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Seminário é uma técnica de estudo que inclui pesquisa, discussão e debate; sua finalidade é pesquisar e ensinar a
pesquisar. Essa técnica desenvolve não só a capacidade de pesquisa, de análise sistemática de fatos, mas também
o hábito do raciocínio, da reflexão, possibilitando ao estudante a elaboração clara e objetiva de trabalhos
científicos.1
Nestes moldes apraz-me confirmar que as atividades desenvolvidas ao longo das aulas virtuais
deste primeiro semestre abriram espaço à progressiva consubstanciação das competências
anteriormente adquiridas.
sinto que nesta matéria foram preenchidas certas lacunas através das leituras, pesquisas,
aprofundamento e esclarecimento no forum de determinadas conexões entre as variadas áreas em
estudo e, simultaneamente, o desenvolvimento das técnicas (habilidades) e estratégias de análise
necessárias à promoção da tarefa e função do investigador a quando do processo de elaboração
da sua tese, sendo esta a que doravante nos compete desempenhar.
Estou certo, porém, que sem este processo de revisitação não podia ter sido concluída
verdadeiramente a construção e validação do conhecimento concetual obrigatório e necessário.
1
Marina de Andrade Marconi e Eva Maria Lakatos, Fundamentos de Metodologia Científica, p. 35
Resumindo, posso declarar com total segurança e convicção que as expectativas tidas pela
frequência deste seminário foram plenamente alcançadas e, em mais do que uma situação,
confesso que superadas, impulsionando um enorme sentimento de satisfação e realização
pessoal.
A digressão que me proponho fazer ao longo das próximas páginas tem a modesta pretensão de
tecer uma série de considerações pessoais, ainda que devidamente fundamentadas (pelo menos
assim anseio), acerca do que julgo ser uma profícua e adequada pesquisa, investigação e redação
de uma tese de doutoramento em História.
Informo desde já que aspiro utilizar o tema de base deste trabalho e, parcialmente, a estrutura,
em curto prazo e num plano mais circunscrito, no trabalho final do seminário de aprofundamento
teórico. Pretendo assim esmiuçar algumas das etapas e metodologias interiorizadas pelas várias
leituras e discussões tidas ao longo deste seminário.
Ainda antes de adentrar na estruturação da pesquisa, julgo relevante abordar a definição, que
estimo consensual, providenciada por ECO (1997) para o que se entende por tese: “(...) trabalho
dactilografado, de grandeza média, variável entre cem e as quatrocentas páginas, em que o
estudante trata um problema respeitante à área de estudos em que se quer formar.” ECO, refere
ainda que o seu conteúdo deverá ser de caráter científico original favorecido por uma abordagem
inovadora e capaz de propiciar conteúdos válidos e, se possível, únicos no tratamento da
temática em estudo. Afirma também que parte da metodologia presente na Tese deve constituir a
defesa de um argumento que se espera ser objeto de contestação. É através da aplicação do
método experimental aplicado aos vários conhecimentos afiançados e que suportam a Tese, e do
conhecimento acumulado no decurso da investigação sobre os variados tópicos, que se alcançará
o almejado domínio científico daquela área de estudo. O Candidato atingirá o grau académico
para o qual estudou apenas quando a sua Tese de Doutoramento for aprovada. E, apenas nessa
altura, a Tese pode ser objeto de publicação, se disso for merecedora.2
ECO menciona ainda, enquanto aspecto fulcral para o sucesso da tese, que a escolha do tema
deve ser delimitada (restringida q.b.) a um tempo e a um espaço definido a fim de estabelecer
2
Umberto Eco, Como se faz uma tese em ciências humanas, p. 27, este capítulo trata o assunto: O que é uma tese e
para que serve?
2
Trabalho Final: Etapas de investigação para uma Tese de Doutoramento
a) O que fazer? Definição do tema e do problema; b) Por que fazer? Justificativa da escolha; c) Para que fazer?
Objetivos; d) Como fazer? Metodologia; e) Onde fazer? Local: campo de pesquisa; f) Com o que fazer?
Recursos; g) Quando fazer? Cronograma.” Questões essas que permitem uma orientação mais profícua do
processo de escolha do tema.4
Penso que poderíamos encetar este trabalho esclarecendo o roteiro que proponho seguir no
sentido de permitir ao leitor um fio condutor e uma orientação útil durante o esgrimir de
argumentos e exposição dos factos. Encontrei em FREGONEZE o traçado providencial5, ainda
que de forma híbrida6, sobre a estrutura que deve ser seguida no projeto de pesquisa (tabela 1)7:
3
Umberto Eco, op. cit., p. 39
4
Gisleine Bartolomei Fregoneze et al., Metodologia Científica, p. 101
5
Gisleine Bartolomei Fregoneze et al., op. cit, p. 101
6
O caráter híbrido da abordagem ao traçado prende-se com o facto deste ter interferências de outros autores para
além de Fregoneze, devidamente identificados no decurso da análise. Híbrido também devido à utilização da escrita
em itálico que acontece sempre que se faz o entrosamento com a Tese adotada para exemplificação.
