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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

SECRETARIA DE COORDENAÇÃO DA AMAZÔNIA


PROGRAMA PILOTO PARA AS FLORESTAS TROPICAIS DO BRASIL
PROJETO DE APOIO AO MONITORAMENTO E ANÁLISE (AMA)

“Oficina de Intercâmbio e Capacitação em Sistematização de Experiências”

Brasília, 3 a 5 de novembro de 2004

Ministério do Meio Ambiente

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Fotos: Petra Ascher e Raïssa Guerra
Capa: dinâmica da abertura da Oficina
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Oficina de Intercâmbio e Capacitação em
Metodologias de Sistematização de Experiências

Brasília, 03 a 05 de Novembro de 2004


Promoção: AMA/Programa Piloto

1. Contexto

O Projeto de Apoio ao Monitoramento e Análise/AMA do Programa Piloto para a Proteção das


Florestas Tropicais Brasileiras/MMA vem realizando uma série de eventos de formação das equipes
técnicas dos diferentes projetos que compõem o Programa Piloto. Essa formação está sendo feita nas
áreas de monitoria e avaliação de programas e projetos e sistematização de experiências e tem
caráter de formação porque tem continuidade, procurando ir além dos momentos singulares de
capacitação.

Alguns conceitos importantes para o trabalho de monitoria, avaliação e sistematização começaram a


se construir nos diversos Programas e Projetos do Programa Piloto ao longo dos últimos dois anos.
Houve um primeiro curso em 2003 sobre monitoria de projetos, para o qual o AMA trouxe a
consultora Irene Guijt, da Holanda, com experiência de muitos anos no Brasil (com o CTA Zona da
Mata) e com o Preval/FIDA, na América Latina. Irene trabalhou o conceito de monitoria como
aprendizagem, abrindo novas e fecundas possibilidades de como monitorar, por que, para que, quem
faz, de que maneira (instrumentos, técnicas).

No início de 2004, o AMA proporcionou às equipes do Programa Piloto um curso/oficina com o


professor Oscar Jara, da Costa Rica, sobre sistematização de experiências. O conceito de
sistematização utilizado por Jara vem da educação popular e tem a ver com empoderamento dos
atores diretos das experiências e com construção de conhecimento a partir da prática, em diálogo
com a teoria. Tem uma intenção política clara: “o desafio político de aprender de nossas práticas” é o
título de um texto de Jara que explica o fundamento da proposta.

A oficina com o professor Oscar foi considerada excelente por todos os participantes e ficou evidente,
para o AMA, a necessidade de continuar o processo de formação nessa linha. Dada a impossibilidade
do professor Jara voltar ao Brasil ainda em 2004, o AMA pediu às equipes envolvidas sugestões de
como seguir o processo; daí surgiu a proposta de se fazer um seminário de intercâmbio de
metodologias de sistematização, com a idéia de se aprender com as práticas dos outros.

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2. Entendendo a proposta

O seminário/oficina foi montado a partir das dúvidas e necessidades referidas pelas equipes dos
distintos projetos do Programa Piloto quanto à aplicação do aprendido no curso/oficina com o
professor Jara. As pessoas indicaram lacunas de informação, temas sobre os quais gostariam de
conhecer mais, dúvidas práticas, e, sobre essa base, o AMA, com o apoio das consultoras, montou a
proposta do seminário.

A primeira idéia era de um seminário de intercâmbio com narrativas concretas de práticas de


sistematização, em formato de apresentações seguidas de pequenos debates. Esta idéia evoluiu para
uma proposta mais híbrida, mesclando seminário de intercâmbio – ouvir experiências alheias – com
um caráter também de oficina, contemplando momentos de trabalho em grupos e de elaboração de
questões pelas equipes participantes.

O professor Jara indicou uma especialista com quem trabalha, a professora Pilar Ubilla, educadora
popular e membro da MFAL, do Uruguai, que aceitou participar do evento. A equipe ficou então
composta por: cooperante da GTZ e equipe do AMA, consultora em metodologia e moderação, e
consultora temática.

Analisando as dúvidas e questões sugeridas pelos projetos do Programa Piloto, a equipe montou um
primeiro esboço de programa, aglutinando temas. Chegou-se a quatro temas de maior interesse:
- Tema 1: Análise da narrativa, enfatizando:
o Papel do especialista externo
o Elaboração de lições
- Tema 2: Como trabalhar com tradição oral
- Tema 3: Relação entre monitoria e sistematização; níveis de sistematização – programa e
projeto; sistematização de mudanças institucionais
- Tema 4: Uso da informação, com ênfase na criação de opinião e “advocacy”

A partir dessa definição, buscou-se encontrar experiências que pudessem trazer insumos interessantes
para o debate. Foram identificadas experiências dentro e fora do Programa Piloto, sendo que uma das
que foram convidadas não pode comparecer (sistematização da experiência no Hospital Infantil de
Curitiba, texto estudado pelas equipes do Programa Piloto no curso/oficina do professor Jara). Foram
convidadas no total – e puderam participar – quatro experiências de fora do Programa Piloto e quatro
do próprio Programa.

A metodologia inicial previa uma rodada de apresentações, com pequeno tempo para debate logo
após cada apresentação e, ao final de cada rodada, um tempo para trabalho em grupos para

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aprofundar sobre o tema. A idéia era também evitar o cansaço de muitas exposições seguidas, dando
mais dinâmica ao encontro.

A equipe organizadora montou uma proposta que, ao mesmo tempo em que trazia informações de
práticas concretas externas e internas ao Programa Piloto, abria possibilidade de debate entre as
equipes que vêm fazendo essa formação com o AMA, e ainda as explanações e debates com a
consultora temática para sanar dúvidas e aprofundar questões. Um esquema híbrido, com elementos
de seminário, de curso e de oficina, a fim de ser o mais prático e concreto possível e de oferecer
subsídios concretos às equipes do Programa Piloto.

A equipe organizadora solicitou aos palestrantes que preparassem uma apresentação de 30 minutos
sobre sua experiência, enfatizando o aspecto pelo qual haviam sido convidados e narrando a
metodologia utilizada, procurando informar questões bem concretas do tipo: como fizeram, quanto
custou, quanto tempo foi necessário, quem participou, principais dificuldades encontradas. Foram
oferecidas 3 vagas por projeto do Programa Piloto e as inscrições feitas diretamente no AMA pelos
interessados.

3. Começando a velejar

3.1. Abertura e mística: ritos iniciais

As palavras de abertura foram ditas por Brent Millikan, coordenador do Projeto AMA, e por Petra
Ascher, cooperante da GTZ no projeto. Foi enfatizado o processo de formação no qual o AMA vem
investindo e o contexto deste seminário/oficina.

Como dinâmica de abertura, a moderadora reuniu em círculo os participantes e, com a colaboração de


Denise Lima (GTZ-PDA), propôs o seguinte exercício: foi colocada no centro do círculo uma pintura
abstrata, com cores pretas, azuis, verdes e amarelas, que havia sido preparada antes por Denise e
Vanessa, para este fim. A figura não continha elementos formais definidos, com exceção de um
formato propositalmente pintado por Denise em amarelo sobre o borrão preto. Foi solicitado a cada
participante que dissesse o que via naquela figura. Cada um dizia o que via, e também se apresentava
– seu nome, projeto e expectativa em relação ao seminário.

Cada pessoa viu uma coisa distinta; alguns não viram nada, dois pareceram incomodados com o
exercício, que lhes pareceu sem sentido, e outros viram o que alguns descreveram. Foi um processo
extremamente rico de interpretação e de “leitura”. Ao final, Denise explicou o sentido do exercício –
buscar essa “leitura”, essa interpretação do novo, do inesperado, do que foge aos padrões – e
também falou do símbolo que havia pintado, que era a representação do infinito e a abertura para o
conhecimento, desejando que este símbolo regesse nosso encontro. Vanessa terminou o exercício

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dizendo que o desafio é esse: “ler” onde parece que não há coisas conhecidas ou familiares,
complementar “minha” visão com a dos outros, somar interpretações, buscar “decifrar signos” mesmo
não sendo “sábios competentes”. Falou ainda da necessidade de aprender a valorizar as diferentes
visões e “leituras”, inclusive a das populações não alfabetizadas que são, muitas vezes, os
protagonistas dos projetos com os quais trabalhamos. Para terminar essa “mística”, leu um poema de
Cecília Meireles chamado O Menino Azul:

O menino quer um burrinho


para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho


que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
- de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho


que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo


que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,


pode escrever
para a Rua das Casas,
Numero das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)
Cecília Meireles

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3.2. Objetivos e metodologia

A partir das expectativas colocadas pelos participantes na roda inicial, a moderadora deixou claros os
objetivos do seminário/oficina e a forma como o trabalho foi organizado, de maneira a tratar dos
quatro temas selecionados. Explicou o porquê desses temas, o processo de organização do evento e o
formato escolhido, que mistura palestras, debates, trabalhos em grupo e explanações da consultora
temática convidada.

Na prática, a metodologia proposta teve que passar por várias adaptações, prejudicando o tempo dos
trabalhos em grupo e privilegiando mais momentos de exposição da consultora temática convidada.
Isso aconteceu porque verificamos, ao longo do trabalho, que havia muitas lacunas e desnivelamento
de conhecimentos entre o grupo sobre o tema e também que as apresentações geravam uma série de
novas questões, dúvidas e necessidade de aprofundamento. As adaptações feitas no programa
também obedeceram a questões de ordem prática (por exemplo, atraso na chegada de uma das
palestrantes) e de ordem lógica (por exemplo, uma palestrante que vinha para o tema 3 na verdade
tratava do tema 4). Essas adaptações foram feitas sobretudo buscando favorecer o alcance dos
objetivos do seminário, focalizados em:

Conhecer outras formas de sistematizar


Avançar em elucidação de dúvidas e dificuldades
Debater a situação de sistematização nos projetos do Programa
Piloto

Foram privilegiados os dois primeiros objetivos e o terceiro foi trabalhado de forma indireta,
considerando que quatro das oito apresentações foram de experiências do Programa Piloto. Também
no momento de trabalho em grupos foi solicitado às pessoas sugestões de temas e formas de
continuar o processo de formação para sistematização no âmbito do Programa Piloto.

As dinâmicas utilizadas ao longo do seminário, como exercícios de animação, de concentração, de


atenção e de integração, foram: contar substituindo certos números e seus múltiplos pelo som de
Pum!; fazer e desfazer um “nó” coletivo com as mãos; nomear a parte do corpo que mais refletisse o
trabalho realizado, dizer o porquê da escolha e, depois, ter que beijar a parte nomeada por seu colega
da esquerda.

