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JOSÉ PAULO

21.10.2002

Fechando a discussão acerca da “Estética”, eu atentava para a questão seguinte: o


pressuposto de Lukács é Marx. Num esforço de leitura de Marx, na letra marxiana, é
extremamente curioso observar que no conjunto da ONTOLOGIA, quando L. trata de
temáticas seminais da sua ONTOLOGIA, ele faz a recorrência à tradição marxista. Marx
não é o único autor a que ele se remete. Entretanto, as remissões fundamentais de L. são a
Marx. É que naquele projeto de escrever O CAPITAL do século XX (que não seria nunca
um projeto individual, mas que suporia um renascimento do Marxismo) L. .....?????? um
conhecimento (não um regresso a Marx do ponto de vista filológico) mas um regresso a
Marx no sentido de depurar – para usar a imagem do Gorender, todo o entulho, seja
epistemologista, seja sociologista, seja economicista que a tradição marxista – e não só ela,
inseriu na visão que se tem de Marx.
Então, o pressuposto de Lukács é Marx. Uma leitura da ONTOLOGIA como
autosubsistente é uma leitura que leva, seguramente, a graves equívocos. O suposto de
Lukács é Marx.
Com essas posições, L. vai sustentar (esse é o ponto onde paramos na aula passada)
que o Trabalho é ............?????, com todas as implicações que antes sublinhamos. Ou seja,
o trabalho é o fundamento da hominização, é o fundamento daquele longo processo que se
marca por um salto de constituição, e, portanto, de diferenciação do ser social dos outros
níveis do ser. Antes já sinalizávamos que para L. a especificidade - a peculiaridade do ser
social, tem seu fundamento no trabalho. E no trabalho L. ..... ?????: a forma paradigmática
da prática social, para usar um termo que, aliás, não é de Marx.
No turbilhão da efervescência da polêmica pós-hegeliana na Alemanha, o primeiro a
recuperar a categoria de práxis não foi Marx. Marx tira essa categoria do debate havido no
final dos anos 30 e nos princípio dos anos 40, na Alemanha. Lukács vai retomar isso e vai
mostrar o trabalho como uma forma modelar de práxis, uma forma paradigmática de
práxis. Porquê ? Por nele estão contidas aquelas categorias nucleares que resistirão, que
constituirão as outras formas de objetivação do ser social.
O que importa sublinhar aqui ? Interessa atentar para o seguinte: todo o empenho
de L não é para discutir TRABALHO. O empenho de L. é o de, a partir do TRABALHO,
fundar a especificidade do ser social. O que é específico do ser social é a práxis; e o
trabalho é o modelo da práxis. L. se dedica a uma intensiva exploração da categoria
trabalho e considera que a emergência e o desenvolvimento do ser social –
fundamentalmente um ser da práxis, não um ser do trabalho - , esse desenvolvimento é
impensável sem o trabalho. O peso que o trabalho adquire na ONTOLOGIA de L. é o peso
de uma ......????? de fundamentação da especificidade do ser social. Parece que essa relação
práxis-trabalho é o único caminho para entender porque L., ao pensar o Trabalho, limita-o,
restringe-o, claramente, à relação sociedade-natureza . Estou utilizando a expressão
humanidade. X natureza
sociedade
porque essa relação aparece assim em Marx.
Restringindo um pouco minha exposição para o caso do debate específico instalado
no Serviço Social: a redução operada por L.do trabalho como uma relação
sociedade/natureza (na verdade há aqui e apenas uma aparente redução) é um retorno
claríssimo à fonte marxiana, e só tem sentido se lembrarmos que o homem não é um ser do
trabalho, é um ser da práxis, e a práxis não se restringe, não se limita, não se reduz ao
trabalho. Porque para efetivar essa relação ( é necessária a mediação do ser
humano, ............????? (esclarecimento a uma pergunta de aluno que não ficou claro). Ao
desenvolver a sua ação sobre a natureza os homens têm de exercer uma interação. Isso
significa que se o exercício do trabalho implica necessariamente isso que podemos chamar
de interação. Nem todas as formas de intereção supõem a presença imediata do trabalho.
L. quer entender a especificidade, a peculiaridade, o status distintivo do ser social na
sua constituição como ser da práxis. Onde está a raiz desse tipo de atividade que nega a
naturalidade dos homens como constitutiva do seu ser ? Essa raiz é o trabalho. É o trabalho
que processa o salto entre o reino da naturalidade (o ser inorgânico e o ser orgânico) para o
ser social. É o trabalho que viabiliza essa transformação estrutural e qualitativa que gera
um outro nível do ser, que é irredutível à sua naturalidade. O ponto de corte é o trabalho. E
o trabalho é, na leitura lukácsiana, exclusivamente, relação da sociedade com a natureza.
Mas essa relação, para efetivar-se, supõe, uma relação interna à sociedade, uma interação,
que não está diretamente vinculada ao processo de trabalho; pelo contrário, quanto mais se
desenvolve o ser social mais as esferas constitutivas das suas objetivações vão-se
diferenciando e autonomizando.
Recordemo-nos de que antes chamei a atenção para a origem comum da ciência, da
arte e da religião, lá atrás quando falei da MAGIA. Havia ali um magma original, um
conjunto heteróclito (Nota: Dicionário Aurélio: singular, excêntrico, estravagante) que
com o processo desenvolvimento social foi-se autonomizando em meios homogêneos
próprios, em esferas próprias, submetidas à sua própria legalidade. É evidente que estamos
face a um autor que trabalha com a noção de unicidade do ser. Insisto: o ser apresenta
níveis diferenciados, mas há uma unicidade. ?????............ tendo não apenas como princípio
heurístico (Nota: Dicionário Aurélio: Heurística: Conjunto de regras e métodos que
conduzem à descoberta, à invenção e à resolução de problemas.[Cf. heureca. ] 2.
Procedimento pedagógico pelo qual se leva o aluno a descobrir por si mesmo a verdade
que lhe querem inculcar. 3. Ciência auxiliar da História, que trata da pesquisa das fontes.
4. Inform. Metodologia, ou algoritmo, us. para resolver problemas por métodos que,
embora não rigorosos, ger. refletem o conhecimento humano e permitem obter uma
solução satisfatória) , mas como categoria ontológica a categoria da totalidade, essas
esferas que se vão constituindo não são esferas que se autonomizam a ponto de se
entificarem. Uma entificação da esfera da arte ou do saber não existe em L. Mas não há
dúvida nenhuma de que essas esferas passam a dispor de uma legalidade própria. Neste
sentido, o desenvolvimento do ser social é desenvolvimento e complexificação do trabalho,
e desenvolvimento e complexificação e ampliação de novos domínios da práxis.
Duas observações antes de prosseguir:
l) A construção ontológica de L deita por terra um conjunto de reservas, de aporias e
de críticas que a obra (que poderíamos chamar de madura) de Habermas, posterior a 1963
(Porque 1963 ? Porque é o ano da edição da sua obra “Conhecimento e interesse”), onde há
um conjunto de aporias (Nota Dicionário Aurélio - Aporia - Filos. Dificuldade de ordem
racional, que parece decorrer exclusivamente de um raciocínio ou do conteúdo dele. [Cf.
antinomia (3) e paradoxo (4).] 2. Hist. Filos. Conflito entre opiniões, contrárias e
igualmente concludentes, em resposta a uma mesma questão. 3. E. Ling. Figura pela
qual o orador finge hesitar, ter dúvidas, na escolha de uma expressão, de um rumo para o
discurso.) sobre o que chama de materialismo histórico. Haberman e seus continuadores
dizem que Marx opera pensando no paradigma do trabalho (não vou entrar aqui na
discussão de se a teoria de Marx pode merecer a designação de uma teoria fundada numa
constituição paradigmática. A mim me parece que não). Dirá ele – e estou simplificando a
coisa : o paradigma do trabalho dá conta das relações “humanidade/sociedade x natureza”
. Mas ele seria incapaz de dar conta das interações sociais. Dirá: Marx subsumiu no
paradigma do trabalho – que para ele, Habermas, é válido para o trato das relação
sociedade/natureza, ele subsumiu nesse paradigma o conjunto das relações sociais. E dirá
ele: isto é ilegítimo. Porque ? Porque as interações que se operam no estrito âmbito
homens/homens não podem ser aprendidas por um paradigma que se opera na relação
sociedade/natureza, daí deduzindo a necessidade , segundo H., de se construir um
paradigma da interação que dê conta das especificidades dos processos sociais. E ele, a
partir de 1963, vai-se dedicar a fazer isto. E se à produção disso, de maneira exemplar, eu
diria, na sua obra magna de 1981 “A Teoria da ação comunicativa”. Dirá ele: há aqui um
tipo de estrutura relacional que não é apreensível numa relação sujeito/objeto. Lembrem-se
de que anteriormente eu insistia em que o trabalho punha a objetividade, .... tautologia na
relação sujeito/objeto. Habermas percebe isso claramente e dirá: esse paradigma (trabalho)
é o paradigma da relação sujeito/objeto. Se queremos relações emancipadoras - e ele se
reclama fiel ao Projeto Iluminista (não apenas ao Projeto da Ilustração), ele dirá, que nas
interações as relações devem ser sujeito/sujeito.
Onde o equívoco da concepção habermasiana ? Na Ontologia lukásciana,
avant la letre (L. morre10 anos antes da edição da “Teoria da ação comunicativa”),
L. ......... nessa aporia habermasiana porque para ele, numa estreita leitura marxiana, essa
relação sujeito/objeto gera, necessariamente, para a sua manutenção e reprodução, uma
relação sujeitos/sujeitos (atentem para o fato de que as palavras são escritas no plural). Em
L., para a realização desta relação sociedade/natureza (trabalho) é fundamental uma relação
interna à socilidade, uma relação necessariamente intra-social. É neste sentido que aquela
longa discussão, sinalizada no debate lukásciano do ser social como um ser complexo, não
se vai esgotar no trabalho; ela vai implicar aqueles elementos que são constitutivos da
práxis social e mais. Vai implicar elementos outros além dos constitutivos; ou seja, vai
remeter também tanto seus resultados como para suas condições postas como fundamentais
seja na faticidade desta relação, seja no desenvolvimento sócio-humano. É aquilo que L.
chama de IDEOLOGIA (Voltaremos exaustivamente a essa questão).

