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ÉTICA E ALTERIDADE NO PERSONALISMO DE

MOUNIER *

Adão José Peixoto **

RESUMO: O personalismo de Mounier é uma crítica radical aos fundamentos da sociedade


capitalista – a exploração, a dominação, o individualismo, a primazia do mercado e do lucro e
a desumanização –, que negam por completo a ética e a alteridade. Para Mounier, essa
realidade configura o que ele denomina “desordem estabelecida”, cujas consequências levaram
a humanidade a uma profunda crise civilizatória. Para enfrentar essa situação, ele propõe uma
revolução personalista e comunitária, visando a recolocar a preocupação com a ética e a
alteridade como fundamentos de uma sociabilidade mais humanizada.
PALAVRAS-CHAVES: Individualismo; Ética; Alteridade; Personalismo.

ABSTRACT: Mounier's personalism presents a radical critique of the foundations of


capitalist society: exploitation, domination, individualism, primacy of the market and of the
profit and dehumanization. These foundations deny ethics and otherness altogether. For
Mounier, this reality configures what he calls "established disorder," and its consequences
have led humanity to a profound civilizing crisis. Hence the need to reinstate concern with
ethics and otherness as the foundations of a more humanized sociability. The confrontation
so that this occurs, according to Mounier, is personalistic and community revolution, that
must have as reference ethics and otherness.
KERYWORDS: Individualism; Ethics; Otherness; Personalism.

* Artigo elaborado a partir da tese “Ética e alteridade em tempos de (des)humanização: um estudo a


partir do personalismo de Emmanuel Mounier”, apresentada à Faculdade de Educação da UFG para
progressão a função de professor titular, em setembro de 2018.
** Mestrado em Filosofia pela PUC-Campinas e Doutorado em Educação pela Universidade de São
Paulo – USP. Atualmente é Professor Associado da Faculdade de Educação da Universidade Federal
de Goiás, atuando na graduação em pedagogia. É membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Filosofia e
Educação da Faculdade de Educação da UFG.
ISSN: 2447-8806
Ética e alteridade no personalismo de Mounier

Introdução

O personalismo de Mounier coloca para a filosofia e para o engajamento político um


problema urgente, o da ética e da alteridade, problema posto pela história trágica da
humanidade. Elegendo a relacionalidade como a experiência originária, fundante, o
personalismo a entende como único ato de orientação de uma verdadeira totalidade do existir
humano capaz de fundar uma nova civiliza.
Em função dessa preocupação com o humano, sobretudo com a ética e a alteridade, o
personalismo de Mounier exerceu forte influência intelectual e política na Europa do pós-
Guerra, na África e na América Latina. Seus temas foram retomados nas encíclicas sociais de
Mater et Magistra, 1961, e Pacem in Terris, 1963, de João XXIII e Paulo VI, assim como no Concílio
do Vaticano II, realizado no período de 1962 a 1965. Na Europa, na América Latina e na África
influenciou o sindicalismo e movimentos sociais de origem cristã e ainda movimentos de
atuação dos leigos, como a Ação Católica (AC) e suas diversas seções: a Ação Católica
Operária (ACO), a Juventude Operária Católica (JOC), a Juventude Estudantil Católica
(JEC), a Juventude Agrária Católica (JAC), a Juventude Universitária Católica (JUC) e
outros.
Mounier era do tipo de pessoa que não conseguia se sentir tranquilo se não pensasse
e agisse sobre o seu tempo. Por isso, assume também para si a causa, a dor, o sofrimento, a
angústia “[...] dos pobres e oprimidos, volta-se para as vítimas da injustiça, da desigualdade,
independente de credos e outras particularidades” (SILVEIRA, 2010, p. 62).

1. A ética personalista

O termo ética deriva da palavra grega ethos, que significa modo de ser de uma pessoa,
comportamento, conjunto de valores e princípios que norteiam a conduta humana na
sociedade. Ethos é uma derivação de dois outros vocábulos gregos: êthos com significado de
costumes, modo de agir habitual; e éthos no sentido de morada, abrigo. Pode-se, portanto,
dizer que a ética significa bons costumes, modo de ser ou caráter de uma pessoa, é a casa, a
morada, a acolhida, o abrigo protetor e seguro da vida do homem em sociedade (cf. LIMA
VAZ,1993, p. 12-13). Mas também diz respeito ao estudo de um certo tipo de experiência
humana, ao comportamento moral das pessoas. A moral (do latim mores) significa costumes,

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normas, leis, regras, hábitos, que regem a vida em sociedade. Assim, o objeto de investigação
da ética é a moral. A partir do ethos, o espaço do mundo humano (sociedade) torna-se
habitável para o homem, torna-se espaço de afirmação do humano. Com o ethos, a
solidariedade, a cooperação e a alteridade passam a ser referência da vida em sociedade,
contrapondo-se ao egoísmo, ao individualismo, à busca esquizofrênica pelo lucro e à barbárie,
esta última expressa nos atos de violência física e psicológica, na miséria e na fome.

A ética é, assim, a excelência do agir humano, o agir humano que não fica indiferente
aos atos desumanos. Trata-se do agir humano voltado para o que é justo e bom.

A referência da ética é o outro. Portanto, o ser humano é um ser capaz de refletir sobre
a sua própria existência e o seu agir no mundo. Nós, seres humanos, podemos fazer uma
reflexão ontológica e ética, como partes constitutivas da nossa antropologia. Vivemos num
mundo, inseridos em um período histórico muito complexo no qual a ética perde suas
referências universais e lança a humanidade numa crise de sentido. Muitos chamam esse
momento histórico de modernidade; outros já dizem ser a pós-modernidade, pois não se
acredita mais na ilusão moderna. E sobre ela, faremos nossa reflexão.

A ética é, por conseguinte, a resposta à interpelação que o Outro nos dirige. É uma
relação inter-humana. Por isso, a ética é a escuta e o atendimento à chamada do Outro, o
oprimido, seja pelas estruturas econômicas, seja pelas políticas. É a atitude de
responsabilidade com o Outro. Uma experiência ética fundamenta-se nas múltiplas respostas
resultantes da nossa interface com o Outro.

A ética, para o personalismo, é expressão da pessoa como liberdade e como relação.


Por isso Mounier (1993, t. II, p. 428) afirma: “Não tocamos no coração da ação nem no da
deliberação, como o querem os intelectualistas, nem nos movimentos do corpo, como o
afirmam os positivistas, mas no da decisão, pela qual se exprime o ato criador da liberdade”.

