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Estrutura da Obra

Obra constituída por 44 poemas:

A Mensagem divide-se em três partes fundamentais:

1.ª Brasão (nascimento) – Fundação da nacionalidade e presença de heróis lendários e


históricos como Ulisses e D. Sebastião, passando por D. Afonso Henriques e D. Dinis.

2.ª Mar Português (realização) – ânsia do desconhecido e luta contra o mar. Apogeu
dos portugueses nos Descobrimentos.

3.ª O Encoberto (morte) – Morte de Portugal simbolizada no nevoeiro; afirmação do


mito sebástico na figura do “Encoberto”; apelo e ânsia da construção do Quinto Império.

Mensagem – Análise de textos

1.ª Parte

1. O dos Castelos
» Personificação da Europa
» “Futuro do passado” designa uma alma que permanece.
2. Ulisses
» Lenda da criação da cidade de Lisboa por Ulisses
» “O mito é o nada que é tudo”: apesar de fictício, legitima e explica a realidade
» O mito está num plano superior à realidade, dada a sua intemporalidade
3. D. Afonso Henriques
» D. Afonso Henriques equiparado a Deus, tendo como missão o combate aos Infiéis
» Vocabulário de dimensão sagrada: “vigília”, “infiéis”, “bênção”
» Referência ao aparecimento de Deus a D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique
4. D. Dinis
» Mitificação de D. Dinis pela sua capacidade visionária (plantou os pinhais que viriam a
ser úteis nos Descobrimentos); construtor do futuro
» O Presente é “noite”, “silêncio” e “Terra”, enquanto que o futuro é os pinhais, com
som similar ao do mar, daí a “terra ansiando pelo mar”
5. D. Sebastião rei de Portugal
» A “loucura” ou “sonho” é a capacidade de desejar e ter iniciativa, para ultrapassar o
estado de “cadáver adiado que procria” (simplesmente vive esperando a morte)
» Convite a que outros busquem a grandeza para construir algo importante (“Minha
loucura, outros que me a tomem”)
» Para ser grande, Portugal deve ter loucura e desejar grandeza, para poder “renascer o
país”
» Enquanto figura histórica, D. Sebastião morreu em Alcácer-Quibir (“ficou meu ser que
houve”) mas persiste enquanto lenda e exemplo de “loucura” (“não o que há”)
» Apesar do fracasso, a batalha de Alcácer-Quibir é importante para motivar e recuperar
Portugal do estado de “morte psicológica”

2.ª Parte

1. O Infante
» “Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce”: descrição do processo de criação
» Porque Deus quis unir a Terra, “criou” o Infante D. Henrique para que este
impulsionasse a obra dos Descobrimentos
» Mitificação do infante, criado e predestinado por Deus
» Depois de criado o Império material (“Cumpriu-se o mar”), “o Império se desfez”,
faltando “cumprir-se Portugal”, sob a forma de um Quinto Império espiritual
2. horizonte
» O horizonte (“longe”, “linha severa”, “abstrata linha”) simboliza os limites
» Descrição das tormentas da viagem (passado), da chegada (presente) e reflexão
(projeção futura)
» A esperança e a vontade são impulsionadoras da busca
» O sucesso permite atingir o Conhecimento como recompensa
3. Ascensão de Vasco da Gama
» Capacidade de interferência de Vasco da Gama no plano mitológico das guerras entre
deuses e gigantes
» Ascensão de Vasco da Gama e dos Portugueses, porque devido aos seus feitos “se vão
da lei da morte libertando”, perante pasmo quer no plano mitológico (deuses e gigantes) quer
no plano terreno (pastor)
4. O Mostrengo
» Existência permanente do desconhecido
» O homem do leme treme com medo do perigo, mas enfrenta-o (herói épico)
» Imposição progressiva do homem do leme ao mostrengo
5. Mar Português
» Lamentação do “preço” dos descobrimentos e reflexão sobre a sua utilidade
» O mar (“sal”, “lágrimas”) é de origem portuguesa – mitificação de Portugal
» “Tudo vale a pena/Se a alma não é pequena”: o preço da busca é recompensado, neste
caso tornando-se português o mar.
» É no mar (desconhecido) que se espelha o céu
» Cumprir o sonho é ultrapassar a dor
6. Prece
» Poema de transição da 2.ª para a 3.ª parte da obra
» Descrição negativa do presente e consequente saudade do passado
» “O frio morto em cinzas a ocultou:/A mão do vento pode erguê-la ainda.”: Debaixo das
cinzas ainda resta alguma esperança
» Demonstração do desejo de novas conquistas
» Independentemente da conquista, interessa “que seja nossa” para recuperar a
identidade e glória passadas.
» O Passado é representado pela grandeza nacional (Descobrimentos) e o Presente pela
saudade do passado, daí a necessidade de recuperar o fulgor e o tom de esperança implícito
no poema

