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Introdução
Minhas expectativas sobre a Comicon NY eram muito mais modestas, pois, nas minhas
visitas a eventos similares em Nova York no passado, tinha presenciado convenções muito
menores, com menos lojas, stands de editoras pequenas, artistas novos e fantasias, e, de
uma forma geral, muito menos gente. Segundo Peter Kuper, a feira dobrou em relação ao
ano passado, se aproximando à feira de San Diego, porém ainda menor. O evento é grande
com muitos autores dispostos a dar autógrafos ou sketches em mesas de suas respectivas
editoras ou mesas isoladas. Para mim, parecia um “Rio Centro” do gibi, com uma multidão
ensandecida!
CSC: Super-Psychology:
Com a psicóloga Robin Rosenberg. Apresentou o artigo “Superhero Origins: What Makes
Superheroes Tick and Why We Want to Know”, onde ela analizou a transformação de
Tony Stark no Homem de ferro. Autora de “Psychology and Superheroes: an unauthorized
exploration”, Robin também trabalha com outras questões relacionadas aos super-heróis em
seus estudos, como o alter-ego, a função do uniforme, o poder relacionado ao ser diferente,
a possibilidade de sobrepujar as adversidades e os medos etc. Seu site é o seguinte:
http://www.drrobinrosenberg.com/psychology-and-superheroes.php
Paul Kupperberg
CSC: Art
Frank Verano da University of Westminster misturou política, cultura e teoria da arte para
analisar “The Dark Knight Strikes Again” de Frank Miller, atentando para uma
simultaneidade que, contudo, seria inerente à linguagem dos quadrinhos. Josh Kopin, do
Bard College, examinou como Ed Brubaker e Matt Fraction promovem a narrativa da série
“The Immortal Iron Fist”, explorando a estrutura dos quadrinhos, com influências de
Gasoline Alley. Howard Chaykin, na interpretação deste autor, deixa de acompanhar a
dinâmica dos autores subseqüentes.
Josh Kopin
CSC: Adaptation
R. Sikoryak, autor de “Masterpiece Comics”, salientou a interseção existente entre arte
erudita e popular nas adaptações de clássicos de literatura para os quadrinhos. Em meu
trabalho, analisei as adaptações para os quadrinhos dos trabalhos de Edgar Allan Poe,
considerando o estudo de Poe “Philosophy of Composition”. Thomas Witholt, da Syracuse
University, indicou a dupla influência do estilo noir dos gibis do final da década de 1930 e
começo da década de 1940, tanto para o cinema noir da época, como para trabalhos mais
recentes lançados pela Marvel.
Consumo
O fato de ser palestrante e fazer parte do seleto grupo de pesquisadores do Comic Studies
não indica uma abstinência em termos de consumo de revistas em quadrinhos, muito pelo
contrário. Assim, uma parte do tempo foi gasta com buscas por quadrinhos interessantes,
fora do eixo das duas grandes principais editoras, Marvel e DC, que, por sinal, estavam
distribuindo grátis seus últimos lançamentos, amostras e brindes – principalmente a DC. Os
gibis estavam mais caros do que na década de 1990. Antes existiam promoções de quatro
gibis por $1, agora apenas dois gibis por $1, diversas encadernações (trade paperbacks) por
$5 ou três por $10 e muita coisa por 50% do preço de capa. Estavam presentes também as
principais lojas de gibi, stands com blusas temáticas, bonecos, videogames, um stand com
manhuas e diversos com mangas e animes (O NY Comicon foi realizado simultaneamente
ao New York Anime Festival). Os altos preços dos gibis à venda na Comicon também
podem estar relacionados aos altos custos dos aluguéis de stands, por cerca de 1.700
dólares.
Como vim de Minneapolis, onde apresentei outro trabalho, pude constatar que, em Nova
York, a vida está mais cara, pois na primeira cidade pude comprar grandes edições de
estudos quadrinísticos de eixos variados e gibis diversos a preços módicos, o que inclui
edições de Peter Bagge da década de 2000, a coleção completa de A lenda de Kamui, A
vida de Winsor McCay, A arte de Tintin, Edições da Comics Journal, livros sobre e com
Charles Adams etc.
Artistas
Outra tarefa que absorveu grande parte do tempo na Comicon foi o contato com os
quadrinistas, oportunidade única que não poderia ser desperdiçada, tendo em vista as novas
Comicons que prometem aportar no Rio de Janeiro neste ano e nos próximos.
