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COORDENADORA DO PROGRAMA EDITORIAL


Suzana Leitão Russo (API/UFS/SE)

CONSELHO CONSULTIVO
Irineu Afonso Frey - Universidade Federal de Santa Catarina - Brasil
José Paulo Rainho - Universidade de Aveiro - Portugal
Luísa M. C. Carvalho – Instituto Politécnico de Setúbal - Portugal
Maria Emilia Camargo - Universidade de Caxias do Sul - Brasil
Paulo M. M. Rodrigues - Universidade de Lisboa - Portugal

COMITÊ EDITORIAL

Ana Eleonora Almeida Paixão Jonas Pedro Fabris


Universidade Federal de Sergipe – Brasil Universidade Federal de Sergipe - Brasil

Angela Isabel dos Santos Dullius Lana Grasiela Alves Marques


Universidade Federal de Santa Maria - Brasil Fiocruz/RJ - Brasil

Carmen Regina Dorneles Nogueira Luis Felipe Dias Lopes


Universidade Federal do Pampa - Campus Jaguarão - Brasil Universidade Federal de Santa Maria - Brasil

Célia M. Q. Ramos Maria Augusta Silveira Netto Nunes


ESGHT da Universidade do Algarve - Portugal UNIRIO - Brasil

Cristina M. Quintella Maria da Gloria Bandeira


Universidade Federal da Bahia - Brasil Universidade Federal do Maranhão - Brasil

Daniel Pereira da Silva Maria Rita de Morais Chaves Santos


Universidade Federal de Sergipe - Brasil Universidade Federal do Piauí - Brasil

Deise Juliana Francisco Reinaldo Castro e Souza


Universidade Federal de Alagoas - Brasil Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - Brasil

Denise Santos Ruzene Simone de Cássia Silva


Universidade Federal de Sergipe - Brasil Universidade Federal de Sergipe - Brasil

Fátima Regina Zan Norberto Nuno Pinto Santos


Instituto Federal Farroupilha - Brasil Universidade de Coimbra - Portugal

Gesil Sampaio Amarante Segundo Vivianni Marques Leite dos Santos


Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) - Brasil Universidade Federal do Vale do São Francisco - Brasil

José Aprígio Carneiro Neto Walter Priesnitz Filho


Instituto Federal de Sergipe - Brasil Universidade Federal de Santa Maria - Brasil
SUZANA LEITÃO RUSSO
ORGANIZADORA

MAPEAMENTO TECNOLÓGICO,
TENDÊNCIAS COMPETITIVAS

Adriana de Lima Mendonça Maria Elisa Marciano Martinez


Ana Karla de Souza Abud Maria Geovânia Dantas Silva
Antonio Martins de Oliveira Junior Mariana Araujo Adelino
Breno Ricardo de Araújo Leite Maxdouglas dos Santos
Bruno Ramos Eloy Nadja Rosele Alves Batista
Carla Cristina de Souza Patrícia Beltrão Constant Lessa
Cleide Mara Barbosa da Cruz Rafael Jankovski
Cleo Clayton Santos Silva Rafael Sales Almendra
Daniel Barreto Doria Amado
Renata Silva-Mann
Daniel Pereira da Silva
Rita de Cássia Correia da Silva
Diego Silva Souza
Rodrigo Rocha Lima
Douglas Alves Santos
Flavia Aquino da Cruz Santos Ruth Rufino do Nascimento
Flávia Luiza Araújo Tavares da Silva Samanta Soares Machado
Gabriel Grezoski Bitencourt Silvia Manoela Santos de Jesus
Glessiane de Oliveira Almeida Suzana Leitão Russo
Irineu Afonso Frey Tais Letícia de Oliveira Santos
João Antônio Belmino dos Santos Tiago Soares da Silva
Luana Brito de Oliveira Victor Manoel Pelaez Alvarez
Luis Felipe Dias Lopes Wanderson de Vasconcelos Rodrigues da Silva

ARACAJU, 2021
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É proibido a reprodução total ou parcial, de
qualquer forma ou por qualquer meio. A violação dos direitos de autor (Lei nº 9.610, de 19
de fevereiro de 1998.) é crime estabelecido pelo artigo 184 do código penal.
Este livro, ou parte dele, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização es-
crita da editora.
Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado
no Brasil em 2009

CAPA
Start Design e Propaganda

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA


Adilma Menezes

Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Ficha Catalográfica elaborada pela Backup Books Editora
Mapeamento Tecnológico, Tendências Competitivas.
M267 Suzana Leitão Russo (Organizadora). – Aracaju: Backup
Books Editora, 2021.
211 p.
ISBN: 978-65-990932-7-2
https://doi.org/10.47022/backup.books018

1. Propriedade intelectual. 2. Mapeamento Tecnológico.


I. Russo, Suzana Leitão II Título

CDU 347.77

Backup Books Editora


CEP 49.035-490 – Aracaju/SE
e-mail: backup.books.editora@gmail.com
www.backupbooks.com.br

O rigor e a exatidão do conteúdo dos artigos publicados são da responsabilidade exclusiva


dos seus autores. Os autores são responsáveis pela obtenção da autorização escrita para re-
produção de materiais que tenham sido previamente publicados e que desejem que sejam
reproduzidos neste livro.

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“Nem tudo depende
do tempo, as vezes as coisas
dependem só de uma atitude”

(Autor desconhecido)

5
APRESENTAÇÃO

A obra “MAPEAMENTO TECNOLÓGICO, TENDÊNCIAS COMPETITI-


VAS” corresponde a uma compilação de material utilizados por pesquisadores
no campo da Propriedade Intelectual e Prospecção Tecnológica em suas pesquisas
acadêmicas.
Com as pesquisas realizadas, empenhando-se em mostrar cenários competiti-
vos, espera-se que esta obra torne-se referência e um estímulo à todos que alunos
de graduação e pós-graduação das mais diversas áreas, empresários e outros pro-
fissionais que possivelmente se interessam pelo tema proposto.
A obra é compilada em diversos volumes, este é o segundo volume e está sub-
dividido em 11 capítulos. Os temas elencados nesse volume, são conteúdos de Pro-
riedade Intelectual (Patentes e Indicação Geográfica) e Prospecção Tecnológica,
todos apresentando resultados práticos à compreensão, análise e reflexão científica
que poderão contribuir como apoio e referência para o aprofundamento teórico
quanto às diferentes relações da Propriedade Intelectual com a Sociedade.
Assim, essa obra será um suporte teórico debatendo sobre conhecimentos re-
levantes dessa área da científica que a cada dia se revela prioritária para o desen-
volvimento do país.
Agradecemos o interesse, o esforço e a dedicação de todos os autores das dife-
rentes instituições, por partilhar suas experiências e seus resultados de suas pes-
quisas acadêmicas. Esperamos que público se beneficie com a leitura e que os ca-
pítulos sirvam de incentivo aos estudos voltados a Propriedade Intelectual e em
espefícico a área da Prospecção Tecnológica.

Suzana Leitão Russo


Professora Aposentada da
Universidade Federal de Sergipe
Organizadora
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...................................................................................................... 7

1. MAPEAMENTO TECNOLÓGICO DE PATENTES REFERENTES


AOS ALIMENTOS E INGREDIENTES PREBIÓTICOS NO BRASIL..... 11
Maria Geovânia Dantas Silva, Ana Karla de Souza Abud

2. MAPEAMENTO TECNOLÓGICO E TENDÊNCIAS


COMPETITIVAS SUSTENTÁVEIS PARA O SETOR INDUSTRIAL
CERVEJEIRO EMPREGANDO GRÃOS CERVEJEIROS
GASTOS (BREWER’S SPENT GRAINS)...................................................... 29
Samanta Soares Machado, Douglas Alves Santos,
Victor Manoel Pelaez Alvarez

3. PATENTES VERDES NO BRASIL: PANORAMA ATUAL E


TENDÊNCIAS COMPETITIVAS SUSTENTÁVEIS.................................... 45
Douglas Alves Santos, Maria Elisa Marciano Martinez

4. MAPEAMENTO TECNOLÓGICO RELACIONADO A


PATENTES VERDES........................................................................................ 67
Cleide Mara Barbosa da Cruz, Cleo Clayton Santos Silva,
Nadja Rosele Alves Batista, Flavia Aquino da Cruz Santos,
Diego Silva Souza, Daniel Barreto Doria Aquino

5. MAPEAMENTO DE TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS PARA


O SETOR DE MOBILIDADE NAS CIDADES INTELIGENTES.............. 79
Mariana Araujo Adelino, Wanderson de Vasconcelos Rodrigues da Silva,
Renata Silva-Mann

6. PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA, TECNOLOGIAS DE


INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ÁREA EDUCACIONAL........ 97
Glessiane de Oliveira Almeida, Luana Brito de Oliveira
7. ANÁLISE PATENTOMÉTRICA DA INOVAÇÃO E TECNOLOGIA
NAS EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA DE PEQUENO
PORTE, ATRAVÉS DA BASE WIPO............................................................. 109
Silvia Manoela Santos de Jesus, Antonio Martins de Oliveira Junior

8. INDICADORES DE INOVAÇÃO DE PROBIÓTICOS


FUNCIONAIS DAS INDÚSTRIAS DE ALIMENTOS DO BRASIL......... 123
Flávia Luiza Araújo Tavares da Silva, Taís Letícia Oliveira dos Santos,
Bruno Ramos Eloy, Patricia Beltrão Lessa Constant,
João Antonio Belmino dos Santos

9. USO DO BLOCKCHAIN PARA PROTEÇÃO DO SEGREDO


INDUSTRIAL: ANÁLISE DA JURISPRUDÊNCIA NO DIREITO
BRASILEIRO..................................................................................................... 137
Breno Ricardo de Araújo Leite, Carla Cristina de Souza,
Gabriel Grezoski Bitencourt, Rafael Jankovski, Irineu Afonso Frey

10. ESTUDO DO POTENCIAL DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA


DA LINGUIÇA CASEIRA DE JOSÉ DE FREITAS...................................... 149
Tiago Soares da Silva, Rafael Sales Almendra,
Suzana Leitão Russo, Daniel Pereira da Silva

11. VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO


TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL....... 161
Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

12. O USO DE SEMIOQUÍMICOS DE ESPÉCIES DE Annona


COMO ATRAENTE NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS:
UM ESTUDO PROSPECTIVO...................................................................... 189
Rita de Cássia Correia da Silva; Maxdouglas dos Santos;
Ruth Rufino do Nascimento; Adriana de Lima Mendonça
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO DE
PATENTES REFERENTES AOS ALIMENTOS E
INGREDIENTES PREBIÓTICOS NO BRASIL

Maria Geovânia Dantas Silva, Ana Karla de Souza Abud

INTRODUÇÃO

O Brasil é o 4º colocado em consumo de alimentos saudáveis no ranking global


da Euromonitor, movimentando cerca de US$ 35 bilhões por ano (CARREIRO,
2019). Isto tem estimulado as indústrias a atender a demanda por alimentos, além
de mais saudáveis, saborosos e atrativos.
Entre estes produtos, destacam-se os alimentos e ingredientes prebióticos, que
podem contribuir para uma melhor qualidade de vida e, devido as suas proprieda-
des funcionais, têm sido amplamente utilizados no campo da nutrição e dietética
(SILVA; MARTINS, 2015).
As propriedades funcionais conferidas aos ingredientes prebióticos estão relacio-
nadas à melhora das diversas funções fisiológicas, à absorção de minerais e manuten-
ção da saúde intestinal, além da prevenção de diversas patologias, como constipação
intestinal, obesidade, diabetes mellitus, dislipidemias, colite ulcerativa, síndrome
do intestino curto, câncer, entre outras. São considerados agentes bioterapêuticos
e classificados como produtos nutracêuticos, de origem natural e benéficos à saúde,
apresentando propriedades biológicas ativas, capacidade preventiva e/ou terapêutica
definida (SILVA; MARTINS, 2015; GARCÍA; VELÁZQUEZ; PENIÉ, 2016).
Os ingredientes com funções prebióticas são encontrados em baixas concentra-
ções nos alimentos, tornando possível a sua incorporação nos alimentos industria-
lizados, produtos de panificação, adoçantes, iogurtes, barras nutricionais e shakes
substitutos de refeições (SANGWAN et al., 2011). Para isto, processos de produção
eficientes devem ser desenvolvidos, implementados e otimizados a fim de acom-
panhar a tendência do mercado de prebióticos (SILVÉRIO et al., 2018; DAVANI-
-DAVARI et al., 2019).
De acordo com a Pronutrition (2019), a América Latina é a região com maior
consumo de alimentos funcionais como probióticos, prebióticos e pós-bióticos,
sendo o Brasil detentor de 52% do mercado latino-americano, seguido pelo Méxi-
co, com 28%.
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO DE PATENTES REFERENTES AOS ALIMENTOS E INGREDIENTES PREBIÓTICOS NO BRASIL

O relatório da Global Market Insights Inc. estima que o mercado de prebióticos


nos Estados Unidos deve ultrapassar de US$ 7,2 bilhões até 2024 (AHUJA; MAM-
TANI, 2019), influenciado pelo lançamento de novos produtos com prebióticos. O
Brasil, contudo, não possui estimativas precisas do mercado para esses produtos
(SANTOS et al., 2014).
Inulina, frutooligossacarídeos (FOS), galactooligossacarídeos (GOS) e lactulo-
se são os principais ingredientes aceitos pela comunidade científica como prebióti-
cos (GIBSON et al., 2010; GIBSON et al., 2017).
Um alimento que está sendo bastante estudado é o tubérculo batata yacon
(Smallanthus sonchifolius), em virtude da elevada reserva dos prebióticos inulina e
FOS encontrados em sua composição. Estudos apontam benefícios quanto às fun-
ções intestinais, controle de peso, de apetite e de diabetes. É uma matéria-prima
potencial para obtenção da inulina uma vez que este ingrediente utilizado no Brasil
é importado (SACRAMENTO; SILVA; TAVARES, 2017).
Diante da relevância desse tema para a indústria de alimentos, o mapeamento
tecnológico se configura como uma ferramenta estratégica para subsidiar políti-
cas de desenvolvimento científico e tecnológico. Dessa forma, os documentos de
patentes são as principais fonte de informações tecnológicas sobre potenciais ino-
vações desenvolvidas no mundo, consolidando-se numa extensa biblioteca para o
setor de pesquisa (REIS et al., 2016; SANTOS et al., 2014).
O Brasil é signatário de três convenções referentes à patentes: (1) Convenção da
União de Paris para a Proteção da Propriedade Industrial (CUP); (2) Acordo Sobre
os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio
(TRIPs); e (3) Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes (PCT) (LEMOS,
2011). O PCT é um tratado internacional que permite solicitar proteção de uma
invenção, simultaneamente, num grande número de países, através de um único
pedido de patente (WIPO, 2020).
Pelo fato de as informações tecnológicas serem preciosas e poderem ser usadas
como instrumento competitivo, é preciso incentivar os ambientes de ensino e pes-
quisa para a explorar cada vez mais essa fonte de conhecimento. Podem ser úteis
para inventores, empresários e instituições de pesquisa, principalmente nos países
em desenvolvimento, como é o caso do Brasil (INPI, 2020).
Além disto, as informações contidas num documento de patente podem contri-
buir para identificar tendências de mercado, tecnologias alternativas, emergentes e
concorrentes, bem como as patentes que podem ser licenciadas. Também podem
auxiliar a tomada de decisões, nortear as políticas de inteligência competitiva por
empresas de diversos ramos tecnológicos, apontar oportunidades de investimentos

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Maria Geovânia Dantas Silva, Ana Karla de Souza Abud

e geração de renda, além de evitar dispêndio com pesquisas que já foram desenvol-
vidas (DOS SANTOS et al., 2014; PIRES et al., 2015; REIS et al., 2016).
Desta forma, o mapeamento tecnológico permite aos centros de pesquisa e de-
senvolvimento avaliar, validar e, também, identificar o potencial tecnológico de
um determinado segmento (MARQUES et al., 2014).
O presente estudo avaliou os depósitos de patentes referentes à tecnologia de
alimentos e ingredientes prebióticos protegidas no Brasil tanto na base de dados
do Instituto Nacional de Propriedade Industria (INPI) quanto nas bases Derwent
Innovations Index e Espacenet, com o objetivo de identificar os avanços tecnológi-
cos desenvolvidos no país.

METODOLOGIA

A pesquisa foi classificada quanto aos objetivos como descritiva e explorató-


ria, com abordagem qualitativa e quantitativa. Os procedimentos metodológicos
utilizados foram a pesquisa bibliográfica e documental sobre o tema alimentos
e ingredientes prebióticos, sendo realizado um levantamento de dados secun-
dários em sites e em documentos, buscando verificar a produção tecnológica de
tais alimentos. O período de consultas utilizado foi entre os meses de janeiro e
março de 2020.
Os motivos para escolha das bases de dados foram: (1) Derwent Innovations
Index surgiu em 1963 e contém 16 milhões de invenções práticas, possuindo um
banco de dados de estruturas químicas que possibilita localizar patentes contendo
informações por meio da combinação da Derwent World Patents Index®, Patents
Citation Index TM e Chemistry Resource, sendo uma ferramenta essencial para
pesquisa dos ingredientes prebióticos; (2) Espacenet é a base de dados do Escri-
tório Europeu de Patentes (EPO), com documentos de mais de 90 países, acesso
gratuito a mais de 120 milhões de documentos de patentes; e (3) INPI é o órgão
responsável pelo registro e concessão de propriedade industrial no Brasil, tendo
como missão estimular a inovação e a competitividade a serviço do desenvolvi-
mento tecnológico e econômico do país.
A metodologia se baseou na coleta de informações, com a busca avançada nos
títulos e resumos, utilizando-se as palavras-chave: prebiotic*; inulin*; FOS OR fru-
tooligossacarídeo* OR fruto-oligossacarídeo*; GOS OR galactooligossacarídeo*
OR galactooligossacarídeo*; XOS OR xilooligossacarídeo* OR xilooligossacarí-
deo*; polidextrose*; lactulose* e frutano* na base de dados do Instituto Nacional
de Propriedade Industrial (INPI). Na base europeia Espacenet e na Derwent Inno-

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MAPEAMENTO TECNOLÓGICO DE PATENTES REFERENTES AOS ALIMENTOS E INGREDIENTES PREBIÓTICOS NO BRASIL

vations Index foram usadas essas mesmas palavras-chaves em inglês e recuperadas


apenas as patentes protegidas no Brasil, ou seja, a seleção foi por país (BR).
A Figura 1 detalha os passos do estudo. Para interpretar as informações de
interesse, cada documento foi analisado individualmente, identificando o número
da patente e coletando informações relevantes a fim de gerar os indicadores tec-
nológicos.
Foram selecionados todos os documentos que faziam referência à tecnologia
protegida (produtos, informações e processos) como também as tecnologias corre-
latas (dispositivos). Alguns desses pedidos de patentes também foram depositados
em outros países, mas o foco do estudo se limitou aos pedidos de patentes que
tinha o Brasil como país de depósito.

Figura 1 - Etapas de elaboração do estudo

Fonte: Elaborado pelas autoras (2020)

Após a leitura de todos os documentos foram eliminados os que tratavam de


cosméticos, medicamentos, cultivares e ração animal, obtendo-se as patentes rela-
cionadas apenas à tecnologia em estudo. A planilha Microsoft Excel® foi utilizada
para o tratamento dos dados. Os documentos em duplicidade foram eliminados
através dos filtros aplicados às planilhas do Excel. Para analisar e discutir os resul-
tados foi utilizada a estatística descritiva.
A análise dos indicadores, obtidos através dos estudos métricos, é essencial
para que o conhecimento científico e tecnológico gerado seja compreendido e con-
tribua para o desenvolvimento da ciência (OLIVEIRA; ARAUJO, 2020). Desta for-
ma, os indicadores tecnológicos explorados foram evolução temporal, status dos
pedidos de patentes, lead time (período entre o depósito e o deferimento), vias
de depósito (Brasil, PCT), classificação internacional de patentes (CIP), principais
depositantes, classificação dos depositantes (autônomos, instituições de pesquisa e
empresas), tipos de depositantes (residentes e não residentes) e países depositantes.

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Maria Geovânia Dantas Silva, Ana Karla de Souza Abud

RESULTADOS E DISCUSSÃO

DEPÓSITOS DE PEDIDOS DE PATENTES

As palavras-chave utilizadas neste estudo e a quantidade de pedidos de pa-


tentes depositadas nas diferentes bases de dados estão apresentadas na Tabela 1.
Salienta-se que a pesquisa das palavras-chave na base de dados do INPI ocorreu
em separado em função dos recursos do sistema. Em seguida, foram eliminados os
pedidos de patentes duplicados, sendo posteriormente lidos os títulos e os resumos
e descartados aqueles que não estavam relacionados à alimentaçao humana. Obte-
ve-se, ao final, 79 pedidos de patentes.

Tabela 1 – Depósitos de pedidos de patentes nas bases de dados avaliadas

Quantitativo
Base de dados Palavras-chave
de patentes
prebiotic* 24
inulin* 24
FOS OR frutooligossacarídeo* OR fruto-oligossacarídeo* 12
GOS OR galactooligossacarídeo* OR galacto-oligossacarídeo* 8
INPI
XOS OR xilooligossacarídeo* OR xilo-oligossacarídeo* 4
polidextrose* 4
frutano* 2
lactulose* 1
prebiotic* OR inulin* OR fructooligosaccharide* OR galactooli-
Espacenet gosaccharide* OR xylooligosaccharide* OR polidextrose* OR 170
fructan* OR lactulose* AND BR
prebiotic* OR inulin* OR (FOS OR fructooligosaccharide*) OR
Derwent (GOS OR galactooligosaccharide*) OR (XOS OR xylooligosaccha- 343
ride*) OR polydextrose* OR fructan* OR lactulose* AND BR
Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

Na base de dados internacional Espacenet, gerenciada pelo Escritório Europeu


de Patentes (European Patent Office - EPO), foram recuperados 170 pedidos de pa-
tentes ao se utilizar a expressão de busca “prebiotic* OR inulin* OR fructooligosac-
charide* OR galactooligosaccharide* OR xylooligosaccharide* OR polidextrose*
OR fructan* OR lactulose*”. Aplicou-se o filtro por país para recuperar somente os
pedidos de patente protegidos no Brasil. Em seguida foram lidos os títulos e resu-
mos e eliminados os documentos não relacionados à alimentação humana.
Em contrapartita, na base de dados Derwent Innovations Index, foi empre-
gada uma expressão de busca mais abrangente, “prebiotic* OR inulin* OR (FOS

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MAPEAMENTO TECNOLÓGICO DE PATENTES REFERENTES AOS ALIMENTOS E INGREDIENTES PREBIÓTICOS NO BRASIL

OR fructooligosaccharide*) OR (GOS OR galactooligosaccharide*) OR (XOS OR


xylooligosaccharide*) OR polydextrose* OR fructan* OR lactulose*”, e o filtro por
país para recuperar os pedidos de patentes protegidas no Brasil. Após o leitura dos
títulos e resumos foram eliminados os pedidos que não se referiam à alimentaçõ
humana, gerando 343 pedidos de patentes.

EVOLUÇÃO TEMPORAL

A Figura 2 apresenta a evolução temporal dos depósitos nas diferentes bases


de dados. Percebeu-se que a base de dados do INPI, no intervalo de 2004 a 2007,
apresentou os maiores depósitos de pedidos de patentes sobre essa tecnologia, sen-
do em 2007 verificado o maior número de pedidos, 8 patentes. Nos últimos 9 anos
não houve variação significativa no quantitativo de depósitos, mantendo-se uma
média de 4 depósitos por ano. A queda em 2018 em relação ao número de depó-
sitos se deve ao período de sigilo de no mínimo 18 meses (data do depósito até a
publicação na Revista do INPI), de acordo com a Lei da Propriedade Intelectual,
Lei nº 9.279/1996 (BRASIL, 1996), não sendo possível quantificá-los.

Figura 2 - Depósitos de patentes sobre alimentos e ingredientes prebióticos

Fonte: Elaborado pelas autoras (2020)

A primeira publicação de pedido de patente no INPI ocorreu em 1994 (PI


9405235-2), tendo como depositante o Centro de Ingenieria Genetica Y Biotecno-
logia, de Cuba. Esse pedido se refere ao isolamento e purificação da enzima fruto-
siltransferase extracelular a partir da Acetobacter diazotrophicus. A enzima produz
oligossacarídeos contendo frutose e frutanos e, particularmente, fornece elevados
níveis de frutooligossacarídeos a partir de sacarose, como cestose e cestotetraose,
que podem ser usados como adoçantes naturais de baixa caloria.

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Maria Geovânia Dantas Silva, Ana Karla de Souza Abud

O 1º depósito de patente realizado por residente foi em 2000 (PI 0003867-9),


da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e concedida em 2011. A pa-
tente trata do processo de obtenção e aplicação da inulina a partir de tubérculos
de chicória.
A evolução temporal da base de dados do escritório europeu (Espacenet) indi-
ca que os maiores depósitos ocorreram entre 2004 e 2009, tendo o pico em 2006,
quando foram depositados 47 pedidos sobre essa tecnologia. Entretanto, a partir
de 2009 houve uma queda significativa em relação ao número de depósitos.
Os pedidos de patentes na base Derwent Innovations Index apresentaram um
aumento expressivo a partir de 2009, alcançando 42 depósitos em 2011. Em seguida,
apesar da redução, o número de pedidos se manteve estável, com uma média de 27
patentes por ano. Semelhante ao que ocorreu com os dados do INPI, o decréscimo
verificado em 2018 é justificado pelo período de sigilo de 18 meses a partir da data
de depósito.
Para Santos et al. (2014), os fatores que estimularam o desenvolvimento dos
alimentos funcionais nos últimos anos foram: (1) o aumento no uso de biotecno-
logia, nanotecnologia e engenharia genética na produção desses alimentos; (2) o
aumento da expectativa de vida nos países desenvolvidos; (3) o alto custo dos ser-
viços de saúde; (4) a necessidade das instituições públicas de pesquisa de divulgar
os resultados de suas investigações; e (5) os avanços em tecnologia e ingredientes
alimentares.

CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE PATENTES

O INPI adota a Classificação Internacional de Patentes (CIP) e, desde 2014, a


Classificação Cooperativa de Patentes (CPC, na sigla em inglês) para classificar os
pedidos. A CIP (IPC, na sigla em inglês) é o sistema de classificação internacional,
criado a partir do Acordo de Estrasburgo (1971), cujas áreas tecnológicas são di-
vididas nas classes A a H. Dentro de cada classe há subclasses, grupos principais e
grupos, através de um sistema hierárquico (INPI, 2020). 
Verificou-se que os depósitos de patentes no INPI sobre a tecnologia em estudo
estão relacionados às seções A (necessidades humanas), B (operações de processa-
mento, transporte) e C (química, metalurgia), destacando-se as subclasses C08B,
A23L e A61K presentes em 51,9% do total dos pedidos de patentes depositadas.
A Tabela 2 mostra as principais classificações dos depósitos de pedidos de pa-
tentes sobre alimentos e ingredientes prebióticos nas bases estudadas.

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MAPEAMENTO TECNOLÓGICO DE PATENTES REFERENTES AOS ALIMENTOS E INGREDIENTES PREBIÓTICOS NO BRASIL

Tabela 2 – Principais classificações de patentes sobre alimentos e ingredientes prebióticos

Classificação Frequência
Internacional de Descrição
Derwent Espacenet INPI
Patente (CIP)
Produtos lácteos; Substitutos de leite ou queijo;
A23C 33 25 04
Fabricação.
Cacau; produtos de cacau, substitutos de cacau ou
A23G produtos de cacau; confeitos; goma de mascar; sor- 39 23 06
vetes; preparações dos mesmos.
Alimentos, produtos alimentícios ou bebidas não
A23L 151 70 15
alcoólicas; seu preparo ou tratamento.
Preparações para uso médico, odontológico ou
A61K 36 08 10
higiênicas.
C08B Polissacarídeos; seus derivados. 13 03 16
Fonte: Elaborado pelos autores (2020)

Na base Derwent 44,0% dos pedidos de patentes pertenceram à subclasse A23L.


A área tecnológica apresentada por 39 patentes (11,4%) foi a A23G, a com 36 pe-
didos (10,5%) a subclasse A61K e a com 33 depósitos (9,6%), a subclasse A23C.
Na Espacenet destaca-se a subclasse A23L, com 41,2% dos depósitos desta
base. Em seguida, com 25 patentes (14,7%), tem-se a subclasse A23C (produtos
lácteos; substitutos de leite ou queijo; fabricação) e com 23 patentes (13,5%), a
subclasse A23G.
Na base do INPI, a subclasse C08B (polissacarídeos; seus derivados) se destaca
com 16 depósitos de pedidos de patentes, sendo dez por empresas estrangeiras que
solicitaram proteção de suas tecnologias no Brasil, três depósitos realizados por
universidades brasileiras e três por inventores autônomos.
A subclasse A61K (preparações para finalidades médicas, odontológicas ou hi-
giênicas), com 10 pedidos de patentes, foi inclusa neste estudo em razão da possibi-
lidade destas tecnologias fazerem parte de composições nutricionais de alimentos.

PAÍSES DEPOSITANTES DE PEDIDOS DE PATENTES

A Figura 3a mostra que, na base do INPI, 51,9% dos depósitos de patentes


foram realizados por residentes. O país estrangeiro que mais solicitou proteção
de suas tecnologias no Brasil foram os Estados Unidos (EUA), com 11 depósitos
(13,9%), seguido da Alemanha, com 6 pedidos (7,6%). Na base Espacenet (Figura
3b), os países que mais depositaram pedidos de patentes foram os Estados Unidos
(28%) e a Holanda (20%), com o Brasil aparecendo na 3ª posição, com 29 pedidos
(17,1%).

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Maria Geovânia Dantas Silva, Ana Karla de Souza Abud

Figura 3 - Países depositantes de patentes relacionadas a alimentos e ingredientes prebióticos no


Brasil. (a) INPI, (b) Espacenet

Fonte: Elaborado pelos autores (2020)

Segundo dados do INPI (2020), os países que mais depositaram pedidos de


patentes de invenção em 2017 foram os Estados Unidos (31%), o Brasil (21%), a
Alemanha (7%), o Japão (7%), a França (5%), a Suíça (4%), a Holanda, a China e
o Reino Unido (3% cada) e a Itália (2%), corroborando com os dados encontrados
nesse estudo.

MAIORES DEPOSITANTES DE PEDIDOS DE PATENTES

A Figura 4 ilustra os principais depositantes da tecnologia estudada. Na base de


dados do INPI (Figura 4a), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) foi a
detentora de maior quantidade de pedidos de patentes (7 depósitos). Em seguida,
com 3 pedidos, destaca-se a empresa Tiense Suikerraffinaderij, refinaria de açúcar
líder de mercado na Bélgica. A Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
e a Universidade Federal do Ceará (UFC) depositaram 3 pedidos de patentes cada
uma. Estes dados mostram que as universidades brasileiras (Unicamp, UFCG e
UFC) estão entre as maiores depositantes de pedidos de patentes sobre alimentos e
ingredientes prebióticos no INPI, perfazendo 16,5% do total de depósitos.