Para Mounier, os seres humanos sem a vivência dos valores “não existiriam
plenamente”. Ressalta ainda:

[...] os valores só acedem, para nós, à existência através do fiat veritas tua
pronunciado pelas pessoas. Não constituem um mundo feito que
automaticamente se realiza na história, como pretendem os preguiçosos
mitos da “força invencível da verdade’’, da “marcha irresistível da história”.

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Não se “aplicam” à realidade como princípios constituídos. Revelam-se nas


profundezas da liberdade. (MOUNIER, 1964, p. 131).

Erro e acerto, ato bom e mal, fazem parte da ação do homem, porque ele é ser de
liberdade e de inacabamento. Entretanto, o que o personalismo de Mounier questiona é a
liberdade sem responsabilidade, o “abandono ao automatismo impessoal do instinto ou do
hábito, à dispersão, ao egocentrismo, à indiferença e à cegueira moral”. É aí que mal moral
começa, com a “perversão profunda da liberdade” (MOUNIER, 1964, p. 141).

Mounier percebia no contexto histórico em que ele vivia, e percebemos no nosso atual
contexto histórico, que a ética perdeu suas referências universais e lança a humanidade numa
crise de sentido. O que fazer para enfrentar essa crise ética e de sentido? Mounier responde
que o caminho é o de uma revolução pessoal e comunitária como forma de recuperar a
individualidade e a universalidade do homem.

Mounier propõe uma reforma estrutural e moral. Uma reforma dos valores que
orientam o agir humano em sociedade. Para ele, era preciso mudar a estrutura econômica,
torná-la mais justa, mas também reformar os valores que norteiam a sociedade. Apenas a
reforma das estruturas econômicas, acreditando que uma vez mudada os valores também
mudarão, não garante essa mudança, como comprovaram as revoluções comunistas, que
acreditavam que mudando a estrutura econômica mudariam também os valores.

A mudança deve ser tanto uma intervenção na esfera axiológica quanto na esfera
econômica. Desde o tempo de Mounier até nossos dias, as sociedades vêm passando por uma
profunda crise humanitária, um profundo processo de desumanização, uma crise provocada
pelos valores burgueses, valores a serviço do capital e do poder político e não do homem. No
tempo de Mounier as consequências dessa crise foram a Segunda Guerra Mundial, as bombas
atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, armas químicas contra os vietnamitas, Auschwitz,
desemprego, aumento da miséria e da fome.

Atualmente assistimos ao desamparo e desespero de milhões de refugiados de países


africanos, asiáticos e latino-americanos; a utilização de armas químicas contra pessoas, como
ocorre na Síria; os conflitos armados entre judeus e palestinos; a guerra civil na Ucrânia; os
conflitos armados provocados pelos grupos religiosos no Oriente Médio; a separação a força
de crianças imigrantes de suas mães e prisão delas em jaulas, pelo governo norte-americano; o

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aumento do desemprego, com a substituição acelerada da mão de obra humana pela máquina;
o aumento da fome e da miséria; os milhões de sem-teto que perambulam pelos grandes
centros urbanos sem amparo do poder público; os milhões de sem-terra que lutam por terra
para produzir e ter uma vida digna; a juventude em situação de privação de liberdade
encarcerada em abrigos com condições desumanas; o submundo das prisões que se
transformaram em escola do crime; a pressão dos capitalistas e de seus representantes para
acabar com as políticas de inclusão social; a retirada de direitos trabalhistas, como ocorreu no
Brasil recentemente com a reforma da trabalhista e as tentativas de flexibilização das leis
contra o trabalho escravo; as constantes ameaças de privatização do ensino universitário
público e da assistência à saúde.

O sentido ético presente no pensamento de Mounier estabelece uma interação


profunda entre a pessoa e o mundo, pessoa e o outro, corpo e espírito, pessoa e valores. Uma
compreensão ética que não percorre uma via apenas racional (cf. SANTANA, 2009). Percorre
também um caminho vivencial, um caminho que traduz o modo de ser e modo de existir. O
homem enquanto ser ético no pensamento de Mounier é o ser do cuidado de si e do Outro. A
sensação de dever para com o Outro nos surge porque somos humanos e não por imposição
divina, o que significa contribuir para o retorno do homem e da sociedade ao abrigo do ethos.

Essa ética perpassa os textos de Mounier. Não é possível desvincular sua obra dessa
concepção ética. Trata-se de uma concepção que é também uma expressão da sua
compreensão da pessoa como ser imanente e transcendente, de condicionamento e de
engajamento. Assim, para ele a ética

[...] pressupunha a liberdade, condicionada, sem dúvida, mas que fazia a


pessoa responsável pelo seu agir. A eticidade da ação se configurava a partir
da articulação dialética da vontade e da liberdade, do lado da imanência, com
seus condicionamentos existenciais; do lado da transcendência, com a
eminente dignidade da pessoa humana, fonte de todos os valores que devem
nortear nossas ações. (SEVERINO, 2009, p. 159).

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2. Alteridade no personalismo

Do latim alterĭtas, alteridade é a condição de ser outro. O vocábulo alter refere-se ao


“outro” na perspectiva do “eu”. Trata-se de uma categoria que rompe com o pensamento
filosófico que colocava a figura do “ego” na centralidade do pensamento e da existência. Em
sua essência, a alteridade ou outridade significa a condição do que é o outro, do que é distinto
de mim. A implicação dessa categoria nos remete à necessidade de nos colocarmos no lugar do
outro, de desenvolver o sentimento de empatia pelo outro, diferente de mim.
O conceito de alteridade exprime descobrimento da concepção do mundo e dos
interesses de um “outro”. A alteridade implica colocar-se no lugar “outro”, alternando a
perspectiva própria com a alheia. Ela representa a abertura para o outro, o entendimento de
que o diálogo e a humanização tanto do eu como do outro só são possíveis se considerarmos a
alteridade.

Alteridade expressa a qualidade ou estado do que é outro. Um dos seus princípios


fundamentais é o de que o homem é uma relação de interação e dependência com o outro. Por
esse motivo, o "eu" na sua forma individual só pode existir mediante um contato com o
"outro". A alteridade implica que uma pessoa seja capaz de se colocar no lugar do outro, em
uma relação baseada no diálogo e de compromisso, na valorização das diferenças culturais,
que busca a superação dos determinismos socioeconômicos e culturais que anulam a sua
condição de humanização.

A alteridade é a interação entre o eu e o outro, o além de mim. Esse conceito parte do


pressuposto de ser o homem um ser social, ser interdependente dos demais homens de seu
contexto social. Parte do pressuposto de que o mundo individual só existe diante do
contraste com o mundo do outro.

