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Coordenação de produção
Domingos Guimaraens
Coordenação internacional
Beatriz Lemos
Produção local
2010 7
8
Apresentação
Por uma arte sem fronteiras Domingos Guimaraens
Nova vida novo mundo Nadam Guerra
01/02 a1228/02/2010
primeiro grupo
Brígida Campbell (MG)
Marina Dain 14 Lucas Dupin (MG)
Design 18 Milena Durante (SP)
Emmanuel Khodja e Nadam Guerra 20
22 Paulo Nazareth (MG)
Banco de dados
Hélio Ricardo – Brainstorm Consultoria 24 Shima (SP)
Foto da capa
Julio Callado, Diário de terra 08/0326 a 04/04/2010
segundo grupo
Ana Luisa Lima (PE)
Textos e imagens
Ana Freitas, Ana Luisa Lima, Bárbara Rodigues, Beatriz Lemos,
28 Caroline Valansi (RJ)
Brigida Campbell, Caroline Valansi, Domingos Guimaraens, 32
Fábio Belotte, Filipe Freitas, Jean Sartief, Juan Leon, Julio Callado, 34 Jean Sartief (RN)
Lucas Dupin, Maria Teresa Ponce, Mayra Martins, Milena Durante,
Nadam Guerra, Paulo Nazareth, Ricardo Alvarenga, Shima 36 Mayra Martins Redin (RS)
38 Filipe Freitas (MG)
26/04 aterceiro
23/05/2010
grupo
agradecimentos a
Adelberto dos Reis Novaes, Ana Tomé, Antônio Evaristo de Mendonça
(lili), Claudinei dos Santos, Cristina Ribas, Danilo Costa de Almeida, 40
Darlene Resende, Diana Pereira, Diogo Alvin, Emmanuel Khodja,
Jaya Pravaz, John Harding, Josinei dos Santos, Julie molin, Lena 42 Julio Callado (RJ)
Ferreira, Lucas Pereira, Lurdes Pereira, Maria Lúcia Barbosa, Maria da
Glória Braga, Maria da Glória Ferreira dos Santos, Mariana França, 46 Ana Freitas (RJ)
Rita Rodrigues, Roberto Pereira, Romulo Zapponi, Sônia Fonseca, 48 Barbara Rodrigues (PE)
Tuan Pravaz Damasceno, Valdinei dos Santos, Wallace Masuko
50 Ricardo Alvarenga (MG)
Elaboração projeto Prêmio Interações Florestais 2008 52 Fábio Belotte (MG)
Nadam Guerra, Domingos Guimaraens, Cristina Ribas e Flavia Vivacqua
Realização
Terra UNA e Ponto de Cultura e Sustentabilidade
Interações
54 Florestais EQUADOR
56 Beatriz Lemos (RJ)
Apoio
AECID, Centro Cultural da Espanha SP, residências _ en _ red, 60 Juan León (Guayaquil, Equador)
Ceroinpiración, Escola Estadual Frei José Wulff, UNIPAC 62 Maria Teresa Ponce (Quito, Equador)
Patrocínio
Funarte, Ministério da Cultura, Secretaria de Cidadania Cultura 64 Mapa circuitos contemporâneos florestais
“esta iniciativa integra o Prêmio Interações Estéticas
Residências Artísticas em Pontos de Cultura” 66 Conteúdo do DVD
apresentação
Por uma arte sem fronteiras
É com enorme alegria que olho para esta segunda edição do Interações Florestais, com a
alegria de quem olha uma terra sem fronteiras. Um dia a poeta Elizabeth Bishop atentou para
o fato de que nos anos de 1910 não era necessário passaporte para cruzar o mundo do sol
nascente ao poente. Mas claro que havia uma fronteira: o dinheiro que custava cruzar esse
mundo. Hoje as fronteiras são demarcadas, controladas, rastreadas e a barreira da grana ainda
está lá. Mas o que esta pequena experiência neste cantinho do planeta pode nos dizer sobre
isso?
Recebemos este ano na ecovila Terra UNA 180 pessoas entre artistas, curadores e pensadores
para propor mais uma vez esta experiência de residir por um mês em um ambiente rural e
comunitário a fim de produzir, pensar e vivenciar os processos da arte contemporânea. A
experiência individual/coletiva (aqui estes termos se confundem sem fronteira) está nestas
páginas que seguem, mas os esgarçamentos das fronteiras de Terra UNA não são visíveis aqui,
estão nas potências que cada um carrega de volta pra casa. Todo o processo criativo destes
três meses esteve grávido das referências e poéticas pessoais de cada artista, mas também
carregado da experiência comunitária da ecovila. Em cada diálogo, em cada troca as tramas se
traçam e a rede criativa cresce. Neste processo que se dá com caminhadas que vão fisicamente
além das cercas de Terra UNA, com pensamentos e criações que vão além das cercas
atmosféricas que envolvem o planeta, nós vamos tentando abraçar o mundo. Não um abraço
dominador, não um pensamento de imposição de um modus operandi, apenas um abraço
acolhedor, um abraço de troca. Sabemos que toda troca envolve sempre tensões e perigos,
mas sabemos também que só ela pode criar conexões que diluem fronteiras.
Passei duas vezes por Terra UNA nestas interações de 2010, na última delas ajudei o Julio
Callado a fazer um vídeo no qual ele retira os arames farpados das antigas cercas esquecidas
nas matas fechadas e rios correntes das terras separadas que hoje, unificadas, formam Terra
UNA. Mais tarde o mesmo Julio desenhou um enorme mapa da Ecovila que na verdade se
expande para além de suas fronteiras. Não quero dizer aqui que o mundo é Terra Una, apenas
sentir e expressar que estamos em contato, num eterno e necessário fluxo de transformações.
De alguma forma todos os artistas remexeram essas ideias seja em seus trabalhos pessoais, seja
nas conexões que surgiram entre eles, seja nas oficinas que levaram para a população local e
ainda na reverberação que carregam para suas casas nos lugares mais distantes da Serra da
Mantiqueira como Quito no Equador.
Talvez tudo isso seja uma grande utopia. Mas utopia não é justamente o não-lugar? Sonho
sempre com esse mundo sem lugares definidos, sem fronteiras, religado, conectado por afetos,
por experiências, por desejos, por trocas. Acho que a arte tem papel fundamental em acender
estas potências, em arrancar as cercas de arame farpado que ninguém mais sabe porque estão
lá. Sonho sempre com esse mundo sem fronteiras, quem sabe um dia a gente não acorda nele.
Terra UNA é uma ONG com sede na Serra da Mantiqueira, município de Liberdade, Minas Gerais.
O grupo trabalha desde 2003 e fundamos a ecovila em 2006 onde atualmente moram 7 das
cerca de 20 pessoas envolvidas com o projeto. Mantemos um programa de residência artística,
uma série de cursos e formações em tecnologias sócioambientais e o Ponto de Cultura e
Sustentabilidade.
Mas então, como assim? Por que ecovila? onde é que a gente quer chegar com isso? É aquela
história do Raul Seixas de viva a sociedade alternativa, de tomar banho de chapéu e esperar
Papai Noel?
A crise financeira, o terrorismo, as guerras, as epidemias etc. Dos muitos indícios da crise mundial
que estamos atravessando, a mudança climáticas são certamente a prova mais forte de que esta
crise é sem precedentes. Sejam os prognósticos mais ou menos apocalípticos, algo realmente
novo está acontecendo. Pode-se argumentar que sempre houve fome e guerra, mas a perspectiva
de autodestruição planetária é algo que nunca se colocara de forma tão assustadora. E o pior
que cada um de nós contribui a cada dia para esta destruição.
De Porto Alegre chega uma brisa do Fórum Social Mundial dizendo “um outro mundo é possível”.
Esta busca pela sustentabilidade e novas soluções faz das ecovilas palco das mais diferentes
experimentações. Temos os institutos de permacultura que desenvolvem tecnologias ambientais
integrando construção e plantio. Existem as comunidades espirituais que se reúnem em torno
de um credo ou mestre comum. Temos os exemplos das ecovilas Zegg na Alemanha e Tamera
em Portugal que se fundaram na experimentação do amor livre e de novas estruturas familiares
e hoje são referência de técnicas de comunicação e resolução de conflito. Há grupos que
experimentam uma economia coletiva com caixa único como a Vila Yamaguiche no interior de
São Paulo e Figueira, em Minas Gerais que funciona apenas com doações e trabalho voluntário
e cantam músicas em línguas intraterrenas. Ou Damanhur, na itália, onde inventaram toda uma
séria de acordos sociais para o desenvolvimento pessoal incluindo uma mitologia new age, uma
religião e que cada morador ganha um novo nome composto por um nome de vegetal e um de
animal. São mais de quinze mil iniciativas espalhadas pelo mundo em uma variedade incrível
de propostas e visões de mundo. As ecovilas têm um novo ton de ativismo, não um ativismo do
contra, mas a favor, propostivo, experimental ou educacional.
