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VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7

CC 01
Trigonometria
uma ferramenta indispensável para
estudos astronômicos na Grécia antiga
Acylena Coelho Costa
UEPA
acylena@uepa.br
Vagner Viana da Graça
UEPA
vagnergraca@yahoo.com.br
Mônica Suelen F. de Moraes
UEPA
monicasuelen@yahoo.com.br

Resumo
Nossa motivação para escrever este artigo surgiu durante as aulas de História da Matemática na
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARÁ (UEPA), quando foi proposto pela professora da disciplina que
os alunos fizessem uma pesquisa histórica sobre determinados assuntos de Matemática do Ensino Médio e
que sugerisse propostas para o uso desta pesquisa em sala de aula. Atualmente, o sistema educacional tem se
questionado sobre o que seria de relevância para a estrutura cognitiva e social de um aprendiz da
matemática. Sabemos que não se trata de uma questão simples, não tendo resposta única e definitiva. Neste
sentido, matemáticos, filósofos e educadores afirmam que a concepção da matemática influencia
decisivamente no que se ensina e como se ensina. Este trabalho tem o pressuposto que os conceitos
matemáticos estudados, antes considerados bem definidos no tempo e mantidos fechados para qualquer
possibilidade de ser um processo evolutivo, passam a ser visto como processo carregado de
intencionalidade, questões éticas e políticas. Com vista a possibilitar uma aprendizagem significativa, a
utilização da História da Matemática no ensino é uma das mais fortes tendências em Educação Matemática,
pois possui elementos fundamentais para a educação e proporciona subsídios indispensáveis para a
formação do indivíduo. O Objetivo deste artigo é evidenciar a importância da trigonometria para estudos
astronômicos na Grécia Antiga. O estudo baseou-se em levantamento bibliográfico e se mostra útil por
abordar a trigonometria como ferramenta indispensável para estudos Astronômicos. Este trabalho torna-se
relevante aos profissionais da Educação Matemática, por abordar o assunto de forma vinculada à História
das civilizações, proporcionando assim um material teórico para pesquisas sobre as aplicações da
Trigonometria na Astronomia. Sabemos que muito ainda precisa ser pesquisado sobre as aplicações da
trigonometria na astronomia da Grécia antiga. No entanto, com esse trabalho pretendemos contribuir para o
melhor entendimento por todos aqueles que o buscarem sobre as aplicações desta ferramenta na História das
civilizações antigas.

Palavras – Chave: trigonometria, história, astronomia.

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TRIGONOMETRIA – UMA FERRAMENTA INDISPENSÁVEL PARA ESTUDOS


ASTRONÔMICOS NA GRÉCIA ANTIGA

Acylena Coelho Costa


UEPA
acylena@uepa.br
Vagner Viana da Graça
UEPA
vagnergraca@yahoo.com.br
Mônica Suelen F. de Moraes
UEPA
monicasuelen@yahoo.com.br

Introdução
Segundo Weil (1991) a função da História da Matemática é de atribuir a determinadas pessoas o que
lhe é devido e de atrair outros para glórias similares promovendo assim a arte da descoberta mostrando seus
métodos através de situações ilustres. Logo, ao lidar com a História da Matemática, devemos considerá-la
uma disciplina suplementar, cujo objetivo é oferecer a comunidade fatos matemáticos desenvolvidos em
determinadas épocas. Assim, a utilização da história no ensino de matemática surge como uma proposta que
procura enfatizar o caráter investigatório do processo de construção do conhecimento matemático.
A utilização de atividades históricas no ensino da matemática pressupõe uma participação efetiva do
aluno na construção de seu conhecimento em sala de aula, constituindo um aspecto preponderante no
ensino-aprendizagem (MENDES, 2006). A História pode ser usada para atrair a atenção das pessoas para a
Matemática e isso pode ser feito de muitas maneiras: conhecendo-se a "origem" de determinado assunto
como os sistemas de numeração, conhecendo-se as idéias que levaram à escolha de certos nomes para
alguns elementos da matemática, por exemplo: o "cálculo" e a função “seno”.
O ensino de trigonometria realiza-se com uma série de dificuldades, isso por ainda estar presente nas
salas de aula uma estrutura de ensino baseada em métodos tradicionais, onde a preocupação com construção
do conhecimento do aluno é deixada de lado (DRUCK, 2004). Neste sentido, a História da Matemática pode
ser bastante útil, pois esclarece muitas questões acerca de concepções, rigor, demonstração, definição e
sistema de registro de representação em trigonometria (BRITO, 2005).
Nossa proposta é evidenciar a importância da trigonometria para estudos astronômicos na Grécia
Antiga, através de levantamento bibliográfico, abordando aquela como ferramenta indispensável para

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estudos Astronômicos. Assim, proporcionando aos professores um material de consulta quando usar a
tendência de História da Matemática nas aulas de trigonometria.

