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EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS DO TERRITÓRIO FREIRE


LOCALIZADAS PRÓXIMAS À NASCENTE DO BAIRRO SANTO ANDRÉ,
VISANDO A PROMOÇÃO DA CIDADANIA

Maristela Gonçalves Giassi1


Elizabeth Maria Campanella de Siervi 2
Dourival Giassi3
Joesia Campos4
Julia Faedo5
Jaqueline Porto Silva6

Resumo
Apresentamos a experiência de extensão universitária desenvolvida na área de abrangência do
Programa Território Paulo Freire/UNESC, em Criciúma/SC. As ações do projeto focam nos problemas
ambientais identificados na área, especialmente nas proximidades de uma nascente ali existente. As
ações de educação ambiental acontecem em duas escolas municipais, envolvendo alunos e professores,
a partir de atividades temáticas em sala de aula e em visitas de campo. Os resultados parciais apontam
para uma maior sensibilização das pessoas envolvidas quanto ao papel das nascentes, e dos sistemas
associados.

Palavras Chave: Território Freire, Educação Ambiental, Cidadania, Extensão Universitária.

INTRODUÇÃO

Assim este artigo tem por objetivo relatar experiências relacionadas ao projeto
Ambiente e Cidadania, desenvolvido em escolas do Território Freire. Este projeto é
continuação e ampliação de ações que vinham sendo realizadas em localidade do Programa
Território Freire/UNESC, definido na região Grande Santa Luzia, em Criciúma, que configura
uma área de atuação integrada de extensão universitária da universidade, visando desenvolver
projetos que ampliem a capacidade de autonomia das comunidades. A área do Programa
Território Paulo Freire/UNESC está representada na Figura 1.

1
Professora do Curso de Ciências Biológicas da Unesc e Coordenadora do Projeto
2
Professora do Curso de Arquitetura da Unesc e membro do Projeto
3
Professor do Curso de Ciências Contábeis da Unesc e membro do Projeto.
4
Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas da Unesc – Bolsista do Projeto
5
Acadêmica do Curso de Engenharia Ambiental da Unesc – Bolsista do PIBIC
6
Acadêmica do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unesc – Bolsista do Projeto
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Figura 1: Mapa de delimitação da área de abrangência do Programa Território Paulo Freire-UNESC com
localização das escolas

Fonte: Elaborado pelo Projeto

O ponto de partida das ações do projeto é a compreensão de uma situação pedagógica


particular nas escolas em que, usualmente, é solicitado aos professores que tratem de
conteúdos relacionados em suas áreas de conhecimentos, porém abrangendo temas
diversificados, entendidos como transversais; entre esses temas, destaca-se o do Meio
Ambiente. Embora esta solicitação esteja em consonância com a Política Nacional de
Educação Ambiental (BRASIL 1999) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Ambiental brasileira (BRASIL, 2012), nem todos os professores se sentem preparados para
essa integração transversal.
Outro ponto importante na estruturação deste projeto vem pelo fato de que na região
de Criciúma há motivos concretos de preocupação ambiental decorrentes da ação antrópica
praticada ao longo de anos pela ação da mineração. Essa ação tem provocado desequilíbrios
graves no ambiente e impactos na qualidade de vida de nossa população, como por exemplo:
contaminação da água para o consumo humano, poluição do ar, poluição de larga extensão de
terras pelo rejeitos do carvão (PAMPLONA e SIERVI, 2016). Embora algumas ações sejam
realizadas, ainda há muito por fazer. Pesquisadores como Gutierrez; Prado (1999) Capra
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(1996), advogam que é necessário ocorrer profunda modificação na forma de perceber e