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MAPEAMENTO TECNOLÓGICO DE PATENTES REFERENTES AOS ALIMENTOS E INGREDIENTES PREBIÓTICOS NO BRASIL

Figura 4 – Maiores depositantes de patentes relacionadas a alimentos e ingredientes prebióticos no


Brasil. (a) INPI (b) Espacenet

Fonte: Elaborado pelos autores (2020)

O número reduzido de pedidos de patentes por empresas brasileiras no INPI


em comparação com os depósitos realizados pelas instituições de pesquisa ratifica
o estudo de Pires (2015), que apontou a baixa participação de empresas brasileiras
nos depósitos de patente sobre prebióticos, tornando-se necessário investimentos
em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) nas empresas.
Na base Espacenet (Figura 4b), os maiores depositantes foram as empresas
multinacionais Nutricia (16 depósitos), Unilever (15) e Nestec (14). A Unicamp (3
depósitos), uma instituição pública brasileira destaca-se nesse cenário.
Na base Derwent (Figura 5) as empresam lideraram em pedidos de patentes. A
empresa Nestec foi a que mais depositou pedidos de patentes no Brasil (30 depósitos
individuais e 28 em parceria). Sediada na Suíça, ela opera como subsidiária da Nes-
tlé, empresa líder mundial em nutrição, saúde e bem-estar, com 418 fábricas em mais
de 86 países (PERONGINI, 2019).
A formação de redes colaborativas, ressaltada por Freitas et al. (2017), é visuali-
zada como instrumento para impulsionar atividades de pesquisa e, por conseguin-
te, tecnologia e inovação, numa região ou área específica.

20
Maria Geovânia Dantas Silva, Ana Karla de Souza Abud

Figura 5 – Maiores depositantes de patentes de alimentos e ingredientes prebióticos no Brasil na


base Derwent. (a) individual (b) em parceria

Fonte: Elaborado pelos autores (2020)

As universidades brasileiras UFRB, Unicamp, UFCG e UEL foram responsá-


veis por 15% dos pedidos individuais sobre alimentos e ingredientes prebióticos.
Constatou-se, também, que as universidades UFRB e Unicamp se destacaram em
pedidos de patentes em parceria com outras entidades.

PEDIDOS DE PATENTES POR RESIDENTES E NÃO RESIDENTES

A Figura 6 mostra que 51,9% dos pedidos de patentes depositados no INPI,


relacionados aos alimentos e ingredientes prebióticos, originam-se de depositan-
tes nacionais, designados junto ao INPI como residentes (pessoas que moram no
Brasil) e 48,1% são invenções desenvolvidas por estrangeiros (não residentes) que
solicitaram proteção no Brasil.
Na base europeia (Espacenet), os não residentes depositaram mais pedidos de
patentes (82,9%) em relação aos residentes (17,1%). Fato semelhante também foi
observado na Derwent, onde os não residentes tiveram uma contribuição expressi-
va, com 88% dos depósitos contra 12% de dos residentes. Isto evidencia o interesse
internacional em solicitar proteção dessa tecnologia no Brasil.

21
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO DE PATENTES REFERENTES AOS ALIMENTOS E INGREDIENTES PREBIÓTICOS NO BRASIL

Figura 6 – Depositantes residentes e não residentes nas diferentes bases de dados

Fonte: Elaborado pelos autores (2020)

ENTIDADES RELACIONADAS AOS PEDIDOS DE PATENTES

A Figura 7 apresenta as entidades que mais realizaram depósitos de pedidos de


patentes nas bases de dados do INPI, Espacenet e Derwent. No INPI as empresas
(47%) e as Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) (44%) foram as principais
depositantes, sendo os 9% restantes relacionado à depósitos por inventores inde-
pendentes, ou seja, pessoas que desenvolveram seus produtos, processos e/ou ser-
viços de maneira autônoma.

Figura 7 - Tipos entidades que protegeram suas tecnologias relacionadas a alimentos e ingredientes
prebióticos no Brasil segundo as bases do INPI, Espacenet e Derwent

Fonte: Elaborado pelos autores (2020)

22
Maria Geovânia Dantas Silva, Ana Karla de Souza Abud

Observou-se que, das 37 empresas, 92% dos depósitos no INPI são estrangeiras.
Esse indicador reforça o interesse de empresas internacionais em proteger suas tecno-
logias no Brasil, bem como o potencial dessa área tecnológica para a indústria alimen-
tícia brasileira.
Na base Espacenet, as empresas foram as maiores depositantes de pedidos de pa-
tentes (84%), enquanto as ICTs e os inventores autônomos contribuíram, cada um,
com 8%.
Verificou-se, na base Derwent, que 59,8% (maior fatia) dos depósitos também
são oriundos de empresa. Em seguida, têm-se os mistos (25,7%), ou seja, depósitos
de patente que possuem mais de um titular como, por exemplo, empresa-institui-
ção de pesquisa, empresa-autônomos, empresa-empresa, entre outros. Nesta base,
as ICTs estão presentes com 11% e os autônomos com 3,5%.

NATUREZA DOS DEPOSITANTES RESIDENTES

Quanto à natureza dos depositantes residentes (Figura 8), foi verificado no


INPI que as ICTs são responsáveis por 78,1% dos depósitos de pedidos de patentes
sobre a tecnologia em estudo, enquanto 14,6% são de autônomos e apenas 7,3%
dos depósitos são de empresas brasileiras.

Figura 8 - Depositantes residentes que protegeram tecnologias relacionadas a alimentos e ingre-


dientes prebióticos no Brasil segundo as bases do INPI, Espacenet e Derwent

Fonte: Elaborado pelos autores (2020)

23
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO DE PATENTES REFERENTES AOS ALIMENTOS E INGREDIENTES PREBIÓTICOS NO BRASIL

De acordo com a base de dados europeia (Espacenet), ainda que em menor


proporção (44,8%), os maiores depositantes residentes foram as ICTs, seguida dos
inventores autônomos (41,4%) e das empresas (13,8%).
A base Derwent apresentou a maior liderança das ICTs (87,8%) quanto aos de-
pósitos de patentes pelos residentes. Os inventores autônomos foram responsáveis
por 9,8% dos pedidos, enquanto apenas 2,4% foi oriundo de empresas.
Constatou-se, nas três bases estudadas, que as ICTs foram as maiores deposi-
tantes de pedidos de patentes sobre alimentos e ingredientes prebióticos, quando
analisado apenas o perfil dos residentes, um cenário diferente do mostrado na Fi-
gura 7, onde as empresas lideraram os depósitos.
Dentre os depósitos realizados pelas ICTs brasileiras, 88,9% foram pedidos oriun-
dos de universidades. Pelo fato destas depositarem mais pedidos de patentes em
comparação com empresas residentes, enfatiza-se a importância da pesquisa e da
transferência de tecnologia do setor acadêmico para a indústria, bem como a par-
ceria ICT-empresa, condição reforçada no Marco Legal de Ciência, Tecnologia e
Inovação (Lei nº 13243/16) (BRASIL, 2016; RAUEN, 2016).
Entretanto, segundo Dias e Porto (2013), os gargalos relacionados à escassez de
pessoal permanente, o elevado número de pessoal temporário e a inexistência de uma
política institucional para regulamentar a criação de empresas spin-offs dificultam a
transferência de tecnologia das universidades para as empresas.
Diante do que foi exposto, faz-se necessário incentivar a cooperação entre ICT
e empresa, promover o licenciamento ou a transferência de tecnologia com vistas
à inovação e, como consequência, gerar renda e melhoria na qualidade de vida dos
indivíduos. Isso é possível através da gestão da propriedade intelectual em ambien-
tes acadêmicos e empresariais (ARAÚJO; BARBOSA; QUEIROGA, 2010).

VIA DE DEPÓSITOS DE PATENTES

O PCT (Tratado de Cooperação de Patentes) é um tratado internacional com


mais de 150 Estados contratantes e permite solicitar a proteção de uma invenção
através da patente em mais de um país, depositando um único pedido de patente
internacional. O PCT é utilizado pelas maiores empresas, instituições de pesquisa e
universidades do mundo como também utilizado por pequenas e médias empresas
(PMEs) e inventores individuais (WIPO, 2020).
No INPI, 57% dos pedidos de depósitos de patentes foram referentes a pedidos
de proteção da tecnologia somente no Brasil, contra 43% dos pedidos via PCT.

24
Maria Geovânia Dantas Silva, Ana Karla de Souza Abud

STATUS LEGAL DOS DEPÓSITOS DE PATENTES O INPI

A análise indicou que 77% dos pedidos de patentes esse ncontram pendentes,
aguardando a análise do INPI, enquanto 23% já foram concedidos. A média de con-
cessão foi de 11 anos, sendo o maior lead time (tempo de espera entre o depósito e a
concessão) de 15 anos e, o menor, 8 anos.
De acordo com Garcez Júnior e Moreira (2017), dentre os fatores que contri-
buem para o aumento do lead time destacam-se o crescimento das atividades pa-
tentárias, a falta de recursos e os atrasos promovidos pelos próprios depositantes.

CONCLUSÃO

As buscas nas bases INPI, Espacenet e Derwent Innovations Index sobre a


proteção da tecnologia envolvendo alimentos e ingredientes prebióticos no Brasil
revelaram um quantitativo de 79, 170 e 343, respectivamente. Devido à limitação
da base de dados, foram utilizadas palavras-chave em separado no INPI, enquanto
nas bases Espacenet e Derwent foram aplicadas expressões de busca, com maior
abrangência na Derwent. Estas diferentes formas de busca influenciaram os resul-
tados obtidos na recuperação dos pedidos de patentes sobre essa temática.
Apesar da classe C08B se destacar na base do INPI, as principais áreas tecno-
lógicas encontradas foram A23L, A23G, a A61K e A23C, relativas às necessidades
humanas.
As empresas estrangeiras foram as entidades que mais solicitaram proteção de
suas tecnologias no Brasil. Entretanto, em relação aos residentes, as ICTs se so-
bressaíram como maiores depositantes. Em relação aos países, os Estados Unidos
foram os que mais depositaram pedidos no Brasil.
Quanto ao depositante, a Unicamp liderou o ranking dos pedidos de patentes
no INPI. Na base europeia (Espacenet), as indústrias Nutricia e Unilever foram as
maiores depositantes e, na base Derwent, sobressaiu a indústria Nestec, subsidiária
da Nestlé.
A maioria dos depósitos de patentes nas bases Espacenet (83%) e Derwent
(88%) foram de não residentes, enquanto na base de dados do INPI observou-se
resultado equivalente em relação aos depósitos de residentes (52%) e não residen-
tes (48%).
O estudo mostrou que ainda existe uma lacuna a ser preenchida, seja através
de investimento e/ou incentivo para que novos pesquisadores brasileiros desenvol-
vam tecnologias acerca dos alimentos e ingredientes prebióticos, uma vez que estes

25
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO DE PATENTES REFERENTES AOS ALIMENTOS E INGREDIENTES PREBIÓTICOS NO BRASIL

produtos têm enorme potencial para subsidiar um crescimento e fortalecimento da


indústria alimentícia brasileira.
Além disto, o Brasil precisa fortalecer as políticas públicas, viabilizando leis
que incentivem a transferência de tecnologia entre ICT e empresa, fomentando a
inovação e, consequentemente, gerando renda e o aquecimento da economia.

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28
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO E
TENDÊNCIAS COMPETITIVAS SUSTENTÁVEIS
PARA O SETOR INDUSTRIAL CERVEJEIRO
EMPREGANDO GRÃOS CERVEJEIROS GASTOS
(BREWER’S SPENT GRAINS)

Samanta Soares Machado, Douglas Alves Santos, Victor Manoel Pelaez Alvarez

INTRODUÇÃO

Dentre os grandes desafios da indústria, a busca por soluções voltadas aos resíduos
industriais é cada vez mais importante, tendo em vista o impacto deles no meio-am-
biente e na qualidade de vida da população. Além da busca por soluções de problemas
associados aos resíduos industriais, há também o interesse em identificar e entender
como alguns resíduos podem ser reutilizados, e assim alavancar a geração de valores de
subprodutos com alto potencial de reuso, dentro ou fora de suas cadeias de produção.
Segundo Freire et al. (2000), devido aos avanços dos processos industriais e o
surgimento de novos produtos que rapidamente tornaram-se de primeira neces-
sidade, a atividade industrial passou a ser essencial na sociedade contemporânea.
Os autores apontam que a atividade industrial, por várias vezes, é responsabilizada
pela contaminação ambiental em razão de dois fatores: devido ao acúmulo de ma-
térias-primas e insumos, relacionados aos riscos de contaminação por transporte
e disposição inadequada; e em razão da ineficiência dos processos de conversão, o
que necessariamente implica na geração de resíduos.
Tal situação não é diferente na indústria cervejeira, e a evolução e crescimento
deste ramo de atividade é proporcional ao aumento dos desafios de minimizar os
impactos ambientais associados à produção de cervejas. De acordo com Olajire
(2012), a indústria cervejeira possui diversos aspectos que constituem oportuni-
dades para desenvolvimento de práticas sustentáveis, tais como: alto consumo de
água e de energia, subprodutos aquosos e sólidos. O autor cita que, no caso de
produtos sólidos, uma boa alternativa é reutilizá-los para a alimentação animal.
O objetivo deste capítulo é realizar um mapeamento tecnológico acerca do reu-
so dos grãos cervejeiros utilizados no processo de fabricação (comumente chama-
dos de Brewer’s Spent Grains - BSG) por meio do emprego de informações tecno-
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO E TENDÊNCIAS COMPETITIVAS SUSTENTÁVEIS PARA O SETOR INDUSTRIAL CERVEJEIRO...

lógicas advindas de documentos patentários. Para tanto, é feita uma breve revisão
bibliográfica sobre a tecnologia de fabricação de cervejas e sobre as dimensões do
mercado mundial. Em seguida, é identificado a evolução das publicações patentá-
rias, nos cinco últimos anos de depósitos de patentes. São também identificas as
áreas tecnológicas associadas às aplicações dessas publicações patentárias, assim
como, os principais depositantes e suas áreas de interesse estratégico.

A TECNOLOGIA E O MERCADO CERVEJEIRO

Para melhor compreender os desafios da indústria cervejeira, referentes aos


resíduos gerados, é necessário o conhecimento do processo de fabricação de cer-
vejas. Segundo Rosa e Afonso (2015), tal processo é composto pelas seguintes eta-
pas: Brassagem, Fermentação, Maturação, Filtração, Acabamento e Envasamento.
Na Figura 1 é apresentado um esquema sobre o processo de fabricação de cervejas.

Figura 1 – Etapas do processo de produção de cervejas

Fonte: ROSA E AFONSO (2019)

A geração de grãos cervejeiros gastos (comumente chamados de Brewer’s


Spent Grains, ou simplesmente BSG) se dá depois dos processos de moagem
e maturação da cevada, e é separada do mosto por filtragem. Os BSG são os
resíduos mais abundantes do processo de produção cervejeira, e correspondem
a aproximadamente 85% dos resíduos gerados, ou 20kg a cada 100L de cerveja
produzidos. A estimativa de produção global anual de BSG está em torno de 39

30
Samanta Soares Machado, Douglas Alves Santos, Victor Manoel Pelaez Alvarez

milhões de toneladas e os principais constituintes do resíduo são fibras (30–50%) e


proteínas (19–30%). Outros componentes constituem os BSG como os arabinoxi-
lanos, proteínas na forma de hidrolisados e compostos fenólicos, os quais apresen-
tam potencial de uso para a saúde (GUPTA, ABU-GHANNAM GALLAGHAR,
2010; LYNCH, STEFFEN E ARENDT, 2016).
Segundo Bolwig et al. (2019), os BSG são geralmente utilizados para nutrição
animal, sendo prioritariamente destinados aos criadores de gado e outros animais.
No entanto, apesar de parecer uma boa opção em termos de sustentabilidade am-
biental, as condições de rápida deterioração dos grãos impõem a necessidade de
que o consumo esteja próximo à unidade de geração dos resíduos e a existência de
uma estrutura de transporte específica. Adicionalmente aos desafios de logística,
muitos produtores de cerveja não reconhecem oportunidades para o resíduo sóli-
do, direcionando-os muitas vezes para alimentação animal sem qualquer tratamen-
to que implique em custos adicionais ao processo produtivo. O estudo conduzido
pelos autores aponta a falta de execução de um plano de negócio como fator que
dificulta a geração de valor para os resíduos da indústria cervejeira, e cita que uma
das principais causas é a falta de interesse dos próprios cervejeiros em criar alter-
nativas ao modelo existente de destinação para alimentação animal. No entanto,
o mesmo estudo indica que há várias alternativas para reutilização dos resíduos
de cervejeiras, como por exemplo, alimentação humana e animal (esta última já
largamente conhecida), químicos, fármacos e energia, conforme a Figura 2.

Figura 2: Processos e produtos baseados em BSG

Fonte: Adaptado de Bolwig et al. (2019)

31
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO E TENDÊNCIAS COMPETITIVAS SUSTENTÁVEIS PARA O SETOR INDUSTRIAL CERVEJEIRO...

Ortiz et al. (2019) e Sperandio et al. (2017) indicam o reuso de resíduos como
estratégia para a economia circular, e focam no reuso de BSG para a produção
alternativa de energia, diminuindo assim a utilização de combustíveis fósseis.
De acordo com Buffington (2014), a reutilização de BSG possui grande potencial
como fonte de matéria-prima para vários produtos, mas ainda há a necessidade de
desenvolvimento tecnológico para que isso seja economicamente viável, a ponto de
vários ramos industriais passarem a utilizar os BSG como matéria-prima para seus
processos. De maneira geral, transformar resíduos em oportunidades para agre-
gar valor à cadeia de produção cervejeira, ou criar alternativas para a economia
circular, torna-se estratégia chave para o desenvolvimento da atividade em âmbito
comercial, industrial e ambiental.
A Kirin Holdings’ Corporate (2019) informa, por meio dos dados do relatório de
produção global elaborado pela Kirin Beer University, que o total de cerveja produzida
pelo mercado mundial em 2018 foi de aproximadamente 191,10 milhões de quilolitros,
apresentando um crescimento de 0,6% em relação ao ano anterior. A China manteve-se
como o maior produtor mundial de cervejas, ainda que com um decréscimo de 2,2%
em relação a 2017. Os EUA posicionaram-se em segundo lugar, com um decréscimo
de 1,7% em relação a 2017. E o Brasil manteve-se no terceiro lugar, com um aumen-
to de 1% da produção em relação a 2017. O México teve participação importante no
crescimento da produção mundial, contribuindo com 90% do incremento em volume
observado em 2018 (ou aproximadamente 970 mil quilolitros). Rússia e Reino Unido
também contribuíram com o crescimento de produção anual, com 310 mil quilolitros
e 220 mil quilolitros respectivamente (Tabela 1).

Tabela 1 – Panorama Mundial de produção de cerveja por país em 2018 – 10 maiores produtores
mundiais

País 2018 Variação referente ao ano de 2017


China 38.927.200 -2,2%
EUA 21.460.700 -1,7%
Brasil 14.137.900 1,0%
México 11.980.000 8,8%
Alemanha 9.365.200 0,7%
Rússia 7.747.000 4,1%
Japão 5.108.300 -2,7%
Vietnam 4.300.000 -1,7%
Reino Unido 4.228.200 4,5%
Polônia 4.093.000 1,4%
FONTE: Adaptado de Kirin Beer University (2019)

32
Samanta Soares Machado, Douglas Alves Santos, Victor Manoel Pelaez Alvarez

As dimensões do mercado mundial e dos principais mercados nacionais, como


o Brasil, indicam o elevado potencial econômico de exploração dos resíduos ge-
rados pela indústria cervejeira. Indicam também a possibilidade de redução do
impacto ambiental gerado por esses resíduos, a partir da adoção de tecnologias
que viabilizem técnica e economicamente o seu aproveitamento. Neste sentido, o
mapeamento tecnológico de patentes na área pode contribuir para estimular o in-
teresse de investimento dos agentes.

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

A classificação de documentos de patentes permite um agrupamento uniforme


e universal de arquivos de patentes, e tem como seu papel principal a base de um
dispositivo de busca viável para a recuperação de registros de patentes para diver-
sos fins, incluindo os de avaliação do estado-da-arte, mapeamento ou prospecção
tecnológica, etc. Logo, os documentos patentários são classificados de acordo com
uma hierarquia permitindo níveis de separação e especificidades para cada inven-
ção descrita em cada documento, de acordo com o ilustrado no Figura 3.

Figura 3: Hierarquia de Classificação Internacional de Patentes

Fonte: Adaptado de WIPO (2020)

A Classificação Internacional de Patentes (CIP) é composta por 8 seções, e


cada Seção é desagregada em Subseções (mas estas não recebem codificação para a
classificação), de modo a oferecer mais granularidade na classificação. Na Figura 4
é apresentado um esquema que exemplifica essa relação (WIPO, 2020).

33
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO E TENDÊNCIAS COMPETITIVAS SUSTENTÁVEIS PARA O SETOR INDUSTRIAL CERVEJEIRO...

Figura 4: Representação das 8 seções da Classificação Internacional de Patentes e Subseções da


Seção A.

Fonte: Adaptado de WIPO (2020)

O próximo nível de desagregação é a Classe, que especifica a aplicação tecno-


lógica, e é representada por dois algarismos, por ex: H01 – Elementos Elétricos
Básicos. As Subclasses conseguem diferenciar ainda mais dentro de cada Classe,
e assim por diante (WIPO, 2020).
Em outro enfoque da pesquisa, o Manual de Oslo (2018) preconiza que para
fins de observação de inovação tecnológica, deve-se analisar períodos não maiores
do que três anos. O Manual também indica que, dependendo do tipo de análise, se
faz necessário a utilização de períodos maiores de observação, de modo a permitir
a observação de padrões e impactos de inovação para projetos que perdurem por
mais tempo. Esse é o caso de estudos que utilizam documentos de patentes como
fonte de informação. Tendo em vista que documentos de patentes podem ficar sob
sigilo durante 18 meses, a contar de sua data de depósito e publicados após este
período, é recomendável que tais estudos utilizem períodos maiores do que três

34
Samanta Soares Machado, Douglas Alves Santos, Victor Manoel Pelaez Alvarez

anos, de forma a garantir o resgate de maior número de documentos de patentes


publicados associados a uma certa tecnologia.
Para realizar o mapeamento tecnológico-patentário foi utilizada o Innogra-
phy®, que se trata de uma ferramenta de busca e análise de dados patentários. A
execução do mapeamento empregou palavras-chave e termos semelhantes em uma
série de “termos de pesquisas” ou “search queries”, e estão descritas no Quadro 1.

Quadro 1: Palavras-chave utilizadas paras os termos de pesquisa

spent grain use beer malt fermentation


solid waste usage alcoholic beverage barley brew
reuse corn
regrain rice
recycling wheat
rye
out
sorghum
Fonte: Autoria própria (2020)

Operadores booleanos e operadores de proximidade, de prefixo, etc. também


foram adotados, bem como, termos adicionais com o auxílio de Thesaurus para a
captura de termos semelhantes foram pesquisados.
Finalmente, após a realização de tais pesquisas, todas foram atreladas umas às
outras, utilizando operador booleano “OR”, somando os resultados encontrados.
O produto obtido foi submetido à expansão simples de famílias de modo a garan-
tir que todos os documentos fossem resgatados. Com os dados ordenados, todos
os documentos recuperados foram exportados para tabelas em formato Excel do
Windows®, as quais foram analisadas.
Para a realização das análises de tendências de depósito foram utilizados os
dados de datas de depósitos dos documentos de patentes, e construiu-se gráfico
com dados a partir de 2000. Já no tocante às análises de tendências competitivas,
empregou-se aos dados acerca das datas de depósito dos últimos cinco anos, ou
seja, no interstício de 2016 a 2020.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As buscas realizadas retornaram 1487 documentos de patentes depositados em


âmbito global, distribuídos em 352 famílias de patentes, no período entre 1902 a
2020. Na Figura 5 são apresentadas as tendências de depósitos a partir de 2000 até
03 de outubro de 2020, data da última busca realizada. Apesar da existência de

35
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO E TENDÊNCIAS COMPETITIVAS SUSTENTÁVEIS PARA O SETOR INDUSTRIAL CERVEJEIRO...

oscilações acentuadas, entre os anos de 2007 e 2010, pode-se notar uma tendência
de aumento de depósitos de documentos de patentes relacionadas ao uso de BSG.
E conforme descrito pela WIPO (2013), é possível que os números de depósitos
associados aos anos de 2018, 2019 e 2020 ainda estejam incompletos, uma vez que
há o período de sigilo.

Figura 5: Tendência de depósitos de documentos de patentes por ano – período de 2000 a 2020

Fonte: Autoria própria (2020)

A fim de consolidar dados relevantes acerca das tendências tecnológicas, são


utilizados dados dos últimos cinco anos de publicações patentárias. Assim, as aná-
lises seguintes são realizadas para o período de 2016 a 2020, o qual compreende
um universo de 365 documentos de patentes publicados. Esse total representa
em torno de 24% de todo o volume de documentos de patentes publicados no
mundo, desde o ano de 1902.
Na Figura 6 são mostrados os dados de documentos de patentes publicados nos
últimos cinco anos por país, de acordo com a data de publicação. A China (CN)
contribui com 29% do total, no período analisado, seguida pelos EUA (US), com
17%, e pelo Brasil (BR), com 8%. Há neste caso uma relação direta entre a proteção
patentária e a produção cervejeira, indicada na Tabela 1.

36
Samanta Soares Machado, Douglas Alves Santos, Victor Manoel Pelaez Alvarez

Figura 6: Histórico de documentos de patentes publicados por país e ano para o período entre 2016
a 2020

Fonte: Autoria própria (2020)


Nota: Foram retirados os documentos depositados no escritório de patentes da União Europeia (EP) e na OMPI
(WO), totalizando 316 pedidos registrados no período.

Para saber as áreas tecnológicas que consideram o reuso de BSG, utilizou-se os


dados de Classe IPC. A Figura 7 as classificações das áreas tecnológicas de aproxi-
madamente 93% dos documentos de patentes publicados entre 2016 a 2020, ou seja,
340 documentos. Nota-se que a Classe C12: possui a maior parte dos documentos
publicados, com participação aproximada de 35% do total de documentos do perío-
do analisado (ou seja, 109 documentos). A segunda área tecnológica mais indicada é
a classificada pelo código A23, com aproximadamente 30% do total publicado. Essas
duas classes são comumente associadas a documentos de patentes da área alimen-
tícia, além da Classe A21, com representação de aproximadamente 2,5% do total.
Assim, é possível inferir que o uso de BSG está majoritariamente relacionado a apli-
cações de alimentos de bebidas, totalizando ao menos um percentual aproximado de
67,5% do total de documentos de patentes publicados nos últimos 5 anos.

Figura 7: Distribuição de Classes de documentos de patentes publicados entre 2016 e 2020

Fonte: Autoria própria (2020)

37
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO E TENDÊNCIAS COMPETITIVAS SUSTENTÁVEIS PARA O SETOR INDUSTRIAL CERVEJEIRO...

É possível também identificar outras possíveis aplicações para o uso de BSG.,


indicadas nas Classes C08, C10 e C05, com participação de 7%, 6,8% e 2,7% respec-
tivamente. Estas estão associadas notadamente ao setor de energia e de fertilizan-
tes. Há ainda uma participação minoritária de outras áreas, como a de tratamento
de água e/ou esgoto, representada pela Classe C02, a medicinal, representada pela
Classe A61, e agricultura, representada pela Classe A01.
Assim, a análise de códigos de Classe de documentos de patentes revela que o
uso de BSG pode ser bem amplo, e não somente focado para a área de alimentos e
bebidas. Essa diversidade de aplicações para o reuso de BSG corrobora o já descrito
por Bolwig et al. (2019), Ortiz et al. (2019), Sperandio et al. (2017) e Buffington
(2014), ainda que nenhum deles tenham utilizado dados de literatura patentária
para seus estudos.
Os 365 documentos de patentes recuperados revelam mais de 80 titulares de-
positantes de pedidos de patentes. Desses, 12 titulares submeteram 227 documen-
tos (62% do total) como indicado na Figura 8.

Figura 8: Principais titulares dos documentos de patentes publicados entre 2016 a 2020

Fonte: Autoria própria (2020)

Dentre os pedidos dos depositantes líderes, destacam-se:


• Pessoas Físicas – documentos de patentes pertencentes a pessoas físicas
ou ainda não atribuídos a corporações ou universidades ou centros de
pesquisa. Foram identificadas mais de 23 pessoas físicas titulares de tais
documentos.

38
Samanta Soares Machado, Douglas Alves Santos, Victor Manoel Pelaez Alvarez

• Co-titulares – alguns documentos de patentes pertencem a mais de um ti-


tular, indicando a existência de projetos em colaboração: Shi Xiang Ind Co
Ltd e Biocommander Int Co Ltd, com 22 documentos de patentes; e Univ
Edinburgh Napier Court e Celtic Renewables Ltd, com 18 documentos.

Excluindo-se o grupo Pessoas Físicas, observa-se que há uma concentração


importante de titulares. Os 11 titulares aqui identificados concentram aproxima-
damente 53% do total publicado entre 2016 a 2020, totalizando 194 documen-
tos de patentes. Dentre esses, destacam-se as empresas multinacionais cervejeiras
Anheuser Busch Inbev AS (ou simplesmente ABInBev) e a Heineken Supply Chain
BV (ou Heineken), com 33 e 23 documentos de patentes respectivamente. Somadas
contribuem com aproximadamente 15% de todos documentos publicados no perí-
odo de 2016 a 2020. Os demais titulares identificados na Figura 6 não são empresas
alimentícias. Juntos possuem um total de 138 documentos de patentes, os quais
representam 38% do total publicado no período estudado.
O cruzamento de dados entre titulares e Subclasses de documentos de patentes,
indica as áreas de interesse de cada empresa, como indicado na Figura 9.