3.3. Nivelando conceitos

Para iniciar o seminário, e considerando a participação de técnicos que não haviam estado presentes
no curso do professor Oscar Jara, Pilar Ubilla fez uma explanação inicial retomando o conceito de
sistematização de experiências utilizado pela corrente da educação popular e apresentou o power

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point dos cinco passos da sistematização (o mesmo utilizado pelo professor Jara no curso anterior –
anexo 1).

Começou enfatizando o conceito de sistematização como produção de conhecimento a partir da


prática, que pode dialogar com a pesquisa científica ou acadêmica tradicional, cujo marco a
sistematização de experiências questiona e amplia. No sistema tradicional, existe a separação do
sujeito em relação ao objeto, quem sabe X quem faz; na sistematização, essas separações não
existem. Ocorre uma produção coletiva de conhecimento, que valoriza o plano subjetivo tanto quanto
o objetivo e que portanto questiona a neutralidade, já que o sujeito que produz conhecimento é o
sujeito da prática.

Sistematizar experiências PARA QUÊ? Essencialmente, para reorientar a prática e para generalizar
algumas aprendizagens. Essa generalização é o aprendizado, o conhecimento produzido, que deve
dialogar com a teoria. A sistematização busca conhecer relações, articulações, com um olhar para as
multicausalidades da realidade, que é complexa. O jogo da sistematização é buscar o equilíbrio entre
a simplificação e a complexidade, descobrindo os sentidos que estão na prática.

A apresentação do power point “Como sistematizar: uma proposta em cinco tempos” (anexo 1 deste
relatório) recuperou os passos do processo, as perguntas iniciais (Por quê? O quê? Para quê? Quem
faz?), e os momentos: definir os objetivos e a utilidade da sistematização; delimitar o objeto a
sistematizar; precisar o eixo e fazer a recuperação histórica e o ordenamento das informações; fazer a
interpretação crítica; formular conclusões; e finalmente comunicar a aprendizagem.

Os participantes fizeram algumas perguntas e pediram alguns esclarecimentos, embora a maioria já


tivesse tido contato com esse conceito e essa metodologia, no curso de Oscar Jara. Essa introdução
ao tema tinha o objetivo de lembrar o conceito àqueles que tinham participado da oficina com o
professor Jara, e também de introduzir o tema para aqueles que o tratavam pela primeira vez. Ao
longo do seminário, verificou-se que não estava tão claro assim o conceito e foi necessário, a cada
dia, retomar questões de nivelamento conceitual.

4. Em pleno mar: aprendendo com os diferentes ventos

4.1. Tema 1 – Análise da narrativa


4.1.1. Primeira apresentação: Neusa Zimmermann1, experiência de
sistematização de projetos de gênero FIG/CIDA (slides em power
point compõem o anexo 2 deste relatório)
Ênfase: papel do especialista externo

1
Coordenadora do Fundo para a Igualdade de Gênero da Agência Canadense de Cooperação/ CIDA
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Neusa Zimmermann apresentou o processo de construção das narrativas de sistematização que foram
publicadas em coletânea do FIG/CIDA. Participaram desta sistematização a CNB, a CUT/PARAÍBA, a
ADITEPP, a REDEH e o CEAO/CEAFRO. O trabalho foi orientado por Maria Mercedes Barnechea, do
Taller Permanente de Sistematización (Peru). Quem trabalhou na sistematização foram equipes
designadas pelos projetos e beneficiári@s diret@s, com dedicação de apenas uma hora por dia, finais
de semana e horários noturnos. Fizeram uma previsão de gastar 8 meses para realizar o trabalho,
mas o tempo real foi de 12 meses.

Os passos da sistematização foram: uma capacitação inicial de 4 dias, a elaboração do projeto de


sistematização de cada experiência, em seguida a reconstituição da experiência (aproveitando para
isso os registros formais, fotos, vídeos, memórias da equipe, visões dos participantes, escuta atenta e
gravação de depoimentos), prevista para 2 meses; com todo esse material, a elaboração do Quadro
de Reconstituição da Experiência; depois, análise em reuniões com equipe, beneficiários e
consultores, etapa prevista para durar 4 meses; e, finalmente, elaboração do documento de
comunicação, previsto para 2 meses de trabalho.

A fase de análise foi definida como “analisar as diferentes informações e visões dos elementos de um
processo vivido numa determinada experiência, de modo a compreender sua lógica interna e obter
aprendizagem e conhecimentos novos”.

Os procedimentos adotados em todo o processo foram definidos pelas etapas ou momentos, com foco
no objetivo e no objeto concreto da sistematização. Foi feita uma leitura crítica do Quadro de
Reconstituição da Experiência, elaborado a partir de consultas aos beneficiários. Foram reconstituídos
o processo e o contexto da experiência. Como instrumento metodológico, foram formuladas e re-
formuladas perguntas orientadoras e foram estabelecidos conceitos e teoria para dialogar com a
prática, a partir da pergunta-eixo. O Quadro de Reconstituição foi submetido à análise externa e
reformulado, quando foi necessário. Todo o trabalho foi coletivo, mas com responsabilidades bem
definidas. Foi visualizado o Quadro de Consistência da sistematização, com o tema e a pergunta
central (ver exemplo no anexo 2 deste relatório) e elaborado um diagrama de perguntas – da mais
geral às mais específicas (ver quadro abaixo):

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o Diagrama de perguntas:

Pergunta chave

Pergunta concreta A Pergunta concreta B

Pergunta B1
Pergunta A1 Pergunta A2

Pergunta B1.1

O diálogo com a teoria aconteceu segundo a necessidade real, havendo flexibilidade em todo o
processo. Os documentos iam sendo elaborados de acordo com os achados da análise.

As principais dificuldades vividas foram: desvio para investigação ou avaliação; perda do foco na
experiência a ser sistematizada; elaboração de perguntas muito amplas, mais típicas de investigação,
ou perguntas óbvias; não utilização devida do Quadro de Reconstituição; realização concomitante de
fases (reconstituição, análise e redação); pouco tempo de dedicação; opiniões obtidas na
reconstituição sem a necessária desagregação por sexo, raça/etnia; uso de marco teórico sem ligação
direta com a experiência concreta.

As lições aprendidas foram:


- A parada para reflexão mostrou que o ativismo é prejudicial ao alcance de resultados com
qualidade;
- As equipes formadas com membros da universidade tendem a uma reflexão mais dissertativa;
- A qualidade das análises está mais condicionada ao tempo disponível, do que ao volume de
informações obtidas;
- A possibilidade de utilização imediata do conhecimento adquirido, mostra a importância da
sistematização de projetos em curso;
- É necessário um certo distanciamento, seja de tempo ou de lugar, para que as idéias possam
se organizar e uma análise possa ser realizada;
- O Quadro de Reconstituição ajuda neste distanciamento;
- A utilização de conceitos e de teoria deve se dar como um suporte ao diálogo com a prática e
não se constituir num marco teórico geral e distanciado.

A partir da experiência de sistematização, Neusa propõe um novo arranjo para o ciclo do projeto,
incluindo a etapa de sistematização, considerada importante para projetos em curso. O ciclo (ver

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desenho no anexo 2 deste relatório) começa com o cenário desejado (objetivos, resultados e
indicadores), vai para o planejamento participativo de monitoria e avaliação, em seguida vem a etapa
de implementação, com o registro sistemático das informações; aí entra a análise das práticas, que
seria a sistematização, seguida do momento de avaliação participativa do projeto, que é a verificação
dos resultados obtidos em relação ao esperado; daí, se necessário, faz-se o re-planejamento do
projeto e volta-se ao re-planejamento de M&A, recomeçando o ciclo.

Debate: a apresentação de Neusa levantou uma série de questões na plenária, algumas dirigidas para
os temas dos projetos sistematizados, outras sobre o processo, sua metodologia e ferramentas
utilizadas.

Uma das questões foi como o processo de sistematização influenciou na questão da compreensão
sobre a identidade das adolescentes negras, empregadas domésticas (um dos projetos
sistematizados). Neusa explicou que a sistematização mostrou que o erro era na concepção do
projeto; havia uma idéia de que as meninas “rejeitavam” as atividades do projeto, mas o fato era que
elas não se viam como negras e empregadas domésticas, mas como adolescentes e estudantes. A
sistematização ajudou a que essa divergência de visão inicial viesse à tona.

Outra questão: que pré-condições são necessárias para se conduzir um processo de sistematização
com atores importantes distribuídos em diferentes partes do país? A resposta foi a ênfase no processo
comunicativo via email, inclusive criando um grupo de debate na internet. Neusa afirmou que o uso
do email foi intenso e muitas horas foram gastas em verdadeiros “debates virtuais”, e que isso
funcionou.

Foi perguntado quais são os elementos importantes e imprescindíveis para uma sistematização
exitosa, que ela definiu como: interesse das pessoas envolvidas, inclusive criando tempos quando
esses não existem formalmente; o reconhecimento da importância da sistematização pela equipe,
pelas pessoas envolvidas e também pela instituição; contar com o apoio d@ especialist@ extern@,
que faz uma leitura crítica e mantém a coerência metodológica do processo. Falou também das
dificuldades desse processo à distância, com apenas uma visita da orientadora – no momento da
capacitação inicial – mas com o profundo envolvimento das equipes, que foi o que tornou possível
chegar à finalização do trabalho.

Sobre o Quadro de Reconstituição da Experiência, foi mostrado um modelo (abaixo) e também foi
lembrado aos participantes que existem várias possibilidades para esse quadro síntese, com exemplos
no material do curso oferecido pelo professor Oscar Jara. No exemplo abaixo, busca-se sintetizar os
fatos mais relevantes, organizados cronologicamente, com o registro dos atores e dos principais
resultados obtidos a partir daquele fato, e na última coluna o registro de perguntas derivadas desses
resultados, que levam a novas investigações da sistematização:

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DATA FATO/ COMO ATORES RESULTADOS PERGUNTAS
OCORREU

4.1.2. Tema I – Analise da Narrativa, segunda apresentação: Primeira


experiência de sistematização do PDA: erros e acertos, por Denise
Pufal2 (slides em power point compõem o anexo 3 deste relatório).
Ênfase: elaboração de lições

O PDA/Projetos Demonstrativos Tipo A começou a se aproximar do conceito de sistematização de


experiências com um curso promovido pelo Fundo Canadense de Gênero em 2001. Começou a buscar
recursos para fazer uma experiência piloto e conseguiu realizar uma primeira “aventura” entre junho
de 2003 e fevereiro de 2004, envolvendo 11 projetos. Para o PDA, a sistematização cumpre um
importante papel relacionado a resgate das aprendizagens comunitárias, crescimento individual e
institucional de cada organização ou grupo, empoderamento dos grupos e reorientação da prática,
promoção do debate, do automonitoramento e da percepção crítica das experiências, promoção da
participação social e um dos caminhos para influenciar políticas públicas.