A alteridade é uma tarefa ética porque provoca a reflexão e ação sobre a condição
humana desse outro, considerando que o outro deve ser visto como um ser humano ao mesmo
tempo igual e diferente de mim. Refere-se à experiência que conota a conduta ética de
perceber, a partir das condições do outro, do mundo em que ele se insere, que é fruto de suas
experiências, seus hábitos, sua história, suas privações e suas possibilidades.

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Considerar a alteridade é aceitar o convite para ser agente de uma mudança social que
contribua para superar a ideia do eu e do outro querer assumir a condição de opressor. Essa
busca da condição de opressor só será mudada com o sentimento de alteridade. Esse
sentimento de alteridade se constrói e se realiza de modo contrário à lógica hegemônica,
visando problematizar a experiência não dos mais fortes, mas dos mais fracos, dos oprimidos.
O sentido de alteridade aqui é o da pessoa enquanto afrontamento, engajamento,
comunicação, liberdade e compromisso, como propõe Mounier (1964).

Podemos perceber em Mounier um esforço para pensar e vivenciar a experiência do


encontro inter-humano. Nesse encontro, o eu estabelece uma relação, um encontro com o
Outro não apenas para saber algo de, para conhecer alguma coisa, um encontro meramente
gnosiológico, mas um encontro vivencial, uma relação de acolhida. A relação eu-Outro é
irredutível, o encontro não se reduz ao que é pragmático, é ato puramente humano, é
transcendência de toda atitude de esvaziamento da humanidade do outro.

A alteridade se constrói na comunicação e no afrontamento na experiência do outro.


Ela é autonomia e, simultaneamente, abertura ao outro. É desafio de ruptura com o modelo de
nossa sociedade individualista, hedonista, permissiva, consumista, pragmática. Mounier
clama por uma libertação do homem e denuncia os contravalores da sociedade burguesa.

3. Ética e alteridade e o refazer a renascença

Ao se analisar a crítica de Mounier à civilização burguesa, é possível perceber que ele


entende que, com o capitalismo, pela primeira vez na história a pobreza, a exclusão social e a
marginalização cresciam na medida em que o capital aumentava a sua capacidade de produzir
e acumular riquezas por meio da exploração do trabalhador. Quanto mais a sociedade
desenvolve a capacidade de produzir mais bens e serviços, tanto mais aumentavam a miséria,
a fome e o abandono do homem. A civilização fundada pelo capitalismo, pelos princípios
liberais e positivistas, pelo espírito burguês e pela lógica do mercado se revela, na avaliação de
Mounier, uma civilização decadente. Estamos, assim, segundo a avaliação de Mounier, diante
de uma crise civilizatória. Crise que teve seu início na renascença. Daí a necessidade de se
refazer a renascença.

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Na obra Révolution personnaliste et communautaire, Mounier diz que, para formar uma
civilização comunitária, é necessário “refazer a renascença”, ou seja, fazer a conciliação do
espiritual e do material. Para isso, parte da problemática da crise e procura encontrar uma
solução para a personalização da sociedade. O ponto de partida é a compreensão da crise que
assolava a Europa em todos os domínios, da crise que é fruto das guerras mundiais e do abuso
do poder do lado do Estado, da ganância do ter, para chegar à formação de uma comunidade
espiritual com rosto humano onde todos têm direito, voz e vez.

Mounier, na obra Qu´est-ce que le personnalisme? (1990, t. III), diz que a crise que assolava
a Europa era explicada de duas maneiras: os marxistas apontavam que a crise era econômica,
crise de estrutura, e que mudando a economia o enfermo se recuperará; os espiritualistas
referiam que era uma crise do homem, crise dos costumes, crise de valores e, que, para superar
tal situação, era necessário mudar o homem, assim a sociedade melhorará. Com isso Mounier
diz que, assim como o homem é um ser dotado de matéria e espírito inseparável, a crise
também era total, tanto material como espiritual. A pessoa não se reduz apenas à dimensão
econômica, ela é um ser social, político, religioso.

Mounier, ao discutir a “desordem estabelecida”, afirma que ela e a crise civilizatória


que tomou conta do ocidente são consequências do capitalismo. Chega a sustentar que em
toda a história jamais houve um tirano que repousasse tanta “ordem” sobre uma desordem:
“jamais tirano algum dispôs de poder tão universal de esmagar homens, pela miséria ou pela
guerra, de um ponto a outro da terra, e nenhum tirano acumulou no silêncio da normalidade
tantas ruínas e injustiças” (MOUNIER, 1992, t. I, p. 427). O capitalismo reduziu os
trabalhadores à miséria, aviltando suas almas, impondo-lhes a sujeição a qualquer situação
para poder manter a sobrevivência.

O capitalismo, que tem por fundamento os princípios e o otimismo da ideologia liberal,


que justifica a ordem burguesa, mascara as contradições sociais e dá sustentação à “desordem
estabelecida”. É uma ideologia porque se constituiu num

sistema de crenças e convicções [...]. Todo sistema de convicções tem como


base um conjunto de princípios ou verdades, aceitas sem discussão, que
formam o corpo de sua doutrina ou o corpo de ideias nas quais ele se
fundamenta. Abordaremos alguns desses princípios, os mais gerais, os que
constituem os axiomas básicos ou os valores máximos da doutrina liberal.

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São eles: o individualismo, a liberdade, a propriedade, a igualdade e a


democracia. (CUNHA, 1980, p. 28).

Não é por acaso que o individualismo é o primeiro dos seus princípios. O


individualismo

acredita terem os diferentes indivíduos atributos diversos e é de acordo com


eles que atingem uma posição social vantajosa ou não. Daí o fato de o
individualismo presumir que os indivíduos tenham escolhido
voluntariamente (no sentido de fazerem aquilo que lhes interessa e de que
são capazes) o curso que os conduziu a um certo estágio de pobreza ou
riqueza. (CUNHA, 1980, p. 28-29).

Com isso o liberalismo não só aceita a sociedade de classes e as condições de


miserabilidade a que muitos são submetidos como apresenta argumentos que “legitimam e
sancionam essa sociedade” (CUNHA, 1980, p. 29). Atribui unicamente ao seu esforço,
dedicação e vontade do homem pelo seu fracasso ou não com relação à sua posição social.
Desse modo, o liberalismo ignora que o fator que é responsável pelo surgimento e manutenção
de uma sociedade de classes é a forma desigual e injusta como a riqueza produzida pela
sociedade é dividida. Essa atitude conservadora e reacionária pode ser constatada, por
exemplo, no pensamento de John Locke, um dos maiores expoentes do liberalismo, quando
trata da educação, como afirma Harold Laski:

Para Locke, o mundo já está dividido, no que diz respeito à educação, nas
duas classes fundamentais de ricos e pobres. Para os primeiros, a finalidade
da instrução é dotá-los da capacidade de governar, quer os negócios do
Estado, quer a administração de seus negócios particulares; para os
segundos, uma virtuosa e útil obediência. (Apud CUNHA, 1980, p. 36).