Figura 9: Distribuição de Subclasses de documentos patentários por titular para o período de 2016
a 2020

Fonte: Autoria própria (2020)

Pode-se identificar que dentro da Seção A, a Subclasse com maior número de


documentos de patentes publicados é a A23L: Alimentos, Gêneros Alimentícios
ou Bebidas não Alcoólicas, não abrangidas pelas Subclasses A21D ou A23B-A23J;
sua preparação ou tratamento, por ex. cozinha, modificação de qualidades nutriti-
vas, tratamento físico (modelagem ou trabalho, não totalmente abrangido por esta
subclasse, A23P); conservação de alimentos ou alimentos, em geral (preservação

39
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO E TENDÊNCIAS COMPETITIVAS SUSTENTÁVEIS PARA O SETOR INDUSTRIAL CERVEJEIRO...

de farinha ou massa para panificação A21D). A Subclasse A23L não é somente a


mais populada da Seção A, mas também é que possui mais documentos de paten-
tes dentre todos os documentos aqui avaliados. É importante ressaltar que essa é
uma Subclasse que não está ligada a produção de bebidas alcóolicas. Assim, todos
os documentos associados a tal Subclasse denotam o uso de BSG de indústria cer-
vejeira em outras categorias de produtos alimentícios.
A empresa que possui mais documentos para a Subclasse A23L é a Heineken,
multinacional da indústria cervejeira. Apesar de a empresa possuir foco em indús-
tria cervejeira, o interesse em proteger o uso de BSG em produtos alimentícios em
geral e bebidas não-alcóolicas indica uma estratégia da empresa, de explorar o uso
do subproduto como matéria-prima para outras indústrias, conforme descrevem
os estudos de Bolwig et al. (2019) e Buffington (2014). Em seu último relatório de
sustentabilidade, publicado em 2019, a Heineken cita que o uso de BSG auxilia a
empresa na estratégia de redução de CO2 e descreve parcerias com empresas como
Unilever e criadores de animais locais, como forma de avaliar possiblidades de uso
de tal subproduto, além de usos para produção de energia, materiais e suprimentos
para agricultura (HEINEKEN, 2019).
Cabe também destacar que os depositantes líderes possuem uma quantidade
representativa de pedidos associados à Classe C (Química; Metalurgia), com 77%
do total. Nota-se em especial depósitos na Subclasse C12C (cerveja; preparação
da cerveja por fermentação), das empresas Heineken que concentrou 56% de seus
depósitos nessa categoria, seguida pela ABInBev, com 8 documentos de patentes
(24% de seu total de depósitos). Esse interesse mútuo indica que ambas as empre-
sas competem diretamente no uso de BSG para a produção de bebidas alcóolicas.
Já a ABInBev concentrou 69% dos seus depósitos na Subclasse A23J (compo-
sições de proteínas para alimentos; proteínas de utilização para alimentos; com-
posições fosfáticas para alimentos). Nota-se o foco da empresa em explorar jus-
tamente o elevado teor proteico dos BGS, como mencionado por (GUPTA et al.,
2010; LYNCH, STEFFEN e ARENDT, 2016). Vale ressaltar que essa Subclasse é a
terceira mais populada no universo de documentos aqui analisados, com liderança
da ABInBev, que compete com a Zea 10 LLC (empresa do ramo alimentício loca-
lizada nos EUA).
A Subclasse C12P, relativa a processos de fermentação enzimáticos para síntese
de compostos químicos de interesse, é a segunda mais explorada pelos depositantes
líderes, com um total de 30 depósitos submetidos. Nesta subclasse destacam-se: a
Univ Edinburgh Napier Court (ou Universidade de Edinburgo) em parceria com a
empresa Celtic Renewables Ltd, do Reino Unido, especializada em processos de fer-

40
Samanta Soares Machado, Douglas Alves Santos, Victor Manoel Pelaez Alvarez

mentação de Acetona, Butanol e Etanol, com 16 documentos depositados; e a empre-


sa italiana LEBSC Srl, Laboratório de Biotecnologia Ambiental Engenharia Estrutu-
ral e Química, com nove documentos. A Novozymes, empresa dedicada a pesquisa
e desenvolvimento de enzimas, entre outros, também aparece como titular atuante
nessa Subclasse, com três documentos de patentes publicados nos últimos 5 anos.
Ainda dentro da Seção C, algumas Subclasses relacionadas indicam outros
empregos de BSG, tais como: C10B (destilação destrutiva de materiais carboná-
ceos para a produção de gás, coque, tar ou materiais semelhantes); C10G (óleos
de hidrocarbonetos de rachadura; produção de misturas de hidrocarbonetos
líquidos, por ex. por hidrogenação destrutiva, oligomerização, polimerização);
C01B (craqueamento em hidrogênio ou gás de síntese); C07C (craqueamento ou
pirólise de gases de hidrocarbonetos em hidrocarbonetos individuais ou suas mis-
turas de constituição definida ou especificada); C10B (craqueamento em coques);
C10J (produção de gases contendo monóxido de carbono e hidrogênio de mate-
riais carbonáceos sólidos por processos de oxidação parcial envolvendo oxigênio
ou vapor); C10K (purificação ou modificação das composições químicas de gases
combustíveis contendo monóxido de carbono).
Todas as Subclasses acima listadas são relativas à produção de energia de algu-
ma forma, as mesmas somam 21 documentos de patentes publicados no total. Há
dois grupos de titulares nessas Subclasses: Fraunhofer Ges Foerderung Angewand-
ten EV, ou Fraunhofer-Gesellschaft, instituto de pesquisas aplicadas, localizado na
Alemanha, e a empresa multinacional especializada em petroquímicos, produtos
químicos em geral Ineos Bio AS, com sede nos EUA. Esta concentrou 83% dos seus
12 pedidos de patentes na categoria C10J.

CONCLUSÃO

O estudo conduzido demonstra que há uma tendência de crescimento de de-


pósitos e publicações de documentos de patentes acerca do uso de BSG. Os últimos
cinco anos (2016 a 2020) contribuiram com 24% de todo o volume de documentos
de patentes publicados. Ademais, o estudo revelou que os três países com maior
volume de documentos de patentes publicados (China, EUA, Brasil) são também
os maiores produtores de cervejas do mundo. Pode-se, portanto, inferir a exis-
tência de uma correlação entre produção cervejeira e investimento em proteção
patentária para o uso de BSG.
A análise patentária relacionada às áreas tecnológicas revelou que os BSG
são fontes potenciais de matéria-prima em diferentes ramos de atividade, como:

41
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO E TENDÊNCIAS COMPETITIVAS SUSTENTÁVEIS PARA O SETOR INDUSTRIAL CERVEJEIRO...

Compostos químicos (C08), Energia (C10), Fertilizantes (C05), Tratamento de


Água (C02), Agricultura (A01), Ciências Médicas (A61).
O estudo também revelou que 53% do total de documentos de patentes pu-
blicados entre 2016 a 2020 pertencem a 11 titulares. Dentre estes destacam-se a
Heineken e a ABInBev, sendo os depósitos de ambas indicam o interesse em áreas
relacionadas ao uso de BSG para alimentos. A ABInBev demonstra expertise e in-
teresse a aplicar o referido subproduto em composições com alto valor proteico
(Subclasse A23J). A Heineken revela, por sua vez, interesse em aplicações de BSG
para alimentos que compreendem tanto bebidas alcóolicas quanto não alcoólicas.
A análise de titulares revelou também o interesse estratégico de empresas dos ra-
mos químico e de energia na utilização dos BSG como fontes alternativas de ma-
térias primas.
Este levantamento patentário revelou enfim o elevado potencial econômico de
exploração dos resíduos da indústria cervejeira, com significativa participação de
empresas multinacionais, de uma universidade (Universidade de Edimburgo) e
um instituto de pesquisa aplicada (Fraunhoffer), os quais concentraram 52% dos
depósitos de patentes realizados no período 2016-20.

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44
PATENTES VERDES NO BRASIL:
PANORAMA ATUAL E TENDÊNCIAS
COMPETITIVAS SUSTENTÁVEIS

Douglas Alves Santos, Maria Elisa Marciano Martinez

INTRODUÇÃO

PRECEDENTES HISTÓRICOS DAS PATENTES VERDES

Em nossa Era, os efeitos produzidos pelas mudanças no clima global se agra-


vam a cada ano, tornando-se mais intensos e mais complexos. E para tentar salvar
o nosso meio ambiente, algumas lições são nossas velhas conhecidas, por exemplo:
(i) Devemos diminuir drasticamente as nossas emissões de gases de efeito estufa;
e, (ii) Devemos erradicar sobremaneira a devastação de nossas florestas, enquanto
continuamos a apoiar o crescimento populacional. Contudo, enquanto tais lições
não são adequadamente “aprendidas”, o mundo tem vivenciado cada vez mais ca-
lamidades ambientais, que assolam frontalmente a humanidade, trazendo seve-
ras atribulações, dentre elas: (a) estiagens e secas sem precedentes; (b) incêndios
e queimadas de grande magnitude; (c) furacões e tufões de categorias ainda sem
mensuração, que devastam cidades costeiras, respectivamente, nas Américas e na
Ásia; (d) mudanças nos índices de insolação, nos padrões dos ventos, nas correntes
marítimas, etc.; dentre tantas outras alterações mensuráveis à superfície da Terra
(GRACIANO, 2013; MARENGO, 2006).
Na década de 70, muitos cientistas e pesquisadores, empresários e industriais,
discutiram lado a lado com chefes de Estado em uma grande conferência mundial
organizada pelas Nações Unidas (ONU) para tratar das questões relacionadas à de-
gradação do meio ambiente, bem como apontar reais alternativas de como melho-
rar as relações do homem com o Meio Ambiente. Uma destas discussões ocorreu
na capital da Suécia, em Estocolmo, sendo também conhecida como a Conferên-
cia de Estocolmo (LAGO, 2013; GANEM, 2012). Esta conferencia foi amplamen-
te reconhecida como o evento-marco para os debates iniciais sobre a busca por
equilíbrio entre desenvolvimento econômico e redução da degradação ambiental,
PATENTES VERDES NO BRASIL

pela harmonização entre o desenvolvimento sustentável e sua relação com o de-


senvolvimento tecnológico, e pela preservação concomitante do meio ambiente e o
desenvolvimento econômico das nações (IISD, 2012).
Embora não tenha sido possível chegar a um entendimento que estabelecesse
objetivos sólidos a serem cumpridos pelas nações, a Conferência de Estocolmo
teve uma função primordial ao enfatizar a questão ambiental dentre as necessida-
des das legislaturas das nações, bem como, a conscientização da população, com
base no fato do mundo ter inesperadamente orientado seu foco de atenções para as
questões do desenvolvimento mundial da população, da contaminação do ar e do
abuso extraordinário dos recursos naturais (GANEM, 2012).
Indubitavelmente, a Conferência de Estocolmo influenciou com sucesso, tan-
to (i) a criação do Relatório Brundtland (“Our Common Future”, publicado em
1987, pelas Nações Unidas), quanto (ii) a constituição do “Intergovernmental Panel
on Climate Change” (IPCC) criado em 1988 pela união de esforços da Organiza-
ção Meteorológica Mundial (WMO - sigla em inglês para “World Meteorological
Organisation”), bem como (iii) a estruturação do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (UNEP - sigla em inglês para “United Nations Environment
Programme”), este último tendo a finalidade de: (i) avaliar a informação científi-
ca disponível sobre as mudanças climáticas medidas; (ii) avaliar os impactos am-
bientais e socioeconómicos de tais alterações climáticas; e, (iii) formular respostas
estratégicas de combate (OCAMPO, 2011). É importante destacar que o Primeiro
Relatório de Avaliação do IPCC foi concluído em agosto de 1990 e serviu de base
para a negociação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças
Climáticas (LAGO, 2013; IISD, 2012).
Estas iniciativas anteriores impactaram fortemente e lançaram as bases para
a realização da ECO-92 (1992), a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento, que 20 anos após a realização da “Conferência de
Estocolmo”, reuniu chefes de Estado de todo o mundo na cidade do Rio de Janeiro,
no Brasil, com o mesmo objetivo central de examinar as questões mundiais relati-
vas às agressões ao meio ambiente e desenvolvimento das nações, não obstante de
propor medidas a serem adotadas de modo a diminuir tais degradações ambientais
e garantir a existência de gerações futuras (IISD, 2012). Como principais resul-
tados da Conferência, tem-se a criação de alguns registos-chave (“mile stones”):
(i) A Carta da Terra; (ii) A Agenda 21; (iii) as três Convenções: (iii.a) A Conven-
ção sobre Diversidade Biológica, tratando da proteção da biodiversidade; (iii.b) A
Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, tratando da redução
da Desertificação; e, (iii.c) A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mu-

46
Douglas Alves Santos, Maria Elisa Marciano Martinez

dança do Clima (UNFCCC - sigla em inglês para “UN Framework Convention on


Climate Change”), tratando das Mudanças climáticas globais; (iv) A Declaração do
Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; e a (v) A Declaração de Princípios
sobre Florestas (IISD, 2012; WORLD BANK, 2002).
Para fins desta parte, dois resultados da Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92) são aqui elencados: (I) UNFCCC; e
a (II) Agenda 21, em seu Capítulo 34 - Da “Transferência de Tecnologia Ambien-
talmente Saudável, Cooperação e Fortalecimento Institucional” que versa sobre
proposições de transferência de tecnologia entre nações desenvolvidas e nações
subdesenvolvidas e em desenvolvimento, que pavimentou o conceito das Tecnolo-
gias Ambientalmente Saudáveis, e trouxe em seus artigos:

34.1. As tecnologias ambientalmente saudáveis protegem o meio am-


biente, são menos poluentes, usam todos os recursos de forma mais
sustentável, reciclam mais seus resíduos e produtos e tratam os dejetos
residuais de uma maneira mais aceitável do que as tecnologias que vie-
ram substituir.
34.2. As tecnologias ambientalmente saudáveis, no contexto da polui-
ção, são “tecnologias de processos e produtos” que geram pouco ou ne-
nhum resíduo, para a prevenção da poluição. Também compreendem
tecnologias de “etapa final” para o tratamento da poluição depois que
esta foi produzida.
34.3. As tecnologias ambientalmente saudáveis não são apenas tecno-
logias isoladas, mas sistemas totais que incluem conhecimentos técni-
co-científicos, procedimentos, bens e serviços e equipamentos, assim
como os procedimentos de organização e manejo. Isso significa que, ao
analisar a transferência de tecnologias, devem-se também abordar os
aspectos da escolha de tecnologia relativos ao desenvolvimento dos re-
cursos humanos e ao aumento do fortalecimento institucional e técnica
local, inclusive os aspectos relevantes para ambos os sexos. As tecnolo-
gias ambientalmente saudáveis devem ser compatíveis com as priorida-
des socioeconômicas, culturais e ambientais nacionalmente determina-
das. (BRASIL, 2004).

Ambos os tópicos (I) e (II) supra destacados foram de grande relevância téc-
nica aos especialistas do IPCC, que ainda em 1992, reorganizaram os seus Grupos
Técnicos de Trabalho II (WG II) e III (WG III), que se comprometeram a concluir

47
PATENTES VERDES NO BRASIL

uma Segunda Avaliação do IPCC em 1995, não apenas atualizando a informação


sobre a gama de tópicos da Primeira Avaliação (realizada pelo Grupo Técnico de
Trabalho I - WG I), mas também incluindo novas áreas temáticas de questões téc-
nicas relacionadas com os aspectos tecnológicos (WG II - “Impacts, Adaptations
and Mitigation of Climate Change”) e econômicos (WGIII - “Economic and Social
Dimensions of Climate Change”) para as mudanças climáticas, algumas destas in-
formações serviram de base ao debate mais amplo, e ao fim, tornaram-se publica-
ções-padrão de referência, amplamente utilizado por decisores políticos, cientistas
e outros peritos (IPCC, 2014).
Mais especificamente, entre os anos de 1995 e 1996, o mundo teve acesso con-
junto as publicação dos Grupos WG I, WG II e WG III do IPCC, sendo que o
trabalho realizado pelo WG II, que tratou diretamente sobre os impactos, possíveis
tomadas de decisão acerca da adaptação e mitigação das mudanças climáticas glo-
bais (IPCC, 2014), conjuntamente, interessou muito à ala política, à sociedade aca-
dêmica, bem como ao setor industrial, por listar dezenas de tecnologias, as quais,
se incentivadas poderiam se assumir como frontais combatentes aos efeitos das
mudanças climáticas.
Destacando-se aqui um ponto de convergência entre os trabalhos publicados
pelos WG’s da IPCC, que trata da forte influência/parcela das ações antropogênica
sobre as mudanças climáticas (que, por sua vez, sobrepujavam às ações naturais),
principalmente pelo emprego de tecnologias relacionadas à produção e conser-
vação de energia, transportes de pessoas e produtos (cargas), gerenciamento dos
resíduos sólidos e emissões líquidas e gasosas, além de questões relacionadas aos
setores de construção, agricultura e de florestas. Logo, as tecnologias elencadas
pelo WG II do IPCC foram assim consideradas com foco nas tecnologias miti-
gadoras dos efeitos das mudanças climáticas. Muito embora, igualmente existam
conceitos relacionados às tecnologias adaptativas aos efeitos das mudanças climá-
ticas, tecnologias tais, que quando são empregadas logo após um desastre de causa
fenomenológica, ou ainda, adotadas a longo prazo visam a adaptação dos serem
humanos à certas condições restritivas de vida (IPCC, 2014).
Na sequência dos trabalhos realizados pelos especialistas do IPCC e pelos gover-
nantes dos Países-Membro do UNFCCC, embasando-se em diversos relatórios téc-
nico-científicos emitidos em anos anteriores, ainda em 1995, foi realizada a primeira
conferência dos países que fazem parte da Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima, em Berlim, Alemanha. Evento avaliou os compromissos
e as responsabilidades instituídas às nações desenvolvidas participantes da ECO-92
e inferiu que os mesmos ainda eram insuficientes. Disto, estabeleceu-se o Mandato

48
Douglas Alves Santos, Maria Elisa Marciano Martinez

de Berlim, que pôs em marcha um processo de dois anos para a discussão de um


Protocolo a ser implementado em adição às decisões e resultados da ECO-92 e que o
dito Protocolo definisse novos compromissos legalmente vinculantes, no sentido de
possibilitar ações apropriadas para a primeira década do século 21, tornando mais
severas as obrigações para os países desenvolvidos (LAGO, 2013).
O Mandato de Berlim culminou na terceira Conferência das Partes, realizada em
Quioto, Japão, em 1997, como uma decisão consensual em favor da adoção do Pro-
tocolo de Quioto, segundo o qual, os países desenvolvidos aceitaram compromissos
diferenciados de redução ou limitação de emissões entre 2008 e 2012 (representando,
no total dos países desenvolvidos, redução em pelo menos 5% em relação às emis-
sões combinadas de gases de efeito estufa de 1990). Ressaltando-se que o Protocolo
de Quioto vigorou a partir de 16 de fevereiro de 2005, quando a meta de 50% de
ratificações foi atingida dentre os 84 signatários originais. Tendo seus objetivos esta-
belecidos aplicados apenas às nações que registadas no Anexo B do documento final,
a saber: (A) Países europeus ocidentais (Alemanha, Áustria, Bélgica, Croácia, Dina-
marca, Eslovênia, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Islândia, Itália, Lie-
chtenstein, Luxemburgo, Mônaco, Noruega, Países Baixos, Portugal, Reino Unido,
Suécia e Suíça); (B) Países industrializados do leste europeu (Bulgária, Eslováquia,
Hungria, Polônia, República Checa e Romênia); (C) Países industrializados da ex-
-União Soviética (Rússia, Ucrânia, Estônia, Letônia e Lituânia); (D) Estados Unidos,
Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Japão (LAGO, 2013; BRASIL, 2008).
No caso do Brasil, por ter sido designado à época, como um País de economia
em transição ao capitalismo, não houve um compromisso formal acordado de re-
dução ou limitação das emissões de gases de efeito estufa. Entretanto, o Protocolo
de Quioto contemplou três mecanismos de flexibilização que visaram auxiliar aos
países de economia em desenvolvimento a cumprirem suas metas de redução ou
limitação de emissões: (i) Mecanismo de Implementação Conjunta (MIC); (ii) Me-
canismo de Comercio de Emissões (MCE); (iii) Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL); sendo o MDL, o único dos mecanismos de flexibilização a permitir
que países em desenvolvimento pudessem comprar “créditos de carbono”, deno-
minados “reduções certificadas de emissões” (RCEs) resultantes de atividades de
projeto desenvolvidas em qualquer país em desenvolvimento que tenha ratificado
o Protocolo (BRASIL, 2008).
Neste sentido, em sete de julho de 1999, o governo brasileiro criou a Comissão
Interministerial de Mudança Global do Clima (CIMGC). A dita Comissão que teve
por finalidade articular as ações de governo decorrentes da Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, bem como os instrumentos subsi-

49
PATENTES VERDES NO BRASIL

diários da UNFCCC de que o Brasil viesse a ser parte a partir daquela data. Esta
ação normativa da criação da CIMGC subsidiou o governo brasileiro a instituir em
território nacional as diretrizes do Protocolo de Quioto, em 23 de agosto de 2002,
ratificando-o internamente por meio do Decreto Legislativo N° 144/2002.
Após a entrada em vigor do Protocolo de Quioto em 2005, e ainda, no chamado
primeiro período de compromisso (2008-2012), verificou-se que os níveis de di-
óxido de carbono na atmosfera estavam sofrendo incrementos exponenciais, sem
nenhum sinal de desaceleração. As temperaturas globais continuam a aumentar.
O que soou o sinal de alerta para a comunidade internacional e o Protocolo de
Quioto que teria sido encerrado em 31 de dezembro de 2012, porém, durante a
COP-18 (Doha, Qatar) foi estendido e, em oito de dezembro de 2012, foi adotada
uma emenda ao Protocolo em que os membros acordaram na existência de um
segundo período de compromisso, estabelecido de 2013 a 2020 (VAZQUEZ, 2019;
UNFCCC, 2013; UN, 1998).
Durante a conferência da UNFCCC em Bali (Indonésia) em dezembro de 2008,
diversos painelistas do IPCC e conferencistas da UNFCCC tomaram conhecimen-
to e analisaram uma série de dados científicos e técnicos coletados entre o período
da data de vigoração do Protocolo de Quioto (2005) até o início do primeiro perí-
odo de compromisso em 2008. (EEPS, 2009; UNFCCC, 2013). Tais dados aponta-
ram para um flagrante incremento das temperaturas globais, alinhadas à confirma-
ção de não redução das médias globais de emissões de gases de efeito estufa (CO2,
CH4, NOx,SOx, VOC´s).
Diante deste cenário tenebroso e municiado relatórios técnico-científicos do
IPCC e do UNFCCC, em novembro de 2008, o sr. Ban Ki-Moon à época sendo
Secretário-Geral da ONU agendou uma reunião na WIPO com o sr. Francis Gur-
ry, Ex-Diretor Geral da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO,
2009a). E nesta ocasião declarou que:

A WIPO pode ser um campeão no auxílio a atingir os ‘Objetivos de


Desenvolvimento do Milênio’; um campeão a se juntar aos esforços
globais para combater as mudanças climáticas; um campeão no auxílio
ao enfrentamento dos elevados preços dos alimentos e da energia [...]
A Organização Mundial da Propriedade Intelectual é uma organiza-
ção única, com uma contribuição única, a fazer para enfrentar os de-
safios globais enfrentados pela família das Nações Unidas (ONU) [...]
Temos de reunir os nossos recursos, reunir a nossa sabedoria, e agir
como uma ÚNICA ONU [...] Neste tempo de crise econômica, este é

50
Douglas Alves Santos, Maria Elisa Marciano Martinez

um imperativo prático, tão quanto moral [...] A WIPO foi única entre as
organizações da ONU a gerar o seu próprio financiamento para as suas
atividades de desenvolvimento por meio dos serviços internacionais de
propriedade intelectual que fornece ao setor privado. – livre Tradução
(WIPO, 2008).

Em complemento ao assertivo discurso do Sr. Ban Ki-Moon, o sr. Francis Gury


deixou patente o empenho WIPO em iniciar uma colaboração mais estreita com
a família da ONU, principalmente, em face do enfrentamento dos desafios globais
relativos à lacuna de conhecimentos, o desenvolvimento sustentável, as alterações
climáticas, a desertificação, o acesso aos cuidados de saúde, a segurança alimentar
e a preservação da biodiversidade. Sendo proposta uma abordagem mais direta
e próxima das atividades relacionadas à propriedade intelectual em face às ques-
tões de política global, de modo que as futuras políticas de propriedade intelectu-
al fossem concebidas para estimular o desenvolvimento e disseminação de novas
tecnologias. Neste sentido, reforçou-se que a WIPO estaria diretamente alinhada
em questões de políticas públicas globais, buscando assumir um papel de maior
liderança na identificação de soluções baseadas na propriedade intelectual (WIPO,
2009a; WIPO, 2008).

CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DAS PATENTES VERDES

Todos os anos são publicados quase 1.000.000 documentos patentários conten-


do novas criações, e que se juntam anualmente ao banco de dados patentário atual
de mais de 50 milhões de depósitos de patentes em todo mundo. E de acordo com
o Dr. Francis Gurry: “A informação patentária é a mina de ouro do conhecimento
humano” (WIPO, 2010a).
Muitas informações atualmente disponíveis no mundo sobre novas tecnologias
verdes só podem ser encontradas por meio da leitura de documentos de patentes.
Logo, focalizando este poderio das patentes sob a ótica das tecnologias ambiental-
mente saudáveis (EST’s), alguns autores entendem que o crescimento econômico
sustentável em longo prazo só poderá ser alcançado a nível global por meio do de-
senvolvimento, difusão e implantação destas tecnologias ambientais (WIPO, 2010a).
Embora o processo de desenvolvimento, difusão e implantação de tecnologias
verdes seja complexo e multidisciplinar, uma coisa é clara: um primeiro passo fun-
damental no processo de inovação verde é dado quando se conhece as tecnolo-
gias verdes disponíveis, seguido da identificação dos principais atores neste grande

51
PATENTES VERDES NO BRASIL

“cluster”. Assim, com o municiamento de tais conhecimentos acerca da Proprieda-


de industrial, cientistas, engenheiros, decisores políticos e “stakeholders” da indús-
tria podem planejar mais eficazmente as atividades de pesquisa e desenvolvimento
de tecnologias ambientalmente saudáveis (EST’s), forjando parcerias estratégicas
e concretizando transferências de tecnologia mais efetivas, conforme necessário.
Todos esses conceitos foram tratados e reforçados durante a 14ª sessão da Con-
ferencia das Partes da UNFCCC, em dezembro de 2008, na cidade de Poznan-Po-
lônia. As discussões do encontro em Poznan debateram a interferência direta do
uso de tecnologia sobre as questões ambientais (aspectos negativos e positivos),
bem como, do potencial de impacto direto do sistema de propriedade intelectu-
al na promoção do desenvolvimento de novas tecnologias pró-ambientais, sendo
tais tecnologias vitais no combate à geração e aos efeitos das mudanças climáti-
cas, que seja mitigando-as ou reduzindo-as (UNFCCC, 2019). Estes debates da
Conferência de Poznan pleitearam ainda reformas ou intervenções sobre o Sistema
de Propriedade Intelectual gerenciado pela WIPO, de modo que as tecnologias
ambientalmente saudáveis (EST’s - “Environmentally Sound Technologies”) pudes-
sem ser mais bem identificadas, difundidas e, por consequência, as barreiras à sua
transferência tecnologias fossem pormenorizadas.
Destarte, em um painel composto por membros da WIPO, também por mem-
bros da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNI-
DO - sigla em inglês para “UN Industrial Development Organization”) e especialis-
tas do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas (UN
DESA - sigla em inglês para “United Nations Department of Economic and Social
Affairs”) foram discutidas as principais preocupações sobre a utilização eficaz do
Sistema da Propriedade Intelectual e seu papel para o interesse público; sendo des-
tacada a necessidade de promover adequadamente o uso eficaz da informação pa-
tentária para lançar luz e monitorar as inovações advindas das EST’s (DESA, 2013;
WIPO, 2009b).
Neste sentido, a WIPO ofertou à sociedade o portal PATENTESCOPE - pla-
taforma de dados patentários que inclui informações de mais de 14 milhões de
depósitos patentários tramitados via a rota do Tratado de Cooperação em Matéria
de Patentes (PCT - sigla em inglês para “Patent Cooperation Treat”), além dos pedi-
dos patentários correspondentes que entram em fase nacional em cada autoridade
patentária em todo Mundo (WIPO, 2020).
A partir desta iniciativa, ainda em 2008 e durante todo o ano 2009, a WIPO
desenvolveu o “Project C 456 (mechanical)” – um Grupo de Trabalho que envolveu
Escritórios de Patentes em todo o mundo, com a finalidade de iniciar a revisão e in-

52
Douglas Alves Santos, Maria Elisa Marciano Martinez

dexação de tecnologias contidas em documentos de patentes à luz das tecnologias


ambientalmente amigáveis (EST’s) descritas no Capítulo 34 da Agenda 21 da ECO-
92 e detalhadas e publicadas pelo WG II da IPCC e do inventário da UNFCCC
(Mandato de Berlin). E efetivamente, esta iniciativa da WIPO e de dos demais
Escritórios Nacionais de Propriedade industrial Membros fez concatenar as tecno-
logias destacadas pelo UNFCCC junto aos códigos de classificação internacional
de patentes IPC1 (WIPO, 2009b).
Desta maneira, em 16 de setembro 2010, a WIPO lança ao mundo o Inventário
Verde de IPC’s da WIPO, conhecido também como: “WIPO’s IPC Green Inventory”.
Este inventário fornece acesso sobre tecnologias em vários campos, incluindo: (i)
Produção de Energia Alternativa; (ii) Conservação de Energia; (iii) Transporte; (iv)
Gestão de Resíduos; (v) Agricultura/Silvicultura; (vi) Administrativo; (vii) Energia
Nuclear. Trata-se de uma ferramenta criada para auxiliar a busca e a recuperação
de dados patentários a partir de documentos de patentes relacionados com a tec-
nologia verde de todo o mundo, que além de contribuir para a acessibilidade da
informação das patentes sobre tecnologias verdes - EST’s - igualmente possibilita
ainda, a identificação de tecnologias emergentes, potenciais parceiros para uma
P&D mais eficiente e facilita a exploração comercial (WIPO, 2010a).
Neste mesmo ano do lançamento do inventário (2010), durante a 17º Sessão do
MEETING OF INTERNATIONAL AUTHORITIES UNDER THE PATENT COO-
PERATION TREATY (PCT), que ocorreu de 09 a 11 de fevereiro na cidade do Rio
de Janeiro, diversos gabinetes nacionais de patentes entraram em um acordo, con-
cordando em fornecer um tratamento preferencial a aqueles pedidos de patentes
que tivessem tecnologias verdes classificadas com alguma das IPC´s do inventário
verde da WIPO, esta iniciativa ficou conhecida como: “Fast-Tracking ‘Green’ Patent
Applications” (WIPO, 2010b).
Segundo Dechezleprêtre (2013), os escritórios nacionais que incorporam “Fas-
t-Track” de Patentes apresentam vantagens, tais como, o tempo do processo de
exame sensivelmente reduzido, que acarretam na possibilidade que os requerentes
de patentes comecem a licenciar as suas tecnologias mais cedo, reduzindo assim o
tempo de comercialização das tecnologias verdes, e no caso, por exemplo, de Star-
tups outra vantagem é o de poder angariar capital privado e fortalecer a empresa.

1 IPC - sigla em inglês para “International Patent Classfication” - O sistema de classificação internacio-
nal de patentes divide todos os campos da tecnologia conhecida em conjuntos hierárquicos de seções,
classes, subclasses e grupos, sendo uma ferramenta indispensável para atividades, por exemplo, de ma-
peamentos tecnológicos e análises de “status” de tendências e de barreiras tecnológicas

53
PATENTES VERDES NO BRASIL

Por estas razões, espera-se que os esquemas de patentes verdes acelerem a difusão
de tecnologias limpas.
Alguns Países-Membro da WIPO que aderiram à esta iniciativa criaram suas
próprias regras em seus Escritórios de Propriedade Industrial para aderir aos Pro-
gramas-Piloto ou Programas Definitivos de “Patentes Verdes”, conforme pode ser
observado na Tabela 1.

Tabela 1: Datas de Início e Características dos Programas Piloto de Patentes Verdes no Mundo.

