estrutural, especificações de materiais e sistemas
construtivos. Todas essas etapas servem aos propósitos do projeto arquitetônico, podem
reforçar ou diminuir seu impacto e devem, por isso, ser assumidas pelo arquiteto autor do
projeto.

Parcerias e colaboração dos demais técnicos envolvidos são imprescindíveis para


tirar dessas decisões o máximo de contribuição ao projeto. As orientações que serão
apresentadas aqui não têm a pretensão de esgotar possibilidades, mas, sim, de aproximar
seu contexto geral das situações mais comuns no desenvolvimento profissional de projeto.
É fundamental pesquisar, ouvir fabricantes e seus representantes técnico-comerciais e
consultar as referências técnicas específicas sobre cada disciplina. Fonte constante de
desenvolvimento e formatação das informações técnicas da construção em aço é o Centro
Brasileiro da Construção em Aço (CBCA), com as publicações de seus Manuais da
Construção em Aço e outras atividades, que podem ser conferidas na página eletrônica
www.cbca-ibs.org.br. O objetivo final das especificações técnicas e de todas as decisões
de projeto é atender, simultaneamente, aos desejos e às necessidades do cliente e ainda às
intenções definidas pelo arquiteto, com toda segurança e responsabilidade técnica, impostas
por qualquer situação de projeto. O resultado de projetos bem-sucedidos é conseqüência
da boa interação entre especialistas multidisciplinares com os propósitos gerais desses.

5.1 Características dos aços na construção civil

Existem aços, planos ou longos, para as mais diversas aplicações e indústrias, a


saber: equipamentos e infra-estrutura da indústria de base, obras pesadas de engenharia,
automobilística, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, construção civil. Cada aplicação dos
aços está associada a uma especificação técnica, classificada nas entidades reguladoras
nacionais e internacionais, por normas internas das empresas produtoras dos insumos ou
por especificações customizadas, o que é menos freqüente.

Na construção civil, podemos fazer duas distinções: aços que fazem parte dos elementos
da estrutura principal do edifício e aqueles que fazem parte de elementos complementares.
Os primeiros são os aços estruturais. Compõem fundações, pilares, vigas, lajes, escadas,
sistemas de estabilização ou paredes estruturais (autoportantes) dentro de um sistema

47
estrutural preestabelicido. Os aços estruturais têm algumas características em comum:
comportamento elasto-plástico bem definido (gráficos tensão x deformação), são soldáveis,
conformáveis por processos de dobra e perfilação já mencionados, boa aderência à pintura e
a tratamentos superficiais, e, principalmente, têm suas características estruturais mínimas
como resistência mecânica (fy e fu) e alongamento parametrizados e garantidos pelo seu
fabricante.

A partir daí, cada aço estrutural terá características diferenciadas que terão influência
direta na sua performance ante os processos complementares de proteção e segurança da
aplicação estrutural. A primeira distinção importante são os aços patináiveis ou aclimáveis e
os não-patináveis. Aços patináveis têm melhor resistência diante da corrosão atmosférica,
podendo até ser usados sem proteção superficial extra, desde que dimensionados para
tal. São aços com elementos de liga que provocam a formação, após ciclos alternados de
umidade e secagem, de uma camada de óxidos compacta e aderente que protege o metal
base de agressões ambientais e conseqüente corrosão.

A formação dessa camada ocorre num período mínimo de seis meses de exposição
a ciclos naturais, ou provocados, de umidade e sol. Quando submetidos à abrasão, têm
danificada sua pátina, provocando novo processo de formação desses óxidos. Sempre
que molhado pelas chuvas, estando ou não estável e formada, soltará pigmentação
característica na água. Uma boa aplicação desse material controla essas duas características
com sistema de captação de água que a impeça de manchar outro material e afastamento
das situações que trariam agressões constantes por abrasão. Os aços estruturais não-
patináveis podem e devem ser utilizados com os devidos cuidados e especificações de
proteção superficial contra corrosão, ou seja, galvanização, pintura ou o enclausuramento
total do elemento estrutural. Sempre que especificados, os aços patináveis, nas condições
revestido ou não-revestido, representarão uma proteção extra perante as agressões
permanentes ou eventuais das peças estruturais.