O objetivo dessa primeira experiência era testar metodologia de sistematização. Os onze projetos
convidados eram de diferentes regiões do Brasil - AM, AC, PA, RO, BA, PE, SP, MA/ TO – e distintas
temáticas. No processo, foram capacitados 22 técnicos (dois por projeto) e a equipe do PDA. O
processo contou com orientação da professora Elza Falchenbach (Universidade de Ijuí) e os custos
foram, para os projetos em campo: média de R$ 20.000,00 por projeto; para o acompanhamento do
PDA e as três oficinas de capacitação: R$ 110.000,00.

A proposta metodológica da professora Elza foi composta dos seguintes passos ou momentos:
contextualização da experiência; definição dos objetivos da sistematização e sua utilidade; delimitação
do foco a ser trabalhado e seu detalhamento em perguntas orientadoras; identificação das fontes e
registros disponíveis; descrição dos passos concretos para se fazer a reconstrução histórica, a análise
e reflexão do vivido, criando para isso momentos coletivos; e construção e reconstrução das
narrativas. Foram realizadas três oficinas, a primeira para entendimentos iniciais, conceito, plano de
trabalho e acordos; a segunda, para revisão das dificuldades encontradas, dos avanços, e uma
primeira análise das narrativas ainda muito iniciais; e uma terceira, para revisão das narrativas e
debate sobre o uso da informação gerada.

Para o PDA, está claro que o processo ainda não terminou; as últimas revisões das narrativas não
foram retomadas pelos grupos e não se trabalhou os produtos finais ou sua divulgação. Uma das

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Cooperante da GTZ no PDA, fez parte da equipe técnica do Subprograma desde seu início
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razões para isso é que o financiamento para os projetos-piloto terminou, mas o PDA está consultando
sobre a possibilidade de uma oficina de avaliação; preparou um documento síntese sobre o processo e
espera publicizá-lo em breve.

Sobre o tema da elaboração de lições, Denise resgatou alguns aprendizados do curso com Irene Guijt:
frases soltas não convencem ninguém, tem que ter contextualização; é importante o “para quem” e
“para que”; deve-se identificar os limites da relevância; a chave da lição é o processo e não o
enunciado; lições têm prazo de validade limitado (quanto mais específica, mais provável ser
superada).

A partir dessas aproximações, comentou a experiência de elaboração de lições nas narrativas dos 11
projetos-piloto de sistematização, explicando que poucos deles conseguiram chegar à formulação de
lições. As razões para isso são, em parte, porque o resgate histórico/coleta de dados toma muito
tempo, precisa de fôlego no final; e também porque há necessidade de maior amadurecimento e de
mais um encontro coletivo para que o processo possa ser finalizado. Nesse caso, faltou tempo.

Chamou a atenção para um risco: como as s lições são o sumo da experiência, extraí-las depende de
um exercício de reflexão coletiva e é preciso cuidado para que uma pessoa não domine o processo.

Explicou que o PDA trabalhou a elaboração de lições aprendidas nas avaliações e estudos que realizou
– PDA 5 Anos, Estudo da Mata Atlântica, Estudo da Amazônia e Avaliação da RFT - abrangendo um
total de 62 projetos avaliados/consultados. Essa elaboração resultou em um texto intitulado Nove
Anos de Caminhada.

Para o PDA, o processo piloto de sistematização e a elaboração dos estudos e avaliações trouxeram
alguns aprendizados:
- a necessidade de capacitação em ferramentas para o resgate de informações (anterior ou
concomitante à sistematização): Linha da Vida, Diagrama de Venn, entre outros;
- adotar estratégia de capacitação menos teórica e mais vivencial;
- realizar a sistematização de um mesmo tema para vários projetos enriquece as análises,
propicia as análises comparativas e amplia a aprendizagem;
- é importante fixar prazos para as diferentes etapas;
- deve-se formar grupos de discussão (internet, encontros...);
- foi importante o PDA montar matriz de temas/componentes de interesse do Subprograma
para negociar com os subprojetos na hora de definir os objetos das sistematizações;
- o PDA deve apoiar as entidades na busca de fundos para sistematização e publicação das
narrativas;
- é importante aumentar o apoio para a elaboração das narrativas, valorizando as narrativas
orais, as filmagens e gravações;

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- embora trabalhando com o conceito de sistematização de experiências, não se pode prescindir
da sistematização de dados;
- é fundamental adotar a sistematização como elemento do Sistema de Monitoria e da
automonitoria, que geram informações para a sistematização;
- na elaboração de lições, é importante valorizar as aprendizagens comunitárias, embora
pareçam modestas em relação a outras experiências. Isso significa valorizar o processo e não
somente o resultado.

No debate que se seguiu, as questões mais relevantes foram em relação à escolha dos temas ou
focos da sistematização dos 11 subprojetos – como se deu, com que critérios – e quais os elementos
fundamentais para a sistematização. Denise explicou que o PDA montou uma matriz com temas e
componentes, que eram as áreas de atuação do subprograma e os aspectos que apareciam com
maior freqüência e destaque nos processos de avaliação e nos estudos, e cada subprojeto escolheu
um ou mais desses temas e componentes para definir seu foco, de maneira relacional – matricial.
Alguns subprojetos propuseram novos temas/componentes que não constavam da matriz. Foi um
processo aberto de negociação, em que o PDA sugeriu um ponto de partida – a matriz – e os
subprojetos definiram seus interesses. A questão de gênero foi definida por dois subprojetos como de
seu interesse, mas depois a abandonaram, ao iniciar de fato o trabalho da sistematização.

Sobre os elementos-chave para o sucesso de um processo de sistematização, definiu como sendo: o


tempo – é preciso ter tempo para esses processos, inclusive para que amadureçam; a dedicação/
motivação das pessoas e instituições envolvidas; a assessoria especializada, tanto em sistematização
quanto no tema especifico que é objeto de cada experiência; os intercâmbios e momentos coletivos; e
ter equipes definidas em cada projeto para levar o processo até o final.

4.2. Tema 2 - Como trabalhar com tradição oral


4.2.1. A sistematização da historia do Projeto RECA – Reflorestamento
Econômico Consorciado e Adensado: Resgate de uma Caminhada,
por Tereza Moreira3 e Sérgio Lopes4. (slides em power point são o
anexo 4 deste relatório)

Começaram dizendo que, frente às explicações da consultora Pilar Ubilla, percebiam que o que haviam
trabalhado no RECA não era exatamente um processo de sistematização de experiência, já que não se
encaixava no conceito utilizado; mas foi um trabalho de resgate histórico que surgiu de uma demanda
do RECA ao MMA para comemorar os 13 anos do projeto, que é uma associação de pequenos
produtores que iniciou o trabalho em 1988.

3
Jornalista, consultora contratada pelo MMA/SCA para o trabalho com o RECA

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A idéia era envolver a comunidade na coleta de dados e relatos, por meio de um concurso, e produzir
materiais de divulgação a partir dessa história: vídeo, livro, e um kit divulgação com folder, banner,
bolsa e camiseta. Esperava-se premiar os melhores relatos, fotos e desenhos da comunidade e
trabalhar sobre todo o material recolhido.

O centro da metodologia era o concurso; para prepará-lo, a consultora do MMA (Tereza Moreira) fez
uma viagem de dez dias ao RECA, onde entrevistou diversas pessoas, gravando depoimentos, e
definiu, em conjunto com a coordenação do projeto, as categorias do concurso: histórico da entidade,
forma de organização, SAFs, processamento, assistência técnica e parcerias, o trabalho das mulheres,
a visão de crianças e jovens e a relação com a comunidade.

O trabalho foi realizado entre abril de 2002 e julho de 2003. No primeiro momento (abril) foram feitos
os primeiros contatos e definidas as categorias do concurso; em setembro foram gravados novos
depoimentos, houve a assembléia do RECA e o julgamento do concurso; e em julho do ano seguinte,
a premiação e lançamento dos materiais produzidos. Entre abril e setembro, foram definidas as regras
e feita a mobilização e divulgação do concurso, que resultou em 127 trabalhos inscritos e centenas de
fotos. Os trabalhos eram relatos, desenhos, mapas, depoimentos e estudos técnicos. Foram
premiadas dezenas de pessoas e os prêmios foram máquinas, equipamentos e viagens de intercâmbio
a outros projetos e experiências inovadoras no tema da categoria premiada.

Para a publicação do livro, foram utilizados os 127 trabalhos premiados, as fotos e as 15 horas de
depoimentos gravados. O material coletado tinha a característica de mostrar mesma história contada
de diferentes ângulos, revelando grande apropriação pela comunidade. Foi feita uma escolha de
narrativa que ressaltasse esse elemento: colcha de retalhos de depoimentos, com inclusão de capítulo
final sobre perspectivas da entidade e de anexo contando o processo de produção.

O lançamento do livro e do vídeo foi feito em três lugares: no próprio RECA, com festa que durou 2
dias; em Rio Branco, evento com participação de órgãos do governo e ONGs; e no evento de
comemoração do centenário do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.

No debate, uma das questões foi sobre o custo da divulgação em relação ao de produção, se é
possível estabelecer uma relação entre esses custos; responderam que não fizeram um cálculo e que
erraram muito na divulgação, não planejando exatamente o que fazer e para quem enviar o material,
mas que calculam que uns dez por cento sobre o custo de produção é o mínimo, se se quer fazer
divulgação do material.

4
Um dos fundadores do RECA, produtor familiar rural e professor, hoje trabalhando no Governo do
Acre
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Sobre o impacto do livro no dia a dia do RECA – se trouxe alguma reflexão para a mudança de rumos
da organização – disseram que o processo todo foi muito rico e que a reflexão é parte constante do
jeito do RECA trabalhar. O livro ajudou muito em elevação de auto-estima e as viagens
proporcionadas pelos prêmios do concurso foram muito importantes para as pessoas que participaram
delas. Um exemplo foi o prêmio das mulheres, que foi coletivo – enfrentaram uma viagem enorme, de
ônibus fretado, que deu uma série de problemas na estrada, mas voltaram felizes por ter visitado
outras experiências e dispostas a enfrentar qualquer situação de desconforto porque a viagem em si
compensava tudo.