Início do Final do
País Tipo de Tecnologia Coberta pelo Programa
Programa Programa
Reino Unido Mai/09 Em Vigor Todas as invenções Ambientalmente Amigáveis
Austrália Set/09 Em Vigor Todas as invenções Ambientalmente Amigáveis
Tecnologias capazes de minimizar a emissão de dió-
xido de carbono e outros poluentes, e que sejam tec-
Coreia do Sul Out/09 Em Vigor nologias financiadas ou credenciadas pelo governo
coreano, ou ainda, mencionadas em relevantes leis
ambientais do governo sul-coreano
Tecnologias que tem um efeito na conservação de
energia e contribuem para a redução de CO2, além
Japão Nov/09 Em Vigor
dos pedidos que tem impacto na economia de recur-
sos e na redução dos impactos ambientais;
Qualidade ambiental, conservação de energia, o de-
senvolvimento dos recursos energéticos renováveis
EUA Dez/09 Mar/13
ou Tecnologias de redução de emissões de gases de
efeito estufa
Tecnologias devem ajudar a preservar / melhorar
a qualidade do meio ambiente, mitigar fatores de
aquecimento global, reduzir a poluição do ar ou
Israel Dez/09 Em Vigor
da água, promover agricultura não poluidora, eco-
nomizar energia, facilitar reciclagem, aprimorar o
manejo de recursos etc
Tecnologia, cuja comercialização ajuda a resolver ou
Canadá Mar/11 Em Vigor mitigar os impactos ambientais ou conservar o meio
ambiente e recursos naturais
Energias alternativas, Transporte, Conservação de
Brasil Abr/12 Em Vigor
energia, Gerenciamento de resíduos e Agricultura
Tecnologias de economia de energia, proteção am-
China Ago/12 Em Vigor biental, novas fontes energéticas e veículos que em-
pregam novas fontes combustíveis
Letônia Abr/13 Em Vigor -
Fonte: Adaptado pelos autores, a partir de Lane (2012)

Da Tabela 1, percebe-se que cada País tem sua soberania e autonomia sobre a
decisão de formar, ingressar e manter-se em vigor quando se adota como tecno-
logias verdes para efeito das “Patentes Verdes”. Contudo, o conceito que envolve

54
Douglas Alves Santos, Maria Elisa Marciano Martinez

a expressão “Patentes Verdes”, aqui inserida, não é nova. Alguns autores já a em-
pregavam há cerca de meia década antes do lançamento do “Green Channel” pela
UKIPO na Inglaterra, ou mesmo, da inauguração do “Green Technology Pilot Pro-
gram” da USPTO, ambos em 2009 (LANE, 2012).
Outros especialistas vêm tornando públicas as vantagens da adesão ao conceito
do patenteamento de tecnologias veres nos moldes criados e vigentes atualmente,
vinculando a oportunidade deste tipo de patenteamento às diversas agendas de
desenvolvimento sustentável e às estratégias de eco-inovação existentes (LEÓN;
CÁRDENAS, 2020; VIMALNATH; TIETZE; JAIN; PRIFTI, 2020). Resta clara a
urgência da tomada de decisões e da necessidade de que a propriedade intelectual
(aqui inserida na modalidade de “Patentes”) seja admitida em um contexto mais
amplo, inserindo-se com um viés de criação de políticas públicas mais eficazes,
fomento de instituições mais participativas e a geração de recursos humanos qua-
lificados e adequados para atuar no seio da sociedade, de modo que, o desenvol-
vimento de inovações sustentáveis seja alicerçado, visando assegurar que os seus
benefícios sejam amplamente difundidos, inclusive, por exemplo, considerando o
momento pandêmico atual e futuro pós-COVID 19 (AIPPI, 2020; IRENA, 2020).

PATENTES VERDES NO BRASIL

No caso do Brasil, o Programa Piloto de Patentes Verdes (P3V) foi inicialmente


planejado administrativamente em 2011. Neste ano, o Instituto Nacional de Pro-
priedade Industrial no Brasil (INPI-BR) iniciou seus estudos internos, em nível
administrativo, analisando a possibilidade de tropicalização de programas pre-
viamente existentes ao redor do mundo (“benchmarking”), adequando conceitos
e parte destes programas pré-existentes em face de nossa legislação federal (Lei de
Propriedade Industrial nº 9279/96), considerando principalmente a experiência
do exame substantivo de “Fast-Track” ocorrido em escritórios estrangeiros, bem
como, investigando a viabilidade de implementação de um programa piloto nacio-
nal de patentes verdes (REIS et al, 2013).
Após diversas simulações e estudos internos, o INPI deu início, em 17 de abril
de 2012, ao Programa Piloto de Patentes Verdes, reunindo informações coletadas
de cada escritório do mundo, adaptando cada informação à nossa realidade estru-
tural, legislação e disponibilidade de recursos humanos (SANTOS et al, 2015; REIS
et al, 2013). Em sua gênese, o P3V surgiu como consolidação de um dos Projetos
Estratégicos para a Solução do “Backlog” de Patentes criado em 01/03/2011, visan-
do aumentar a eficiência na análise referente a pedidos de patentes por meio da

55
PATENTES VERDES NO BRASIL

implementação, do aprimoramento e da reformulação das práticas administrativas


e de exame técnico, com foco nos procedimentos e ações no tocante às tecnologias
verdes. O dito Programa-Piloto se manteve ativo até abril de 2016 (INPI, 2016;
SANTOS et al, 2015).
O P3V adotou o conceito de tecnologias mitigadoras (“mitigação” – não “adap-
tação”) dos efeitos das mudanças climáticas como alicerce para reger os princípios
tecnológicos do Programa Piloto. Entendendo-se aqui como “mitigação”, as mu-
danças e substituições tecnológicas que reduzam o uso de recursos e as emissões
por unidade de produção, bem como a implementação de medidas que reduzam
as emissões de gases de efeito estufa e aumentem os sumidouros de carbono (INPI,
2016; SANTOS et al, 2015). Assim, dentre as tecnologias e práticas de mitigação
por setor, foram consideradas as mais relevantes nas condições brasileiras, confor-
me apresentado e detalhado na lista do ANEXO I da RESOLUÇÃO/INPI/N°239,
DE 04 DE JUNHO DE 2019.
Na sequencia do ano de lançamento do P3V até o final do Programa Piloto
(2012-2016), diversos estudos se deram sob a égide da temática, tratando do pro-
grama piloto nacional e os seus principais resultados (SANTOS et al, 2015; INPI,
2016). Realizando uma análise sob os dados dos entrantes da fase piloto do P3V,
detectou-se que um total de 477 pedidos ingressou no programa. Ainda em uma
avaliação mais ampla, considerando-se todos os oito anos do Programa Piloto, ob-
serva-se a existencia de quase 900 pedidos depositados e que solicitaram participa-
ção no P3V (INPI, 2020), conforme descrito pela Tabela 2.

Tabela 2 - Número de depósitos de patentes no P3V em cada etapa processual – 2012 a 2020

Requerimentos Pedidos com Requerimentos Pedidos com Pedidos com


Efetuados Requerimentos Avaliados 1ª Ação Técnica Decisão Técnica
911 899 893 739 689
Fonte: Adaptado pelos autores a partir das estastíticas do INPI (INPI, 2020).

No tocante aos pedidos depositados e entrantes no P3V durante o pedíodo de


2012 a 2016, tanto o trabalho realizado por Santos et al (2015), quanto o Relatório
Oficial publicado pelo INPI (INPI,2016) demonstram que uma faixa de 85% a 88%
destes pedidos foram decididos dentro da margem de 02 (dois) anos de solicitação
de ingresso no programa. Sendo comum a eles, um tempo médio para sua execu-
ção, i.e., da entrada do pedido no programa até a sua respectiva decisão (Indeferei-
mento, Deferimento ou Arquivamento) na ordem de: (i) 510 dias ou 16 ± 1 meses
- Dentro do período de vigência do Programa Piloto (SANTOS et al, 2015); (ii) 617

56
Douglas Alves Santos, Maria Elisa Marciano Martinez

dias ou 20 ± 1 meses (INPI, 2020) - Para todo o período dos oito anos de vigencia
do Programa (conforme observado na Tabela 3).

Tabela 3 - Tempo médio (em dias) entre etapas administrativas dos pedidos de patente no P3V 2012
a 2020

Requerimento/ Requerimento/ Requerimento/ Requerimento/


Decisão 1ª Ação Técnica Exame Formal Acesso ao P3V
617 dias 427 dias 198 dias 283 dias
Fonte: Adaptado pelos autores a partir das estastíticas do INPI (INPI, 2020)

Em alguns pedidos analisados durante para a construção da Tabela 3, verificou-


-se que a redução no tempo da concessão (a maioria inferior a dois anos) atingiu uma
atenuação na ordem de quatro a cinco vezes o tempo ordinário de concessão atual
(tempo médio atual de oito a dez anos), considerando-se a mesma área tecnológica.
Dentre os pedidos depositados que solicitaram participação no Programa de
Patentes Verdes do Brasil aproximadamente 4/5 das solicitações foram aceitas, to-
talizando 702 pedidos até o momento da escrita deste capítulo (Figura 1a). Obser-
va-se ainda que há uma leve predominância de pedidos de invenção (55,8%) em
relação aos pedidos de modelo de utilidade (44,2%); além disso, a maioria (78,5%)
foi admitido no Programa (Figura 1b). Na sequencia, pela Figura 1c é possível
observar que muito dos pedidos entrantes no programa enfrentaram contestação
de existencia de anterioridades sobre a matéria requerida, o que pode justificar a
aprcela de 33,9% de indeferimentos vistos na Figura 1d (INPI, 2020).
Ainda, por meio da Figura 1, percebe-se que com relação ao resultado da pri-
meira ação técnica do pedido, há uma predominância de pareceres de ciência
(68,9%), seguido por pareceres de exigência (21,6%) e somente 9,2% foram deferi-
dos em primeiro exame. Já com relação a decisão dos pedidos, 52,8% dos pedidos
tiveram suas patentes concedidas, destes 12,8% já estão extintas e 40% estão em
vigor; deste montante total, cerca de 5,3% dos depósitos foram arquivados, aproxi-
madamente 4,1% estão em exame substantivo, e, 3,8% estão em segunda instância
administrativa, em algum modo de fase recursal, conforme pode ser observado na
Figura 1d (INPI, 2020).
As informações que podem ser extraídas da Figura 1 são diversas. Os dados
contidos nesta figura possivelmente indicam que muitos pedidos que acessem ao
P3V precisam de ajustes dentro da legislação e normativas existentes para serem
concedidos, e poderiam ser concedidos em primeiro exame se fossem escritos res-
peitando todos os requisitos da lei e instruções normativas vigentes, podendo ser
concedidos ainda de forma mais rápida.

57
PATENTES VERDES NO BRASIL

Figura 1: Perfis dos trâmites administrativos para os pedidos aceitos no P3V – 2012 a 2020.

Fonte: Adaptado pelos autores a partir das estastíticas do INPI (INPI, 2020)

É interessante notar que esta dinâmica de patenteamento desenvolvida pelo


Programa P3V pode oferecer um forte suporte à inovação tecnológica ambiental
(eco-inovação). Sabe-se que o programa apresenta em seu cerne o desenvolvimen-
to tecnológico com foco direcionado à sustentabilidade e à eco-inovação, e tal si-
tuação, naturalmente, parece atrair atenção de Empresas e Institutos de Ciência e
Tecnologia - ICT’s - que são maioria nos depósitos. Desde o início do programa
P3V ambos giram em torno de 60% dos depósitos aceitos para participar do pro-
grama (INPI, 2016). Assim, Empresas e ICT’s, ambos parecem entender que as
patentes verdes sejam uma oportuna ferramenta para o reforço da competitividade
mercadológica, apresentando uma tendência competitiva intrínseca à estratégia de
proteção de suas tecnologias.
E neste sentido, alinhando o entendimento de que as patentes, enquanto ativos
de propriedade industrial tem um forte viés econômico e são um bom indicador
para medir o progresso tecnológico-industrial de uma nação. Desta feita, empre-
gando-se um exame comparativo das informações constantes nas Figuras 2 e 3,
pode-se inferir que haja algum tipo de vínculo entre a distribuição dos pedidos
de patente entrantes no P3V por Estado e o perfil de distribuição da quantidade de
indústrias por Estados no Brasil, senão vejamos as figuras na sequência:

58
Douglas Alves Santos, Maria Elisa Marciano Martinez

Figura 2 – Pedidos de patente decididos no P3V por Estado dos depositantes – 2012 a 2020.

Fonte: Adaptado pelos autores a partir das estastíticas do INPI (INPI, 2020)

Figura 3 – Distribuição da quantidade de indústrias por Estado brasileiro (ano 2019).

Fonte: Adaptado pelos autores a partir das estastíticas do Empresômetro (2019)

59
PATENTES VERDES NO BRASIL

Após a análise dos dados, as informações constantes das Figuras 2 e 3 parecem


sugerir que o desenvolvimento industrial realmente atrai a intenção de patenteamen-
to no P3V, restando claro algum nível de correspondência biunívoca entre o núme-
ro de indústrias e o número de patentes verdes nos Estados brasileiros. Inclusive,
o Global Innovation Index (UNIVERSIDADE CORNELL, INSEAD e WIPO, 2018)
apresenta uma analise de inter-relação muito bem definida entre o PIB de cada na-
ção e os níveis de patenteamentos no mesmo, abordando adicionalmente, o nível de
dispersão de “clusters” tecnológicos vistos. Neste sentido, por meio da observação da
Figura 4, pode-se notar que nos dados extraídos do P3V em todos os tempos, há uma
verdadeira dispersão acerca das escolhas dos principais “clusters” ou agrupamentos
tecnológicos protegidos por meio do patenteamento verde, quais sejam:

Figura 4 – Interesses tecnológicos observados nos pedidos de patentes aceitos no P3V – 2012 a 2020.

Fonte: Adaptado pelos autores a partir das estastíticas do INPI (INPI, 2020)

Diante de todo exposto, é possível depreender que o programa de Patentes Ver-


des do INPI se apresenta eficiente na aceleração de exames de patente, bem como
se apresenta como uma possível rota de identificação de oportunidades para ganho
de vantagem competitiva em um mercado tão relevante quanto competitivo, como
o mercado das tecnologias ambientalmente saudáveis. A seleção adequada des-
tas tendências competitivas é fundamental para o desenvolvimento sustentável de
eco-inovações para as sociedades, bem como para desenvolvimento de empresas,
por exemplo.

60
Douglas Alves Santos, Maria Elisa Marciano Martinez

Ao fim, propõe-se que em estudos futuros, pesquisadores realizem uma pro-


funda análise da informação tecnológico-patentária do P3V, inclusive, lançando luz
sobre as tendências apresentadas aqui neste capítulo. Isto deve permitir a identifi-
cação de informações sensíveis, e mais relevante, pode permitir encontrar oportu-
nidades específicas, que por sua vez, podem oferecer às empresas uma vantagem
competitiva sobre a concorrência e desenvolver na sequencia iniciativas concretas
sobre a construção de novos caminhos para o mercado, mesmo considerando um
novo posicionamento de mercado alinhando economia, desenvolvimento tecnoló-
gico e proteção ao meio ambiente.
Os dados e as informações apontam no sentido de que a iniciativa e as ações do
Programa Patentes Verdes são muito bem sucedidas, tanto no contexto do alinha-
mento do Sistema de Propriedade Industrial ao combate às mudanças climáticas
globais, quanto ao apoio ao desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e à inova-
ção das mesmas, com a aceleração prioritária dos exames de pedido de patente na
grande área das tecnologias verdes.
Verificou-se pela análise dos resultados obtidos que quase 85% dos pedidos
concedidos na rota prioritária das patentes verdes foram concedidos abaixo de dois
anos a partir da solicitação de ingresso no Programa, tendo assim cumprindo com
o prazo normativo previsto para execução do P3V. Ressaltando-se que, em alguns
casos, esta redução no tempo da concessão atingiu uma atenuação na ordem de 4
a 5 vezes o tempo ordinário de concessão atual (tempo médio atual de oito anos),
tendo em vista a mesma área tecnológica e divisão técnica a que se refere.
É relevante considerar que esta modalidade de exame prioritário oferece
efetivamente uma solução adequada ao problema do “backlog” de patentes, exclu-
sivamente aos pedidos de patente com matéria técnica inserida no rol de tecnolo-
gias consideradas verdes, conforme o inventário de tecnologias estabelecido nas
resoluções elaboradas pelo INPI. Restando claro, que existem nichos específicos de
pedidos de patente que necessitam de fluxos processuais diferenciados em relação
ao fluxo convencional, sendo que os depositantes que possuem tais pedidos em
seu portfólio de patentes anseiam por respostas mais céleres por parte do INPI. E
para as tecnologias inseridas no contexto das Patentes Verdes, os tempos de respos-
ta médios atualmente apresentados pelo INPI são adequados para que os valores
dos ativos de propriedade industrial, representados pelas patentes, sejam otimiza-
dos por parte dos depositantes. Portanto, considera-se importante disponibilizar
as Patentes Verdes como um fila de priorização para os pedidos de patentes, que
eventualmente se refiram a tecnologias de curtos tempos médios de vida útil, por
exemplo.

61
PATENTES VERDES NO BRASIL

Ao fim, observa-se que o atual Programa de Patentes Verdes apresenta um alto


potencial para empresas interessadas em se estabelecer num mercado de compe-
titividade sustentável, uma vez que a patente verde como ativo intangível auxilia
na incorporação de capacidades tecnológicas, recursos e atividades cruciais para
promover o crescimento econômico sustentável e formular estratégias e políticas
tecnológicas nacionais para o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis.

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65
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO
RELACIONADO A PATENTES VERDES

Cleide Mara Barbosa da Cruz, Cleo Clayton Santos Silva,


Nadja Rosele Alves Batista, Flavia Aquino da Cruz Santos,
Diego Silva Souza, Daniel Barreto Doria Aquino

INTRODUÇÃO

A preocupação com questões ambientais recebe bastante visibilidade nos seto-


res político, econômico e industrial e é de interesse nacional e internacional, pois
o impacto ambiental geralmente perpassa o local de origem de autores, membros da
sociedade e empresas. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), com
objetivo de acelerar o exame dos pedidos de patentes consideradas verdes para cerca
de dois anos, lançou em abril de 2012 o Programa Patentes Verdes, com isso esperan-
do-se, com isso, permitir que novas tecnologias sejam utilizadas rapidamente pela
sociedade impulsionando a inovação no país (MORAIS, 2014). Nesse sentido, com
a revolução da sustentabilidade no século XXI é de suma importância o desenvol-
vimento das chamadas tecnologias verdes (GONÇALVES; BEZERRA, 2018).
As tecnologias ditas como ambientalmente amigáveis, pois não agridem o meio
ambiente, configuram-se como acréscimo aos estudos de ciência e tecnologia. O
Programa Patentes Verdes, conduzido em diversos escritórios de propriedade in-
dustrial no mundo foi iniciado no Brasil com sucesso, pois traz significativas mu-
danças em pesquisa e desenvolvimento (MORAIS, 2014).
A proteção à propriedade intelectual e ao meio ambiente podem não parecer
assuntos interrelacionados em uma primeira abordagem, contudo, a necessidade
de medidas eficazes e globais para tecnologias verdes, levando o assunto de meio
ambiente e mudança climática à propriedade intelectual (TEIXEIRA, 2017). O sis-
tema patentário brasileiro funciona como um propulsor para o desenvolvimento
econômico e sustentável, atuando como um tipo de indutor para a inovação das
questões ambientais, fato este observado na relação entre as tecnologias verdes
(MENEZES; SANTOS; BORTOLI, 2016).
Dessa forma, as patentes cumprem um papel importante, pois possibilitam o
retorno do investimento realizado na inovação por meio de licenças, além disso,
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO RELACIONADO A PATENTES VERDES

a proteção patentária possibilita a reunião e sistematização de tais tecnologias que


facilitam sua identificação via mecanismos, conferindo de tal modo o poder de
instigar a concorrência para a inovação e pesquisas (RICHTER, 2014).
A aceleração em obter direitos sobre as tecnologias que ajudam o planeta a
conduzir a preservação visando as gerações futuras no aspecto social, econômico e
ambiental, geram emprego e renda, além de não agredir a natureza, o que justifica
o interesse das nações em propor programas que acelerem o registro dessas paten-
tes (CHAGAS; GOMES, 2016).
Diante do exposto, este estudo tem como objetivo realizar um mapeamento tec-
nológico relacionado a patentes verdes, com intuito de verificar a evolução dos depó-
sitos de patentes realizados no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

PATENTE

A patente garante ao seu titular a exclusividade ao explorar comercialmen-


te a sua criação, assegurando investimentos e pesquisas, sendo uma maneira de
promover o desenvolvimento, haja vista que os registros de patentes por estarem
disponíveis em bancos de dados de livre acesso, constituem grandes bases de co-
nhecimento tecnológico, que podem ser usadas em pesquisas de diversas áreas, in-
clusive as relacionadas ao meio ambiente (MENEZES; SANTOS; BORTOLI, 2016).
As patentes constituem uma das mais antigas formas de proteção da propriedade
intelectual, cujo objetivo é incentivar o desenvolvimento econômico e tecnológico
recompensando a criatividade (TEIXEIRA, 2017).
A patente deve cumprir sua função social, a qual se configura como uma limi-
tação constitucional ao bem comum, e o direito a concessão de patentes também
integra o rol das garantias fundamentais estabelecidas pela Constituição Federal (RI-
CHTER, 2014). A concessão de patente é um ato administrativo declarativo, ao se re-
conhecer o direito do titular, sendo necessário o requerimento da patente e o seu trâ-
mite junto a administração pública, ou seja a patente é um título de propriedade que
confere ao seu titular direito de impedir que terceiros explorarem sua invenção, por
um limitado período de tempo (SUZIN; MARCANZONI; BITTENCOURT, 2016).
O registro de patentes permite aos seus detentores o direito concedido pelo
Estado de explorá-la comercialmente por um determinado período de tempo e em
contrapartida deve-se divulgar essa inovação com objetivo de gerar benefícios para
toda a sociedade (CHAGAS; GOMES, 2016).
De acordo com a lei 9.279/96 que regulamenta a propriedade industrial, o pra-
zo de vigência de uma patente será de vinte anos para as de invenção e quinze anos

68
Cleide Mara Barbosa da Cruz, Cleo Clayton Santos Silva, Nadja Rosele Alves Batista,
Flavia Aquino da Cruz Santos, Diego Silva Souza, Daniel Barreto Doria Aquino

para as de modelo de utilidade. A lei estabelece ainda os requisitos para que uma
invenção seja considerada patenteável, tais como os atendimentos aos requisitos de
novidade, atividade inventiva e aplicação industrial (RICHTER, 2014).
É notável a importância de serem feitas campanhas e promoções para a fomenta-
ção do registro de patentes no Brasil, visando aumentar o número de registros e, por
consequência, uma maior concorrência interna entre as empresas e inventores. Por
outro lado, encontrar um meio de diminuir o tempo de espera para a concessão do
documento de patente mostra-se necessário, para estimular os inventores que quei-
ram patentear suas invenções (SUZIN; MARCANZONI; BITTENCOURT, 2016)

PATENTES VERDES

O tema patente verde teve origem na Organização Mundial da Propriedade


Intelectual (OMPI) no ano de 2001, quando fora editada uma proposta em que
algumas patentes deveriam possuir prioridade em relação a outras, devido à sua
importância para o meio ambiente. Após a instituição das patentes verdes pela
OMPI, os países iniciaram seus próprios processos de nacionalização dessa medi-
da, e sua adoção ocorreu apenas nas nações que tinham o objetivo de aprimora-
mento das patentes juntamente com a salvaguarda e proteção do meio ambiente
(SILVA; SILVA, 2016).
A difusão e transferência de patentes relacionadas a tecnologias ambientalmen-
te saudáveis é de vital importância, uma vez que uma invenção pode representar
a variação total e absoluta dos problemas ambientais que a humanidade enfrenta,
já existem várias invenções de produtos de processamento que estão ajudando a
combater, mitigar e eliminar a poluição ambiental (TEIXEIRA, 2017).
As patentes denominadas patentes verdes incorporam o conceito de tecnolo-
gias verdes, as quais direcionam o desenvolvimento tecnológico e econômico no
caminho da sustentabilidade, com incentivos à inovação nos negócios (GARRI-
DO, 2018). O artigo 2º da resolução 283/2012 definiu as patentes verdes como os
pedidos de patentes com foco em tecnologias ambientalmente amigáveis ou ditas
tecnologias verdes, sendo estas descritas pelo inventário publicado pela Organiza-
ção Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) (RICHTER, 2014).
Para que as patentes verdes possam desempenhar o papel de destaque que a ela
está destinado, é imprescindível que elas estejam suportadas por políticas públicas
e incentivos que estimulam e promovam novas formas de criação de valor e de
abordagem de problemas compatíveis com ecossistemas saudáveis (SANTOS et
al., 2017).

69
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO RELACIONADO A PATENTES VERDES

PROGRAMA PATENTES VERDES

O Programa Patentes Verdes é um programa piloto, cujo principal objetivo é


reunir e acelerar o exame de pedidos de patentes que contemplem inovações rela-
cionadas ao meio ambiente e ao mesmo tempo identificar novas tecnologias para
o desenvolvimento sustentável. O Programa apresenta dois grandes beneficiários,
para o inventor, possibilita a obtenção da carta-patente com redução de até 90%
do prazo normal de exame, para a sociedade, por outro lado, lucra na medida em
que estudos técnicos e novas tecnologias recebem um incentivo extra para serem
desenvolvidos de modo a equilibrar a difícil equação entre desenvolvimento e sus-
tentabilidade (RICHTER, 2014).
A criação do Programa Piloto de Patentes Verdes constitui um mecanismo na
área da sustentabilidade, buscando privilegiar a energia alternativa, o transpor-
te, a conservação de energia, a agricultura e o gerenciamento de resíduos sólidos,
como participantes taxativos de categorias aptas a participarem do processo de
deferimento de patentes de tecnologias limpas no Brasil, com análise prioritária
(SANTOS; SANTOS, 2018).
Além disso, o Programa Piloto de Patentes Verdes é um passo importante no
incentivo à produção de tecnologias limpas, buscando alinhar a redução de im-
pactos socioambientais ao progresso tecnológico, mostrando uma mudança no
mundo na direção de formas que substituam o progresso baseado em tecnologias
que não agridam o ecossistema por tecnologias limpas, onde sustentam o meio
ambiente e geram desenvolvimento social (CHAGAS; GOMES, 2016).
Conforme Teixeira (2018) o Programa de Patentes Verdes brasileiro mostra
grande potencial como instrumento incentivador da produção de tecnologias ver-
des, e tem cumprido seu objetivo em reduzir o tempo de análise das solicitações.
O sucesso dos Programas de Patentes Verdes no Brasil, possibilitam a identifi-
cação e novas tecnologias disponibilizando-as rapidamente para a sociedade, pois
estimula a transferência de tecnologia e incentiva a inovação no país, bem como
aproxima o interesse estratégico e competitivo dos negócios verdes (MENEZES;
SANTOS; BORTOLI, 2016).

BENEFÍCIOS DAS PATENTES VERDES PARA A SOCIEDADE

A vantagem na agilidade da concessão de patentes verdes é o fato de seus titulares


disponibilizarem a nova tecnologia no mercado em menor tempo que o usual, consi-
derando o apelo ambiental e a necessidade premente de novas tecnologias igualmente

70
Cleide Mara Barbosa da Cruz, Cleo Clayton Santos Silva, Nadja Rosele Alves Batista,
Flavia Aquino da Cruz Santos, Diego Silva Souza, Daniel Barreto Doria Aquino

sustentáveis, desencadeando processos de inovação mais acelerados entre seus concor-


rentes, como acontece nos processos convencionais (RICHTER, 2014). Para Santos et
al. (2014) as patentes verdes oferecem às empresas inovadoras em tecnologias verdes, a
chance de se obter direitos de patente de alta qualidade em menos tempo.
O incentivo à patenteabilidade de patentes verdes reflete o modo de como se
quer ver o mundo daqui alguns anos, logo as patentes verdes podem incentivar as
tecnologias posteriores a tomar como base os avanços ambientais proporcionados
(TEIXEIRA, 2018).
De acordo com Teixeira (2018) os Programas de patentes verdes vieram trazer
importantes contribuições para o desenvolvimento sustentável em âmbito global,
uma vez que o implemento desses programas, a obtenção de uma patente relativa
a uma invenção é mais rápida, o que significa que a sua comercialização será mais
rápida também, bem como a oportunidade de difundir-se globalmente, possibili-
tando que um evento alcance um efeito poderoso contra a eliminação e mitigação
dos problemas ambientais que acabam por travar o desenvolvimento sustentável.
O cenário das patentes verdes é uma sinalização de importante avanço para a
sociedade brasileira, privilegiando, simultaneamente, o incentivo à inovação e o de-
senvolvimento tecnológico de soluções sustentáveis, sendo um instrumento jurídico
que possibilita a catalisação de investimentos para o setor (SANTOS et al., 2014).
São claros e evidentes os benefícios da patente verde na sociedade, pois com o
incentivo à inovação, por meio da obtenção de patentes, e posterirormente de sua
divulgação para o meio ambiente sustentável, o Estado socioambiental contribui
propiciando o espaço para o choque de ideias. Assim, o futuro das próximas gera-
ções estará garantindo junto a melhoria da qualidade de vida da população de hoje,
pelo ato de conceder e incentivar a criação de tecnologia que beneficie a natureza
(SUZIN; MARCANZONI; BITTENCOURT, 2016).

METODOLOGIA

A metodologia deste estudo é classificada como exploratória e quantitativo,


pois foi possível ter uma visão geral sobre o tema, através da pesquisa na literatura
científica, além da realização do mapeamento tecnológico. De acordo com San-
tos, Santos (2018) os mapeamentos tecnológicos contribuem para a comunidade
científica no sentido de ser instrumento de auxílio para orientar pesquisadores e
empresas quanto ao desenvolvimento de pesquisas no processo de tomada de deci-
são, ao indicar tendências das inovações tecnológicas, no sentido de construir in-
dicadores do desenvolvimento científico obtido por meio dos registros de patentes.

71
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO RELACIONADO A PATENTES VERDES

Foram pesquisados todos os depósitos de patentes relacionados a patentes


verdes. A busca dos depósitos foi realizada no Instituto Nacional da Proprieda-
de Industrial (INPI), e foi utilizada uma estratégia de busca por meio de filtros.
Foi escolhida a opção de “Pesquisa Avançada”, na palavra chave foi escolhido o
campo “título”, em seguida utilizou-se as palavras chaves “patentes verdes” onde
foram encontrados setenta e um depósitos de patentes, que foram tabulados para
a obtenção dos resultados, em seguida optou-se pela opção “Patente Concedida”
para saber quantos depósitos foram concedidos, e foram encontradas apenas treze
patentes concedidas.
Os dados foram analisados por meio de gráficos, quadros e tabelas, sendo feitos
de acordo com a evolução anual dos depósitos de patentes, classificação, inventores
e perfil dos depositantes.

RESULTADOS

Foram analisados os depósitos relacionados a patentes verdes, utilizando a


palavra chave “patentes verdes”, em que verificou-se os depósitos de patentes de
1919 ano de primeiro depósito de patentes voltados a patentes verdes até o ano de
2018, bem como a Classificação Internacional que aparece mais vezes na pesquisa,
o número de depósitos de patentes por Classificação Internacional, os principais
inventores, países depositantes e perfil dos depositantes.

Figura 1 – Evolução anual dos depósitos de patentes INPI (1919-2018)

Fonte: Elaborado pelos autores (2020)

72
Cleide Mara Barbosa da Cruz, Cleo Clayton Santos Silva, Nadja Rosele Alves Batista,
Flavia Aquino da Cruz Santos, Diego Silva Souza, Daniel Barreto Doria Aquino

Os primeiros depósitos registrados foram em 1919, em seguida apenas foram


depositados no INPI sobre patentes verdes em 1976, e desde então houve depósitos
até 1979 e nos anos de 1980, 1981, 1983 não foram registrados depósitos, a partir
do ano 1988, só houveram depósitos em 1994, em 1999 e 2003 também não têm
depósitos. No entanto do ano 2004 a 2018 o número de depósitos encontra-se em
crescimento se comparado aos primeiros anos em que foram feitos os primeiros
depósitos, pois de 1919 a 1976 é um grande espaço de tempo, no entanto o ano
com maior número de depósitos foi 2011 e 2012, este aumento pode ser explicado
por conta do artigo 2º da resolução 283/2012 define as patentes verdes como os pe-
didos de patentes com foco em tecnologias ambientalmente amigáveis. Em razão
desse decreto as patentes consideradas patentes verdes são valorizadas e apresen-
tam um importante avanço na inovação.