Qualitativamente, temos os aços com capacidade de manter suas características


estruturais em altas temperaturas por um período maior de tempo, bastante especificados
no Japão. Quantitativamente, temos as variações de resistência mecânica como principal
característica diferencial entre aços estruturais. Uma mesma peça estrutural pode ter
menor impacto dimensional em determinada situação de projeto se especificada com
aço de 250MPa, 300MPa ou 350MPa (limites de escoamento dos aços estruturais mais
comuns). Todo o material mencionado diz respeito a aços carbonos gerados por processo
de laminação a quente nas usinas; existem também aços galvanizados estruturais, que
são aqueles da família NBR 7008 ZAR, igualmente com resistência mecânica estipulada
e garantida (230MPa, 280MPa) aplicados a perfis formados a frio estruturais e a fôrmas
incorporadas às lajes mistas (steel deck).

Todo componente construtivo deve responder favoravelmente às solicitações de uso


com as quais lida. Um guarda-corpo, uma telha, uma parede divisória ou uma parede de
vedação externa de um edifício têm solicitações estruturais distintas, relacionadas a seu
uso. Embora não façam parte da superestrutura ou do sistema estrutural principal de um
edifício, esses elementos têm cada um sua responsabilidade e devem atuar de acordo com
suas solicitações. Uma parede interna tem determinados padrões de resistência a impactos,
menos rígidas, por razões óbvias (segurança, estanqueidade) que as externas. Nenhuma
delas é parte da estrutura do edifício. É de se esperar que o aço dos perfis formados a frio,
que estrutura uma parede a seco em divisórias internas, seja diferente em espessura e
requisitos estruturais daquele que estrutura um painel de uma parede externa construída
a seco. Guarda-corpos têm responsabilidades de segurança, assim como chapas, tubos

48
e perfis que estruturam bancadas, gradis e janelas. Estes são fabricados com aços não
estruturais, de chamada qualidade comercial ou SAE 1008, SAE 1010, SAE 1020, e têm
também excelente resistência mecânica, mas não têm um número garantido pelo fabricante,
podendo ser avaliados pelo beneficiador. Telhas galvanizadas são também normalmente
fabricadas com aços não estruturais (embora vençam o vão definido no espaçamento
entre terças) estabelecido pela ABNT na NBR 7008 ZC, em espessura mínima de 0,43mm
e revestimento de zinco mínimo de 245g/cm² de chapa. Independentemente da aplicação e
do material utilizado, cuidados de projeto devem sempre ser tomados para evitar situações
que comprometam a longevidade do material, quais sejam: acúmulo de umidade ou sujeira,
contato com metais que provocam pares galvânicos e corrosão induzida, etc.

5.2 Perfis estruturais

Cada partido arquitetônico e sua decorrente solução estrutural pode ser


abordado de maneira mais adequada por determinado sistema estrutural,
que, por sua vez, pode ser mais bem dimensionado com determinado tipo
de perfil. As soluções em aço evoluíram muito nos últimos anos e cobrem
hoje as mais variadas situações de projetos: dos grandes vãos normalmente
associados à sua aplicação às soluções de paredes autoportantes, passando
pela mais variada gama de malhas estruturais convencionais de pilares e vigas
em edificações de estruturas independentes com rendimentos e consumos
de aço bem mais viáveis que os observados há alguns anos.

Os tipos de perfil estrutural e suas principais características foram detalhados no capítulo


anterior. Esta seção procurará associar as aplicações dos perfis a certas características
de projeto, buscando auxiliar na escolha do perfil estrutural mais adequado às variadas
situações. A tabela abaixo traz um resumo dos principais perfis e suas aplicações. O mais
comum em uma situação real de projeto e obra é que ocorra uma combinação entre os
tipos de perfil, ou mesmo de material estrutural, cada qual desempenhando sua função da
melhor maneira possível e reforçando a viabilidade do conjunto.

A criatividade e a originalidade das soluções arquitetônicas certamente não estão


na aplicação direta dos produtos de pronta entrega, mas podem estar na maneira de
combiná-los. Desenvolver um projeto profissionalmente responsável pressupõe tanto o
conhecimento de informções técnicas elementares quanto pesquisas e troca de informações
técnicas com especialistas e colaboradores.

