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Universidade Federal de Campina Grande

Centro de Engenharia Elétrica e Informática


Curso de Graduação em Engenharia Elétrica

KARLA CRISTINA BARROS DE ALMEIDA

ANÁLISE DA QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA EM UMA


CARGA INDUSTRIAL

Campina Grande, Paraíba


Dezembro de 2010
ii

KARLA CRISTINA BARROS DE ALMEIDA

ANÁLISE DA QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA EM UMA


CARGA INDUSTRIAL

Trabalho de Conclusão de Curso submetido à


Coordenação do curso de Engenharia Elétrica
da Universidade Federal de Campina Grande
como parte dos requisitos necessários para a
obtenção do grau de Bacharel em Ciências no
Domínio da Engenharia Elétrica.

Área de Concentração: Eletrotécnica

Orientador:
George Rossany Soares Lira

Campina Grande, Paraíba


Dezembro de 2010
iii

KARLA CRISTINA BARROS DE ALMEIDA

ANÁLISE DA QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA EM UMA


CARGA INDUSTRIAL

Trabalho de Conclusão de Curso submetido à


Coordenação do curso de Engenharia Elétrica da
Universidade Federal de Campina Grande como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do grau de
Bacharel em Ciências no Domínio da Engenharia Elétrica.

Área de Concentração: Eletrotécnica

Aprovado em ____ / ____ / _______

Professor Avaliador
Universidade Federal de Campina Grande
Avaliador

Professor George Rossany Soares Lira


Universidade Federal de Campina Grande
Orientador, UFCG
iv

RESUMO

A crescente utilização de cargas não lineares no sistema elétrico e os problemas


causados por elas despertam a importância para o tema Qualidade da Energia Elétrica
(QEE). Por isto este TCC propõe não só a análise da Qualidade da Energia Elétrica
numa carga industrial, mas também incentivar um estudo mais aprofundando dos
distúrbios causados pela má qualidade da energia, assim como as causas e efeitos do
principal deles, que é a distorção harmônica. O estudo de caso da Qualidade da Energia
Elétrica numa carga industrial foi feita numa parte do setor da tecelagem da empresa
Coteminas S.A. As máquinas utilizadas para análise foram os teares, que são compostas
por motores de indução controlados por inversores de frequência, que causam distorção
harmônica, principalmente e de forma significante, nas frequências 300 Hz e 420 Hz (5ª
e 7ª harmônicas), como será visto nos resultados obtidos. A análise é feita através do
equipamento Qualímetro, que mede e grava dados da rede elétrica necessários para se
avaliar a QEE. A principal sugestão para diminuir os problemas com harmônicos é o
uso de filtros passivos conectados em paralelo com a carga.

Palavras-chave: Qualidade da energia elétrica, distúrbios, harmônicas, filtros passivos.


v

SUMÁRIO

Resumo ........................................................................................................................................................ iv
Sumário ........................................................................................................................................................ v
1 Introdução ............................................................................................................................................. 1
2 Qualidade da energia elétrica ............................................................................................................... 2
2.1 Segmento Industrial .................................................................................................................... 3
2.2 Segmento Comercial ................................................................................................................... 3
2.3 Segmento Residencial ................................................................................................................. 4
2.4 Geração, Transmissão, Distribuição e Uso da Energia Elétrica .................................................. 4
3 Distúrbios que afetam a qualidade da energia elétrica.......................................................................... 8
3.1 Variações de tensão..................................................................................................................... 8
3.1.1 Variações instantâneas de tensão ............................................................................................ 8
3.1.2 Variações momentâneas de tensão ....................................................................................... 10
3.1.3 Variações sustentadas de tensão ........................................................................................... 12
3.2 Interrupções de tensão ............................................................................................................... 12
3.2.1 Interrupção momentânea de tensão....................................................................................... 13
3.2.2 Interrupção temporária de tensão .......................................................................................... 13
3.2.3 Interrupção sustentada de tensão .......................................................................................... 14
3.3 Variação de frequência ............................................................................................................. 14
3.4 Cintilação ou Fliker .................................................................................................................. 14
3.5 Ruído ......................................................................................................................................... 15
3.6 Desequilíbrio de Tensão ........................................................................................................... 16
4 Distorções Harmônicas ....................................................................................................................... 17
4.1 Definições e conceitos básicos .................................................................................................. 17
4.2 Cargas geradoras de harmônicas ............................................................................................... 21
4.3 Efeitos das Harmônicas ............................................................................................................. 24
5 Materiais e métodos ............................................................................................................................ 30
5.1 Materiais utilizados ................................................................................................................... 30
5.2 Métodos .................................................................................................................................... 31
6 Resultados .......................................................................................................................................... 34
6.1 A carga ...................................................................................................................................... 34
6.2 Os dados.................................................................................................................................... 34
6.3 As regulamentações .................................................................................................................. 39
6.4 Medida corretiva ....................................................................................................................... 41
7 Conclusão ........................................................................................................................................... 46
Bibliografia................................................................................................................................................. 47
1

1 INTRODUÇÃO

Até as últimas décadas do século passado o assunto Qualidade da Energia


Elétrica não era motivo de discussões e estudos, já que os processos e equipamentos
eram mais robustos e suportavam distúrbios no fornecimento de energia. Porém, com o
avanço da eletrônica de potência aumentou a quantidade de cargas não-lineares no
sistema, injetando sinais espúrios na rede e tornando o problema dos harmônicos mais
significativos e, além disso, os próprios equipamentos que poluem a rede são mais
sensíveis a oscilações na qualidade da energia fornecida.
Hoje, diante de um mercado globalizado e competitivo, o assunto da qualidade
tem se tornado de fundamental importância no cenário econômico mundial, pois
variações e interrupções de tensão podem provocar paradas nos processos produtivos,
implicando em significativas perdas econômicas.
Neste contexto está inserido este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que
tem por objetivo, numa primeira etapa, abordar a questão da Qualidade da Energia
Elétrica, definindo e identificando seus principais distúrbios e causas, com ênfase nas
distorções harmônicas. Numa segunda etapa, analisar a QEE na empresa Coteminas
S.A, através de dados obtidos com um qualimetro. E por fim, sugerir soluções para
diminuir os problemas causados pelas distorções harmônicas.
2

2 QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA

Definir Qualidade da Energia Elétrica (QEE) não é tarefa fácil, visto que,
dependendo do usuário e dos elementos que participam da sua utilização, podem-se
obter várias definições. Cada usuário necessitará de um índice de qualidade da energia
de uma forma diferente. Para uma concessionária, Qualidade da Energia Elétrica pode
ser definida como a ausência de variações de amplitude ou frequência, ou qualquer
deformação da forma de onda das grandezas elétricas que resultem em falhas, má
operação ou defeitos em equipamentos de um sistema elétrico. Já do ponto de vista do
consumidor, “energia elétrica de boa qualidade é aquela que garante o funcionamento
contínuo, seguro e adequado dos equipamentos elétricos e processos associados, sem
afetar o meio ambiente e o bem estar das pessoas” [1].
Levando em consideração as necessidades para diferentes usuários, pode-se
definir Qualidade da Energia Elétrica como: “A qualidade da energia é a
compatibilidade entre a fonte de energia e o equipamento elétrico ligado e essa energia
fornecida, ou seja, é a forma que a eletricidade encontra de atender às necessidades de
quem a utiliza” [2].
De uma forma geral a QEE está relacionada com a alteração do padrão de
energia, ou seja, as tensões em qualquer ponto do sistema devem ser senoides perfeitas e
equilibradas, com amplitude e frequência constantes.
Independentemente do conceito utilizado é certo que a qualidade da energia
elétrica é um assunto de extrema importância em todos os setores da sociedade, já que a
eletricidade representa um incremento na qualidade de vida da população e a sua falta é
uma preocupação mundial vivida por todos os segmentos, pois pode provocar
ineficiências técnicas e econômicas com significativas perdas para sociedade.
Diante das diferentes consequências da falta da QEE para diferentes tipos de
usuários, será descrito a seguir, sucintamente, os efeitos deste problema em alguns
segmentos da sociedade.
3

2.1 SEGMENTO INDUSTRIAL

O consumidor industrial é o que mais deve se preocupar com a questão da


qualidade da energia, pois o índice de automação das indústrias é muito elevado. Com o
desenvolvimento da eletrônica de potência os equipamentos ligados aos sistemas
elétricos evoluíram, tornando prática comum o uso de dispositivos eletrônicos de
potência. Isso propiciou muitos benefícios para indústria, como um maior controle no
processo produtivo, maior produção, melhoria na qualidade do produto, menor custo,
permitindo ainda a execução de tarefas não possíveis anteriormente. Porém, esses
dispositivos têm a desvantagem de não funcionarem como cargas lineares, acarretando
no surgimento de correntes em frequências diferentes da fundamental, e dessa forma
“poluindo” a rede elétrica com harmônicos.
Uma rede elétrica “poluída” fornece energia de baixa qualidade a equipamentos
elétricos, resultando em mau funcionamento e desgaste dos equipamentos, em paradas
de máquinas, em aumento das perdas energéticas, e até em perturbações físicas em
usuários, diminuindo a capacidade de produção tanto das máquinas como das pessoas.
Esses problemas implicam em prejuízos financeiros enormes para empresários.
É importante que dentro da indústria exista um controle constante da qualidade
da energia para evitar paradas, prejuízos e consequentemente o mau desempenho da
produção. Esse controle pode ser feito desde a contratação do projeto até a instalação
dos equipamentos, se for levado em consideração não só o preço e a atuação do
dispositivo no que diz respeito à automação, mas também o efeito colateral que ele pode
gerar aos demais circuitos.