Quadro 1 – Classificação Internacional de Patentes – CIP

Seções Significados das Seções


A Necessidades Humanas
B Operações de Processamento; Transporte
C Química; Metalurgia
D Têxteis; Papel
E Construções Fixas
F Engenharia Mecânica; Iluminação; Aquecimento; Armas; Explosão
G Física
H Eletricidade
Fonte: Baseado em dados coletados na base do INPI (2020)

O Quadro 1 apresenta a Classificação Internacional de Patentes (CIP), este ser-


ve para classificar o conteúdo técnico de um documento de patente, e apresenta
oito seções sendo que cada seção possui significados distintos. Para fazer a análise
dos resultados deste estudo foi coletado o número de depósitos de patentes por
código de classificação internacional, como mostra a Figura 2, sendo possível notar
a predominância da seção A.
A Figura 2 apresenta o Código de Classificação Internacional no INPI, mos-
trando os dez códigos que aparecem mais vezes na pesquisa, alguns destes apresen-
tam um maior percentual, sendo as classificações A61P 7/02, A61P 35/00, A61K
36/05, A23F 5/24, A23F 5/02, as que aparecem três (03) vezes, as demais aparecem
duas (02) vezes, no entanto muitas outras classificações aparecem apenas uma (01)
vez na pesquisa. Entre as principais classificações a seção A que corresponde ás
necessidades humanas aparece mais vezes na pesquisa.

73
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO RELACIONADO A PATENTES VERDES

Figura 2 – Número de depósitos de patentes por código de classificação internacional no INPI

Fonte: Elaborado pelos autores (2020)


Quadro 2 - Classificações Internacionais de Patentes encontradas no INPI

Código da CIP Significado da Classificação Internacional de Patentes - CIP


A61P 7/02 Agentes antitrombóticos; Anticoagulantes; Inibidores da agregação plaquetária
A61P 35/00 Agentes antineoplásicos
A61K 36/05 Chlorophycota ou chlorophyta (algas verdes), por exemplo, Chlorella
A23F 5/24 Extração de café (isolamento do sabor do café ou óleo de café A23F 5/48 ) ; Extratos
de café (com teor reduzido de alcalóides A23F 5/20 ) ; Fabricação de café instantâ-
neo (métodos de torrefação de café extraído A23F 5/06 )
A23F 5/02 Tratar café verde ; Preparações assim produzidas (torrefação A23F 5/04 ; remoção
de substâncias indesejadas A23F 5/16; redução ou remoção do teor de alcalóides
A23F 5/20 ; extração A23F 5/24 )
A01D 45/24 Colheita de cultura em pés de ervilhas
B26D 3/24 Obter segmentos que não sejam fatias, por exemplo, cortar tortas
B42D 15/00 Material impresso de formato ou estilo especial não previsto
B07B 1/22 Tambores rotativos
C03C 8/14 Vidro frit misturas têm adições não-frita, por exemplo, opacificantes, corantes, adi-
ções moinho
Fonte: WIPO (2020)

Os significados das dez (10) classificações que aparecem mais na pesquisa,


estão expostos no Quadro 2. Estas classificações uniformizam os documentos de
patente e servem como uma ferramenta para que seja possível recuperar os docu-
mentos de patentes.

74
Cleide Mara Barbosa da Cruz, Cleo Clayton Santos Silva, Nadja Rosele Alves Batista,
Flavia Aquino da Cruz Santos, Diego Silva Souza, Daniel Barreto Doria Aquino

Figura 3 – Principais inventores

Fonte: Elaborado pelos autores (2020)

Os principais inventores relacionados a depósitos de patentes depositados no


INPI, conforme a Figura 3 apenas Alan Nappa possui três depósitos no INPI. Alan
Nappa é inventor não apenas de inventos relacionados a tecnologias ambiental-
mente sustentáveis, ele também é gerente experiente de desenvolvimento técnico
em marketing e desenvolvimento de negócios para novas tecnologias digitais, tra-
balhou na indústria química, é hábil em negociação, gerenciamento de produtos,
surfactantes e polímeros, é profissional de engenharia com mestrado em Química
Orgânica pela Università degli Studi di Parma.
Os demais inventores apresentam apenas dois (02) depositos de patentes sobre
patentes verdes no INPI, no entanto têm vários inventores que depositaram apenas
uma vez.

Tabela 1- Países depositantes

Países Quantidade
Brasil 49
Estados Unidos 8
Itália 5
Alemanha 3
Japão 2
Austrália 1
Dinamarca 1
Holanda 1
Reino Unido 1
Fonte: Elaborado pelos autores (2020)

75
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO RELACIONADO A PATENTES VERDES

Os países depositantes de patentes relacionadas a patentes verdes no INPI, de


acordo com a Tabela 1 o Brasil possui um quantitativo elevado de depósitos se
comparado aos demais, soma um percentual de quarenta e nove (49) depósitos,
seguido dos Estados Unidos com oito (08), já Austrália, Dinamarca, Holanda e
Reino Unido possuem apenas um (01).

Figura 4 – Perfil dos depositantes

Fonte: Elaborado pelos autores (2020)


A Figura 4 apresenta o perfil dos depositantes relacionados a esta pesquisa, a
maioria destes são empresas, abrangendo 50% dos depósitos de patentes, sendo
que as empresas Lamberti e Suntory Beverage & Food foram as empresas que mais
apresentaram depósitos na pesquisa.
A empresa Lamberti lidera um grupo com subsidiárias em todo o mundo, e
acredita que a competitividade dos mercados de hoje e de amanhã exigem a união
de uma boa gestão de negócios, inovação, segurança e proteção ambiental (LAM-
BERTI, 2020). A Suntory Beverage & Food está expandindo os negócios global-
mente, com foco em cinco principais regiões como Japão, Europa, Ásia, Oceania
e Américas, desenvolvendo valores, conhecimento e tecnologia. A empresa tem
prioridade a longo prazo para o período de 2030 acelerar o gerenciamento da sus-
tentabilidade e a contribuição para as sociedades locais (SUNTORY BEVERAGE
& FOOD, 2020).
Em relação aos inventores independes estes abrangem 36% do perfil de inven-
tores, sendo que Alan Nappa apresentou maior número de depósitos como mos-
tra na Figura 3, as Universidades somam um quantitativo de 14% sendo o menor
percentual do perfil de depositantes, a Universidade que aparece mais vezes na
pesquisa é a Universidade Federal do Paraná.

76
Cleide Mara Barbosa da Cruz, Cleo Clayton Santos Silva, Nadja Rosele Alves Batista,
Flavia Aquino da Cruz Santos, Diego Silva Souza, Daniel Barreto Doria Aquino

CONCLUSÃO

Com relação a evolução anual dos depósitos de patentes relacionados a paten-
tes verdes, estes iniciaram em 1919, o maior quantitativo ocorreu apenas nos anos
2011 e 2012. Sobre a Classificação Internacional a seção A que corresponde as ne-
cessidades humanas foi a mais utilizada. O inventor que mais apresentou depósitos
de patentes no INPI sobre patentes verdes foi Alan Nappa.
O Brasil foi o país que aparece como principal depositante de patentes verdes
no INPI, seguido dos Estados Unidos. Quanto ao perfil dos depositantes o maior
quantitativo encontrado na pesquisa foram as empresas, as empresas que se desta-
caram foram Suntory Beverage & Food e Lamberti.
Este estudo possibilitou verificar que apesar da inovação sustentável estar em
alta no mercado mundial ainda são poucos os depósitos de patentes verdes encon-
trados no INPI. Sugere-se cooperação entre governo, empresas privadas e inven-
tores independentes cooperem para o desenvolvimento e patenteamento de novas
tecnologias relacionadas ao meio ambiente. Para pesquisas futuras recomendam-
-se novos mapeamentos tecnológicos em outras bases de dados com intuito de
verificar a evolução anual das tecnologias associadas a patentes verdes.

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78
MAPEAMENTO DE TENDÊNCIAS
TECNOLÓGICAS PARA O SETOR DE
MOBILIDADE NAS CIDADES INTELIGENTES

Mariana Araujo Adelino, Wanderson de Vasconcelos


Rodrigues da Silva, Renata Silva-Mann

INTRODUÇÃO

Em 1950, 30% da população residia em centros urbanos. Atualmente, estima-se


que esse número corresponde a 55% do total da população mundial. Para o ano de
2050, uma projeção realizada pela ONU (2014) prevê um percentual 68%, o que
significa dizer que as taxas de urbanização em razão do crescimento mundial da
população poderão deslocar mais de 2,5 bilhões de pessoas para as cidades.
Muitos benefícios foram adquiridos com tamanho crescimento populacional,
porém, a alta densidade demográfica que possibilita a potencialização das ativi-
dades econômicas e governamentais e o aumento da expectativa de vida, acarreta
também vários percalços aos habitantes, tais como: má oferta de serviços essen-
ciais, saneamento, mobilidade e malefícios ao meio ambiente (ONU, 2014)
As Smart Cities são projetadas e implantadas com o objetivo de solucionar os
problemas urbanos de uma maneira inteligente. A Tecnologia da Informação e
Comunicação (TIC), grande aliada na temática Smart, pretende trazer melhorias
nos pilares das Smart Cities: social, gestão, economia, aspectos legais, tecnologia e
sustentabilidade. Esses pilares determinam em quais áreas os projetos de cidades
inteligentes devem investir para de fato construírem centros urbanos mais avança-
dos tecnologicamente e socialmente.
Ainda em razão da exacerbada urbanização, a mobilidade das povoações mos-
tra-se um dos setores mais afetados e o mais propenso a ajustes provenientes da
Smart Mobility, uma mobilidade inteligente. No campo da sustentabilidade, as
duas principais formas de transportes no Brasil: rodoviário e individual apresen-
tam uma massiva produção de Gases de Efeito Estufa (GEE) extremamente pre-
judicial à população. Além disso, os engarrafamentos, um dos mais visíveis pro-
blemas da mobilidade urbana atual também causa prejuízos aos habitantes e aos
órgãos responsáveis de trânsito
MAPEAMENTO DE TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS PARA O SETOR DE MOBILIDADE NAS CIDADES INTELIGENTES

Uma vez observados os problemas urbanos no geral e de mobilidade, especifi-


camente, faz-se oportuno mapear e analisar tendências tecnológicas no contexto
da Smart Mobility. O mapeamento dos registros das tecnologias, nesse caso das
patentes ligadas a área, provê informações sobre os provedores das tecnologias de
Mobilidade Inteligente e possíveis tendências tecnológicas.
Desse modo, o objetivo deste estudo foi mapear as tecnologias desenvolvidas
no contexto da Mobilidade Inteligente ou Smart Mobility, no tempo e espaço, iden-
tificando os principais provedores e tendências, conforme as informações dos de-
pósitos de patentes disponíveis nas bases tecnológicas.

FUNDAMENTAÇÃO

SMART CITIES

Desde o Século XIX, com o advento da Revolução Industrial, o planejamen-


to e a organização urbana mudaram consideravelmente. Segundo Prado e Santos
(2014), a demasiada migração proveniente dos avanços econômicos, tecnológicos
e industriais, intensificou a urbanização das cidades de uma maneira inovadora.
Tamanho crescimento trouxe problemas como poluição de rios, enchentes, mobi-
lidade ineficiente e, em consequência desses problemas, uma má qualidade de vida
para a população.
Com o objetivo de ofertar melhorias e soluções para os dilemas urbanos, o
conceito das cidades inteligentes ascende como uma alternativa a proporcionar o
bem-estar dos cidadãos. Smart Cities, termo em inglês para cidades inteligentes,
apropria-se de tecnologias em uma integração de sistemas, a fim de proporcio-
nar soluções inteligentes aos desafios populacionais. A popularização do termo e
do novo formato urbanitário se dá em razão de dois fatores. O primeiro deles se
caracteriza na grande globalização das cidades. Estima-se que, desde 2007, 50%
da população mundial passou a residir em cidades. O segundo se dá em razão
da revolução digital, em decorrência do avanço de ferramentas provenientes da
Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) (ANDRADE; GALVÃO, 2016).
Áreas como mídias sociais, mobilidade, inteligência analítica, Big Data e com-
putação em nuvem, também chamada de Cloud, são, em conjunto, chamadas de
alavancas da mudança digital, indispensáveis para a materialização do Smart Every-
thing (tudo inteligente, incluindo as cidades). Tal avanço tecnológico ocasiona uma
hiperconectividade mundial que totaliza 100 bilhões de dispositivos conectados no
ano de 2020, estabelecendo uma sociedade colaborativa. Ao unirmos as alavancas

80
Mariana Araujo Adelino, Wanderson de Vasconcelos Rodrigues da Silva, Renata Silva-Mann

da mudança digital, a hiperconectividade e uma sociedade colaborativa, contamos


com os fatores determinantes da revolução digital (CUNHA et al., 2016).
Entretanto, por mais que toda a concepção de uma cidade inteligente se resu-
ma em tecnologia, para uma cidade realmente ser considerada inteligente, alguns
aspectos devem ser levados em consideração, como aponta Sujata et al. (2016).
Sendo assim, ao aperfeiçoar um projeto voltado para o conceito de Smart Cities, é
necessário também investir em coeficientes denominados pelo autor como pilares
das Smart Cities: governança, economia, sustentabilidade e outros fatores como
exemplificado na Figura 1.

Figura 1 – Pilares das Smart Cities.

Fonte: Autoria própria (2019)

Juntos, os pilares social, gestão, economia, aspectos legais, tecnologia e susten-


tabilidade, formam a sigla SMELTS, em inglês. O pilar social crê que comunidades
inteligentes concedem aos seus cidadãos um papel ativo em sua construção, envol-
vendo-os no sucesso da resolução dos problemas sociais e incitando uma maior
comunicação. Ademais, uma cidade só poderá ser considerada inteligente se levar
em consideração a situação social de seus habitantes, equilibrando as necessidades
de cada grupo.
Smart Governance, o segundo pilar, baseia-se numa governança digital, também
denominada e-governance, onde há uma iniciativa para auxílio na tomada de deci-
sões. Nesse cenário, a internet é o principal veículo de comunicação entre a popu-
lação e o governo. Tal fator dispõe um maior número de habitantes apropriando-se
do acesso a informações e participando de trâmites políticos (SUJATA et al., 2016).

81
MAPEAMENTO DE TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS PARA O SETOR DE MOBILIDADE NAS CIDADES INTELIGENTES

O terceiro pilar destaca a importância de uma economia inteligente, apresen-


tando-se como um dos mais importantes aspectos. Potencializar o empreendedo-
rismo, a competitividade econômica, a produtividade e a inovação pode gerar uma
cidade capaz de inovar e capitalizar economicamente. Os resultados econômicos
das iniciativas de cidades inteligentes são a criação de negócios, empregos, desen-
volvimento da força de trabalho e melhoria na produtividade (SUJATA et al., 2016).
Portanto, para que haja de fato uma evolução beneficente nas cidades, faz-se
basilar que as questões legais sejam inteiramente legítimas e os agentes políticos
elaborem leis a favor do crescimento e prosperidade da Smart City. Posto isso, os
aspectos legais, quarto pilar, são cruciais ao processo de implementação das cida-
des inteligentes.
É fato que o avanço das cidades inteligentes tem como influência o advento da
tecnologia e, desta forma, o quinto pilar desempenha importante papel. Uma série
de dispositivos e softwares auxiliam na integração de sistemas utilizados para o
bem comum dos centros urbanos (SUJATA et al., 2016).
Como último pilar, a sustentabilidade visa minimizar os danos causados por
tamanha urbanização acelerada, com o intuito de buscar um crescimento mais
ecológico. Um desenvolvimento sustentável fundamenta-se em sustentabilidade
social, econômica e ambiental. Com a participação desse pilar, os principais pro-
blemas dos ambientes urbanos como abastecimento de água, energia, alimentos e
emissão de gases de efeito estufa poderão ser minimizados.
Demais pesquisadores e institutos defendem estudos baseados em diferentes
pilares. A União Europeia, por exemplo, possui os seguintes pilares: Smart Gover-
nance, Smart Economy, Smart Mobility, Smart Environment, Smart People e Smart
Living. O fato é que, para uma próspera implementação da Smart City, cada caso
particular deve seguir um modelo que se apresente ideal para a situação. No entan-
to, vale destacar o pilar Smart Mobility que está diretamente conectado ao pilar da
tecnologia (CUNHA et al., 2016).

MOBILIDADE INTELIGENTE

Segundo Nobre (2015), a mobilidade caracteriza-se como uma das áreas mais
afetadas pelo intenso processo de urbanização dos 50 anos precedentes. No brasil,
o transporte rodoviário é o principal sistema logístico para transporte de cargas e
pessoas, no qual, segundo Monzoni e Nicolletti (2015), apresenta índices eleva-
dos de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) por tonelada de carga e por
passageiro. Além do problema ecológico, destacam-se os engarrafamentos, um

82
Mariana Araujo Adelino, Wanderson de Vasconcelos Rodrigues da Silva, Renata Silva-Mann

dos mais visíveis problemas da mobilidade urbana atual. O desperdício de tempo


dos habitantes, prejuízo aos cofres públicos e problemas de saúde são algumas das
diversas complicações adquiridas através dos problemas de mobilidade nas gran-
des cidades.
Há certa dificuldade em ofertar um transporte coletivo de qualidade, capaz de
atender todos os habitantes e todas as localidades. Como ressalta Costa (2015), países
em desenvolvimento como o Brasil, cujo processo de urbanização se deu de maneira
desenfreada, priorizar o sistema de transporte público coletivo é uma tarefa difícil.
Ainda considerando o cenário brasileiro, o país possui políticas urbanas que privile-
giam o transporte individual como a redução do imposto para compra de veículos,
ou até a questão cultural, onde o carro representa um status social.
No campo da mobilidade, percebe-se que não há investimentos suficientes para
melhorias, o que afeta drasticamente a eficiência da mobilidade. “Future of Urban
Mobility”, um estudo que ressalta a importância do tópico da mobilidade e realiza
importantes previsões de investimentos, aponta a área em questão como uma das
mais procuradas pelos investidores e, inclusive, a área que apresenta maior neces-
sidade de investimento nos centros urbanos. No Brasil, os tópicos relacionadas à
mobilidade urbana requerem maior atenção, pois além dos transtornos pertinen-
tes a essa temática, para os municípios com mais de 20 mil habitantes é exigida a
criação de um plano de mobilidade urbana, conforme demanda a Lei Federal n.
12.587/2012 (ARAUJO et al., 2020; AUDENHOVE et al., 2014).
Avaliando os aspectos discutidos, é evidente que se faz necessário novas po-
líticas a favor de melhorias na mobilidade das cidades, além da busca de meios
inteligentes para a resolução de tais impasses. Soluções tecnológicas como as de-
senvolvidas pelo Centro de Operações do Rio de Janeiro, e não tecnológicas como
a criação de faixas exclusivas para ônibus já integram o dia a dia dos brasileiros e
tornam o conceito de Smart Mobility cada vez mais concreto no país (JUNQUEI-
RA, 2015; COSTA, 2015).
Observando o cenário exterior, em Santander na Espanha, o projeto Smart
Santander desenvolveu um aplicativo em que os habitantes podem reportar bura-
cos nas ruas e acompanhar a resposta do protocolo. Apostar em aplicativos como
o criado pelo Projeto Smart Santander, que atualizam sobre as condições da cidade
em tempo real pode ser uma boa alternativa para a implementação da Smart mobi-
lity nas cidades inteligentes (COSTA, 2015; ANDRADE; GALVÃO, 2016).
Existem diversas tecnologias para auxiliar na melhoria mobilidade urbana e
na construção de uma Smart City. Tais tecnologias possuem como base o Moni-
toramento Geoespacial das Redes de Transporte. Com softwares de geoprocessa-

83
MAPEAMENTO DE TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS PARA O SETOR DE MOBILIDADE NAS CIDADES INTELIGENTES

mento, é possível explorar informações, observar os comportamentos sociais e


econômicos da localidade, mapear e monitorar a infraestrutura de transportes,
além de outras atividades. A partir do Monitoramento Geoespacial, obtém-se uma
visualização das necessidades e impasses da mobilidade, permitindo a criação de
ferramentas específicas para cada situação encontrada. Em primeira análise, des-
taca-se a criação de estacionamentos inteligentes, também denominados de Smart
Parking, são responsáveis por diminuir o tempo de procura de vagas em estaciona-
mentos. Essa tecnologia apropria-se de sensores, sinais de trânsito e até aplicativos
a fim de tornar a procura e pagamento de estacionamentos mais eficientes (FER-
REIRA, 2016).
Com a ajuda de softwares de inteligência artificial e sensores nas vias, os semá-
foros podem assumir um papel inteligente, identificando o fluxo de pessoas nas
faixas de travessia, horários de pico e o comportamento do tráfego em geral. De
posse dessas informações, o software pode calcular o tempo em que o semáforo
pode estar aberto ou fechado, e diminuir em até 16% do tempo de viagem dos
habitantes (FERREIRA, 2016).
Por fim, também ressalta o papel dos habitantes na criação de uma mobilidade
inteligente, afirmando o pilar social das Smart Cities:

Receptividade e Iniciativa Social significam que, a população da cida-


de deve estar engajada para propor e executar as mudanças necessárias
para a evolução do seu ambiente. Os habitantes devem ser politicamen-
te ativos quanto aos atos e planejamentos feitos pela governança,
cobrando e sugerindo aos seus representantes a resolução dos proble-
mas existentes, e propondo novas ideias e soluções para os serviços e a
infraestrutura da cidade (FERREIRA, 2016, p. 74)

PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA

O processo de globalização expandiu não apenas as fronteiras físicas e econô-


micas como também ampliou o desenvolvimento científico e tecnológico de uma
forma jamais vista anteriormente. As novas ferramentas da tecnologia da infor-
mação e comunicação permitiram o aumento do processamento de informações,
acelerando as transformações na sociedade e gerando uma demanda incessante
por inovações em produtos e serviços.
Essas transformações criam um ambiente fértil para que universidades, em-
presas e empreendedores possam criar novos conhecimentos que gerem inovações

84
Mariana Araujo Adelino, Wanderson de Vasconcelos Rodrigues da Silva, Renata Silva-Mann

tecnológicas para benefício da sociedade e, ao mesmo tempo, proteger e divulgar


suas criações para obtenção de retorno econômico. Nesse contexto, as patentes se
configuram como uma modalidade de propriedade intelectual que impulsiona o
desenvolvimento tecnológico de processos e produtos (SILVA; RUSSO, 2018).
A patente é um reconhecimento do Estado que garante ao titular a proteção
de sua invenção contra terceiros. No Brasil, as patentes são definidas do art. 6º ao
art. 93 da Lei da Propriedade Industrial (LPI), lei nº 9.279/96, que regula os direi-
tos e obrigações relativos à propriedade industrial no Brasil e tem como principal
objetivo conceder direitos para promover a criatividade pela proteção, dissemi-
nação e aplicação de seus resultados, levando em conta o seu interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do país. Visando a criação de ambientes
de inovação especializados e cooperativos nas instituições de pesquisa públicas e
privadas, outros recursos legais foram criados, como é o caso da Lei da Inovação,
lei nº 10.973/04, que apoia e incentiva a pesquisa científica e tecnológica para ino-
vação no país (BRASIL, 1996, 2004).
O contexto da globalização, as transformações e os recursos legais visam o de-
senvolvimento de novas tecnologias e sua proteção por meio das patentes, contu-
do, vale ressaltar que o processo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) é, reite-
radamente, extenso e dispendioso devido às inúmeras incertezas que envolvem
essa atividade. Dessa forma, as instituições de pesquisa, empresas inovadoras e
empreendedores devem adotar estratégias para estudo de tendências competitivas
de acordo com seus produtos e mercados em que atuam, ou seja, o acesso a infor-
mações tecnológicas é essencial para o sucesso e manutenção em um mundo cada
vez mais competitivo (PARANHOS; RIBEIRO, 2018).
Assim, a prospecção constitui uma atividade fundamental para o monitora-
mento de inovações em um determinado setor, permitindo mapear os desenvolvi-
mentos científicos e tecnológicos que podem influenciar a indústria, a economia
ou a sociedade, reduzindo as incertezas quanto aos processos de tomada de deci-
são. Vale destacar que a definição dos métodos e técnicas de prospecção tecnológi-
ca dependerá do campo de conhecimento, dos recursos disponíveis e da abrangên-
cia do estudo e, independente da metodologia utilizada, o objetivo da prospecção
não é prever o futuro, mas levantar estratégias para alcançar um futuro desejável
(RIBEIRO, 2018).
O mapeamento da produção tecnológica é um dos objetivos que norteiam os es-
tudos de prospecção e a principal fonte de informação são os documentos de paten-
tes disponíveis nas bases de dados dos órgãos responsáveis pela concessão em cada
território ou por meio de ferramentas gratuitas ou proprietárias desenvolvidas com

85
MAPEAMENTO DE TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS PARA O SETOR DE MOBILIDADE NAS CIDADES INTELIGENTES

essa finalidade. A patentometria, como é definido o processo de análise do conhe-


cimento tecnológico a partir dos dados de patentes, é um processo de quantitativo e
qualitativo em que é possível identificar inventores, titulares, tipos de tecnologias e
referências a outras patentes, permitindo conhecer também os principais provedores
das tecnologias e as possíveis tendências tecnológicas em um determinado setor.
O mapeamento tecnológico a partir de patentes pode ser executado por meio
de diferentes bases de dados, entre elas, Espacenet, do European Patent Office
(EPO), PatentScope, da World Intellectual Property Organization (WIPO), United
States Patent and Trademark Office (USPTO), dos Estados Unidos, Instituto Nacio-
nal da Propriedade Industrial (INPI), do Brasil, entre outras.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os procedimentos metodológicos adotados neste estudo envolveram aspectos


descritivos e exploratórios, por meio de uma abordagem quantitativa e qualitativa.
A abordagem quantitativa se deu por meio da análise estatística dos dados para
mensurar a produção tecnológica no setor de Mobilidade nas Cidades Inteligentes
ou Smart Mobility.
A abordagem qualitativa se deu por meio da análise de conteúdo das prin-
cipais patentes recuperadas, atribuindo aos dados quantitativos significados mais
amplos. Inicialmente realizou-se uma busca na literatura através de livros e artigos
publicados em periódicos para fundamentação do tema, evidenciando sua rele-
vância e justificativa para o desenvolvimento deste estudo. Em seguida, o processo
de mapeamento das tecnologias em Mobilidade Inteligente foi realizado conforme
o fluxo de etapas apresentado na Figura 2.

Figura 2 – Fluxograma do mapeamento tecnológico sobre Smart Mobility.

Fonte: Autoria própria (2020)

A base definida para o mapeamento foi a Espacenet, um banco de dados gratui-


to para pesquisa de informações patentárias desenvolvido pelo Escritório Europeu
de Patentes (EPO). Apesar de não ser uma base com documentos de patentes do
mundo todo, o banco de dados da Espacenet fornece acesso a mais de 110 milhões
de registros de patentes com origem em mais de 90 países. O escopo da busca foi

86
Mariana Araujo Adelino, Wanderson de Vasconcelos Rodrigues da Silva, Renata Silva-Mann

definido pela utilização da palavra-chave “smart mobility” aplicada ao título, ao


resumo ou às reivindicações das patentes.
As buscas pelas informações foram executadas em outubro de 2020 e os docu-
mentos recuperados foram analisados para remoção de duplicidades e correção de
erros. Em seguida, os dados foram tabulados em planilhas eletrônicas do Micro-
soft Excel® para poderem ser analisados e demonstrados em tabelas e gráficos. Os
documentos das patentes recuperadas na busca foram analisados estatisticamente
em relação ao ano de prioridade, país de depósito, classificação da tecnologia,
perfil dos titulares e inventores. Por fim, a avaliação qualitativa se deu pela análise
do conteúdo das principais patentes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No mapeamento identificou-se um total de 32 processos de depósitos de Pa-


tentes distribuídas entre Patentes de Invenção (PI) e Modelos de Utilidade (MU).
Após o procedimento de verificação de duplicidades, erros e documentos inváli-
dos, restaram um total de 27 documentos elencados para este estudo e encontram-
-se listados no Quadro 1.
A evolução dos depósitos de patentes, desde o primeiro processo em 2010 aos
mais recentes no ano de 2020, disponibilizados na base de consulta até a data de
coleta de dados deste estudo, segundo os procedimentos metodológicos adotados
é apresentada na Figura 3. Vale ressaltar que uma das limitações de busca nas ba-
ses de dados de patentes é o período de sigilo do documento, no qual os dados
do pedido ficam sob sigilo ao longo de 18 meses contados da data de depósito,
exceto nos casos em que há antecipação da publicação. Isso significa que os dados
recuperados na busca correspondem apenas aos documentos publicados, ou seja,
é possível que os dados dos anos de 2019 e 2020 estejam incompletos.
A data de prioridade de cada patente foi considerada para análise e criação dos
gráficos (Figuras 3 e 4) que retratam a evolução anual dos depósitos de patentes
voltadas para a Mobilidade Inteligente. O estudo revelou que o início do processo
de pedido de patenteamento da tecnologia aconteceu em 2010 com apenas 1 regis-
tro realizado na China e manteve-se praticamente estável ao longo dos anos, como
observa-se na linha do total acumulado de pedidos, sendo que alguns anos (2012
e 2015) não foram identificados qualquer pedido de patente na área. Analisando a
evolução dos depósitos, percebe-se um leve crescimento linear, conforme a linha
de tendência que tende a se manter para os anos de 2019 e 2020 nos quais ainda
existem pedidos em sigilo.

87
MAPEAMENTO DE TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS PARA O SETOR DE MOBILIDADE NAS CIDADES INTELIGENTES

Figura 3 – Evolução e tendência dos depósitos de documentos de patentes sobre Mobilidade Inteli-
gente (Smart Mobility) ao longo do tempo.

Fonte: Autoria própria (2020)

Figura 4 – Evolução dos depósitos de patentes sobre Mobilidade Inteligente (Smart Mobility) por país.

Fonte: Autoria própria (2020)

Na Figura 4 foi apresentada a evolução dos pedidos de depósitos de patentes


por ano de prioridade considerando os registros feitos em cada país identifica-
do na busca. Apenas em quatro países foram submetidos pedidos de patentes da
tecnologia: China, Estados Unidos, Coreia do Sul e Canadá. Apesar da pequena

88
Mariana Araujo Adelino, Wanderson de Vasconcelos Rodrigues da Silva, Renata Silva-Mann

quantidade de pedidos, a China foi o país que mais manteve a frequência anual de
depósitos, com exceção dos anos de 2012 e 2015 que foram retirados da Figura 4
por não apresentarem registros em nenhum país e os anos de 2011 e 2013 em que
não houve registros nesse país. Conforme apresentado nas Figuras 4 e 5, os Estados
Unidos foram o segundo país com o maior número de patentes solicitadas (26%)
com seus registros distribuídos de 2011 a 2017, perdendo apenas para a China
com mais da metade dos registros (52%). Em seguida, seguem Coreia, com 18%, e
Canadá, com 4%, ou seja, um único pedido solicitado em 2018.

Figura 5 – Percentual de depósitos de patentes de Mobilidade Inteligente por país.

Fonte: Autoria própria (2020)

Em relação ao tipo de tecnologia que envolve o conceito de Mobilidade Inte-


ligente ou Smart Mobility nas patentes encontradas, utilizou-se a análise da Clas-
sificação Internacional de Patentes (CIP) que é um dos principais métodos para
classificar a tecnologia dentro de segmentos tecnológicos. O código CIP possui
cinco níveis: seção, classe, subclasse, grupo e subgrupo. Para esta análise, consi-
deraram-se a seção e a classe de cada patente recuperada na busca. Vale ressaltar
que, ao cadastrar o pedido, uma patente pode receber diferentes classificações, ou
seja, situar-se em diferentes segmentos tecnológicos, como é o caso das patentes
encontradas neste estudo, as quais 26 das 27 patentes foram classificadas na seção
de Física, 12 em Necessidade Humanas, 10 em Eletricidade e 8 em Operações de
Processamento ou Transporte (Figura 6).

89
MAPEAMENTO DE TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS PARA O SETOR DE MOBILIDADE NAS CIDADES INTELIGENTES

Figura 6 – Distribuição dos depósitos de patentes de Smart Mobility por seção e classe da CIP.