7
Tabela 1 que se encontra anexada no final do trabalho
8
Paulo Amado, Estrutura de uma dissertação, tese de mestrado ou tese de doutoramento, pesquisa elaborada ao site
da internet https://pedamado.wordpress.com/2019/06/28/estrutura-de-uma-dissertacao-relatorio-de-mestrado-ou-
tese-de-doutoramento/ acessado a 06/02/2021
9
Umberto Eco, op. Cit, p. 125, este capítulo trata o assunto: O índice como hipótese de trabalho.
10
Gisleine Bartolomei Fregoneze et al., op. cit, p. 101-103
4
Trabalho Final: Etapas de investigação para uma Tese de Doutoramento
a) Tema - assunto a provar ou desenvolver que pode surgir de uma dificuldade, curiosidade ou
desafios experienciados pelo pesquisador.
No item em questão já foi evidenciado anteriormente o tema da Tese na capa e folha de rosto.
b) Delimitação do tema - através de uma circunscrição clara de um contexto geográfico e espacial11
aliada à definição concreta de um sujeito e objeto, teremos as “coordenadas” exatas e
fundamentais para uma profícua efetivação da pesquisa.
Na tese em questão definimos como sujeito e objeto – a ascensão nazi e o ganhar de força do
populismo de direita – reportando-se ao aumento desmedido do poder da extrema direita,
correlacionando este acontecimento em dois momentos/períodos distintos, pois é estabelecida
uma comparação entre os dois “tempos” – a República de Weimar e os nossos dias – e,
finalmente, delimitamo-lo no espaço – Alemanha – alcançando com esta fórmula o tão desejado
equilíbrio inicial atinente à escolha de um tema exequível.
c) Objetivo geral - informa com clareza e objetividade quais são as intenções gerais do pesquisador.
Na tese em análise o investigador pretende estabelecer a correção entre as duas situações: a
ascensão nazi da primeira metade do século XX e o aumento da força política do populismo de
extrema-direita atualmente.
d) Objetivos específicos - embrenham-se no escopo introdutório que foi declarado no objetivo
geral, concretizando esse mesmo objetivo e catapultando para situações mais particulares.
Com base no objetivo geral o investigador adentra na sua investigação aprofundando as
razões/causas que levaram ao espoletar do aumento de poder da extrema direita nos dois
períodos em questão.
e) Justificativa (Por quê?) - deve fornecer de forma concisa as razões de ordem teórica e prática
pelas quais aquele tema é importante e qual a sua pertinência para a sociedade. Normalmente
este é um espaço em que o pesquisador não costuma fazer citações, pois os argumentos
apresentados são mais de ordem pessoal.
11
Umberto Eco, op. cit., p. 39
12
Marina de Andrade Marconi e Eva Maria Lakatos, op. cit, p. 160
13
Gisleine Bartolomei Fregoneze et. al., op. cit, p. 106
6
Trabalho Final: Etapas de investigação para uma Tese de Doutoramento
Aqui tentarei numa só investida apresentar a estratégia metodológica qualitativa a levar a cabo
nesta pesquisa. Neste capítulo descrevem-se os passos da investigação, dos quais fazem parte: a
apresentação de um problema; a verificação da bibliografia promovendo as diligências
necessárias para conhecer melhor o assunto e os autores/pesquisadores que já se dedicaram ao
seu tratamento; a apresentação de uma hipótese que tente responder ao problema; a apresentar
a teoria; a experimentar/verificar se soluciona ou não o problema; a analisar os
dados/resultados recolhidos e tirar conclusões; a comprovar se os resultados se alinham com a
hipótese e, em caso afirmativo, comunicar os resultados, ou em caso negativo, os dados
experimentais devem conduzir à formulação de novas hipóteses, repetindo o processo até
alcançar uma concordância entre os resultados e a hipótese.
c) Técnicas (descrição, como será aplicada, codificação e tabelas) - habilidade de usar preceitos e
normas de obtenção e recolha de dados. Ainda segundo FREGONEZE, fazem parte das técnicas
duas grandes vertentes de pesquisa: a documentação indireta (abrangendo a pesquisa documental
e bibliográfica) e documentação direta (que se subdivide em observação direta intensiva –
observação, entrevista – e a observação direta extensiva – questionário, formulário, medidas de
opinião e de atitudes, testes, sociometria, análise de conteúdo, história de vida e pesquisa de
mercado).14
A primazia das técnicas recai sobre a pesquisa documental indireta a qual incide especialmente
na leitura e interpretação documental e bibliográfica. Esclarece-se que destes documentos
devem fazer parte noticias, tabelas e gráficos relativamente a resultados de eleições e
entrevistas publicadas em meios de comunicação idóneos (jornais e revistas).
d) Delimitação do universo (descrição da população) - demarca um conjunto de seres animados ou
inanimados que se destacam do todo por apresentarem pelo menos uma característica em comum
e que poderá ser o sexo, faixa etária, filiação política ou partidária, etc.