Outro princípio básico do liberalismo que reforça essa visão conservadora e


reacionária de justificação da ordem burguesa é o da propriedade. Cunha (1980, p. 31) afirma
que Locke considera que o Estado existe para

proteger os interesses do homem que, pelo seu esforço, acumulou bens e


propriedades, pois como disse ele, Deus fizera o mundo para “uso dos

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industriosos e racionais”, e o Estado existe para protegê-los em sua


exploração do mundo.

Assim, conforme o liberalismo, a função do Estado é proteger o capitalista e suas


propriedades. Quando afirma que os bens e propriedades são resultado do esforço do
capitalista, ignora também que, como Marx e Engels tão bem demonstraram, são frutos da
mais-valia, da exploração do trabalhador. Não satisfeitos em defenderem o papel do Estado
como guardião da propriedade, os liberais também colocam Deus como sua proteção, quando
Locke afirma que Deus fizera o mundo para "uso dos industriosos e racionais".

O capitalismo caracteriza-se pelo

primado da produção (o homem a serviço da economia), pelo primado do


dinheiro (primado do capital sobre a produção e o reino da especulação),
pelo primado do lucro, urgindo então um mecanismo de opressão:
concentração de poderes nas mãos de poucos, dirigida por interesses
privados. (SILVEIRA, 2010, p. 57).

O capitalismo destrói todos os “outros reinos do espírito livre”, da ética, da alteridade,


do trabalho honesto e criativo, da ação desinteressada; transforma o dinheiro no principal
valor da sociedade, porque consagra o homem pela medida dos bens que possui. Com isso, o
egoísmo se instala no coração do homem.

Se o capitalismo oferece o reino da riqueza, também produz o reino da miséria, do


egoísmo e da luta de classe. Daí a crítica de Mounier com relação ao mundo do trabalho no
sistema capitalista, que transformou o trabalho numa mera mercadoria, a serviço de troca e da
acumulação de capital, retirando-lhe “toda sua beleza e plenitude, sufocando o homem,
tornando-o próximo a uma máquina” (SILVEIRA, 2010, p. 58).

O capitalismo passou a exercer o seu poder sobre o mundo, sobre a natureza e sobre os
homens. Transformou-se não só num sistema econômico, mas também político e cultural.
Como sistema cultural passou a ser o modo de ser e agir humano, ethos, burguês, que forjou a
criação do homem como indivíduo. Desse modo, o capitalismo passa a ser um sistema de

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contradições por excelência. Os liberais defensores do capitalismo caem também em


profundas contradições

Do direito à responsabilidade, o capitalismo fez um direito ao lucro e à impunidade.


Pretende defender a pessoa e a esmaga sob o mecanismo anônimo do dinheiro; a liberdade, ele
abafa debaixo da guerra econômica, da exploração social e das oligarquias; pretende defender
a iniciativa, mas concede-a somente àqueles que no regime já são senhores; do risco, ele
também se defende, mas o faz por meio de uma solidariedade de gângsteres, em que começam
a entrar os Estados. Critica-se a confusão, e disso o capitalismo tira os argumentos para
rejeitar a organização coletiva: mas onde está o regime no qual qualquer um, indistintamente,
ocupa-se de qualquer coisa, menos nos conselhos de administração e nos seus governos?
(MOUNIER apud SILVEIRA, 2010, p. 59).

Para Mounier, o regime capitalista representa a desumanidade e a dissimulação sob o


silêncio e o anonimato. Ele é tirano por excelência, já que é responsável pelas crises, guerras, a
corrupção, as greves e os ódios (MOUNIER apud MOIX, 1968, p. 63). Mounier busca apontar
a incoerência do individualismo forjado pelo capitalismo. Seu questionamento é
especialmente uma crítica à incoerência no campo antropológico. O que o individualismo
liberal propunha era a formulação de uma nova visão de homem. Surgiu dos embates com a
ordem medieval em defesa de certos direitos que até então eram ignorados. Apesar de
reconhecer aspectos importantes no pensamento liberal, como a defesa da dignidade humana
como um valor inviolável, Mounier denuncia o individualismo como visão empobrecida do
homem, já que traz como fundamento a visão atomista do homem que trouxe graves
consequências para a humanidade, quando fundou a sociabilidade a partir dessa antropologia
(cf. ROCHA, 2010).

A crítica de Mounier ao individualismo é radical. Podemos constatá-la quando ele o


conceitua:

O individualismo é um sistema de costumes, de sentimentos, de idéias e de


instituições que organiza o indivíduo partindo de atitude de isolamento e de
defesa. Foi o individualismo que constituiu a ideologia e a estrutura
dominante da sociedade burguesa ocidental entre o século XVIII e o século
XIX. O homem abstrato, sem vínculos e nem comunidades naturais, deus
supremo no centro de uma liberdade sem direção e sem medida, sempre
pronta a olhar os outros com desconfianças, calculismo ou reivindicações em

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relação aos outros, ao lado de instituições reduzidas a assegurar a


convivência mútua dos egoísmos. Ou o seu melhor rendimento pelas
associações viradas para o lucro: eis a forma de civilização que vemos
agonizar, sem dúvida uma das mais pobres que a história já conheceu. É a
própria antítese do personalismo e o seu mais direto adversário.
(MOUNIER, 1964, p. 61-62).

Para Mounier, as pretensões do liberalismo burguês serviam apenas para mascarar um


egoísmo racionalizado. Se, por um lado, o individualismo serviu de base para uma luta da
burguesia contra um regime que esmagava a pessoa, por outro lado, para Mounier (1992),
também é verdade que os burgueses se fecharam numa visão de indivíduo que trazia em si
sementes de decadência: o isolamento e o egoísmo. Daí afirmar que o individualismo em sua
liberdade suprema vê o outro com desconfiança e calculismo. Por isso as instituições que têm
como fundamento o individualismo se reduzem a “assegurar a convivência mútua dos
egoísmos” (MOUNIER, 1964, p. 62). Para Mounier, essa visão de homem e essas instituições
jamais conseguirão fundar uma sociabilidade humanizada, porque sua concepção atomizante
do homem é uma abstração.

Dessa forma, como resposta a tais concepções, o personalismo propõe uma “revolução”
total de tudo o que leva à escravização da pessoa, visto que o despertar do sentido
comunitário brotará de uma experiência da comunitária.

