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Ac. 00060.

701/97-8 RO

VÍNCULO DE EMPREGO COM O BANCO DO BRASIL. Não forma vínculo de


emprego com a tomadora dos serviços a contratação de empresa especializada em
serviços de limpeza e conservação, sendo esta a empregadora dos trabalhadores que
utiliza para o cumprimento da obrigação avençada, uma vez ausente a subordinação
ao tomador dos serviços, Banco do Brasil. Tomador dos serviços. Sociedade de
economia mista que, mesmo na hipótese de contratação irregular de trabalhador,
através de empresa interposta, não se configuraria relação de emprego, dada a
inobservância do requisito do concurso público previsto no artigo 37, inciso II da
Constituição Federal. Sentença que atribuiu ao Banco reclamado a responsabilidade
subsidiária, que se restringe somente ao período em que a reclamante manteve contrato
de trabalho com a PRT Prestação de Serviços de Limpeza Ltda., segunda reclamada,
ou seja, de 15.4.94 a 23.5.96. Provimento negado.
ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. AGENTES BIOLÓGICOS. ILUMINAMENTO. -
Agentes biológicos. Higienização de sanitários. Exposição do empregado à ação de
agentes biológicos contidos nos dejetos humanos e nos papéis servidos. Comprovantes
de entrega de luvas juntados aos autos. Informação, no laudo, de que a reclamante
declarou ter recebido luvas de borracha (PVC), eficazes, segundo se sabe, apenas para
agentes químicos, com especial destaque aos álcalis cáusticos. EPI fornecido ineficaz.
Insalubridade, no trabalho, que ressurte. Iluminamento. Laudo inservível porque as
medições feitas se deram em local que sofreu alteração no lay-out. Recurso provido,
para condenar a reclamada PRT e o Banco do Brasil, subsidiariamente, no período de
15.4.94 a 23.5.96, ao pagamento de adicional de insalubridade, em grau máximo,
observando-se, como base de cálculo, o salário mínimo legal, com reflexos no aviso
prévio, nas férias, nos 13ºs salários, horas extras e no FGTS com 40%. Reversão às
reclamadas a responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais e das custas
processuais.