49
Perfis Matéria prima Sistemas estruturais Sistemas específicos
Pilares e vigas independentes, com vãos de até Estruturas muito leves com edifícios de 4
6 metros, mais comuns entre 2,50 metros e 5 pavimentos de até 25kg/m², transporte e montagem
BQ
metros. Treliças e sistemas mistos podem ampliar muito facilitados. Tipologias habitacionais e
muito esses limites. comerciais de pequeno porte.
Formados a frio
Paredes autoportantes, com guias, montantes e Sistemas construtivos totalmente industrializados,
vigotas ao longo dos planos de paredes e lajes. igualmente leves, com paredes estruturais e
BZ
Vãos normais até 4 metros ou 5 metros, com perfis galvanizados. Tipologias habitacionais e
recursos para ser ampliados, como treliças. comerciais de pequeno porte.
Soldados por alta freqüência, sem adição de Flexibilidade para desenvolvimento de seções I,
material. Pilares, vigas, estacas e tirantes em H, T ou seções com abas desiguais. Tipologias
Eletro-soldados BQ modulações com vãos de 3 metros a 12 metros, habitacionais e comerciais de pequeno e médio
podendo ser compostos em treliças e estruturas portes (+/-15 pavimentos).
mistas.
Pilares, vigas, estacas e tirantes em modulações Bom padrão de acabamento. Tipologias
com vãos de 3 metros a 12 metros, podendo habitacionais e comerciais de pequeno e médio
Laminados Tarugos ser compostos em treliças e estruturas mistas. portes (+/-15 pavimentos).
Mais pesados (kg/m) que os eletro-soldados
equivalentes.
Pilares, vigas, tirantes e outros em modulações Tipologias habitacionais e comerciais diferenciadas,
com grandes vãos e suporte de grandes cargas pontes e outros equipamentos. Podem responder
Soldados CG com ou sem composições em treliças e estruturas a qualquer situação customizada de projeto com
mistas. Perfis pesados não atendidos pelos seções variáveis.
anteriores.
Mais adequados a pilares, tirantes, com ótima Tubos sem costura têm bom padrão de acabamento
performance geométrica, e estruturas em e uniformidade, assim como os diversos tipos com
Tarugos
Tubulares treliças planas ou espaciais. Substituem fôrmas costura, praticamente sem limites dimensionais.
BQ/CG
nas soluções mistas quando preenchidos com
concreto.

CARACTERÍSTICAS:
planta modulada em 3,0 x 3,0m (CÉLULA 12 X 3)
colunas e vigas em perfis “caixa”
lajes e fechamentos pré-fabricados
Arquitetos: Sylvio Podestá e Mateus Pontes
Habitação popular

CARACTERÍSTICAS:
perfis laminados
estrutura enclausurada
Projeto: Oscar Niemeyer
Brasília, DF

CARACTERÍSTICAS:
planta modulada em 4 metros x 4 metros
perfis “caixa” 200 x 200 mm
pórticos rígidos
laje maciça e=8cm, por quadros
Arquiteto: Allen Roscoe
localização: Nova Lima, MG

5.3 Interfaces: sistemas construtivos industrializados e


convencionais

As soluções de transição entre os diferentes componentes construtivos devem


igualmente ser conhecidas e abordadas na fase de projeto. As interfaces mais preocupantes
estão entre estrutura e alvenarias ou sistemas industrializados de vedações e divisórias.
Elas visam atender a uma via dupla: transferência de esforços verticais, horizontais e

50
pesos próprios dos planos para estrutura e evitar a transferência das movimentações
estruturais do grid de sustentação para os outros planos construtivos. Os planos de vedação,
principalmente, têm material de custo elevado e responsabilidades construtivas maiores
que os planos internos das divisórias. A absorção das movimentação estrutural sem um
mecanismo de transição eficiente entre esses componentes pode gerar patologias e danos
físicos que comprometam a performance esperada da edificação.