Mounier questiona os fundamentos da sociedade capitalista e das sociedades


totalitárias e suas consequências. Para ele, a racionalidade que as engendra revela o
esquecimento do humano. Essa racionalidade instrumental, ou na avaliação de Mounier,
"desordem estabelecida", racionalidade despersonalizada, se transformou num instrumento de
desumanização e, portanto, de negação da condição humana do homem. Com isso,
evidenciou-se a crise da razão moderna, revelando os limites do sujeito moderno e suas
certezas, consequentemente, os limites do ideal de progresso científico e econômico sob o
qual se estruturou o mundo ocidental. A lógica do capital que se transformou no fundamento
do mundo ocidental é tomada como único modelo da existência humana.

Por conseguinte, percebemos o desvio axiológico do homem moderno. A existência


humana está ameaçada por valores que estão a serviço do mercado, do consumo, do lucro e da
acumulação do capital. Isto torna a sociedade voltada para o mercado, distante de sua
concepção primeira e vocação por excelência, que é a de voltar-se para a pessoa. Com essa

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racionalidade instrumental e a prática economicista, a sociedade vem perdendo sua vocação


de humanização. Como o capital passou a ser principal preocupação da sociedade, a
sociedade se tornou egoísta, narcisista, individualista.

É por isso que o personalismo de Mounier surge como crítica radical à crise
econômica, política, social e ética que tomou conta do mundo no pós-Segunda Guerra
Mundial. Esse contexto de crise incomodava profundamente Mounier, que é tomado pela
inquietação e inconformismo diante da miséria e da desumanização. É essa realidade que o
desperta para o engajamento político e acadêmico.

Mounier questiona o capitalismo, o espírito burguês, o coletivismo, os totalitarismos,


a crise estabelecida na Europa e os seus desdobramentos. Como resposta a essa crise propôs
um movimento que tivesse como objetivo "refazer a renascença", ou seja, recolocar o homem
como centralidade das ações políticas, econômicas e culturais.

Entretanto, o homem que o personalismo propõe como centralidade é o homem-


pessoa, homem aberto ao diálogo, ao outro, à solidariedade, à fraternidade, que assume o
compromisso de humanização da sociedade. É um desafio lançado por Mounier para
construção de uma nova civilização, uma civilização mais justa e solidária. O Renascimento
propôs uma mudança radical em face de um mundo em decadência, de um contexto de crise
civilizatória. Igualmente o contexto da década de 1930 também precisava diagnosticar uma
crise global duma civilização em crise, também decadente, inaceitável pelas novas gerações
(LORENZON, 2000).

Naquele contexto de crise de uma civilização decadente, Mounier propõe que a


renascença seja refeita por intermédio de uma revolução que se inspirasse numa nova visão de
homem e de comunidade. Por que refazer a renascença? A renascença surgiu como movimento
de revalorização do homem e da razão, uma retomada dos ideais gregos clássicos de
valorização do homem e do lógos, em contraposição à concepção teocêntrica medieval.
Segundo Lorenzon (2000, p. 258), para Mounier,

assim como os mentores daquele movimento tomaram consciência dum


mundo que estava acabando, era urgente pensar o momento presente em
termos de globalidade, e de crise de um mundo também decadente [...]
contra uma civilização burguesa individualista, que impregnava também
grandes segmentos da cristandade, e contra as revoluções coletivistas

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propunha então o retorno a um revigoramento de dois conceitos, ou melhor,


de duas realidades: a pessoa e a comunidade. Pessoa no seu sentido
ontológico mais amplo (corpo e espírito, ser individual e relaciona, isto é,
interpessoal, movimento de interiorização e de exteriorização).

Com essa proposta, Mounier discute a crise vivenciada pela Europa naquele período
que, para ele, era uma crise de civilização. Sobre isso Guy Coq apresenta a seguinte questão:
qual civilização? Ele responde:

A um mundo totalmente dominado pelo individualismo burguês e pelas


ameaças dos coletivismos, a uma filosofia idealista distanciada dos graves
problemas da realidade, era preciso opor um novo projeto de civilização, uma
filosofia voltada para a discussão desses novos desafios e um cristianismo
mais fiel à mensagem e aos exemplos de Jesus Cristo. Para tanto era
necessária a audácia da juventude, que sofria na carne as conseqüências da
crise econômica e da Primeira Guerra Mundial. (Apud LORENZON, 2000,
p. 256).

Ao discutir a filosofia, a educação, a pessoa, a comunidade, a economia, a política, a


religião ou qualquer outro campo do saber e do agir humano e da sociedade, Mounier o faz a
partir da constatação de uma crise civilizatória e de um projeto global: o da necessidade de se
refazer a civilização. Ricouer, ao comentar a contribuição de Mounier, afirma que "sua grande
força foi a de ter, em 1932, ligado a origem de sua maneira de filosofar à tomada de consciência
duma crise de civilização e de ter ousado visar, além de toda filosofia de escola, uma nova
civilização em sua totalidade" (apud LORENZON, 2000, p. 256).

A atitude de Mounier foi, portanto, a atitude de uma tomada de consciência duma


crise de civilização e da necessidade de visar para além das filosofias uma nova civilização em
sua totalidade. “É importante ressaltar que na década de 1930 as discussões filosóficas e
sobretudo econômicas se cristalizavam em torno de diagnósticos parciais (crise econômica,
crise moral, crise espiritual, crise política” (LORENZON, 2000, p. 256). Mounier denuncia
uma gravíssima crise de civilização. Diante de um mundo que nega cada vez a humanização
do homem será preciso a gestação de um novo mundo, já que a crise é ao mesmo tempo
econômica e moral. Há uma profunda crise de civilização, da civilização burguesa e
capitalista, da cristandade e do totalitarismo.

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Perante a crise global duma civilização desmoronando, Mounier ressalta a importância


de se refazer a renascença, "por meio de uma revolução que se inspirasse numa nova visão de
pessoa e de comunidade” (LORENZON, 2000, p. 257). Mounier analisou os humanismos
presentes em seus dias, em especial o humanismo burguês, e buscou uma nova reorientação
para a humanização do homem. O humanismo ligado à forma primeira do Renascimento havia
se perdido, dada a união entre burguesia, Igreja e o poder político, movida por interesses
econômicos e ascensão social (MOIX, 1968). Os humanismos do individualismo e do
capitalismo transformaram o homem em mero meio, puro instrumento. Para Mounier, o
espírito burguês criou um tipo de humanismo: o burguês.