Na formulação da Ontologia IDEOLOGIA não tem a ver com o conjunto nem da


tradição marxiana nem da tradição marxista. Esse é um ponto fundamental para que não
haja equívocos e problemas nesse debate. Na verdade, na tradição marxiana e marxista
vamos encontrar duas modalidades a que corresponde a noção de IDEOLOGIA. Em Marx e
Engels (1845/6) Ideologia tinha um significado preciso: era um conceito de natureza
crítico-negativa. Recuperemos isso: a palavra Ideologia é criada na primeira década do
século XIX por Destut de Tracy, um cientista natural, que o estava preocupado em
particularizar um ramo da zoologia, que intitula Ideologia. Ele trabalhava numa instituição
estatal francesa. Seus auxiliares mais diretos estabelecem uma polêmica com Napoleão
Bonaparte quando da publicação do Código de 1808. Napoleão enfrenta a polêmica e vira
contra eles o vocábulo inventado pelo mestre. Para caracterizar a absoluta falta de
objetividade, de senso de realidade das suas propostas, e os chama de ideólogos. E atribui à
palavra um sentido claramente pejorativo. Ideólogo é nefelibata (Nota do Dicionário
Aurélio: Nefelibata: S. 2 g. 1. Que ou quem anda ou vive nas nuvens. 2. Fig. Diz-se de,
ou literato alambicado que despreza os processos simples, fáceis.), um irrealista, alguém
que tem o pé nas nuvens. E é assim que a palavra entra no léxico nos primeiros 30 anos do
século XI.
Marx e Engels vão atribuir àquela palavra uma acepção inteiramente
diferente, uma carga semântica nova que é um instrumento heurístico na crítica ideal. Para
Marx e Engels, em 1845/5, Ideologia é toda e qualquer representação ideal que ideal que
desconheça, que não seja capaz de apreender os seus condicionalismos sócio-históricos,
que se pense como demiurga da realidade, que não compreenda a sua inserção nos conflitos
e confrontos da vida social. É isso Ideologia para Marx e Engels. Daí a idéia da câmara
invertida, da imagem invertida, da câmara escura. E antes que vocês se recordem de certos
críticos vulgares, Marx e Engels nunca disseram que a Ideologia é uma mentira.
Caracterizá-la como falsa consciência não significa que ela não seja verdadeira. Ela é tão
verdadeira como o falso constitui a dialética da vida social. Eles nunca tiveram dúvidas de
que acreditar em Papai do Céu é uma forma de mistificação ideológica. Mas eles também
nunca tiveram dúvidas de que a convicção do crente na existência de Papai do Céu seja
honesta, verdadeira e vivida como tal. O fato de caracterizarem essa crença como falta
consciência não significa que ela seja do ponto de vista da dinâmica social nem ........ nem
mentirosa .
Posteriormente, a partir dos anos 1880, na tradição marxista (e nós vamos
encontrar isso também em Engels. O último Engels é claríssimo quanto a isso) um sentido
muito mais amplo, muito mais largo para a noção de Ideologia, com a acepção que vai
considerar a Ideologia não mais como aquele instrumento heurístico crítico-negativo. Em
Marx e Engels de 1845/6 o conceito de Ideologia funciona como um bisturi para – usando a
linguagem da campanha eleitoral, desconstruir imagens ideais. Dirão eles: um pensamento
que seja capaz de reconhecer o seu enraizamento nos confrontos da vida social, isto não é
ideologia, é história, é ciência. Agora, nos anos 80, sem que se perca essa acepção anterior,
vai ocorrer um deslizamento. Ideologia vai receber o carimbo semântico de conjunto de
expressões ideais. Aquilo que não é material, aquilo que é expressão ideal passa a ser
chamado de Ideologia.
Quero lembrar que para os marxistaso “objetivo” nunca se identificou com o
material. O mundo objetivo não se reduz ao mundo material. As ideologias não são
materialidades, mas nem por isso, nesse sentido apontado, elas deixam de ser objetivas.
Essa observação é da maior importância.
Então, a partir dos anos 80 do século XIX, Ideologia, além de ter esse significado
restrito acima apontado, passa a ter um significado mais amplo, a saber: conjunto de
representações ideais. Nesse sentido a arte seria uma Ideologia, faria parte do mundo
ideológico. A filosofia, seria parte do mundo ideológico.
Mas há também outro sentido tão amplo como o anterior para Ideologia: noção de
visão de mundo ou concepção de mundo. Aquilo que os alemães chamam de ...................
. Uma visão de mundo, uma concepção de mundo implicando valores, projeções,
prospectivas e construções ideais. É esta a segunda acepção mais ampla, especialmente a
partir do trabalho da II Internacional, que vai desembocar no nó górdio “ideologia
burguesa” e “ideologia proletária”. Pois bem, a concepção de ideologia presente na
Ontologia nada tem a ver com isso. Não cancela necessariamente esses núcleos de sentido.
Mas ela é outra.
Porque é necessário insistir nisso? Porque ............???? a sociedade
contemporânea, tardo-capitalista, são expressões da ideologia, a referência em geral das
pessoas ........................?????. Esse é que é o caldo de cultura marxiano e marxista. Ora,
em L. Ideologia não é isso. .............? a instância da ideologia ......... Todas as atividades
constitutivas das condições necessárias a esse .................???? L está aqui empreendendo um
giro categorial que é de sua responsabilidade. .............
............??? não pretende inaugurar uma nova era. Ele se põe como um continuador
da obra de Marx. E por isso eu enfatizei isso aqui . Ora, o L. é uma muito mais do que
isso. L. tem luz.
Uma das inovações teóricas de L. é a inovação dessa concepção. E não é
uma concepção ampliada de Ideologia. É uma outra concepção de Ideologia. ........ no
limite, quando L. está falando de Ideologia ele não está falando de nada do quanto foi dito
antes. .........Trata-se ....... .... está atribuindo ao Trabalho. Estou falando não de caráter
estrito, estou falando de caráter restrito. A restritividade do caráter do Trabalho na
Ontologia não significa o amesquinhamento dessa categoria. Pelo contrário. Significa que,
tendo sempre como horizonte a afirmação marxiana de que a liberdade começa onde
termina o reino da necessidade, L. está assinalando de que ao longo de alguns milhares,
senão milhões de anos, o desenvolvimento do ser social pondo e repondo como condição
perene da sua existência essa relação (sociedade/natureza) não se restringe a isso. ....... O
caráter estrito dessa relação abre a possibilidade da emancipação dos homens (essa
emancipação, para L. tem nome. Chama-se COMUNISMO). Não é sociedade ......... não é
a sociedade da justiça social, não é nada disso. Essa emancipação não se dá com a
supressão do reino da necessidade, se dá na e pela práxis. Donde, se o trabalho é o modelo
da práxis, a interatividade do trabalho é inapelável, mas pensar o ser social vinculado
apenas ao trabalho é uma pauperização, um empobrecimento absoluto. E é por isso que L.
vai por esse caminho. É por isso que ele .......... a noção da Ideologia.