O que um arquiteto deve ter consciência técnica ao projetar? Essa é a principal


questão que deve ser respondida nesta e em outras situações. As estruturas de aço,
como já visto, são mais leves que qualquer outra solução estrutural, o que lhes confere
outras características, como menor resistência natural a movimentações (menor inércia)
e conseqüente maior tendência a transferi-las aos demais subsistemas construtivos. As
especificações de cada transição dependem de sua situação de contorno, das características
construtivas de cada plano de vedação e de seu sistema de distribuição de cargas: por
exemplo, jogam-se esforços e cargas em cada pavimento e daí para os pilares e a fundação
ou se acumulam cargas, que serão transmitidas diretamente para as fundações no sistema
conhecido como paredes cortina. Concentrando atenções no comportamento de vedações
externas, qual a diferença entre fixar painéis de vedação sob o quadro estrutural ou ao
lado do eixo estrutural? Em abordagens anteriores, vimos a relação dimensional entre
essas duas estratégias técnicas de projeto.

Hotel, São Paulo


Modulação
6 metros x 12 metros
projeto: Roberto Candusso
detalhe de fixação e ajuste
dos painéis em GFRC

Habitação social, São Paulo


projeto: Usina
execução de alvenarias

Existem outras, como sistema de fixação, performance de vedação e mecanismos


de transferência de cargas e absorção de movimentação estrutural; todos esses são
diferentes em uma e outra situação. No exemplo ao lado, isto é, em instalações hoteleiras
em Caldas Novas/GO, a decisão de dispor as vedações por fora do eixo estrutural teve
suas interfaces definidas de forma diferente do que se a decisão fosse mantê-las sob o
quadro estrutural. Não existe certo ou errado, existem intenções de projeto que devem
ser abordadas cada uma com suas características. Comparativamente, pode ser dito que

51
essa estratégia diminui os pontos de contato da estrutura com a vedação e protege mais
a estrutura das intempéries, por exemplo. Seja qual for a decisão, as questões técnicas
devem ser abordadas com o especialista responsável em consonância com as intenções de
projeto.

Detalhe de fixação, ajuste e esforços nos painéis em concreto celular

Continuaremos concentrados nas vedações externas. Existem várias soluções


industrializadas para sua execução. Além do custo direto por área de fachada, cada uma
atua de maneira diferente diante das várias outras condicionantes de projeto e obra. Definir
entre uma ou outra, ou especificar apenas uma solução é uma decisão de projeto que deve
ser embasada pelas características de cada solução ante as predefinições do projeto. A
seguir, um exercício comparativo entre essas várias soluções e os principais parâmetros
técnicos que devem balizar a decisão de projeto entre uma ou outra solução. Novamente,
seria prudente lembrar que não existe certo ou errado.

52
Exercício semelhante pode ser feito levando-se em conta outros componentes
construtivos, como sistemas de execução de lajes, sistemas de cobertura, galpões pré-
engenheirados, etc.

Painéis de fachada no mercado brasileiro

Quantidade
Vão Velocidade de Fixação na
Composição Peso transportada Acabamento Esquadrias
máximo montagem estrutura
em carreta
Misturas no
375 a 500 Kg/m²
Concreto 12 a concreto; inserts
(e=15cm a 70 m2
maciço 18 m jateamento; metálicos
20cm)
pedras naturais
Diversos
200 a 280 Kg/m² Corte em
(misturas inserts metálicos
Concreto (e=15cm) a 10 a 120 m2/dia fábrica,
120 m2 na massa e e cantoneiras
alveolar 335 a 400 Kg/m² 14 m (4 a 6 pessoas) instalação na
texturas por soldadas
(e=25cm) obra
jateamento)
Jateado, pintura
lisa ou Corte em
Concreto com
120 a 220 Kg/m² 180 m2 texturizada, fábrica,
preenchimento 12 m 6 painéis inserts metálicos
(e=20cm max) (e=14,5cm) grafiatto, instalação na
de isopor/EPS
cerâmica, obra
pedras naturais
Agregados
GFRC* Podem vir
50 a 70 Kg/m² 360 m2 200 m2/dia lavados e parafusos
preenchido 6m instaladas de
(e=12cm) (e=12cm) (6 pessoas) pigmento passantes
com lã de vidro fábrica
(padrão “fulget”)
Fixação: buchas,
Todos os tipos
chumbadores
80 Kg/m² de revestimento,
Concreto 25 a 40 m2/dia fixados com
(e=10cm) a 240 m2 desde que inserts metálicos
celular 3a4m (1 pedreiro + 1 massa ou
120 Kg/m² (e=15cm) aplicados antes / ferros cabelo
autoclavado ajudante) espuma de
(e=15cm) da montagem
poliuretano
expandido