Uma outra questão foi sobre o grau de interferência da consultora ao “costurar” os depoimentos – se,
na intenção de dar maior coesão ao material, houve algum grau de manipulação do que foi dito pelos
entrevistados. Tereza respondeu que havia muita coesão nos depoimentos e relatos, e que portanto
isso não foi um problema. Disse que o “subjetivo” não ocultava a narrativa comum e que os pontos
polêmicos são destacados – não há tentativa de homogeneizar tudo ou de ocultar esses pontos, mas
a metodologia foi simplesmente a de destacá-los.

Ainda sobre a metodologia empregada, tiveram momentos coletivos para conversar, ver fotos,
“entrevistas coletivas” e gravação das reações às fotos – as pessoas se vendo, vendo os momentos
passados e comentando.

4.2.2. Como Trabalhar com Tradição Oral - A experiência da Wyty Catë/CTI


– Centro de Trabalho Indigenista, com apoio do PDA, por Andréia
Bavaresco5 (apresentação em power point é o anexo 5 deste
relatório).

Andréia apresentou a experiência de um dos 11 projetos do PDA que participaram da experiência


piloto de sistematização. Foi o Projeto Frutos do Cerrado, da Associação Wyty-Catë dos Povos
Timbira do Maranhão e do Tocantins, em parceria com o Centro de Trabalho Indigenista.
Contextualizou o Projeto Frutos do Cerrado – objeto de uma das publicações da Série Experiências do
PDA, os povos Timbira, a Associação Wyty Catë e o CTI, antes de entrar no tema propriamente dito.
O projeto existe há quase dez anos e teve duas fases: uma de aliança entre a organização indígena e
as organizações de pequenos produtores rurais da região, e uma segunda fase, em que os índios se
separam dos não-índios. A associação indígena nasceu praticamente junto com o projeto, que hoje é
apenas um de seus interesses e atribuições.

5
Agrônoma, membro da equipe técnica do CTI no Programa Timbira
16
O processo de sistematização aconteceu entre agosto e dezembro de 2003, com o apoio do PDA e a
orientação preciosa da professora Elza Falchembach, da Unijuí. Os responsáveis foram diretores da
Wyty Catë, pelo lado indígena, e assessores do CTI, tendo como participantes todos os atores
envolvidos no processo de formação e gestão da Wyty Catë – diretores, conselheiros, jovens
estagiários, técnicos do CTI.

O objetivo da sistematização era gerar reflexão e discussão entre as aldeias associadas à Wyty-Catë
sobre o papel do Projeto Frutos do Cerrado no fortalecimento institucional da organização indígena, e
o foco ficou definido como o desenvolvimento organizacional/institucional da Associação. Os eixos
temáticos escolhidos foram: relação de gerações (velhos x jovens); relação entre os diferentes grupos
associados à Wyty-Catë; e relação com os não-índios (parcerias no Projeto Frutos do Cerrado).
Interessante destacar que os eixos foram todos relacionais, seguindo a orientação da professora Elza.

Ao trabalhar o que fazer o e como fazer, a equipe, composta por índios e não-índios, decidiu que teria
que trabalhar com a linguagem oral porque é a linguagem dos índios; que era importante trabalhar o
conhecimento situado e utilizar linguagem clara, acessível e de fácil disseminação e reprodução. Isso
levou à reflexão sobre o produto final, que deveria servir como instrumento de reflexão e mobilização
e contribuir para o amadurecimento e capacitação da Wyty-Catë. Por isso, decidiram por um produto
em linguagem áudio-visual – um vídeo – que, por meio de narrativas individuais e sob diferentes
visões, expusesse o papel da Wyty Catë nas comunidades e ajudasse a refletir sobre seu percurso
institucional desde o início de sua existência. A ênfase estava toda na linguagem oral.

Para a realização do trabalho, foi feito um resgate histórico a partir dos materiais existentes, inclusive
de documentários e trechos gravados em vídeo ao longo da existência da Wyty Catë e do Projeto.
Foram feitas reuniões e entrevistas individuais com os atores envolvidos, gravadas com o apoio de um
técnico contratado para este fim. Alguns momentos importantes não foram registrados, como a
assembléia da Wyty Catë em 2003, e muitas entrevistas ficaram prejudicadas pelo estranhamento que
causa a câmera. Imagens de arquivo foram utilizadas junto com as novas para se fazer uma pré-
edição do vídeo, que ficou com aproximadamente uma hora de duração.

Como produtos do processo de sistematização, a Wyty Catë conta hoje com esse vídeo pré-editado,
que serve como instrumento didático para reflexão dos jovens timbira, e com maior capacidade de
resgate histórico.

As dificuldades encontradas no processo foram, por um lado, conciliar as demandas locais com o
processo de sistematização, já que todos são muito solicitados pelo trabalho cotidiano; por outro lado,
questões mais conceituais que enfrentam no dia-a-dia do trabalho, por exemplo a dificuldade dos
índios separarem CTI, FrutaSã e Wyty-Catë. Outra questão difícil foi conciliar as narrativas dos
técnicos do CTI e da população local, já que os técnicos falam com muito mais fluência frente à

17
câmera. E, na questão específica da linguagem oral, a dificuldade dos índios se expressarem na língua
portuguesa ou, como refletiu Andréia, nossa dificuldade em entender o português deles.

Quanto à continuidade do processo, a Wyty Catë e o CTI esperam fazer a edição e reprodução do
vídeo, a fim de difundir a experiência dentro e fora das aldeias, no cenário mais amplo de debate
sobre experiências de desenvolvimento sustentável. E o CTI está procurando adotar a sistematização
como prática cotidiana e instrumento de reflexão das diferentes ações e iniciativas de forma contínua
e participativa. Andréia deu um depoimento muito vívido de como a prática da sistematização mudou
sua forma de trabalhar e o quanto aprendeu nesse processo.

A apresentação desta experiência, feita de forma bastante envolvente, despertou grande interesse
entre os participantes do seminário. Respondendo às questões, Andréia explicou que a edição foi feita
pelo técnico, mas com decisão da equipe da sistematização – índios e não índios – sobre o que
colocar e o que não colocar. Que a decisão de fazer o vídeo em português tinha a ver com a intenção
de utilizá-lo como elemento de difusão fora das aldeias, mas que se pretende fazer outro vídeo na
língua indígena – e há bastante material já recolhido para isso. A idéia original era sempre a de se
fazer dois vídeos – um na língua, para uso interno, e um em português, para fora.

Explicou que quem escolheu os eixos temáticos foram os diretores índios, e que a questão de relações
faz parte da política da aldeia – tudo são relações, por isso eles valorizam tanto essa questão. No
vídeo, as relações são trabalhadas por meio de entrevistas – os mais jovens falando de seu papel e do
papel dos mais velhos, e vice-versa. Andréia acredita que as relações de geração – jovens e velhos –
e as relações entre os diferentes povos e aldeias Timbira que compõem a Wyty Catë foram
trabalhadas no vídeo, mas considera que as relações com os parceiros não índios do Projeto Frutos do
Cerrado não tiveram a mesma ênfase.

Sobre o Projeto frutos do Cerrado em si – que despertou grande curiosidade no público do seminário
– explicou que os índios o vêem mas como a fábrica Fruta Sã, que é a marca com a qual as polpas
são comercializadas. A Fruta Sã, uma Sociedade Ltda cujos sócios são a Wyty Catë e o CTI e cujo
lucro deve reverter totalmente para a primeira, é o braço econômico do projeto e o mais visível, mas
o projeto é composto de vários outros elementos.

Sobre a possibilidade de se fazer uma versão mais condensada do vídeo, ressaltou que essa é a
intenção – o que existe hoje é apenas uma pré-edição. Quanto a documentar a reflexão sobre o
trabalho, esclarece que existe muita coisa já escrita e inclusive publicada sobre os quase 30 anos de
parceria do CTI com os Timbira.

Perguntada sobre a percepção a respeito do fortalecimento institucional da Wyty Catë e se a


sistematização contribuiu para isso, ela disse que a associação está sem dúvida mais madura, com um

18
papel muito mais político, hoje, do que em seu início. E que se pode perceber o avanço, por exemplo,
na decisão tomada na última assembléia que determinou uma reformulação da estrutura da Wyty
Catë, permanecendo apenas um assessor não índio. Em 2005, a associação vai gerenciar pela
primeira vez, sozinha, projetos próprios.

O processo de sistematização foi rico para todos que participaram; as dificuldades principais tiveram a
ver com o pouco tempo e com a própria maneira de trabalhar com o vídeo, que muitas vezes inibe a
espontaneidade dos depoimentos. Mas foi uma experiência muito valiosa para todos, serviu para uma
reflexão interna – e o vídeo continua servindo, inclusive como material didático na formação dos
jovens – e ela, pessoalmente, inseriu a sistematização e seus procedimentos em sua prática de
trabalho.

4.3. Tema 3: Relação entre monitoria e sistematização; níveis de


sistematização – programa e projeto; sistematização de mudanças
institucionais

4.3.1. Primeira apresentação: a experiência da FLONA Tapajós, por Paulo


Sérgio6 e Viviane Gonçalves7, do Pró Manejo (power point no anexo 6
deste relatório)

Viviane iniciou a apresentação contextualizando o Pró Manejo e a FLONA Tapajós, o trabalho que
vinha sendo feito e a necessidade de se contar com um consultor externo que assumisse o processo
de sistematização. O projeto contratou então Paulo Sérgio, que vem fazendo este trabalho.

O conceito com que eles vêm trabalhando é o mesmo apresentado pela professora Elza, no caso do
PDA, e pelo professor Oscar Jara no curso oferecido pelo AMA. Os objetivos da sistematização das
ações do componente IV do Pro Manejo foram definidos como: descrever as ações, seus produtos e
processos; promover um maior envolvimento dos atores no processo de reflexão crítica sobre os
resultados alcançados com a intervenção do ProManejo; contribuir com o SM&A com uma análise
qualitativa das informações obtidas no Componente IV; e extrair lições que auxiliem na orientação das
ações, na disseminação de experiências e na formulação de políticas para Florestas Nacionais. O
público envolvido é composto por órgãos governamentais, ONGs e comunidades. Os eixos temáticos
foram: gestão da FLONA compartilhada, modelo de uso sustentável e FLONA como estratégia de
conservação. Dentro desses eixos, os aspectos selecionados para serem sistematizados foram:
geração de renda - auto sustentação; capacitação de atores envolvidos/FLONA: técnicos,
comunitários, governo; infra-estrutura; assistência técnica aos projetos; educação ambiental e

6
Consultor, trabalhou no CTA Zona da Mata com Irene Guijt em monitoramento participativo
7
Coordenadora do componente FLONA Do Tapajós (ProManejo)
19
fiscalização; noções básicas de saúde; relação institucional - entre sociedade e governo; participação
comunitária na gestão da FLONA; e organização comunitária.