compreender o mundo com suas relações e interrelações para que mudanças aconteçam.
A crise ambiental se origina pela própria crise da existência humana, o que leva Capra
(1996) a defender uma mudança radical de paradigma, nossos valores, pensamentos e
percepções em relação ao mundo. Este paradigma, denominado de holístico ou visão
ecológica, concebe o mundo de forma interligada e interdependente – os mesmos princípios
praticados pelo ser humano no início de sua história, na qual mostrava-se integrado no seio de
uma complexidade do qual faz parte. Essa complexidade, segundo Branco (2003) pode ser
relacionada com as questões ambientais como um problema que passa pela história cultural do
ocidente, capitalista, voltado para a tecnologia, que tem por meta a produção em massa e a
padronização, que dá a ilusão de um crescimento ilimitado, privilegiando alguns segmentos
da sociedade, em detrimento de outros.
É fundamental localizar esta questão no centro dos ambientes urbanos e, por
conseguinte em uma dimensão multidisciplinar e intersetorial. Lembremos que esse contexto
de degradação ambiental tem se estabelecido de maneira mais intensa desde meados do século
XX nas cidades, fazendo com que se ampliassem as discussões sobre os problemas ambientais
nos municípios brasileiros. Nesta perspectiva, as áreas verdes tornaram-se os principais
elementos de defesa do meio ambiente, principalmente se levarmos em consideração que este
tipo de espaço livre está cada vez mais escasso nos centros urbanos. Além disso, este quadro
de degradação ambiental causa o empobrecimento da paisagem urbana, deixando claro sua
relação de interdependência dos vários subsistemas que contribuem para a formação dos
ambientes de uma cidade (LOBODA e DE ANGELIS, 2005).
A partir desse panorama de crise e propostas de complexificação e holismo surge a
Educação Ambiental (EA), comprometida com a conscientização e participação da sociedade
nos problemas socioambientais, propondo um olhar interdisciplinar para os conhecimentos
nela tratados. Segundo Morin (2006, p.42) “como nossa educação nos ensinou a separar,
compartimentar, isolar e, não, a unir os conhecimentos, o conjunto deles constitui um quebra-
cabeças ininteligível”. O autor destaca que quando se observa a história da Educação ou da
Pedagogia percebe-se que a maioria das pessoas foram educadas da mesma forma, de um
modo rígido, fragmentado e autoritário, sem que compreendam as ligações existentes entre os
conhecimentos científicos e a sua própria cultura
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A forma disciplinar que impera nas escolas gera conhecimentos limitados. Segundo
Lück (1994) esta visão pautada na fragmentação do ensino sustenta a visão e a produção de
conhecimentos limitados e restritos, estabelecendo limites que não se deve ultrapassar. Essas
fronteiras estabelecidas pelas disciplinas não fazem mais sentido para a escola atual, onde o
contexto e as realidades não se separam mais da vida escolar e também onde alunos curiosos e
críticos estão questionando os conteúdos e sua utilidade no dia a dia. Lück (1994, p.39) afirma
que:
[...] O ensino deixa de formar cidadãos capazes de participar do processo de
elaboração de novas ideias e conceitos, tão fundamental para o exercício da cidadania
critica e participação na sociedade moderna, onde tanto se valoriza o conhecimento.

Neste sentido Freire (2005) nos lembra da importância de se tratar nas escolas das
“contradições” em que vivem muitos de seus alunos, ou seja, trata-se nas escolas, por
exemplo, de qualidade de vida, de saúde, de lazer, discute-se a beleza de algumas localidades
e esquecemos muitas vezes, segundo o autor, de perceber a realidade vivida por esses
estudantes. Como vivem suas famílias? Onde moram? O bairro onde moram é limpo? Possui
esgoto a céu aberto? É recoberto por pirita? Possui local de lazer aos seus moradores?
Para Freire (2013), o ato de conhecer não é um ato qualquer, nem um ato em que um
sujeito é transformado em objeto que recebe passivamente o conteúdo que outros lhe impõem.
Para o autor, o conhecimento

“exige uma presença curiosa em face do mundo. Requer sua ação transformadora
sobre a realidade. Demanda uma busca constante. [...] Conhecer é tarefa de sujeitos.
E é como sujeitos, e somente enquanto sujeito que o homem pode realmente
conhecer” (FREIRE 2013, p 29).

Neste sentido, para o autor, só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do


aprendido, que pode reinventá-lo e aplicá-lo em situações concretas de sua vida. Assim, o ato
de educar, ambientalmente implicaria em mudanças de visão de mundo e no modo como nos
relacionamos com ele. A escola seria o lugar onde, de maneira mais sistemática e orientada,
aprendemos a ler o mundo e a interagir com ele.
Ainda trazendo Freire (2005), compreendemos que quanto mais o ser humano tiver
capacidade de refletir sobre sua realidade, maior será sua condição de agir sobre ela, e para
este autor a manifestação da consciência crítica se reflete na sua práxis, que é “reflexão e
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ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela, é impossível a superação da
contradição opressor-oprimido” (FREIRE 2005, p. 42).

