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Cultura Documentos
PRODUÇÃO EDITORIAL
Autoras
Miriam Abramovay (Coordenadora)
Ana Paula da Silva
Eleonora Figueiredo
Assistente de pesquisa
Alenicia de França Sousa
ISBN: 978-85-60379-49-1
Edição: 1
Ano de Edição: 2018
Local de edição: Rio de Janeiro
AUTORES REVISÃO
Miriam Abramovay Margareth Doher
Ana Paula da Silva
Eleonora Figueiredo ILUSTRAÇÃO E DESIGN GRÁFICO
Estúdio Capima
EQUIPE DE CAMPO
Fortaleza/CE
Miriam Abramovay
Ana Paula da Silva
Érica Maria Santiago
Sara Lopes
Ticiana Santiago de Sá
Educomunicação
Francisco Rones Costa Maciel
Cristhyana Francisca Antônia de Abreu Bernardo
Ricardo Henrique Gonzaga Raulino
José Augustiano Xavier dos Santos
Porto Alegre/RS
Miriam Abramovay
Eleonora Figueiredo
Paula Fabiana Pinheiro
André Luís Leite
Educomunicação
Rui Antonio de Souza
ADVERTÊNCIA
5
Sumário
1. Apresentação 7
3. Gestão Democrática 21
4. Juventude e participação 28
cia escolar 83
Bibliografia 86
educação para jovens afeta-
dos pela violência e outros
riscos no Ceará e no Rio
Grande do Sul” realizado
pela Faculdade Latino-Ame-
V
com o Banco Interamerica-
árias pesquisas
no de Desenvolvimento (BID).
realizadas durante
Buscamos ao longo deste
os últimos anos mostraram
processo abranger os
que o fenômeno das violên-
principais temas da contem-
cias é detectado na maioria
poraneidade ligados às
das unidades escolares dos
violências e convivência nas
Estados e Municípios do
escolas, através de uma pers-
Brasil, problema que se
pectiva reflexiva e prática
repete em toda a América
que poderá contribuir para
Latina, o que nos levou a
reflexões e enfrentamentos
executar a tarefa de desen-
aos vários problemas exis-
volver um programa sobre
tentes.
o tema.
Neste período,
Neste sentido, esta
2016-2017, foram realiza-
publicação é fruto de dois
das pesquisas, capacitações
anos de experiências do
teórico-práticas e debates
Programa “O papel da
a partir de um conjunto
7
de ideias e pressupostos experiências, expressar e
sobre violência e convivên- sistematizar informações,
cia escolar incorporando demandas, alternativas e
diagnósticos participativos estratégias apropriadas à
com professores, estudantes promoção de um melhor
e diretores, permitindo a clima escolar.
construção de um consis-
Desse modo, espe-
tente banco de dados.
ramos que este Guia possa
Os resultados servi- colaborar e contribuir com
ram de subsídio e fonte de os adolescentes e jovens em
informações estratégicas suas ações e debates cotidia-
para um amplo, democrá- nos.
tico e sistêmico programa
Pretendemos que
desenhado a partir de um
subsidie metodologias de
Plano de Ação que orientou
trabalhos daqueles que
o trabalho de estudantes ao
querem transformar sua
longo de 2017.
prática de forma crítica
Nessa metodologia e criativa, participativa e
emancipatória de plane- democrática.
jamento, organização e
A importância desta
participação, os jovens
publicação se dá na medida
tiveram a oportunidade
em que sintetiza e traduz o
de desenvolver suas capa-
Programa com textos aces-
cidades, trocar afeições,
8
síveis e algumas propostas pedagógicas vivenciadas e trans-
critas pela equipe da Flacso em campo.
9
estudante. Esta foi uma proposta da
parceria BID/Flacso Brasil pauta-
da nos trabalhos que a instituição
Flacso Brasil vem acumulando sobre
violência e convivência escolar.
10
dono e evasão. O Programa
também buscou estudar as
percepções que o próprio
jovem tinha da sua esco-
la e sua realidade, onde
se mostraram sentidos e
inquietações sobre várias
situações vividas.
tes em suas vidas.
Ressaltou-se a
Foram obtidas importância de discutir a
informações através das escola como lugar possível
pesquisas junto aos atores de aprendizagem e criação,
das escolas estudantes, resgatando seu compromis-
professores, direção, coor- so social com a participação
denação e pais/responsáveis dos adolescentes e jovens
sobre a realidade, e a partir por uma sociedade mais
dos resultados, refletir com justa.
a comunidade escolar sobre
riscos, fatores de proteção, Neste sentido, o
relações sociais, dentre Programa aprofundou e
outros, com a perspectiva buscou entender melhor a
de mitigar as violências relação entre a violência, a
existentes que prejudicam condição socioeconômica, a
o clima escolar e, não raro, exclusão social na comuni-
causam repetência, aban- dade e a exclusão escolar a
11
fim de compreender como a escola
pode contribuir para a prevenção
da violência e da vitimização de
adolescentes e jovens. O Programa
pretendeu ainda, contribuir para
aumentar os níveis de resiliência Resiliência é um proces-
so dinâmico, mutável que
através de atividades formativas e envolve a dimensão social e
práticas dentro das escolas, e que psíquica, associada a possi-
bilidade de enfrentamento
essas fossem capazes de cooperar e superação de adversida-
de. São ações que buscam
para a superação das adversidades mudanças positivas. (ASSIS,
que os jovens enfrentam diariamente, et al, 2008). Resiliência é a
capacidade de um indiví-
assim como melhorar suas relações duo, uma família ou um
grupo social de se recu-
sociais e níveis de escolaridade. perar e se reconstruir de
adversidades, violências,
Este Programa teve como enfrentando-as, sendo
transformado por elas e
propósito primeiro a participação superando-as.
efetiva dos estudantes, sob orienta-
ção de professores e apoio da direção,
onde passaram a discutir e refletir
sobre os temas como violências nas
escolas, como se dão as relações
sociais, fatores de risco e de prote-
ção existentes, racismo, homofobia,
cuidado com o patrimônio público
etc., os quais foram imprescindíveis
para o desenvolvimento do trabalho,
12
além de conhecer a subjetividade, os
avanços, as frustrações, alegrias e as
possibilidades de mudança. Com isso,
os adolescentes e jovens puderam
colocar em palavras, interpretar e
teorizar sobre a sua vivência, através
da experiência como “escritores da
realidade”, fazendo observações e
entrevistas.