Foi neste contexto que estamos construindo um programa de residência artística na ecovila. Além
de algumas residências espontâneas, o grande mote do programa tem sido o Prêmio Interações
Florestais que acaba de concluir sua segunda edição e onde os artistas são selecionados em performance Religare de Ana Luisa Lima e Mayra Martins com colaboração de Nadam Guerra e Romulo Zapponi, foto: Caroline Valansi
um processo que chamamos de auto-curatorial, pois delegamos a responsabilidade de julgar
projetos e escolher os ganhadores aos próprios artistas inscritos. Desta fase de seleção, rica em
troca de ideias e totalmente cyber virtual web conect, passamos para a imersão na ecovila em
ambiente rural e florestal com pouco ou nenhum acesso a internet e uma vivência comunitária O sapo não lava o pé. Não lava porque não quer!
intensa. As residências para artistas são um fenômeno mundial. Talvez pelo artista estar no local Setembro, 2009, Rio de Janeiro.
de deslocar as ideias, o deslocamento físico o ajude a ser de novo novo. Em Terra UNA a residência
tem um sabor especial da mata, da consiência social e ecológica que traz a ecovila. Chove na Gávea,
e eu pensando em ser rico,
Não há resposta sobre até onde a crise obrigará mudanças no estilo de vida global e se estas
e se há pobres porque há ricos ou se todos poderiam ser ricos?
mudanças serão suficientes para conter o colapso climático.
E em quantos planetas seriam necessários para que todos tivessem
Nós de aqui em Terra UNA e muitas outras pessoas ao redor do mundo estamos trabalhando o volume de concreto destas mansões do Alto Gávea?
mudando nosso dia a dia, para fazer com que a transição para um outro mundo seja possível.
Sabendo que não existe só um outro mundo possível, mas centenas de milhares de outros Se todos quisermos este tanto de concreto, todos seremos pobres.
mundos e vidas possíveis. E que além de trabalhar com a sabedoria que temos, podemos
trabalhar com a sabedoria que sabemos que existe mas não temos e também, por que não?, com Quero a riqueza de um canto de terra,
a sabedoria que não sabemos se existe e que não temos e com a sabedoria que não sabemos se de uma beleza aconchegante,
existe, mas que já temos. Com alegria. Com arte. Com amor. de poder cantar e sorrir,
a riqueza dos amigos, da saúde e da paciência.
e de poder tornar os sonhos em matéria.
Junho, 2010, ecovila Terra UNA
Nadam Guerra, Se todos quiserem este tanto de alegria e beleza todos seremos ricos.
é artista visual, coordena o programa de residências artísticas na ecovila Terra UNA.
www.grupoum.art.br Chove na Gávea, e eu pensando que sou rico.
10 11
à esquerda:
oficina de histórias com milena durante
para os professores da e. e. frei josé wulff
no meio:
lucas, paulo, shima e milena com o
mascote pierre
abaixo:
oficina de cadernos com lucas dupin na
e. e. frei josé wulff
fotos: milena durante e brígida campbell
Estes artistas residiram por um mês na ecovila criando imagens, ideias, objetos,
textos e novos sentidos. Além disso, ofereceram oficinas na ecovila e na cidade de
Liberdade, no Colégio Estadual Frei José Wulff, dentro das atividades do Ponto de
Cultura e Sustentabilidade.
Destes cinco artistas, quatro foram selecionados em um processo autogestionário
via internet e um convidado a acompanhar o processo de maneira crítica. Mais
dois grupos virão até maio, num total de 18 artistas. Em breve em nosso site veja
mais das obras realizadas.
O Prêmio Interações Florestais 2010 é o segundo prêmio de residência artística da
Ecovila Terra UNA. Estamos felizes de poder contar mais uma vez com o patrocínio
da FUNARTE/MINC para a realização deste trabalho que desloca a produção
contemporânea em artes visuais para outros espaços do país.
Que a pulsação da criação artística vibre pelos vales da Mantiqueira e encontre
ecos nas ideias de sustentabilidade, ecologia e novos paradigmas para
assentamentos humanos.
*texto publicado no programa de visitação de 27/02
14 15
/// Viver a ecologia na prática
Li recentemente a seguinte frase de Marx: “podemos nos transformar apenas pela Conhecendo outros modelos, podemos então pensar em novas formas
transformação do mundo e vice-versa”. Mas como imaginar essas transformações se estamos de viver e também outros modelos para a produção artística. A partir do
tão imersos em uma realidade que parece, às vezes, o único modelo possível? entendimento de que a arte está indissociável da vida e é indispensável
para o desenvolvimento humano, os artistas desempenham também o
Tomar conhecimento do movimento de ecovilas e o contexto no qual elas se inserem se torna seu papel político neste contexto, ao potencializar a produção criativa em
extremamente estimulante, pois aponta a existência, até então desconhecida para a muitos, contato com o ambiente.
de outras formas de habitar e viver. Ativando assim uma importante chave em nossas mentes:
a imaginação. As ecovilas se colocam como “laboratórios que buscam promover meios de A arte é uma ação criativa que dá acesso a uma autoconsciência maior,
integração com o ambiente, entre pessoas e consigo mesmo, buscando respostas conscientes pois re-significa as imagens de todos os dias, ativando assim nossa
aos atuais desafios da sociedade humana”a. Afirmando e testando a necessidade de se imaginação, ferramenta importante para a construção de modelos viáveis
construir modelos de vida mais responsáveis consigo mesmo e com o planeta, na busca de e interessantes para a experiência humana. “Eu pra mim mesmo, o outro
uma relação equilibrada entre o meio ambiente, as relações sociais e a subjetividade humana. para mim, eu para o outro”b é deste modo que se constroem e refazem os
valores necessários para se pensar uma atividade humana em constante
Neste contexto podemos perceber o papel político da imaginação. O entendimento do que harmonia.
é político é muito mais abrangente do que o sentido estrito que muitas vezes damos a essa
palavra. Assim, pensar em política como a relação entre a vida social e a vida individual, e ainda
perceber que ela está presente no nosso dia a dia e nas escolhas que fazemos no âmbito do
trabalho e do lazer, pois a política do dia a dia é cultura.
16 17
Lucas Dupin
Foi a partir dessa analogia que iniciei o projeto de construir o que chamei Este “livro”, antes mesmo de ser executado, desencadeou outros trabalhos. A
de livro-paisagem. Mais de duzentos caracteres foram recortados nas partir da frase “Onde dormem as palavras?” feita para habitá-lo, confeccionei uma
superfícies de tijolos de barro-cru, feitos utilizando a técnica de adobe que cama coberta de capim que ao mesmo tempo em que se “fundia” à paisagem se
já era empregada nas construções da ecovila. Dispostos ao longo de um (con)fundia irremediavelmente com esta.
caminho, frases e palavras foram criadas e que, juntamente à paisagem O mesmo aconteceu com o trabalho Sala de Leitura - uma série de cadeiras
- aqui página - faziam parte desse grande “livro” que para ser lido, seria cobertas de vegetação dispostas ao longo de um riacho em meio à mata - no qual a
necessário realizar o percurso proposto. paisagem, mais uma vez perpassava os objetos que foram deslocados.