5.4 Tratamentos de superfície e revestimentos

Depois de fabricada, toda estrutura deverá ser sujeita a algum cuidado na preparação
de sua superfície e proteção contra corrosão ou incêndio por processos de revestimento.
Cada situação demanda uma postura técnica. Por exemplo: toda estrutura de aço fabricada
para ser montada a menos de 500 metros da orla marítima deve ter sua superfície limpa
por jateamento e receber pintura com nível mínimo de qualidade e espessura final da
película seca de tinta (epoxídica, alquídica, à base de poliuretano, etc).

Existem vários tipos de tratamento de superfície: limpeza química, limpeza abrasiva


manual e jateamento de granalha ou ‘sinter ball’. Outros tantos de revestimentos: pinturas
com tintas de várias naturezas; galvanização elétrica, por imersão a quente ou a fogo; pátina
ou proteção contra incêndio. Esta última é regida por norma própria e deve ser especificada
de acordo com avaliação de projeto sob seus condicionantes específicos. Estratégias de
projeto, muitas vezes simples, podem minimizar os impactos dos revestimentos no custo e
no cronograma de execução de uma obra. Cada uma dessas disciplinas é muito específica
e evolui constante e rapidamente, devendo ser abordadas por especialistas. Cabe ao
arquiteto definir o que esperar de contribuição de cada uma e conhecer as implicações de
determinadas opções de projeto perantes as exigências técnicas delas conseqüentes.

53
Tintas são dos produtos que mais rapidamente evoluem, desde as básicas
monocomponentes com base e acabamento alquídicos aplicadas sobre peças com limpeza
por banho químico até aquelas que são fundo e acabamento em um só produto e dispensam
qualquer tipo de limpeza prévia para perfeita ancoragem no metal base. Algumas já estão
disponíveis para ser aplicadas diretamente sobre peças em avançado processo de corrosão,
protegendo-as e, simultaneamente, corrigindo a patologia. Outras soluções crescem seu
apelo de mercado e estão sendo desenvolvidas, como aceleração e estabilização de pátinas
nos aços semelhantes aos processos desenvolvidos para chapas de cobre (metal patinável
com pátina em tom verde característico).

Enfim, esta disciplina demanda postura semelhante às outras na especificação, no


conhecimento, na pesquisa e na interação com especialistas.

Torre de Transmissão, França


Projeto: Marc Minram

Pórtico Praça do Patriarca, São Paulo


Projeto: Paulo Mendes da Rocha

5.5 Estratégias de projeto e considerações finais

O processo de desenvolvimento de um projeto sempre começa com inúmeras


opções, necessidade de fazer escolhas e tomar decisões, avaliar possibilidades, estudar os
caminhos possíveis e os que fazem sentido. A formação e o amadurecimento profissional
para lidar com essas possibilidades têm várias faces, algumas delas abordadas pelos
tópicos propostos. Existem perguntas que devem ser constantemente colocadas quando
há possibilidade de transformação intensa de determinada realidade. Quais seriam as

54
principais questões relativas à construção civil no Brasil? Por que países com melhores
níveis de desenvolvimento socioeconômico e tecnológico têm índices muito maiores de
industrialização de seus sistemas construtivos? As respostas não passam apenas pelos
parâmetros inesquecíveis nas freqüentes vezes em que são respondidas, como baixo custo
e trabalho intenso. Também passam pela qualidade do ambiente de trabalho, redução e
racionalização dos processos, valorização efetiva do trabalhador e redução dos custos de
longo prazo decorrentes de métodos arcaicos e seus impactos ambientais latentes.