A estratégia de mudança se
iniciou após coleta e análise dos
resultados das pesquisas qualitativas
e quantitativas e da elaboração de
Ferramenta de gestão um Plano de Ação geral contendo as
utilizada para fazer
um planejamento de principais demandas diagnosticadas.
trabalho necessário para a O Plano de Ação foi discutido com
concretização de objetivos,
alcance de um resultado os estudantes e professores partici-
desejado ou resolução de
problemas. Link: http:// pantes do Programa em cada escola e
materiais.treasy.com. reelaborado por estes sujeitos, iden-
br/typ-planejamento-
estrategico-e-orcamento- tificando as demandas específicas
sem-complicacoes-treasy-
desk14 e iniciativas a serem desenvolvidas
para melhorar a convivência escolar.
Este instrumento auxiliou a equipe
da Flacso Brasil no planejamento,
acompanhamento e avaliação das
13
várias ações realizadas no decorrer
da implantação e implementação do
mesmo.
14
relações sociais mais positivas, prazerosas, prevenindo e até
mesmo mitigando situações geradoras de violência e, assim,
favorecendo a melhoria do clima escolar, a saber:
15
A seguir uma visão geral de como se deu o desenvolvimento
do Programa nas escolas.
http://flacso.org.br/?publication=violencias-nas-escolas-programa-de-
prevencao-a-violencia-nas-escolas
http://flacso.org.br/?publication=programa-de-prevencao-a-violencia-nas-
escolas-documentos-de-referencia
16
6. Elaboração do Plano de Ação em cada uma das 10
escolas (5 em Fortaleza e 5 em Porto Alegre).
17
Resultados das sentimento de infelicidade
pesquisas qualitativas de muitos jovens, levando-os
e quantitativas (linha à automutilação e tentativas
de base 2016 e linha de suicídio em uma socieda-
final 2 de que não os escuta diante
da dificuldade no enfrenta-
mento dos seus problemas
Muitos dos proble- do cotidiano. Sobre seu
mas apontados pelos estu- futuro, muitos querem fazer
dantes são semelhantes nos uma faculdade, ter uma
Estados pesquisados: os profissão e alguns refletem
jovens afirmam que sentem sobre a situação do Brasil
falta de serem ouvidos e de e a vontade de estudar e de
dialogarem com os adultos, trabalhar em outro país.
que deveriam considerá-los
como atores fundamentais Sentiram-se discri-
no processo ensino-apren- minados pelo lugar onde
dizagem. Apontam ainda a moram e quando realiza-
dificuldade de viver em uma ram entrevistas de emprego
sociedade violenta e conser- experienciaram a exclusão
vadora e discriminatória social por serem pobres e
em relação a questões de morarem em áreas peri-
gênero, orientação sexual, féricas. No entanto, houve
raça/cor etc. também depoimentos sobre
alegria, diversão, amizades,
Chamou a atenção o crença no futuro, mostran-
18
do-se resilientes, dando dos e desestimulados. Há
continuidade a sua vida e a também críticas quanto à
sua escolaridade. falta de professores para
determinadas disciplinas. E
Apontaram que nas
aulas que são consideradas
escolas há fatores de risco
repetitivas e aborrecidas.
relacionados à discrimi-
Queixam-se de questões
nação, discriminação de
relacionadas à merenda,
gênero, vários tipos de
à infraestrutura precária,
violência, homofobia, racis-
assim como de depredações
mo, ameaças, agressões
e vandalismo. As regras são
verbais e físicas, furtos e
indicadas como rígidas e
roubos, cyberbullying, entre
sem sentido, e alguns alunos
outros, relatando ainda que
têm dificuldade de conciliar
a escola não discute estes
estudo e trabalho.
temas.
Vale também eviden-
A relação com os
ciar os fatores de proteção,
professores apesar de serem
como por exemplo, a relação
figuras centrais em suas
com os professores consi-
vidas, nem sempre é posi-
derados amigos, que
tiva. Há agressividade por
conversam e que ensinam
parte dos alunos para com
bem; o ensino que é visto
alguns professores e dos
por alguns como de boa
professores com os alunos
qualidade; a importância de
que se sentem humilha-
relações positivas com os
19
seus pares. Apontaram também a falta
de projetos sociais, de cultu-
Algumas famílias
ra e de lazer, embora em
foram apontadas como
algumas comunidades exis-
preconceituosas e por
tam praças, festas, igrejas
manterem uma relação difí-
que servem como proteção
cil, de brigas e agressões com
diante das violências exis-
os seus filhos, havendo rela-
tentes.
tos de violência doméstica.
O alcoolismo é citado, assim Esses dados obtidos
como, em alguns casos, o nos levaram a eleger três
uso de drogas ilícitas no temas que podem melhor
ambiente doméstico. embasar o desenvolvimento
de um projeto de convi-
Nos arredores foram
vência e diminuição das
relatados assaltos, roubos de
violências nas escolas.
celulares, mortes, estupros e
Dado que se trata de uma
assédios, tráfico de drogas,
proposta inovadora, com
rivalidade entre facções,
trocas de tiros entre polícia
e traficantes e problemas
de mobilidade entre os
moradores de localidades
diferentes por brigas entre
facções. A polícia é percebi-
da como agressiva e abusiva.
20
estudantes adolescentes e jovens, nada mais pertinente do
que trabalhar temas sobre gestão democrática, juventude e
participação, violências e convivência escolar.
Gestão democrática
Uma gestão que conta com a participação de todos os
envolvidos com a prática educativa provoca uma mudança
positiva na educação, capaz de superar o tradicional modelo
centralizador existente. A democratização na escola inicia-
-se com a criação de espaços de discussão coletiva sobre o
dia a dia, nos quais docentes, administrativos, estudantes e
pais/responsáveis possam ser ouvidos. Entretanto, a demo-
cratização da gestão educacional requer primordialmen-
te o entendimento da função política
e social da escola e da sua impor-
tância no processo de transfor-
mação da sociedade, à medida
que ela se responsabiliza pela
tarefa de formar o cidadão
para o domínio de saberes
e instrumentos políticos e
culturais.
21
A gestão democrática deve ter Na elaboração da proposta
uma relação direta com o Projeto pedagógica, a escola deve
reunir seu grupo de traba-
Político Pedagógico (PPP), o qual lho (representantes dos
segmentos administrativos
deve expressar a cultura da escola e docentes) e fazer algumas
assim como contribuir para trans- indagações que facilitarão
a elaboração do documen-
formá-la3. O PPP norteará o trabalho to:
• Qual é o perfil da gestão
pedagógico em todas as dimensões que praticamos?
para que ele seja um plano global da - Como revitalizar o papel
da escola enquanto local
instituição e aponte caminhos para a de trabalho dinâmico que
desenvolve a prática peda-
construção de sua identidade . gógica voltada para o
aprender, para a sociali-
As práticas do cotidiano zação e para uma melhor
educação?
escolar voltadas para o surgimento, • Qual tipo de avaliação
crescimento e consolidação de um praticamos? E que outro
tipo de avaliação podemos
projeto democrático, que fomente o praticar?