(...) VÍNCULO DE EMPREGO. BANCO DO BRASIL S/A. Está comprovado, nos


autos, que a recorrente foi contratada por PRT Prestação de Serviços de Limpeza Ltda.,
prestadora de serviços no ramo de limpeza e conservação, para o exercício das funções
de servente (FL. 163). Desempenhou suas funções nas dependências do Banco
demandado, em razão do contrato de prestação de serviços de limpeza e conservação
mantido entre os recorridos (fls. 231/242). As empresas prestadoras de serviços de
limpeza e conservação, como a segunda recorrida, não se identificam com as empresas
de trabalho temporário, regidas pela Lei nº 6.019/74, cuja atividade consiste no
fornecimento de mão-de-obra a outras empresas, para atender à necessidade transitória
de substituição de pessoal regular e permanente ou acréscimo extraordinário de serviço.
Ao contrário dessas, aquelas empresas contratam os próprios serviços de sua
especialidade, estes que são de natureza permanente e não correspondentes à atividade-
fim da empresa tomadora. As empresas prestadoras de serviços, nesses moldes, exercem
atividade lícita, inexistindo óbice legal ao respectivo funcionamento, tanto assim que
obtêm registro junto ao órgão competente e inscrição no Cadastro Geral dos
Contribuintes no Ministério da Fazenda. Sua atividade se concretiza na prestação de
serviços a terceiros, através de contrato de locação de natureza civil, com a utilização
de empregados próprios. Ademais, tais empresas assumem os riscos ínsitos à atividade
que empreendem, contratam empregados, dirigem o trabalho por eles realizados e
pagam os salários, independentemente do recebimento das faturas correspondentes aos
serviços prestados. É entendimento jurisprudencial predominante, consubstanciado no
item III do Enunciado nº 331/SJ/TST, em revisão ao Enunciado 256, que não forma
vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de conservação e limpeza,
quando inexistentes a pessoalidade e a subordinação. Na hipótese dos autos, não havia,
em princípio, na prestação de trabalho, traço que evidencia pessoalidade, na medida em
que ao Banco recorrido interessava apenas receber os serviços contratados, não
importando o trabalhador que a empresa locadora designasse para executá-los. Da prova
documental carreada aos autos, exsurge que todas as obrigações decorrentes da relação
de emprego se desenvolveram entre a recorrente e a empresa prestadora de serviços,
por quem aquela foi contratada, remunerada e, ao final, despedida (documentos de fls.
107 e 108). Sinale-se que, na petição inicial, a reclamante limitou-se a afirmar que
exercera as atividades de faxineira, copeira e servente, e demais atividades "essenciais"
ao desenvolvimento da atividade da instituição financeira Banco do Brasil S/A. Tal
assertiva, ainda que tida como verdadeira, não conduziria, por si só, ao reconhecimento
da existência de liame de natureza empregatícia com o tomador dos serviços. Resta,
apenas, o exame da subordinação e esta, estreme de dúvidas, não se configurou em
relação ao Banco do Brasil, como bem examinado pela sentença de primeiro grau. Como
já dito, o documentos juntados referem-se, exclusivamente, à contratação pela PRT
Prestação de Serviços de Limpeza Ltda. e não há, sequer, indícios de que a autora
estivesse sob o comando do pessoal do Banco do Brasil. Logo, ausente elemento
essencial do contrato de trabalho que é a subordinação, inviável acolher o pedido.
Reveste-se, assim, de plena validade a prestação de serviços de limpeza e conservação
nos moldes pactuados.
Por derradeiro, ainda que se admitisse a intenção de fraude à legislação do trabalho, a
pretensão recursal não teria guarida. A contratação da recorrente ocorreu em 15 de abril
de 1994, na vigência da atual Constituição Federal, que exige, em seu artigo 37, inciso
II, concurso público para ingresso em emprego nos órgãos da Administração Pública,
inclusive a indireta, na qual se compreendem as sociedades de economia mista, como o
Banco recorrido, de acordo com o artigo 3º, inciso II, alínea "níveis", do Decreto-Lei nº
200/67. A propósito, o citado Enunciado 331, no inciso II, dispõe: "A contratação
irregular de trabalhador, através de empresa interposta, não gera vínculo de emprego
com os Órgãos da Administração Pública Direta, Indireta ou Fundacional (artigo 37, II
da Constituição da República)."
Portanto, por qualquer ângulo que se examine a questão, afirma-se a inexistência de
vínculo de emprego entre a recorrente e o Banco recorrido. Desta forma, são indevidos
todos os pedidos relacionados com a condição de bancária, quais sejam: aplicação das
normas coletivas que asseguram os direitos dos bancários, diferenças salariais, adicional
por tempo de serviço, gratificações semestrais, auxílio alimentação e horas extras a partir
da sexta diária, além dos reflexos e integrações advindas das condenações aos pedidos
formulados.
Descabe a pretensão concernente à responsabilidade solidária. A solidariedade somente é
admissível quando prevista em lei ou expressamente contratada, não se configurando,