Fonte: Autoria própria (2020)

Ao analisar as classes com maiores quantidades de depósitos, verificou-se que


os segmentos G06 (37%), A61 (33%) e H04 (30%) foram os que mais se desta-
caram, conforme é apresentado na Figura 7. A classe G06 abrange de simulado-
res que processam dados de sistemas, bem como o processamento ou geração de
imagens. Este é um segmento bastante adotado pelos projetos de cidades inteli-
gentes em que o processamento de uma grande quantidade de dados é essencial
para prever determinadas situações. A classe A61 abrange a ciência médica, que
no contexto da Smart Mobility, envolve a mobilidade de pessoas com dificuldade
de locomoção ou transporte. A classe H04 abrange o segmento de comunicação
que é fundamental para manter o funcionamento das Smart City, bem como seu
processo de Mobilidade Inteligente.

Figura 7 – Quantidade de documentos de patentes sobre Mobilidade Inteligente por classe .

Fonte: Autoria própria (2020)

90
Mariana Araujo Adelino, Wanderson de Vasconcelos Rodrigues da Silva, Renata Silva-Mann

Em relação aos titulares dos pedidos de depósitos de patentes da tecnologia


em estudo, identificou-se o total de 33 depositantes distintos distribuídos entre
empresas (58%), pessoas físicas (30%) e universidade (12%) (Figura 8). Algumas
tecnologias apresentam dois ou mais titulares, uma vez que resultam de parcerias.
Neste estudo, identificaram-se as seguintes parcerias nas titularidades: pessoa físi-
ca – pessoa física, pessoa física – empresa, pessoa física – universidade, empresa
– empresa. Não houve parcerias entre as universidades, nem entre empresas e uni-
versidades. Cada titular possui apenas uma patente, com exceção da Universidade
Beihang (instituição pública da China), com 2 depósitos.

Figura 8 – Distribuição percentual dos documentos de patentes em Smart Mobility por perfil do
titular.

Fonte: Autoria própria (2020)

O desenvolvimento da tecnologia envolveu um total de 93 inventores de dife-


rentes nacionalidades ligados a universidades, empresas ou atuando como empre-
endedores. Cada inventor esteve envolvido no desenvolvimento de apenas uma
tecnologia depositada, com exceção do inventor chinês Liu Haijun, com 3 patentes
voltadas ao desenvolvimento de cadeira de rodas inteligente (patentes de nº 17, 22
e 23 do Quadro 1).

91
MAPEAMENTO DE TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS PARA O SETOR DE MOBILIDADE NAS CIDADES INTELIGENTES

Quadro 1 – Depósitos de patentes sobre Mobilidade Inteligente (Smart Mobility).

CIP
Nº Título País Data
Principal
Multi-micronano detector networking joint demonstration verifica-
1 China Dez/10 G05
tion system based on intelligent mobile robot
2 Lifting device EUA Set/11 B66
3 Neighbor list distribution for smart mobility EUA Set/11 H04
4 Smart mobility management entity for ue attached relay node EUA Set/13 H04
5 Multi-functional smart mobility aid devices and methods of use EUA Mar/14 A45
6 Android-based intelligent analyzing method for hospital moving guide China Ago/14 G06
7 Intelligent backpack capable of being ridden China Out/14 A45
8 One-card method for parking and traffic control of smart mobility China Jan/16 G06
9 Mobility mileage control system Coreia Out/16 B60
10 Base module and aviation computer system having the base module EUA Nov/16 G06
Novel intelligent dual-purpose transportation tool based on wind
11 China Mar/17 B60
power suspended propulsion and ground skating
12 Intelligent moving method and device, robot and storage medium China Mai/17 G05
Combined intelligent mobile agv based on dynamic and butting me-
13 China Mai/17 H01
thod thereof
14 Smart mobility assistance device EUA Jun/17 G01
15 Display device EUA Set/17 B60
16 Smart mobility platform Canadá Fev/18 G06
Intelligent instead-of-walking wheelchair and application method ba-
17 China Out/18 A61
sed on barrier-free map
Mobile communication terminal having top and bottom camera mo-
18 Coreia Nov/18 H04
dule
19 Smart mobility accident risk detection system Coreia Fev/19 B62
20 Management method and management system for vehicle passage China Mar/19 G08
System and method for management of goods based on policy in ac-
21 cordance with properties of objects for smart mobility and computer Coreia Mar/19 G06
program for the same
22 Smart wheelchair China Mai/19 A61
23 Intelligent wheelchair capable of replacing walking China Set/19 A61
24 Bidirectional communication mailbox system China Set/19 G07
25 Smart mobility service providing system and method thereof Coreia Dez/19 B62
26 Mobile phone signal intelligent management and control system China Mar/20 H04
Intelligent walking aid control method, device and storage medium
27 China Mai/20 A61
based on gait recognition
Fonte: Autoria própria (2020)

No Quadro 1 foram listados todos os pedidos de depósitos de patentes recu-


perados neste estudo, ordenados pela data de prioridade. O primeiro pedido, rea-
lizado em 2010, diz respeito ao uso de robôs móveis inteligentes para sistemas de
verificação. Essa patente foi concedida em 2013. O pedido mais recente foi realiza-
do pela Universidade de Wuyi (China) em 2020 e contou com a participação de 5
inventores. Trata-se de um dispositivo inteligente para auxiliar pessoas durante a
caminhada, reconhecendo e armazenando padrões do usuário que o utiliza. Ana-

92
Mariana Araujo Adelino, Wanderson de Vasconcelos Rodrigues da Silva, Renata Silva-Mann

lisando o conteúdo das demais patentes, observa-se que o foco das tecnologias
ligadas à Mobilidade Inteligente está concentrado nos métodos de processamento
de informações e na forma de comunicação entre os dispositivos. As tecnologias
mais específicas têm como objetivo garantir maior acessibilidade e mobilidade a
pessoas com deficiência.

CONCLUSÕES

Apesar da grande necessidade e importância da criação tecnologias voltadas à


mobilidade, em especial das “Smart Mobility”, existe uma pequena quantidade de
depósitos de patentes com referência a esse tema. Cabe destacar que este estudo
não teve o objetivo de mapear as patentes relacionadas à mobilidade como um
todo, mas sim focar no conceito da Mobilidade Inteligente, uma vez que essa é uma
das áreas que tem grande potencial para desenvolvimento nas Smart Cities. Ao se
comparar a quantidade de patentes recuperadas aos estudos disponíveis na litera-
tura científica, verifica-se que esse é um tema que tem sido bastante discutido na
comunidade acadêmica, porém ainda está em fase de amadurecimento no que diz
respeito ao desenvolvimento de tecnologias e, consequentemente, seus registros
foram depositados ao longo da última década.
Os dados deste estudo também demonstram certa polaridade territorial dos
depósitos, sendo concentrados na América do Norte e na Ásia, em especial na
China que detém mais da metade dos pedidos de patentes relacionadas ao conceito
de Mobilidade Inteligente. Como discutido na fundamentação deste estudo, as tec-
nologias da informação e comunicação constituem a chave para o estabelecimento
das Smart Cities e, consequentemente dos seus sistemas, como é o caso da Smart
Mobility. Assim, os tipos de tecnologias desenvolvidas nas patentes analisadas, con-
firmam esse fato por se concentrarem principalmente nas áreas de processamento
de dados e imagens, bem como na comunicação entre sistemas. Vale destacar, que
o papel social da Smart City também se constitui presente nas tecnologias pesqui-
sadas, como é caso das ferramentas para mobilidade de pessoas com deficiência.
Por fim, observa-se que as empresas são as principais interessadas no desen-
volvimento e proteção das tecnologias voltadas para Mobilidade Inteligente e, em
conjunto com inventores independentes ou empreendedores, somam em torno
de 90% dos depósitos de patentes. Esse fato, demonstra a necessidade do envol-
vimento das universidades e centros de pesquisa no desenvolvimento dessa área.
Acredita-se que, a transformação do conhecimento, que tem sido desenvolvido
nas universidades, em produtos ou serviços inovadores contribua para alavancar

93
MAPEAMENTO DE TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS PARA O SETOR DE MOBILIDADE NAS CIDADES INTELIGENTES

o progresso tecnológico na área de “Smart Mobility”, uma vez que este é um setor
que recebe uma demanda cada vez maior, caracterizando-o como uma área de
tecnologias com tendência cada vez mais competitiva.

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95
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA,
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO NA ÁREA EDUCACIONAL

Glessiane de Oliveira Almeida, Luana Brito de Oliveira

INTRODUÇÃO

A etiologia da palavra criatividade vem do latim creare, que significa criar. A gra-
fia “criatividade”, caracteriza-se como de natureza interdisciplinar do conceito, devi-
do a sua importância, valor e potencialidade. Os conceitos de originalidade, imagi-
nação e criatividade constituem o esteticismo romântico desde o século XVIII.
Torrance (1974) teve como base ideias de Guilford no século XX, um dos pri-
meiros estudiosos a depreender e observar características de indivíduos criativos,
a exemplo, flexibilidade e originalidade, e sugeriu um modelo de inteligência, no
qual a habilidade seria uma espécie de pensamento divergente. A partir desse pen-
samento, Torrance, desenvolveu testes para avaliar a criatividade e as característi-
cas do pensamento criativo (DEWES et al., 2011).
É uma habilidade de relevância social, organizacional e de instituições de en-
sino. (ALMEIDA; ALMEIDA, 2015). Segundo os Parâmetros Curriculares Nacio-
nais de Arte (BRASIL, 1997, p.41):

A imaginação criadora permite ao ser humano conceber situações, fa-


tos, idéias e sentimentos que se realizam como imagens internas [...]. É a
capacidade de formar imagens que torna possível a evolução do homem
e o desenvolvimento da criança; visualizar situações que não existem,
mas que podem vir a existir abre o acesso a possibilidades que estão
além da experiência imediata.

Com isso, destaca-se que o professor tem um papel crucial na motivação dos
discentes colaborando para o desenvolvimento das habilidades criativas que estão
intrinsicamente relacionadas com o contexto de social de cada indivíduo. A exem-
plo dessas habilidades, pode-se citar as tecnologias da comunicação e informação
voltadas à educação. Em suma, essas tecnologias (TICs) aceleraram a qualidade de
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA, TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ÁREA EDUCACIONAL

vida nos dias atuais e a sociedade passa a experienciar contato, direto e indireto, via
fibra óptica, ensino EAD, Plataforma Moblle, entre outros recursos, permitindo a
ascensão da Educação (PEREIRA; SILVA, 2010).
Pode-se perceber que a sociedade vivência a tecnologia em todos os momentos,
e a sala de aula por assumir a função de desenvolver potencialidades se afirmar
como espaço-fim para experimentar esse processo de transformação e estímulo a
criatividade e inovação. Diante desse cenário, o presente estudo objetivou prospec-
tar em bases de dados científicas sobre as TICs voltadas à área Educacional. Faz-se
necessário a reflexão sobre as atividades desenvolvidas na sala de aula com a fina-
lidade de diminuir limites e democratizar os espaços educativos e a necessidade de
proteger a propriedade intelectual das novas invenções e modelos de utilidades.

BUSCA DE PATENTES E PROGRAMAS DE COMPUTADOR DE


TIC/EDUCAÇÃO – INPI

A prospecção tecnológica acrescenta e impulsiona os sistemas de inovação


através da antecedência de auxílios que orientam os esforços empreendidos para o
desenvolvimento de tecnologias. Nesse âmbito, o estudo da prospecção tecnológi-
ca tem como finalidade utilizar informações oriundas de banco de dados e periódi-
cos, por exemplo, de patentes ou repositórios para mapear desenvolvimentos cien-
tíficos e tecnológicos. Esse instrumento tem-se apresentado como uma ferramenta
potencial na tomada de decisão e implementação de novas tecnologias em diversas
áreas do conhecimento (AMPARO; RIBEIRO;GUARIEIRO, 2012).
A atual pesquisa buscou, a partir de uma prospecção tecnológica, o levanta-
mento de pedidos de patentes e proteção de programas de computador deposi-
tados na base de dados do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
A prospecção foi realizada no dia 19/03/2018 (dezenove de março de dois mil e
dezoito) e não limitou período de tempo para os depósitos realizados, por motivo
de haver poucos depósitos encontrados.
Especificamente, na busca relacionada à programas de computador, foram en-
contrados 3 (três) depósitos utilizando a palavra-chave: Tecnologia da informação.
Entre os 3 (três), ou seja, 60% dos depósitos, 1 (um), 20%, tem como característica
para ser utilizado na área da Educação, descrito para a finalidade de desenvolver
processos: sensorial, inteligência e cognitivo. Já quando utilizada a palavra-chave:
TIC, foi encontrado 1 (um), 20%, do depósito com a finalidade de desenvolver ha-
bilidades relacionadas ao processo de ensino (jardim escolar, escola maternal, jar-
dim de infância, escola: de 1º grau, 2º grau, centro de ensino, de estudo supletivo,

98
Glessiane de Oliveira Almeida, Luana Brito de Oliveira

universidade, faculdade ou instituto superior de ensino, evasäo escolar, serviços


educacionais, equipamento escolar, método de ensino, didática: técnica de ensino,
prática de ensino; ensino integrado, processo formal de ensino, processo não for-
mal de ensino), como apresenta a Figura 1.

Figura 1- Depósitos de Programas de Computador

Fonte: INPI (2018a)

Em um segundo momento foi realizada a busca de patentes. Nessa nova busca,


nos campos relacionados a título e resumo, os resultados e as palavras-chave fo-
ram: TIC, nenhum depósito realizado; Tecnologia da informação: 207 depósitos
realizados, sendo 44 voltados a área educacional (descritos abaixo), ou seja, dos
82% de depósitos relacionados à Tecnologia da Informação, apenas 18% podem ser
utilizados na Educação, como apresenta a Figura 2. Já a busca realizada com as pa-
lavras-chave: TICs e Tecnologia da informação não foram encontrados resultados.

Figura 2- Patentes encontradas - INPI

Fonte: INPI (2018b)

99
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA, TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ÁREA EDUCACIONAL

A tabela 1, apresenta todas as buscas e depósitos encontrados no INPI de for-


ma geral, programa de computador e patentes realizados nesta base de dados. Os
depósitos abaixo relacionados, tanto de patentes, quanto de programas de compu-
tador, podem ser utilizados com o intuito de democratizar o conhecimento edu-
cacional. Esse desenvolvimento de novas Tecnologias de Informação, juntamente
com a tentativa de reaparelhar o uso do poder tecnológico, tornaram-se uma força
propulsora para disseminar e diminuir as distâncias na educação provocadas pelas
dificuldades políticas, sociais e econômicas.

Tabela 1- Depósitos encontrados- Base de dados INPI.

Palavras-chave Programas de computador Patentes


Tecnologia da Informação 3 44
Tecnologia da Informação e Comunicação 0 0
TIC 1 0
TICs 0 0
Fonte: INPI (2018b).

Abaixo serão elencados os resumos encontrados na base de dados no INPI


sobre a indicação de cada depósito de patentes para utilização na área educacional,
a saber:
1. Assistente de tecnologia de informação virtual com o propósito de geren-
ciar todo o ambiente eletrônico pessoal;
2. Proporcionar a utilização de uma solução que transforma o ponto do te-
lefone de uso público em um ponto de acesso multisserviços ao entorno,
para a realização de chamadas telefônicas e acesso à internet por dispositi-
vos móveis, ampliando o acesso.
3. Distribuição seletiva de conteúdo, p. ex. televisão interativa, VOD [vídeo
sob demanda]; / Estruturação de conteúdo; / Estruturação de conteúdo, p.
ex. decomposição de conteúdo em segmentos de tempo;
4. Método e dispositivo de gravação de vídeo, que pertencem ao campo da
tecnologia da informação.
5. Controle da comunicação; Processamento da comunicação;
6. Tecnologia da informação, insere-se nesse campo mais especificamente
nas áreas de computação gráfica e animação facial, tendo aplicação na
criação de personagens para jogos/filmes, agentes virtuais, compressão de
vídeo (em videoconferências), estudos de percepção audiovisual e como
ferramenta para o treinamento de habilidades de produção, reconheci-
mento e interpretação da fala e expressões faciais.

100
Glessiane de Oliveira Almeida, Luana Brito de Oliveira

7. Disposições para controle por programas, p. ex. unidade de controle; /


usando programa armazenado, i.e. usando a memória interna do equipa-
mento de processamento para receber e reter programas;
8. Técnicas de análise-síntese da fala ou sinal de áudio para redução de re-
dundância, p. ex. em vocoders; Codificação ou decodificação da fala ou de
sinais de áudio, usando modelos de filtro de origem ou análise psicoacústi-
ca;
9. Proteção de acesso aos dados através de uma plataforma;
10. Saída digital para dispositivo de apresentação visual;
11. Distribuição seletiva de conteúdo, p. ex. televisão interativa, VOD [vídeo
sob demanda];
12. Compilação ou interpretação de linguagens de programas de alto nível;
13. Equipamentos ou métodos de computação digital ou de processamento de
dados, especialmente adaptados para funções específicas;
14. Livro eletrônico - Equipamentos ou métodos de computação digital ou de
processamento de dados, especialmente adaptados para funções específi-
cas; / Manuseando dados de linguagem natural; / Processamento de texto;
15. Segurança de dados eletrônicos e de telecomunicação;
16. Sistemas de comutação de mensagens;
17. Dispositivos especialmente adaptados para redes de comunicação sem fio,
p. ex. terminais, estações base ou dispositivos de ponto de acesso; / Dis-
positivo terminal; / adaptado para a operação em redes múltiplas, p. ex.
terminais multimodo;
18. Investigação ou análise de materiais pelo uso de meios ópticos;
19. Sistema de gestão de fluxo e gravação de dados áudio visuais;
20. Disposições para radiodifusão ou para distribuição combinada com radi-
odifusão;
21. Dispositivo e método de processamento de sinal, e, programa;
22. Dispositivo e método de recepção e de provisão, meio de gravação, e, siste-
ma de difusão;
23. Programas contábeis;
24. Dispositivos e métodos de recepção e de provisão, programa para um
computador, e, sistema de difusão;
25. Dispositivo de processamento de sinal, método de processamento de sinal
para controlar um dispositivo de processamento de sinal, e processamento
de execução de programa em um computador;

101
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA, TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ÁREA EDUCACIONAL

26. Processo e equipamento para transmissão e recepção de informações au-


ditivas para portadores de deficiência visuais;
27. Múltiplas exibições simultâneas na mesma tela;
28. Gerenciamento de tráfego ou recurso de rede; 
29. Dispositivo de processamento de imagem;
30. Aparelho de processamento de informação, e, método de processamento
de informação;
31. Sistema integrado de comunicação, colaboração, multimídia e entreteni-
mento aplicado em redes sociais disponibilizadas na internet;
32. Comunicação de voz e imagem, bem como o de transmissão e arma-
zenamento de informação digitalizada é sustentado por uma tecnologia
exclusiva de criação de caminhos virtuais dinâmicos dentro de qualquer
rede de comunicação de dados, destinados a garantir o sigilo e segurança
necessária a informação em trânsito;
33. Sistema e processo para aplicação e correção de prova por meio eletrônico;
34. Comunicação táctil para todo público: sistema braille usando verniz relevo
acrílico de secagem ultravioleta (uv), impresso junto com texto e imagens
em tinta; ausência de micro-furos denominada: i-br/vza-uvxmf;
35. Disco compacto educativo com sistema de código de acesso para educação
pedagógica a distância via internet;
36. Interconexão ou transferência de informações ou outros sinais entre memórias,
dispositivos de entrada/saída ou unidades centrais de processamento;
37. Redes caracterizadas pela função de comutação; / caracterizado pela config-
uração da via, p. Ex. Lan [redes de área local] ou wan [redes de área larga];
38. Equipamentos ou métodos de computação digital ou de processamento de
dados, especialmente adaptados para funções específicas;
39. Método de construção de sistemas de informação para web;
40. Equipamento servidor de transferência de e-mail e sistema de transferên-
cia de e-mail.
41. Cabines multiculturais” servem ao público de maneira totalmente intera-
tiva e inovadora. Colocando à disposição do usuário todas as informações
sobre arte/cultura diante deste;
42. Equipamento e método para determinação da posição de um dispositivo
sem fio com habilidades bluetooth;
43. Amplificador digital;
44. Álbum de figurinhas digital”. O álbum a que se refere esta patente representa
uma conjunção de um dos mais fascinantes meios de informação (INPI, 2018).

102
Glessiane de Oliveira Almeida, Luana Brito de Oliveira

BUSCA DE PUBLICAÇÕES EM BASES DE DADOS DE PERIÓDICOS SO-


BRE TIC/EDUCAÇÃO

Para realizar uma comparação com os depósitos do INPI, foi realizada a busca
em bases de dados de periódicos como: Scielo, Portal de Periódico Capes, Google
acadêmico e Science Direct, com a finalidade de visualizar se a quantidade de de-
pósito é semelhante à quantidade de publicação. A mesma prospecção foi realizada
no dia 19/03/2018 (dezenove de março de dois mil e dezoito) para não ter o viés de
data de busca atrapalhando a correlação dos dados e não se limitou período de tempo
para as publicações para não prejudicar a relação com os depósitos realizados no INPI.
A busca foi efetuada com a inserção das palavras-chaves no campo de busca simples
e avançada. Ao final, realizou-se um total de 11 combinações entre as palavras-chave,
sendo que para as combinações avançadas foi usado o operador and e or.

Tabela 2- Busca de Publicações – Bases de Periódicos

Palavras-chave Scielo Portal da Google Science


Capes acadêmico Direct
Tecnologia da informação 1.163 8.954 1.060.000 2.010
Tecnologia da informação e comunicação 356 4.254 765.000 1.194
Tecnologia da informação e comunicação and Educação 116 1.526 518.000 448
Tecnologia da informação e comunicação or Educação 29.352 453 524.000 448
TIC 1.214 426.114 4.060.000 476. 272
TIC and Educação 468 922 2.080.000 93
Information Technology 3.935 6.225.933 5.920.000 1.557.285

Information and Communication Technology and Edu- 329 319.762 4.070.000 119.090
cation
Information and Communication Technology or Edu- 3.731 322. 863 4.130.000 119.090
cation
TIC and Education 468 68.608 2.080.000 48.123
TIC or Education 46.808 7.443.504 2.090.000 1.632.485
Fonte: SCIELO (2018); PORTAL DA CAPES (2018); GOOGLE ACADÊMICO (2018); SCIENCE DIRECT (2018).

Pode-se observar que em todas as bases de periódicos consultadas, a associa-


ção entre a palavras pesquisadas TIC e Tecnologia da Informação foram as que
apresentaram maiores resultados, no entanto, quando relacionado o termo educa-
ção com essas palavras, percebe-se que esse índice diminui. A partir desses dados,
nota-se que os maiores indicadores estão em torno da associação das Tecnologias
da informação e comunicação, de forma geral, ou seja, sem delimitar uma área
específica.

103
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA, TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ÁREA EDUCACIONAL

Nota-se que apesar de ser um tema de atenção mundial por conta do cresci-
mento e desenvolvimento tecnológico aliado à temática, ainda há poucos registros
referentes a depósitos de patentes e programas de computador correlacionados es-
pecificamente à educação, assim como as publicações em periódicos.
Dessa forma, sugere-se para pesquisas futuras, compreender a relação de existir
poucos depósitos que resguardem a área da educação, já que é uma área na qual
se apontam índices medianos de uso de tecnologias da informação, como apre-
sentado na busca em periódicos. Para visualizar melhor as informações descritas
na tabela 2, seguem as figuras 3, 4, 5, 6 e 7 relacionadas às prospecções nas bases
de dados de periódicos separadamente e suas respectivas quantidades de artigos
encontrados.

Figura 3- Base de dados – Scielo

Fonte: SCIELO (2018)

Na base de dados da Scielo, uma das mais utilizadas e que abrange não só pu-
blicações nacionais, mas também internacionais, apresentou como mostra a figura
3, o maior índice de publicações referentes à palavra-chave, TIC, com 1.214 pu-
blicações. Pode-se averiguar que as pesquisas encontradas correspondem a todos
os trabalhos publicados independente da sua relação com a palavra educação, ou
seja, percebe-se que falta maiores discussões fazendo essa correlação Tecnologias
e campo da Educação.
A partir desse resultado pode-se inferir o seguinte questionamento: O que tem
sido desenvolvido em tecnologia para a melhoria educacional pela população acadê-
mica brasileira? É uma pergunta interessante e que serve de base para novos estudos
a fim de direcionar o olhar para estratégias que auxiliem de forma direta a educação
no Brasil. Tecnologias educacionais são ferramentas que servem como âncora em
criações instantâneas que visam a transformação da realidade do campo educacional.

104
Glessiane de Oliveira Almeida, Luana Brito de Oliveira

Figura 4- Base de dados – Portal Periódico Capes

Fonte: PORTAL DA CAPES (2018)

A base de dados do Portal da Capes é uma base de dados abrangente que com-
porta um número significativo de periódicos. Pode-se observar com a figura 4, que
mesmo com essa abrangência nacional e internacional que a base configura, hou-
veram índices baixos de publicações se comparada a relevância da base. Os maio-
res índices de publicações referem-se as palavras-chave, Information Technology
com 6.225.933 publicações e TIC or Education com 7.443.504 artigos que corres-
ponde aos trabalhos com e sem delimitação voltados a educação. Para que novas
pesquisas sejam lançadas com o intuito de desmistificar e abranger as publicações
voltadas a educação se faz necessário investimentos e mudança de base curricular
para a formação dos profissionais do campo da educação, incentivando o interesse
em inovar e buscar novas formas de utilizar as tecnologias a seu favor no processo
de ensino-aprendizagem.
Interessante notar que na base de dados do Google Acadêmico, como apresenta
a figura 5, houve um maior número de publicações registradas. Pode-se inferir que
a base do Google acadêmico reuni boa parte dos periódicos apresentados nesta
pesquisa, fazendo uma junção de todos os artigos publicados em outras bases não
citadas na atual pesquisa, assim como repositórios de TCC, monografias, disser-
tações e teses. No entanto, observando os resultados alcançados percebe-se que
o índice mais alto de publicações refere-se a busca realizada pela palavra-chave:
Information Technology com 5.920.000 publicações, um número bem expressivo se
comparado as publicações das bases Portal da Capes e Scielo.

105
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA, TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ÁREA EDUCACIONAL

Figura 5- Base de dados – Google Acadêmico

Fonte: GOOGLE ACADÊMICO (2018)

Figura 6- Base de dados – Science Direct

Fonte: SCIENCE DIRECT (2018).

A base de dados da Science Direct é predominantemente responsável pela


maior parte das publicações internacionais. Como apresenta a figura 6, os maiores
índices de publicações são bem parecidos com a base de dados do Portal Periódico
Capes. Essa semelhança pode relacionar-se ao fato de que o Portal comporta a
base Science Direct em sua plataforma. Os índices mais altos encontrados na busca
pela Science referem-se às palavras-chave, Information Technology com 1.557.285
publicações e TIC or Education com 1.632.485 artigos publicados, que correspon-
dem aos trabalhos sem e com delimitação à educação, assim como o resultado do
Periódico Capes.

106
Glessiane de Oliveira Almeida, Luana Brito de Oliveira

CONCLUSÃO

As Tecnologias de informação e comunicação vão além de rede mundial de


computadores ou, apenas, como um local de busca de dados ou informações. Elas
têm o poder de transformar vidas e alavancar pensamentos críticos, direcionar o
indivíduo a um futuro com mais perspectivas de aperfeiçoamento, desenvolvimen-
to social, cultural e econômico, atendendo assim a todas as classes sociais, e áreas
do conhecimento, principalmente, a educação que tem como finalidade a forma-
ção, que é o aprender e o ensinar.
É fato que o auxílio dos recursos tecnológicos é imprescindível, dessa forma,
acompanhar as transformações e as novas necessidades da globalização reporta a
sociedade ao caminho de inovações no processo de ensino–aprendizagem e, em
se tratando de ensino, trazem um maior aporte para que o educador trabalhe as
necessidades individuais de forma criativa e inovadora. Entretanto, a dificuldade
ainda está no modo como os educadores são formados, ou seja, a falta de conheci-
mento em outras áreas, como por exemplo, a Propriedade Intelectual, Empreende-
dorismo, Transferência de Tecnologia e Negociação, Criatividade.
A Propriedade Intelectual objetiva orientar e garantir que todas as inovações
sejam resguardadas pelo Direito e deter ao titular da invenção o poder de acesso e
ampliação do meio de propagação de informação, fornecendo os meios eficientes
para ajudar o processo de ensino-aprendizagem de forma significativa.
Portanto, torna-se necessário a massificação do conhecimento sobre os direitos
garantidos que os educadores têm sobre suas criações, maior incentivo para criar
oportunidades que modifiquem a realidade dos seus alunos e mudança no currícu-
lo para formação dos educadores. A multidisciplinaridade não se faz apenas com
disciplinas que parecem ser pertinentes ao campo da educação, mas com cons-
tructos que capacitem o educador para conhecimentos completamente distantes
de sua realidade, como as já citadas, que trabalhem a relevância na valorização das
inovações, apontem sobre vantagens competitivas, proteção contra a concorrência
desleal e todas as informações necessárias para tirar o educador do patamar de
mero professor reprodutor de conhecimentos, com criatividade e sem domínio
sobre elas.

107
PROSPECÇÃO TECNOLÓGICA, TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ÁREA EDUCACIONAL

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ferramenta de busca científica. Perspectivas em Ciência da Informação, v.17, n.4, 2012.

BRASIL. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares


Nacionais: arte. Vol. 6. (org.). (1ª a 4ª série). Brasília: MEC/SEF, 1997.

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TORRANCE, E. Paul.; TORRANCE, J. Paul. Pode-se ensinar criatividade. São Paulo: EPV,
1974.