- Quais canais de articula-
diálogo dos educadores e educandos, ção com a família?
favoreça a interlocução entre sabe- - Como se dão as relações
sociais direção-professor,
res acadêmicos e saberes populares, professor-aluno, aluno-
-aluno etc.?
de vivências, saberes juvenis tecendo • Discutir e avaliar a prática
redes de falas e de registros, ações pedagógica sob a ótica de
qualidade e pluralismo de
e intervenções, podem possibilitar ideias.
• Identificar as caracte-
novos movimentos de participação rísticas que representam
uma boa escola e o que
3 Segundo Veiga (1995), a possibilidade consideramos que deve ser
de construção do PPP [...] passa pela autonomia mudado?
da escola de sua capacidade de delinear sua
própria identidade. Isto significa resgatar a
escola como espaço público, lugar de debate, de
diálogo, fundado na reflexão coletiva.
22
ativa e cidadã. qual envolve diretamente o
aluno no processo ensino-
Uma das alternativas
-aprendizagem planejado e
capazes de colaborar para
efetivado pelo professor. A
a qualidade da educação
outra se refere ao trabalho
não é somente técnica, passa
pedagógico dos que admi-
também pelo engajamento e
nistram toda a estrutura
sintonia da escola com ela
física, material e humana da
mesma e com seus usuários
escola; procuram garantir a
com programas de capaci-
sintonia entre as determina-
tação - práticos e teóricos
ções do Estado (mantenedor)
- de professores, dirigentes
e o trabalho da/na escola;
escolares e estudantes. Isso
buscam a unidade interna
acontece quando a escola
no trabalho dos vários
cria vínculos com a comu-
professores que atuam em
nidade, dando sentido a
turmas, anos e discipli-
proposta pedagógica envol-
nas diferentes; auxiliam os
vendo os diferentes indiví-
professores no tratamento
duos em uma só missão.
das demandas advindas dos
Na escola existem alunos e suas famílias.
duas instâncias de ação
No âmbito da gestão
pedagógica que estão inter-
escolar democrática, a
ligadas embora diferentes.
atuação do gestor é funda-
Uma diz respeito ao traba-
mental para a criação de
lho didático-pedagógico, o
um ambiente propício ao
23
conhecimento e aprendiza- fato consolidar uma prática
gem, participação colabora- democrática.
tiva, reflexão e mobilização
A prática pedagógi-
de ações que resultem dire-
ca, por sua vez, requer ação
tamente no tipo de cidadão
planejada do professor. No
que a escola quer formar.
dia a dia da sala de aula, a
Nessa perspectiva, o papel
escola realiza seu maior
do gestor não se restringe à
objetivo: fazer com que os
função meramente burocrá-
alunos aprendam e adqui-
tica, faz-se necessário esta-
ram o desejo de aprender
belecer um relacionamento
cada vez mais e com auto-
entre meios e fins para supe-
nomia. Para atingir esse
ração de problemas educa-
objetivo, é preciso focar
cionais e administrativos.
a prática pedagógica na
Organizar-se no âmbito de
relação professor-aluno, o
gestão pedagógica e admi-
que significa observar os
nistrativa na escola pública
estudantes de perto, conhe-
é um desafio tanto para o
cê-los, compreender suas
gestor, quanto para a equipe
diferenças, demonstrar
pedagógica, professores,
interesse por eles, conhecer
agentes educacionais, pais e
suas dificuldades e incenti-
alunos, pois são todos inter-
var suas potencialidades.
locutores sociais da organi-
zação escolar, responsáveis Vale ressaltar que
pelas ações que possam de o mundo contemporâ-
24
neo é repleto de informação, o que
reforça a necessidade de que o Plano
de Trabalho do professor inclua o
conhecimento sobre o que os estu-
dantes já sabem e o que precisam
saber. A adoção de um novo para-
digma da gestão escolar estratégica,
centrada na competência em admi-
nistrar o novo, a mudança, o impre-
visto. Administrar é inovação resul-
tante do esforço diário, do qual todos
devem participar, a partir e através
Para reflexão/atividade
da governança educacional .
O Regimento Escolar deve
estar pautado em princípios A escola é concebida como
democráticos, com a parti-
cipação de um colegiado uma organização social que, como
como, por exemplo, Conse-
tal, tem um funcionamento específi-
lho Escolar, Associação de
Pais, Mestres e Funcioná- co, desenvolve um sistema particular
rios (APMF), Grêmio Estu-
dantil e Conselho de Classe, de relações entre os atores, define seu
dentre outros, além da
próprio conjunto de regras, normas,
gestão, equipe pedagógica,
docente, técnico adminis- avaliações e expectativas. Um tipo de
trativo e auxiliar operacio-
nal. São todos coparticipes. gestão onde estudantes e professores
são ouvidos, aceitos e respeitados,
- Sua escola tem algum
desses grupos? diretores dedicados a abrir espaço
- Como cada grupo contri-
bui para a escola? para tal participação e refletindo
sobre melhores alternativas para
25
solução de problemas, já é no-aprendizagem; d) recur-
considerada um dos indica- sos didáticos.
dores de uma escola eficaz
(JOHNSON et al., 2000).
Como praticar a
O clima acadêmi-
gestão democrática na
co segundo Pedrosa (2007)
escola?
com ênfase no ensino e na
aprendizagem está relacio- 1. Reconhecendo
nado a práticas escolares as referências legais que
que, por sua vez, abrange: respaldam a participação
a) colaboração docente com dos atores da comunidade
formação/qualificação e escolar nas decisões
sua liderança acadêmica tomadas tanto no âmbito das
e administrativa; b) uso do suas escolas, quanto no da
tempo elaborando planeja- própria vida em sociedade .