na espécie, nenhuma dessas hipóteses. Ademais, a sentença já atribui ao Banco
reclamado a responsabilidade subsidiária, relativamente ao cumprimento das obrigações
decorrentes do contrato de trabalho havido entre a prestadora de serviços e a
reclamante.
Há que se observar, no entanto, que a eventual condenação subsidiária está restrita
ao contrato de trabalho mantido com a PRT., pois a sentença não acolheu a
denunciação da lide a André Santos & Cia Ltda., e a reclamante-recorrente não se
insurgiu quanto a este aspecto. Logo, a responsabilidade subsidiária do Banco do Brasil,
declarada na sentença, deve se restringir somente ao período em que a reclamante
manteve contrato de trabalho com a PRT, ou seja, no período de 15.4.94 a 23.5.96 (fls.
10, verso, e 13).
Nega-se provimento ao apelo.
ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. AGENTES BIOLÓGICOS E
ILUMINAMENTO. A reclamante, segundo o laudo pericial das fls. 254/259, na função
de servente, trabalhava em atividades de limpeza e conservação interna das instalações,
dentre elas a limpeza da cozinha e de dois banheiros (item 5.5., fl. 256). Concluiu, o
laudo, à luz da Portaria nº 3.214/78, pela inexistência de insalubridade e que a
higienização de sanitários não está prevista como tal e que somente existe para o caso de
lixo quando se trata da limpeza urbana e não de restos de, na sua maioria, papéis gerados
por uma pequena agência bancária (item 09, fl. 258 e 5, fl. 259).
As constatações feitas, in loco, pelo perito levam à segura conclusão de contato com
agentes biológicos. Notória a necessidade do uso das mãos em tais serviços, inclusive na
tarefa de lavar e torcer o pano utilizado na limpeza. Os vasos sanitários, como destaca a
recorrente, são elementos integrantes das redes cloacais, aptos a serem enquadrados
como componentes dos esgotos, expressamente arrolados como de máxima
insalubridade. A coleta de lixo dos banheiros, assemelha-se à coleta do lixo urbano. Esta
compreende o labor não somente dos lixeiros, mas também dos serventes de limpeza,
que na fase inicial do processo de coleta, recolhem o lixo de dentro dos prédios onde
trabalham, acondicionando-o e depositando-o nas calçadas, até serem recolhidos pelos
primeiros. Portanto, quando o lixo urbano é recolhido nas vias públicas, já passou pelos
serventes de limpeza, não havendo porque existir diferença de tratamento entre ambos. A
única diferença se refere à fase em que é realizada a coleta. Entende-se que o contato é
permanente, pois o recolhimento de lixo dentro do estabelecimento onde a reclamante
laborava, era realizado diariamente.
De outra parte, a reclamada, com a defesa, traz os comprovantes de entregas de EPI das
fls. 160 a 161. A autora, como se vê no laudo técnico, trabalhava em contato com lixo
urbano, com o uso de luvas borracha (PVC), como ela própria afirma, segundo informa
o expert (item 6, fls. 256/257): "a reclamante quando perguntada se recebia EPI e se
eram fornecidos novos quando estes não mais tinham utilidade por desgaste ou eventual
ruptura, informou que recebia luvas de borracha (PVC) e que eram substituídas sempre
que necessário" (grifou-se). Porém, sabe-se, mediante inúmeros processos já
examinados, que as luvas de PVC são eficazes, segundo o certificado de aprovação,
apenas para a elisão da insalubridade relativamente a alguns agentes químicos,
com especial destaque para os álcalis cáusticos, registrando-se que, in casu, sequer veio
aos autos o C. A. dos EPI's fornecidos. Logo, não tendo vindo aos autos prova de que
houve o fornecimento de EPI hábil à elisão da insalubridade por exposição a agentes
biológicos, impõe-se reconhecer à autora o direito ao adicional de insalubridade, em
grau máximo, na forma postulada, observando-se, como base de cálculo, o salário
mínimo legal, com reflexos no aviso prévio, nas férias, nos 13º salários, horas extras e no
FGTS com 40%. Não incide nos repousos semanais remunerados porque a base de
cálculo é o salário mínimo, cujo módulo é mensal, abarcando os repousos intercorrentes.
À luz do entendimento vertido no Enunciado nº 236 SJ/TST, reverte-se às reclamadas a
responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais e das custas processuais.
No que se refere à insalubridade por deficiência de iluminamento, muito embora o nível
médio esteja subsumido no máximo reconhecido, o laudo pericial é inservível, na medida
em que as medições feitas se deram em local que sofreu alteração no lay-out, como
informa o expert no item 03, fl. 255: "A agência bancária, toda construída em alvenaria,
atualmente descaracterizada por ter sido desativada, funcionava, no que refere-se ao
atendimento ao público, em uma peça única sem subdivisões internas, as quais eram
formadas pela disposição dos móveis."
Neste passo, a insalubridade reconhecida restringe-se ao grau máximo referido.
Dá-se, assim, provimento parcial ao recurso.

Ac. 00060.701/97-8 RO
1ª Turma – Julg.:30.06.99
Publ. DOE-RS: 02.08.99
Relator: Pedro Luiz Serafini

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