2.2 SEGMENTO COMERCIAL

O segmento comercial ainda tem um índice de automação muito pequeno em


relação à indústria, mas demanda o uso de uma grande quantidade de computadores e
estes acarretam problemas de qualidade da energia elétrica.
Apesar deste segmento não ser afetado por todos os problemas causados pelos
distúrbios da energia, alguns distúrbios, como descargas atmosféricas e as variações e
interrupções de tensão, já são passíveis de tratamento através de condicionadores de
4

energia (nobreaks, geradores, etc.), que já incorporam protetores de surto. O fator de


potência também é motivo de preocupação deste segmento, pois é um alvo de multas.

2.3 SEGMENTO RESIDENCIAL

Até final da década de 70 a realidade brasileira era bastante diferente em relação


ao consumo de energia elétrica. Naquela época praticamente todas as cargas residenciais
eram resistivas. Os aparelhos encontrados nas residências eram os ferros de passar e
chuveiros elétricos a resistência elétrica. O número de equipamentos eletrônicos
resumia-se a um aparelho de TV.
Porém, o segmento residencial vem modificando sua característica. A
necessidade de segurança, conforto e facilidade implica no uso cada vez maior da
automação residencial, que exige que os equipamentos estejam sempre funcionando
adequadamente para cumprir seu papel. As casas de porte médio e alto utilizam cada
vez mais sistemas automatizados, como alarmes monitorados, acionamento de portas e
portões, centrais de controle de temperatura, luminosidade e outros tantos que
melhoram o conforto do usuário e sua segurança. Além disso, ainda encontra-se na
grande maioria das residências uma vasta gama de eletrodomésticos, que estão cada vez
mais presentes em nossas vidas.
O grande uso de equipamentos eletrônicos, além de necessitar energia de boa
qualidade, causa distúrbios na rede elétrica, tornando-se motivo de preocupação para a
rede de distribuição. Portanto, o segmento residencial é um forte candidato a problemas
em um futuro próximo e merece ser alvo de um estudo mais apurado nesse quesito.

2.4 GERAÇÃO, TRANSMISSÃO, DISTRIBUIÇÃO E USO DA

ENERGIA ELÉTRICA

Na Figura 1 tem-se um esquema de geração, transmissão e distribuição da


energia elétrica. Pode-se perceber que para chegar ao consumidor final a energia é
transmitida por um caminho muito longo, que favorece a ocorrência de distúrbios como
incidências de descargas atmosféricas e faltas causadas por animais, acidentes de
5

automóveis, queda de árvores e outros. Por isso é importante o monitoramento da


energia elétrica em todo o processo.

Figura 1 – Esquema de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. [2]

Na geração é necessário haver um controle para que a energia gerada esteja


dentro de parâmetros mínimos de qualidade, não sofrendo variações no nível de tensão e
na frequência e apresentando simetria das fases e forma de onda senoidal, pois
problemas causados na geração podem se somar a possíveis distúrbios na transmissão e
distribuição resultando num efeito cascata.
Na transmissão o controle da qualidade da energia elétrica é mais difícil, pois
enquanto a geração é feita em um único ponto, as linhas de transmissão atravessam o
país por muitos quilômetros e são mais passíveis de sofrer distúrbios. Uma interrupção
em um trecho da transmissão pode deixar várias cidades sem energia elétrica. O
principal critério a ser controlado é o nível de tensão que deve ser mantido dentro de
parâmetros aceitáveis.
A distribuição é feita pelas concessionárias de energia que são fiscalizadas e
cobradas pela ANEEL (Agência Nacional de Engenharia Elétrica). A ANEEL é a
autarquia sob regime especial, vinculada ao MME (Ministério de Minas e Energia), que
tem a finalidade de regular e fiscalizar a produção, a transmissão, a distribuição e
comercialização de energia elétrica, em conformidade com as políticas e diretrizes do
governo federal. É o órgão responsável pela elaboração, aplicação e atualização dos
Procedimentos de Distribuição (PRODIST). É cobrado pela ANEEL que, além do nível
de tensão dentro dos limites estabelecidos como padrão, forma de onda senoidal e
simetria do sinal, os parâmetros de continuidade do serviço estejam dentro de valores
aceitáveis. Esses parâmetros são:
6

 DEC: Duração equivalente de interrupção por unidade consumidora,


expressa em horas e centésimos de hora. Ou seja, é o tempo médio sem
energia por consumidor no período considerado, calculado através da
Equação 2.1.

𝑘
𝑖=1 𝐶𝑎 𝑖 ×𝑡(𝑖)
𝐷𝐸𝐶 = . (2.1)
𝐶𝑐

 FEC: Frequência equivalente de Interrupção por unidade consumidora,


expressa em número de interrupções e centésimos do número de
interrupções. É calculado através da Equação 2.2.

𝑘
𝑖=1 𝐶𝑎 𝑖
𝐹𝐸𝐶 = . (2.2)
𝐶𝑐

onde:
Ca (i) = Número de unidades consumidoras interrompidas em um evento (i), no
período de apuração;
t(i) = Duração de cada evento (i), no período de apuração;
i = Índice de eventos ocorridos no sistema que provocam interrupções em uma
ou mais unidades consumidoras;
k = Número máximo de eventos no período considerado;
Cc = Número total de unidades consumidoras, do conjunto considerado, no final
do período de apuração.
 DIC: Duração de Interrupção individual por unidade consumidora ou por
ponto de conexão, calculado através da Equação 2.3:

𝑛
𝐷𝐼𝐶 = 𝑖=1 𝑡(𝑖) . (2.3)

 FIC: Frequência de interrupção individual por unidade consumidora ou


por ponto de conexão, calculado através da Equação 2.4:

FIC = n. (2.4)

 DMIC: duração máxima de interrupção contínua por unidade


consumidora ou por ponto de conexão, calculado através da Equação 2.5.

DMIC = t(i) Max. (2.5)


7

onde:
i = Índice de interrupções da unidade consumidora, no período de apuração,
variando de 1 a n;
n = Número de interrupções da unidade consumidora considerada, no período de
apuração;
t(i) = Tempo de duração da interrupção (i) da unidade consumidora considerada
ou ponto de conexão, no período de apuração;
t(i) max = Valor correspondente ao tempo da máxima duração de interrupção
contínua (i), no período de apuração, verificada na unidade consumidora considerada,
expresso em horas e centésimos de horas.

O controle da qualidade de energia é um desafio no que diz respeito a uso final,


pois a maioria dos usuários não conhece o termo qualidade da energia e as causas dos
distúrbios relacionados a esta. Portanto não percebem que também são responsáveis por
estes problemas. Quando conhece e se preocupa depara-se com o problema de custo
para adequar as instalações e como para muitos consumidores de baixa tensão não
existe fiscalização, não há um esforço para resolver o problema da falta de qualidade da
energia.
Uma forma de convencer os usuários a investir em avaliação e controle da
qualidade da energia é mostrando que o custo por parada de produção por afundamento
ou interrupção de tensão, manutenção de máquinas e equipamentos, que sofrem com os
problemas de qualidade de energia, são altos. Para isso é importante que existam mais
estudos e divulgação sobre o tema Qualidade da Energia Elétrica.
8

3 DISTÚRBIOS QUE AFETAM A QUALIDADE DA

ENERGIA ELÉTRICA

Os distúrbios que afetam a qualidade da energia elétrica são agrupados segundo


sua duração e o tipo de ocorrência. Esses distúrbios representam desvios da forma de
onda de tensão e/ou corrente, em relação à forma de onda puramente senoidal. A seguir
são apresentados os principais distúrbios, suas definições e algumas de suas causas.

3.1 VARIAÇÕES DE TENSÃO

A variação de tensão é uma modificação do valor de tensão originalmente


definido como padrão, chamado de valor nominal. A variação é expressa pelo valor em
percentual do valor nominal.
Os valores máximos e mínimos admitidos são definidos de forma a garantir o
funcionamento dos equipamentos, pois estes precisam de um determinado nível de
tensão para funcionar corretamente. Não funcionam quando a tensão é muito baixa e se
danificam quando é muito alta.
A variação é caracterizada de acordo com a duração do fenômeno. A seguir são
definidos os tipos de variações de tensão.