..........até a aula passada o que eu queria fundamentar era a relação


sociedade/natureza. ........
L. tematiza o Trabalho ............ como forma privilegiada, como modelo da
práxis. E não se entenda esse modelo como uma construção abstrata, uma construção
através de categorias meramente reflexivas. Não! É modelo no sentido de que as
determinações fundamentais da atividade social do trabalho estão necessariamente
presentes como determinações fundamentais de outras formas de objetivação que, pelo
desenvolvimento sócio-histórico, ganham autonomia e encontram uma legalidade que lhes
é própria.
Apenas para dar uma idéia da propriedade deste sentido de pertinência dessa
legalidade: é perfeitamente possível falar-se de PROGRESSO na ciência. É perfeitamente
possível, acompanhando a história das Ciências, determinar seus avanços, suas conquistas.
É perfeitamente possível dizer-se que Newton é um avanço em face de Euclides. É uma
asneira monumental afirmar que Bocage é um avanço em relação a Homero. .....a
legalidade própria do estético não pode ser transladada nem recebida da legalidade própria
do conhecimento científico. São esferas. Essa autonomização não significa independência.
Sempre lá na .....???, ou lá no Renascimento, a manifestação da objetivação estética
supunha essa base ineliminável (sociedade/natureza) . E porque ? Porque se você suprime
esse metabolismo, você suprime a possibilidade de o ser social ser produzido. É só isso. E
é também nessa ótica que L. vai explorar excessivamente a noção de ............. ???? Essa é
uma determinação recorrente na Ontologia. Em L. a constituição da socialidade, ou seja,
daquela estrutura específica do ser social não suprime e não pode suprimir a sua
vinculação, do ponto de vista do gênero humano , e a dependência , do ponto de vista dos
indivíduos singulares do seu suporte natural. ....... O sr. José Paulo, com RG, CPF,
domicílio, telefone, etc. , ele só participa do ser social, só é portador, só é criador de
sociabilidade na medida em que ele estiver vivo, na medida em que suas funções orgânicas
e naturais estiverem em operação. Será insuprimível esse substrato, do ponto de vista do
gênero e do ponto de vista do indivíduo. Entretanto desenvolvimento do ser social implica
uma redução ao infinito, ainda que sem supressão, das determinações naturais. É isso que
L. chama de RECUO DAS BARREIRAS NATURAIS.
Nesse sentido, a constituição do ser social não se dá ao preço ou em prejuízo
das barreiras naturais. Dá-se com a sua superação, no sentido estrito da palavra, no sentido
estrito do conceito hegeliano de superação. Essas determinações continuam efetivas, mas o
âmbito da sua incidência e as implicações da sua incidência se reduzem cada vez mais.
Reduzem-se ao infinito, mas são insuprimíveis. Ou seja, L. aceita um dado posto que
nós .............. a REALIDADE ...................... O fato de nós sermos mortais não significa
de forma alguma que ao longo da experiência histórica da humanidade nós estejamos
estendendo cada vez mais o tensionamento dessa barreira natural que é a morte. Século
XIV, esperança média de vida na Europa Ocidental: 29 anos (vide peste negra). Século XX,
na mesma Europa Ocidental, esperança média de vida: 79 anos para a mulher, 75 para os
homens. Continuamos mortais, mas sem dúvida houve uma diferença substantiva. Mudou
substantivamente a estrutura do ser social.
Apliquem isso .................... Dir-se-á: mas a exploração do homem pelo
homem continua. Certo ! Mas o que é preferível ? Exploração fundada na mais-valia
absoluta ou na mais-valia-relativa ? Com efeito, ambas são formas de exploração, mas há
uma diferença. Digo isso porque hoje, na banca do exame de qualificação da Prof.
Sara ...............................o que vale a pena na vida acadêmica são momentos que, quando
são levados a sério .............. Hoje vivi um desses momentos. Na banca: o Prof.
Roberto ........ e o Prof. .............. Eu lembrava da importância daquele momento. ............
Quando os argüidores lêem o material do argüido as coisas andam muito bem. Lá estava
colocada uma discussão ................ eu mencionava “O esquerdismo doença infantil do
comunismo”. .............. acho isso fundamental porque .............. do debate político, do
debate sócio-político as exigências da ............. a especificidade da política. .........
O que é fundamental em L. é essa a percepção da peculiaridade das
realidades com as quais ele trabalha. Quando ele afirma que a legalidade da arte não se
pode reduzir à legalidade da ciência, não pode ser derivada da legalidade da ciência, L. está
fazendo ..................... a ineliminável objetividade da arte, a ineliminável objetividade do
conhecimento científico, a ineliminável objetividade e particularidade da Política. Destaco
isso porque quando eu disse que a impossibilidade de L. de produzir uma ÉTICA foi
tematizada por alguns autores como a hipoteca do seu compromisso com o socialismo real.
Meszáros faz isso. E o faz claramente. Vejam como é difícil encaminhar essa discussão.
Quando Meszáros levanta a instigante tese do “Para além do capital”, ele também se
desobriga de fazer uma crítica do socialismo real. Nas 1100 páginas no livro não há
nenhuma crítica exaustiva do socialismo real. E porquê ? Ele diz que L. não iria conseguir
fazer uma ÉTICA porque esteve colado ao socialismo real. Qual então é a crítica dele ? Há
......... pontuais ao longo do “Para além do capital”, como há ......... pontuais na obra do L.
Eu estou só sinalizando para a dificuldade que se tem de saltar de um domínio para outro.
E L. é muito cuidadoso com isso. Toda a dificuldade de Carlos Nelson Coutinho na parte
que ..............................................