3.ª Parte

1. O Quinto Império
» “Triste de quem é feliz!”: Felicidade de quem não sonha, não passando de “cadáver
adiado que procria”
» Quem sonha está permanentemente descontente, e por isso tem objetivos
» Depois de quatro Impérios, um novo nascerá, começado por D. Sebastião
» D. Sebastião morreu, mas a mitificação permanente permite que o sonho persista e
que possa ser prosseguido – “minha loucura, outros que me a tomem”
2. Screvo meu livro à beira-mágoa
» Descontente face à situação do mundo, o poeta vive na ânsia do sonho e da vinda do
“Encoberto” para o despertar
» O vocativo varia, assegurando apenas a vinda de um messias, independentemente da
sua identidade
» O sujeito poético apela à vinda do destinatário para “acordar” o povo
3. Nevoeiro
» Metáfora do Portugal presente, na indefinição, obscuridade e incerteza
» O país vê-se perante uma crise de identidade e valores
» Ao contrário da nação, o sujeito poético está inquieto, chorando a saudade do passado
» É chegada a hora de preparar o futuro, despertar o reino e cumprir a missão já que ao
nevoeiro sucede um novo dia

Mito gerado à volta da figura do rei D. Sebastião


 1.º Crença do povo no seu regresso, após a derrota em Alcácer Quibir (D.
Sebastião, ente histórico: o «ser que houve», símbolo da decadência), como
salvador da pátria: a possibilidade teórica do regresso físico do rei ajudou a criar a
auréola de mito.
 2.º O regresso iminente do Encoberto foi garante de sobrevivência política, seja
porque congregou sob o mesmo pendão do sonho a Nação destroçada, seja
porque estimulou o instinto de conservação nacional, seja ainda porque foi o
lugar do refúgio contra uma morte anunciada.
 3.º Mito messiânico que se funda na esperança da vinda de um Salvador, que virá
salvar e libertar o povo e restaurar o prestígio nacional.
Síntese
A Mensagem apresenta um carácter profético, visionário, pois antevê um império futuro,
não terreno, e ansiar por ele é perseguir o sonho, a quimera, a febre de além, a sede de
Absoluto, a ânsia do impossível, a loucura. D. Sebastião é o mais importante símbolo da
obra que, no conjunto dos seus poemas, se alicerça, pois, num sebastianismo messiânico e
profético.

As figuras e os acontecimentos históricos são convertidos em símbolos, em mitos, que o


poeta exprime liricamente. “O mito é o nada que é tudo”, verso do poema “Ulisses”, é o
paradoxo que melhor define essa definição simbólica da matéria histórica da Mensagem.

“O mito é o nada que é tudo” é a seguir demonstrado:

 O mito – a lenda – é o nada (não existe), mas, ao mesmo tempo, é tudo porque explica o
real, fecundando-o: “Assim a lenda se escorre/A entrar na realidade, /E a fecundá-la
decorre.”;
É esta a mensagem de Pessoa: a Portugal, nação construtora do Império no passado, cabe
construir o Império do futuro, o Quinto Império. E enquanto o Império Português, edificado
pelos heróis da Fundação da nacionalidade e dos Descobrimentos é termo, territorial,
material, o Quinto Império, anunciado na Mensagem, é um espiritual. “E a nossa grande raça
partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas
daquilo que os sonhos são feitos… “A Mensagem contém, pois, um apelo futuro”.

A poesia da Mensagem é uma poesia epo-lírica, não só pela forma fragmentária como pela
atitude introspetiva, de contemplação no espelho da alma, e pelo tom menor adequado. 
Integra a matéria épica na corrente subjetiva, reduzindo-a a imagens simbólicas pelas quais o
poeta liricamente se exprime. Há assim na Mensagem uma dupla face de tédio e ansiedade,
de cética lucidez e intuição divinatória.

Passado histórico: exaltação de acontecimentos memoráveis e extraordinários, que veiculam


uma visão heroica do mundo, protagonizados por figuras de alta estirpe (social e moral) que se
impõem como seres superiores, de qualidades excecionais, capazes de executarem feitos
extraordinários, gloriosos e singulares.

Presente: resultado consequente desse passado remoto e mítico que se projeta no futuro.
Recurso ao maravilhoso: confere grandeza à ação e transpõe a verdade histórica para a
dimensão do mito. Uso narrativo da terceira pessoa.

conjunto de valores que não tem tempo nem espaço, contrariamente ao facto histórico
concreto, e que tipifica uma situação existencial comum a um povo.

Transformação do mito em História: o modo como recria e sonha a vida de um grupo (Ulisses
transformou-se em História para os portugueses por aquilo que representa na sua vivência
interior;

D. Sebastião permanece vivo na nossa memória coletiva como exemplo, como alma
representativa de um conjunto de valores essenciais à construção do futuro).
Reconhecimento de um povo nos seus mitos: contributo para a construção de uma memória
coletiva e de uma identidade própria, aspetos que prefiguram também um futuro comum

conjunto humano unido por instituições comuns, tradições históricas e, acima de tudo,
uma língua comum. Intenção do poeta:
transformação da sua pátria (decadente, incapaz de agir coletivamente e virada para um
passado glorioso) em «nação criadora de civilização» através do poder do sonho.
Processo: evocação, com os olhos postos no futuro, dos heróis passados de Portugal,
exemplos da vontade de mudança e da capacidade de ação, de modo a influenciar os
portugueses do presente, transformando-os em agentes de construção do Portugal futuro.

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