mento e estruturação do que
- A Constituição Brasileira de 1988
será lecionado nas aulas; propiciou o surgimento de diver-
cumprimento do programa sas leis que fomentam e/ou criam
condições para que adolescen-
de ensino; c) expectativa do tes e jovens possam participar de
forma mais ativa, tanto das deci-
professor em relação aos sões tomadas no âmbito das suas
alunos revendo a estrutura escolas, quanto da própria vida
em sociedade. Inovou ao incluir,
de avaliação e de monitora- entre seus princípios, a “gestão
democrática do ensino público”
mento do desempenho dos tão importante para a “garantia
alunos; empenho e motiva- do padrão de qualidade” quanto
à “valorização dos profissionais
ção para o processo de ensi-
26
da educação”, a “gratuidade” e o 2. Discutindo a reali-
“pluralismo de ideias e concep-
ções pedagógicas” (CF/88, art. 206,
dade para definição dos
incisos VII, V, IV e III). objetivos e metas que
- Lei de Diretrizes e Bases da
Educação - LDB nº 9394/96. Direi- devem compor o planeja-
tos educativos são garantidos e
ainda comporta o dispositivo legal
mento escolar através da
Plano Nacional de Educação (PNE). participação da direção,
- 2º PNE (2014) configura-se uma
norma supraordenadora e preco- corpo docente, funcioná-
niza como diretriz, a promoção do
princípio da gestão democrática
rios, alunos, pais/responsá-
da educação pública. veis nas decisões, buscando
soluções e alternativas para
o melhor funcionamento da
escola.
Links:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicaocompilado.htm
27
O Conselho Escolar (Lei Conselho escolar: o
9.394/96) é formado pela repre- que é, conceitos e como
aplicar. Disponível em:
sentação de todos os segmentos que <https://canaldoensino.
com.br/blog/conselho-
compõem a comunidade escolar escolar-o-que-e-
(alunos, professores, pais ou respon- conceitos-e-como-
aplicar>. Acesso em: 02
sáveis, funcionários, professores e mar. 2018.
• Material Didático do
corpo diretivo) sendo uma maneira ProgramaNacional de
de acompanhar e auxiliar o trabalho Fortalecimento dos
Conselhos Escolares do
dos gestores escolares. Ministério da Educação
(MEC). Disponível em:
<http://portal.mec.gov.
br/programa-nacional-
de-fortalecimento-dos-
conselhos-escolares/
publicacoes>. Acesso
Participação
28
As maneiras de aprender e ciar o desenvolvimento de
ensinar, assim como modi- habilidades discursivas, de
ficaram as formas de enga- convivência, de respeito às
jamento e práticas políti- diferenças, de liderança etc.
cas das juventudes em uma
Os jovens tendem a
participação híbrida entre
se afastar de práticas que
o online (redes) e o off-line
não refletem as suas vivên-
(ruas), estabelece formas de
cias, desconsiderando as
comunicação e participação
burocracias convencionais
de grande originalidade e
de instituições, criando um
em uma nova escala.
ritmo particular, dinâmi-
Os espaços participa- ca e organização própria, o
tivos e sua experimentação que pode explicar o distan-
são por natureza educati- ciamento dos estudantes no
vos e formativos. Logo, uma exercício participativo na
experiência importante na medida em que existe uma
vida dos jovens por permitir lógica da escola e uma lógica
a vivência nos processos de da juventude. A existência
ação coletiva, aprendizado dessas duas lógicas, onde
da alteridade e de posicio- a escola possui estrutura
namento frente às questões rígida dos tempos, funcio-
voltadas para mudanças, namento tradicional hierár-
uma vez que essa dimensão quico e a centralização do
educativa e formativa da poder no adulto (DAYRELL,
participação pode propi- 2007) faz com que a institui-
29
ção escolar se distancie dos na inadequação de diver-
seus princípios de formação sos aspectos que constituem
social e se mantenha em um o cotidiano da escola, entre
diálogo distante com seus eles a organização da escola,
alunos. o planejamento, o espaço, o
sistema de normas e regras;
A escola ao impor seu
as formas de convivência,
ritmo e seus padrões, não
em relação às característi-
leva em conta a diversida-
cas, expectativas e deman-
de de referências culturais
das dos alunos, o que gera
e as múltiplas identidades
uma tensão no relaciona-
inerentes às juventudes e
mento entre os atores sociais
até contradições existen-
que convivem no ambiente
tes enxergando-os somente
escolar.
como alunos. Tende a uma
visão reducionista da juven- Ressignificar a
tude. Desconsidera, portan- educação brasileira implica
to, a cultura juvenil, cuja em considerar a participa-
característica é dinâmica e ção juvenil como uma das
diversa. forças motrizes da educa-
ção. É preciso que os adultos
Esse descompas-
da escola busquem compre-
so entre cultura escolar e
ender o que é ser jovem
cultura juvenil se baseia
hoje, adotem novas formas
em uma violência de cunho
de escuta, inclusive para
institucional fundamentada
contemplar os estudantes
30
menos participativos ou com tores de conhecimentos e
dificuldade de comunicação aproveitem esses saberes
e expressão, que também em favor da atualização
têm o que dizer. Participa- das práticas pedagógicas.
ção não é sinônimo do que Implica também em abrir
é considerado o “bom aluno” espaço para que os alunos
- aqueles com boas notas, sejam ouvidos e envolvi-
dedicados, disciplinados, e dos na construção de solu-
com “liderança positiva”. ções para os problemas que
Há que se conhecer e reco- comprometem a qualidade
nhecer também o contexto do sistema educacional.
individual, as competências
É fato as condições
e habilidades do chamado
adversas da docência, o
“mau aluno” para saber
desmonte/sucateamento de
lidar e extrair suas poten-
algumas escolas, os proble-
cialidades e educar para a
mas relacionados à aprendi-
vida a partir da realidade
zagem, repetência e evasão
de uma juventude diversa,
escolar, e a expectativa de
plural e “transgressora” por
que a escola possa contri-
natureza.
buir para que seus alunos
O processo, no ampliem seu capital social e
entanto, exige que gesto- cultural. Mas, para Carrano
res e demais educadores (2017), a escola deve se inte-
reconheçam os estudantes ressar em conhecer a traje-
igualmente como deten- tória extraescolar de seus
31
alunos e escutá-los de forma des e potenciais provocado-
atenta - escuta ativa -, res, assim como inovações e
enxergando-os como sujeito elaboração do conhecimen-
cultural completo, pois esta to que resultam positiva-
instituição continua sendo mente no próprio desenvol-
o principal espaço de pers- vimento dos estudantes.
pectiva para a mobilidade
A escola deveria estar
social e a socialização dos
atenta às formas pelas quais
jovens. É importante consi-
os jovens vêm imprimindo a
derar também que ela não
sua participação no mundo
é exclusiva na educação
de hoje - movimentos secun-
desses, já que as formas
daristas de ocupação, movi-
do saber estão nos mais
mentos de rua à mobilização
variados espaços de conví-
e exposição na internet. As
vio social que possibilitam
juventudes desejam novas
formação de uma identida-
formas de organização e
de multifacetada (MELUCCI,
discussão, buscam cons-
2001, 2004).
truções mais horizontais
A participação é de políticas e pautas. Um
geradora de sentimento de melhor aproveitamento pela
pertencimento e motiva- avidez, vontade de inova-
ção, oportunizando melho- ção e participação, compre-
ria nas relações sociais na endendo e valorizando as
escola e contribuindo para diferenças significativas de
o surgimento de habilida- classe, raça/cor, orientação
32
sexual, locais de moradia e slam de poesias5 , coletivos
outras experiências diver- de mídia livre6 ou de midia-
sas. tivismo7 , grupos de classe8 ,
entre outros.