O universo em destaque é uma população que apresenta as mesmas características ideológicas,
“nacionalistas exacerbados ou ultranacionalistas”. No caso falamos de cidadãos
preconizadores das ideologias e teorias de extrema-direita, partidaristas filiados ou não.
e) Tipo de amostragem (caracterização e seleção) - deve ser o mais representativa possível da
população investigada. Os resultados obtidos das pesquisas direcionadas à amostra devem
conferir com o resultado da população total caso esta fosse alvo de inquérito.
14
Gisleine Bartolomei Fregoneze et al., op. cit, p. 108
15
Gisleine Bartolomei Fregoneze et al., op. cit, p. 109
16
Trujillo (1974, p. 230) autor citado por Marina de Andrade Marconi e Eva Maria Lakatos, op. cit, p. 183
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Trabalho Final: Etapas de investigação para uma Tese de Doutoramento
2.2.4 Cronograma - responde à questão “Quando?” e estabelece uma calendarização das várias
partes da pesquisa estabelecendo objetivos de execução. Permite ao pesquisador a organização
temporal do seu trabalho de forma a cumprir com os prazos de entrega e realização das etapas
previamente acordadas com o orientador.
Este capítulo é claro “Self-explanatory” e o que importa ainda referir é a utilização de
tabelas/cronogramas utilizando lembretes e estratégias de auto regulação como por exemplo o
estabelecer de objetivos pessoais realistas e que, alcançados, permitam uma fluidez saudável da
execução da pesquisa.
2.2.5 Instrumento(s) de pesquisa - ainda fazem parte da metodologia e também pretendem
responder à questão “Como?”. Estes instrumentos dizem respeito às técnicas selecionadas para a
recolha de dados (ex. entrevista, questionário, formulário, teste, etc). É conveniente referir que a
apresentação destes instrumentos é essencial e apenas está dispensada quando a técnica escolhida
for a de observação.
2.2.6 Análise dos resultados - reflete os dados obtidos da investigação após compilação em
tabelas e outros meios auxiliares. Neste local deve ser feita a explicação destes dados por forma a
interpretar o seu calibre factual. Aqui ocorre o seu tratamento e análise estatística. E,
posteriormente, na secção seguinte, deve ocorrer a discussão destes resultados.
2.2.7 Considerações finais - ou conclusões, sintetizam os principais factos apresentados ao longo
da pesquisa e estabelecem um fio condutor entre os vários elementos apresentados. Estas
conclusões visam demonstrar se a pesquisa conseguiu ou não responder à questão-problema
inicial. Para MARCONI e LAKATOS a melhor estratégia de redação das conclusões deve “(...)
refletir a relação entre os dados obtidos e as hipóteses enunciadas.”17
Em suma, aqui apresentam-se os resultados da pesquisa quando estes corroboram a tese ou
também quando são denotadas limitações ao estudo e têm que ser deixadas algumas
perspectivas em aberto. Na prática conclui-se que, de facto, os dados teóricos da pesquisa
confirmam a correlação entre as duas situações manifestadas no problema (suportando a
hipótese) ou eles não conseguem confirmar a hipótese mas também, pelas suas limitações, não a
negam e, nesse caso terá que ser deixada essa perspectiva em aberto permitindo, futuramente,
novas abordagens àquela pesquisa.
17
Marina de Andrade Marconi e Eva Maria Lakatos, op. cit, p. 232
3 – Conclusão
18
Referência ao manual de normas para apresentação de teses da Universidade Aberta, http://portal.uab.pt/wp-
content/uploads/2018/02/Normas_TesesDissertacoes.pdf acesssado em 09/02/2021
10
Trabalho Final: Etapas de investigação para uma Tese de Doutoramento
CEIA, Carlos, Como fazer uma tese de doutoramento ou uma dissertação de mestrado,
(2007).
ECO, Umberto, Como se faz uma tese em ciências humanas, (1997).
FREGONEZE, Gisleine Bartolomei, BOTELHO, Joacy M., TRIGUEIRO, Rodrigo de Menezes,
RICIERI, Marilucia, Metodologia Científica, (2014).
PHILLIPS, Estelle M., PUGH, D.S., Como preparar um mestrado ou doutoramento, (1998).
Fontes da internet:
https://pedamado.wordpress.com/2019/06/28/estrutura-de-uma-dissertacao-relatorio-de-
mestrado-ou-tese-de-doutoramento/ [06 de fevereiro de 2021]
https://depts.washington.edu/owrc/Handouts/How%20to%20Structure%20and%20Organize%20
Your%20Paper.pdf [19 de fevereiro de 2021]
http://portal.uab.pt/wp-content/uploads/2018/02/Normas_TesesDissertacoes.pdf [9 de fevereiro
de 2021]
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