DESENHANDO A AÇÃO DE EXTENSÃO


A partir do quadro conceitual anteriormente apresentado, o Projeto de Extensão
Ambiente e Cidadania procura integrar ações que trabalhem conteúdos ligados a temática
ambiental inserida no currículo escolar, consolidando este conhecimento com uma ação local
e comunitária de caráter prático em uma área situada no entorno das escolas.
O recorte do projeto foi definido em face de conversas anteriores com alguns gestores
e professores de escolas da área, nas quais já vinham se desenvolvendo atividades de extensão
em outros projetos do Programa Território Freire/UNESC. Deste quadro é que emergiram as
ideias de revitalização de uma nascente existente no bairro Santo André (Figura 2 e Figura 3).

Figura 2. Localização da área da Nascente do Santo André.

Fonte: GIASSI, GIASSI e SIERVI (2016).


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Figura 3. Localização inicial das escolas existentes da área da Nascente do Santo André..

Fonte: GIASSI, GIASSI e SIERVI (2016).

Embora na área de entorno da nascente haja área de rejeitos das atividades de


mineração, pelo histórico levantado havia possibilidades de se encontrar na nascente água
própria para o consumo, uma vez que há algum tempo ocorreu uma ação de proteção da
referida fonte pelos moradores do seu entorno, sendo implantada proteção pelo método
Caxambú, desenvolvido pela Epagri de SC.
É importante destacar que esta proposta de ação no espaço do entorno da escola se
fortalece tendo em vista que este tipo de afloramento é tratado pela Resolução Conama nº
303, de 20 de março de 2002 como Área de Preservação Permanente (APP), por se
caracterizar como “nascente ou olho d`água: local onde aflora naturalmente, mesmo que de
forma intermitente, a água subterrânea” e que as condições de preservação desta área é
definida em seu Artigo 3º: I - ao redor de nascente ou olho d`água, ainda que intermitente,
com raio mínimo de cinquenta metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia
hidrográfica contribuinte.
Mesmo com esta proteção legal, atualmente a área encontra-se em risco uma vez que
ocorre um processo de invasão lenta e gradual de moradores em seus arredores. Além disso, a
referida área da nascente continua sendo alvo de vandalismos onde ainda são jogados lixos de
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toda ordem. Este fato nos levou a olhar para a nascente como um desafio para a comunidade
do seu entorno que procurou preservar os recursos naturais existentes no se ambiente de vida,
mas, que por desconhecimento de parte de seus moradores, acaba se tornando apenas um local
a mais para destruição e depósito de lixo. Assim, a partir do interesse apresentado pela
comunidade escolar e interesse manifestado em outros momentos naquela comunidade, a
referida fonte e área de entorno imediato, conforme destacada pela Resolução CONAMA já
citada, foi integrada nas práticas de campo de Educação Ambiental complementando as
demais ações educativas desenvolvidas na escola.
Ações dessa natureza se justificam, pois são voltadas para as questões mais próximas
da escola, dos alunos e do mundo industrializado em que vivemos. Propõe atividades
educativas que estimulam o desenvolvimento de atitudes, habilidades e valores para a
construção de um ambiente com maior qualidade de vida.
Parte da construção do contexto teórico-metodológico utilizada para elaborar este
projeto esteve vinculada aos resultados de pesquisas realizadas no Programa de educação
Ambiental do LEC – Laboratório de Ensino de Ciências, e pelo GPECEA – Grupo de
Pesquisa em Ensino de Ciências e Educação ambiental. Estas pesquisas identificaram que os
professores apresentam dificuldades em trabalhar com as questões ambientais nas escolas e
solicitam para que sejam desenvolvidos cursos ou atividade que orientem sua prática assim
como seus alunos nessa tarefa. Outra questão identificada pelos estudos diz respeito à
manifestação de professores moradores das escolas próximas à nascente, sobre possibilidades
de fazer alguma coisa com a mesma, já que é um recurso local e que acaba sendo alvo de
vandalismos.
Dentro destas perspectivas é que foi estabelecido o objetivo geral do Projeto Ambiente
e Cidadania, sendo: “Desenvolver ações educativas relativas ao meio ambiente com
estudantes e professores de escolas da rede pública municipal, buscando a compreensão das
interações entre os sistemas que constituem o nosso planeta (físicos, químicos, biológicos e
sociais), visando à cidadania e a qualidade do seu ambiente de vida”.
Três objetivos específicos traçaram o perfil das atividades do Projeto: 1. Realizar
minicursos, palestras, oficinas de Educação ambiental para comunidade, estudantes e
professores que atuam com escolas da referida rede, especialmente aquelas localizadas no
Território Paulo Freire a partir de seus conhecimentos prévios; 2. Realizar atividades práticas
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e teóricas para instrumentalizar a comunidade na solução dos problemas diagnosticados; 3.