O processo aconteceu em oito etapas, incluindo três oficinas. Antes da primeira oficina e entre esta e
a segunda, muito trabalho de leitura, organização e proposição foi realizado pelo consultor. Na
primeira oficina, foram trabalhadas a linha do tempo e as mudanças significativas, além de aspectos
positivos e negativos da experiência vivida.

As informações foram coletadas por meio da leitura de documentos e de entrevistas individuais e


coletivas, e organizadas pelo consultor em duas etapas: 1) um quadro com as principais informações
sobre cada aspecto, incluindo atividades, informações relevantes, momentos significativos, resultados,
tensões e dificuldades; e 2) texto narrando e analisando as informações, incluindo hipóteses,
perguntas orientadoras, estratégias, ações, momentos significativos, resultados, tensões e
dificuldades. Esse texto também foi organizado em duas etapas: um texto organizado por ordem
cronológica dos acontecimentos, seguindo a estrutura de: situação inicial, intervenção e situação atual
(modelo PREVAL/FIDA); e um texto organizado para definição das conclusões e lições. Esses textos
foram o subsídio para o trabalho das oficinas: o primeiro (situação inicial / intervenção/ situação
atual) foi objeto de análise na segunda oficina e o segundo, analisado na terceira e última oficina.

O método utilizado permitiu análise conjunta, troca de informações, ampliar conhecimento, tratar de
diferenças, estabelecer acordos, encaminhar ações, corrigir rumos e também um processo de
capacitação; mas apresentou, como dificuldade principal, a inconstância na participação – embora
fosse desejável que ocorresse em todo o processo. Como procedimentos importantes, o consultor
destaca o fato de trabalhar os conceitos de forma gradativa, definir os aspectos de interesse dos
participantes, fazer o resgate das etapas vividas, construindo o conhecimento de forma progressiva, e
a preocupação com a linguagem – tentar utilizar uma linguagem simples e clara, respeitando a
heterogeneidade dos grupos envolvidos.

Ressaltou a importância de explicar as informações obtidas na sistematização e de buscar a inter-


relação entre elas, numa reflexão analítica; não tirar conclusões que não provenham das informações
obtidas e acordadas.

Esta apresentação levantou um animado debate entre o público do seminário, cuja dúvida central era
se se poderia dizer que este é um processo de sistematização de experiência ou mais bem um
processo de avaliação participativa; muitos consideravam que a multiplicidade dos aspectos
selecionados para sistematizar tornava a tarefa muito exaustiva, mais próxima a uma avaliação. Paulo
Sérgio explicou que a sistematização auxilia a avaliação; que surgiu, ao longo do trabalho, a avaliação
do processo vivido, das ações, não do programa como tal, considerando seu marco lógico.

20
Sobre o papel do consultor externo – se é possível que a equipe do projeto faça a sistematização, ou
se é necessário um consultor – a resposta foi que isso depende de avaliação interna da equipe, mas o
fato é que alguém tem que ser responsável. A pessoa externa ajuda a pensar as perguntas
orientadoras, o rumo e pode conciliar ações para não sobrecarregar a equipe, que geralmente está
muito envolvida com a execução do projeto no dia-a-dia. E respondendo se o ordenamento das
informações feito por uma assessoria externa interfere na análise crítica dos atores, é fato que o
ordenamento das informações influencia a análise e, para evitar muita “carga”, a saída é discutir tudo
abertamente e criar mecanismos como os trabalhos em grupos.

Respondendo sobre a relação da sistematização com o monitoramento do Pro Manejo, foi explicado
que a sistematização qualifica, faz uma análise qualitativa, complementando os dados quantitativos do
monitoramento, que, neste caso, alimentou a sistematização.

Sobre a continuidade do processo, a sistematização pode ter novos aspectos, novos eixos, ou não; vai
depender do que for discutido em cada etapa.

O consultor colocou a dificuldade de se lidar com alguns conceitos como aprendizados, lições e
recomendações, e o conceito que estão utilizando nesta experiência, equivalendo lições a
recomendações.

4.3.2. Tema 3: Sistematização de programa e de projetos - A experiência do


Programa de Apoio Estratégico/PAE, da CESE/Coordenadoria
Ecumênica de Serviços, por Mara Vanessa8

A CESE é uma agência que há mais de 25 anos vem apoiando iniciativas do movimento social no
Brasil, com recursos de igrejas européias; trabalha com uma perspectiva ecumênica e seu programa
mais forte e mais conhecido é o de apoio a pequenos projetos (média de 500 apoios/ano). Buscando
redefinir algumas premissas em sua estratégia de atuação, a CESE lançou o Programa de Apoio
Estratégico/PAE, financiando projetos de redes ou articulações do movimento social nos mais diversos
temas, rurais e urbanos. O PAE nasce de uma hipótese que se quer comprovar – até que ponto o
trabalho em redes potencializa a intervenção do movimento social, inclusive sobre políticas públicas.

O PAE, em sua primeira fase, apóia dez projetos, oito deles com duração de três anos e o restante,
dois anos. A sistematização é parte integrante do desenho do PAE e aparece como um dos objetivos
do programa. Os projetos já estavam em andamento quando a CESE solicitou à consultora externa
uma oficina com sua equipe técnica para definir a estratégia de sistematização do PAE.

8
Consultora da CESE para sistematização do PAE
21
Nesta primeira oficina, em fevereiro de 2004, foi acordado o conceito de sistematização, na linha da
educação popular, o foco ou eixo principal para a CESE e algumas das perguntas orientadoras, e um
planejamento inicial de como trabalhar com os dez projetos. Ficou claro que existem dois níveis de
sistematização: o nível do programa, que visa responder às questões colocadas pela agência, e o nível
dos projetos, que podem ter outros interesses. Ficou decidido que se deveria realizar uma oficina
inicial com dois representantes de cada projeto, negociar e fazer os acordos para o trabalho. Também
ficou óbvio que, para fazer a sistematização do programa, as informações deveriam vir dos projetos –
de seus registros e relatórios, além dos registros e relatórios das visitas de acompanhamento da
equipe da CESE. Fundamental, então, a relação com a monitoria.

Foi preparado um “guia metodológico” de sistematização como material de apoio; foi retrabalhado o
marco lógico do programa, revisando seus indicadores, e foi construído um sistema de monitoria e
avaliação com objetivos claros, incluindo esses indicadores, desdobrando-os em perguntas e definindo
os instrumentos para buscar as respostas. O principal desses instrumentos, o roteiro de relatório
semestral dos projetos, foi trabalhado de maneira a oferecer uma oportunidade de reflexão para os
projetos e informações para o programa. Foi preparado também material sobre monitoria participativa
e métodos de monitoramento.

Foi realizada uma oficina em julho de 2004 com os representantes dos projetos, na qual foi
trabalhado o conceito de sistematização, diferente daquele com o qual alguns dos projetos vinham
trabalhando. Houve um intenso processo de negociação, já que alguns dos projetos/redes sentiam a
sistematização como imposição da agência. Ao longo da oficina, essa resistência foi sendo quebrada e
as pessoas se envolveram na proposta; cada rede desenhou seu projeto preliminar de sistematização,
definindo objetivo, objeto, quem iria trabalhar, como seria feito e que produto final seria elaborado.
Esse pré-projeto de sistematização foi levado por cada representante a suas bases para ser discutido
e finalizado até o próximo encontro, que seria três meses depois.

Uma das maiores tensões e dificuldades desse processo surgiu do fato de que os projetos já tinham
sido aprovados, inclusive com seus orçamentos detalhados, sem as atividades da sistematização. Não
havia mais recursos disponíveis para isso, mas se solicitou aos projetos que fizessem remanejamentos
em seus orçamentos, já que todos previam alguma coisa tipo registro, publicações, vídeos,
considerando esses elementos como resposta à necessidade de sistematização. Também foi acordado
que se deveria tentar incluir as atividades e momentos de sistematização naquelas já previstas pelo
projeto, procurando criar o mínimo de atividades novas, que significam novos gastos. Mas a
necessidade de ter pessoas de referência, responsáveis pelo trabalho, ficou clara – isso significa mais
trabalho para a equipe, que geralmente já é sobrecarregada.

Nessa primeira oficina com os projetos ficou também claro que os focos ou eixos temáticos escolhidos
pelas distintas redes para sistematizar eram diferentes entre si, mas que o foco da sistematização do

22
programa – como funciona o trabalho em rede, suas vantagens ou não – permeia todos eles. O
desenho que ficou desse arranjo é semelhante ao de um rio com seus afluentes, ou de uma pipa com
sua rabiola.

A segunda oficina com os projetos foi realizada em outubro de 2004. Foi uma oficina de avaliação
anual do Programa, na qual foi aberto um espaço para a sistematização. Foi a oportunidade de
verificar como estava funcionando o roteiro de elaboração do relatório semestral e de se ver os
ajustes necessários. Foi também realizada a revisão dos projetos de sistematização; verificou-se que
três redes/projetos estavam já trabalhando na sistematização, recolhendo registros e organizando-os,
mas que a maioria ainda não tinha começado o trabalho e que dois dos dez ainda não tinham definido
seu projeto de sistematização. Verificou-se também que alguns dos projetos trabalham com grande
arsenal de instrumentos e técnicas participativos de coleta de informações e de registro, mas que
alguns não têm nenhum costume de registrar nada e enfrentam dificuldades inclusive para manter o
fluxo semestral de relatórios.

Está prevista uma visita da consultora a cada um dos dez projetos, junto com o assessor da CESE que
faz o acompanhamento daquele projeto. Estão previstos dois momentos coletivos ao longo do ano,
em espaços de outros eventos – uma oficina de capacitação e um encontro anual de avaliação do
Programa. Verifica-se a necessidade de maior capacitação das equipes responsáveis em cada projeto
para levar adiante a sistematização – umas necessitando mais que outras.