É neste cenário que
Disponível em: <https://catracalivre.
cresce o contingente dos com.br/mapa/mapa-dos-saraus-de-
grupos juvenis e coletivos sp/>. Acesso em: 20 mar. 2018.
33
Assistimos nas últimas como racismo, homofobia,
décadas, tanto nos centros entre outros; discussão de
urbanos quanto nas peri- normas e regras de forma
ferias, a crescente onda de horizontal; reivindicações
políticas coletivas. Os jovens por melhor infraestrutu-
perceberam que a atuação ra aos governos; mobiliza-
no campo da cultura pode ção de melhorias possíveis,
diminuir as violências sofri- como limpeza dos espaços
das em suas vidas e em seus comuns, pintura etc.; além
territórios. A cultura passa da participação efetiva
a ser uma ferramenta de dos estudantes na escola. A
articulação, organização e inquietude natural e própria
inserção social, vinculada do ser jovem é o que move a
a um projeto coletivo para sua participação.
uma sociedade mais justa e
solidária.
34
Saiba mais:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm
http://www.juventude.gov.br/estatuto
35
Violência e
convivência escolar
A convivência e a violência
nas escolas são fenômenos múltiplos,
multifacetados e há que considerar
a localização da escola e as situa-
ções de violência das comunidades
do entorno. Entretanto, o processo de
convivência depende principalmen-
te de fatores internos. Neste sentido,
qualquer tipo de trabalho sobre o
tema tem que ser realizado de forma
aberta e não determinista.
36
ciação. São as pequenas se produz e a tensão cede
violências do dia a dia, as lugar ao enfrentamento
chamadas microviolências, (CHARLOT, 2007).
principalmente, que preju-
Destaca-se também
dicam o ensino, aprendi-
a violência institucional,
zagem e o clima escolar,
ou seja, quando a própria
impossibilitando o uso do
escola produz e reproduz
diálogo e da comunicação
as suas próprias violên-
não violenta. São exemplos:
cias como, por exemplo, as
gestos e atos físicos (agres-
regras não consensuadas,
sões, roubos), atos verbais
com dúbia interpretação
(ameaças, insultos, humi-
e não válidas para todos,
lhações), atos de comuni-
tratamentos diferenciados
cação não verbal (olhares,
para os alunos, distintas
silêncios, zombarias ou
formas de punição, dentre
isolamento do grupo), situ-
outras.
ações conflituosas e sociais
(racismo, homofobia, desi- A literatura tende
gualdade social, de gênero a não considerar conflito
etc.) ou relacionais (conflitos como sinônimo de violên-
nas relações face a face) e cia (CASTRO; ABRAMOVAY,
ainda, tensões, isto é, forças 2002). Os conflitos de visões
contrárias que prolongam de mundo, de interesses etc.
uma situação até os limites são inerentes e necessários
além dos quais uma cisão às relações sociais e são
37
exatamente as controvérsias ções que visam impedir a
as responsáveis pela possi- violência nas escolas e a
bilidade de modificação das tornarem estes estabeleci-
organizações. mentos mais seguros, são
mais eficazes quando os
Um recente Informe
estudantes participam do
da Organização das Nações
planejamento e execução. A
Unidas para a Educa-
participação dos estudantes
ção, a Ciência e a Cultura
permite promover de forma
(UNESCO), de 2017, sobre
mais eficaz mensagens que
violência na escola reco-
demonstrem que qualquer
menda a participação efetiva
forma de violência é inacei-
de crianças, adolescentes
tável (CASTRO; ABRAMOVAY,
e jovens, na execução de
2002, p. 45).
intervenções para tornar a
escola mais segura. Há reco- O clima escolar é
mendações quanto a tipos reflexo do que a escola
de intervenções que possam é, do que ela tem na sua
transformar a cultura das “essência”, tanto em relação
instituições, com uma firme ao trabalho desenvolvido,
posição contra a violên- quanto à natureza das rela-
cia, incitando os professo- ções sociais estabelecidas
res a utilizarem métodos entre estudantes, professo-
alternativos de disciplina res, funcionários, direção e
e gestão. As experiências famílias. As relações sociais
refletem como interven- na escola se constituem em
38
um dos indicadores utiliza- ção de justiça e injustiça das
dos para medir e qualificar mesmas.
o clima escolar, o qual pode
Partimos do pressu-
ser definido como “a quali-
posto que o clima escolar
dade do meio interno de
e a convivência são fatores
uma organização” (FONTES,
determinantes para que
s.d. apud. ABRAMOVAY, 2012,
todos os atores sociais
p. 19).
tenham sensação de segu-
Garcia e Delgado rança e de prazer no ensinar
(2009) mostram que os e no aprender, para que as
problemas de convivência partes envolvidas se sintam
podem ser minimizados a representadas, ouvidas e
partir de uma mudança no participantes do ambiente
clima escolar, com maior no qual elas convivem. Para
controle da disciplina, uma tal, a escola deve funcionar
melhor comunicação entre de maneira democrática e
professores e alunos, dimi- que todos se sintam integra-
nuição do absenteísmo e dos, seguros e pertencentes
uma melhora no estresse dos à instituição.
professores. O clima escolar
A questão da segu-
incorpora também valores,
rança na escola deve incor-
normas, crenças e atitu-
porar, sobretudo, medidas
des de uma instituição. Tem
preventivas, a partir do
relação com a compreensão
conhecimento sobre como
das regras e com a percep-
39
se dão as violências nelas estas são adequadas repre-
existentes para poder lidar sentam uma fonte impor-
com as mesmas. A escola tante de apoio e motivação
pode trabalhar com algumas para a aprendizagem com
questões relacionadas a profissionais que saibam
exclusões de ordem econô- ensinar, que estimulem a
mica e social, assim como imaginação e a possibili-
estimular os jovens para que dade de desenvolver um
aprendam a resolver seus pensamento crítico e criati-
conflitos de maneira não vo que sirva para o presente
violenta. Medidas repres- e o futuro.