Pretendo, a seguir, discutir a vinculação da ideologia (no sentido lukasciano)


com o trabalho. ............................. a L. jamais se aplicaria aquela noção de ................. L.
não faz nenhuma concessão ao empirismo, nem nas suas formas clássicas nem
contemporâneas. Essa é aliás outra razão da enorme incompatibilidade de L. com as
modalidades de pensamento consagradas na Academia hoje, que são rasteira e
mesquinhamente empiricistas. Vejo hoje orientadores cobrando dos orientandos “estudo
de realidade”. Com uma lente e uma saem tratando de “casinhos”. É claro que num
universo com essa tintura, não há espaço para precupação ............na realidade a menor
concessão ao .......... qualquer que seja o seu viés. Isso não significa que L. não estivesse
colado com a realidade. Não estivesse ele preocupado com os rumos da cultura européia
ele não teria, antes, sistematizado suas concepções ontológicas, onto-sociais, e não teria
feito o longo passeio que ele fez, pelas escolas neo-positivistas, pelo existencialismo, e
pelas formas tradicionais e contemporâneas de irracionalismo ........... Ele estava sim
preocupado com a realidade da cultura européia, sobretudo com o que ela
expressava ..................... ..................................
....................... (Indagação do aluno. A partir do que fora escrito no quadro negro ele
teria tido a impressão de que trabalho e práxis social fossem coisas diferentes. E mais: que
o trabalho não estivesse contido na práxis social)
Professor: Essa indagação não cabe no debate marxista.
Aluno: Refere-se a Habermas, “que nega o trabalho como elemento fundante do ser
social. A idéia de Trabalho ..... como uma relação teleológica. E por ser uma relação
teleológica o trabalho em si já pressupõe a interação,a relação entre os homens, a relação
homem-homem. Quer dizer, por ser uma atividade teleológica que relaciona o homem com
a natureza ela pressupõe outras formas de prática social, a intercomunicação na medida
em que essa teleologia é também uma construção social, histórica. ............... A partir dessa
afirmação de que o trabalho é o momento fundante, não o primeiro momento, mas o
momento fundante do ser social, gostaria de saber sua posição (e isso tem a ver com a
posição do Sérgio Lessa) . ..........se há na posição dele fidelidade com L. ou se aí há uma
autonomia da posição do Sérgio em relação a L. quanto à questão do Trabalho como
momento fundante do ser social.
Professor: Em primeiro lugar quero dizer que o Habermas não nega o
Trabalho. ........... Nesse debate acerca da ...... do Trabalho há que se distinguir com clareza
2 grandes linhas: aquela dos autores que não negam o trabalho como condição da
sociedade. Esse debate tem algumas matrizes que são sérias e toda uma vulgarização que
está no Trabalho, na Sociedade do Trabalho etc. Haberman é um dos autores que entra
tardiamente nesse debate. E não me parece .....que Haberman negue o Trabalho. Ele faz um
outro tipo de operação: ele não atribui o trabalho o estatuto de fundante da socialidade. Esse
é o nó. E é claro que isso tem implicações que não só apenas implicações teóricas.
Tentarei sinalizar os problemas que daí derivam e que estão além ou aquém da
discussão lukacsiana. Marx não foi o único pensador do séc. XIX (refiro-me mais
exatamente ao período posterior à Revolução Francesa) a fazer a crítica da sociedade
burguesa. Não foi o primeiro nem o único. O projeto comunista é anterior a Marx. Para
não falar do movimento socialista é o antecede ainda mais. E para não falar do movimento
operário. Marx não inventou nada disso. Nem Marx foi o primeiro a fazer a crítica da
sociedade burguesa como também não foi o primeiro a propor uma outra ordem social. O
que é específico de Marx é que a proposição da ruptura da ordem burguesa tem nele
fundamento teórico. O que distingue Marx de todos os revolucionários do séc. XIX ou de
todos os revolucionários fora da tradição marxista é que em todos esses revolucionários a
crítica da sociedade burguesa e a proposição da sua ruptura devia-se ou a motivações éticas
– a idéia da justiça social, da igualdade entre os homens etc. ou a motivações utópicas. O
que distingue Marx é que ele fundou teoricamente a requisição de uma nova sociedade a
partir da análise da possibilidade de implosão desta sociedade. Isto é o que distingue Marx.
Nem todo o revolucionário é marxista. Seria uma temeridade supor que só os marxistas são
revolucionários. Só para exemplificar consideremos aqui na América Latina a importância
dos pensadores e militantes vinculados à vertente da Teologia da Libertação. Eles são tão
revolucionários quanto os marxistas, que não têm o título de propriedade da revolução.
Qual a diferença entre uns e outros ? É que no caso de Marx há uma inferência
revolucionária da análise da ordem burguesa. O projeto revolucionário de Marx não
aparece como algo que se põe à ordem burguesa, mas como algo que, antes, emerge da
dinâmica da ordem burguesa. Essa é uma diferença essencial.
Ora, isso supõe que os marxistas – para aqueles que se querem manter fiéis a
Marx, uma exigência de rigor teórico-metodológico que não se põe, por exemplo, para uma
figura tão importante como Leonardo Boff, para quem uma sociedade mais justa é um
pouco o advento. Então ele pode, tranqüilamente, sem nenhum problema na sua ótica, pode
conjugar uma sócio-análise com uma visão escatológica (Nota: Dicionário Aurélio.
Escatologia 1. Doutrina sobre a consumação do tempo e da história. 2. Tratado sobre os
fins últimos do homem) do homem. Para ele isso não é um problema enquanto que para os
marxistas isso é um problema. É por isso que em Marx o peso de uma ontologia do trabalho
é determinante para qualificar o projeto revolucionário.
Ora, uma ontologia social fundada no trabalho (Notem: porque não é possível uma
ontologia social apenas fundada no trabalho. Basta pensar em Heidegger que tem uma
ontologia social, só que não fundada no trabalho, é fundada numa linguagem primeva, num
busca de ser originária) só pode dar , desde que operada com rigor teórico, só pode dar na
fundamentação da possibilidade do comunismo. Ou seja, da emancipação do trabalho.
Vamos aprofundar isso e vocês verão ........... o último Lukács.
O esforço do último Lukács era ......... legitimar, do ponto de vista ontológico-
filosófico, a possibilidade do comunismo. Uma ontologia, qualquer ontologia, se existe (e
nós estamos vendo aqui que uma das características do pensamento moderno é um arrepio
da ontologia pela epistemologia), vai fundar qualquer projeto societário. Pensem por
exemplo na tradição que vem de Tomás, ou São Tomás, como querem alguns. .......... A
tradição que vem dele é ontológica. Tem lá sua leitura de Aristóteles, que ganha dele
auréola e asas. É uma leitura ontológica. Pois bem: podemos extrair da utilização
vaticana de Tomás – pense-se no neo-tomismo, “n” projetos societários, desde a Terceira
Via , já presente na De Rerum Novarum, ............passando pelo Personalismo com a idéia de
uma sociedade ............. Agora, uma ontologia ancorada no Trabalho só pode fundamentar
a ... sociedade comunista, inapelavelmente.
É por isso que muito antes dessa discussão a respeito do fim do Trabalho em São
Paulo, o pensamento conservador do século XIX, depois de 1848, tratou de encontrar a
socialidade (entendida aqui por característica ... do ser social) fora disso aqui
(Trabalho ??). Qual a tarefa de Durkheim ? É reconhecer isso como um dado ineliminável,
mas gerando uma também ineliminável divisão social que só pode derivar na anomia
(Nota: Dicionário Aurélio 1. Ausência de leis, de normas ou de regras de organização. 2.
Sociol. Situação em que há divergência ou conflito entre normas sociais, tornando-se
difícil para o indivíduo respeitá-las igualmente.), para saturar a anomia uma ação social
mobilizada pela noção de solidariedade.
Lukács percebeu claramente esse movimento. Notem que quando L. estava
escrevendo a divisão do trabalho social (Atenção ? Não me refiro à divisão social do
trabalho. Não se imagine que Durkheim era um idiota. Qual a diferença entre uma coisa e
outra ? A divisão social do trabalho pode ser eliminada. Não se pode eliminar a divisão
técnica. Agora, a divisão do trabalho social é perene) ele estava com a atenção voltada para
a Alemanha, quando cerca de 8 anos antes, em Gotha, sumiram as ...........do movimento
operário. Qual a lição disso em L ? É que você não encontra solução para os conflitos do
que ele chamava de sociedade moderna no interior do mundo do trabalho. Essa solução
tinha de vir de fora. Por isso ele recusa qualquer concepção ontológica, muito menos uma
fundada no trabalho. Quando L. faz essa relação ......... entre outras coisas ele está dizendo:
eu posso fundamentar aqui (no Trabalho) um único projeto societário – o projeto
comunista.
Porque estamos recorrendo a isso ? Quando pensadores contemporâneos, sem entrar