Um dos artistas que conheci em Setembro na Argentina no Congresso Vinetas Serias – no
qual apresentei outro trabalho - foi Peter Kuper. Por sua ousadia, talento e simplicidade,
pensei que ele seria um convidado ideal para o evento do Rio. Em Nova York, liguei para
ele. Estava animado para vir, porém queria saber de mais detalhes, como os horários e as
datas exatas. Disse que mandaria material para exposição mesmo sem poder vir, porém,
como as datas estavam em cima e ele tem viajado muito ultimamente, optou por vir no ano
que vem. Assim, teria tempo inclusive para realizar um pôster para o evento.
Peter Kuper
Inicialmente, falei com Sikoryak por e-mail, sem dar muitos detalhes sobre o evento do
Rio. Como apresentamos na mesma mesa trabalhos no Comics Studies Conference,
pudemos conversar um pouco mais sobre o assunto. Também concluiu que a data estava
muito próxima e uma exposição com seus originais também seria complicada, pois estes
foram para Angoulême. Quando vier, Sikoryak será um autor importante para discutir sobre
os paralelos e adaptações entre literatura e quadrinhos. Além disso, suas apresentações no
Carousel – leituras de hqs com músicas e performances – também seriam bem vindas.
Assim sendo, considerando seu potencial, Sikoryak merece um destaque especial no Rio
Comicon.
Robert Sikoryak
Geoff Darrow, muito bem humorado, estava em uma mesa junto a Walter Simonson.
Diferente deste, Darrow também se mostrou entusiasmado para vir ao Rio.
Geof Darrow e Walter Simonson
Em volta de Todd McFarlane também havia uma horda de fãs, mas ao conversar com sua
secretária foi possível entrar em contato – falar com ele pessoalmente. Disse que gostaria
de vir com a esposa. Estava assinando gibis junto a Greg Capulo, que apoiou as visitas ao
Rio, a partir das memórias das lindas mulheres cariocas – esteve no Rio em 1996.
Todd McFarlane
Jerry Robinson, muito simpático e animado para vir ao Rio, estará relançando ano que vem
ótimo registro histórico sobre os quadrinhos, “The comics: na illustrated history of comic
strip art 1895-2010”, com uma sinopse impressa disponível para o público. Além disso,
estava à venda no local sua biografia, “Jerry Robinson: Ambassador of Comics”.
Jerry Robinson
Dos quadrinistas brasileiros que trabalham para a DC Comics, tive a chance de conversar
com Ivan Reis e Eddy Barrows. O segundo, desenhista atual do Super-Homem,
impressiona pela simplicidade da personalidade e pela sofisticação do traço, conseguindo
fazer lindos desenhos em curtíssimo espaço de tempo. Com o mesmo lápis, faz o esboço e a
finalização. As linhas guias com um lápis leve pouco a pouco vão dando lugar a uma
melhor definição de tracejado com uma maior pressão do lápis. Outros brasileiros que
estavam presentes foram Joe Prado, Breno Tamura e Ivan Freitas da Costa (Fiq brother).
Outros que se mostraram interessados em vir ao Rio foram Brian Bendis, David Lloyd (que
vai estar em sampa duas semanas antes do evento no Rio), Jim Salicrup. John Romita Jr.,
Terry Moore do “Strangers in paradise”, Geof Darrow, Chip Kidd, Michael Golden, Mark
Texeira, Vicente Alcázar, Larry Hama, Herb Trimpe, Peter David e Rick Leonardi.
Fantasias fantásticas
Outro aspecto do evento que não pode ser ignorado é o desfile fantástico de caracterizações
diversas que assolava o local e as imediações. Dentre os principais destaques, seguem aqui
algumas seleções.
Conclusão
Apresentar um trabalho neste evento – e nos outros em que tenho me apresentado nos
Estados Unidos, Brasil e Argentina – representa, acima de tudo, uma possibilidade de
diálogo entre a cultura popular e a pesquisa acadêmica, intensificando o que é feito em
termos de pesquisa em quadrinhos e indicando fontes primárias, estudos de caso e
possibilidades de pesquisa de campo.
Tal grande festa com todos estes autores presentes em confluência com uma quantidade
significativa de leitores e fãs, em fantasias ou não – que podem induzir à construção de
novas narrativas e personagens -, mostra um fluxo vivo de uma mídia rica e instigante que
nos causa espanto, satisfação e uma “fuga divertida”. Foi bom estar presente.