18 19
Milena Durante
1979, São Paulo, SP. mora em Salvador, BA
os vidros, se estavam abertos. Se foi quando Shima estava cozinhando, igual criança pequena
embaixo da mesa, rodeando o fogão que acaba nem sendo vista, tão fora do campo de visão
horizontal na linha entre 1,50 e 1,80 m. Ou se para ele também foi uma surpresa achar aqueles
fetos na sopa. Foi guardando não sei onde. Um dia os cortadores de unha começaram a se
mutiplicar na sala da borboleta. Achei até que era o meu, mas vi que não, foi outro milagre dele,
além desses de ficar voando e sobrevoando. Eu acho que decidiu sair do quarto por causa de
tanta confusão e que o que faz, a arte que faz, toda a arte que faz é sua vida, a própria vida
que leva e o absurdo está no mundo mesmo e não nele. Nem a graça. A graça está em nós, em
não poder ver. Quantas vezes também não posso: quase todas. Tem uma coisa bem dentro do
oco do meu estômago que não é absolutamente nada. Ele sabe que as coisas de se saber se
sabe e pronto. Tem os rótulos das águas, as fitas, juntou umas folhas douradas que parecem
de plástico, um dia uma estava como saboneteira, mas não durou nada. Ia dar um dos meus
dreads, também queria, mas não tive coragem, só depois, são meus pedaços de estórias de vida
dos quais ainda não consegui me soltar, farei em momento oportuno e envio um memorando
para todos que não se interessarem, o problema é meu, também. Hoje ele viu uma estrela que
andava, não sei se havia morador, mas sei que esmiucei com um comentário tão não meu que
ficamos olhando para o céu e vendo toda a graça escorregar de cima, se misturar com a água, se
dissolver, tivemos que acender as luzes que ele tinha apagado, as estrelas brilhavam cada uma
de uma cor e no começo da lua crescente. Parei de menstruar na lua cheia, estranhamente, não
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Paulo Nazareth
1977, Governador Valadares, MG. Vive em Santa Luzia e Belo Horizonte, MG
CAMINHAR ATÈ LIBERDADE / SÓ VER ESTRELAS NO CÉU www.artecontemporanealtda.blogspot.com
Em vinte e cinco de janeiro do ano de dois mil e dez, eu Paulo Sérgio da Silva por batismo,
Paulo Nazareth como “objeto de arte”, saio andando a partir do marco zero da cidade Belo
Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, antigo vilarejo Curral del Rei, em direção a
cidade de Liberdade, antiga Bom Jesus do Livramento, Serra da Mantiqueira/Minas Gerais. A
Serra da Mantiqueira no sul de Minas, se localiza numa das regiões mais frias do estado, onde é
possível encontrar arvores de araucárias, uma espécie nativa de regiões frias do Brasil. A invasão
portuguesa ao território brasileiro se iniciou pelo nordeste do país, onde o clima tropical, com
vegetação de caatinga, bastante se diferencia do português. Os invasores encontraram em tal
região muitos outros povos entre os quais estavam os tupi-guaranis e os borum, conhecidos
pelos conterrâneos indígenas como tapuias e como aimorés pelos forasteiros que mais tarde os
alcunhariam de botocudos, devido aos botoques que adornavam seus lábios. Por sua natureza
nada submissa os boruns se deslocaram andando em direção ao sul adentrando cada vez mais
ao sul da Bahia, ao Estado do Espírito Santo, ao Norte e Leste de Minas se espalhando pelos vales
do Rio Jequitinhonha e Rio Doce. Por questões de economia e segurança os Boruns se dividiam
em grupos menores que recebiam o nome do chefe que os acompanhava, assim entre o fim
dos anos de 1800 e inicio de 1900 surgiu a tribo dos krenaks liderados pelo capitão Krenak. Com
a instauração da republica a situação indígena não cambiou, a perseguição continuou com as
ditaduras de Vargas e posteriormente com os militares. A partir desse período a distribuição de
terras indígenas a imigrantes europeus se intensificou e muitos índios migraram para os centros
urbanos ,deixando de ser o que são e perdendo parte de sua memória. Nazareth Cassiano de
Jesus, filha de Krenaks, mãe de minha mãe, recebeu nome cristão, mas sua memória ainda
guarda vestígios profanos. Esposada por outro [ex]índio de nome cristão, Pedro Gonçalves da
Silva, se comporta como as mulheres índias. Considerada portadora de insanidade mental, teria
sido encontrada com as filha nos braços caminhado rumo ao Rio Doce, foi presa e encaminhada
ao Hospital Psiquiátrico da Cidade de Barbacena no Sul do Estado de Minas Gerais, onde ficou
internada por duas décadas até o inicio da reforma manicomial no Brasil, pouco antes de se
instaurar a ditadura dos generais militares brasileiros em 1964. Período no qual todos os
Krenaks foram presos e encaminhados a fazenda guarani em São Paulo de onde teriam fugido
e viajado caminhado até Governador Valadares onde pegariam o trem para a vila de Aimorés,
assim denominada em irônica homenagem aos antepassados krenaks que viveram nas terras
ocupadas pelo dito centro urbano. Eu Paulo Sérgio da Silva por batismo, Paulo Nazareth como
“objeto de arte”, neto de Nazareth Cassiano de Jesus sigo em diferentes direções, em janeiro de
dois mil e dez caminho em direção a Liberdade, Serra da Mantiqueira. Ando 366 km em 8 dias
por rodovias federais e estaduais que cortam o Estado de Minas Gerais. Entre Belo Horizonte
e Congonhas, cidade onde se encontra os profetas de Aleijadinho, pela BR040 encontro com
vários trecheiros, andarilhos que caminham no trecho em muitas direções. Em fevereiro chego a
ecovila Terra Una, em um ponto alto da Serra da Mantiqueira a 10 km da cidade de Bocaina. Em 8
SOLICITAÇÃO DE PEDIDO
dias nuvens escuras estiveram sobre meus olhos rezei a Santa clara para deixar a chuva afastada E ORÇAMENTO DE OBJETOS DE ARTE:
enquanto eu estivesse na estrada. A chuva caiu quando pisei nas terras da Mantiqueira. Durante Rua Albertina Neves Carvalho 233
aproximadamente 136 horas habitei o topo de uma araucária. Tive vontade de ficar em silêncio Palmital A setor 7 Santa Luzia – MG BRASIL
durante 12 dias permaneci sem dizer nenhuma palavra até voltar para casa. Quando vi minha CEP: 33140-740
mãe tive vontade de pedir a benção _ pedi a benção _ minha mãe me abençoou e voltei a falar. Fone : + 55 031 36354089 / 8813 6721
p.nazarethedicoesltda@gmail.com
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Shima
O projeto incial era sair do contexto urbano onde vivo para um outro, de uma ecovila, e assim 1978, São Paulo, SP
tentar estabelecer diálogos: de trabalho, de sistemas, de lógicas, buscando concretizar as shima.art.br
proposicões que aparecessem durante estes 30 dias de residência. Surgiu durante a residência
a proposta de transpor a experiência do urbano ao “fugere urbem”, e simultaneamente,
permitir que o contexto deste novo e fresco habitat influenciasse / contaminasse / alterasse
meu sistema de trabalho. Neste mês de residência surgiram 3 trabalhos de performance, 3
vídeos, 1 série de fotografias e 1 sequência de ações, que não denomino como “performance”,
pois são realizadas sem espectadores, mas que considero fundamentais neste processo de
OUTROS HABITATS
residência, que enumero a seguir.
PERFORMANCES
“Romaria” (O Vaga-Lume), 2010 performance, tempo indeterminado (de 10 a 15 minutos)
Material: caixa de fósforos
À noite, em completa escuridão, ir da casa da Borboleta até à casa da Tartaruga, acender um
palito de fósforo e caminhar, protegendo a chama, até que o palito se esgote. Deixar o palito no
local onde se apagou e acender outro. Ao chegar ao último palito de fósforo, queimar a caixa
deixando as cinzas no local e completar a trajetória, ainda que seja na escuridão.
(As performances nao foram registradas em foto ou vídeo por requisição do artista)
24 25
Por quê não?1
Ana Luisa Lima*
Mas é justamente nessa possibilidade de algo tão próximo que a beleza a cima dir .
oficina de caroline valansi na unipac
(e a grandeza) da arte pode se manifestar: nos fazendo conhecer a arte e a no meio
vida por diferentes modos de perceber - sobretudo, as coisas com as quais oficina de poesia com mayra martins
para alunos da e. e. frei josé wulff
já estamos acostumados. abaixo
Desde os anos 1960, com o movimento chamado Tropicália2 (no qual Caetano mutirão na horta
fotos: jean sartief, mayra martins
Veloso também fez parte), os artistas plásticos Helio Oiticica e Lygia Clark (e
tantos outros) fizeram uma arte que já não era um objeto para ser visto (pintura,
escultura), contemplado a distância, mas algo que poderia (e deveria) ser sentido,
tocado, experienciado, não só com os olhos, mas com todo os canais de acesso
do corpo: visão, tato, olfato, paladar, audição. Sem deixar de lado, também, o livre
pensamento e quem sabe a imaginação.
Desse mesmo jeito, os trabalhos de Caroline, Filipe, Jean e Mayra devem ser entendidos e
vivenciados. Eles foram feitos para você, por isso, experimente, por exemplo, tocar (ou
entrar) num ninho, viajar junto nas histórias dos mais velhos, escrever e ouvir
mensagens, imaginar como se faz um orvalho...
Arte não é para ser uma coisa difícil. E, às vezes, para
entendê-la é preciso se deixar envolver.
Venha, veja, seja3... 1 - Referência à Alegria, alegria de Caetano Veloso
2 - O movimento ganhou esse nome a partir de
um trabalho, de mesmo nome, de Helio Oiticica
3 - Referência à Chuva, suor e cerveja de Caetano
08/03 a 04/04/2010
Artistas
Caroline Valansi (RJ)
Filipe Freitas (MG)
Jean Sartief (RN)
Mayra Martins Redin (RS)
segundo grupo Crítica convidada
Ana Luisa Lima (PE)
Pequenos tratados sobre Ana Luisa Lima
crítica convidada
1978, Recife, PE
“São as próprias coisas, do fundo do seu silêncio, que deseja conduzir à expressão.” www.revistatatui.com
Merleau-Ponty em o Visível e o Invisível.