Desenvolver ações de proteção e conservação sobre a nascente existente na área verde no
Bairro de Inserção das escolas envolvidas no projeto.
A metodologia utilizada, detalhada no próximo tópico, busca contribuir para a
construção uma consciência ambiental e mudanças de atitudes e hábitos mais favoráveis aos
cuidados e preservação do ambiente de vida da comunidade de São Defende.

METODOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DAS AÇÕES

Para realizar atividades dentro do escopo definido pelo projeto, foram desenvolvidas
ações, abrangendo alunos, professores e gestores de duas escolas da Rede Pública Municipal
de Criciúma – SC, pertencentes ao Território Paulo Freire, uma no bairro de São Defende e
outra na Vila Montevidéo.
A equipe do projeto se reúne semanalmente, preparando as atividades a serem
discutidas e desenvolvidas nas escolas. A definição das atividades é realizada em conjunto
com os professores das escolas, estabelecendo-se um calendário de ações. A partir desta
programação são organizadas previamente as ações, sendo apresentadas e discutidas com os
professores para garantir que sejam compreendidas e aceitas para que posteriormente a
aplicação seja dada continuidade a proposta no decorrer do ano letivo, a partir da
incorporação da prática pelo professor.
No primeiro ano as atividades realizadas envolveram especialmente as escolas com os
estudantes, professores e gestores. Dentre as ações já desenvolvidas destacamos: Contato com
as escolas para definir a participação e traçar as estratégias de implementação do projeto,
envolvendo equipe gestora e comunidade escolar; Desenvolvimento das atividades previstas
para o projeto – Palestras, oficinas, minicursos, saídas a campo, plantio de mudas,
mobilização da comunidade para a proteção e cuidados com a área verde da nascente e outros.
Posteriormente, neste segundo ano de desenvolvimento do projeto, estamos
envolvendo a comunidade por meio dos pais de alunos da escola que participam das reuniões
promovidas pelos gestores. Para isso nossa equipe se reúne semanalmente preparando as
atividades a serem desenvolvidas nas escolas.
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As temáticas de educação ambiental que emergiram no contexto do convívio escolar


abordaram questões como:
 Saúde - Cuidados com o local onde passam o seu dia, seja a escola, a casa, o bairro:
abordando aspecto de higiene, alimentação, água, lixo, esgoto, saneamento no seu todo, etc),
 Ambiente físico - o próprio bairro, paisagismo, áreas de lazer, qualidade das ruas, etc)
 Ambiente social - as relações interpessoais, as ações que praticam podem afetar positiva ou
negativamente o outro e as consequências de cada uma delas, o passivo ambiental, os custos
para os cofres públicos, para as empresas e para as famílias no que tange a saúde e qualidade
de vida.
Estes temas são tratados pelos professores e pela equipe do projeto, focando o caráter
interdisciplinar do mesmo, sendo aproveitados os conteúdos já planejados para atividades em
sala de aula, envolvendo as várias áreas dos conhecimentos e diferentes aspectos da realidade
local.
Os acadêmicos bolsistas estão presentes nas rodas de conversas com a escola para as
definições de novas demandas. A partir delas, nas reuniões de organização na universidade, os
materiais e/ou instrumentos necessários para os encontros são preparados e organizados em
conjunto pelos bolsistas e professores do projeto. Os bolsistas costumam se envolver mais
com os estudantes nas escolas, já os professores que estão à frente do projeto, costumam
atender os professores e comunidade/pais no que tange as reflexões, minicursos e outras
orientações.
Dentre as atividades desenvolvidas destacamos as saídas de campo no bairro. Estas
visitas guiadas objetivam que os estudantes conheçam e/ou observem alguns aspectos que
consideramos importantes no processo de educação ambiental. Para isso, durante a volta ao
bairro e à nascente, realizam-se questionamentos e reflexões como, por exemplo: Como é o
seu bairro? Você o conhece bem? Como são os jardins? As Calçadas? Todas as pessoas podem
se locomover nelas? E as estradas? São boas, esburacadas, poeirentas, pavimentadas?
Com estas atividades busca-se evidenciar os lugares por onde se passa na visita ou
durante o cotidiano da vida de cada um.. Assim surgem novas questões, como por exemplo:
Quem pode transitar sobre as calçadas? As pessoas cadeirantes podem andar tranquilas por
elas? E os mais velhinhos, Podem? Existem diferenças entre as moradias aqui no bairro?
(existe uma diferença gritante entre as moradias da parte mais antiga do bairro e do
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loteamento onde se encontra a nascente, no qual boa parte dos moradores construiu
irregularmente, quando não invadiram parte da área de APP); Existem lixos jogados pelas
ruas? Passa o caminhão da coleta – quando?
Sobre a Nascente há foco especial. E a nascente? Quem conhece a nascente que existe
aqui no Bairro? No local as crianças podem notar os lixos e outros objetos jogados no local
sendo estimuladas a pensar porque isso ocorria.
Outro aspecto importante, em nível de metodologia do projeto, é a experiência de
extensão curricular desenvolvida junto com estudantes de primeira e segunda fase do Curso
de Ciências Biológicas. Estes acadêmicos participaram ativamente em algumas ações do
projeto.
Outro tema relevante são as devolutivas para a comunidade e para a sua turma que se
organiza por meio de seminários na sala de aula da graduação e para os estudantes das
escolas, por meio de oficinas relacionadas com o meio ambiente, abordando os temas: solo,
água, alimentação saudável e História do Bairro e da mineração de carvão.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com as atividades desenvolvidas nas escolas, obtivemos alguns feedback dos
professores. Embora nem todos os professores sejam efetivos na escola, todos mostraram
muita vontade em dar continuidade às ações que vem sendo desenvolvidas. Para a maioria
deles é a primeira vez que ouvem falar da área de APP e da nascente; como já mencionado
anteriormente, certamente pelo fato de não morarem no bairro e virem na escola apenas para
as aulas e voltarem embora. Por outro lado o envolvimento deles e a motivação superam esta
dificuldade. Destacamos também o grande empenho e a receptividade da direção e de toda a
equipe gestora de uma das escolas.
Percebe-se que as ações estão contribuindo para formar uma consciência referente às
questões ambientais tratadas, possibilitando aos professores e estudantes perceber a
necessidade de continuar com as ações após o encerramento do projeto; seja no olhar para a
escola, para a sua casa e/ou para o bairro como um espaço que precisa de cuidados para ter
qualidade de vida (Figura 4). Como o projeto está em andamento, outra forma de garantir a
continuidade será pelo oferecimento de cursos de formação continuada aos professores das
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escolas participantes, incentivando-os a atuar em suas disciplinas/aulas e com seus alunos de