nessa discussão, cancelam esse fundamento da socialidade, o que eles estão cancelando é
essa relação aqui ............... Como dizia L. não existe ideologia inocente. Habermas (eu
posso estar enganado) em nenhum momento considera que o Trabalho vai acabar. Lendo
com atenção o ensaio ... onde ele vai discutir o Trabalho como categoria sociológica
fundamental não passa pela sua cabeça suprimir a relação sociedade/natureza (Vamos
desconsiderar os epígonos. Não vamos cobrar a Habermas feitas por epígonos .....) O que
Habermas supõe e afirma é que este não é mais o suporte da sociabilidade. Essa é a
afirmação em jogo.
E porquê ? É porque ao se cancelar essa relação (sociedade/natureza) se cancela a
noção – que não é uma noção histórica, no sentido de cronologia -, de que o Trabalho é o
fundamento da socialidade, de que o Trabalho é fundante do ser social. ........ Essa me
parece a interpretação de todos que lêem seriamente a Ontologia, não há outra, não há
nenhum acréscimo. Quando L. afirma que o trabalho é o modelo da prática social, o que
ele está dizendo é isso. Ele não está inovando. Ele está apenas explorando intensivamente
uma determinação marxiana. Nada além disso. Manter isso, manter essa determinação
significa manter essa articulação sociedade/natureza . Essa discussão anda saturada de
política, no sentido acima apontado.
Entretanto há mais: ao manter essa afirmação, ao tornar central essa determinação, o
que Marx está fazendo - e o que Lukács de maneira intensiva, exaustiva, transbordante,
está fazendo é afirmar que é impensável uma antropologia descolada de uma ontologia.
(Nota: Dicionário Aurélio 1. O estudo ou reflexão acerca do ser humano, do que lhe é
específico. 2. Designação comum a diferentes ciências ou disciplinas cujas finalidades
são descrever o ser humano e analisá-lo com base nas características biológicas (v.
antropologia biológica) e socioculturais (v. antropologia cultural) dos diversos grupos em
que se distribui, dando ênfase às diferenças e variações entre esses grupos.) .E isto tem
implicações do ponto de vista de conceber a plasticidade do ser social, no sentido da sua
possível transformação histórica. Aquela idéia da processualidade hegeliana, de que
o .........ser social é processo só encontra fundamento sólido com a manutenção dessa
determinação.
(O professor passa abordar um outro ponto suscitado pela pergunta anterior do
aluno, a respeito da Teleologia do Trabalho).
Quando falo de Trabalho enquanto atividade teleológica – e L. chama
insistentemente atenção para isso, nós não estamos falando do trabalho sob sua forma
social, não sob suas protoformas. E é perfeitamente legítimo supor que entre o momento da
ruptura, o momento do salto, o momento em que o trabalho se apresenta congelado,
configurado como atividade teleológica, pode-se colocar aí a mediação de alguns milhares
senão centenas de milhares de anos, como processo de larga duração temporal. É evidente
também que não se trata de saber, neste trabalho, já sob sua forma social, seja, como
atividade específica do ser social que não encontra nenhum símile na natureza, se a
linguagem nasceu primeiro ou depois do trabalho. Essa questão é uma absoluta tolice. O
que é importante para L. é que não é a linguagem que funda o ser social. Daí a idéia de
centralidade, de prioridade ontológica do trabalho. Não se trata de indagar o que vem
primeiro, primeiro o trabalho, depois a linguagem. De forma alguma. Trata-se de formular
que há um momento determinante nessa emergência do ser social. E esse momento está
ligado ao Trabalho. E mais: o trabalho não é social porque tem teleologia. Caso essa idéia
tenha sido passada aqui, eu quero apagá-la. Não é a teleologia que dá ao Trabalho o caráter
de atividade rigorosamente social. O que dá ao Trabalho esse caráter necessariamente social
é que você tem de concertar ritmos, disciplinas, formas de conjugação dos indivíduos
singulares que participam dele. Porque do contrário ele é irrealizável. Não é porque ele
tem um projeto, não é porque ele implica uma intencionalidade. Isso tem de ficar claro.
Essa teleologia é que é social, não o contrário. É absolutamente fundamental entender isso.
Se não se tem clareza disso iremos conferir a um traço, a uma determinação pertinente ao
trabalho, a uma delas, no caso à teleologia, toda a carga, toda a implicação social que ela
carrega, quando não é isso. A dimensão teleológica do trabalho é posta precisamente pelo
seu caráter social, não o contrário.
Chamo atenção para o fato de que a concepção de Trabalho de L. implica um
elemento pouco explorado. Vimos que o trabalho opera aquela relação sujeito/objeto. E
que o objeto é irredutível ao sujeito. Daí a afirmação quanto à objetividade do objeto (e
isso não é um pleonasmo). O objeto se autonomiza do sujeito, ele ganha um estatuto que é
dele. É a objetividade do objeto que vai permitir a L. compreender com muita força que
essa relação sociedade/natureza fundada no trabalho, inaugurada pelo trabalho, e, em si
mesma, fundante desse nomeado ser social, não pode ser transladada para outros domínios
da práxis, especialmente para o domínio estético (mas por ora não é isso o que eu quero
sinalizar).
O que eu quero sinalizar é uma categoria importantíssima que atravessa o
pensamento de L. na Ontologia e que tem as maiores implicações para essa discussão, a
saber: dada essa objetividade do objeto como é que o sujeito pode captura-lo, pode fruir do
objeto ? A riqueza humana, que é a riqueza social, nas sociedades mercantis é adquirida.
Numa sociedade rigorosamente mercantil, como é a ordem do Capital, como é que
podemos apropriar a riqueza ? Adquirindo-a .Nela um automóvel ou uma peça de teatro,
por exemplo, são mercadorias. Eu só posso assistir Shakespeare se eu tiver dinheiro para
pagar uma entrada. ............. Pois bem: quando acabar essa estrutura mercantil essa
objetividade vai permanecer ou não ? Afirma o L. que vai. A objetividade dos resultados do
trabalho não depende da estrutura social em que se realiza. Como iremos então acessar
essa riqueza humana ? Vou adquiri-la. .......... E aí temos a noção de APROPRIAÇÃO. É
uma das noções mais ricas (não chega a ser uma categoria exaustivamente .......). Chamar a
atenção para esse elemento é chamar a atenção para a riqueza categorial da Ontologia.
Parêntesis:
A minha carga de leituras, as minhas referências bibliográficas são diferentes do
tempo de vocês. Lembro que trabalhávamos, no estudo do materialismo histórico e
dialético com as seguintes categorias: capital, trabalho, forças de produção, forças
produtivas etc. Havia 10 ou 12 categorias que levávamos no bolso, e conforme a situação
nós tirávamos e enfiávamos na realidade.Esse tipo de difusão e de bibliografia marxista nos
impediu, a muitos de nós, de trabalhar com monumental riqueza categorial da obra de
Marx.
Se a teoria de Marx é a reprodução ideal do movimento real , se suas categorias, que
articulam essa reprodução são categorias ontológicas (ainda que elaboradas
reflexivamente), são categorias constitutivas da realidade, não representações arbitrárias,
para ser congruente com essas duas formulações, eu tenho que afirmar que no edifício
teórico de Marx a riqueza categorial corresponde à riqueza do movimento social real. E o
mesmo vale para a Ontologia de L. A riqueza categorial da Ontologia – e por isso eu volto
à questão que me foi formulada, leva a que se diga que é muito pouco afirmar que a
Ontologia assenta no Trabalho como fundante do ser social. Esse é o ponto de partida de L.
Não é o ponto de chegada. .......... Esse é o elemento que espoleta, que detona o processo.
O que é espoleta ? Qual o seu papel numa carga de revólver ? A espoleta é o que dá início
a um processo ................. Ela é absolutamente secundária, só que sem ela não há nenhum
tiro. O trabalho é o que espoleta o processo de hominização ou, para usar a linguagem de
L., ele espoleta a constituição do ser social.
Nesse sentido, as determinações do trabalho são determinações que se inscrevem em
todas as formas de objetivação do ser social. Essas formas de objetivação do ser
social, ............... nem remetem imediatamente a esse que é (e o Sérgio escreveu isto, com
toda a razão, do meu ponto de vista) o elemento fundante. Não importa se ele é o primeiro
ou segundo, se é a linguagem articulada (L. na Ontologia dá um peso à linguagem
articulada. Na Estética ele chama a atenção para o ritmo, para a simetria. Elas não são
incompatíveis. São outras formas de abordagem do mesmo elemento.
Uma coisa é clara: não se trata de saber, neste complexo, uma relação de
anterioridade historiográfica. Trata-se de saber qual o elemento que suporta a articulação e
desenvolvimento dos outros. Esse ............... radical com todas as ontologias que foram
construídas ou atualizadas nos séculos XIX e XX. Esse ......... de L. é de fato inovador.
Não é apenas ...........

