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ELEIÇÕES 2018 ›

Bolsonaro mentiu ao falar de livro de educação sexual no


‘Jornal Nacional’
Candidato do PSL mostra publicação que seria parte do 'kit gay', mas título
nunca foi comprado pelo MEC nem foi incluído no projeto Escola sem
Homofobia
RICARDO DELLA COLETTA

São Paulo - 30 AGO 2018 - 00:08 CEST


Jair Bolsonaro durante a entrevista no 'Jornal Nacional' REPRODUÇÃO (REDE GLOBO)

No que talvez tenha sido o momento mais tumultuado da sua


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entrevista no Jornal Nacional, na noite desta terça-feira, Jair
Bolsonaro (PSL) mostrou às câmeras por poucos segundos um livro
intitulado Aparelho sexual e Cia, cuja capa traz o desenho de um
menino de topete loiro olhando um tanto quanto assustado para o
que tem dentro das próprias calças. Seria só mais um dos
“Bolsonaro
inconscientemente incontáveis episódios polêmicos de um candidato que tem
queria divulgar meu
esbravejado contra o que chama de campanha para o ensino de
livro sobre educação
sexual”, diz escritora "ideologia de gênero" nas escolas do Brasil, não fosse um detalhe:
praticamente tudo o que o candidato falou quando se referiu à
publicação não encontra respaldo na realidade.

"Tomei conhecimento [em 2010] do que estava acontecendo lá


Bolsonaro faz aceno [num corredor da Câmara dos Deputados]. Eles tinham acabado o
tosco às mulheres e é nono Seminário LGBT Infantil", disse Bolsonaro, após ter sido
nocauteado por
perguntado pela jornalista Renata Vasconcellos sobre suas
Marina
manifestações prévias de caráter homofóbico. "Estavam discutindo
ali, comemorando o lançamento de um material para combater a
homofobia, que passou a ser conhecido como kit gay. Entre esse
material estava esse livro lá. Então, o pai que tenha filho na sala
agora, retira o filho da sala, para ele não ver isso aqui. Se bem que na
biblioteca das escolas públicas tem", emendou, para logo ser
Programa de Marina interrompido pelo âncora do JN William Bonner, que o lembrou que
avança em direitos
não estava permitido mostrar qualquer material gráfico durante a
LGBT, mas ativistas
cobram propostas entrevista.
concretas

Bolsonaro deu a entender na sua declaração que o livro, de autoria


do suíço Philippe Chappuis (conhecido como Zep) e da francesa
Hélène Bruller, formava parte do projeto Escola sem Homofobia, que
recebeu a alcunha de kit gay e que criou uma forte polêmica no
“Eu me identifico primeiro mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff. Basicamente,
mais com o Amoêdo,
tratava-se de um kit de apoio para a formação de professores em
mas dependendo das
pesquisas eu vou temas relacionados aos direitos LGBT, como o combate à violência e
acabar votando no
ao preconceito no ambiente escolar. A pressão de grupos
Alckmin”
conservadores, no entanto, fez com que a então presidente vetasse
a proposta, e as peças de conscientização nunca saíram da gaveta.
Logo no estreia da administração Dilma, a bancada evangélica dava uma clara
demonstração de força.

Acontece que o livro em questão nunca fez parte do projeto Escola sem Homofobia. E
mais: sequer foi adquirido ou fez parte de algum programa do Ministério de Educação.
"Ao contrário do que afirmou erroneamente o candidato à presidência em entrevista ao
Jornal Nacional na noite de 28 de agosto, ele [o livro] nunca foi comprado pelo MEC,
como tampouco fez parte de nenhum suposto kit gay", disse, em nota, a Companhia das
Letras, editora que lançou Aparelho sexual e cia em 2007. O MEC confirmou a
informação. O que há registrado é uma compra, por parte do Ministério da Cultura em
2011, de apenas 28 exemplares da publicação para o programa Livro Aberto. Os livros
foram entregues a diferentes bibliotecas públicas do País. Segundo a pasta da Cultura,
nenhum foi distribuído para escolas.

Outro ponto da resposta de Bolsonaro contestado logo após o fim da entrevista foi a
menção a um suposto Seminário LGBT Infantil. Trata-se do Seminário Nacional LGBT,
realizado anualmente por comissões da Câmara que atuam na defesa dos direitos
dessas comunidades. De acordo com o deputado Jean Wyllys (PSOL), coordenador da

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