uma forma significativa e motivadora.
Figura 4. Atividades das bolsistas em sala de aula

Fonte: Arquivo do Projeto


Nas saídas de campo nos surpreendeu o fato de que praticamente todas as crianças
conhecessem o local da nascente, mas não se davam conta de que ali existe água potável que
pode ser utilizada nas suas casas. Muito acreditam que o local serve mais como depósito de
lixo (Figura 5).
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Figura 5. Saídas de Campo na região da Nascente

Fonte: Arquivo do Projeto


As ações educativas, já se mostraram eficazes, pois os alunos, já conseguiram impedir
que um incêndio no local, promovido por pessoas moradoras próximas da nascente. Já se
mostram mais cuidadosos quanto a limpeza e ordem nos pátios da escola e escreveram as
cartinhas para serem levadas à Câmara de vereadores informando adequadamente a situação
da área.
Outro aspecto a destacar é a possibilidade de integração com outros projetos de
extensão desenvolvidos por demais Curso da UNESC. No nosso caso estabeleceu-se parceria
com o Curso de Arquitetura e Urbanismo realizando-se ações de sensibilização com os
estudantes no que diz respeito a qualificação do ambiente escolar e entorno da escola. Na
figura 6 e 7 destacam-se alguns resultados desta parceria nas atividades de construção de
brinquedos sensoriais e de jardins verticais e horta escolar (UNESC, 2017).
Figura 6. Participação dos estudantes da escola em atividades lúdicas propostas por projetos parceiros
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Fonte: UNESC, 2017

Figura 7. Implantação de Jardins verticais no pátio da escola.


