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POLÍTICA
ADILSON JOSÉ MOREIRA | PROFESSOR DE DIREITO NA FGV
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23/6/2014 “No Brasil, temos a ideia de que os negros são inerentemente inferiores” | Politica | Edição Brasil no EL PAÍS
R. Quando você vê um número cada vez maior de pessoas negras ocupando papeis de
destaque, desperta nos jovens negros a ideia de que eles também terão a capacidade de
chegar a algum lugar. Um outro elemento importante é o papel do Supremo na discussão sobre
a questão racial no Brasil. Nós tivemos durante cerca de 50, 60 anos, um discurso oficial
baseado na ideia de que o Brasil é um país que conseguiu transcender a questão racial. A
decisão do STF [de apoio] sobre as ações afirmativas teve uma importância muito grande
porque é a primeira vez que a corte máxima rejeita essa imagem falsificada sobre a realidade
do país.
R. Faltam muitas coisas (risos). Precisamos ter debate público sobre a desigualdade geral no
Brasil. E isso já começou desde a década de 90, quando os movimentos sociais começaram a
pressionar o Governo e a ir aos tribunais, solicitando proteção jurídica. A implementação de leis
de inclusão e os programas de ações afirmativas são produto dessa articulação dos
movimentos sociais. Hoje, após dez anos dessas políticas, já temos um número significativo
de homens e mulheres negras inseridos no mercado de trabalho. Da mesma forma que é
importante que nós tenhamos mulheres participando da tomada de decisões que afetam as
mulheres, precisamos de negros tomando decisões que afetam a população negra.
R. No Brasil nós temos a ideia de que as pessoas negras são inerentemente inferiores, então
elas podem ter o acesso ao mesmo espaço que as pessoas brancas mas sempre em uma
condição subordinada. Desenvolvemos essa ideia de um racismo recreativo, então as pessoas
não veem o racismo ou o sexismo ou a homofobia como uma ofensa, como um atentado à
dignidade das pessoas, elas acham que é realmente algo engraçado, que eu posso chegar
para qualquer pessoa e chamá-la de macaco, de bicha ou de veado e que isso não representa
nenhum animus de violência. A ideia é de que você pode ir ao campo de futebol, jogar uma
banana ou chamar alguém de preto, macaco, veado e que está tudo bem.
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