“Então, o artista, na produção da obra, tem que mostrar – não é uma questão No desenvolvimento do trabalho Trans-forma, a artista se viu questionada pelos elementos
voluntária, é uma necessidade existencial –, todas as suas raízes, todas as suas naturais. A partir de então, começou a coletar e inventariar tipos de raízes, ninhos de pássaros
experiências, todo seu processo de formação estética, e todo o seu sentir: sua e cascas de árvores. No processo de inventário das raízes, surgiu a série de gravuras-desenhos
afetividade está relacionada com sua vida cotidiana. Tudo isso recolhe, por um feitos por frotagem com grafite e pastel oleoso. Do estudo dos ninhos abandonados pelos
lado, toda sua tradição – porque ele é esta tradição – e necessariamente vai se pássaros, percebeu que estes eram feitos de raízes. Nesse percurso, voltando a sua própria raiz
mostrando em tudo que produzir.” (para sua avó materna que lhe é a referência no uso da costura) começou a intervir nos ninhos
Jesus Torres Vázquez, em entrevista para revista Tatuí número 4. fazendo costuras com linha vermelha, como se quisesse devolver a estes ninhos – agregando a
estes o significado de sua própria história – o status de lar.
Na reconstrução dos ninhos, deu-se conta da repetição do uso da linha vermelha como elemento
Sobre Caroline Valansi, Terra Una, 20 de março de 2010.
formal3. Isso lhe fez questionar se a presença da linha4 seria mesmo uma necessidade-significado
A experiência do salto; ou, como ser Libre1 ou o uso excessivo de uma fórmula. Dessa interrogação surgiu o trabalho Ninho de Gente que se
trata de um objeto/escultura e algumas séries fotográficas.
Hoje, nada mais raro do que um artista que se permite um salto “Libre” sem suas redes de
segurança procedimentais que sempre lhe asseguram o discurso da coerência. A necessidade de Ninho de Gente acaba por ser a resposta aos questionamentos feitos pelos elementos naturais e
controle – do discurso e da forma – é sintomática nessa geração que surge nas universidades, por si mesma . Na construção do objeto, Caroline abandona todo e qualquer elemento cultural
notadamente, nos anos 2000. Mergulhado numa realidade mercadológica, na qual a arte (embora use a costura como método) fazendo-o apenas com cipó, palha e mato. O ninho feito
se mostra cada vez mais ativada apenas por esta demanda, fica a pergunta: onde andará a para gente devolve à natureza a pergunta sobre o natural e o cultural.
necessidade criadora (a pulsão criativa) do artista? Embora a priori pensado para ser apenas objeto/escultura, Ninho de Gente acabou se tornando
Pulsão de vida e de morte, prazer e angústia, diluíram-se nos modos do fazer contemporâneo (?). (também) séries de fotografia quando começou a ser fruído espontaneamente. Tomadas pelo
É curioso perceber que a arte antes pensada como um “exercício experimental da liberdade”2, exercício de plena liberdade, as pessoas propunham novos lugares e maneiras de fruir. As
agora, para muitos, é só exercício, procedimento, longe de ser uma experiência da liberdade. O imagens feitas a partir dessas experiências são, sobretudo, um diálogo sincero entre artista,
experimental parece só se potencializar quando há demarcações de limites. Diante da liberdade, obra e público. Não à toa que cada proposta de fruição carrega também a possibilidade de uma
da possibilidade plena de todas as coisas, prefere-se menos o risco. Paradoxalmente, embora não nova narrativa. Cada imagem da série é uma síntese dos desejos tanto da artista, quanto do
haja, na contemporaneidade, um programa estético comum, o excesso das repetições formais e público, por isso mesmo que se sustenta enquanto obra individualmente e quando em conjunto.
de assuntos tacitamente formaram cânones – de processos e visualidades. Sob estas mesmas perspectivas, o trabalho Rio Seco foi construído – feito de terra e cascas de
árvores.
O procedimento em si não é um mal quando meio e não fim. Pode ser um grande aliado do
artista ajudando-o perceber a potência dialógica dos materiais (concretos e abstratos). Nessa A necessidade de coerência – formal e no discurso – responde mais às demandas de mercado,
direção, podemos pensar os trabalhos de Caroline Valansi. menos à pulsão criadora e criativa do artista. Na experiência do salto, não há garantias de uma
aterrissagem segura. Mas, o certo é que a insegurança imbricada nessa vivência há de sempre
Com formação em fotografia e cinema, não à toa é possível perceber, na maioria dos trabalhos reinventar possibilidades de novos voos. E quem voa não se afasta do que é e do que faz. Afasta-
de Caroline, o cuidado meticuloso com os elementos compositivos: enquadramento, luz, cor... se apenas do lugar seguro, previsível. Deixa de lado a coerência (a lógica) e vive a consistência:
Mas ao vislumbrar que tal background lhe dava uma espécie de lugar seguro de atuação, em sua maneira de estar no mundo e que nesse sentido todas as construções estão impregnadas do
sua passagem por Terra Una, optou pelo salto, por explorar outras possibilidades para além do que é (ainda que sempre gerúndio).
fotográfico – sem necessariamente abrir mão do uso da fotografia ora como matéria, ora como
linguagem, ora matéria e linguagem simultaneamente.
Desvendar os trabalhos de Mayra Redin será sempre um tentar, como o trabalho em si mesmo
é uma tentativa para. Sempre prestes a. Sempre ao ponto de. Sempre que tem cara de nunca,
embora não o seja de fato porque quando damos o primeiro passo para a espreita, já estamos
lá, naquilo. Estar ou não imerso nas proposições, sensivelmente elaboradas por ela, é um estado
Sobre Jean Sartief, Terra Una, 22 de março de 2010 inequívoco: sabemos do começo. Porém, não do fim. Se é que haverá um fim.
A geografia da afetividade Se nos aproximarmos das suas palavras-ações acerca da chuva, por exemplo, o quanto disso só
por si já não se fará impregnado? Então, a cada nova chuva, sua voz ressoará no fundo de nós.
Possivelmente, já esmaecida – diluída. Mas. A substância dos seus assuntos não é esse sempre
É certo que o termo “artes visuais”, dentro em breve, terá que ser substituído por um outro mas?
que consiga abarcar a quantidade de linguagens, assuntos, movimentos, proposições já hoje
entendidos como campo de atuação da arte contemporânea. Híbridas, conectadas, entrelaçadas, A obra-vivência se trata de (in)definição (e se quer (res)guardada desse jeito: num cantinho,
as linguagens redefinem parâmetros, reposicionam fronteiras. embora sempre à mão). Trata-se de pequeninas fronteiras prontas para uma travessia atenta.
Mergulhar nas ações que ela propõe pressupõem um estado de alerta porque se quer percorrer
Influenciados, entre outras tantas referências, pela teoria da fenomenologia de Merleau-Ponty o ínfimo: o mínimo, o (in)fixo, o (in)certo. É tudo mesmo assim: sim-e-não e não-e-sim.
(que se debruça sobre a ideia de sentimento-pensamento e pensamento-sentimento não como
coisas estanques mas amalgamados numa simbiose necessária para o conhecimento de mundo), Os trabalhos de Mayra tratam da minúcia, do detalhe, do olhar sobre o irrelevante. Nesse
os neoconcretos (anos 1950-60) propõem o conceito de antiarte como uma “solução” para o não sentido, são proposições para todos, enquanto alvo; para alguns, naquilo que é acessível. Porque
engessamento das práticas artísticas e experimentais. É quando a arte, aqui no Brasil, passa a, experienciar tais propostas requer, no mínimo, a alma desnuda, despudorada, sem medo das
cada vez mais, considerar o corpo, o sentimento, a afetividade, a participação. ameaças do ridículo. Trazem consigo mesmas uma simetria com as portas de Hermann Hesse
- “só para loucos” (Do livro o Lobo da Estepe).
Nessa direção é que a proposição de Jean Sartief também contribui para que a fronteira Me pego pensando sobre esse seu debruçar pelas coisas mínimas. O quanto disso tem de inteiro?
permaneça elástica impossibilitando de(limitar) o campo de atuação das artes. Como um Tratar das coisas inúteis com propriedade parece sempre arranjar um caminho inevitável para as
mensageiro solitário5 ele vai de encontro ao público entrelaçando palavras, significados e grandes coisas. Assim percorreu vida e obra de Manoel de Barros.
afetos. Com sua costura imaginária, Jean consegue justapor, de uma só vez, pessoas e lugares
tão distintos numa só voz. No simples entregar e colher os depoimentos por onde passa, vai-se Por que não saber da superfície, do visível, do tátil, do possível? Por que não mergulhar na gota,
fazendo o desenho de uma nova geografia. Nesta nos é permitido perceber semelhanças nos no orvalho, no sereno? Por que não tratar do despercebido? Do já sabido, mas nem sempre
desejos, anseios, desabafos (...) a despeito da diversidade cultural diariamente vivida por essas experienciado?
pessoas que ele encontra. Assim, cada mensagem individual vira um clamor comum.
