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FELDKERCHER, Nadiane
nadianefel@yahoo.com.br
Resumo
A presente pesquisa faz parte das investigações realizadas pelo grupo de Pesquisa e Estudos
em Educação - INTERNEXUS, junto ao Projeto “Diversidade Sexual e Igualdade de
Gênero”, realizado junto à 8ª Coordenadoria de Educação e Secretaria Municipal de Educação
de Santa Maria – Rio Grande do Sul. O grupo tem realizado pesquisas que almejam reflexões
e o desenvolvimento de atividades pedagógicas que envolvam o combate ao preconceito e a
violência às pessoas nas quais as identidades não se enquadram ao modelo majoritário em que
estamos inseridos. Apresentamos a oficina “O bom o belo e o verdadeiro no contexto
escolar”, realizada com 36 alunos do Ensino Médio de uma escola Estadual da Região Norte
de Santa Maria/RS, em que a mesma foi inspirada nos três momentos pedagógicos de
Delizoicov a Angotti (2006). A coleta de dados se deu através da observação e análise das
histórias produzidas pelos participantes, ou seja, caracterizando uma abordagem qualitativa de
pesquisa. O estudo delineou os desafios de lidar, na escola, com o diferente do padrão que nos
foi apresentado desde a infância, ou pela não problematização desses assuntos. Nesta
perspectiva problematizamos os temas Sexualidade, Gênero e Etnia, a partir das
dicotomizações como certo/errado, verdade/mentira, apresentadas pelos alunos. A partir da
problematização dessas questões, percebemos que assuntos que geram polêmicas não são
abordados em sala de aula. Conforme Louro (2003), os educadores se sentem pouco à vontade
quando são confrontados com as idéias de incerteza, preferem contar com referencias seguras
e inequívocas. Ao contrário dessas práticas, acreditamos que a valorização da diversidade na
escola assume um papel inquestionável para a construção de um contexto social inclusivo e
que reconhece diferenças. Através deste trabalho também notamos que as metodologias no
ambiente educativo ainda são marcadas, por concepções tradicionais de ensino, onde o
aprendiz que apenas recebe informações e conceitos.
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Introdução
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Grupo de Pesquisa registrado no CNPq
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Projeto realizado junto à 8ª Coordenadoria de Educação (8ªCRE) e Secretaria Municipal de Educação de Santa
Maria (SMED), que recebeu apoio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD
/MEC).
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As mais variadas atividades são então empregadas, de modo que o professor possa
desenvolver a conceituação identificada como fundamental para uma compreensão
científica das situações problematizadas.(DELIZOICOV e ANGOTTI 2002, p. 201).
Nesse momento podem ser desenvolvidas atividades que utilizem recursos como
vídeos, sites de internet, livros, reportagens entre outros.
Finalmente, o Terceiro momento ou aplicação do conhecimento:
alunos frente às situações que envolvem “o diferente” de um padrão moral majoritário, bem
como refletir sobre dicotomizações como bom-ruim, mau-bom, feio-belo, certo-errado.
Em muitas culturas existe uma expectativa, quando nasce uma filha, de que ela é e
será um certo tipo de pessoa, que haja de um certo modo consagrado pelo tempo,
que siga um certo conjunto de valores, pelo menos os valores da família e que seja
como for não abale os alicerces (1994, p. 219).
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Os trabalhos das oficinas são realizados em dupla ou grupos pequenos para que haja uma boa troca de
conhecimentos entre os participantes, aqui no caso alunos ; conhecimentos que posteriormente serão
socializados com o grande grupo.
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No terceiro momento solicitamos aos alunos que observassem um painel com imagens
de pessoas que contrastam por inúmeras diferenças (como cor de pele, cultura, profissões,
idades), que os alunos colocassem por escrito se eles se identificavam com alguma daquelas
imagens (figura 2) e se estas lhes faziam lembrar de algum momento ou situação vivida,
associada ao primeiro e ao segundo momento da oficina.
Dentro deste contexto, acreditamos que essa produção de Kits de perfis-padrão pode
ser associada ao espaço escolar, que ao colocar em seus Projetos Políticos Pedagógicos e
currículos, propostas de trabalho que devem contemplar modos de vida diferenciados, se
contradiz ao selecionar de forma fechada, quais os saberes são necessários para a formação de
seus alunos.