3.1.1 VARIAÇÕES INSTANTÂNEAS DE TENSÃO

As variações instantâneas de tensão são variações súbitas do valor instantâneo da


tensão. Dependem do comportamento transitório do sistema para atingir o seu novo
ponto de operação. Normalmente causadas por descargas atmosféricas, retorno de
energia após um apagão, chaveamento de cargas indutivas, capacitivas ou mesmo pelo
mau funcionamento dos equipamentos. São divididas em: Transitórios Impulsivos,
Transitórios Oscilatórios de Tensão e os Cortes na Tensão.
 Transitórios Impulsivos:
9

Transitórios Impulsivos são causados por descargas atmosféricas, também


denominados de impulsos atmosféricos. As descargas atmosféricas possuem frequências
diferentes da frequência do sistema e acabam induzindo uma alteração brusca no padrão
de energia. Têm duração menor do que 200 µs e sentido unidirecional. Na Figura 2,
tem-se uma corrente típica de um Transitório originado por uma descarga atmosférica.

Figura 2 – Transitório Impulsivo [2].

 Transitórios oscilatórios de tensão:


Transitórios oscilatórios de tensão ocorrem devido à energização de linhas,
cortes de cargas indutivas, energização de cargas capacitivas (banco de capacitores),
transformadores e mesmo situações de eliminação de faltas. Podem ser de alta
frequência (acima de 500 kHz), média frequência (entre 5 Hz e 500 kHz) ou baixa
frequência (menos que 5 kHz) e têm duração entre 0,3 e 50 ms. Um exemplo é mostrado
na Figura 3.

Figura 3 – Transitório oscilatório [2].

 Cortes na tensão (Nocthing):


São microvariações que ocorrem numa senoide, causados pela má operação de
alguns equipamentos de eletrônica de potência, quando a corrente é comutada de uma
fase para outra. No momento da transição de fases ocorre um curto-circuito que leva a
tensão ao menor valor permitido pela impedância do sistema. Na Figura 4 é apresentado
um sinal de tensão com cortes.
10

Figura 4 – Cortes na tensão [2].

3.1.2 VARIAÇÕES MOMENTÂNEAS DE TENSÃO

As variações momentâneas de tensão são aumentos ou reduções de tensão em


relação à tensão nominal e ocorrem entre meio ciclo e 1 minuto. Geralmente são
causadas por curtos-circuitos no sistema elétrico e chaveamentos de equipamentos que
demandam altas correntes de energização, como grandes transformadores, linhas de
transmissão e banco de capacitores. São classificadas em:
 Sobretensão momentânea (Swell):
Aumento do nível de tensão eficaz acima de 110% da tensão nominal na
frequência fundamental. O chaveamento que causa este distúrbio é o desligamento de
cargas de potências elevadas, pois quando a carga é desligada a energia volta para rede
aumentando momentaneamente a tensão.
Uma elevação de tensão pode danificar componentes de um equipamento,
afetando seu funcionamento. Mesmo uma elevação de tensão de pequena intensidade
causa grandes prejuízos, pois acarreta outros distúrbios, como desperdício de energia e
diminuição da vida útil dos equipamentos, já que aquece os equipamentos ligados a
rede. Outro problema é a atuação de dispositivos de proteção como fusíveis e
disjuntores que podem atuar desenergizando equipamentos, podendo causar problemas
devido à parada de cargas industriais.
 Subtensão momentânea (SAG):
Redução do nível de tensão eficaz para valores entre 10% e 90% da tensão valor
nominal na frequência fundamental. O chaveamento que causa este distúrbio é o
acionamento de cargas de potências elevadas, pois quando a carga é ligada demanda
uma energia muito grande da rede, fazendo com que haja uma redução da tensão. Um
exemplo é o acionamento de banco de capacitores que, ao serem energizados, exigem
da rede uma capacidade maior de corrente para vencer a inércia, já que quando
energizado é um curto-circuito, fazendo com que haja uma redução de tensão, devido à
11

incapacidade dos dispositivos das redes conseguirem fornecer essa corrente. Na Figura
5 são apresentadas as variações momentâneas de tensão citadas anteriormente.

Figura 5 – Sobretensão e subtensão momentânea de tensão [3].

A subtensão de tensão pode causar problemas em componentes eletrônicos


levando a perdas de dados em equipamentos com memória magnética, ou
processamentos errôneos e paradas de controle, gerando perdas de segurança e
produtividade.
Uma solução bastante utilizada para este distúrbio são os UPS (Uninterrupt
Power System), sistemas ininterruptos de energia. Permitem que, mesmo durante um
afundamento ou interrupção de tensão, a energia continue sendo fornecida. São
basicamente classificados em dois tipos: on-line e off-line. O primeiro alimenta a carga
independente de acontecer um afundamento ou interrupção de tensão, através do
conjunto carregador baterias. O segundo só alimenta a carga quando há um
afundamento ou interrupção na rede, através da abertura da chave. Na Figura 6 é
mostrado o esquema de um UPS on-line e outro off-line, respectivamente.

Figura 6a - Esquema de um UPS on-line [2].


12

Figura 6b - Esquema de um UPS off-line [2].

3.1.3 VARIAÇÕES SUSTENTADAS DE TENSÃO

As variações sustentadas de tensão acontecem durante mais de um minuto.


Causadas normalmente por chaveamento de cargas de grande potência, assim como as
variações momentâneas de tensão, mas também por falhas em transformadores, taps de
transformadores conectados de forma errada e variação da impedância da rede. Umas
das causas mais frequentes é o uso de banco de capacitores para corrigir fator de
potência, pois em horários fora de ponta estes podem gerar energia reativa, aumentando
a tensão da rede por certo período de tempo.
Os efeitos das variações sustentadas de tensão se somam aos das variações
momentâneas de tensão, como falha em equipamentos por falta de tensão suficiente, ou
queima de componentes eletrônicos por elevada tensão e acionamento de dispositivos
de proteção contra sobre ou subtensão. São classificadas em:

 Sobretensões sustentadas (Overvoltage): para valores de tensão acima de


110% da tensão nominal na frequência fundamental.
 Subtensões sustentadas (Undervoltage): para valores de tensão entre
10% e 90% da tensão nominal na frequência fundamental.

3.2 INTERRUPÇÕES DE TENSÃO

As interrupções de tensão são caracterizadas por valores de tensão menores que


10% da tensão nominal, podendo chegar à completa ausência de tensão por vários
minutos. Podem ocorrer por vários motivos, entre eles o acionamento de dispositivos de
segurança, devido a uma sobrecarga no sistema, ou por uma falta. Quando um
dispositivo de proteção (disjuntor ou fusível) atua é necessário um religamento manual
13

ou automático. Quando automático, o sistema liga o circuito duas ou três vezes para
identificar se a falta é temporária, caso o problema persista, o religador automático é
desligado de vez, obrigando uma religamento manual depois de solucionada a falta.
As interrupções são divididas em momentâneas, temporárias e sustentadas,
dependendo do tempo de duração.

3.2.1 INTERRUPÇÃO MOMENTÂNEA DE TENSÃO

Interrupção momentânea de tensão é uma ausência de tensão ou valores menores


que 10% da tensão nominal, em um período de meio ciclo até 3 segundos de duração.
Podem ser causadas devido a uma falta ou por situações corriqueiras, como uma queda
de galhos nas linhas de transmissão. No caso de interrupções causadas pela ação correta
da proteção da rede, é esperado que ao final do defeito o sistema possa retornar à
condição de operação normal.
Assim como o afundamento de tensão, mesmo que a interrupção seja rápida,
pode causar grandes prejuízos quando faz com que equipamentos eletrônicos desliguem
automaticamente, causando danos a estes, como aos equipamentos de armazenamento
de dados, principalmente os magnéticos, que corrompem seus sistemas de leitura.
Na Figura 7 é apresentada a forma de onda típica de uma interrupção
momentânea de tensão.

Figura 7 – Interrupção momentânea de tensão. [4]

3.2.2 INTERRUPÇÃO TEMPORÁRIA DE TENSÃO

Interrupção temporária de tensão é uma ausência de tensão ou valores menores


que 10%, em um período de interrupção com duração entre 3 segundos e 1 minuto. Esse
tipo de evento em geral é causado pelo sistema de proteção com religamento automático
que atua durante a eliminação de curto circuito na rede.
14

3.2.3 INTERRUPÇÃO SUSTENTADA DE TENSÃO

Interrupção sustentada de tensão é uma ausência de tensão ou valores menores


que 10%, com duração maior que 1 minuto. Este é o caso de desligamento de uma linha
sem previsão de retorno imediato. Pode ocorrer de forma imprevista, devido a descargas
atmosféricas e atuação de dispositivos de proteção, a acidentes que obriguem o sistema
a ser desligado por um tempo, a faltas que obriguem a intervenção da manutenção para
sua eliminação, ou até mesmo por falha na alimentação de transformadores, ou de forma
programada, para fins de manutenção ou transferência de carga.
Na Figura 8 é apresentada a forma de onda típica de uma interrupção sustentada
de tensão.