sivas, porém dificilmente
Vários autores traba-
solucionarão os problemas e
lham a relação entre clima
questões das violências nas
escolar, violência e apren-
escolaszz.
dizagem e concluem que
Para Aguado (s.d.) um bom clima aumenta
qualquer tipo de programa os resultados escolares e a
que trabalhe com a preven- capacidade de aprender dos
ção à violência depende alunos, independente dos
em grande parte da quali- fatores socioeconômicos
dade das relações sociais existentes.
entre aluno-aluno, aluno-
Para a discussão do
-professor, professor-pro-
tema violência escolar e
fessor, professor-direção,
propostas de uma melhor
na medida em que, quando
40
convivência é importante comunidade escolar.
ver os jovens como atores
São muitos os proble-
centrais e não como fonte de
mas encontrados, entre
problemas, mas de respos-
eles, a vida escolar é consi-
tas.
derada monótona e sem
Portanto, é no coti- graça por vários estudantes,
diano que as escolas como também critica-se a
devem procurar enfren- forma tradicional de ensino
tar a violência a que estão centrada no professor em
sujeitas, buscando mudar que os alunos não são “donos
para melhor. Os caminhos da palavra”. Pesquisa reali-
dessa busca são múltiplos zada em 2015 (ABRAMOVAY
e plurais, contendo grande et al.) mostra o desconforto e
riqueza de potencialidades, a insatisfação sentida tanto
mas também muitas limi- nas relações pessoais como
tações. É conhecendo-os e na forma de dar aula dos
compartilhando-os que se professores. Para os estu-
pode a partir deles, pensar dantes um bom professor
alternativas para amplifi- deveria combinar as dimen-
car o esforço, na direção de sões saber e fazer, e dentre
um projeto de convivência os professores, muitos
que, efetivamente, provoque conseguem associar conhe-
transformações, por seu cimento com sensibilida-
potencial estratégico para de e civilidade para com os
tecer relações melhores na modos de ser jovem, respei-
41
tando de alguma forma dos jovens, o que induz a
traços da chamada cultura um clima escolar negativo
juvenil, que pode, em alguns e relações sociais complica-
momentos, parecer “deses- das. O desânimo dos profes-
tabilizadora” de determi- sores é outro fator que há
nadas normas, mas que é que ser levado em conta, na
crítica e reformuladora de medida em que seus alunos
padrões. apresentam, muitas vezes,
atitudes passivas e desinte-
Na escola, o jovem,
ressadas e indisciplina.
muitas vezes, é considera-
do somente como aluno e A importância das
se perde de vista a diver- relações sociais é marcan-
sidade, os parâmetros que te nas escolas e estas são
fazem parte das modelagens complexas, com muitas
das juventudes, afastan- contradições e diferentes
do-os da cultura escolar e percepções entre jovens e
dessa forma se torna em si adultos. Trabalhar as dife-
mesma fonte de discrimina- renças marcantes, sem
ção, reproduzindo precon- negações pode contribuir
ceitos, valores discrimi- para um melhor clima
natórios e pouco flexíveis. escolar e uma educação de
De fato, a cultura escolar é melhor qualidade.
hierárquica e pouco sensí-
O ambiente escolar
vel quanto às formas de ser,
constrói dinâmicas de inte-
agir, falar e se comportar
42
ração, mas também repro- Vale destacar que na
duz dinâmicas preexisten- sociedade brasileira, em que
tes. Dado que fenômenos pesem nossa origem multi-
como racismo e homofobia étnica e nossas caracterís-
embora sejam de comum ticas socioculturais plurais,
ocorrência são pouco ou vigora ainda, uma valoriza-
nada discutidos pela e na ção do padrão representa-
escola. do pelo homem branco, de
classe média, heterossexu-
O preconceito e a
al e católico, implicando a
discriminação são fenôme-
existência de comportamen-
nos cotidianos nas escolas
tos discriminatórios, basea-
brasileiras. O preconcei-
dos em critérios étnicos, de
to está relacionado a uma
origem social, de gênero e
crença preconcebida sobre
sexualidade, entre outros.
indivíduos a partir de
características específicas, Entende-se como
enquanto a discriminação racismo as barreiras que
é uma forma de compor- impedem a ascensão social
tamento e tratamento dife- de pessoas e grupos, devido
renciado para pessoas à discriminação raça/cor,
dependendo de suas carac- notadamente em relação à
terísticas, havendo ainda população negra, que podem
uma crença na inferiorida- gerar diversos tipos de
de intrínseca de determina- violências, desde agressões
dos indivíduos. verbais ou físicas até exclu-
43
são das atividades escolares A homofobia é um
e convívio social. tratamento discriminatório
sofrido por jovens lésbicas,
A discriminação
gays, bissexuais, traves-
racial afeta subjetivida-
tis, transexuais e queers. A
des, domesticando vonta-
prática de violências contra
des, comprometendo auto-
homossexuais é antiga, os
percepções e afetando as
insultos, xingamentos homo-
relações sociais na escola.
fóbicos são encontrados
Considerado muitas vezes
constantemente nas escolas
“brincadeiras” ou “coisas de
como forma de despresti-
jovens”, o que é assumido
giar meninos e meninas que
pelos vitimados e provoca
são ou que são considera-
uma autodepreciação. É o
dos homossexuais, sejam
caso de meninas negras que
por seus trejeitos, maneira
convivem com discrimi-
de falar ou vestir. As violên-
nações, muitas vezes sutis,
cias verbais ou xingamen-
na medida em que não se
tos reproduzem uma ordem
adequam aos padrões domi-
na sociedade mostrando
nantes de beleza eurocêntri-
que há sujeitos de primei-
ca, principalmente relacio-
ra e de segunda categoria,
nados à questão do cabelo,
reforçando o sofrimento e
e recebem apelidos, criando
comprometendo o futuro
um sentimento de exclusão
dos jovens.
social por parte de alunos
negros. Existe uma sexuali-
44
dade considerada “normal” A violência em suas diversas
e correta, legitimada por modalidades, seja ela dura
padrões culturais que ou microviolência, tem um
condenam práticas não impacto direto na quali-
heterossexuais. O único dade da educação. As rela-
espaço considerado legíti- ções sociais entre os atores,
mo da homossexualidade é o clima escolar, as discri-
o “armário” já que a desa- minações que acontecem
provação moral existente no cotidiano, o racismo,
faz com que os homossexu- a homofobia, a eclosão de
ais sejam relegados a uma graves conflitos e as inci-
espécie de vida clandestina. vilidades de várias ordens,
Quando pessoas se compor- impedem que ela cumpra a
tam de maneira esperada sua função.