Mayra propõe percursos aparentemente tautológicos entre a dimensão textual (escrita) de seu
Noutro momento do trabalho, as mensagens são trazidas de volta à vida ao alcance ampliado trabalho e suas proposições-obras. Mas o fato é que, ainda que uma coisa esteja atravessada
pela caixinha de som6 (re)pousando em outros destinatários (para além dos que já deram suas na outra, são diversas. Para aquele que experiencia as proposições-obras abrir-se-ão percursos
mensagens). Nessa dinâmica, acalentados pela empatia (ao reconhecer naquelas vozes algo completamente diferentes daqueles que ela mesmo descreveu em seu texto. Assim como aquele
de seus também) estes a quem as palavras vivas (re)encontram destinos passam a configurar que ler, há de ter caminhos outros pela frente, diferentes dos que estão ali escritos – muito mais
também na geografia do afeto. diversos dos que não puderam ser experienciados.
Isso se dá pela natureza particular de cada linguagem. A experiência estética e a escrita. Nem
tudo o que pode ser experienciado no corpo pode ser traduzido em palavra. Assim como cada
palavra pode levar a uma viagem outra que a experiencia estética é incapaz de proporcionar.
Dessa forma abre-se esse duplo necessário na obra de Mayra: 1. o desejo de fazer o corpo se
5 - Projeto Palavra de um só momento para um espírito humano que deseja ardentemente, em ação desde saber enquanto superfície que se deixa impregnar de. 2. a vontade de dizer daquilo que já foi
2005, no qual o artista aborda uma pessoa aleatória e entrega uma mensagem escrita (de um último (vivido) ser nova possibilidade de ser (de alguma forma) apreendido.
participante) e esta nova pessoa lhe escreve uma nova mensagem que é entregue a uma 3ª e assim por diante.
6 - No projeto Palavra Viva, o artista cria o deslocamento de sons. Com a mixagem de mensagens de pessoas Em Mayra Redin, palavras e ações têm um caráter continuum. Cada nova ideia, cada nova ação,
e sons da natureza ele consegue fazer com que as mensagens das pessoas sejam levadas para o ambiente cada nova palavra sobre, cada nova tentativa de, somadas, tornam-se pequenos tratados de
natural; e os sons da natureza, para os espaços de circulação intensa de pessoas na cidade.
coisas inúteis – não por isso (é possível que por isso mesmo!) pungentemente bonitos.
30 31
Caroline Valansi
1979, Rio de Janeiro, RJ
www.flickr.com/photos/carolinevalansi/sets
Trans-forma
Minha residência em Terra Una foi muito importante para acessar novos caminhos
artísticos, que alteraram meu processo criativo. Essa vivência de morar num lugar com
muita natureza me modificou. Minha proposta inicial, Trans-forma, ficou pequena
quando me vi impregnada pelo espaço e toda vida existente por lá. Assim, se abriu um
canal para novas possibilidades de criação e estímulos. Além disso, os artistas que me
acompanharam deram uma pitada de dinamismo e companheirismo nessa experiência,
me fazendo acreditar mais ainda que colaboração é um agregador estimulante para o
processo de produção tão solitário que nós artistas passamos.
Me desafiei.
32 33
Jean Sartief
1973, Natal, RN
sartief@ig.com.br
De Liberdade segui para Terra UNA, local da residência artística, na qual passaria um mês
junto com mais outros 3 artistas: Mayra Martins Redin (RS), Caroline Valansi (RJ), Filipi
Freitas (MG) e a artista e crítica de arte Ana Luisa Lima (PE). Ao todo foram 15 cidades,
percorridas de Natal a Liberdade, 63 mensagens trocadas, 40 depoimentos gravados, 48
sons da natureza que resultaram em 20h de gravação.
“Tudo o que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível”. Essa mensagem foi
uma das recolhidas durante a viagem de ônibus e traduz um pouco de como esta edição
do Interações Florestais foi intensa e inesquecível.
34 35
Mayra Martins Redin
Campinas, SP, 1982. Vive em Porto Alegre, RS
www.caminhoinverso.blogspot.com
C o l h e r c h u v a
Eu chamava assim meu projeto. Aconteceram algumas chuvas naquele mês de março, mas
também aconteceram noites brancas, manhãs úmidas, cachoeiras nevoeiras escondidas. E houve
silêncios e encontros em caminhadas sem propósito. E quando a chuva vinha eu entendia que
eu não queria mais colhê-la e sim, vê-la passar por mim. E foi assim com as outras coisas também:
observar: o sereno, as águas da cachoeira, a noite, os dias... Queria observá-los passar. Isso que
independente da gente, passa. Em Terra Una, Liberdade, compreendi que estamos entre. Surgiu
então “Sob (re) sereno”:
O sob ou sobre fala dessa relação com o em cima e embaixo. E o entorno, os “aos lados”. É de
certa forma a relação do homem com o universo. A sensação de estar abaixo e acima ao mesmo
tempo (mudando o eixo, a referência e as escalas do visível, do tátil). Na verdade, a sensação de
não saber onde se está. De perder o sentido de lugar/espaço/ proporção. Não perder, mas de não
ter a capacidade de perceber estas relações, tanto do grandioso quanto do mínimo. É também
o desejo de encontro com isto que vem do universo, do infinito, do desconhecido. O que não
se vê direito ou exatamente. Como o sereno, um esconder-aparecer. E que se forma a partir de
acontecimentos que fogem dos olhos. Talvez o sereno seja o que se vê de todo o processo que
não se vê. Como a chuva, as gotículas da cachoeira, o vento, as sombras.
Esta foi a minha busca: registrar (e o registro também está no corpo) o que foi possível de ser
registrado, tocar o tocável, mas que faz parte de um intocável e quase imperceptível. Isso me
lembra que a gente cria frente às impossibilidades do desejo (e talvez frente à impossibilidade
do saber, do compreender). Ou melhor, a gente cria porque deseja. Criamos pequenas
possibilidades. Meus projetos são realizações de pequenas possibilidades frente a tudo que é
imperceptível, invisível, intocável, mas que sabemos que anda por aí. Como sabemos? Não sei.
(Durante este um mês convivi com os artistas Jean Sartief, Caroline Valansi e Felipe Freitas, com
a artista e crítica de arte convidada Ana Luisa Lima, com moradores e passantes de Terra Una:
vivência indispensável de troca e criação).
36 37
Filipe Freitas
Bolsa Terra UNA
1975, Belo Horizonte, MG. vive em Liberdade, MG e Rio de Janeiro, RJ
autopoeta.wordpress.com
Anciões
Adentrar a residência artística - Prêmio Interações Estéticas - como artista residente de Terra
Una trouxe a oportunidade de me vincular poeticamente com a gente simples de coração da
montanha que nos avizinha.
O cenário é a Serra da Mantiqueira, municípios de Liberdade e Bocaina de Minas, terra de leite,
pinhão e fé cristã, entre Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.
O projeto Anciões nasceu para encontrar os antigos guardiões dessa terra e realizar registros
memoriais em que eles contam estórias e falam sobre seus costumes e valores com a sabedoria
advinda da escola do mundo.
Subi e desci as estradas ao redor de Terra Una e fui agraciado no encontro com seres que trazem
consigo o coração do caminho, a família da vida: seres árvores cujos frutos nutrem o senso de
ser a Terra.
O projeto consiste em dois vídeos de curta metragem – um com anciões de Bocaina (DVD e WEB)
e outro com anciões de Liberdade (WEB – em breve) – e uma série de portraits fotográficos. E foi
concebido visando integração comunitária, valorização da sabedoria popular, fortalecimento de
princípios baseados na simplicidade e a busca pela saúde.
38 39
Caramba! Que barato!* à esquerda
terceiro grupo de residentes e
interações florestais equador: bárbara ,
beatriz, julio, maria teresa , ricardo,
Nesta minha terceira visita a Terra UNA me deparei com o ana , juan e fábio
último grupo do Interações Florestais 2010. Seis artistas de abaixo
diferentes partes do Brasil, e dois do Equador, que residiram oficina de ricardo alvarenga gravando
vídeo em liberdade
e conviveram por um mês na ecovila catalisando suas abaixo direita
Cada artista com sua individualidade se constitui como maria teresa ponce
A proposição que Terra UNA coloca a todos, que de alguma forma participam de sua experiência,
é a aventura do assentamento humano comunitário em um território que vive entre dinâmicas
rurais e selvagens. A ideia de se inventar um lugar para viver desde seus elementos mais básicos.