O humanismo burguês é caracterizado por Mounier (1992, t. I) como uma revolta que
se desenvolveu na Renascença, a revolta contra o absolutismo feudal. O sistema feudal se via
ameaçado pelo novo modo de produzir riqueza, e procurava dificultá-lo com fiscalização,
cobrança de impostos e tarifas alfandegárias sobre os mercadores. O sentido dado a essa
revolta dos burgueses está na busca por um mundo de felicidade que encontrou no
liberalismo as suas bases de justificação. Sobre o liberalismo, Alves (2007, p. 79-80) explica
que

[...] deve ser visto como a expressão mais desenvolvida da visão de mundo
burguesa. Mas ela não surge do nada. Sua gênese deu-se no interior das lutas
que a burguesia vinha travando contra a igreja católica e a nobreza no
sentido de superar os “entraves feudais” postos ao desenvolvimento de seus
negócios. No âmbito do discurso, essa classe alicerçava suas reivindicações
nas liberdades individuais: liberdade de comerciar, liberdade de produzir,
liberdade de crença, liberdade de trabalho, etc. Logo, o liberalismo, tendo
sua doutrina formulada no século XVIII, tinha suas raízes fincadas na
existência da burguesia desde as suas origens.

A revolução proposta por Mounier é uma revolução contra o sistema econômico e


político do capitalismo; contra a civilização burguesa, contra a civilização do capital, do
mercado e do lucro. Mounier propunha com isso o revigoramento de dois conceitos, ou
melhor, de duas realidades: a pessoa e a comunidade. Pessoa e comunidade exigem uma
constante iniciação, porquanto não são realidades estáticas.

Ao falar da revolução personalista, fala também da revolução comunitária, duma


aprendizagem e dum exercício constante de afrontamento. O mundo impessoal e anônimo do

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individualismo formou uma multidão solitária, egoísta e insensível ao humano. Formou-se o


indivíduo. “Diante desse quadro, o primeiro ato a ser desenvolvido é o duma tomada de
consciência de minha vida anônima e o conseqüente despertar para a consciência do eu e do
nós, fundantes da comunidade” (LORENZON, 2000, p. 257).

Para Mounier, a "aprendizagem da comunidade é, portanto, a aprendizagem do


próximo como pessoa e na sua relação com minha pessoa, o que foi felizmente chamado de
aprendizagem do tu" (apud LORENZON, 2000, p. 257). Mounier reserva o nome de
comunidade à única comunidade para ele válida: a comunidade de personas.

Como foi possível perceber, a ética e a alteridade são as bases, os fundamentos, as


orientações básicas que o personalismo assume para compreender o abandono do humano
pela civilização capitalista e para fundar uma nova civilização. Essa preocupação está
presente em todo o pensamento de Mounier, na sua antropologia, na proposta de revolução
personalista e comunitária e no refazer na renascença, o que engloba a ética, a alteridade e a
construção de uma sociedade mais justa, igualitária e democrática, que fazem do
personalismo referência para a ação de muitos movimentos sociais e comunitaristas.

Muito do que inquietava e indignava Mounier na primeira metade do século XX, como
a miséria, a fome, a violência, o desemprego, as profundas desigualdades sociais, a
absolutização do mercado, continuam presentes no contexto da sociedade contemporânea;
continuam sendo motivos para defendermos um novo renascimento. A chamada nova ordem
mundial continua sendo uma “desordem estabelecida”, geradora da desumanização, do
esquecimento do humano e da negação da ética e da alteridade. No Brasil, a partir da década
de 1960, o personalismo passa a ser inspiração para os movimentos sociais ligados à Igreja
católica para intervenção nas questões sociais e políticas. Foi uma época de intensa
mobilização e participação política de estudantes, sindicatos e intelectuais que reivindicavam
justiça social.

3. O personalismo e a revolução personalista e comunitária

Mounier adota o termo "revolução" por considerar que expressa melhor a ideia de
engajamento. Ele pretendeu imprimir-lhe um sentido mais amplo, simbolizando uma

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transformação total. Quis que a revolução propugnada pelo personalismo fosse


indissociavelmente material e espiritual. Para Mounier (1988, t. IV, p. 23),

se esta palavra tem razão, apesar de tudo, para nós, contra as suas
impurezas, é devido à longa permanência que ela fez do lado em que
recebemos golpes, os da sorte, os do regime e os da polícia; do lado em que se
mantêm ainda os instintos primários da justiça.

A revolução proposta por Mounier objetiva assegurar um mundo humano e não um


suposto reino de felicidade: "Não queremos um mundo de felicidade, queremos um mundo
humano. E só é humano o mundo que der suas possibilidades às exigências essenciais do
homem", afirma Mounier (apud MOIX, 1968, p. 91). Mounier queria mostrar com isso que a
preocupação do personalismo era a criação de condições para que todos os homens pudessem
se desenvolver plenamente. A sua preocupação não era uma preocupação com o conforto, com
a felicidade, mas com a dignidade.

O primeiro passo da revolução integral é a revolução econômica e política. A revolução


econômica, na perspectiva personalista, deverá empreender uma luta contra a tirania do
mundo do dinheiro e as estruturas do modo de produção capitalista. Deverá buscar a
instituição de um regime social e econômico voltado para as necessidades da pessoa e não
para a acumulação do capital. Para garantir essa revolução econômica, é fundamental a
revolução política: a mudança das estruturas políticas. Para que a revolução seja integral, é
necessário também que ocorra uma transformação radical dos valores espirituais; é necessária
uma revolução espiritual: "A revolução espiritual consiste, portanto, em restaurar os valores
espirituais traídos: trazê-los de retorno à sua pureza e engajá-los na reconstrução do mundo"
(MOIX, 1968, p. 89).

Essa revolução espiritual ou pessoal é definida por Mounier (1992, t. I, p. 367) da


seguinte forma:

Chamamos revolução pessoal ao processo que nasce em cada instante de


uma tomada de má consciência revolucionária, de uma revolta dirigida em
primeiro lugar por todos, cada um contra si mesmo, sobre sua própria
participação ou complacência na ordem estabelecida, sobre a separação que
tolera entre aquilo a que serve e aquilo ao que diz servir, e que se
desenvolverá, em um segundo momento, em uma conversão continuada de

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toda pessoa solidária, de suas palavras, seus gestos, seus princípios, na


unidade de um mesmo engajamento.

Mounier inaugurou um novo humanismo – o humanismo integral –, voltado para a


pessoa como ser total. Suas contribuições são universais. Não ficaram circunscritas apenas ao
contexto da Europa pós-Segunda Guerra Mundial. Suas preocupações são ainda hoje muito
atuais, pois podem se constituir também num instrumento de crítica da sociedade capitalista
neoliberal, da globalização e da qualidade total, que cada vez mais exclui a pessoa.