A Trigonometria como uma ferramenta da Astronomia na Grécia antiga

Os gregos foram os primeiros a relacionar os arcos num círculo e os comprimentos das cordas que o
subtendem (BOYER, 1996). Os teoremas1 sobre comprimento de cordas deste povo apresentavam uma
fundamentação teórica que servirá de base para a trigonometria, pois aqueles são essencialmente aplicações
da lei dos senos2 (KENNEDY, 1992).
Segundo Boyer (1996, p. 108), os gregos desenvolveram as relações entre arcos e cordas, a fim de
atender as suas necessidades astronômicas, pois precisavam de uma ferramenta de melhor análise para suas
observações.
Como exemplos dessas necessidades têm: Qual é a distância da Lua e do Sol, em relação à Terra?.
Preocupado em esclarecer essas questões, Aristarco3 escreveu um tratado Sobre os tamanhos e distâncias do
Sol e da Lua (KENNEDY, 1992).
Aristarco concluiu, após várias observações, que quando o disco lunar apresenta-se para um
observador terrestre com metade iluminado, forma-se o triângulo Terra-Sol-Lua como mostra a figura 1.

Figura 1

Fonte: BOYER, 1996, p. 109; PROTÁZIO, 2004, p. 2

1 Teorema: termo introduzido por Euclides, em os Elementos, para significar a afirmação que pode ser provada.

2 Os gregos ainda não conheciam a lei dos senos.

3 (310 a.C – 230 a.C) astrônomo grego.

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A dificuldade seria calcular o valor do sen 3º, pois na época ainda não havia sido desenvolvidas as
tabelas trigonométricas.
Aristarco usou um teorema geométrico bem conhecido em sua época para o cálculo do sen 3º:

Usando a trigonometria moderna, temos:

Como Aristarco não sabia trabalhar com número decimal e o intervalo apresentado na desigualdade
acima é impróprio para o cálculo do sen 3º. Protázio (2004) indica que este valor estaria no intervalo de:

Analisando a desigualdade acima, temos que o Sol estaria mais de 18 vezes e menos de 20 vezes
mais longe da Terra que da Lua (PROTÁZIO, 2004). Podemos assim obter uma aproximação para as
distâncias do Sol e da Lua à Terra.
Observe a figura 2:

Figura 2

Fonte: PROTÁZIO, 2004, pág. 2

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Para o cálculo das distâncias pretendidas traçamos os segmentos mostrados na figura 3.

Figura 3

Fonte: BOYER, 1996, pág. 109.

Onde:

Obtemos triângulos semelhantes ( ). Temos então a proporção:

Substituindo por valores aproximados e (BOYER, 1996, pág. 109).

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Era necessário ainda saber a medida do raio da Terra.


Segundo Boyer (1996, p. 109), Aristóteles tinha mencionado uma estimativa de 60.000 quilômetros
para a circunferência da Terra, já Arquimedes contava que alguns de seus contemporâneos calculavam que o
perímetro seria de uns 45.000 quilômetros.
Deveu-se a Erastóstenes4 o cálculo sobre a medida do raio da Terra (BOYER, 1996).
Boyer (1996, p. 109, 110), afirma:
[Erastóstenes] observou que ao meio dia no dia do solstício de verão5 o Sol brilhava diretamente
para dentro de um poço profundo em Siene. Ao mesmo tempo em Alexandria, (...) estando no
mesmo meridiano e 5000 estádios6 ao norte de Siene, verificou-se que o Sol lançava uma sombra
indicando que a distância angular7 do Sol ao zênite8 era um cinqüentavo de um círculo.

A afirmação do autor supracitado pode ser entendida a partir da figura 4.

Figura 4

Fonte: BOYER, 1996. p. 111.

Onde:

4 (276 a.C - 194 a.C), nasceu em Cirene.