Propor a reflexão sobre todas as nossas ações cotidianas, que exercemos na maioria das vezes
de modo automático e inconsequente. Experimentar a possibilidade de se reinventar a nossa
sociedade. Se vivemos em um mundo onde a mais de um século não existem terras incógnitas
e todo o planeta está mapeado por diversos aparelhos tecnológicos que se atualizam quase em
tempo real, o grande desafio de nossa era não é mais, como nos tempos das grandes navegações,
descobrir e mapear novas terras para se habitar. Para além das especulações astrofísicas,
que ainda se mostram essencialmente fictícias, o que se impõe à contemporaneidade como
vanguarda territorial, a explorar os limites do espaço humano, é o desafio de descobrir novos
modos de se habitar territórios que já conhecemos. Reciclar espaços. No sentido inverso dos
movimentos exploratórios tradicionais, que se dirigem sempre para fora, as iniciativas atuais que
buscam estratégias alternativas para a ocupação humana sobre a Terra, se voltam para dentro
de territórios preestabelecidos, no sentido de “pôr-se a desfiar os dispositivos e diagramas que
modulam os tempos e espaços chamados nossos, abrindo, por fim, os mapas tidos como prontos
nas tristes postulações atuais do fim da história”1. Esse é, de um modo geral, o projeto das
ecovilas espalhadas hoje por todo o globo. O que Terra UNA traz de particular em sua trajetória é
o uso que tem feito de processos artísticos como instrumentos colaborativos para a construção
deste assentamento, desde suas instalações físicas até os conceitos que organizam e regulam
a comunidade. A realização de residências coletivas, onde artistas de diversas regiões do país
e de diversas linguagens, convivem e produzem dentro de uma rotina comunitária, promove
uma série de desdobramentos onde as subjetividades envolvidas vão interagindo entre si e
com o ambiente, criando uma teia de relações, propostas e ideias que contribuem muito para a
estruturação da ecovila. Da mesma forma, as contribuições também são muitas para as poéticas
de cada artista.
O projeto Interações Florestais se difere de outros projetos de residência por dois aspectos
básicos. Primeiro, pelo fato do isolamento local que promove uma vivência imersiva, onde os
artistas se veem obrigados a abrir mão de muitos recursos e rotinas dos grandes centros urbanos,
onde a maioria vive. Segundo, pelo fato de ser uma proposta comunitária, onde cada um, além
de realizar seu projeto individual, deve participar de todas as atividades que dizem respeito ao
funcionamento da ecovila. Plantar, colher, cozinhar, limpar, tudo deve ser compartilhado por
todos. Deste modo, os processos artísticos desenvolvidos durante as residências se constroem
ARTEAVENTURA
sob uma ótica da convivência, onde as poéticas individuais vão dialogando e compondo relações
de troca. Vivenciamos assim, uma maior permeabilidade das individualidades e dos processos
individuais, promovendo frequentemente trabalhos coletivos ou de autoria compartilhada.
Dentro desta dinâmica, percebemos também, que os processos artísticos passam a desenvolver
fortes relações com as práticas domésticas e cotidianas da ecovila, se interpenetrando
mutuamente e muitas vezes se confundindo. Arte vida. O que os artistas experimentam ao
Eu, da Raça dos Descobridores, desprezo o que seja menos se colocarem e se perceberem no ambiente da residência é um movimento de constante
que descobrir um Novo Mundo! reposicionamento de suas relações com tempo, espaço, cotidiano, com o seu trabalho, com o
Ultimatum, Álvaro de Campos, 1917. outro e com o universo da arte. Assim, o que se coloca aqui, é o que poderíamos chamar de “uma
poética da geografia – ou, no fim das contas, uma metodologia da estrangeridade: aquele ato
de, justamente no movimento e no encontro, criar o procedimento de estranhar a si mesmo e
ao mundo”2.
42 43
ve r d a d e ve r d e
A selva só faz sentido quando a olhamos de longe.
Quando estamos dentro da selva sobrevivendo,
sustentando nossa existência em meio ao labirinto de verdes e sombras,
tudo aquilo não significa nada.
Onde a vida explode num turbilhão vertiginoso,
a vida não vale nada,
ou pelo menos a nossa vida não vale mais que a vida de um brotinho de
bromélia a crescer sobre um tronco podre.
Esse despojamento que a imersão na mata nos dá
germina sementes de uma liberdade imensa e mortal.
A sedução da selva.
Onde perigos e delícias caminham lado a lado.
É preciso estar atento e forte.
O medo de nada pode servir com sua imaginação abismal
e uma velha onça sempre a espreitar pelas nossas costas.
Não sabemos nada sobre a morte mesmo
e a dor profunda de uma vida inteira pode estar de tocaia em um
graveto de angico ou em uma pedra solta.
Viver é muito perigoso.
Esta é a grande aventura proposta aos artistas participantes do projeto Interações Florestais, uma
experiência imersiva coletiva viajante que propõe “o desafio de transpor os limites do habitual”, Mas o que é mais imperativo e poderoso na selva
e que nos faz pensar “que, tanto na vida quanto na arte, perder as coordenadas, alterar hábitos, e que pode estancar todo o suspense que flutua sob as copas das
romper com automatismos corporais e rotinas preestabelecidas, desativar procedimentos árvores.
recorrentes, são atitudes necessárias a fim de tornar corpo e mente ávidos por novas percepções O que não seduz mas encanta,
e sensações”3. É isso que, na maioria das vezes, os artistas extraem da experiência da residência – aquilo que é a verdade única mãe de nossa terra.
uma forte sensibilização das esferas corporais, sociais e ambientais. E se partimos do pressuposto É que a vida supera a morte,
de que o corpo do artista é sentinela em vigília às portas do sensível, nada mais profícuo e que sempre se serve de alimento para mais vida.
inspirador que a experiência artística, se o que está em jogo é um reposicionamento sobre a Porque a morte sempre se desdobra em mais vida
relação do ser humano com o ambiente, no intuito de promover novas práticas e conceitos para e a vida se desdobra em mais vida,
esta relação. O que se engendra nas vivências de Terra UNA é antes uma proposição alternativa e a floresta vai se adensando em mais vida,
aos modos de produção, socialização e urbanização, que uma crítica moral a sociedade urbana se fechando em mais vida,
ou uma simples prática de ecoturismo. Se conectar com alternativas reais e possíveis ao invés se ramificando em mais vida,
de se alienar de uma realidade hegemônica e opressora. É neste princípio de conexão que devorando os pastos e mesmo as cidades.
podemos tomar as experiências realizadas por Terra UNA como uma espécie de incubadora de Assim,
ideias e processos artísticos que devem necessariamente se desdobrar para além das cercas e a selva me alimenta com tanta vida,
divisas que delimitam o território físico da ecovila. E assim, cada artista saído deste encontro, e me fere também
tem a oportunidade de levar consigo para outras partes, sementes com a potência de germinar com tanta vida.
novos espaços para novos cultivos, tanto da arte como da vida. Como a estranha alegria de saltar para fora do matagal todo arranhado
e coçando.
1 - Danichi Hausen Mizogushi, cartografias da amizade: inconclusa coleção de nós, 2010.
2 - Idem.
3 - Silvia Paes Barreto, Trajetórias, 2010.
44 45
Ana Freitas
Rio de Janeiro, 1981
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Barbara Rodrigues
Recife, PE, 1984. Vive em São Paulo, SP
Poente
Projeto P O E N T E compreendia a ação de dispor
alguns candeeiros a querosene numa paisagem a ser
escolhida durante a Residência Artística Terra Una/
Liberdade – MG, e filmar seu esmaecimento entre o
pôr do sol e o anoitecer .
48 49
Hominidae Ricardo Alvarenga
1979, Uberlândia, MG.
www.ricardo-alvarenga.blogspot.com
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Fabio Belotte
bolsa Ponto de Cultura e Sustentabilidade
1984, Belo Horizonte, MG
Projeto que nasceu da vontade de tornar tornar poético um tema que já foi debatido
à exaustão, mas que no entanto ainda não se observou um resultado significativo.
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Interações Florestais EQUADOR
Artistas
Juan León (Guayaquil, Equador)
Interações Florestais Equador é um projeto realizado através Maria Teresa Ponce (Quito, Equador)
da residencias_ en _ red, rede hiberoamericana de espaços Curadora convidada
independentes e financiado pela AECID. Uma parceria de Terra UNA Beatriz Lemos (RJ)
com o Ceroinspiración Espaço de Arte e Residência, localizado em
Quito, Equador (http://ceroinspiracion-arte.blogspot.com).