Aluna: Gostaria de chamar a atenção nessa questão referente ao modelo do trabalho


(alguns autores o nomeiam como modelo transformacional) para o problema da sua
abrangência. Se ele enfeixa, integra, toda a práxis social ou se há alguma coisa fora desse
modelo.
Esse modelo supõe a relação sujeito/objeto. Temos aí no quadro essa questão já
colocada pelo professor. Eu insistiria na necessidade de precisão do que está exposto nesse
esquema ( relação sociedade/natureza e relação homens/homens). Acredito que a minha
colocação esteja embutida em suas colocações, mas parece fundamental sublinhá-la.
Refiro-me à questão da PRECEDÊNCIA do objeto sobre o sujeito.
Professor: Claro ! Quando eu apontei para Estética, esse dado não vale para a
Estética. Essa observação é fundamental. Aqui há o seguinte: eu posso cancelar o sujeito,
que nem por isso eu cancelo o objeto. Nessa relação do Trabalho isso é fundamental. A
objetividade tanto do produto do trabalho quanto das condições prévias para a sua
realização não emana do sujeito. Perfeito ! Porque essa precedência ? Eu diria, mais
exatamente: porque a precedência ontológica do objeto ? O objeto tem existência não
hipotecada ao sujeito, enquanto o inverso não é verdadeiro.
Aluno: Essa questão da precedência do objeto, precedência ontológica, é uma
questão que leva à questão da regência do objeto. Explico: se as categorias são formas de
ser, são determinadas pela existência, proponho que ao abordar o assunto, em vez de iniciar
pelas categorias, debruçemo-nos sobre a existência mesma. (No quadro negro ):

Mundo inorgânico = SSIs


Mundo orgânico = SSOs
Mundo sociail = SSSs
História dos seres desses mundos: o processo de emergência e re-emergência dos
seres e sua complexificação (há processos regressivos, evidentemente, mas a linha geral é
evolutiva), até que surge um proto-ser orgânico do qual vai emergir o ser social.

Salto Salto
--------------------------///////////////--------------///////////////////------------- ....
SSIs ProtoSSOs SSOs ProtoSSSs SSSs

Pois bem, é preciso que se tenha em conta que quando esse ser social
emerge, o mundo já existe. As objetividades naturais estão dadas. Este ser – aquele ser
mais perfeito que a natureza pode produzir do ponto de vista biológico, ele tem faculdades
novas, ele intervém no mundo. Pela primeira vez nessa história não existe apenas
CAUSALIDADE . Ele pode intervir sobre esse mundo - que o precede, intervir sobre os
objetos naturais que o precedem, e criar um outro mundo que não existia antes. Cria
objetivações que não são mais naturais, são objetos sociais.
Esse processo aqui, de apropriação (de re-elaboração dos objetos naturais
através do trabalho) configura o processo transformacional na relação homens/natureza. É
precisamente o trabalho que vai peculiarizar esse ser.
Mas é importante explicitar: esse ser não pode ser encarado como um ser
individual, até porque a natureza só produz espécies. Indo bem atrás: quando se fala
naquele ser elementar que a natureza produziu - o átomo de hidrogênio, isso é uma mera
abstração. Porque nunca existiu o átomo de hidrogênio, ou um átomo de hidrogênio, o
“um” (Professor: nunca existiu aqui !). A natureza só produziu espécies e cada espécie
emerge de outra que lhe antecede. Esse é o primeiro aspecto. Assim, penso eu que não
existe a categoria “homem”, ela é uma abstração. O que existem são “homens”.
A partir daí eu posso concluir que existem as seguintes relações no âmbito do ser
social envolvendo homens: homens/homens; homem/homens; grupo ou grupos de
homens/homem ... que se combinam com as relações desses mesmos homens com os
objetos naturais que o precederam historicamente (homens-natureza).
Mas eu quero destacar um outro aspecto da questão: como os homens intervêm nos
objetos naturais fazendo emergir deles produtos sociais, faz-se necessário apontar uma
outra relação que se estabelece, esta entre os homens e os produtos da interveção do homem
sobre a natureza. Esses produtos, sociais, são a flecha e o arco mas são também o
conhecimento artístico, o conhecimento científico. O problema é que os marxistas, quando
se referem a esses produtos resultantes dessa relação, consideram apenas os que
poderíamos chamar de “coisais”. Mas eles são sim produtos coisais e não coisais, ideais, e
entre eles estão a religião, a arte, a filosofia ... O que foi produzido, uma vez objetificado,
passou a fazer parte do objeto, e é objeto de novos re-processamentos pelos homens.
Então eu tenho a considerar as seguintes relações: 1) relação homens/natureza;2)
relação homens/homens;3) relação homens/produtos do trabalho dos homens e 4) relações
entre todas essas relações. É um complexo altamente complexo de relações.
Se encaramos o problema dessa maneira: os homens se apropriando dos objetos
sociais, por exemplo, do produto do trabalho científico, re-elaborando com o seu trabalho
para avançar de Newton para Einsten (porque Einsten não seria possível sem Newton),
então, eu vejo que o modelo transformacional abarca tudo, porque tudo que é novo é
sempre um re-processamento daquilo que antes foi produzido e que, re-produzido, passa a
ser objeto de infinitos re-processamentos . E assim por diante, nesse devir permanente ,
esses re-processamentos se vão pondo e re-pondo.
Dito isso, eu quero encontrar que o modelo transformacional é o fundamento de
tudo.