Figura 8 – Interrupção sustentada de tensão. [4]

3.3 VARIAÇÃO DE FREQUÊNCIA

Variação de frequência é um desvio no valor da frequência fundamental, que


pode ser 50 Hz ou 60 Hz (60 Hz no Brasil). Ocorre devido a um desequilíbrio entre a
geração elétrica e a demanda solicitada pela carga. Tem sua regulamentação
estabelecida para que seja no máximo de 0,5 Hz em relação aos 60 Hz, no caso do
Brasil.

3.4 CINTILAÇÃO OU FLIKER

Fliker, também conhecido como flutuação de tensão, é a variação brusca e


intermitente do valor eficaz de tensão de uma faixa entre 0,1 e 7%.
O fenômeno de cintilação luminosa é basicamente constatado através da
impressão visual resultante das variações do fluxo luminoso de lâmpadas. Entre as
causas do fenômeno são citadas cargas com ciclo variável, cuja frequência de operação
produz uma modulação da magnitude da tensão da rede na faixa de 0 a 30 Hz. Nessa
15

faixa de frequências, o olho humano é extremamente sensível às variações da emissão


luminosa das lâmpadas, sendo que a máxima sensibilidade do olho é em torno de 10 Hz.
O Fliker pode causar queda de rendimento em equipamentos elétricos e
oscilação de torque e potência em motores elétricos, além de ocasionar interferência nos
sistemas de proteção. As principais fontes geradoras de Fliker são fornos a arco, fornos
de indução, máquinas de solda, entre outros.
Na Figura 9 está representado o distúrbio Fliker ou flutuação luminosa.

Figura 9 – Fliker ou flutuação luminosa. [4]

3.5 RUÍDO

O ruído é um sinal elétrico com frequência menor que 200 kHz, superpondo-se
ao sinal de potência que circula pelos condutores fase ou neutro de uma instalação. Pode
ser causado pela indução de um motor, chaveamento de cargas diretas, presença de um
equipamento eletromagnético próximo ou também aterramento mal projetado e
executado.
O ruído pode comprometer a integridade de dados transmitidos entre uma
estação e outra, independente da transmissão ser analógica ou digital. No caso de
sistemas de aquisição de dados, que trabalham com valores de tensão muito baixos, um
simples sinal interpretado errado pode causar prejuízos enormes.
Pode-se classificar em dois tipos de ruídos, o de modo comum e o de modo
normal. No primeiro a diferença de tensão ocorre entre o condutor neutro e a terra. No
segundo entre condutores fase e neutro. Na Figura 10 tem-se uma representação de
ruído.
16

Figura 10 – Representação de ruído. [5]

3.6 DESEQUILÍBRIO DE TENSÃO

Desequilíbrio de tensão é a razão entre as componentes de sequência negativa ou


zero e as componentes de sequência positiva. Podem ser causados por conexões de alta
impedância (conexões frouxas e maus contatos), motores mal reparados (com curto-
circuito nos enrolamentos não reparados corretamente) e por correções inadequadas de
fator de potência por inserção de reativos.
Pode causar muitos problemas, como por exemplo, aquecimento em motores,
reduzindo sua vida útil, esforço nos condutores que são submetidos a valores diferentes,
aumentando muito a temperatura e diminuindo mais ainda sua vida útil e ainda
aquecimento em máquinas síncronas, devido ao aparecimento de valores de sequência
negativa, que atuam como um freio magnético exigindo um esforço maior do motor
para cumprir sua função. Na Figura 11 é apresentado um gráfico no qual as tensões
estão em desequilíbrio.

Figura 11 – Desequilíbrio de tensão. [4]


17

4 DISTORÇÕES HARMÔNICAS

As distorções harmônicas podem causar vários problemas, como disparos


intempestivos de disjuntores, aquecimentos excessivos de transformadores, queima de
condutores de neutros aparentemente bem dimensionados, graves explosões de
capacitores de correção de fator de potência, dentre outros problemas. Estes problemas
fizeram com que os especialistas iniciassem a busca das causas desses males. Essa
busca tornou o assunto distorção harmônica alvo de muitas de pesquisas e publicações.
As distorções nas formas de onda de corrente e tensão são capazes de influenciar
o comportamento das redes elétricas em geral, tanto de uso domiciliar, comercial ou
industrial. [8]
Esse distúrbio da qualidade de energia é, ao contrário dos distúrbios
apresentados, de natureza constante e não temporário como afundamento, elevações e
transitórios. Por ser um fenômeno permanente merece um destaque maior no tratamento
e os cuidados devem passar por soluções mais criteriosas.

4.1 DEFINIÇÕES E CONCEITOS BÁSICOS

Os harmônicos são componentes senoidais de frequências múltiplas da


frequência fundamental. Que quando somados ao sinal fundamental, o destorcem. Isto
é, uma senoide com frequência fundamental de 60 Hz, se for distorcida ou
descaracterizada, pode conter componentes harmônicas.
Fourier definiu essa deformação da seguinte maneira: toda função periódica e
não senoidal pode ser representada pela soma de expressões série que é composta por
uma expressão senoidal em frequência fundamental e por expressões senoidais cuja
frequência de cada senoide é múltipla da senoide fundamental e de uma eventual
componente contínua, como é mostrado a Figura 12.
18

Figura 12 – Representação da decomposição de um sinal distorcido. [2]

Existem indicadores que permitem quantificar e avaliar a distorção harmônica


das ondas de tensão e de corrente. São eles: distorção harmônica total, distorção
harmônica individual, espectro harmônico, fator de potência e fator de crista.

 Distorção Harmônica Total:

Distorção Harmônica Total (DHT) de uma forma de onda traduz a quantidade de


distorção presente em uma forma de onda periódica em relação a uma forma de onda
senoidal, ou seja, é a relação entre o conteúdo harmônico de uma forma de onda e seu
valor fundamental. É calculada através da Equação 4.1,


n =2 C n
2
DHT % = × 100%. (4.1)
C 21

onde C1 e Cn são as amplitudes dos harmônicos de frequência fundamental e de ordem


“n”, respectivamente, baseados na forma cossenoidal.
Para determinar a Distorção Harmônica Total de Tensão (DHTv) ou a Distorção
Harmônica Total de Corrente (DHTi), basta substituir os valores de Cn por valores de
amplitude de tensão e de corrente, respectivamente.

 Distorção Harmônica Individual:

Definimos distorção harmônica individual (DHI) como a porcentagem de


harmônica de ordem n dividida pela fundamental. É calculada através da Equação 4.2
19

ou da Equação 4.3, a depender se é distorção harmônica individual de tensão ou


corrente, respectivamente.

Vn
DHIv % = × 100%. (4.2)
V1

In
DHii % = × 100%. (4.3)
I1

 Espectro Harmônico:

O espectro harmônico é uma representação da forma de onda no domínio da


frequência, que permite decompor um sinal senoidal em suas diversas componentes
harmônicas e representá-lo na forma de um gráfico de barras, onde cada barra
representa uma harmônica com sua frequência, valor eficaz e defasagem. Um exemplo
de espectro é mostrado na Figura 13.

Figura 13 – Exemplo de Espectro Harmônico. [6]

 Fator de Potência:

Por definição, fator de potência é a relação entre a potência ativa e a potência


aparente consumidas por um dispositivo ou equipamento, independentemente das
formas que as ondas de tensão e corrente apresentem.
Caso a tensão de alimentação não seja uma senoide pura, o fator de potência é
função do ângulo de defasagem entre corrente e tensão e da distorção harmônica
presente na onda de acordo com a Equação 4.4.

cos Φ
FP = . (4.4)
1+DHT 2 ]
20

Uma primeira indicação da presença significativa de harmônicas pode ser um


fator de potência FP medido diferente do cosΦ, pois quando sem a presença de
harmônicas a DHT é igual a zero e o fator de potência é calculado pela Equação 4.5.

FP = cos∅. (4.5)

 Fator de Crista:

O Fator de Crista é definido como a relação entre o valor de pico e o valor eficaz
de um sinal de acordo com a Equação 4.6.

V pico
FC = . (4.6)
V rms

Para um sinal perfeitamente senoidal o fator de crista é: FC = 2. Porém para


um sinal “poluído” com harmônicos esse valor pode ser maior do que 2, pois o valor
eficaz muda, já que a senoide deixou de existir, e o valor de pico pode aumentar
significativamente, pois existirão picos elevados devido à soma de componentes como é
mostrado na Figura 14. A forma de onda T é a soma das formas de onda 1 e 5.

Figura 14 – Alteração de valor de pico. [7]

Um fator de crista muito elevado significa sobrecorrentes consideráveis, já que é


consequência de um valor de pico bem mais elevado do que o valor RMS. Estas
sobrecargas, detectadas pelos dispositivos de proteções, podem ser a origem dos
disparos intempestivos.
21

4.2 CARGAS GERADORAS DE HARMÔNICAS

Pode-se classificar as cargas em dois grupos: cargas lineares e não-lineares. A


diferença entre os dois tipos está na relação de tensão e corrente da rede.