Como já foi dito, uma abordagem ambiental correta, só para ficar neste aspecto, não
passa mais pela reciclagem de material especificado ou pelo aproveitamento de energias
e forças naturais presentes em determinadas situações. Sua real abordagem emprega
métodos de controle e transporte eficazes apenas do que será utilizado no canteiro de obras
e preocupa-se com especificação de produtos e processos com baixo consumo energético,
baixa emissão de poluentes e outras condicionantes tão específicas quanto várias outras
disciplinas já mencionadas que devem sempre ser abordadas no âmbito específico de um
projeto.

Defender posições de projeto perante o cliente, principal responsável pela existência


da tarefa de projetar algo, requer argumentos não para persuadi-lo mas para explicar o
sentido de determinadas posições e trazê-lo para dentro do processo. Qualquer direção
hoje parece mesmo ser tecnicamente possível. Diante de tal gama de opções, nunca é
demais lembrar que a principal delas talvez seja manter-se responsável, coerente e atento
às melhores possibilidades e potencialidades de cada situação.

Não necessariamente existem apenas soluções fechadas. Alternativas e sistemas


híbridos, transitórios ou não, podem e devem ser implantados, como industrialização
parcial ou industrialização do canteiro de obras, soluções estruturais mistas com processos
complementares. O que há junto das necessidades de ruptura com o modo de transformação
atual dos ambientes urbanos brasileiros é a necessidade de valorização dos processos de
planejamento e projeto para transformação mais rápida e qualificada do cenário caótico
que cerca qualquer cidade do Brasil, implementando possibilidade de desenvolvimento
realmente sustentável.

Habitação modular, São Paulo


Projeto: Joan Villà
Industrialização do canteiro e soluções mistas

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Habitação modular, Rio de Janeiro, projeto: Nicholas Grimshaw
construção industrializada, leve, de alta performance ambiental

Escultura, Belo Horizonte


Artista: Tomie Otake
Balanços de 22 metros e 18 metros, peças curvas e apoio único

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bibliografia complementar ao material em rede:

DIAS, Luiz Andrade de Mattos. Aço e Arquitetura: Estudo de Edificações de Aço no Brasil.
Editora Zigurate, 2001.

DIAS, Luiz Andrade de Mattos. Estruturas de Aço: Conceitos Técnicas e Linguagem.


Editora Zigurate, 1997.

Manuais da Construção Metálica:

Alvenaria: Interfaces entre alvenaria e estrutura metálica. CBCA, Centro Brasileiro da


Construção em Aço, 2002.

Painéis de Vedação. CBCA, Centro Brasileiro da Construção em Aço, 2003.

Tratamento de Superfície e Pintura. CBCA, Centro Brasileiro da Construção em Aço, 2004.

Resistência ao Fogo das Estruturas de Aço. CBCA, Centro Brasileiro da Construção em


Aço, 2005.

Light Steel Framing. CBCA, Centro Brasileiro da Construção em Aço, 2006.

Transporte e Montagem. CBCA, Centro Brasileiro da Construção em Aço, 2006.

Interfaces: Aço-Concreto. CBCA, Centro Brasileiro da Construção em Aço, 2003.

Bibliografia de referência futura:

Revista Módulo - Especial Sérgio Bernardes. Edição de Outubro/novembro de 1983.

ROSSO, Teodoro. Racionalização da Construção. Editora FAU-USP, 1990.

ROSSO, Teodoro. Teoria e Prática da Coordenação Modular. Editora FAU-USP, 1976.

SÁ, Ricardo. Edros. Pró-Editores, 1982.

ZEVI, Bruno. História de la Arquitectura Moderna. Editora Gustavo Gilli, 1950.

HANSJURGEN, Sontag; HART, Franz; BORSTEL, Joachim; HENN, Walter. El Atlas de la


Construcción Metálica. Editora Gustavo Gilli, 1976.

ENGEL, Heino. Sistemas Estruturais. Editora Gustavo Gilli, 2001.

ZUMTHOR, Peter. Thinking Architecture. Princeton Architectural Press, 1998

LOPES, João Marcos. Arquitetura da Engenharia ou Engenharia da Arquitetura. João


Marcos Lopes, Marta Bogéa e Yopanan Rebello. Ed.Mandarim, 2006.

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