Professor: A aluna tem uma preocupação que acho extremamente saudável com a
unidade da ciência. Há uma ciência que é “natural”. Estou inteiramente de acordo com
isso. E aliás isso ajuda a responder a outra pergunta. Nesse momento aqui, nesse caldo
proto-social, nesse âmbito L. não entra. Ele afirma: quando a gente está tratando do
Trabalho, já o estamos tratando sob forma social, já é a forma emergente do Trabalho.
Estou inteiramente de acordo desde que retiremos da palavra “modelo” a idéia de uma
construção que é apenas aproximativa da realidade. Se você chamar de modelo a
reprodução de estrutura da realidade, tudo bem. Preocupa-me porque a discussão dos
paradigmas, acaba transformando esse encaminhamento numa mera construção ideal, num
tipo ideal. Na sua formulação, evidentemente, não há o tipo ideal weberiano. Acho que o
que está por trás de todo o debate contemporâneo dos paradigmas é imaginar qualquer
forma de conhecimento como construção etmológica ideal. Na medida em que não se trata
aqui de tipo ideal, está perfeito.

Aluna: Renata: (Pouco inaudível. A questão se refere a Ideologia em Lukács).


Professor: Há que se ter calma. Eu primeiro eu quero limpar o que não é Ideologia
para L. Ou seja, quando você estiver lendo um texto da Ontologia onde aparece Ideologia,
quando você estiver lendo algum exegeta, algum analista da Ontologia que fale de
Ideologia, não remeta nem àquela noção de Ideologia como instrumento crítico-negativo lá
do Marx e do Engles de 1845/6, nem à idéia de concepção de mundo. Vai muito além
disso, muito além.

Aluna: Mavi (Pouco audível. A questão trata de trabalho e práxis)