O personalismo não é, como o próprio Mounier ressalta, um pensamento rígido,


fechado numa construção lógica e teórica, para agradar os acadêmicos. Por isso, não é uma
doutrina, mas uma filosofia aberta. Sendo a pessoa o seu campo de análise, não poderia jamais
querer transformar a reflexão daí surgida num sistema fechado de ideias. Mounier pensou o
homem como ser integral, isto é, como pessoa. Apresentou-o como horizonte de todo
horizonte, como absoluto, como referência de todo fazer humano. Para que o homem possa se
transformar numa pessoa, como Mounier propõe, há a necessidade de se realizar um trabalho
de conscientização, porque se trata de mudança que não ocorre de forma espontânea nem de
forma mecânica. É necessário que haja um processo educativo contínuo que possibilite o
despertar dos homens para a vida pessoal e comunitária. Esse processo educativo é tarefa de
todas as pessoas e instituições, principalmente dos educadores, das instituições escolares, dos
sindicatos, igrejas, movimentos sociais e populares.

Àquele que assume compromisso cabe-lhe a missão do combate permanente contra a


“má consciência revolucionária”, a consciência alienada, acomodada ou extremada. Deve
igualmente contribuir para expandir outras consciências que se inquietam com as injustiças.
Essa é a difícil tarefa de erguer-se contra as barreiras que aparecem nos caminhos de quem se
propõe romper e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa.

Cruzada contra os blocos, que cimentam erros [...] e erguem uma barreira diante da
realidade e diante dos homens. Cruzadas contra as uniões sagradas que mascaram as
desordens profundas sob reconciliações interessadas. Cruzada contra os
conformismos, parasitas do pensamento e do caráter. [...] O ódio faz-se virtuoso,
puritano. [...] o ódio é outra forma de confusão. (MOUNIER, 1992, t. I, p.747).

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Em Manifeste au servisse du personnalisme, Mounier assume compromisso com a realidade,


com a justiça, com a revolução personalista e comunitária aberta a todos os homens. Quanto
aos cristãos, Mounier pede que sejam eles mesmos, ou seja, cristãos autênticos. Isso é para
Mounier (1992, t. I) assumir uma atitude revolucionária. Mounier reconhece que diante da
desordem estabelecida é necessário priorizar a questão econômica. Se o homem não possuir o
mínimo de bem-estar e segurança necessária à sua sobrevivência, torna-se inútil propor a
revolução espiritual, a revolução axiológica. O personalismo afirma a encarnação do homem
no mundo e na história e compreende o sentido de suas servidões materiais, sem, no entanto,
negar a sua transcendência e transcendência da matéria. Portanto, a revolução espiritual não
pode resolver-se separadamente da economia e da política (mesmo que estas sejam
subordinadas ao espiritual). O espiritual para o movimento personalista não pode ser uma
escapatória. Antes de tudo, “pão, trabalho, dignidade para aqueles que não a têm” (RÉVUE
ESPRIT, 1936, p. 444).

Essa preocupação com as condições materiais da existência é o que Mounier chama de


“revolução da pobreza”. Era necessário emergir um novo regime político que tivesse como
foco a construção de uma sociedade pluralista, democrática e mais igualitária: uma sociedade
comunitarista. Mounier também revela preocupações com a aquisição dos bens materiais,
pois a revolução material pode propiciar o desenvolvimento de valor espiritual, mas pode,
igualmente, desenvolver o lado desumano. Avalia que, se a miséria degrada, a abundância
pode levar à acomodação, ao apego material e ao conforto individualista, impedindo o homem
de viver a sua vocação de ser mais humano. Por isso Mounier declara: “Não queremos um
mundo de felicidade, queremos um mundo humano. E só é humano o mundo que garantir suas
possibilidades às exigências essenciais do homem” (apud MOIX, 1968, p. 91).

Temos aqui uma discussão sobre o universo da justiça social que se contrapõe ao
apego de uma felicidade assentada na busca desenfreada da acumulação de bens e da
segurança individualista que anula o homem como pessoa e o impede de compreender as
injustiças sociais. Quando os espiritualistas afirmam que o homem se salva pela pobreza,
Mounier contrapõe dizendo que os bens materiais são a condição fundamental para uma vida
digna. É necessário eliminar a miséria, pois esta tira do ser humano toda dignidade. Ele
afirmava que cada ser conheceria sua força e sua própria medida: “[...] não opomos revolução
espiritual a revolução material. Afirmamos somente que não há revolução material sem estar

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enraizada e orientada espiritualmente” (MOUNIER apud MOIX, 1968, p. 94). Tal revolução
se estrutura e se interliga em três dimensões: a espiritual, a política e a histórica. A ausência
de qualquer uma destas certamente destruirá as vias para se chegar à pessoa. Qualquer
reforma social que não seja a plena realização da pessoa (realismo integral) corre o risco de
fracassar.

Mounier não foi um homem de engajamento político-partidário, talvez para não


influenciar aqueles com os quais trabalhava, mas sabia da importância dessa participação.
Outrossim, tinha uma profunda desconfiança dos partidos políticos de sua época. Como
cristão, acreditava que a prática política deveria estar subordinada à ética, que deveria
também orientar a atividade econômica. Para assegurar a revolução, devia-se contar com o
apoio da força política para garantir a efetivação da revolução. Esta, por sua vez, deve nutrir-
se da ajuda do povo, de todos os segmentos oprimidos da sociedade. Mounier acreditava que
não basta agir para o povo, deve-se ser com, existir com, sofrer com o povo, comungar com o
seu destino, presenciando vividamente a sua comunidade. Cabe assinalar que muitos partidos
políticos surgiram dizendo que foram inspirados pelo personalismo de Mounier, como os
partidos da Social-Democracia Cristã, sem, contudo, terem tido anuência da Association des
Amis d'Emmanuel Mounier.

O fim último da revolução é promover a comunidade de pessoas, construir um


personalismo comunitário que prepare as indispensáveis bases espirituais, atendo-se,
também, às condições materiais e necessidades coletivas, para que se forme uma promissora
estrutura de reorganização social. Para isso Mounier propunha: a abolição da condição
proletária; a abolição da economia fundada no lucro, e em lugar dela uma economia voltada
para os interesses da pessoa e não do mercado; a socialização sem estatização dos setores da
produção; liberdade da vida sindical; trabalho como meio de promoção humana; abolição das
classes formadas na divisão do trabalho ou de fortuna; primado da responsabilidade pessoal
sobre as estruturas burocráticas e de poder; afirmação da liberdade como condição
fundamental da vida humana (MOUNIER, 1992, t. I).