à esquerda
resultado de atividade da oficina de fotografia e
photoshop com maria teresa ponce na e. e. frei josé wulff
bárbara rodrigues pretes a servir prato típico
equatoriano
acima
juan leon discursando para os visitantes do fim de semana
aberto em terra una na inauguração de
“outra obra de leon”
fotos de ana freitas e ricardo alvarenga
Lugar para o impulso
Beatriz Lemos
curadora convidada
1981, Rio de Janeiro, RJ
Os espaços de residências autogestionados no Brasil, que possuem atividades constantes e principalmente, pelas atividades do dia a dia e nada mais didático do que exercitar o cotidiano
presença na cena de arte, são poucos: Capacete, Casa das Caldeiras e Terra Una. Os dois primeiros em comunidade: o quadro de cooperação de tarefas é revisitado todas as noites para orientar
atuam em metrópoles e capitais econômicas do país, Rio e São Paulo, e, consequentemente, a dinâmica de trabalho do dia seguinte; a dedicação à alimentação e o reaproveitamento dos
seus artistas residentes focam em questões relacionadas ao meio e às sociedades urbanas. O alimentos tornam-se prioridade de todos; as decisões são tomadas por consenso, priorizando a
Programa de Residência Artística Terra Una é o único que atua em um ambiente rural e florestal, inclusão e participação e os momentos de conversas e partilhas coletivas são ocasiões de bem
além de fazer parte das dinâmicas próprias de uma ecovila no interior de Minas Gerais. Artistas estar individual/emocional. Mesmo como morador de passagem - como foi o meu caso e dos
e visitantes se isolam a 13 km da cidadezinha mais próxima em meio à Serra da Mantiqueira, artistas em residência -, fazer parte deste cotidiano singular encaminha o indivíduo para uma
dezenas de cachoeiras, trilhas para pequenos povoados perdidos e um ideal de modelo de vida ampla percepção de suas ações e desejos. Sim, é possível fazer com que o mundo seja melhor.
sustentável. Estar em Terra Una não é uma experiência comum. Presente e futuro.
A ecovila ainda se encontra em processo de estabilização, com poucos membros como moradores Proporcionar uma experiência deste nível para um artista pode vir a ser algo referencial em seu
efetivos e construções coletivas em andamento. Contudo, o núcleo central da comunidade, trabalho. O ambiente ali construído, tanto no âmbito das práticas comunitárias quanto ecológicas
onde todos compartilham e se reúnem, a casa da borboleta e seus arredores, já agrega a energia e sustentáveis é, por si só, potente em sua carga de relações e desdobramentos. O pensamento
essencial para um viver sustentável em comunidade. A aplicação de novos paradigmas através ativo acerca de questões essenciais para uma melhor qualidade de vida já é assunto imediato em
da reflexão e da prática aporta Terra Una para a dimensão de um lugar a vivenciar o momento diferentes áreas do conhecimento, como também na arte contemporânea. Processos poéticos
de transição tão necessário em nossa sociedade. Redesenhar uma nova visão de mundo passa, coletivos, o exercício da escuta, o lazer e descanso como práticas saudáveis ao corpo e a mente
56 57
e a atenção às relações construídas são argumentos reais para o fazer artístico. Em um contexto Outra iniciativa relevante é o coletivo i-Motirõ que se fundamenta na Cultura Digital e participa
como Terra Una valores como esses se somam à ideologia de um desenvolvimento integral para como organismo vivo das ações de inclusão digital do Ministério da Cultura nos estados do Rio
o ser humano, independente de se estar em um paraíso natural ou em plena cidade. de Janeiro e Espírito Santo, junto aos Pontos de Cultura. O coletivo que trabalha em conjunto
desde 2005 tem como interesses motivadores a inclusão digital, o software livre, a re-apropiação
A mandala composta pelas quatro extensões da vida, onde se estuda e se aplica os preceitos da tecnológica, arte eletrônica, mídia comunitária e tática. A definição do grupo disponibilizada
sustentabilidade - social, ecologia, economia e visão de mundo -, quando abordados pelo viés em seu website traduz o pensamento das redes colaborativas inspiradas na inteligência auto-
das micro sociedades vigoram como debates pulsantes e são apreendidos de maneira universal. organizadora da natureza, modelos sociais baseados em horizontalidade, reciprocidade, sinergia
No trabalho artístico esses princípios de reflexão apontam para uma produção engajada, ao e cooperação: “O i-Motirõ conta com diversos colaboradores e atua de maneira descentralizada
mesmo tempo questionadora e semeadora. Pensar em arte e sustentabilidade é abrir o diálogo acreditando em ações e colaborações baseadas na espontaneidade, as responsabilidades
para os complexos desafios de planejamento, implementação e manutenção de uma cultura atribuídas a cada um são dadas pelos próprios atores, a vinculação ao coletivo é não contratual,
mais consciente em suas ações e reverberações e como a arte pode atuar neste processo de ou seja, cada um pode sair ou participar no momento que lhe for mais conveniente, a presença
transição. O aprendizado no uso criativo de habilidades e ferramentas pessoais possibilita o de lideranças emergem naturalmente e de forma não hierarquizada, a revisão e a seleção das
desenhar eficiente de cada atuação no mundo, gerando sustentabilidade pessoal. É importante produções é feita pelos próprios atores e o ritmo de produção e participação junto ao coletivo é
frisar que o conceito de uma cultura mais sustentável, além de se basear em ideais ecológicos dado pela disponibilidade de tempo de cada um.”
e de integração com o planeta - como permacultura, agroflorestas e ecologia profunda -, age
com impacto direto nas práticas sociais e econômicas, atuando assim em nossas relações, EME e i-Motirõ são experiências coletivas que se utilizam da tecnologia livre para o exercício da
emoções e qualidade de vida. A construção deste conhecimento através da arte amplia seu sustentabilidade. Contudo, são muitos os exemplos do emprego da arte na regeneração das
poder de transformação ao atuar no campo do sensível e da estética e facilitar o entendimento práticas relacionais usando ou não a tecnologia. Vale citar a obra de Jarbas Lopes Cicloviaérea
de processos sustentáveis em âmbito global com aplicação local. em que o artista defende a “tecnologia do equilíbrio” (o equilíbrio do ciclista, a tecnologia do
corpo e a do movimento, de meio de transporte e forma de energia, do ser no espaço aberto e
Alguns são os projetos, trabalhos e agentes que possuem a arte e a sustentabilidade como seu motor interno ativo) e idealiza uma ciclovia construída acima da cidade com um circuito de
ferramentas de mediação. No Rio de Janeiro o projeto EME - Estúdio Móvel Experimental, pontes elevadas que alterna graus de declives e possibilita percursos inteligentes em meio ao
idealizado pelos artistas Ivan Henriques e Silvia Leal, articula uma Kombi customizada como caos urbano.
laboratório de mídias digitais para a itinerância de artistas, ativistas e teóricos em torno da Mata
Atlântica. O projeto que se apresenta como uma residência móvel, já foi contemplado duas vezes Mudanças de percepção em relação ao mundo como as descritas acima também foram
por editais públicos e se encontra em plena atividade de 2010. Seu foco central é a pesquisa presentes (e também ativadas) nos artistas selecionados para as residências em Terra Una e
integrada em meio ambiente e sustentabilidade, entre as áreas de arte, ciência e tecnologia, agora o movimento se estica para a costura de novas redes. Trocas entre artistas e teóricos de
funcionando como plataforma para os residentes. Uma das intervenções de destaque do diferentes áreas, brasileiros e estrangeiros, aos pés da Mantiqueira. Confiança e consciência
projeto foi a residência de Alissa Gottfried no Lixão de Duque de Caxias, que usou o EME como das particularidades do tempo, do espaço e do lugar conviventes nesta ecovila (laboratório de
navegador multimídia para o trabalho com metareciclagem1, relacionando a realidade local ao modos de estar e se articular) e de sua importância enquanto impulso para o pensamento e a
sistema pedagógico da web através do uso de aplicativos livres na produção de textos e edição ação.
de fotografias do lugar. pg anterior: refeitório de terra una
à esquerda: fabricação de adobes
nesta: caravana cultura viva , ecovila e
ponto de cultura itinerante em visita à terra una
fotos de brígida campbell e domingos guimaraens
de lo social, ¿pero como hacer para que este sistema vuelva a plantear su idea desprendida del
mirada indultada un espacio, tampoco es hacer un ejercicio de redención sobre el mismo, esta romántico anhelo a lo natural, sin afectar lo ecológico y negociando un nuevo sistema social?