108
ANÁLISE PATENTOMÉTRICA DA INOVAÇÃO
E TECNOLOGIA NAS EMPRESAS DE BASE
TECNOLÓGICA DE PEQUENO PORTE,
ATRAVÉS DA BASE WIPO

Silvia Manoela Santos de Jesus, Antonio Martins de Oliveira Junior

INTRODUÇÃO

A discussão sobre inovação vem adquirindo destaque na área acadêmica e no


ambiente organizacional. De acordo com Carayannis e Coleman (2005), a inova-
ção contribui para o crescimento econômico-social, competitividade de mercado e
diferenciação competitiva, enquanto Marinova e Phillimore (2003) definiram ino-
vação como a implantação de novas ideias e práticas em um dado contexto social,
incluindo negócios e relações com o mercado. A Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2005), a definiu como qualquer esforço
empreendido com propósito de melhorar o acervo tecnológico ou promover a in-
trodução de novos bens, serviços, processos ou novidades em marketing. Silva et
al. (2013) revelaram que, em decorrência das mudanças tecnológicas, as empresas
estão mais conscientes da importância da inovação e estão investindo mais em
melhorias de processos e produtos. Tidd, Bessant e Pavitt (2005) afirmaram, no en-
tanto, que o sucesso na inovação requer um processo organizacional estruturado,
sólido e em condição para criar com eficiência produtos competitivos.
O marco da inovação no Brasil é descrito pela lei de nº 10.974, publicado em 2 de de-
zembro de 2004 e atualizado pela lei nº 13.243, publicado em 11 de janeiro de 2016 e tem
por finalidade dispor sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica
no ambiente produtivo, com vistas à capacitação tecnológica, ao alcance da autonomia
tecnológica e ao desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional do País.
Porém, em meio a discussões e conceitos para entender como a inovação e tec-
nologia aparecem nas empresas de base tecnológica (EBT), o problema de pesquisa
que surge para ser estudado neste artigo é: como as empresas de base tecnológica
de pequeno porte podem praticar a inovação e tecnologia em seus processos?
As empresas de base tecnológica são consideradas as propulsoras para o pro-
cesso de transferência de tecnologia, por isso, este estudo torna-se relevante na
ANÁLISE PATENTOMÉTRICA DA INOVAÇÃO E TECNOLOGIA NAS EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA ...

medida em que oportuniza a percepção de lacunas que poderiam ser preenchi-


das no sentido de otimizar o processo de pesquisa e desenvolvimento, que trazem
como consequência um direcionamento mais apropriado quanto à identificação
de inovação, seus aspectos característicos, seus enfoques principais e tendências.
Assim, o objetivo deste trabalho foi de analisar, por meio de patentometria,
empresas de base tecnológica de pequeno porte, que detém patentes com inovação
e tecnologia em seus processos.
O presente artigo foi realizado a partir de uma pesquisa descritiva e bibliográ-
fica, para reunir as informações e dados que serviram de base para a construção da
investigação proposta a partir do tema, ocorrendo análise de registros em docu-
mentos de pesquisas realizadas anteriormente (GIL, 2008). O caráter da pesquisa
é eminentemente exploratório, pois consistiu na realização de um estudo para a
familiarização do pesquisador com o objeto que está sendo investigado, enquanto
a natureza da pesquisa é do tipo aplicada, pois investigou-se um problema que se
refere à aplicação de um conhecimento científico pré-existente (SEVERINO, 2008;
MARCONI; LAKATOS, 2010).
Em relação aos procedimentos adotados, primeiro buscou-se identificar, atra-
vés do levantamento bibliográfico, quais são os conceitos que dão embasamento
teórico a definição de empresa de base tecnológica, bem como a identificação de
artigos que tratam diretamente desta identificação e que direcionam a tecnologia e
inovação para as práticas nos processos das EBT. Em um segundo momento, foram
analisadas as respectivas EBT que praticam a inovação, de acordo com o marco da
inovação, dentro da base de dados WIPO.
Assim, trata-se de uma pesquisa descritiva de cunho exploratório, com uma
abordagem qualitativa e quantitativa (DALFOVO; LANA; SILVEIRA, 2008), uti-
lizando o método da patentometria para mapear o perfil da inovação tecnológica
das pequenas indústrias de base tecnológica do ramo de alimentos, através das
publicações que estivessem relacionadas as palavras-chave: empresa de base tec-
nológica, pequenas indústrias, tecnologia e alimentos, sendo estas justificadas pela
relevância na problematização da pesquisa e que associadas a operadores boleanos
pôde-se construir uma string para a busca na base da WIPO.
A patentometria se refere a indicadores patentários com vistas a identificar ati-
vidades de inovação e tecnologias nos países, através das informações tecnológicas
contidas nos documentos de patentes. Possibilita conhecer a atividade tecnológica,
refletir as tendências de mudanças técnicas ao longo do tempo e avaliar os resulta-
dos dos recursos investidos em atividades de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento),
determinando ainda o grau aproximado da inovação tecnológica de uma deter-

110
Silvia Manoela Santos de Jesus, Antonio Martins de Oliveira Junior

minada região, área ou instituição. Além disso, entre outros estudos métricos de
informação, a patentometria é a mais próxima em vincular a academia com em-
presas, indústrias e demais setores privados (GUZMÁN, 1999; PEREIRA, 2008).
Portanto, para cumprir o objetivo deste estudo, foi realizada uma busca de in-
formações utilizando-se da patentometria, considerando as recomendações para a
formação de string, conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 01 – Palavras-chave utilizadas para a busca dos pedidos de patentes na WIPO

Palavras chave Tradução Resultado WIPO


empresa de base tecnológica technology based company 12.257
pequenas indústrias small industries 10.727
Tecnologia technology 4.464.233
Fonte: Pesquisa de dados na base WIPO, 2020


Dos pedidos de patentes, pode-se identificar que as relacionadas à tecnologia
são as que mais possuem pedidos com 4.464.233 pedidos, seguidos da empresa de
base tecnológica com 12.257.
Na construção da string foram utilizadas somente as palavras-chave em inglês:
pequenas indústrias, tecnologia e alimentos, pois assim, foram suficientes na inter-
pretação de informações consistentes para análise e alcance do objetivo do artigo.
Foi considerado pelos autores também que, tecnologia e inovação estão associadas
à “Technology based company” e, assim, apenas foram utilizadas para a busca as
palavras-chave citadas anteriormente.

Figura 01 – String utilizada para a busca na base da WIPO

Fonte: Autoria própria, 2020

111
ANÁLISE PATENTOMÉTRICA DA INOVAÇÃO E TECNOLOGIA NAS EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA ...

O segmento de alimentos foi pesquisado de forma aleatória, mas com a inten-


ção de perceber se, com o crescimento populacional, as empresas que dominam a
parte de necessidades básicas, tem se preocupado em praticar inovação e tecnolo-
gia em seus processos para garantir a satisfação de mercado.
Após o levantamento dos dados, foram analisados todos os pedidos encon-
trados dentro do período estabelecido (2011 a 2020), porém, como o ano de 2020
ainda está em curso, foi definida a análise até 2019. As dimensões definidas para
análise foram identificadas conforme Quadro 01 e foram tabulados em planilhas
do Microsoft Excel 2010, para posterior construção de gráficos.

INOVAÇÃO E TECNOLOGIA NAS EMPRESAS DE BASE TECNOLÓ-


GICA DE PEQUENO PORTE (EBTPP)

A capacidade de inovar das empresas, dada pelas práticas e atitudes, pela capa-
cidade de aprender, de se adaptar, pelo aperfeiçoamento das habilidades estratégi-
cas e competências organizacionais, se torna fator-chave na relação com o ambien-
te de mercado (SILVA e DACORSO, 2013).
No Brasil em 2004 foi concebida a Lei de Inovação Tecnológica (Lei n. 10.973
de 2004), essa Lei institui normas que incentivam à inovação, bem como à pesquisa
científica e tecnológica no espaço produtivo, com vistas a autonomia tecnológica e
ao desenvolvimento do complexo produtivo nacional (BRASIL, 2004).
Desse modo, Ribeiro (2019) relata que a lei da inovação foi instituída para
atenuar as várias burocracias contratuais que não favorecem a transferência do
fluxo de conhecimento. Com isso, com o passar do tempo, houve a necessidade
de avaliações, pois devido as dificuldades, complexidades e limitações entre as ins-
tituições públicas e privadas a lei não alcançou os resultados recomendados. Neste
contexto, surge o Novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T& I)
instituído pela Lei n.13.243 de 2016 e que foi regulamentada, em 2018, pelo De-
creto nº. 9.283, tendo como finalidade a desburocratização das parcerias públi-
co-privadas para incentivar o desenvolvimento tecnológico e científico do Brasil
(BRASIL, 2016, 2018).
O Novo Marco Legal da C,T&I instituiu-se a partir de discussões no âmbito do
Sistema Nacional de Inovação (SNI), que contribuíram para o reconhecimento e
modificações de alguns elementos na Lei de inovação, a fim de reduzir barreiras
legais e burocracias conferindo maior flexibilidade às organizações que atuam no
sistema de inovação (RAUEN, 2016). O Decreto n. 9283/2018 incentiva a implan-
tação de ambientes específicos e cooperativos direcionado à inovação e tem como

112
Silvia Manoela Santos de Jesus, Antonio Martins de Oliveira Junior

temáticas: as alianças estratégicas e projetos de cooperação em ações de P&D; au-


torização para a ICT possuir participação minoritária do capital social de empresas
e dos fundos de investimentos; e promoção de ambientes de inovação (PIRES et
al., 2020).
As empresas de base tecnológica – EBT – constituem para o desenvolvimento
do país, pois nelas nascem novas tecnologias, produtos e/ou serviços intensivos
em conhecimentos, inovações e podem ser consideradas como propulsoras da
pesquisa e desenvolvimento, chamando a atenção da academia para investigações
científicas de várias áreas do conhecimento (VARGAS et al., 2016; OSUNA e PÉ-
REZ, 2016). Sua importância, como espaço de atuação profissional, é reconhecida
por cientistas há muito tempo e, talvez por isso, os estudiosos foram os primeiros
que se debruçaram sobre as especificidades de tais empresas (WILLERDING et al.,
2016), onde a capacidade de inovar desempenha papel essencial (TELLO e VE-
LASCO, 2016).
Empresas de base tecnológica são organizações que investem em inovação tec-
nológica e que adotam tecnologias no desenvolvimento de novos bens,
serviços e processos (SARQUIS et al., 2017). Alguns estudos têm apontado diver-
sos fatores que influenciam o desempenho do processo de inovação nas empresas
de base tecnológica. Alguns desses fatores podem causar dificuldades (influência
negativa) e outros facilidades (influência positiva) no processo de inovação das
organizações, com impacto no desempenho de pessoas, atividades e resultados das
inovações (SARQUIS et al., 2017). Esses fatores podem também ter influência
direta (imediata) ou indireta (no médio/longo prazo ou por intermédio de outros
fatores) no desempenho das inovações (PACAGNELLA JR; PORTO, 2012). A em-
presa de base tecnológica precisa identificá-los e desenvolver ações para atenuar ou
otimizar os seus efeitos sobre o processo de inovação.
Segundo De Bes e Kotler (2011), na maioria das empresas de base tecnológica
(EBT) o processo de inovação é pouco estruturado, informal, desordenado ou não
sistematizado, e que isto tende a afetar o desempenho das inovações. O estudo de
Gonzalez, Girardi e Segatto (2009), no ramo automação industrial, identificou a
existência de quatro principais dificuldades do processo de inovação na empresa
de base tecnológica: recursos financeiros, formação administrativa dos gestores,
estratégia de mercado e pessoal especializado.
As pequenas empresas compreendem a maioria dos estabelecimentos indus-
triais, comerciais e de serviços. Existem, no Brasil, cerca de 6 milhões de empresas,
das quais 99% são micro e pequenas. As micro e pequenas empresas são responsá-
veis por 60% das pessoas ocupadas no setor privado formal e informal (incluem-

113
ANÁLISE PATENTOMÉTRICA DA INOVAÇÃO E TECNOLOGIA NAS EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA ...

-se, neste cálculo, os empregados, os empresários e os indivíduos que possuem


seu próprio negócio, mas não têm empregados). Acrescente-se que, as micro e as
pequenas empresas representam 20% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e
36% das compras públicas (PORTAL BRASIL, 2013). A relevância desse segmento
de empresas advém não apenas do número de estabelecimentos e de sua abrangên-
cia, pois oferece outras contribuições, como: absorve mão-de-obra, gerando emprego e
renda; desenvolve tecnologia e inovações que atendem a mercados específicos; facilita
a dispersão da atividade manufatureira; diminui os desequilíbrios regionais, desempe-
nhando importante papel na interiorização do desenvolvimento; estimula a competi-
ção e contribui para a pulverização do mercado (DE OLIVEIRA et al., 2016).
Outra característica importante é que as EBT têm a inovação como premissa de
conceituação e condição de crescimento, desenvolvimento e mesmo sobrevivên-
cia, ao passo que inovar implica desenvolver atividades de modo diferente daquele
utilizado em uma organização, tomar iniciativas para a melhoria de produtos, pro-
cessos ou procedimentos, aumentando o seu valor e desempenho (DE OLIVEIRA
et al., 2016).
A inovação tecnológica, conhecida atualmente como inovação baseada em tec-
nologia, traz avanço tecnológico e utiliza conhecimento tecnológico (DEMARCHI
et al., 2016). Deve ser resultado de um ambiente que produz tecnologia de ponta e,
apesar de as universidades públicas brasileiras, serem centros de excelência cientí-
fica, é possível constatar que as pesquisas da academia não têm a devida influência
no setor produtivo. Essa baixa incorporação de novas tecnologias torna os servi-
ços e produtos produzidos no país pouco competitivos tanto no mercado interno
como no externo (BERNI et al., 2015).
Assim, as empresas de base tecnológica de Pequeno Porte (EBTPP) somam,
em sua gestão, problemas e características particulares. Porque atuam em ramos
bastante específicos, utilizando tecnologias próprias e ainda não padronizadas,
apresentam uma grande variedade de alternativas de projeto e produto (SEBRAE,
2001) que precisa ser considerada. Apesar do interesse dos pesquisadores por estas
organizações, tem-se pouco conhecimento acumulado sobre suas características,
especialmente de gestão e de suas práticas de inovação. Acrescente-se ainda que as
EBTPP têm dificuldades para obter recursos financeiros e mostram-se deficientes
na capacitação gerencial dos empreendedores, problemas que se reforçam mutua-
mente como obstáculos à sua consolidação.
A maior variedade de alimentos produzidos pela grande indústria e distribuí-
dos a preços acessíveis pelo grande varejo impõem tendências de individualização
e informalização do consumo alimentar, resultantes da desintegração de valores

114
Silvia Manoela Santos de Jesus, Antonio Martins de Oliveira Junior

tradicionais, laços familiares e comunitários e baixa regulação social e normati-


va. Neste contexto de incerteza e desconfiança, a escolha dos alimentos é fonte de
angústia e obsessão, suspeição e ansiedade. Por isso, há a expectativa de consumir
alimentos que tragam inovações no sentido de variações e diversificações, que não
comprometam a saúde das pessoas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Diante dos dados obtidos na base WIPO, através da string mencionada no Qua-
dro 01 e Figura 01, umas das palavras-chave foi alimentos, devido a percepção
do crescimento populacional e que, neste sentido, as pesquisas indicaram que as
necessidades humanas estão sendo consideradas para produzir inovação e tecno-
logia. O Código CIP (Classificação Internacional de Patentes) apresenta categorias
que vão desde Necessidades Humanas (A) até a Eletricidade (H). A categorização
do CIP serve para facilitar a busca de patentes nas diferentes áreas tecnológicas
existentes, através do uso de um sistema hierárquico de símbolos.
Ao se utilizar a CIP, é necessário saber que a matéria técnica de uma invenção
não tem limites estabelecidos e que um invento pode receber mais de uma clas-
sificação ou tantas quantas forem necessárias. Não havendo local específico para
tal invento previsto na CIP, é utilizado o que for mais apropriado. Dessa maneira,
consegue-se chegar ao conteúdo técnico de uma patente (INPI, 2020). O segmento
de alimentos tem sido representativo, conforme demonstrado na Figura 02.

Figura 02 – Código CIP de depósito de patentes

Fonte: Pesquisa de dados na base WIPO, 2020

Para um maior esclarecimento quanto à Figura 02, o Quadro 02 apresenta, de-


talhadamente, o que representa cada código citado.

115
ANÁLISE PATENTOMÉTRICA DA INOVAÇÃO E TECNOLOGIA NAS EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA ...

Quadro 02 – Código CIP das patentes pesquisadas

A23L Alimentos, produtos alimentícios ou bebidas não alcoólicas


A61K Preparações para fins médicos, dentários ou de toalete
Processos de fermentação ou utilização de enzimas ou para separar isômeros ópticos de
C12P
uma mistura racêmica
A61P Atividade terapêutica específica de compostos químicos ou preparações medicinais
A23C Alimentos
C12N Microorganismos ou enzimas
Máquinas, aparelhos ou dispositivos para, ou métodos de, artigos ou materiais de embala-
B65B
gem; desembalagem
C12R Esquema de indexação associado às subclasses C12C - C12Q, relacionada a microrganismos
B65D Recipientes para armazenamento ou transporte de artigos ou materiais
Fonte: Pesquisa de dados na base WIPO, 2020

Ainda sobre o segmento de alimentos, foi identificado que o país que mais pu-
blicou patentes nesta área foi a China. O país mais populoso do mundo, mantém
a visão de inovar em todos os seus processos. A parte tecnológica do país também
é uma aliada para o desenvolvimento de diferenciais. O aumento na demanda por
alimentação, bem como a mudança em determinadas composições de alimentos,
resultou no maior consumo de produtos agrícolas. Um dos fatores que determi-
nam a escolha de alimentos para consumo, estão associados às particularidades
econômicas e socioculturais dos países (SANTOS et al, 2012).
A representação da China foi superior a países como Japão, Estados Unidos e
Índia, conforme sinalizado na Figura 03.

Figura 03 – Países que mais publicaram patentes de alimentos

Fonte: Pesquisa de dados na base WIPO, 2020

Apesar da lógica e das práticas comuns ao agronegócio de qualquer lugar, a


propriedade e as operações na indústria de carne chinesa são essencialmente do-
mésticas, com base no modelo de “empresas cabeça de dragão (DHEs na sigla em

116
Silvia Manoela Santos de Jesus, Antonio Martins de Oliveira Junior

inglês)” e de contratos “empresa e agricultor”. Empresas como a Yurun, Shineway,


Jinluo, Shunxin Agro, Gaojin, Zhongpin e Delisi estão entre as maiores e mais in-
tegradas DHES (ESCHER, 2016).
A China tem uma das maiores – senão a maior – indústrias de ingredientes
funcionais e de bioativos para as indústrias farmacêutica, alimentícia e de cosmé-
ticos. As indústrias chinesas ocupam, aliás, grande parte das feiras de ingredientes
para a saúde. Um dos mercados emergentes com rápido crescimento na China é o
mercado de sucos (AGRICULTURE AND AGRI-FOOD CANADA, 2014). Como
não faz parte da tradição alimentar chinesa, esse mercado ficou restrito àquelas
pessoas que adotam novos hábitos alimentares, que estão abertas à experimen-
tação de produtos novos. Nesse cenário, as polpas de frutas tropicais podem vir
a ser apreciadas nos sucos blends, abrindo, assim, oportunidades para as polpas
de frutas tropicais do Brasil, em especial para aquelas frutas com agroindústrias
consolidadas, como guaraná, caju e açaí (MONTE et al., 2017).
Na vertente de que a China tenha a maior representatividade diante das pa-
tentes de alimentos, foi levantado como esse estudo tem sido orientado, de acordo
com a base científica. Assim, a Figura 04 apresenta as instituições que contribuem
para a concretização dos dados.

Figura 04 – Instituições chinesas que mais produziram patentes de alimentos

Fonte: Pesquisa de dados na base WIPO, 2020

De fato, os dados comprovam que no período em que se consolidou o uso de


sementes para soja, milho e algodão, a aplicação de agrotóxicos (sobretudo glifosato)
cresceu ainda mais, devido ao aumento da resistência às pragas e doenças, gerando
dependência dos agricultores em relação ao fornecimento de sementes e pacotes tec-
nológicos dominados pelas corporações transnacionais através dos sistemas de pa-
tentes e propriedade intelectual, e estimulando as monoculturas e a concentração da
terra e a perda da biodiversidade e de conhecimentos tradicionais (ESCHER, 2016).

117
ANÁLISE PATENTOMÉTRICA DA INOVAÇÃO E TECNOLOGIA NAS EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA ...

Além disso, o governo chinês preza pela consolidação e no aperfeiçoamento


de um seleto número de universidades que serão as escolas de ponta da China e,
ano após ano, milhares de jovens chineses vão estudar no exterior, com o apoio do
Estado que concede bolsas de estudo, nas melhores escolas da Europa e dos EUA.
Ao retornarem, trazem consigo um conhecimento que será a base para o avanço
tecnológico da China e, por conseguinte, da continuidade do crescimento econô-
mico de seu país (VILLELA, 2004).
A partir dessas instituições, foi levantada uma quantidade pouco representa-
tiva de publicações científicas de 2011 a 2019, mesmo fazendo uma busca até o
presente momento (outubro/2020), onde apenas 1 (uma) publicação foi efetivada.
Esta pouca participação científica em publicações levou à curiosidade em buscar as
inovações sobre a área de alimentos.
Destes, apenas 1 (um) deles tratou da temática deste artigo. Os demais, trazem
uma discussão sobre a parte de economia ou da produção / agricultura de alimen-
tos. O crescimento econômico chinês provocou nas últimas décadas importantes
mudanças na estrutura mundial da demanda por alimentos. Assim, chegou-se ao
seguinte resultado (Figura 05).

Figura 05 – Quantidade de publicações científicas por ano

Fonte: Pesquisa de dados na base WIPO, 2020

A produção de tecnologia é um ponto-chave para o crescimento econômico e


para a superação do atraso dos países em desenvolvimento. A tecnologia dá a opor-
tunidade a estes países de agregarem valor à sua produção. Cabe lembrar que o sub-
desenvolvimento se caracteriza, dentre outros fatores, pela dependência tecnológica.
A China adotou uma estratégia para o seu desenvolvimento tecnológico que se
divide em duas frentes: investir pesadamente em ciência e tecnologia, e transferên-
cia de tecnologia via joint ventures. Investir em ciência e tecnologia significa des-

118
Silvia Manoela Santos de Jesus, Antonio Martins de Oliveira Junior

tinar recursos para melhorar a educação. O governo chinês destina investimentos


para centro e institutos de pesquisa para desenvolvimento tecnológico que, em sua
maioria, estão voltados para as operações do mercado: o conhecimento que pro-
duzem é absorvido pelas empresas que concebem um novo bem ou aperfeiçoam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O levantamento proposto neste artigo atingiu ao objetivo, visto que, foi identi-
ficado que o segmento alimentício vem ganhando representatividade, por se tratar
de necessidade básica na vida dos seres humanos.
A partir dos anos 1960, a alimentação começou a se tornar uma categoria im-
portante. De fato, foi apenas a partir do final do século XX e início do século XXI
que se iniciou uma movimentação intelectual nas ciências no âmbito dos estudos
sobre temas relacionados à alimentação. Ao tratarem de questões comuns a partir
de um diálogo interdisciplinar, diversas abordagens teórico-metodológicas, com
diferentes níveis e intensidades de pesquisa, parecem convergir na direção de uma
temática voltada para inovação e tecnologia.
Depois da crise financeira de 2008, fatos recentes da economia política inter-
nacional parecem revelar a possibilidade de uma nova ordem mundial, em que al-
guns países – em especial os pertencentes aos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China,
África do Sul) – vão gradualmente deixando para trás a sua condição periférica e
começam a jogar um papel relevante na dinâmica do capitalismo globalizado. A
ascensão da China ao status de grande potência traz enormes impactos e reper-
cussões ainda desconhecidas sobre a ordem econômica e política contemporânea.
Este artigo apresentou que a China é o país que mais tem patentes em inovação
na área de alimentos e que, também mantém a maior representação nas publica-
ções científicas sobre o tema. A crescente industrialização acelerou o processo de
êxodo rural para as cidades, favorecendo a adoção de padrões de consumo baseado
em alimentos de rápido preparo, ou seja, exigindo uma questão inovadora para
esses processos.
Assim, as empresas de tecnologia precisam se modernizar, mesmo que, paulati-
namente, pela constante difusão de novas tecnologias, do trabalho de incubadoras
de empresas e de outras formas que permitam a transformação tecnológica a mé-
dio e longo prazos.
Desse modo, ampliou a motivação da pesquisa para buscar maiores informações
acerca dos indicadores de inovação que sejam adaptados para empresas de pequeno
porte que possam aumentar sua participação dentro de um mercado competitivo.

119
ANÁLISE PATENTOMÉTRICA DA INOVAÇÃO E TECNOLOGIA NAS EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA ...

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122
INDICADORES DE INOVAÇÃO DE
PROBIÓTICOS FUNCIONAIS DAS INDÚSTRIAS
DE ALIMENTOS DO BRASIL

Flávia Luiza Araújo Tavares da Silva, Taís Letícia Oliveira dos Santos, Bruno
Ramos Eloy, Patricia Beltrão Lessa Constant, João Antonio Belmino dos Santos

INTRODUÇÃO

O setor de alimentos vem, ao longo dos últimos anos, despertando a atenção de


governos, indústrias, economistas e, principalmente, consumidores, sobre o papel
que os alimentos devem representar para a saúde da população. Com o aumento
da expectativa de vida dos brasileiros e ao mesmo tempo o crescente aparecimento
de doenças crônicas como obesidade, hipertensão, osteoporose, diabetes e câncer,
é crescente a preocupação com uma alimentação saudável, em função do conceito
de que alimentação saudável pode prevenir a ocorrência de doenças. Mundialmen-
te, nota-se a inquietação de governos com a relação alimentação - nutrição-saúde,
principalmente no estabelecimento de programas e projetos de longo prazo para
modificar hábitos alimentares e sensibilizar setores industriais de alimentos para o
lançamento de produtos industrializados diferenciados (ABIA, 2005).
Para Roberfroid (2002), a fim de maximizar as funções fisiológicas dos indiví-
duos, e minimizar o risco de desenvolvimento de doenças, de modo que assegure
tanto o bem-estar quanto a saúde, a otimização da nutrição se mostra como um
novo conceito, englobando nesse contexto os alimentos funcionais e especialmente
os probióticos e prebióticos.
Os novos hábitos alimentares, suas necessidades e atitudes dos consumidores
tem pressionado o desenvolvimento das indústrias, aumentando a competitivida-
de por novos produtos, e mostrado o quanto o segmento do mercado de produtos
probióticos ainda é bem promissor, sendo dominado majoritariamente por produtos
lácteos, pois os consumidores já estão familiarizados com a conjuntura de que os
leites fermentados contém microrganismos benéficos para a saúde, facilitando a re-
comendação de consumo de probióticos (FERNANDES, 2013; BALLUS et al., 2010).
O Brasil encontra-se em fase de transição nutricional, gerando um quadro preocu-
pante em termos de saúde pública, ora apresentando uma população com níveis consi-
INDICADORES DE INOVAÇÃO DE PROBIÓTICOS FUNCIONAIS DAS INDÚSTRIAS DE ALIMENTOS DO BRASIL

deráveis de desnutrição e carência de algumas vitaminas e minerais, como a vitamina A


e ferro, ora apresentando um aumento no número de indivíduos obesos e acometidos a
doenças cardiovasculares, alguns tipos de câncer, hipertensão e diabetes, que também
coloca em estado de alerta as autoridades sanitárias (CAROBA, 2007).
Assim, esta pesquisa se justifica ao demonstrar que mesmo com as inovações
implementadas no setor alimentício, observa-se no Brasil carências nutricionais
ligadas à falta de acesso a alimentos nutritivos, assim como também doenças as-
sociadas ao consumo excessivo de uma dieta incorreta. Tendo isto em vista, é vital
que o governo brasileiro subsidie as empresas criando políticas públicas, incenti-
vando a propriedade intelectual nas empresas, a expansão do nicho de mercado
dos alimentos probióticos, o mix de alimentos para atender as necessidades e de-
sejos do consumidor.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

ALIMENTOS PROBIÓTICOS FUNCIONAIS: BENEFÍCIOS E CONSUMO

Recentemente, a alimentação tem sido adaptada a não fornecer apenas ener-


gia e a manutenção do corpo. Cada vez mais vem se exigindo que os alimentos
possuam características que promovam a saúde. Os alimentos funcionais atuam
nesse quesito como um caminho para prevenção de doenças, sendo constituído de
compostos benéficos ao consumo humano (SILVA, 2019).
Apesar de diversas definições para probióticos, a mais aceita internacionalmen-
te é que eles são microrganismos que conferem benefícios a saúde do hospedeiro,
quando administrado em doses adequadas. Os alimentos funcionais são uma gran-
de categoria de alimentos, onde é baseiam-se em associada a uma dieta indicada,
eles alimentos auxiliam na manutenção da saúde, atuando em conjunto com outras
práticas, evita o agravamento de doenças (Sanders, 2003).
Como resultado de seus benefícios à saúde, os probióticos são ingredientes
com grande importância para a indústria de lácteos, auxiliando para um merca-
do de milhões de dólares (DOHERTY et al., 2012). Os principais influenciadores
desse mercado, como a Yakult, fizeram grandes investimentos em pesquisa e de-
senvolvimento de produtos probióticos inovadores. Para atrair consumidores em
potencial, esses produtos são disponibilizados em supermercados, farmácias e lo-
jas de alimentos saudáveis (SHAIKH, 2018).
Os probióticos possuem potencial para promover saúde através de mecanismos
não previstos na nutrição convencional, a sua incorporação na dieta de um estilo

124
Flávia Luiza Araújo Tavares da Silva, Taís Letícia Oliveira dos Santos, Bruno Ramos Eloy,
Patricia Beltrão Lessa Constant, João Antonio Belmino dos Santos

de vida saudável levou a criação de um mercado para esses produtos, devendo ser
salientado que esse efeito se restringe à promoção de saúde e não à cura de doen-
ças (SANDERS, 1998; ARVANITOYANNIS, HOUWELINGEN KOUKALIARO-
GLOU, 2005). Sendo assim, a conscientização sobre os benefícios para a saúde
associados ao consumo de produtos probióticos é um fator importante que impul-
siona a demanda geral do mercado de probióticos (SHAIKH, 2018).

QUESITO INOVAÇÃO E IMPACTO DA PRODUÇÃO

A inovação vem de novas formas de produzir e comercializar, esta é desenvolvi-


da através de conhecimentos e pode ser planejada ou não. Inovar não é só inventar
algo, é se mostrar útil ao mercado com adaptações que criem vantagens significati-
vas para o mercado que é cada vez mais competitivo (FORNARI et al, 2015).
O mapeamento de indicadores de inovação é suma importância para observar
as tendências sobre os avanços científicos e tecnológicos, eles podem ser definidos
por parâmetros selecionados, individualmente ou combinado entre si (CASTRO,
2013; MILANEZ, 2014).
Uma das importantes tendências a ter em conta é, sem dúvida, os hábitos alimen-
tares dos consumidores. Graças a uma população mais envelhecida, ao diagnóstico de
doenças crônicas, à maior valorização dos alimentos funcionais e à informação a que o
consumidor está cada vez mais exposto, as categorias de alimentação saudável mostram
ser uma tendência e o seu crescimento é notório (THE NIELSEN COMPANY, 2017).
Segundo pesquisas, até 2019 os mercados emergentes deverão gerar 86% das
novas vendas, com um crescimento significativo na venda de alimentos funcionais
e naturais, que constituirão o núcleo da demanda do consumidor (FOOD INGRE-
DIENTS BRASIL, 2017).

METODOLOGIA

Visando mapear quantitativamente as indústrias de alimentos produtoras de


alimentos probióticos e funcionais, foi feita uma primeira pesquisa através do ser-
viço de mapeamento do Google onde foram utilizados os descritores: indústrias de
alimentos mais influentes, alimentos probióticos, alimentos funcionais, inovação
nas indústrias de alimentos. A fim de pontuar os indicadores de alimentos pro-
bióticos funcionais foi feita uma segunda pesquisa, no período de junho de 2018
à julho de 2019, nas bases de dados WIPO, Google Patentes e INPI, utilizando os
descritores: produtores de leite fermentado, iogurte, kefir e kombucha.

125
INDICADORES DE INOVAÇÃO DE PROBIÓTICOS FUNCIONAIS DAS INDÚSTRIAS DE ALIMENTOS DO BRASIL

RESULTADOS

MAPEAMENTO DAS INDÚSTRIAS ENCONTRADAS

A maior dificuldade do mapeamento é o fato que maioria das indústrias não


dispõe das suas unidades de produção em seus sites comerciais. Levando assim,
uma busca em localização pelo nome das indústrias em sites de mapas. O que leva
a abranger determinados locais que possui o mesmo nome, porém não há relação
com as indústrias. Estes foram descartados da montagem do mapa.
A Figura 1 representa a distribuição das 9 indústrias de alimentos produtoras
de alimentos probióticos e funcionais, destacadas dentro do âmbito nacional. São
elas: Nestlé, Vigor, Batavo, Sabe Alimentos, Verde Campo, Danone, Yakult, Elegê
e Itambé. A Região Norte possui apenas 1 indústria, Nestlé, situada em Rondônia.
Existem 5 indústrias na região Nordeste, incluindo a Nestlé 3 na Bahia, 1 Sabe Ali-
mentos em Alagos, 1 Sabe Alimentos em Sergipe e 1 Nestlé em Pernambuco. A Re-
gião Centro-Oeste possui 5 Industrias, 1 Nestlé, 1 Vigor, 1 Elegê e 2 Itambé, todas
situadas em Goiás. A Região Sudeste possui a maior concentração das indústrias
do país, com 43 indústrias, como visto na Figura 2. São Paulo possui 15 Nestlé, 3
Vigor, 1 Danone, 1 Yakult e 1 Itambé, Rio de Janeiro possui 4 Nestlé, 1 Vigor e 1
Itambé, Espirito Santo possui 1 Nestlé e Minas Gerais possui 3 Nestlé, 3 Vigor, 1
Verde Campo, 1 Danone, 4 Elegê e 3 Itambé.
Quando se verifica os dados gerais das indústrias por região do Brasil, apresen-
tados na Figura 2, dá-se destaque para a região Sudeste com 75% da concentração
industrial, e com diferentes padrões de concentrações revelados nas demais regiões
do país temos a região Norte com a menor concentração, de apenas 2%, seguida
da região Sul, 5%, e as regiões Nordeste e Centro-Oeste com valores iguais de 9%.