 Cargas Lineares:

Uma carga linear pode ser definida como aquela em que há uma relação linear
entre corrente e tensão. Em termos mais simples, uma carga linear absorve uma corrente
senoidal quando é alimentada por uma tensão senoidal. Na Figura 15 é mostrada a
relação de tensão e corrente pra esse tipo de carga.

Figura 15 – Relação tensão x corrente para uma carga linear. [8]

 Cargas Não- Lineares:

Quando a relação entre corrente e tensão num determinado componente não é


descrita por uma equação linear, a carga é denominada não-linear. Ela absorve uma
corrente não senoidal e, portanto, correntes harmônicas, mesmo quando é alimentada
por uma tensão puramente senoidal. Na Figura 16 é mostrada a relação de tensão e
corrente pra esse tipo de carga.

Figura 16 – Relação tensão x corrente para uma carga não – linear. [8]
22

Como dito anteriormente, as cargas não-lineares são bastante usadas pela


eletrônica de potência. Essa eletrônica faz uso de diodos, transistores, tiristores e outros
semicondutores, sendo que praticamente todos eles operam em modo de interrupção.
Atuando em dois estados:

i. Estado de condução:

Corresponde a um interruptor fechado. A corrente pelo dispositivo pode alcançar


valores elevados, porém a tensão é praticamente nula e, portanto, a dissipação de
potência no dispositivo é muito pequena.

ii. Estado de Bloqueio:

Corresponde a um interruptor aberto. A corrente pelo dispositivo é muito


pequena e a tensão é elevada e, portanto, a dissipação de potência no dispositivo
também é muito pequena nesse estado. O usuário pode controlar os instantes de
condução e, portanto, pode variar a tensão e a corrente no circuito, resultando na
circulação de correntes não senoidais. Tem-se assim, em função dos chaveamentos dos
dispositivos, a geração de harmônicas na rede elétrica.
Nas Figura 17 e 18 são apresentadas as formas de onda de tensão e corrente em
um dispositivo para controlar a corrente em uma carga linear constituída por uma
resistência e uma indutância. Quando a tensão é interrompida pelo dispositivo
semicondutor deixa de ser senoidal.

Figura 17 – Forma de onda de tensão da rede e corrente do circuito com dispositivo de controle. [7]
23

Figura 18 – Forma de onda de tensão na carga com dispositivo de controle. [7]

Existem dois tipos básicos de cargas não lineares – monofásicas e trifásicas.


Cargas não lineares monofásicas são predominantes em escritórios, enquanto cargas
trifásicas são frequentes em fábricas industriais. Cada componente do sistema de
distribuição de energia manifesta os efeitos de harmônicos diferentemente. Ainda assim,
todos estão sujeitos a danos e performances ineficazes.

 Cargas Monofásicas:

As cargas que são maiores motivos de preocupação são as que possuem fonte de
alimentação monofásica, pois esse tipo de carga é o mais disseminado nas instalações
elétricas em geral, uma vez que qualquer equipamento eletrônico possui sua própria
fonte de alimentação. Trata-se de fontes comutadas, de baixo custo, que integram
computadores pessoais, fotocopiadoras, impressoras, aparelhos de fax e secretárias
eletrônicas, etc.
Nos locais onde há grandes concentrações desses equipamentos, como nos
edifícios comerciais e de escritórios, por exemplo, existe uma grande presença de
harmônicas que podem afetar severamente a operação e o desempenho das instalações
elétricas.
Nesse tipo de fonte de alimentação, o transformador e o retificador tradicionais
foram substituídos por uma unidade de retificação de controle direto da fonte, para
carregar um capacitor de armazenamento que fornece a corrente contínua requerida pela
carga em função da tensão e da corrente de saída. A vantagem é o baixo custo, menores
dimensões e menos peso. Porém, no lugar de obter uma corrente contínua da fonte de
alimentação, a unidade gera pulsos de corrente contendo grande quantidade de
harmônicas de ordem três.
24

 Cargas trifásicas:

Como principais geradores de harmônicas nas indústrias, pode-se citar os


retificadores controlados e não-controlados, fontes chaveadas, controladores de tensão,
partidas suaves (Soft-Starters), conversores de corrente contínua, inversores de
frequência, máquinas de solda.
Os conversores estáticos de potência são as principais fontes de correntes
harmônicas que causam grande preocupação na atualidade. Englobando inversores e
retificadores, eles podem ser divididos em três grupos com relação à geração de
harmônicos: conversores de grande, média e baixa potência.
Vale ressaltar a influência e as características dos inversores de frequência, pois
é inegável a utilização cada vez maior destes para o controle de velocidade de motores.
Sua utilização na área industrial é prática muito comum.
O controle e a variação da velocidade dos motores através do uso de inversores
de frequência trazem como vantagens a melhoria da eficiência dos processos e
equipamentos e também no uso mais racional da energia elétrica.
Devido às características do circuito de entrada dos inversores, normalmente
constituído de um retificador a diodos e um banco de capacitores de filtro, a sua
corrente de entrada (drenada da rede) possui uma forma de onda não senoidal contendo
harmônicas da frequência fundamental. Estas correntes harmônicas circulando nas
impedâncias da rede de alimentação provocam quedas de tensão harmônicas
distorcendo a tensão de alimentação do próprio inversor ou de outros consumidores.

4.3 EFEITOS DAS HARMÔNICAS

Para entender os problemas causados pelas harmônicas é interessante conhecer a


sequência que as diferentes harmônicas, quando equilibradas, assumem em relação às
ondas fundamentais na rede trifásica. Na Figura 19 são apresentadas as harmônicas de
ordem três e as tensões trifásicas com sequência positiva (abc). Como se pode ver, as 3as
harmônicas estão todas em fase e, portanto, apresentam sequência zero.
25

Figura 19 – Harmônicas de terceira ordem. [4]

Pode-se verificar que isso acontece com todas as harmônicas múltiplas de três 3n
(n=1, 2, 3...). O fato dessas múltiplas de três apresentarem sequência zero, indica que
poderá haver uma significativa corrente circulando pelo neutro, no caso de conexão Y a
quatro fios, ou então pela malha do triângulo, no caso de conexão em Δ. Uma corrente
excessiva no neutro causa sobreaquecimento no condutor, de suas conexões e da barra
do neutro, e também uma queda de tensão no circuito, que pode superar os limites
fixados.
Na Figura 20 é mostrado o que ocorre com a 5ª harmônica equilibrada. Como se
pode ver, neste caso as harmônicas apresentam sequência negativa (acb).

Figura 20 – Harmônicas de quinta ordem. [4]

O mesmo ocorre com todas as harmônicas de ordem 3n-1(n=1, 2, 3...). O fato


das harmônicas equilibradas de ordem 2, 5, 8... apresentarem sequência negativa, indica
que elas terão efeito sobre o torque das máquinas baseadas em campos girantes, tais
como motores de indução, máquinas síncronas, medidores de energia, etc. Os efeitos
26

mais sensíveis devido a esses componentes de sequência negativa são vibração, perdas
adicionais, aquecimento, redução do torque médio útil.
As harmônicas que sobram, de ordem 1, 4, 7,...(3n-2, n=1,2,3...) apresentam
sequência positiva, quando equilibradas. Por serem múltiplas da fundamental, também
provocam vibração, perdas adicionais e aquecimento.
Os níveis de harmônicas numa instalação elétrica podem causar problemas para
as redes de distribuição das concessionárias, para a própria instalação, e para os
equipamentos ali instalados. Os problemas produzidos pelas harmônicas no nível da
instalação podem ser divididos da seguinte maneira:

i. Problemas causados pelas correntes harmônicas

 Sobreaquecimento dos condutores neutro:

Como visto anteriormente, o sobreaquecimento dos condutores neutro é


consequência da circulação de corrente harmônica de ordem três pelo neutro, pois as
harmônicas desta ordem apresentam sequência zero.