O processo ainda é inicial, mas pode-se verificar que o desenho do sistema de M&A, considerando a
necessidade de coletar informações periódicas para a sistematização de um processo em andamento,
foi fundamental; que o roteiro de relatório semestral é o instrumento por excelência que trará essas
informações e que tem propiciado aos projetos momentos de reflexão conjunta; e que é preciso ainda
tempo para amadurecer não apenas as estratégias, mas também a definição dos produtos finais
dessas sistematizações. Em princípio, deve sair um (ou mais) produto de cada sistematização – nível
dos projetos – e um produto do Programa – nível da CESE. O processo tem servido de alerta para a
necessidade de se ter registros coerentes e organizados, o que já representa um salto de qualidade
para algumas das redes ou articulações envolvidas.

No debate que se seguiu, a questão principal foi sobre como lidar com a necessidade de momentos e
espaços próprios para a sistematização, numa situação em que não há recursos extras para isso, e
como se realiza o trabalho de sistematização de processos em andamento – qual o tempo necessário
para isso. A questão dos espaços/momentos está sendo negociada caso a caso – os projetos estão
buscando encontrar esses espaços e momentos em seus planejamentos, remanejando o mínimo,
sendo que alguns têm buscado parcerias externas, especialmente com universidades, para apoio ao
processo de sistematização. É importante observar com cuidado esses casos, para que o processo não
se transforme em algo muito acadêmico, deslocado dos atores principais. Quanto ao tempo, os dois

23
projetos de curta duração – dois anos vão sistematizar a experiência vivida em um ano e meio,
deixando o último semestre para o trabalho de análise e elaboração do documento. Os outros
poderão sistematizar um período mais longo, sempre deixando o último semestre de execução do
projeto para a finalização do processo de sistematização.

4.3.3. Tema 3 – Relação entre Monitoramento e Sistematização, Programa e


Projeto, Sistematização de mudanças institucionais: Monitoramento
participativo do Proteger/GTA, por Júlio de Almeida, Alexandre Lins e
Maria Assunta Rocha9 (power point no anexo 7 deste relatório)

O que foi apresentado não foi uma experiência de sistematização, mas a montagem do
sistema de monitoramento participativo do Proteger. A equipe utilizou a terminologia da
sistematização de experiências para apresentar seu trabalho, o que gerou uma grande
confusão entre os participantes. Finalmente, ficou claro que não era uma experiência de
sistematização e sim de construção coletiva de um sistema de monitoramento.

Essa construção está ocorrendo – iniciou-se em março de 2004 e vai até fevereiro de 2005 –
em duas localidades piloto, Santarém e Altamira. Entre os resultados esperados, está a
capacitação de monitores e coordenadores para utilização do sistema. Foi justamente este
aspecto o escolhido pela equipe do Proteger para apresentar no seminário.

A metodologia utilizada para a construção do sistema incluía a elaboração de indicadores e a


revisão dos questionários para coleta de dados do Proteger; processamento e análise desses
dados, revisão dos instrumentos e indicadores, oficinas de avaliação e planejamento e
produção de material didático.

Em Santarém, foram realizadas quatro oficinas – nivelamento conceitual, construção de


indicadores, aplicação dos questionários, análise dos dados e revisão de instrumentos e
indicadores. Em Altamira, foi realizada apenas a oficina inicial. Avaliando o processo realizado
em Santarém, concluem que foi cansativo e com tarefas repetitivas; com dificuldade de
apreensão, pelos participantes, da visão do conjunto e da importância do sistema de
monitoramento. Essa visão só ocorreu na última oficina, quando os participantes perceberam
o ponto de chegada. A linguagem técnica também foi um dificultador e o fato das oficinas
serem realizadas logo após processos igualmente intensos de capacitação – as pessoas já
estavam cansadas.

9
Membros da equipe técnica do Proteger – Júlio e Maria Assunta – e consultor externo (Alexandre)
24
Em Altamira, a oficina inicial já incluiu mais etapas, encurtando o processo, a linguagem foi
mais adaptada e a compreensão, por parte dos monitores, foi maior. Isso porque a equipe
aprendeu com a avaliação do processo de Santarém e adaptou a metodologia.

Serão produzidos materiais didáticos - cartilha e vídeo - com as informações do sistema e com
as lições aprendidas no processo de sua construção.

Grande parte do debate que se seguiu foi dirigida ao esclarecimento de que não se tratava de
uma experiência de sistematização – isso gerou muita confusão. Não ficou claro para os
participantes a relação entre essa construção coletiva de um sistema de monitoramento e a
prática da sistematização. Quanto à continuidade do trabalho, a equipe do Proteger
esclareceu que o ciclo é anual – ou seja, a cada ano deve-se repetir o trabalho. Sobre a
dificuldade para construir indicadores, falaram que trabalham geralmente com indicadores
simples e diretos, e que a dificuldade maior é quando tem que se relacionar dois indicadores.
E explicaram que a extração de lições pelos monitores e coordenadores é imediata porque os
indicadores são diretos; que o Proteger tem procurado comparar o comportamento de
diferentes comunidades em relação ao mesmo indicador, e também se fazem comparações al
longo do tempo.

4.4. Tema 4 - Uso da informação, com ênfase na criação de opinião e


“advocacy”

4.4.1. Apresentação do Prêmio Itaú-Unicef , por Yara Brandão10 (power


point no anexo 8 deste relatório)

Yara Brandão apresentou não uma experiência de sistematização, mas uma experiência exitosa de
uso da informação para abrir espaços de formação de opinião e criação de parcerias sólidas. Narrou o
processo de criação do Prêmio Itaú-Unicef para educação e como esse mecanismo cresceu e
transformou-se numa verdadeira rede em todo o país, com encontros anuais, intercâmbios,
capacitações e interfaces com políticas públicas de educação.

O Prêmio é uma parceria já consolidada entre o CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em


Educação, Cultura e Ação Comunitária, a Fundação Itaú Social e a UNICEF – Fundo das Nações
Unidas para a Infância. O Prêmio surgiu no contexto político e social dos anos 80, que inclui a
promulgação do ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente e, em sua primeira versão, teve 406
projetos inscritos. Em 2003, esse número chegou a 1834. Em 1996, o Prêmio transforma-se em um
projeto de dois anos e acontece em três cidades, com parcerias locais. Em 1997, ampliam-se as

10
Coordenadora do Prêmio Itaú-Unicef, membro do CENPEC
25
categorias do prêmio e a seleção é feita em três etapas, por comitês de avaliadores de diversas áreas.
Em 1999, inicia-se o Programa Parcerias, buscando ampliar o apoio à iniciativa. Em 2001, são
realizadas visitas técnicas às ONGs finalistas e, em 2001/2002, é promovido um intercâmbio de
experiências entre Maranhão e São Paulo.

O crescimento do Prêmio e sua consolidação demonstram uma forte mobilização social. Esta
mobilização se dá no sentido de complementar a ação do Estado, otimizando espaços e
potencializando a aplicação de políticas públicas. Para consolidar essa mobilização, a estratégia do
Prêmio tem sido trabalhar com um foco temático, e não mais com categorias; regionalizar o processo
de seleção; envolver agentes públicos. Os avaliadores funcionam também como divulgadores, foram
formados 200 agentes públicos como avaliadores do prêmio que conta, em seus comitês de seleção
de finalistas, com 50 formadores de opinião. Foram realizados 11 encontros de formação temática,
envolvendo 1500 participantes, com os avaliadores funcionando como facilitadores e com apoio de
órgãos governamentais e de ONGs locais nas onze cidades, com uma estratégia clara de aproximação
e de articulação.
As principais lições aprendidas nesse exitoso processo de mobilização social foram:
- a necessidade de ganhar adesão de governos e sociedade civil quando se quer fortalecer uma
ação pública;
- para se ter impacto, é preciso densidade e continuidade das ações;
- projetos não devem ser ações isoladas, mas articular-se com outros, potencializando cada um
e consolidando parcerias, para se ter ganhos de escala;
- as parcerias devem ser resultado de consenso, em que cada ator tem um papel decisivo;
- temas ou motes são emblemáticos para processos de mobilização;
- as transformações sociais acontecem no plano local, no cotidiano, a partir dos
envolvidos/beneficiados;
- e a comunicação é chave para todo projeto, mas é determinante de sucesso num projeto de
mobilização - deve ser planejada, abrangente e cobrir todas as etapas.

“Mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um
sentido também compartilhados.
Participar de um processo de mobilização social é uma escolha, porque a participação é um ato de liberdade...
Convocar vontades significa convocar discursos, decisões, ações no sentido do objetivo comum, para um ato de
paixão, para uma escolha que contamina o quotidiano.”
Jose Bernardo Toro e Nísia M. D. Werneck – Mobilização Social:
um modo de construir a democracia e a participação - 2004 – Editora Autêntica

O debate serviu para esclarecer que as mudanças no formato do prêmio correspondem à


evolução do processo, o que tem exigido adaptabilidade e criatividade porque o processo cresceu,
mas os recursos a ele destinados, não (pelo menos, não na mesma proporção). Foi explicado
também que os textos enviados para o prêmio são colocados em um banco de dados, e que ainda
não é feito o monitoramento nas entidades premiadas, porque a equipe é pequena e não tem

26
pernas para fazer tudo. Nos encontros regionais aproveita-se para conversar, saber como está
indo o trabalho, mas não há um monitoramento formal.

4.4.2. Tema 4: Uso da Informação – Tudo Encaixa, por Fernanda Viriato11


(apresentação em power point é o anexo 9 deste relatório)

O Tudo Encaixa era um pequeno projeto dentro do ProSertão, um grande projeto do FIDA no Brasil.
Fernanda e outra colega compunham a equipe de monitoria e avaliação do ProSertão. O FIDA tem um
programa específico para monitoria e avaliação, que é o PREVAL; e foi em um curso oferecido pelo
PREVAL que elas tiveram o primeiro contato com o conceito e a metodologia de sistematização de
experiências. Vale dizer que o PREVAL tem uma metodologia com passos bem definidos, publicada em
um guia metodológico (que está no CD de textos e informações sobre sistematização disponibilizado
pelo AMA a partir do curso com o professor Oscar Jara).

De volta do curso de imersão do PREVAL, pensaram em aplicar a metodologia aprendida e escolheram


trabalhar com o Tudo Encaixa porque a leitura dos relatórios demonstrava uma constante alteração
nos membros do projeto e baixa rentabilidade em relação aos resultados esperados, mas grande
potencial para continuar depois do término do ProSertão, pelo tipo de atividade realizada –
profissionalizar jovens na elaboração de embalagens a partir de reciclagem de materiais.