5 É o tempo que o Sol, tendo chegado aos trópicos, parece “estacionário” durante alguns dias, antes de aproxima-se
novamente do equador.
6 5000 estádios são iguais a 740 km
7 Distância entre dois objetos.
8 É o ponto superior da esfera celeste, segundo a perspectiva de um observador na superfície do astro onde se encontra.
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Segundo Boyer (1996) a circunferência da Terra deve ter cinqüenta vezes a distância entre Siene e

Alexandria. Para esse autor, isso implicaria que o comprimento da circunferência da Terra é de 37000 km.

Então, sabendo o comprimento da circunferência podemos agora solucionar a questão sobre as


distâncias do Sol e da Lua em relação à Terra, procedendo da seguinte maneira:
Chamando o comprimento da circunferência da Terra de , temos:
9
, com

Com isso procedemos:

Logo:

Agora sabendo os raios do Sol e da Lua, calcularemos o valor dos seus diâmetros:

Aristarco observou que a distância da Lua à Terra é aproximadamente igual a 16,810 vezes o valor do
raio da Terra, logo:

E ainda que a distância do Sol à Terra é aproximadamente igual a 337 vezes10 o valor do raio da
Terra, com isso:
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Adotando valores atuais para .
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Protázio, 2004.

O que confirma o pensamento moderno de que o Sol está mais longe da Terra do que a Lua.
(PROTÁZIO, 2004)
Portanto, estava assim respondido o questionamento feitos no início: as distâncias do Sol e da Lua
em relação a Terra era de 1.984.593 Km e 98.935 Km, respectivamente.

Considerações Finais
A finalidade desse trabalho foi de abordar sobre a importância da Trigonometria para a Astronomia
na Grécia antiga, buscando aprimorar o conhecimento, sobretudo dos alunos, professores do Ensino Médio e
alunos do curso de Licenciatura Plena em Matemática, por acreditarmos que o conhecimento das aplicações
dos conteúdos matemáticos vinculados à história de uma civilização auxilia no melhor uso de tais
conhecimentos.
Assim, buscamos verificar o salutar valor de analisar a trigonometria de maneira vinculada às
necessidades astronômicas de uma civilização da história antiga (Grécia), por entendermos que esta
ferramenta matemática nasceu a partir dessas necessidades. Com isso, acreditamos que este estudo é de
suma relevância para futuras pesquisas dentro da matemática ou propostas de ensino-aprendizagem no que
tange a trigonometria através da História da matemática.
Sabemos que muito ainda precisa ser pesquisado sobre as aplicações da trigonometria na astronomia
da Grécia antiga. No entanto, com esse trabalho pretendemos contribuir para o melhor entendimento por
todos aqueles que o buscarem sobre as aplicações desta ferramenta na História das civilizações antigas.

Referências Consultadas

BOYER, C. B. História da Matemática. Trad. GOMIDE, E.F. 2ª Ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1996. p.
108 - 119, 147, 154 – 166.

BRITO, A. J. et al. História da matemática em atividades didáticas. Natal: EDUFRN, 2005.


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BRITO, A. J. A história da matemática e a da educação matemática na formação de professores. Educação


Matemática em revista. [São Paulo]: a. 13, n. 22, p. 11-15, 2004.

D’AMBROSIO, U. Educação matemática da teoria à prática. Campinas: Papirus, 1996 (Coleção


Perspectivas em Educação Matemática).

DRUCK, S. A crise no ensino de matemática. Revista do professor de matemática. São Paulo: a. 25, n.
53, jan./abril, p. 1-5, 2004.

KENNEDY, E.S. Tópicos de História da Matemática para uso em sala de aula: Trigonometria; trad.
DOMINGUES, H.H. v. 5. São Paulo: Atual, 1992. p. 1-27.

MENDES, I. A. Matemática e investigação em sala de aula: tecendo redes cognitivas na aprendizagem


.Natal: Flecha do Tempo, 2006.

MENDES, I. A.; SÁ, P. F. Matemática por atividades: sugestões para sala de aula. Natal, RN: Flecha do
Tempo, 2006.

MOURÃO, R. R. F. Astronomia na época dos descobrimentos: a importância dos árabes e judeus nos
descobrimentos. Rio de Janeiro: Larceda, 2000. p. 18 – 20.

PROTÁZIO, J. S. et al. Modelos da astronomia no ensino da matemática. Belém, PA: [s.n.], 2004.

WEIL, A. História da matemática: por que e como. In: Matemática Universitária. n. 13, p. 17-30, 1991.

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