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1. Introdução
2. A era da exclusão
Se o cenário não era favorável aos trabalhadores, menos ainda o era para as
mulheres, embora mão-de-obra aplicada em larga escala, seu trabalho era
considerado de menor valor, fazendo jus a salários mais baixos, dada a
condição de inferioridade feminina. Esta condição inferior das mulheres não
era apenas pensamento generalizado das camadas populares, nesta época
vários estudos comprovavam “cientificamente” esta afirmação, entre estes
estudiosos estava o médico italiano Cesare Lombroso.
Não há dados concretos sobre a eficácia e aplicação das leis acima, mas,
conhecendo-se a situação das operárias hodiernamente, podemos deduzir que
elas foram ignoradas pela grande maioria das indústrias.
Por sua vez, a convenção n.º 4 da OIT proibiu o trabalho noturno da mulher
nas indústrias públicas ou privadas. Entendia-se por trabalho noturno aquele
realizado no período entre 22h de um dia até às 5h do dia subseqüente,
permitindo que esse período de onze horas fosse reduzido em uma hora
durante 60 dias no ano. Tal proibição não se estendia à obreira que realizava
seus trabalhos em estabelecimento onde labutavam apenas membros de uma
mesma família e poderia ser suspensa em casos de força maior ou perigo
iminente de perda de matéria-prima que não fosse manipulada. Esta
convenção foi também ratificada pelo Brasil, promulgada através do decreto
n.º1.396, de 19 de janeiro de 1937 e, posteriormente, denunciada.
3. A época da proteção
O advento da Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, fechou um ciclo do
direito do trabalho. Este ciclo começou com as idéias liberais que resultaram
em uma absoluta falta de proteção ao trabalho e acabou com a adoção de
políticas trabalhistas, com o surgimento de toda uma legislação de proteção
ao trabalhador.
O Capítulo III do Título III da CLT foi intitulado “Da proteção do trabalho da
mulher” e abordou os seguintes assuntos em cada uma de suas seções:
duração e condições do trabalho, trabalho noturno, períodos de descanso,
métodos e locais de trabalho e proteção à maternidade.
Em 24 de janeiro de 1967 foi promulgada uma nova Constituição que, por sua
vez, teve grande parte de seu texto alterado pela emenda constitucional n.º 1
de 17 de outubro de 1969. Ambos os textos trouxeram a proibição de
diferenciação salarial por motivo de sexo ou estado civil e do trabalho da
mulher em condições insalubres, garantiram a licença remunerada à gestante
antes e após o parto, sem prejuízo do salário, ou emprego, bem como seus
respectivos benefícios previdenciários.
Os anos 80 começaram sob o signo de uma forte crise econômica, marcada por
uma intensa recessão e pelo aumento da inflação, que fez sentir seus efeitos
por toda a sociedade, principalmente na parcela mais pobre da população.
Esta crise econômica aumentou a proporção de famílias abaixo da linha da
pobreza, ampliando, assim, as desigualdades socioeconômicas. Mesmo para
aquelas famílias que não foram empurradas para baixo da linha da miséria,
houve necessidade de que as mulheres saíssem em busca de trabalho para
complementar o orçamento familiar, já que a crise econômica somada aos
altos índices inflacionários provocavam um achatamento da renda do
brasileiro. E esta crise econômica foi o impulso final para que a mulher
brasileira abandonasse o lar e buscasse postos de trabalhos.
A década de 80, por força da estagnação econômica que assolava o país, foi
marcada pela alteração na estrutura setorial. Diminuíram os postos de
trabalho no setor secundário da economia, tais como a construção civil, a
produção de bens, tanto na indústria de transformação como na agricultura.
Em contrapartida, houve um aumento no terciário, em áreas como comércio e
prestação de serviços. Foi justamente nesse setor da economia que se abriram
mais vagas para o trabalho feminino; obviamente, havia mulheres ocupando
postos de trabalho em outros setores, mas foi em áreas como comércio e
serviços que a mulher encontrou maior receptividade à sua mão-de-obra. As
mulheres eram “barradas” em trabalhos fabris, algumas vezes pela legislação
protecionista que proibia sua atividade em ambientes insalubres, outras vezes
porque as diferenças morfológicas entre homens e mulheres impediam que
maquinários fossem utilizados indiscriminadamente por ambos os sexos.
Deste modo, nesses anos ocorre uma total reformulação das relações
familiares e de trabalho em que a mulher se via inserida. Neste período
completa-se mais um ciclo do direito do trabalho da mulher.
4. O tempo da igualdade
Três incisos do artigo 7.º da Constituição Federal e uma alínea dos Atos das
Disposições Constitucionais Transitórias tratam especificamente do trabalho
da mulher nos temas: licença-maternidade; estabilidade à gestante; proteção
do mercado de trabalho da mulher e proibição de diferenças de salários, de
exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo.
Desta forma, a lei 9.029 combateu, tornando crime, a prática nas duas frentes
em que ela se manifestava: proibindo a exigência de atestados de gravidez ou
de esterilização e o incentivo à esterilização ou controle de natalidade que
não seguisse as normas do Sistema Único de Saúde (SUS).
5. Conclusão
Em seguida, temos o início de uma fase de proteção. Óbvio que esta proteção
muitas vezes andou de mãos dadas com proibições como a do trabalho
noturno – só permitido nos casos em que a mulher laborava com membros de
sua família ou mediante a apresentação de atestado de bons antecedentes – e
a do trabalho insalubre ou perigoso, muitas vezes excetuadas em convenções
coletivas. Porém foi durante esta fase, marcada por profundas mudanças
tecnológicas e sociais, que se deu a definitiva transição entre a proibição e a
proteção. As proibições foram sendo banidas do ordenamento, pois não
condiziam com o novo papel social da mulher trabalhadora e foram restando
apenas aquelas necessárias à proteção das mulheres, como as que disciplinam
as questões ligadas à maternidade. Todavia, somente com o advento da
Constituição Federal de 1988, a igualdade entre homens e mulheres − em
todos os níveis, inclusive na questão do trabalho − foi promulgada e
amplamente alardeada.