O eixo da sistematização foi definido como “a experiência de formação do grupo de trabalho TUDO
ENCAIXA e suas possibilidades de consolidação”. O primeiro passo foi ler, organizar e discutir todos os
documentos relativos ao projeto; em seguida, a definição dos atores diretos e indiretos; e, finalmente,
a elaboração de um roteiro flexível de entrevistas, a definição de quem entrevistar, a realização
dessas entrevistas e a análise das respostas obtidas. Para discutir e tirar conclusões a partir de todo
esse material, foi realizado um seminário, que envolveu um intenso processo de preparação. Daí,
saíram as conclusões gerais do processo de sistematização, que apontavam para a possibilidade de
êxito e sustentabilidade do Tudo Encaixa, desde que fossem trabalhados dois aspectos: a questão
comportamental do grupo e a questão da comercialização. Para isso, as consultoras fizeram uma série
de recomendações. Essas recomendações foram acatadas pelo projeto e Fernanda informa que hoje o
Tudo Encaixa tem vida própria, deu o salto de qualidade que precisava e se consolidou.

A sistematização gerou também um produto escrito – um documento que descreve o processo, faz
recomendações e enuncia as lições aprendidas. Esse produto é a base para a elaboração de outros,
que podem tomar formas variadas, dependendo do público ao qual é dirigido e do objetivo que se
quer alcançar. É importante cuidar da linguagem – que seja clara, evite regionalismos (ou os
explique), evite linguagem excessivamente técnica (a menos que o público seja de especialistas). Para

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Membro da equipe de M&A do ProSertão, PREVAL/FIDA
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a elaboração de materiais de comunicação a partir do documento básico da sistematização, é
importante considerar qualidade, custos, capacidade e tempo de elaboração.

No debate, Fernanda esclareceu que o tempo gasto no processo de sistematização foi de dois meses
(sem dedicação exclusiva), mais dois para a elaboração do documento final, e a base teórica e
metodológica foi o Guia do PREVAL. A sistematização foi realizada pelas duas consultoras do
ProSertão, que eram as especialistas em monitoria e avaliação e que, por isso, contavam com
recursos específicos (do programa de M&A). Elas conduziram todo o processo, não havendo
participação dos protagonistas – os jovens do Tudo Encaixa – na definição do eixo temático, que
surgiu de uma constatação das especialistas a partir da análise dos relatórios do projeto.

5. Aprendizes, suas dúvidas e descobertas

Pilar Ubilla, a consultora temática do seminário, fez mais uma intervenção no início do segundo dia de
seminário, já que havia muito desnivelamento de informações entre os participantes. Fez uma
recapitulação de sua primeira fala (conceitos e passos da sistematização) e passou a explicar os
elementos que devem ser priorizados e os passos do processo. Para chegar à reconstituição histórica,
é preciso considerar todos os documentos disponíveis: o diagnóstico inicial, que gerou o projeto ou
programa, e a descrição deste, considerando seus objetivos, metas e resultados esperados. Deve-se
estudar os documentos de planejamento e de avaliação e relatórios de seminários e encontros. É
preciso reunir todos os registros – emails, fotos, atas, relatórios, e ordenar tudo por cronologia.

Na definição do projeto de sistematização, é fundamental ter claros o objetivo (para que) e o objeto
(o que); deve-se precisar bem o eixo temático e definir as equipes e os tempos da sistematização. Em
seguida, preparar as ferramentas e executar as atividades – entrevistas, oficinas e outros.

Na reconstituição, é importante trabalhar o contexto ou conjuntura. Alguns especialistas em


sistematização não consideram necessário trabalhar o contexto, mas Pilar considera que sim, é
importante. A reconstituição histórica propriamente deve ser feita considerando as etapas ou
momentos de mudanças significativas – identificar essas etapas, uma vez que o material esteja todo
organizado por ordem cronológica, é um primeiro passo.

Deve-se contar com um guia ou roteiro que sirva para ordenar as informações, fazer entrevistas e
realizar oficinas – o mesmo roteiro básico pode servir para todas essas atividades, adaptando-o para
cada uma delas. Esse roteiro deve conter aspectos tais como: motivação para participar, que
problemas ou conflitos surgiram, como se superaram, que logros ou realizações foram alcançados.

Para se organizar a reconstituição, pode-se utilizar quadros – como foi citado no programa FIG/CIDA.
Um exemplo de quadro para ordenar as informações referentes a cada etapa:

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NOME DA ETAPA
DATA FATO/ COMO ATORES RESULTADOS PERGUNTAS/
OCORREU (quem?) positivos ou DÚVIDAS
(o quê?) negativos
(aprendizagens*)

*Aprendizagem: Maneira como enfrentamos o problema.

Um roteiro para a reconstituição da experiência pode considerar a situação inicial, o contexto, a


intervenção do projeto e a situação atual, tomando como bases para o trabalho os documentos
disponíveis e as entrevistas realizadas.

Os participantes puderam levantar questões e dúvidas para o debate com Pilar. Uma primeira questão
foi sobre o momento de se fazer a sistematização e seu planejamento. Ela explicou que o ideal é
integrar as atividades e planilhas de sistematização desde o início, no planejamento do projeto ou
experiência. Há exemplos de planilhas e fichas no Guia do PREVAL e no material oferecido pelo
professor Jara. Claro que não se pode saber antes do vivido o que é mais importante sistematizar…

Sobre o quadro de organização dos dados de cada etapa, alguém perguntou se a coluna das
“perguntas” não deveria vir antes. Pilar explicou que se formulam perguntas antes, mas há também
perguntas que surgem depois da reconstrução, e essas podem conduzir a novas atividades da
sistematização, ou servir de ponto de partida para a análise. Ainda sobre o planejamento, foi dito que
é preciso ter flexibilidade e abertura, deixar margens para o imprevisto.

Uma outra preocupação dos participantes era sobre o grau de participação - qual a implicação de
atores que não participam desde o começo da sistematização na legitimação do processo. Foi
respondido que os beneficiários ou protagonistas, juntamente com os técnicos, são os que decidem se
envolvem ou não outros atores.

Sobre o uso de entrevistas e a preocupação com a objetividade, o debate esclareceu que a entrevista
é sempre mais subjetiva, por isso é preciso ter técnica para fazê-la da forma adequada, sem
manipular. Mas que o elemento subjetivo de quem entrevista sempre vai jogar um papel e que a
melhor maneira de evitar manipulação ou de carregar na interpretação é citar com clareza o que vem
das entrevistas, situar as falas.

Um outro ponto de debate foi sobre a terminologia “lição aprendida” ou “aprendizado”. Muitos
consideram “lição” um termo mais fechado, mais vertical, que lembra antigos conceitos escolares nos
quais há aquele que sabe e ensina, e aquele que aprende. O termo aprendizado é mais utilizado pelos
educadores e tem uma conotação de processo vivencial.

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No último dia do seminário, Pilar fez nova explanação procurando trazer informações sobre dúvidas
surgidas nos debates e apresentações anteriores. Um tema que havia ficado com muitas dúvidas é a
relação ou diferenças entre monitoria, avaliação e sistematização. Falando sobre esta última, Pilar
reforçou que a sistematização serve para ordenar, refletir e interpretar a prática; seus resultados
podem ser utilizados para reorientar a intervenção – exemplo de quase todas as experiências
relatadas no seminário – mas também para dialogar com a teoria, podendo modificar o conhecimento
teórico ou acadêmico. Esta possibilidade da sistematização tem a ver com o desfio político de
transformar as práticas de educação popular em objetos de conhecimento que produzam novos
conceitos e paradigmas.

Assim como na avaliação, a sistematização permite a reflexão sobre erros e acertos; mas também
permite que se encontrem as contradições, as tensões; procura trabalhar com as relações, desvendá-
las, entendê-las, nomeá-las. Busca extrair sentido da experiência vivida; por isso é importante
considerar o contexto e a conjuntura na qual se dá a experiência, evitando olhar apenas o processo
interno. Com um olhar mais abrangente, pode-se perceber melhor certas relações de poder, por
exemplo.

Quem sistematiza? Tanto o especialista como os protagonistas das experiências participam


legitimamente do processo de sistematização; quem são os protagonistas, depende do objeto a ser
sistematizado. Os níveis de participação podem variar, e variam – há atores diretos e indiretos, há os
responsáveis pela condução do processo, há momentos em que todos devem participar, outros em
que não.

A sistematização é um desafio transformador – da própria prática, das relações de poder, da forma de


elaborar conhecimento. É parte do processo educativo que busca gerar poder no seio das
organizações, e essa é uma postura política clara.

A relação do processo com o produto da sistematização é dialética. Sua definição depende do objetivo
que se quer com a sistematização. Produtos não são apenas publicações, vídeos, relatórios, mas
também as aprendizagens, as mudanças de atitudes e de sentimentos.

Petra fez uma breve exposição sobre os conceitos clássicos de monitoria e avaliação e Mara Vanessa
falou do conceito de monitoria como aprendizagem, debatido no curso com Irene Guijt, oferecido pelo
AMA.

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6. Chegando a bom porto

No último dia, foi solicitado aos participantes que, em grupos de trabalho, priorizassem dúvidas que
gostariam de debater com Pilar ainda no seminário.

1. Como planejar a sistematização de um projeto de ampla abrangência? Diferenças


entre sistematização de programas e subprojetos dentro dos programas?

Antes de planejar, tem que surgir a demanda, a necessidade. Só assim a


sistematização tem sentido. Para cobrir toda a abrangência de um projeto, ou
diversos projetos dentro de um programa, é importante chegar a acordos. Para
isso, um técnico pode trabalhar como “ponte”. Claro que chegar a acordos
demora mais tempo, mas é o caminho a seguir. Pode-se ter um mesmo tema
que seja objeto da sistematização de vários projetos ou instituições; o que unifica
é o objetivo comum (para que), que pode gerar um produto comum (para quem).

2. Qual a diferença entre sistematização política e sistematização “técnica”?

A dimensão política tem a ver com o desejo de fazer transformações, de ocupar


espaços de poder. Na visão tradicional, o técnico é “alheio” à situação,“neutro”.
Mas a atitude política leva a escolhas; a motivação é de transformação. Portanto,
não existe a neutralidade ou o alheamento no conceito de sistematização
trabalhado pela educação popular; existe uma intenção política clara. A
sistematização permite explicitar temas como, por exemplo, as relações de poder;
e isso leva a mudanças, transformações.

3. Qual o papel do técnico na sistematização de um projeto “vivido” pela


comunidade? Como fazer que os protagonistas do projeto sejam protagonistas da
sistematização?