 Sobreaquecimento dos transformadores:

Em transformadores de potência, a principal consequência das correntes


harmônicas é um aumento nas perdas, principalmente nos enrolamentos, por causa da
deformação dos campos de dispersão. Perdas mais elevadas significam que mais calor é
gerado no transformador de forma que a temperatura de operação aumenta, resultando
numa deterioração da isolação e uma redução potencial na vida útil. Então, é necessário
reduzir a carga máxima no transformador, uma prática que utiliza fatores de redução.
Para estimar a redução da potência do transformador, pode ser usado o fator K
da carga. Este fator é calculado de acordo com o espectro harmônico da corrente de
carga e é uma indicação das perdas devidas às correntes de Foucault (parasitas)
adicionais, através da Equação 4.6,

𝑛=𝑛 𝑚𝑎𝑥
𝐾= 𝑛=1 𝑛2 𝐼𝑛2 . (4.6)
27

onde:
n = ordem da harmônica (1, 2, 3, etc);
In = a fração da corrente total de carga rms na harmônica de número n.
As perdas no transformador consistem em perdas em vazio (no núcleo) e perdas
em carga. As perdas em vazio são devidas à tensão de excitação no núcleo. A corrente
de magnetização é pequena comparada com a corrente de carga. Portanto, segundo
normas como a ANSI/IEEE C57110, a presença de harmônicas não aumenta as perdas
em vazio.
As perdas em cargas são compostas por perdas por correntes parasitas (correntes
de Foucault) e perdas por dispersão. A perda por corrente de Foucault é devida à
corrente que circula pela resistência dos enrolamentos. Também é chamada de perda
ôhmica ou perda ôhmica em corrente contínua. A perda ôhmica é proporcional ao
quadrado da intensidade da corrente, incluindo as componentes harmônicas, mas é
independente da frequência. Pode ser calculada através da Equação 4.7,

𝑛=𝑛 𝑚𝑎𝑥 𝐼ℎ 2
𝑃𝐶𝑃 = 𝑃𝐶𝑃,𝑅 𝑛=1 𝑛2 . (4.7)
𝐼𝑅

onde:
n = ordem da harmônica (1, 2, 3, etc);
Ih = corrente da harmônica de ordem n (Ampères);
IR = corrente nominal (Ampères);
PCF,R = perda por Corrente de Foucault em corrente e frequência nominais.
As perdas por dispersão são devido ao fluxo disperso que introduz perdas no
núcleo, abraçadeiras, tanque e outras partes de ferro. Perdas por dispersão podem elevar
as temperaturas das partes estruturais do transformador. As perdas por dispersão são
difíceis de calcular e é comum assumir que elas variam com o quadrado da corrente
multiplicado pela frequência (ordem da harmônica), como mostrado na Equação 4.8,

𝑛=𝑛 𝑚𝑎𝑥 𝐼ℎ 2
𝑃𝐷𝐼 = 𝑃𝐷𝐼,𝑅 𝑛=1 𝑛. (4.8)
𝐼𝑅

onde: PDI,R = perda por dispersão em corrente e frequência nominais.

 Disparos intempestivos dos dispositivos automáticos de proteção:


28

Os dispositivos a corrente diferencial-residual (dispositivos DR) somam a


corrente que circula nos condutores fase e neutro, e se o resultado não está dentro de um
limite especificado, desconectam a carga. Pode ocorrer um desligamento intempestivo
na presença de harmônicas por dois motivos. O primeiro, porque como o dispositivo DR
é eletromecânico, pode ocorrer que não some corretamente as componentes de alta
frequência. O segundo, porque as cargas que geram harmônicas, também geram ruídos
que devem ser filtrados no ponto de conexão da energia ao equipamento. Normalmente
os filtros têm um capacitor entre a fase e o neutro aterrado, pelo qual circulam correntes
de fuga à terra. Essas correntes são limitadas por normas e quando vários equipamentos
estão conectados a um único circuito, a corrente de fuga pode ser suficiente para
provocar o disparo do dispositivo.

 Sobrecarga dos capacitores para correção do fator de potência:

Um problema grave que pode afetar o capacitor é a possibilidade de ocorrência


de ressonância com a indutância parasita da fonte de alimentação a uma das frequências
harmônicas, ou a uma frequência próxima, podendo gerar tensões e correntes muito
elevadas, provocando avarias nos banco de capacitores.
Outro problema é que a impedância do capacitor diminui ao aumentar a
frequência, enquanto a impedância da fonte é normalmente indutiva e aumenta com a
frequência. Portanto, o capacitor poderá deixar passar fortes correntes harmônicas de
ordem alta. As correntes de alta frequência, que encontrarão um caminho de menor
impedância pelos capacitores, elevarão as suas perdas ôhmicas. O decorrente aumento
no aquecimento do dispositivo encurta a vida útil do capacitor.

 Efeito peculiar nos condutores:

Efeito peculiar, ou efeito skin, é o nome dado ao fenômeno no qual a corrente


alternada tende a circular pela superfície externa dos condutores. Para frequência
fundamental esse fenômeno não tem muita influência. Porém, para frequências acima de
350 Hz (harmônicas de ordem sete e superiores) o efeito peculiar pode alcançar valores
importantes, produzindo perdas e aquecimentos adicionais [11]. Portanto, na presença
de correntes harmônicas, os projetistas devem levar em conta esse efeito, diminuindo o
carregamento dos cabos e redimensionando-os adequadamente.
29

Além disso, caso os condutores sejam longos e os sistemas conectados tenham


suas ressonâncias excitadas pelas componentes harmônicas, podem aparecer elevadas
sobretensões ao longo da linha, podendo danificar o condutor.

ii. Problemas causados pelas tensões harmônicas:

 Distorção da tensão:

Devido à impedância da fonte, as correntes harmônicas da carga produzem uma


distorção da forma de onda da tensão. A impedância da fonte consta de dois elementos:
a impedância da instalação interna, a partir do ponto de acoplamento comum (PAC) até
as cargas, e a correspondente à impedância interna dos geradores ou transformadores da
rede de distribuição, até o PAC. A forma de onda de tensão distorcida resultante é
aplicada a todas as outras cargas conectadas ao mesmo circuito.

 Máquinas rotativas:

O maior efeito dos harmônicos em máquinas rotativas (indução e síncrona) é o


aumento do aquecimento devido ao aumento das perdas por correntes de Foucault,
como nos transformadores. Se afeta, assim, sua eficiência e o torque disponível.
Outro problema são as perdas adicionais geradas pelas harmônicas de ordem 3n-
1 (n = 1, 2, 3,...), como visto anteriormente, que produzem alterações no acionamento,
devido a campos magnéticos harmônicos gerados no estator, que tenta fazer girar o
motor a uma velocidade diferente ou mesmo inverter o sentido de rotação, conforme se
trate de sequência positiva ou negativa.

 Ruído na passagem por zero:

A manobra de cargas indutivas a uma tensão zero não gera perturbações


transitórias, reduzindo as interferências eletromagnéticas e as sobrecargas dos
dispositivos de chaveamento semicondutores. Por isso, muitos controladores eletrônicos
detectam a passagem da tensão por zero e determina quando são ativadas as cargas.
Porém, na presença de harmônicas o número de passagens por zero aumenta, tornado
mais difícil a identificação e levando a disfunções.
30

5 MATERIAIS E MÉTODOS

Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como um de seus objetivos analisar a


Qualidade da Energia Elétrica numa carga industrial. Neste capítulo são apresentados os
materiais utilizados para se obter os dados necessários para fazer essa análise e os
procedimentos adotados para utilização dos materiais e tratamento dos dados.

5.1 MATERIAIS UTILIZADOS

A análise da Qualidade da Energia Elétrica em uma indústria requer obtenção de


dados da rede elétrica, como distorção harmônica total e individual de tensão e corrente,
através de um aparelho projetado para esta finalidade. O instrumento utilizado para
monitorar, registrar e visualizar dados da rede elétrica da empresa Coteminas S.A. foi o
qualímetro modelo Dranetz-BMI PowerXplorerTMPX5, que é um medidor portátil e de
oito canais, sendo quatro de tensão e quatro de corrente. Na Figura 21 é mostrada uma
ilustração do equipamento. O equipamento permite visualizar perturbações elétricas
como e quando elas acontecem.

Figura 21 – Qualímetro Dranetz-BMI PowerXplorerTMPX5. [9]

Para instalar o qualímetro foram utilizados os seguintes materiais:

 Quatro cabos para monitorar a tensão (três para as fases e um para o


neutro);
 Três cabos para monitorar a corrente, um para cada fase;
31

 Uma fonte de alimentação. A fonte de alimentação é um adaptador


CA/Carregador de bateria que alimenta o equipamento durante longos
períodos de tempo. O equipamento funciona sempre que está alimentado
pelo adaptador, conectado a uma rede de alimentação de 220 VCA/
50/60 Hz

Para gravar os dados foi utilizado um cartão de memória Dranetz BMI de


128MB. A análise dos dados foi realizada através do programa Dran-View 6 versão
V6.1.0. O Dran-View 6 permite a visualização da forma de onda de tensão e corrente
durante o período gravado, a distorção harmônica e individual de tensão e corrente
através de um gráfico de barras para os instantes selecionados, entre outras inúmeras
funcionalidades.

5.2 MÉTODOS

Os procedimentos metodológicos adotados para construção deste TCC foram os


seguintes:

i. Pesquisa bibliográfica, envolvendo livros, normas e artigos publicados


sobre o tema objeto de estudo;
ii. Organização do material bibliográfico sob forma de texto preliminar.
iii. Instalação do Qualimetro Dranetz-BMI PowerXplorerTM PX5 no lado
de baixa tensão do transformador 13.8k / 575 V da SE05 que alimenta os
teares da tecelagem da empresa Coteminas S.A, unidade de Campina
Grande. Na Figura 22 é apresentado uma fotografia do transformador e
nas Figuras 23 e 24 o equipamento instalado no cubículo onde se
encontra os cabos das três fases que alimentam as cargas. Note que na
figura se encontra dois transformadores, o do lado esquerdo é o que foi
analisado.
32

Figura 22 – Transformadores da SE05 da empresa Coteminas S.A

Figura 23 – Qualimetro instalado na SE05 da empresa Coteminas S.A

Figura 24 – Três fases do lado de baixa do transformador


33

O transformador é Δ – Y, portanto as conexões foram feitas de acordo com o


esquema da Figura 25.