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Fonte: Arquivo do Projeto

Em nossas idas à escola percebemos sua evolução no falar sobre as questões


ambientais . Este fato nos remete a Freire (2005) quando ele aponta se necessário levar os
indivíduos perceberem as contradições em que vivem, onde moram, porque vivem assim.
Neste sentido, entende-se que o projeto apresenta grande potencial de aplicação e
replicação em outros lugares haja vista a importância e a necessidade de se tratar das questões
ambientais em todas as esferas da sociedade. No caso específico de escolas, este é um público
constantemente preocupado com novas metodologias e formas de tratar essas questões, até
por imperativo dos programas escolares. Já as comunidades ou locais com alguma situação
ambiental preocupante, como por exemplo, o caso da nascente aqui referida ou outros como:
depósitos de lixo, entulhos em calçadas, poluição de rios, lagos, entupimentos de bueiros,
depredações em geral, para citar alguns, é possível inspirar-se em algumas atividades
apresentadas e mesmo melhora-las e adapta-las a realidade local. Espera-se que nossa
passagem pelas escolas contribua com a sensibilização de todos os envolvidos no que
concerne as questões ambientais do bairro e dos problemas mais gerais nessa área do
conhecimento. Esperamos também que toda a comunidade escolar e fora dela promova a
continuação do projeto e cuide melhor da qualidade do seu ambiente de vida.
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CONSIDERAÇOES FINAIS:
Com as ações desenvolvidas até agora na escola, pode-se perceber o envolvimento
ativo e alegre dos estudantes, dos professores e a grande parceria da direção e equipe técnica
da escola. As atividades realizadas em sala de aula e em campo com os estudantes têm
surpreendido pela sua disposição e conhecimento que já mostravam ter a respeito de questões
ambientais.
Os acadêmicos do Curso de Ciências Biológicas que experienciaram a articulação da
extensão curricular por meio deste projeto, testemunham que foi uma vivência de extrema
relevância em suas vidas acadêmicas, pela oportunidade de conhecer uma realidade da cidade
até então desconhecida para a maioria.
Esta prática envolveu momentos de criatividade e de ação pedagógica dada a
necessidade de preparar os temas selecionados na escola e as atividades para as oficinas. Por
outro lado, também trouxe a experiência aos bolsistas da necessidade de envolvimento,
compromisso e responsabilidade diante das ações realizadas. Diante dos desafios, todos estão
aprendendo e crescendo em conhecimento e maturidade, especialmente no que se refere a
aplicação dos postulados freireanos, que agora começam a ser incorporados de forma
sistemática por todos os membros da equipe.

REFERÊNCIAS

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Dunya, 2003.
BRASIL. RESOLUÇÃO No 2, DE 15 DE JUNHO DE 2012, que estabelece as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. DOU no 116, Seção 1, págs. 70-71 de
18/06/2012.
_______. Lei n. 9795 - 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental. Política
Nacional de Educação Ambiental. Brasília, 1999.
CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo:
Cultrix, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 41 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. 213 p.
_______, Paulo. Extensão ou Comunicação? 16 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.
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GIASSI, Maristela Gonçalves; GIASSI, Dourival; SIERVI, Elizabeth Maria Campanella de.
AMBIENTE E CIDADANIA: Educação Ambiental em escolas do Território Paulo Freire
localizada próximas à nascente do bairro Santo André. Projeto de Extensão. Programa
Território Paulo Freire. UNESC, 2016.
GUTIÉRREZ, F.; PRADO, C. Ecopedagogia e cidadania planetária. São Paulo: Cortez:
Instituto Paulo Freire, 1999.
LOBODA, Carlos Roberto; DE ANGELIS, Bruno Luiz Domingos. ÁREAS VERDES
PÚBLICAS URBANAS: CONCEITOS, USOS E FUNÇÕES. In: Ambiência - Revista do
Centro de Ciências Agrárias e Ambientais, Guarapuava/PR, V. 1 No 1, p. 125-139, Jan/Jun,
2005.
LÜCK, Heloisa. Pedagogia interdisciplinar: fundamentos teóricos-metodológicos. Rio de
Janeiro: Vozes, 1994. 91p.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 11 ed. São Paulo:
Cortez, Brasília, DF: UNESCO, 2006, 118 p
PAMPLONA, Maurício. SIERVI, Elizabeth de. Sistema de espaços livres na Região da
Grande Santa Luzia, Criciúma/SC: Contribuições para inserção da comunidade na
qualificação do espaço urbano municipal. In: 13º Encontro Nacional de Ensino de Paisagismo
em Escolas de Arquitetura e Urbanismo no Brasil, Salvador, 2016.
U N E S C – T e r r i t ó r i o P a u l o F r e i r e . S i t e d o P r o g r a m a. A c e s s o :
http://www.unesc.net/portal/capa/index/455/7724; Data de acesso: 02/02/2016.
UNESC. Blog. Alunos de Arquitetura levam melhorias à escola da região. Setor de
Comunicação Integrada, 15 de maio de 2017. Disponível em:
<http://www.unesc.net/portal/blog/ver/71/38177>. Acesso. 15/06/2017.

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