O papel do técnico é o de acompanhar, trazer insumos técnicos e teóricos,


resgatar saberes da comunidade e devolvê-los, numa atitude que favorece o
empoderamento das pessoas ou da comunidade envolvida. O técnico deve
problematizar, questionar, tem um papel educativo. A postura mais adequada a
este papel é a de aprender junto, não somente ensinar. A questão de como o
técnico deve trabalhar na sistematização depende do vínculo ou relação com as
comunidades.

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4. A sistematização é para registrar, difundir, é um processo de aprendizagem?
Quando que se define?

Depende do conceito de sistematização que se utiliza. Trabalha-se com registros, é


um processo de aprendizagem e supõe o compartilhamento dos aprendizados e
conhecimentos gerados.

5. O que se entende por marco teórico?

São os fundamentos do que se está trabalhando. A prática deve dialogar com a


teoria; a sistematização ajuda a explicitar a teoria que está implícita na prática.

6. Quais as ferramentas para cada etapa da sistematização?

Existem várias ferramentas que podem servir para diferentes metodologias; por
exemplo, ferramentas de DRP que servem para coleta de dados num processo de
sistematização. Ferramentas não são uma “receita”, mas somente ferramentas e há
várias delas disponíveis. Deve-se usar a criatividade para buscar as que melhor sirvam
aos propósitos que se quer.

7. Monitoramento, sistematização, avaliação, comunicação?

No monitoramento e na avaliação, existe uma preocupação em valorar os resultados


alcançados; é feito um juízo de valor sobre o desempenho do projeto; tem a ver com
medida – maior ou menor alcance do que se pretendia inicialmente. A sistematização
não tem esse compromisso; busca entender porque aconteceu o que aconteceu. E,
claro, gera produtos de comunicação. A questão da comunicação merece um
planejamento específico, uma definição do que se quer resolver ou alcançar, de que
maneira a comunicação pode ser realizada para alcançar esses objetivos, para que
público deve ser dirigida.

7. Continuando a aventura: próximas rotas

Foi também solicitado aos grupos de trabalho que sugerissem temas para a continuidade do processo
de formação em sistematização oferecido pelo AMA. As propostas foram:
o Realizar uma sistematização na prática
o Atividades práticas
o Comunicação/ disseminação de produtos da sistematização
o Metodologias participativas, didática para adultos

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o Capacitação em metodologias participativas e educação popular
o Formar um e-grupo para trocas, coordenado pelo AMA
o Nivelar os conhecimentos de sistematização
o Bases filosóficas da sistematização
o Assessoria em sistematização em mais momentos no projeto

8. Noves fora, quê?

Ao final da oficina, os participantes responderam por escrito a quatro questões avaliativas:

o Qual foi o aprendizado concreto mais importante para o seu trabalho?


ƒ Aprendi sobre a importância de se criarem espaços de reflexão e de elaboração
de saber a partir da experiência com o suporte de um marco referencial e de uma
caixa de ferramentas para isso.
ƒ Que é necessário garantir a difusão e implantação da sistematização no âmbito
institucional.
ƒ Que sistematizar experiências é elaborar o conhecimento implícito na prática.
ƒ O esclarecimento sobre as diferenças e semelhanças entre sistematização e
monitoramento.
ƒ Participação dos diferentes atores. Diferenças de foco de monitoramento,
avaliação e sistematização.
ƒ Que precisamos ir além do registro. Ter um processo de reflexão e aprendizagem
contínuo e desafiador.
ƒ Melhor entendimento das práticas de sistematização, monitoria e avaliação.
ƒ Trabalho na assessoria de comunicação, portanto penso que meu envolvimento
com a metodologia de sistematização será na disseminação de seus produtos.
Nesta oficina não foi contemplada a participação da comunicação no processo,
entretanto me fez refletir como posso participar ativamente principalmente
valorizando os protagonistas. Gostaria de ter oportunidade de aprofundar o tema
em outra ocasião.
ƒ Conhecimento dos quadros de reconstituição e de consistência. Maior
conhecimento de materiais de difusão e comunicação.
ƒ Bases para a sistematização.
ƒ Aprofundamento em diferentes experiências de sistematização.
ƒ A possibilidade de se pensar e analisar a prática.
ƒ Registrar ainda mais os acontecimentos... Interagir ainda mais com outros
projetos...
ƒ Melhor distinção entre processo e produto.
ƒ Ainda não pensei sobre o assunto.

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ƒ Ver que temos muito para sistematizar e que não há receita engessada. Para
cada tipo de bolo há um tipo de fermento.
ƒ A utilidade da sistematização para reflexão, registro e divulgação de experiências.
ƒ Indicação dos elementos para a construção de uma proposta adequada à
realidade do trabalho.
ƒ As diversas formas de reconstrução histórica.

o Como você se sentiu na oficina? Houve integração?


ƒ Sim.
ƒ Muito bem! Houve um pouco de integração (mais troca de figurinha).
ƒ Houve integração, as relações humanas foram ótimas, mas, se a sala fosse maior,
teria sido melhor ainda.
ƒ Eu, pessoalmente, estava à vontade em relação ao tema, mas senti pouca
integração no grupo.
ƒ Foi a primeira participação com este tema, mas logo “captei”. Senti, a princípio,
que não tinha a ver com minha atividade. Hoje, terceiro dia, vislumbro que esta
metodologia pode enriquecer a difusão. Quanto à integração do grupo, acho que
poderia ter sido maior através de dinâmicas e encontros.
ƒ Num ambiente de compromisso profissional. Sim, as pessoas demonstraram
interesse e abertura.
ƒ Me senti à vontade. A integração do grupo foi satisfatória.
ƒ Gostei muito da oficina, com um clima descontraído, mas muito trabalho. Acho
que o grupo estava em sintonia, mas careceu de espaços de discussão, para uma
maior integração.
ƒ Tranqüila, curiosa e participante. Houve informações e bom intercâmbio.
ƒ À vontade, houve boa integração.
ƒ Me senti confortável apesar do tema ser novo. Achei que houve pouca integração
– metodologia?
ƒ Ora deslocado, ora inquieto, ora preocupado e perguntando “onde vamos
chegar?”. Não houve integração! Aliás, a equipe parece que não se preocupou
com isso!
ƒ No começo “perdido”, depois com o decorrer das palestras, “situado”. Houve
integração e trocas importantes de informações.
ƒ Bem melhor que na anterior. Entendi mais. No entanto, continua havendo muito
bairrismo.
ƒ Integrada. À vontade.
ƒ A integração foi pequena por não haver discussões em subgrupos até hoje.
ƒ Pouco comunicativa. Houve bastante entrosamento.

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ƒ Senti dificuldade de aprender os conteúdos, mas pude expressar minhas
necessidades e vê-las acolhidas e atendidas.
ƒ Pouco interativo, embora interessado nos temas.

o Como você avalia a metodologia desta oficina?


ƒ Ótima, como intercâmbio. Insuficiente, como oficina.
ƒ Bastante rica: troca de experiência, orientação, sem poluição visual.
ƒ Boa.
ƒ Achei muito legal, no entanto, acho que o público estava com o nível de
conhecimento e de práticas de sistematização muito diferentes e com
expectativas diferentes.
ƒ Dinâmica, com exposições de experiências, mas pouco espaço para trocas/
discussões.
ƒ Foi cansativa.
ƒ Não adequada. A prática fez falta. A Pilar foi suprimida pela fala dos outros.
ƒ Pouca oportunidade de discussão em subgrupos empobreceu a oficina.
ƒ Boa. Porém, pouco espaço em grupo, exposições demais inibiram a participação.
ƒ Boa.
ƒ Boa.
ƒ Flexível. Aberta. Proporcionadora de diálogos.
ƒ Poderia ser explicado o conceito de sistematização melhor, para “nivelar”.
ƒ Algumas pessoas quase não falaram. Timidez ou metodologia? Exposições ótimas.
A participação do grupo foi pouca. As pessoas precisam de mais estímulos.
ƒ A metodologia dificultou a apreensão dos conteúdos por pessoas que não haviam
participado antes. Porém, ao longo do processo tive insights muito interessantes
que vieram da própria forma como as atividades foram organizadas. Ótima
integração.
ƒ A metodologia foi participativa e incentivou o debate e a discussão.
ƒ A metodologia de alternar as apresentações, debates e esclarecimentos de
especialistas é ótima, mas o desnivelamento dos participantes prejudicou o maior
aproveitamento da oficina. Deveria ter iniciado com uma revisão conceitual para
nivelar os participantes. As apresentações deveriam ter sido orientadas por um
roteiro mais ou menos comum.
ƒ Foi muito boa. Experiências diversas, concretas e a teoria com a Pilar.

o Propostas de metodologia(s) para a continuidade da capacitação.


ƒ Espaço físico “acolhedor e aglutinador”, para as pessoas ficarem juntas, traz
maior integração.
ƒ Gravação do encontro. Prática. Dinâmicas de interação.

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ƒ Realizar uma sistematização na prática.
ƒ Oficina de sistematização aplicada (por projeto).
ƒ Uma sistematização na prática.
ƒ Mesclar vivências com apresentações e mais trabalhos de grupos para levantar
dúvidas e “construir” conceitos.
ƒ Mais atividades em grupo. Mais protagonismo da plenária.
ƒ Exercícios práticos que despertem curiosidade sobre os elementos que serão
sistematizados.
ƒ Complementar a este formato a relatoria escrita/ gravada.
ƒ Expositiva vs. trabalho de grupo, como foi com o Oscar.
ƒ Prática.
ƒ Realizar práticas.
ƒ Trabalhar temas com participantes de forma mais ativa.
ƒ Mais trabalhos práticos para que a teoria fique bem sedimentada.

Para concluir, seria interessante acrescentar alguns comentários. Ouvir as experiências alheias e
buscar aprender com elas foi muito, muito interessante, demonstrando a necessidade desse tipo de
seminário.

Outro aspecto a considerar é a continuidade do grupo que se está capacitando. O desnivelamento


causa uma série de dificuldades em eventos que partem do suposto de que já há um conhecimento
anterior. Talvez se deva pensar em eventos paralelos, um para “iniciantes” e outro para “avançados”.

Em relação aos objetivos propostos, o seminário atingiu o que se propunha, mesmo que com menor
ênfase no terceiro ponto - a situação da sistematização nos projetos e programas do Programa Piloto.
Mas demonstrou a importância de buscar conhecer outras formas e experiências práticas e a
diversidade de caminhos que se está construindo dentro do Programa Piloto.

Novembro de 2004

Mara Vanessa
Moderadora

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