Figura 25 – Esquema da conexão dos cabos de tensão e corrente. [9]

iv. Monitoração dos dados da rede elétrica da tecelagem da empresa


Coteminas S.A. A monitoração foi feita em sete dias e o equipamento foi
configurado para medir e gravar os dados a cada 15 minutos.
v. Análise dos dados de distorção harmônica total e individual de tensão e
corrente gravados, usando o programa DranView 6.
vi. Discussão dos resultados obtidos;
vii. Proposta de solução para amenizar o problema dos harmônicos na rede
elétrica;
viii. Construção da redação parcial do TCC apresentado e discutido com o
professor orientador;
ix. Construção da redação final do TCC;
x. Preparação dos slides para a apresentação oral do TCC;
xi. Apresentação do TCC.
34

6 RESULTADOS

Após o período de medição, que foi de sete dias, o próximo passo foi recolher os
dados do Qualímetro e analisar as distorções harmônicas para cada instante, calculando
a média referente a todos os dias de medição e plotando o gráfico da distorção
harmônica em função da hora do dia.

6.1 A CARGA

A carga analisada foi os teares da empresa Coteminas S.A. Os teares são as


máquinas que fabricam os tecidos. Um conjunto de 12700 agulhas tece, em alta
velocidade, cada milímetro do tecido que é enrolado em um grande carretel metálico.
Estas máquinas são compostas por vários motores de indução controlados por
inversores de frequência.
Foi escolhida essa carga por esta fazer parte de um setor relativamente novo,
apenas quatro anos, no qual não foi feito um estudo de Qualidade de Energia Elétrica.
Além do mais, esta carga possui alguns equipamentos, tais como inversores de
frequencia, que normalmente poluem a rede elétrica.
O ponto de medição foi o secundário do transformador de 13,8k/575 V. Neste
ponto é fornecida a potência para alimentar o conjunto de carga dos teares, que no total
são 444.

6.2 OS DADOS

O equipamento Qualímetro nos fornece a forma de onda da tensão e corrente,


distorções harmônicas totais e individuais num determinado instante. Nas Figuras 26 e
27 são mostradas as formas de onda de tensão e corrente da rede, respectivamente,
assim como o valor RMS de ambas para o instante mostrado. Nas Figuras 27 e 29 são
mostrados os espectros harmônicos de tensão e corrente da rede. Os primeiros dados são
as Distorções Harmônicas Totais para as fases a, b e c, as demais as Distorções
Harmônicas individuais.
35

Dran-View 6.1.00 HASP : 1269315459 (4BA83783h)


Event Details/Waveforms
500

250

Volts
0

-250

-500

AV BV CV
370

360

350

340
Volts
330

320

310

300
A Vrms (val) B Vrms (val) C Vrms (val)

23:59:59,80 23:59:59,85 23:59:59,90 23:59:59,95 00:00:00,00


24/11/2010 25/11/2010
Thursday Thursday

Event #136 at 24/11/2010 23:59:59,800


Timed

Figura 26 – Forma de onda da tensão de alimentação dos teares para determinado instante

Figura 27 – Distorções harmônicas total e individuais de tensão para determinado instante


36

Dran-V iew 6.1.00 HAS P : 1269315459 (4BA 83783h)


Ev ent De tails/Wav ef or ms
370

360

350

340
Vol ts

330

320

310

300

A Vrms (val ) B Vrms (val ) C Vrms (val )

400

300

200

100
Amps

-100

-200

-300

-400

AI BI CI

23:59:59,80 23:59:59,85 23:59:59,90 23:59:59,95 00:00:00,00


24/11/2010 25/11/2010
Thursday Thursday

Event #136 at 24/11/2010 23:59:59,800


Timed

Figura 28 – Forma de onda da corrente requerida pelos teares para determinado instante

Figura 29 – Distorções harmônicas total e individuais de corrente para determinado instante

O que pode ser observado através dos gráficos é que a distorção harmônica total
de tensão se deve principalmente a presença da 5ª harmônica, o que era esperado, pois o
37

transformador 13,8k/575 V alimenta os painéis dos inversores de frequência e estes


causam distorção na rede elétrica. A distorção harmônica total de corrente é composta
por 5ª e 7ª harmônicas, de forma significativa. Nos demais dias de medição foram
observados resultados similares aqueles mostrados nas Figuras 27 e 29. Isso se deve a
regularidade do perfil de carga, uma vez que os teares funcionam o dia todo, durante
sete dias da semana.
Foi plotado o gráfico no Matlab da média da distorção harmônica total de tensão
durante os dias de medição, como mostrado na Figura 30. Não foi plotado para as
distorções individuais, pois a única harmônica significativa, ainda sim pouco, é a quinta,
as demais não chegam a 1%. Adiante será mostrada a comparação dos resultados com
as normas.

Figura 30– Médias das distorções harmônicas totais de tensão para cada instante

A partir do gráfico é possível notar que o menor valor da distorção harmônica


total de tensão é 2% e o maior valor é 2,8%.
Para distorção na forma de onda de corrente foram plotados dois gráficos, o
primeiro da distorção para 5ª harmônica e o segundo para 7ª harmônica, as demais
harmônicas são desprezíveis, já que a distorção é menor que 1%. Não foi plotado para
distorção harmônica total de corrente, pois as normas indicam apenas os limites de
distorção harmônica individual. Nas Figuras 31 e 32 são apresentadas as distorções
harmônicas individuais de corrente para a 5ª e 7ª harmônicas, respectivamente.
38

Figuras 31 – Médias das distorções harmônicas individuais de corrente para 5 a harmônica

Figuras 32 – Médias das distorções harmônicas individuais de corrente para 7a harmônica

A partir dos gráficos é possível notar que para 5ª harmônica, o menor valor da
distorção harmônica total de corrente é aproximadamente 3% e o maior valor é
aproximadamente 6%. Para 7ª harmônica, o menor é valor é 3,5% e o maior 4,5%.
39

6.3 AS REGULAMENTAÇÕES

 IEC 61000-3-4

A IEC 61000-3-4 é um relatório técnico (IEC, 1998) que pode ser aplicado a
qualquer equipamento elétrico ou eletrônico, cuja corrente de entrada seja maior que
16 A. Sua tensão de alimentação deve ser menor que 240 V para equipamentos
monofásicos, ou menor que 600 V para equipamentos trifásicos. A frequência nominal
da rede pode ser 50 Hz ou 60 Hz.
Esta norma não se adéqua ao estudo deste TCC, pois os dados não foram obtidos
para equipamento individual e sim para um conjunto de equipamentos.

 Recomendação IEEE para práticas e requisitos para controle de


harmônicas no sistema elétrico de potência: IEEE-519

A IEEE-519 é uma recomendação produzida pelo IEEE que descreve os


principais fenômenos causadores de distorção harmônica, indica métodos de medição e
limites de distorção. Seu enfoque é diverso daquele da IEC 61000-3-4, uma vez que os
limites estabelecidos referem-se aos valores medidos no ponto de acoplamento comum
(PAC), e não em cada equipamento individual.
Os limites diferem de acordo com o nível de tensão e com o nível de curto-
circuito do PAC. Para o caso das medições feitas nos teares, os dados de corrente de
curto-circuito e corrente nominal foram obtidos dos dados de placa do cubículo onde se
encontra as fases do lado de baixa do transformador e onde foi instalado o qualímetro.
Os dados são: Corrente de curto-circuito (Icc) = 24 kA e Corrente nominal (Io) =
1250A, então Icc/Io = 19,2.
Nas Tabelas I e II são encontrados os limites de distorção de corrente e os
limites de distorção de tensão, respectivamente.
40

Tabela I: Limites de Distorção da Corrente para Sistemas de Distribuição (120V a 69kV). [10]

Tabela II: Limites de distorção de tensão. [10]

De acordo com a Tabela I a distorção individual de corrente para a carga


analisada está acima dos limites recomendados, tanto para 5ª harmônica, como para 7ª,
pois a norma estabelece que, para Icc/Io < 20, o máximo valor de distorção deve ser de
4%. Como foi visto anteriormente, o valor máximo da distorção chega 6% para 5ª
harmônica e 4,5% para 7ª harmônica.
Já a distorção harmônica total de tensão está dentro dos limites recomendados
pela IEEE-519, pois o máximo valor medido foi 2,8%, quando a norma estabelece no
máximo 5 % para sistemas abaixo de 69 kV. A distorção harmônica individual para 5ª
harmônica varia em torno de 2%, portanto também dentro dos limites. As demais
harmônicas não chegam a 1%.
A norma do IEEE será a adotada como referência, pois ela é mais rígida e
estabelece recomendações internacionais de qualidade. Dessa maneira, é importante
propor soluções para reduzir os níves de distorção encontrados, como será visto adiante.