O personalismo procurava, por conseguinte, contribuir para formar uma sociedade


mais justa e igualitária. A base dessa concepção de sociedade é a pessoa como ser solidário.
Por isso Mounier ressalta que a dimensão pessoal está interligada com a dimensão
comunitária:

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A pessoa só se realiza na comunidade: isso não quer dizer que ela não tenha
alguma chance de fazê-lo perdendo-se no anonimato (l’on). Não existe
comunidade verdadeira a não ser uma comunidade de pessoas. Todas as
outras não passam de uma forma do anonimato tirânico. (MOUNIER, 1992,
t. I, p. 217).

O personalismo é mais do que uma filosofia: é uma ética de orientação da ação que
afirma a alteridade. Mounier, ao elaborar a fundamentação de seu projeto civilizador, se valeu
do espaço das implicações antropológicas para justificar as exigências da ação.

A partir de então, o engajamento da pessoa passou a ser considerado como


uma tomada de posição da pessoa em relação aos elementos de sua situação.
E é a própria condição ontológica da pessoa uma transcendência imersa
numa imanência, é sua própria condição estrutural, essencialmente
dinâmica, que dará ao agir humano seu caráter intencional. O agir é, com
efeito, a própria via de personalização. Será pela ação que a pessoa
manifestará o seu ser e cria-lo-á, enriquecendo-o na temporalidade de sua
existência. (SEVERINO, 1983, p.140).

O personalismo afirma que o caminho da práxis é um caminho difícil, penoso, que


exige sacrifícios e persistência. É um caminho cheio de extremos, armadilhas, obstáculos. A
liberdade humana é o guia que ajuda a percorrer o entremeio: o ser e destino, pessoa e
comunidade, conquista ética e política. Caminho árduo, cheio de limitações e desafios, mas é
um risco humano necessário. Para Severino (1983, p. 142), a ação ocorre “entre as exigências
da transcendência humana, significada pelos valores, e as imposições da imanência,
transcritas nos determinismos concretos das situações”.

O personalismo é um clamor para o despertar do homem para a vida pessoal e


comunitária, para o afrontamento da desordem estabelecida, para a reconstrução do ethos
como abrigo dos homens. A valorização da pessoa e da vida comunitária é o ponto de partida
e de chegada da revolução personalista e comunitária. A pessoa entendida como um ser total,
ser espiritual e material, político e ético, pessoal e comunitário. O personalismo demarcou um
novo paradigma com relação à concepção de pessoa e da comunidade. Mounier fala de uma
revolução comunitária que seja fundada no respeito da pessoa como base, e não numa mera
coletividade informe.

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Como a crise é ao mesmo tempo axiológica e material, uma crise total, a sua solução
também deve ser total, uma revolução pessoal e comunitária, axiológica e econômica. Essa é
sobretudo uma tarefa de construção de uma nova civilização, de novos valores, de um novo
projeto para a humanidade. Mounier apresenta nas obras Révolution personnaliste et
communautaire (1992, t. I) e Le personnalisme (1990, t. III) alguns traços fundamentais dessa
revolução. Um deles é o primado do espiritual – não podemos confundir o espírito com o
espiritualismo. Espiritual que se encontra ligado ao corpo, a todos os objetos materiais, e
situado, visto que a pessoa é um ser encarnado. Outro é dissociar o espiritual do político.
Sobretudo do que se chama direito, e do econômico, visto que o espiritual comanda o político
e o econômico. A revolução como uma forma de libertar a pessoa do primado do econômico,
do político e da técnica. Outros traços ainda são: a independência relativamente aos partidos
políticos e grupos constituídos; a revisão de todos os valores; atuar com rigor e clareza na
resolução dos problemas; libertar-se do conformismo doutrinário e encarar a realidade na sua
verdadeira dimensão.

O drama da existência humana provocado pelos sistemas políticos e econômicos no


contexto da Segunda Guerra Mundial foi a referência para a reflexão de Mounier. Daí sua
preocupação em contribuir para a construção de um mundo mais humano. A sua reflexão foi a
de uma reflexão comprometida com a transformação pessoal e social. O objetivo da Revolução
personalista e comunitária do personalismo de Mounier é refazer é renascença, recolocar o
homem no centro das preocupações das mudanças políticas, econômicas e sociais. Com isso,
Mounier deseja a instituição de uma nova civilização, uma civilização assentada nos valores
da pessoa e da vida comunitária.

Conclusão

Emmanuel Mounier vivenciou em sua época uma crise espiritual, material, política,
econômica, teológica, filosófica e científica que resultou no esquecimento do humano e no
aviltamento de valores, uma consequência das atrocidades das duas Grandes Guerras
Mundiais, dos campos de concentração, dos holocaustos e dos regimes totalitários. Na busca
de saídas para defender a pessoa humana, Mounier refletiu sobre seu tempo histórico,

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conheceu-o, contestou-o e o afrontou. Sua preocupação foi com a dignidade da pessoa


humana. Com sua filosofia dedicou-se ao despertar de um mundo mais humano.

A ética e a alteridade perpassam todo pensamento de Mounier; se constituem no seu


fundamento, na sua base e no seu horizonte. Entendo que o nosso atual tempo histórico,
início de um novo milênio, ainda vivencia muitos dos problemas da época de Mounier. Assim,
continua sendo urgente a tarefa da substituição do homem como indivíduo pelo homem como
pessoa, como propunha Mounier. Continua sendo urgente o refazer a renascença e a
revolução personalista e comunitária. Essa tarefa, como o próprio Mounier indicou, se faz não
apenas pelo trabalho de conscientização, mas também pela intervenção nas estruturas
econômicas, políticas e culturais para que seja possível a superação da desumanização. É
necessário construir pontes, incentivar as atitudes de solidariedade, de fraternidade e de
alteridade, e não erguer muros, como fazem os EUA na forneira com o México e Israel na
fronteira com a Palestina, para separar as pessoas, para isolá-las, para torná-las mais egoístas,
mais insensíveis e mais individualistas.

É possível dizer que ainda hoje o pensamento de Mounier é importante para ajudar a
compreender a crise humanitária – crise civilizatória – que vivenciamos e para orientar nossa
ação. Diante de uma sociedade cada vez mais hedonista, consumista, pragmatista,
individualista, egocêntrica, insensível, seu pensamento continua sendo um apelo à mudança
tanto de consciência como de atitude. Seu pensamento é um grito de alerta, o grito que clama
por uma libertação do homem no que diz respeito às condições que negam sua humanidade e
denuncia os contravalores da sociedade.

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