para o gênero oposto, consi-
Não se pretendeu
dera-se que estão fazendo
com o Programa “O papel
algo moralmente errado
da educação para jovens
atribuindo aos próprios
afetados pela violência e
homossexuais a responsabi-
outros riscos no Ceará e no
lidade pelo seu sofrimento,
Rio Grande do Sul” esgotar o
o que trás consigo muitas
tema violências, mas traba-
formas de violência.
lhar aquelas que mais se
É importante que a destacaram na elabora-
escola seja um espaço seguro ção dos planos de ação das
para todos os seus membros. escolas. O que se almejou
45
foi propiciar a participa- de ser evitado e desconstru-
ção real e efetiva dos estu- ído. Uma escola, por fim, que
dantes na implementação tenha no diálogo o recurso
de atividades voltadas para primordial dos conflitos que
a melhoria do clima escolar ela deve gerir.
e redução das violências,
Diante dos resultados
o que demandou reflexões
positivos vivenciados, espe-
e ações relativas a temas
ra-se que o Programa seja
pertinentes. Foi evidenciada,
inspirador e tenha continui-
sobremaneira, no decorrer
dade em cada escola na qual
do Programa, a importância
gestores, demais educadores
da qualidade nas relações
e estudantes se mobilizem
sociais entre os atores da
para a transformação de
escola para o alcance de tais
uma escola possível vislum-
objetivos.
brando a ressignificação da
O foco central foi e educação brasileira.
será transformar “as escolas
de risco” em “escolas prote-
toras”, capazes de lidar com
os conflitos e as violências,
criando base para uma
escola que tenha consciên-
cia da violência como fenô-
meno que se constrói social-
mente e, portanto, é passível
46
Atividades que podem
colaborar para um programa de
convivência escolar
1. Título/tema da Atividade
“Fatores de risco e fatores de proteção”
47
Material: sala ampla e confortável, folhas de papel,
canetas.
4. Estratégias e recursos
48
3. Cada grupo terá que escolher um relator responsá-
vel para redigir as opiniões, experiências e recomendações
sobre os temas discutidos.
4.1 Desenvolvimento
49
• quais são os riscos/proteções existentes nas relações
estudante x professor - e vice-versa?
Avaliação
50
1) antes dessa atividade como você pensava a questão
dos riscos e de proteção na escola?
1. Título/tema da Atividade
“Violências no cotidiano escolar: o que
fazer?”
51
esta aula/atividade?
A partir do debate sobre os temas, os participantes
desenvolverão a expressão e a reflexão; senso crítico, inclusi-
ve sobre os seus comportamentos.
1 aula: 50 minutos.
4. Estratégias e recursos
4.1 Desenvolvimento
b) Sugestões de vídeos:
52
vel em: https://www.youtube.com/watch?v=P98FGysZVRA)
“A violência na escola (convívio escolar)” (disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=J8C662Y0zBg)
• é possível preveni-las?
53
4.2. Resultados esperados
Avaliação
54
1. Título/tema da Atividade
55
Descrição da dinâmica
Descrição da dinâmica
1. Debater:
Descrição da dinâmica
56
1. Trabalhar em duplas a leitura da reportagem da Carta
Educação “A violência indica que algo não vai bem em nossas
escolas” (disponível em: http://www.cartaeducacao.com.br/
entrevistas/violencia-indica-que-algo-nao-vai-bem-em-
nossas-escolas/) e a partir daí deve-se discutir e refletir
com a turma porque nas escolas existe um grande número
de violências de alunos contra professores e de professores
contra alunos.
Descrição da dinâmica
57
discussão: preconceitos, discriminações a partir do vídeo
“Vivendo no armário: gays não assumidos (põe na roda)”
(disponível em: https://www.youtube.com/watch?time_
continue=337&v=JfLFn345Cm0).
Descrição da dinâmica
58
elaboração de um roteiro prévio de perguntas, a exemplo do
modelo abaixo:
59
ser julgada - como é registrada no vídeo “Briga entre alunas
na sala durante aula em Paulínia - O Professor Assiste e
não faz nada” (disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=NurZwoVPCuI&t=46s).
Descrição da dinâmica
60
- Promotores (grupo/advogados de acusação): formula
as acusações que devem acusar o “réu”, a fim de condená-lo e
estabelece o pedido de pena tanto para a escola quanto para
o professor.
61
sável pelo veredicto (o júri popular com um número menor
de componentes, entre três e seis alunos, de uma sala com 30,
por exemplo).
62
minutos façam suas considerações finais.
Descrição da dinâmica
63
que não dê espaço a brigas e a agressões físicas entre alunos.
Está implícito um sistema que respeita a liberdade individual,
que promove a livre iniciativa e que desperta a criatividade
em favor de todos e todas, mas considera que para tanto se
precisa de outro clima na escola e mais respeito ao professor
e participação dos pais. Ou seja, considera que no caso que
retrata a briga a culpa não foi do professor, que também se
sentiu acuado, amedrontado e que a escola como ela é hoje
também não pode ser culpada.
64
citados acima; a refletir que a violência tem relação com a
qualidade da educação; a repensar o seu papel como aluno
na escola, e a fazer com que o professor repense o que é ser
um educador no século XXI com orientação para os direitos
humanos e para a educação inclusiva.
Tribunal do júri
• Veredicto: 5 minutos.
65
4. Estratégias e recursos
66
1) como as aulas mudaram a sua visão sobre a violên-
cia?
ATIVIDADES EDUCOMUNICATIVAS
JORNAL MURAL
Passo a passo
67
1. Discutir com a equipe: ideias e conteúdo. Definir
quem gosta de escrever, desenhar, fotografar, recortar e
colar.
68
deve ser criativo, usar e abusar de imagens, desenhos e cola-
gens.
FANZINE (zine)
Passo a passo
69
de sulfite dobrada ao meio, para ser uma espécie de folheto
de quatro páginas. Pode ainda ter um formato mais criativo,
com dobras diferentes.
70
DINÂMICAS
71
problemas, peça para que todos dobrem a folha cuidadosa-
mente e depositem o papel no recipiente. Misture todos os
papéis, em seguida redistribua as folhas entre os participan-
tes. Oriente o grupo a ler o conteúdo do papel recebido, sem
fazer julgamentos.
72
sendo relatado?