Acreditamos que as escolas têm um importante papel no desenvolvimento de
estratégias que permitam os educandos a refletir, reinventar-se e propor o pensar criativo, sem
imposições. Larrosa, afirma que “um dispositivo pedagógico será, então qualquer lugar no
qual se constitui ou se transforma a experiência de si4. Sendo assim, a educação, além de um
simples ambiente de possibilidades para o desenvolvimento da autoconfiança, pode produzir
“formas de experiência de si nas quais os indivíduos podem se tornar sujeitos de um modo
particular” (LARROSA, 1994, p.57).
Nas oficinas, os alunos associaram a palavra preconceito a tudo aquilo que é
considerado diferente ou fora de um padrão majoritário. Os preconceitos são realidades
historicamente construídas,
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“estudar a constituição do sujeito como objeto para si mesmo: a formação de procedimentos pelos quais o
sujeito é induzido a observar-se a si mesmo, analisar-se, decifrar-se, reconhecer-se como um domínio do saber
possível”. (FOUCAULT apud LARROSA 1994. p. 55 )
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(...) existe uma extraordinária continuidade entre as diferentes formas através das
quais os conhecimentos dos países centrais legitimaram a missão civilizadora ou
normatizadora a partir das deficiências – desvios em relação ao padrão normal
civilizado – de outras sociedades. Os diferentes recursos históricos (evangelização,
civilização, o fardo do homem branco, modernização, desenvolvimento,
globalização) têm todos como sustentáculo a concepção de que há um padrão
civilizatório que é, simultaneamente, superior e normal. (WIELEWICKI e
OLIVEIRA apud LANDER, 2005).
No contexto desse “padrão civilizatório”, nas oficinas, a mulher quando não está
incluída em um papel recatado de esposa e dona do lar, também é considerada indivíduo
anormal.
sempre operando a partir de uma identidade que é norma, que é aceita e legitimada
e que se torna por isso mesmo, quase invisível (...) (MEYER, 2003. p. 24)
Em relação à questão da diversidade Étnica, foi percebido através dos discursos dos
alunos como algo “fora do padrão majoritário”, pois fazemos parte de uma sociedade regida
esteticamente por um paradigma branco, onde a clareza da pele persiste como uma marca
simbólica de uma superioridade imaginária (CANDAU, 2003.p.22). Concordamos com a
mesma autora, que afirma ser muito presente em nossas vidas, a questão histórica, onde a
escravidão marcou território e marca ainda hoje as relações sociais.
Diante do que foi exposto, pensamos que o ambiente escolar, ao negar ou imunizar-se,
por exemplo, dos temas que foram problematizados nas oficinas, confirma e contribui para a
efetivação de uma educação carregada de verdades absolutas, discriminações e relações de
poder. Segundo Tomaz Tadeu da Silva
O poder está inscrito no currículo através das divisões entre saberes e narrativas
inerentes ao processo de seleção do conhecimento e das resultantes divisões entre
os diferentes grupos sociais. Aquilo que divide e, portanto, aquilo que inclui/exclui,
isso é o poder. Aquilo que divide o currículo-que diz o que é conhecimento, e o que
não é - e aquilo que essa divisão divide -que estabelece desigualdades entre os
indivíduos e grupos sociais - isso é precisamente o poder (SILVA, 1995.p.197).
REFERÊNCIAS
CANDAU, Vera Maria. “Somos Todos Iguais?” CANDAU, Vera Maria et al (coord). Rio de
Janeiro: DP&A, 2003.
ESTÉS, Clarissa Pinkola, “O Patinho feio”. IN ESTÈS, Clarissa Pinkola (org). Mulheres que
correm como os lobos. 2ª ed. Editora Rocco, 1994.
FOUCALT, Michael. “Os anormais”. Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
FREIRE, Paulo. “A importância do ato de ler: em três artigos que se completam”. 41ª
ed. São Paulo: Cortez, 2001.
______, Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
LOURO, Guacira Lopes. Currículo, gênero e sexualidade. IN: LOURO, Guacira Lopes et
al (Orgs). “Corpo, Gênero e Sexualidade”. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.
MEYER, Dagmar Estermann. Gênero e educação: teoria e política. IN: LOURO, Guacira
Lopes et al (Orgs). “Corpo, Gênero e Sexualidade”. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.
VIEIRA, Elaine, VALQUIND, Lea. “Oficinas de Ensino: O quê? Por quê? Como?”. 4º ed.
Porto Alegre. EDIPUCRS, 2002.