Professor: Trabalho é práxis, mas nem toda práxis é trabalho.
Aluna: (remete aos textos do Sérgio Lessa e a textos do L. Remete à “visão de que
o ser social não pode ser reduzido a trabalho”). Porque não entender o trabalho com uma
concepção muito mais ampla ? Se trabalho é modelo da práxis, é muito mais do que isso.
Atravessa todo o processo de constituição do ser social. Não é só. Estou pensando
sobretudo num texto da Ideologia Alemã em que Marx diz que o homem se distingue do
animal não pela consciência mas pela capacidade de transformar o que há em ser redor, aí
ele se faz homem, ele aponta para a questão das necessidades. Ao satisfazer suas
necessidades ele cria novas necessidades. Na transformação da realidade que está ao seu
redor através do trabalho o homem cria a necessidade da poesia, da cultura, a ética. É única
possibilidade que o homem tem de se diferenciar do animal é quando ele pode transformar
o que há ao seu redor. .........(referência aos ursos) ... o amor paternal não se põe. Quando
você diz: eu não posso reduzir o ser social ao trabalho.........Mas ....... o trabalho num
sentido muito mais amplo do que a mera ocupação, ou o mero labor, eu acho que cabe
compreender o ser social com o Trabalho . Não ?
Professor: Eu acho legal .........conversando com uma aluna ....... (troca de fita)
Eu sou pago para ficar aqui conversando isso com vocês. Eu não posso ter emprego
melhor do que esse. ........... Essa é uma discussão antiga e que não pode ser fechada aqui.
Você é extremamente feliz ao colocar a questão das necessidades. Essa questão vem de
Hegel, não de Marx. Hegel dirá: o homem é um ser carente. Não no sentido ........, mas
carente no sentido de que tem carecimentos, tem necessidades. Mas até aí ........ ser da
natureza, seja a natureza orgânica mais ou menos complexa. A natureza também tem
necessidades. A diferença central é que a forma pela qual o homem atende essas
necessidades reduplica essas necessidades. O central não é a necessidade. Há um ensaio da
Agnes Heller, famosíssimo, chamado “A teoria das necessidades em Marx”, um ensaio
muito interessante, mas onde a ênfase é posta na necessidade. Esse é um deslocamento
complicado. O que torna as necessidades deste ser ímpares, é a forma como ele atende a
essas necessidades. É no processo de trabalho que o homem responde a essas necessidades
(A idéia de “resposta” é exaustivamente explorada por L. Na Ontologia ele dirá que o
homem é um ser que responde). A resposta via trabalho a um conjunto de necessidades,
potencializa, multiplica, faz surgir necessidades. Está lá na Ideologia ....... eu diria que é
um tipo de ........... que vai acompanhar Marx até o fim da vida. Vai aparecer sob outras
formas, sob outras roupagens, mas eu diria que se há um dado da antropologia marxiana é
esse. O homem é um ser de necessidades, é um ser que cria necessidades. A riqueza
humana é a riqueza das suas necessidades.
Quanto a isso, me parece que a sua argumentação é rente a Marx, rigorosamente
marxiana. Agora, atenção! Nesse processo exponencial de criação de novas necessidades,
que emerge do trabalho, que é posto pelo trabalho, criam-se necessidades que não passíveis
de satisfação por uma atividade específica do trabalho. Senão vejamos. A necessidade da
arte. Na gênese, é evidente que foi esse processo de trabalho lá na raiz - que põe a
possibilidade da objetivação estética, da construção estética, e abre necessidade .... Mas a
satisfação com um objeto........ (Veja que a necessidade é obtida por um objeto que é
produto do trabalho, põe novas necessidades) Quando esse leque de necessidades se abre
(e isto é o processo de socialização do gênero humano) isso aqui é satisfeito por um tipo de
objetivação humana que não é trabalho.
Aluna: Não é trabalho artístico ?
Professor: .................. Há uma elaboração artística, há um empenhamento de um
sujeito na construção de um objeto, sem dúvida nenhuma. Entretanto, se eu universalizar a
categoria trabalho para todas essas objetivações essa categoria vai se tornar tão lassa que
tudo será trabalho. .............
Rivaldo, o jogador de futebol começou bastante desprestigiado. E o Felipão o
manteve lá. Eu assisti uma entrevista dele, às vésperas da decisão, onde ele dizia o seguinte:
Eu entendo o pessimismo, mas eu colhi os resultados do meu trabalho. Eu vou aqui na
Faculdade Educação e vou encontrar 400 teses sobre “o trabalho docente”. Eu quero que
me digam o que não é trabalho.
Aluna: Especulação ?
Professor: (o professor contesta). E insiste: eu quero que vocês me digam o que não
é trabalho.
Até aqui eu estava caricaturando. Prossigo: Falar lá na .......... Hegel vai recuperar
isso . E em Marx essa distinção vai aparecer claramente: trabalho intelectual e trabalho
manual. .............(execução e concepção). O cuidado de L. em amarar o que é o trabalho
tem a extraordinária faculdade de puxar para a especificidades dessas outras formas de
atender as necessidades. Vamos abrir mão de quaisquer posições pré-concebidas. Porque L.
não chama isso aqui de trabalho ? Porque no domínio da estética não existe objeto sem
sujeito. E a força da argumentação da aluna que falou em penúltimo lugar foi mostrar que
no âmbito do trabalho há uma prioridade ontológica do objeto. Ora, na estética isso não
vale.
Lembrem-se de que comecei abordando L. na Estética ? Para pensar L. na
Ontologia. L. vai gastar páginas e páginas na Estética para dizer o seguinte: Eu não sou
idealista, não. Eu sou materialista. Mas no caso da arte não há a prioridade ontológica do
objeto. No caso da arte, sem qualquer referência à tradição idealista, eu não tenho objeto
sem sujeito. Tanto na produção quanto na fruição. Quando L. insiste numa concepção
estrita de Trabalho ele , pelo contrário, está abrindo uma riqueza diferencial constitutiva
das outras expressões desse ser social nas suas objetivações. Essas outras objetivações não
são trabalho.
Aluna: Poderia o Carlos Drumond de Andrade se ele não tivesse lido Shakespeare,
por exemplo, Machado de Assis ? Seria ele o que foi se não se houvesse APROPORIADO
das riquezas legadas por outras gerações ?
Professor: Não é trabalho ! Ele não seria Carlos Drumond. Só que a poesia do
Drumond é resultante de um processo distinto do processo do trabalho. Essa leitura, com
essa interpretação lukásciana,ela não restringe nem desqualifica nem diminui as outras
formas de objetivação. Pelo contrário, ela procura apreender o que é específico, .......... a
legalidade dessas outras formas. Assim, na medida em que ele tem uma concepção estrita
de trabalho as outras formas de objetivação – que geneticamente remetem ao trabalho (isso
é ponto pacífico, está fora de discussão), elas têm uma estrutura diferente. O grande ganho
dessa concepção lukásciana é que ela é capaz de apreender aquilo que no produto estético
(na poesia de Drumond, por exemplo), aquilo que não é trabalho. Do contrário temos o
seguinte das duas uma: ou você encontra uma categoria de trabalho tão lassa, tão ampla que
envolve como produtor material direto tanto Rivaldo como Drumond (e onde você vai
buscar as especificidades ?) ou então você, na linha de Lukács, e seguindo Marx, você diz o
seguinte: a cadeia causal posta pelo trabalho gera outras cadeias causais, outras séries
causais que não estão subordinadas à legalidade do trabalho, estão subordinadas a uma
outra legalidade.
O fundamental é chamar a atenção para o grande ganho de L. (presente não
só na Ontologia mas na Estética): é mostrar na vida cotidiana o alfa e omega das respostas
dos homens. Que essa vida cotidiana, como uma estrutura em movimento, aqui é
impensável sem o trabalho. Mas que, quanto mais se desenvolve o ser social, mais surgem
objetivações que não estão submetidas à legalidade do trabalho.
Quais são as determinações do objeto que um artista tem de levar em conta ?
É lógico: o trabalho transformação da natureza. No trabalho como transformação da
natureza o sujeito tem um conjunto de elementos onde a liberdade dele é dada dentro de
uma faixa de escolha (lembrem-se de L: liberdade de escolha dentro de alternativas
concretas). Como é que isso se põe na arte ? Não há um constrangimento do objeto sob o
sujeito como há no caso do trabalho.
Aluna: Mas há algum.
Professor: Exemplo da literatura. Um sujeito que invente uma sintaxe radicalmente
nova não vai ser entendido por ninguém. Então, há um limite. Mas, a natureza desse limite
é diferente da natureza do limite do trabalho strictu sensu. Nesse último caso as mediações
são meros instrumentos. No caso da literatura a linguagem não é apenas um instrumento,
ela é também fim. Há aí problemas que são próprios da arte, que não existem no trato da
natureza. Isso não quer dizer que o trato da natureza é ingênuo. Não. Mas os problemas
são de outra natureza. O que eu queria assinalar é que há um ganho na concepção de
trabalho na Ontologia.
Há ambigüidade em Marx com respeito a esse assunto. Isso chateia muita
gente. ............. Há ambigüidades em Marx. Nem uma nem duas, dezenas. Basta pensar no
famoso capítulo VI (Nota: Assunto: “Salário” e o Livro sobre o Trabalho Assalariado
previsto no Plano original dos Rascunhos, e abandonado).......... Não há que se
desvalorizar aquele capítulo, mas eu me pergunto porque Marx ........ tal como os
Manuscritos de 44. Aquele capítulo, Marx acabou aquele capítulo e escolheu não publicá-
lo no CAPITAL. Ao mesmo tempo ele caracteriza o CAPITAL I como um todo artístico.
Porque houve aquele abandono ? Evidentemente porque Marx não estava seguro de seu
conteúdo. Deve-se desprezar o Capítulo VI ? Mas também não se pode fazer dele pedra de
toque. Há ambigüidades. Pra não falar numa outra discussão maluca que é a do trabalho
produtivo e improdutivo. Outra discussão em torno da qual está-se gastando muita tinta,
confundindo o adjetivo com o substantivo.
O L. .......... a leitura de Marx. Estou convencido, pessoalmente, que é a leitura.
Mas isso não fecha o debate. Qual é o ganho dessa leitura. Porque eu me aferro à
concepção lukacsiana da concepção do trabalho ? Porque ela abre a possibilidade de
entender na sua peculiaridade outras objetivações próprias do mundo contemporâneo
moderno. O ganho que L. dá, os autores que generalizam o trabalho não dão, porque não
podem explicar a arte. L. começa com essa visão que não é restrita, é estrita. Ele tem uma
teoria sobre a arte, sobre o Direito, sobre a Moral que não é redutiva. Nós estamos
querendo pensar o trabalho fazendo abstração da peculiaridade de outras objetivações que
merecem a mesma atenção. O fato de o trabalho ser fundante não pode fazer com que na
nossa recusa das maluquices do .......... e dos seus vulgarizadores percamos de vista o
seguinte: quem disse que o homem ia trabalhar cada vez menos foi Marx. Quando fez
aquela relação lá, da crescente composição orgânica do capital , o que estava dizendo ? Que
esse sistema aqui estava condenado, que estava atravessado por uma tensão primária. Seu
desenvolvimento implica cada vez mais o domínio do trabalho .......Mas só se pode explorar
trabalho morto. Trabalho morto não é explorável. Ele nos diz que o trabalho é
insuprimível, mas que a cota-parte individual do trabalho se reduzirá cada vez mais. Logo,
o que vamos fazer com o resto do tempo ? Se Marx dizia que eu vou trabalhar cada vez
menos, e que na sociedade do futuro o homem de manhã pescaria, de tarde caço e de noite
eu sou crítico literário, então como poderei eu caracterizar essas atividades como trabalho ?
O que ele está dizendo é o seguinte: o trabalho é o reino da necessidade. E a liberdade só
se ergue para além do reino da necessidade.

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