73
Material: caneta ou lápis e uma cópia do “abrigo
subterrâneo” para cada participante. Processo: dividir o
grupo em cinco pessoas ou dependendo do número de parti-
cipantes. Distribuir uma cópia do “abrigo subterrâneo” para
cada participante (está ao final). Orientar que cada pessoa
deverá proceder a sua decisão individual, escolhendo até seis
pessoas (da lista do abrigo) de sua preferência. Em seguida,
cada subgrupo deverá tentar estabelecer o seu consenso,
escolhendo também as suas seis pessoas. Ao final o facilitador
sugere retornar ao grupão, para que cada subgrupo possa
relatar os seus resultados.
ABRIGO SUBTERRÂNEO
74
sando entrar no abrigo. Abaixo, estão quais as pessoas e
suas características. Faça a sua escolha. Apenas três poderão
entrar no abrigo:
( ) um jovem viciado
( ) um negro
( ) um aluno que acabou de sair da prisão
( ) um estudante evangélico
( ) uma menina que fica com muitos meninos
( ) um jovem gay
( ) uma menina lésbica
( ) um adolescente deficiente
( ) uma jovem de outro estado
( ) uma menina umbandista
( ) uma adolescente grávida
75
pessoas beberem água quebra, fazendo com que os alunos
passem sede e tenham que fazer uma longa caminhada até o
rio para poder beber água. O professor desempenha a função
central no filme.
76
Nós na Fita, BemTV (Brasil, 2010, 9min32s)
77
François Marin trabalha como professor de língua francesa
em uma escola, localizada na periferia de Paris. Ele e seus
colegas de ensino buscam apoio mútuo na difícil tarefa de
fazer com que os alunos aprendam algo ao longo do ano
letivo. Marin tem na escola alunos problemáticos, violência,
tensões étnicas entre os alunos, o que testa sua paciência e,
mais importante, sua determinação como um educador.
78
Pro dia nascer Feliz - de João Jardim (Brasil,
2007, 88min)
Aborda o sistema educacional brasileiro, descrevendo reali-
dades escolares de diferentes contextos sociais, econômicos e
culturais a partir de diversos olhares sobre as realidades que
constituem a estrutura educacional, seja do ponto de vista da
instituição, do aluno, do professor e da família. Propõe, ainda,
demonstrar o abismo existente entre as escolas públicas e
privadas e a relação do adolescente com a escola focando a
desigualdade social e a banalização da violência. Excelen-
te documentário, de grande importância à intervenção dos
psicólogos sociais nas escolas e comunidades no Brasil para
mudar o rumo dessa realidade, mudar o modo de entender a
educação e a juventude deste país.
79
Escritores da Liberdade - de Richard LaGra-
venese (EUA, 2007, 122 min)
Em Los Angeles, uma dedicada professora de uma escola
dividida por raças ensina uma turma de alunos adolescentes
que apresenta problemas de aprendizagem. Ela tenta inspirá-
-los a acreditarem em si mesmos e a atingirem o sucesso, pois
estão prestes a serem reprovados.
80
Os desafios do presente, as expectativas para o futuro e os
sonhos de quem vive a realidade do Ensino Médio nas escolas
públicas do Brasil. Na voz de estudantes, gestores, professores
e especialistas, “Nunca me sonharam” reflete sobre o valor da
educação.
81
excursão da turma para Petrópolis. Eles querem conhecer a
coroa do imperador. A condição imposta pela professora é
que todos passem por uma chamada oral sobre o assunto.
Para fazer o passeio é preciso pagar uma taxa de R$ 6,50 e
para conseguir esse dinheiro os dois acabam se envolvendo
com os traficantes do morro onde moram. Para complicar,
na véspera da excursão o morro é invadido por uma facção
inimiga e, em meio à confusão, os dois finalmente entendem o
que levou Napoleão a atacar a Inglaterra e porque D. João VI
teve que sair correndo para o Brasil.
VideoCamp: http://www.videocamp.com/pt
82
7. • propiciar um espaço
escolar acolhedor que
Recomendações promova o bem-estar;
83
de conversa dentro e fora da • discutir a importância da
sala de aula, sobre a insti- participação juvenil, através
tuição escola, as disciplinas, dos grêmios e conselhos
maneira de ensinar, formas escolares, entre outros;
de ser e estar na escola;
• incentivar a criação de
• criar mecanismos que grêmios escolares;
facilitem o diálogo família e
• divulgar a proposta do
escola;
programa em todas as
• discutir as regras da escola turmas e identificar quais
entre alunos, professores e turmas participariam efeti-
demais adultos das escolas, vamente;
incluindo os pais/responsá-
• eleger um professor que
veis para que sejam consen-
tenha interesse e disponibi-
suadas, não causem dubie-
lidade para discutir e orien-
dade e sejam cumpridas;
tar as atividades do progra-
• discutir a infraestrutura ma com os alunos;
da escola de modo a melho-
• sensibilizar professores e
rar a conservação do espaço
alunos para que compreen-
físico e limpeza, incluindo
dam a importância do tema
pátios, jardins e quadras;
Violência, principalmente a
• melhorar a qualidade da verbal, e suas implicações
merenda para algumas no cotidiano escolar e na
escolas; qualidade do ensino;
84
• discutir os diversos fatores • estabelecer um meio
que levam a haver violên- (WhatsApp, por exemplo)
cias na escola, socializando para uma comunicação
o tema entre os estudantes, mais rápida entre os parti-
professores e demais adultos cipantes;
e pais/responsáveis;
• estabelecer dias específicos
• formar grupos para para tratar do programa;
pesquisar e trabalhar os
• criar hábito de escrita para
diferentes temas e ativida-
relato dos trabalhos realiza-
des do programa;
dos com vistas a um Relató-
• eleger um coordenador rio Final;
para cada grupo de traba-
• estabelecer parceria entre
lho;
adultos, jovens e a comu-
• elaborar diagnósticos nidade para minimizar o
sobre violências e convivên- fenômeno das violências nas
cia na escola com a parti- escolas;
cipação dos adolescentes e
• estabelecer parceria com
jovens;
outras instituições/serviços
• observar e analisar a que atuam na rede de prote-
violência nas escolas rela- ção de adolescentes e jovens.
cionadas à lógica de funcio-
namento das instituições;
85
Bibliografia
86
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa
do Brasil. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1988. 292 p.
87
CASTRO, M.; ABRAMOVAY, M. Ser Jovem Hoje, no Brasil: Desafios
e Possibilidades. Programa de Prevenção à Violência nas Escolas. Brasília:
Flacso-Brasil, 2015. Disponível em: <http://flacso.org.br/files/2015/08/
Ser-Jovem-Hoje-no-Brasil.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2018.
88
6, jul./ago. 2000.
89
Anotações
90
91