propuesta enmarca un accionar político dentro de una comunidad determinada donde; en entre La lógica de la participación en la que se basa este trabajo -basada en la implicación político-
participante -o sea yo- intento comprender las formas de vida, la estructura social de este sitio y discursiva del público en la creación y en el dispositivo de la exposición- puede confundirse
tratar de conectar información y colaboración entre otros copartícipes. con la interactividad, tan de moda hoy en casi todas las ramas de la industria expositiva1. ¿Cuál
sería la metodología mas apropiada para hacer de esta interactividad un verdadero mecanismo
Tomando como referente el slogan político de “obra de León”, el cual fue utilizado con
de reflexión? ¿Acaso las lógica de residencia (participación) se tienen que volver un prototipo
recurrencia en la década de los noventa en Guayaquil durante la alcaldía de León Febres-
que enuncia y legitima espacios? ¿Como cimentar una metodología que esté mas allá de la
Cordero, titulo el proyecto “Otra obra de León” aprovechando los parentescos entre el apelativo
participación con el espacio y que se concentre en la formación y reflexión de nuevos sistemas
de este personaje y el mío, así el enunciado adquiere un sentido distinto para quienes conocen
sociales sin llegar a metodologías doctrinarias?
la referencia histórica. La obra tuvo como lugar de emplazamiento la comunidad de Liberdade,
localidad de Minas Gerais, en Brasil. Un contexto donde la referencia apuntada ciertamente La obra realizada en esta residencia me permitió hacer una reflexión sobre todas estás lógicas
pierde significación; pero es preciso recordar que las potencialidades de la obra no se agotan en que tienen que ver con el arte y las dinámicas sociales. Posiblemente el desenvolvimiento del
su sitio de desarrollo inmediato. proyecto no haya sido el mas adecuado, ya que tomé esas formas frecuentes de hacer sociedad
y política para poder llegar a estas reflexiones y no propuse ningún nuevo mecanismo. Al final
Al arribar al espacio de la ecovila Terra Una, me interesó definir un posicionamiento como artista
“la interactividad no hace mucho más que suministrar al sujeto espectador la ilusión de disponer
dentro de la residencia para conocer cómo se dan las formas de vida de las personas vinculadas
de infinitas posibilidades para intervenir en el proceso de creación de la obra de arte.”2 y yo me
a la comunidad, sus hábitos de convivencia, sus intereses en común, sus problemas y conflictos
seguiré planteando en el camino del simulacro, aunque, espero me lleve a la ficción.
sociales, mas allá de sus vínculos con la naturaleza y con su idea de ecología. Para construir
mi figura dentro de este espacio, propuse mi lanzamiento como Prefecto de la comunidad: un
Fertisa, 29 de Agosto del 2010
personaje que fuese a la vez dirigente político, comunicador, obrero de trabajos físicos, director 1 - http://transform.eipcp.net / ¿Cómo podemos politizar
y obrero de la campaña política y publicitaria. la práctica de la exposición? Dmitry Vilensky
2 - Ibidem
Este simulacro de posicionamiento político - el Prefecto - desarrolló como estrategia “conocer”
las particularidades de esta comunidad a través de una serie de diálogos con sus habitantes, a
pesar de las diferencias de idiomas. Se desarrollo un plan de obra a partir de sus posibilidades y
necesidades, este me permitiría sostener reuniones con todos los habitantes de la ecovila desde
sus lideres y dirigentes hasta sus obreros quienes comentaron sus preocupaciones y necesidades
de forma precisa. De esta forma, pude encontrar un punto de contacto entre sus intereses y
los míos en una propuesta de diseño que atendía diferentes áreas y funciones. Esta propuesta
de diseño y obras entrarían a ser parte de un ejercicio de construcción de infraestructura: una
casa de granos, una mesa de camping, arreglo y señalización de caminos, además de un parque
para niños los cuales entraron en construcción, funcionamiento y se dinamizaron de manera
inmediata.
60 61
Maria Teresa Ponce
1974, Quito, Equador
www.mariateresaponce.com
Lumens
Lumens es una serie fotográfica en proceso de paisajes naturales en los
cuales intervengo con elementos ajenos a cada sitio, como es la luz artificial
y el cuerpo humano. La luz artificial, generada por focos inalámbricos,
funciona como una extensión, un dialogo, o una contradicción de la propia
luz solar que existe en estos ambientes naturales como son parques
protegidos, bosques y ríos. La instalación de los focos se realiza a partir de
las pautas que la luz solar en cada espacio proporciona según la hora del
día y la posición del sol.
Al iluminar con los focos partes de estos espacios, se revela una presencia
humana la cual también se hace evidente a através del cuerpo en algunas
imágenes como en la serie de los ríos de Minas Gerais. A diferencia del agua
que se registra en movimiento, el cuerpo en estas imágenes es inmóvil, y
junto con los focos, crea un escenario que intenta representar o aludir a un
problema de contaminación, o muerte de los ríos en esta zona, generada
por las hidroeléctricas.
Los focos, al ser ubicados en espacios naturales, pierden su función original
como objetos de uso domestico y se convierten en huellas de luz que
intentan dialogar con el espacio a pesar de que son objetos introducidos.
ARKITERRTURA
ARKITERRTURA es un ejercicio arquitectónico que responde a la planificación
y construcción urbana-arquitectónica de residencias en TERRA UNA. EL
proceso inicia con un estudio tipológico de diseños en árboles comúnmente
utilizados para construir en esta área. A partir de fotografías de estos
diseños, se desarrollan formas de distintas implantaciones residenciales.
El ejercicio incluye el desarrollo tri-dimensional de una de estas plantas,
considerando las necesidades espaciales y funcionales que requieren los
residentes de Terra Una.
Sumersiones
Sumersiones es un ejerció fotográfico realizado en colaboración con Ricardo
Alvarenga. Las imágenes documentan instancias de un performance en la
que Ricardo coloca su cuerpo en distintas áreas de espacios que contienen
agua. La imagen final combina las distintas posiciones digitalmente,
creando escenarios repletos de cuerpos sumergidos en el agua.
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publicado no programa de visitação de 22/05
desenho de Julio Callado
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Lucas Dupin
Ω Sala de Leitura Intervenção
Paulo Nazareth
Ω caminhar até liberdade só ver estrelas no céu
primeiro grupo
registro fotográfico: Lucas Dupin e Domingos Ω curativo verde
Guimaraens Ω objetos para tampar o sol de seus olhos
Ω A palavra, a página, o livro. O barro, a paisagem, fotos: Lucas Dupin
o caminho ou “livro-paisagem” Intervenção Ω 136 horas sobre uma araucária vídeo 7’
colaboração: Emmanuel Khodja, Danilo Costa, Gilmar. Ω banho de pano molhado vídeo 0’36”
Ω Onde dormem as palavras? Intervenção e
performance / montagem: Lucas Dupin e Paulo Nazareth
Shima
ΩAo Sul vídeo 6’
vídeo: Shima / edição: Lucas Dupin colaboração: Domingos Guimaraens
Ω deSERto Intervenção e vídeo 3’20” Ω Memória Essencial (série), fotografia digital 4:3
Milena Durante
Ω condições da nossa impossibilidade
vídeo. 7’53” / parceria: Augusto Cerqueira Santos
Jean Sartief
Ω Palavra viva ação / vídeo, 5’30” e fotografias
Caroline Valansi
Ω ninho de gente fotografia digital
Ω Fio de Ariadne intervenção / fotos: Caroline
Valansi e Jean Sartief
colaboradores: Ana Luisa Lima
Mayra Martins Redin
segundo grupo
Ω Trans-forma fotografia digital Ω Jardim das Escolhas intervenção
Ω Resonâncias da terra fotografia digital Ω Observatório de sereno / Sob (re) sereno
Ω rio seco instalação Intervenção e Fotografia / Colaboração: Caroline
Filipe Freitas
Ω Anciões vídeo / apresentando Álvaro de Souza
Valansi, Ana Luisa Lima e Jean Sartief
Ω Sob (re) queda ação / Fotos: de Jean Sartief /
Maciel, Rita Leonita Fagundes e Pedro Lucio Gracia / colaboração: Caroline Valansi e Ana Luisa Lima
participação: Tuan Pravaz Damasceno, Jaya Pravaz, Lena Ω a palavra sonha cordada vídeo, 2’50” /
Ferreira, Odair Joaquim da Silva e Wallace Fernandes / intervenção sobre trabalho de Lucas Dupin /
música: Pai Grande de Milton Nascimento, interpretada colaboração: Jean Sartief, Ana Luisa Lima
por Diogo Alvim e Milton Nascimento / textos de e Caroline Valansi
Friedrich Nietzsche e Nguyen Cong Tru. Ω guarda chuva de filó ação / vídeo, 4’10” /
Ω Anciões Fotografia Portrait colaboração: Caroline Valansi
Ana Freitas
O todo é maior do que a soma de suas partes
Ω Desenho: estudos iniciais, série colorida, série branca
Julio Callado
Ω Álbum de anotações fotografia
Ω Fotografias
vídeo realizado por Ricardo Alvarenga com alunos e Ω residência no dia a dia fotos dos participantes
professores da E.E. Frei José Wulff