 Regulamentação Brasileira

A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), no já citado documento


“Procedimentos de distribuição de energia elétrica no sistema elétrico nacional – Prodist
módulo 8 – qualidade da energia elétrica”, propõe apenas valores para a distorção
harmônica da tensão no sistema de distribuição. Tal regulamentação ainda não está
definida. Nas Tabelas III e IV são apresentados os limites para distorção harmônica total
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de tensão e para as distorções harmônicas individuais de tensão. Esta regulamentação é


bastante tolerável e os dados medidos encontram-se dentro dos limites, já que o Prodist
estabelece até 10% de distorção harmônica total e 7,5% para distorção harmônica
individual para 5ª harmônica.

Tabela III - Valores de referência globais das distorções harmônicas


totais expressos em porcentagem da tensão fundamental. [10]

Tabela IV - Níveis de referência para distorções


harmônicas individuais de tensão (expressos como
percentagem da tensão fundamental). [10]

6.4 MEDIDA CORRETIVA

Diante da geração de harmônicas, decorrente do uso de cargas não lineares, a


forma mais usual de se reduzir os harmônicos em níveis toleráveis, assim como para a
42

compensação de potência reativa, é a aplicação de filtros harmônicos passivos,


instalados em paralelo com a carga.
Usualmente, a filtragem das harmônicas prejudiciais ao sistema é feita
colocando-se filtros sintonizados nas frequências de maior relevância e a partir da
próxima componente de maior interferência coloca-se um filtro passa-alta, para
atenuação das demais harmônicas, de acordo com a Figura 33.

Figura 33 – Esquema típico de um filtro harmônico passivo. [11]

 Filtros passivos sintonizados a uma frequência

Os filtros passivos sintonizados são compostos pela associação série indutor-


capacitor. Seu funcionamento baseia-se na redução da impedância da célula na
frequência de interesse, produzindo um caminho local de menor impedância para as
correntes harmônicas indesejadas.
Para o caso da tecelagem da empresa Coteminas S.A., um filtro passivo
sintonizado é a solução mais interessante, pois observa-se que as únicas harmônicas
relevantes são as de 5ª e 7ª ordem, as demais podem ser desprezadas.
Observando- se a Figura 33, pode-se obter a impedância equivalente do filtro
como dada pela Equação 6.1.

Z= R+ j (XL – XC). (6.1)


43

onde:
Z : impedância equivalente do filtro.
R : resistência equivalente série do capacitor juntamente com o indutor.
XL: reatância indutiva do filtro.
XC : reatância capacitiva do filtro.
A frequência natural de ressonância do filtro, ou seja, o valor de frequência onde
se obtém a mínima impedância ocorre quando XC = XL, anulando-se a parte imaginária
da impedância equivalente.
Outro elemento presente no projeto de um filtro passivo de harmônicas é o fator
de qualidade (Q) que representa o quanto o filtro projetado se aproxima de um filtro
ideal. O fator de qualidade está relacionado com a resistência série do filtro e é definido
matematicamente pela Equação 6.2.

XL XC
𝑄= = . (6.2)
𝑅 𝑅

A partir das Equações 6.3, 6.4 e 6.5, serão formulados os passos para
determinação de R, L e C, onde o capacitor e o indutor são projetados para a condição
de ressonância série, para uma determinada frequência (frequência sintonizada), e a
resistência para fornecer critério de sintonização do filtro. As Equações utilizadas nessa
seção foram retiradas da referência [12].

1
𝐶𝑛 = 2 . (6.3)
𝑛2
𝑤 𝑛 𝑋𝑐 ( 2 )
𝑛 −1

1
𝐿𝑛 = 2
. (6.4)
𝑤 𝑛 ×𝐶𝑛

𝑤 𝑛 × 𝐿𝑛
𝑅𝑛 = . (6.5)
𝑄𝑛

onde:
n = ordem da harmônica que se deseja eliminar;
wn = frequência de ressonância em rad/s;
𝐶𝑛 = valor da capacitância;
𝐿𝑛 = valor da indutância;
𝑅𝑛 = valor da resistência.
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Fica como proposta para trabalhos futuros o dimensionamento do filtro passivo,


através do cálculo de seus elementos.

 Filtros passivos passa-baixas

Para se obter, apenas atenuação considerável para freqüências acima da


frequência de ressonância, é colocada a resistência R em paralelo com o indutor do
filtro, como mostrado na Figura 33. Usa-se um fator de qualidade baixo.
De acordo com a estrutura da Figura 33 se obtém a impedância equivalente e o
fator de qualidade, de acordo com as Equações 6.6 e 6.7, respectivamente.

𝑗𝑤𝑅𝐿 𝑗
𝑍= − . (6.6)
𝑅+𝑗𝑤𝐿 𝑤𝐿

𝑅
𝑄= . (6.7)
2𝜋𝑓𝑛 𝐿

 Ressonância paralela e amplificação harmônica

Um problema que pode surgir com a utilização de filtros passivos é a


ressonância paralela entre os elementos de filtragem, o que se observa pelo fato da
impedância crescer. Caso existam componentes harmônicas nestas frequências elas
produzirão um ganho em tensão, sendo amplificadas.
Assim, pode-se concluir que a presença de vários filtros numa mesma rede
produz interferências mútuas, com o resultado que cada filtro pode facilmente ser
influenciado pela presença dos outros filtros e outras cargas, como a própria reatância
da linha, transformadores e banco de capacitores.
Uma forma de resolver o problema de ressonância é fazer uma associação do
filtro passivo com um filtro ativo. Os filtros ativos mistos têm o objetivo de eliminar
estes problemas. Nestes filtros, uma parte passiva é associada em série a uma parte
ativa, com a intenção de unir as vantagens dos filtros ativos convencionais às altas
potências dos filtros passivos.
O princípio de funcionamento de um filtro ativo é o seguinte: um transformador
de corrente mede o conteúdo harmônico da corrente da carga, e controla um gerador de
corrente que produz uma réplica exata que é realimentada no barramento no próximo
ciclo. Uma vez que as correntes harmônicas são fornecidas pelo filtro ativo, apenas a
45

corrente fundamental é drenada da fonte de alimentação. Na prática, correntes


harmônicas são reduzidas em até 90% de sua magnitude e, consequentemente, a
distorção na forma de onda de tensão também.
46

7 CONCLUSÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso mostrou a importância de haver estudos


sobre um assunto de grande relevância para todo o sistema elétrico de um país: a
Qualidade da Energia Elétrica, pois cada vez mais haverá a utilização crescente e
generalizada de equipamentos de eletrônica de potência que “poluem” os sistemas
elétricos.
É importante que dentro de todos os setores exista um controle constante da
qualidade da energia para evitar perdas, prejuízos devido a mau funcionamento de
equipamentos e comprometimento na vida útil dos mesmos. Esse controle pode ser feito
desde a contratação do projeto até a instalação dos equipamentos, se for levado em
consideração não só o preço e a atuação do dispositivo no que diz respeito à automação,
mas também o efeito colateral que ele pode gerar aos demais circuitos.
Foi realizado um estudo de caso na empresa Coteminas S.A que mostrou a
presença de distorções harmônicas de tensão e correntee a necessidade de haver uma
análise em todo setor da tecelagem, que não foi realizada neste TCC devido à
disponibilidade por um curto período de tempo do equipamento Qualímetro e pelo fato
do setor possuir quatro transformadores para alimentá-lo por completo, o que leva a
necessidade de um período de tempo bem maior para realizar análise.
Conforme visto através do estudo, o dimensionamento de filtros harmônicos
passivos deve ser bem feito, para se evitar sobretensões indesejadas (amplificação
harmônica) e sua aplicação está diretamente ligada à necessidade de se ter o controle
desejado sobre as harmônicas do sistema. Por outro lado, o correto dimensionamento do
filtro implica no conhecimento do sistema no que diz respeito às características de
distorção harmônica, curto-circuito, potências e impedâncias. Essas características são
preponderantes para que o resultado obtido com os filtros corresponda ao objetivo do
projeto.
Por fim, este TCC despertou para necessidade da existência de normas mais
exigentes para a cobrança de uma boa qualidade da energia elétrica. Estão em
andamento conversações entre o IEEE e a IEC para consolidarem as normas geradas
pelas instituições. Tais processos, no entanto, são demorados, devido aos grandes
interesses econômicos envolvidos.
47

BIBLIOGRAFIA

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Qualidade de Energia Elétrica. Itajubá . II SBQEE. 1997.

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Sistemas Primários de Distribuição. 2002.

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elétrica. Disponível em http://www.aneel.com.br. Acesso em novembro de 2010.
48

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