126
Flávia Luiza Araújo Tavares da Silva, Taís Letícia Oliveira dos Santos, Bruno Ramos Eloy,
Patricia Beltrão Lessa Constant, João Antonio Belmino dos Santos

Figura 1: Mapeamento das indústrias de alimentos probióticos

Fonte: Elaboração própria através de dados da base científica (2018)

Figura 2: Número de indústrias por região do Brasil

Fonte: Elaboração própria através de dados da base cientifica (2018).

127
INDICADORES DE INOVAÇÃO DE PROBIÓTICOS FUNCIONAIS DAS INDÚSTRIAS DE ALIMENTOS DO BRASIL

ALIMENTOS PROBIÓTICOS MAIS PRODUZIDOS

Através de um questionário online sobre conhecimento de alimentos probió-


ticos foi constatado que os mais conhecidos e consumidos são o leite fermentado
e o iogurte natural, como é visto na Figura 03. Porém, com essa nova tendência
por uma alimentação saudável, torna-se conhecidos também o kefir e a kom-
bucha, que são normalmente produzidos artesanalmente. Hoje em dia é mais
fácil encontrar esses produtos em lojas e mercados, mesmo alguns já estarem
inseridos nas dietas alimentares das pessoas, as suas propriedades funcionais têm
ajudado a aumentar o mercado consumidor consequentemente aumentando a
produção nas indústrias.

Figura 3: Vendas dos probióticos mais consumidos

Fonte: Elaboração própria através do Mercado Global de Probióticos (2018).

Não há uma legislação vigente que estabeleça que alimentos probióticos te-
nham em seu rótulo que são probióticos. Atualmente é uma questão de marketing
das indústrias, porém, é proibida a venda de produtos com alegação de probióticos
que não o sejam. Através de pesquisas em sites das indústrias mapeadas, foi encon-
trado 3 indicadores de probióticos:
• Alimentos probióticos com informação no rótulo: São os alimentos que são
identificados já no rótulo e dá maior informação aos consumidores do que
está consumindo, como exemplo o shot diário probiótico da Activia. De
modo geral, o marketing das indústrias que produzem esse tipo de alimen-
tos eleva também o valor do produto comercializado.
• Alimentos probióticos sem identificação no rótulo: São os alimentos que
não trazem a informação no seu rótulo, porém contam com os probióticos

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Flávia Luiza Araújo Tavares da Silva, Taís Letícia Oliveira dos Santos, Bruno Ramos Eloy,
Patricia Beltrão Lessa Constant, João Antonio Belmino dos Santos

nos seus ingredientes, como exemplos os iogurtes com fermentação de bac-


térias láticas.
• Alimentos probióticos com identificação de microrganismos presente no
rótulo: São os alimentos que possuem no seu rótulo o tipo de microrganis-
mos específico utilizado na fermentação daquele produto, como por exem-
plo, Leite fermentado com Lactobacillus casei Shirota vivos da Yakult.

Incluir os alimentos probióticos na alimentação não é um hábito que a maioria


da população possa fazer. Segundo a Figura 4, o comparativo de preços entre as
bebidas kombucha, uma bebida probiótica, e a Coca Cola, um refrigerante comum,
é exorbitante.

Figura 4: Comparativo de Preços entre bebidas

Fonte: Elaboração própria através de base de dados, 2019

O preço de uma bebida probiótica é, aproximadamente, 7 vezes maior que o de


uma bebida comum, o que desfavorece o consumo por parte da população que tem
uma baixa renda mensal. Visto que, essa comparação é em relação a ambas serem
bebidas gaseificadas.

SERGIPE NO SETOR DE PRODUÇÃO E PATENTES

Sergipe conta com uma indústria de laticínios que produz alguns alimentos
probióticos, a Sabe Alimentos, localizada na cidade de Muribeca e sua produção
contribui diretamente para o IDH da região. Há um grande problema em relação
a questão dos probióticos devido ao fato de muitas pessoas consumirem sem o co-
nhecimento dos benefícios ou até mesmo do que seja um alimento probiótico. No
setor de patentes Sergipe não tem uma preocupação em depositar sua produção no

129
INDICADORES DE INOVAÇÃO DE PROBIÓTICOS FUNCIONAIS DAS INDÚSTRIAS DE ALIMENTOS DO BRASIL

sistema do INPI. A Sabe Alimentos não possui deposito de patentes na base no


INPI e conta com dois registros de marca em vigor, um até o ano de 2023 e outro
2025, como é visto na Figura 05.

Figura 5: Registros de Marcas da Sabe Alimentos

Fonte: INPI, 2018

Feita uma pesquisa de campo em mercados com alegação de naturais, onde


verificou-se que Sergipe tem 75% da sua produção artesanal, como vista na Figura
06. Os produtores localizados foram os: MeWe, TerrAlquimia e Parvati Artesa-
nal. Os três seguem uma produção local e familiar, no entanto, a MeWe importa
para vários estados do Brasil. A MeWe produz kombuchá de 7 sabores: Original,
Gengibre, Capim limão, Hibisco, Pimenta Caiena + gengibre + canela, Moringa +
manjericão e Uva. A TerrAlquimia produz kefir de 4 sabores: Hibisco + Pimenta
rosa, Maracujá + Capim santo, Uva e Mate + Limão. E a Parvati Artesanal produz
kombuchá de 4 sabores: Amora, Maracujá, Hibisco e Frutas vermelhas, como tam-
bém kefir, porém está com sua produção parada desde janeiro do referente ano.
Não há depósito de patentes e nem registro de marca por parte dos produtores
artesanais até o momento.

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Flávia Luiza Araújo Tavares da Silva, Taís Letícia Oliveira dos Santos, Bruno Ramos Eloy,
Patricia Beltrão Lessa Constant, João Antonio Belmino dos Santos

Figura 6: Produção de probióticos em Sergipe

Fonte: Elaboração própria através de base de dados, 2019

ANÁLISE DE PATENTES NO BRASIL

A busca de patentes foi realizada nas bases de dados World Intellectual Pro-
perty Organization (WIPO), Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI)
e Google Patents, durante o período de Junho de 2018 à Julho de 2019. O objetivo
desta busca foi analisar os registros de patentes referentes a alimentos probióticos
e funcionais por entidades brasileiras. Foram usados como descritores: probióticos
e funcionais. O resultado da busca está expresso na Figura 7:

Figura 7: Depósito de Patentes termos geral

Fonte: Elaboração própria através de base de dados, 2019

131
INDICADORES DE INOVAÇÃO DE PROBIÓTICOS FUNCIONAIS DAS INDÚSTRIAS DE ALIMENTOS DO BRASIL

A partir dos dados obtidos percebeu-se que os termos “probióticos” e “funcio-


nais” estão sendo amplamente usados, devido à procura da população por pro-
dutos de diversos setores que levem essas descrições. Em comparação ao termo
“funcionais”, o termo “probióticos” não obteve um número significante de resul-
tados. Filtrando-se essa pesquisa para o setor de alimentos é possível constatar a
insuficiência nos depósitos de patentes.
Através da Figura 8 podemos identificar que a associação do termo “alimento
funcional” também ultrapassou em número a associação “alimento probiótico” nas
pesquisas realizadas nas três bases de dados. 12 resultados para “alimento funcio-
nal” e 1 resultado para “alimento probiótico”.

Figura 8: Depósito de Patentes Específicas para Alimentos

Fonte: Elaboração própria através de base de dados, 2019

Os setores que mais utilizam os probióticos são: Saúde, Alimentos e Cosméti-


cos. Relacionado a isso, foi feita uma busca de depósito de patentes em cada um
desses setores, como visto na Figura 9. Segundo a Google Patents o setor que pos-
sui mais depósito de patentes é o de cosméticos, assim como para o INPI. Para a
WIPO o setor de alimentos resultou no maior número de depósitos de patentes
com um total de 45.

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Flávia Luiza Araújo Tavares da Silva, Taís Letícia Oliveira dos Santos, Bruno Ramos Eloy,
Patricia Beltrão Lessa Constant, João Antonio Belmino dos Santos

Figura 9: Depósito de Patentes de Probióticos por setor

Fonte: Elaboração própria através de base de dados, 2019

Vale ressalvar que o Google Patents indexa dados de escritórios de patentes de


mais de dez países, o que pode explicar o alto número de resultados em determina-
das pesquisas quando comparado a outras bases de dados.

CONCLUSÃO

Por meio do mapeamento das indústrias de alimentos probióticos funcionais


foi constatado que a região Sudeste concentra 75% das indústrias do País. O que já
era esperado por apresentar maiores índices de desenvolvimento socioeconômico
comparado às demais regiões. Assim como, a região Norte apresentar a menor
concentração de indústrias do País, com 2%.
O iogurte tem sido o alimento probióticos mais produzido e consumido, con-
tando com 76% das vendas. Para o mesmo, foi identificado três indicadores: Sem
identificação de probióticos, Com identificação de probióticos e Com identifica-
ção dos microrganismos. Como não há uma legislação vigente que regularize essa
identificação, fica a critério da indústria a informação da mesma no rótulo. No
entanto, os alimentos com identificação possuem um valor de mercado maior do
que os sem identificação.
A produção de alimentos probióticos do Estado de Sergipe se dá 75% como
artesanal, de modo que apenas a Indústria Sabe tem 25% da produção como in-
dustrial. Tendo uma maior produção artesanal, é comum o Estado não ter depósito
de patentes nos bancos de dados, porém a indústria Sabe também não conta com
nenhum depósito de patentes nesse setor, até o presente momento. Quando feita a
busca em escala nacional, observou-se que os termos analisados também não apre-

133
INDICADORES DE INOVAÇÃO DE PROBIÓTICOS FUNCIONAIS DAS INDÚSTRIAS DE ALIMENTOS DO BRASIL

sentavam número significante. Assim se faz necessário instruir os gestores sobre a


importância da sua produção e os seus devidos registros.
Para tanto, estudos relacionados aos registros de marca e depósito de patentes
de alimentos probióticos ao longo dos últimos anos em relação ao consumo e a
demanda industrial se mostram necessários, com a finalidade de fazer um levan-
tamento em âmbito nacional da produção artesanal e industrial e seus avanços na
criação de patentes que visem a promoção da saúde e desenvolvimento industrial,
com o aumento na produção desses alimentos.

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135
136
USO DO BLOCKCHAIN PARA PROTEÇÃO
DO SEGREDO INDUSTRIAL: ANÁLISE DA
JURISPRUDÊNCIA NO DIREITO BRASILEIRO

Breno Ricardo de Araújo Leite, Carla Cristina de Souza,


Gabriel Grezoski Bitencourt, Rafael Jankovski, Irineu Afonso Frey

INTRODUÇÃO

O Segredo Industrial é um tipo de proteção pertencente ao rol de modalidades


da Propriedade Intelectual (PI) e se baseia na garantia da confidencialidade de in-
formações que possam garantir vantagens competitivas ao seu detentor. Por vezes,
esse tipo de proteção é utilizado pois a tecnologia em questão não pode ser prote-
gida por outras modalidades de PI, ou mesmo por decisão estratégica do negócio,
pois enquanto durar o sigilo do segredo, permanecerá a validade e duração deste
tipo de ativo (BARBOSA, 2017).
Para defender seus interesses contra possíveis ações de concorrência desleal, o
detentor do Segredo Industrial pode utilizar-se de vários meios para preservar a
confidência, como uso de cofres, restrição de acesso a ambientes e dispositivos de
tecnologia da informação, termos de confidencialidade assinados pelos emprega-
dos e parceiros, segmentação da informação de forma que uma única pessoa não
conheça todo o segredo, entre outros, mas esses recursos não são infalíveis.
Quando ocorre um vazamento ou roubo de informações, o detentor dos Segredos
Industriais pode usar dos expedientes previstos pela Lei da Propriedade Industrial (Lei
9.279/96) para requerer a interrupção da infração ou indenização pelos danos causa-
dos, mas para isso terá que provar a propriedade dos segredos, há quanto tempo os
possui e que tomou as medidas necessárias para sua proteção (BRASIL, 1996).
Uma tecnologia recente, que tem abarcado cada dia mais setores do comércio e
da indústria, poderia ser utilizada para solucionar essa questão; trata-se da tecno-
logia do blockchain, mas essa tecnologia atenderia as exigências para cumprir seu
papel em questões judiciais?
Para responder esta questão, este estudo foi desenvolvido com o objetivo de
verificar a jurisprudência no direito brasileiro para dar o amparo necessário para o
uso do blockchain para comprovação de propriedade de segredos industriais.
USO DO BLOCKCHAIN PARA PROTEÇÃO DO SEGREDO INDUSTRIAL

Espera-se que essa discussão possa contribuir para impulsionar a adoção desse
recurso de tecnologia da informação como garantia de salvaguarda dos conheci-
mentos e tecnologias protegidos pelo segredo industrial.
O estudo está organizado da seguinte forma: primeiramente foi realizado uma
revisão do referencial teórico, onde são apresentados conceitos de segredo indus-
trial, WIPO PROOF® e blockchain, passando depois para a metodologia de pesqui-
sa, seguido pelos resultados e discussões, finalizando com as conclusões.

REFERENCIAL TEÓRICO

Segundo Barbosa (2017, p. 345), com base na visão clássica francesa, o segredo
industrial pode ser definido como “algo que tem a natureza de uma solução técni-
ca no sentido geral de um invento suscetível de proteção por patentes, mas que o
criador opta por manter reservado”.
Pontes de Miranda (2012) complementa que a materialização do segredo industrial
é decorrente da existência de um meio ou processo de fabricação que não pode ter a sua
proteção garantida por patente, que implicaria, inevitavelmente, na revelação do segre-
do e consequente perda do privilégio assegurado pela detenção do conhecimento.
É importante ressaltar que qualquer processo industrial dotado de
peculiaridades sui generis, ou seja, diferente dos já definidos em lei, e que escape ao
conhecimento do operador mediano, ainda que não reúna todos os requisitos de
patenteabilidade, pode ser classificado como segredo industrial. Nesse sentido, o
objeto de proteção pode ser um detalhe de fabricação, uma operação ou a fórmula
de determinada substância (CERQUEIRA, 2010).
Entretanto, a fragilidade do segredo industrial reside no fato de que o objeto
protegido não é dotado de exclusividade, como ocorre com a patente, que restringe
o uso da invenção ao seu detentor ou a quem ele licenciar seu uso. É justamente
essa impossibilidade de registro, sob pena de revelação do “segredo” que fragiliza o
segredo industrial, notadamente quando seu detentor precisa compartilhá-lo com
colaboradores a fim de operacionalizar a produção (BARBOSA, 2017).
Nesse sentido, os detentores de segredos industriais precisam encontrar meios
que permitam registrar a sua titularidade sobre o segredo, de forma que possa ser
reconhecida eficazmente, pelo poder judiciário, que em última instância será o
responsável pela análise das violações contratuais decorrentes da quebra do dever
de sigilo imposto aos colaboradores supracitados e pela aplicação das punições
previstas em dispositivos legais formatados para combater o vazamento desse tipo
de informação (SILVEIRA, 2018).

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Breno Ricardo de Araújo Leite, Carla Cristina de Souza, Gabriel Grezoski Bitencourt, Rafael Jankovski, Irineu Afonso Frey

Apesar de escassamente regulamentado no Brasil, algumas normas pátrias me-


recem destaque, por sua evidente preocupação em desestimular a quebra do sigilo
industrial. A começar pela Lei 9.279/96, que em seu artigo 195, determina que
comete crime de concorrência desleal quem:

XI - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos,


informações ou dados confidenciais, utilizáveis na indústria, comércio
ou prestação de serviços, excluídos aqueles que sejam de conhecimen-
to público ou que sejam evidentes para um técnico no assunto, a que
teve acesso mediante relação contratual ou empregatícia, mesmo após o
término do contrato; XII - divulga, explora ou utiliza-se, sem autoriza-
ção, de conhecimentos ou informações a que se refere o inciso anterior,
obtidos por meios ilícitos ou a que teve acesso mediante fraude; […] §
1º Inclui-se nas hipóteses a que se referem os incisos XI e XII o empre-
gador, sócio ou administrador da empresa, que incorrer nas tipificações
estabelecidas nos mencionados dispositivos (BRASIL, 1996, p. 27).

A Consolidação das Leis do Trabalho, por sua vez, determina, no artigo 482,
que “constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo emprega-
dor: […] violação de segredo de empresa” (BRASIL, 1943, p. 71).
Desta forma, a existência de registros confidenciais eficazes, com titularidade
e encadeamento cronológico oficialmente reconhecidos, é imprescindível para
desestimular o vazamento dos segredos industriais por colaboradores e parceiros
que os conheçam em virtude de sua participação na cadeia produtiva, sabedores
de que há uma rastreabilidade capaz de determinar o momento em que houve a
quebra de confiança e que as punições advindas dessa quebra, devidamente po-
sitivadas no ordenamento jurídico brasileiro, anulariam os possíveis benefícios
dela decorrentes.
Como abordado anteriormente, segredos industriais podem ser algoritmos
de softwares, fórmulas, receitas, processos de fabricação, listas de clientes, planos
de negócios ou muitos outros ativos (BARBOSA, 2017). Eles podem ser pro-
tegidos por lei, desde que se consiga provar que possuem valor econômico e
que foram tomadas as medidas necessárias para preservar sua confidencialida-
de e evitar o uso indevido ou apropriação indevida (BRASIL, 1996). Isso pode
ser mais complexo do que aparenta, pois como um empresário pode provar que
possuiu e usou um segredo comercial em um determinado ponto do tempo, se
sempre manteve segredo?

139
USO DO BLOCKCHAIN PARA PROTEÇÃO DO SEGREDO INDUSTRIAL

O WIPO PROOF® é um serviço on-line, lançado em 2020 pela Organização Mun-


dial da Propriedade Intelectual (World Intellectual Property Organization - WIPO)
que produz evidências supostamente à prova de adulteração, para utilização quando
necessário provar que um arquivo digital existia em um ponto específico no tempo,
ou mesmo desencorajar possíveis roubos ou uso indevido (WIPO, 2020).
Esse tipo de prova pode ser muito útil para pedir uma liminar ou reivindicar
indenização contra atos de concorrência desleal praticadas em disputas comerciais.
A tecnologia por trás do WIPO PROOF® baseia-se na geração de uma impres-
são digital reconhecida globalmente, ou seja, uma impressão digital única do ar-
quivo digital, datado e cronometrado assim que ele é criado. O funcionamento
depende de um dispositivo token que abriga o software e o algoritmo autenticador,
que deve ficar na posse do contratante do serviço, enquanto um token de contra-
prova é armazenado em servidores da WIPO na Suíça (WIPO, 2020).
Esse serviço recentemente iniciado pela WIPO oferece ao mercado um meio de
garantir uma evidência da posse e proteção de segredos industriais, mas diante da
tecnologia blockchain, o WIPO PROOF® possui as seguintes desvantagens: a) a auten-
ticidade é garantida pelo token, que caso seja usado indevidamente, permite fraudar
documentos, enquanto que o blockchain não depende de dispositivos externos; b)
a segurança é meramente local, dependente de um único dispositivo, enquanto o
blockchain usa rede distribuída em vários computadores da rede; c) a autenticação
de documentos depende da operação manual do usuário, mas o blockchain é auto-
mático e transparente para cada arquivo salvo na rede; d) utiliza marcações no docu-
mento visíveis ao usuário, enquanto o blockchain usa código hash com combinações
criptográficas, que inclusive guarda o histórico do documento.
Uma das associações mais genéricas que se pode fazer quando se fala em blo-
ckchain é um livro-razão que faz o registro de uma transação de forma que esse
registro seja imutável e confiável. De forma simples, Nofer et al. (2017) descrevem
o funcionamento da tecnologia como um conjunto de dados compostos de uma
cadeia de blocos, onde cada bloco compreende várias transações. O blockchain é
estendido por cada bloco adicional e representa um registro completo do histórico
de transações. Esses blocos são validados pela rede através de meios criptográficos,
como a geração de um hash, que é único e garante a integridade dos dados.
A tecnologia do blockchain só é possível graças a uma arquitetura de redes de
computadores chamada peer-to-peer (P2P), onde cada um dos pontos ou nós da
rede funciona tanto no papel de servidor como cliente, permitindo o compartilha-
mento de serviços e dados sem a necessidade de um servidor central. Essa tecnolo-
gia foi muito utilizada nos chamados programas de Torrent (NOFER et al., 2017).

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Breno Ricardo de Araújo Leite, Carla Cristina de Souza, Gabriel Grezoski Bitencourt, Rafael Jankovski, Irineu Afonso Frey

A utilização da arquitetura de P2P traz para o blockchain a característica de que


as informações inseridas são extremamente seguras e confiáveis, uma vez que não
existe um servidor central, propenso a um ataque, mas milhares de computadores
ao redor do mundo com a cópia integral do banco de dados, garantindo a inviola-
bilidade. Além disso, é essa rede que valida o hash gerado, garantindo que o bloco
não sofreu alteração (STRAWN, 2019).
Com a criptografia, utilizando-se de hash para garantir a integridade e da rede
mundial de computadores como um imenso servidor descentralizado, a tecnolo-
gia do blockchain pode garantir integridade, anonimato e confiabilidade para o
registro de informações, uma vez que as transações não podem ser apagadas ou
alteradas (STRAWN, 2019), sejam elas transações financeiras, a exemplo do Bit-
coin, de logística, de contratos ou qualquer tipo de dado que necessite ser armaze-
nado de forma íntegra e segura, inclusive as informações relacionadas ao segredo
industrial.

METODOLOGIA

Do ponto de vista da natureza e abordagem, esta pesquisa é classificada como


aplicada e qualitativa, e em relação aos seus objetivos, está enquadrada como des-
critiva, pois visa descrever as características do fenômeno estudado (GIL, 2010).
A pesquisa bibliográfica e documental foram os procedimentos técnicos utili-
zados no estudo, para levantar informações em livros, artigos científicos e também
em sítios na Internet sobre a abordagem desse tema no Brasil e em países líderes
nessa tecnologia, bem como o levantamento (GIL, 2010) realizado na base de da-
dos do Portal Jurisprudência Unificada do Conselho da Justiça Federal (JUSTIÇA
FEDERAL, 2020), além de buscas isoladas nos sítios eletrônicos de cada tribunal
estadual do país, para identificar jurisprudências com respeito ao uso da tecnolo-
gia blockchain para comprovação de integridade, autenticidade e anterioridade de
documentos digitais.
Em relação à limitação do escopo, foram considerados apenas os processos da-
tados de 2015 a 2020, pois foi nesse período que a tecnologia se consolidou com
aplicações comerciais e industriais (ARAÚJO; SANTOS, 2019; LESSAK; DIAS;
FREY, 2018) e quanto à aplicação da tecnologia, apenas aquelas peças processuais
que diziam respeito ao uso do blockchain para autenticação digital ou certificação
eletrônica de documentos, sem restringir exclusivamente a segredos industriais.

141
USO DO BLOCKCHAIN PARA PROTEÇÃO DO SEGREDO INDUSTRIAL

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A questão da utilidade do blockchain como ferramenta apta a colaborar com a


preservação de segredos industriais reside, inevitavelmente, na verificação de sua
aceitação, pelo ordenamento jurídico brasileiro, como prova judicial. A forma
mais conveniente de fazer a verificação proposta se dá por meio do tradicional
estudo tripartido entre doutrina, lei e jurisprudência.
Didier Júnior, Braga e Oliveira (2020), que reconhecem a utilização do block-
chain como prova no Processo Civil, classificam a ferramenta como “prova atípica”,
tendo em vista a impossibilidade de sua perfeita adequação aos moldes das provas
típicas. Sobre o conceito de provas atípicas, Neves (2018, p. 635) explica que “os
meios de prova previstos no diploma processual são meramente exemplificativos,
admitindo-se que outros meios não previstos também sejam considerados, desde
que não contrariem a norma legal”.
Uma vez compreendido o enquadramento do blockchain como prova atípica no
processo civil, apresenta-se um rol de possibilidades de utilização da ferramenta para a
substituição de métodos tradicionais de atestação de existência e conteúdo de certos atos:

(i) o reconhecimento de assinatura num determinado documento; (ii) a


confecção de diploma eletrônico que confirma a graduação num certo cur-
so; (iii) a receita médica prescrevendo determinado medicamento de uso
controlado, que tem validade definida e só pode ser usada uma vez pelo
paciente; (iv) a constatação de que determinada fotografia ou notícia jor-
nalística foi veiculada, em certo momento, numa dada rede social; (v) o
registro de determinada criação intelectual, com identificação de autoria,
gerando prova de existência e precedência dessa criação; (vi) a utilização
da rede para registro de manifestação de vontade, dispensando a assinatura
de próprio punho num instrumento contratual; (vii) a divulgação de dados
obtidos a partir de auditoria em órgãos públicos, como forma de garantir
transparência na gestão pública; (viii) cadeia logística, como datas de envio
e entrega de produtos, para fins de vigilância sanitária; (ix) Outra aplicação
possível da blockchain como forma de documentação de fatos e manifesta-
ções de vontade está ligada à ideia dos smart contracts, ou contratos inteli-
gentes (DIDIER JUNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2020, p. 275).

A respeito da regulamentação legal, é importante frisar que, independente-


mente do Código de Processo Civil ainda não tratar explicitamente da ferramenta

142
Breno Ricardo de Araújo Leite, Carla Cristina de Souza, Gabriel Grezoski Bitencourt, Rafael Jankovski, Irineu Afonso Frey

em questão, o capítulo XII define o ordenamento jurídico acerca das provas, com
destaque para os artigos 369 e 411 que evidenciam a possibilidade de utilização do
blockchain como ferramenta apta a produzir efeitos probatórios.
Primeiramente, o artigo 369 determina que “as partes têm o direito de empre-
gar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não espe-
cificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido”
(BRASIL, 2015, p. 59). Na sequência, o artigo 411 informa que se considera autên-
tico o documento quando “a autoria estiver identificada por qualquer outro meio
legal de certificação, inclusive eletrônico, nos termos da Lei” (BRASIL, 2015, p. 64).
Seguindo a cronologia, em 20 setembro de 2019 foi publicada a Lei nº
13.874/2019 trazendo uma série de dispositivos que tratam da validade probatória
de documentos digitais, com destaque para o artigo 18, que assim determina:

Para documentos particulares, qualquer meio de comprovação da auto-


ria, integridade e, se necessário, confidencialidade de documentos em
forma eletrônica é válido, desde que escolhido de comum acordo pelas
partes ou aceito pela pessoa a quem for oposto o documento (BRASIL,
2019a, p. 14).

Alguns dias depois da publicação da Lei supracitada, foi publicada a Portaria


nº 93, de 26 de setembro de 2019, do Gabinete de Segurança Institucional da Presi-
dência da República, que aprova o Glossário de Segurança da Informação. A Por-
taria inova por ser a primeira norma do ordenamento jurídico brasileiro a tratar
explicitamente da tecnologia blockchain, fazendo diversas menções à ferramenta
(BRASIL, 2019b).
Por fim, em 26 de maio de 2020 foi publicado o provimento nº 100 do Con-
selho Nacional de Justiça que, pautado na necessidade de evitar a concorrência
predatória por serviços prestados remotamente e reconhecendo a necessidade de
modernização do sistema notarial brasileiro, implementou o sistema e-Notariado,
que funciona utilizando a tecnologia blockchain. Nos termos do artigo 36 da Porta-
ria supracitada, o e-Notariado passa a ser a única plataforma aceita para a prática
de atos notariais eletrônicos ou remotos com recepção de assinaturas eletrônicas
à distância, demonstrando, de forma inequívoca, a aceitação da tecnologia pelo
ordenamento jurídico brasileiro (BRASIL, 2020).
Quanto ao entendimento da posição do judiciário brasileiro a respeito do tema,
a busca na plataforma “Jurisprudência Unificada” do Conselho da Justiça Federal
indica a inexistência de qualquer decisão que envolva diretamente o uso do block-

143
USO DO BLOCKCHAIN PARA PROTEÇÃO DO SEGREDO INDUSTRIAL

chain em processos que tramitam na esfera federal, no período analisado, o que


é natural devido ao grau de novidade da tecnologia blockchain, que consolidou
as aplicações industriais apenas a partir de 2015 (LESSAK; DIAS; FREY, 2018) e
também pelo pouco tempo de utilização no campo da autenticação documental,
ocorrida no mesmo período (ARAÚJO; SANTOS, 2019).
A análise das plataformas jurisprudenciais de cada um dos Tribunais Estaduais
do país, resultou em vinte e seis ocorrências, sendo dezoito do TJ-SP e oito do TJ-
DFT. As decisões judiciais encontradas demonstram uma natural preponderância
de processos que envolvam o blockchain em seu propósito original, qual seja, como
mecanismo de registro referente à circulação de criptomoedas, mas ainda assim, há
decisões que apontam para o reconhecimento do blockchain como meio de prova
aceito em situações que vão além das referentes às moedas eletrônicas, como é
possível verificar no caso envolvendo a ação judicial de atestado de autenticidade e
integridade documental, sob competência do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo (SÃO PAULO, 2018).
É natural que, diante da publicação das recentes normas que tratam mais
especificamente do tema e do inexorável avanço da tecnologia blockchain em temas
correlatos à propriedade intelectual, comecem a surgir decisões jurisprudenciais
que reconheçam a tecnologia em transações que envolvam as diversas áreas da
propriedade intelectual, principalmente no que diz respeito à proteção dos segre-
dos industriais, que pode ser fortalecida pela utilização da ferramenta.
No contexto internacional, diversos países criaram ou adaptaram suas legis-
lações no que diz respeito à admissibilidade do blockchain como meio de prova
em processos ou procedimentos judiciais, tais como Estados Unidos da América
(EUA), China e Itália, conforme breves relatos apresentados a seguir.
Nos EUA o Governo Federal decidiu por não implementar legislação que
regulamenta o uso do blockchain como meio de prova nos tribunais (POLLAC-
CO, 2020), todavia, parte dos seus Estados utilizaram de seus poderes resi-
duais para regular sua própria lei, como por exemplo: Arizona (ARIZONA,
2017), Illinois (ILLINOIS, 2020), Vermont (VERMONT, 2016) e Washington
(WASHINGTON, 2019), cujas legislações dão previsão legal para uso dessa
tecnologia.
Já na China, em 7 de setembro de 2018, o Supremo Tribunal Popular promul-
gou documento intitulado “Disposições do Supremo Tribunal Popular sobre ques-
tões relacionadas ao julgamento de casos por tribunais da Internet”, tais dispo-
sições regulam os processos dos três tribunais de Internet do país - Guangzhou,
Hangzhou e Pequim (CHINA, 2018).

144
Breno Ricardo de Araújo Leite, Carla Cristina de Souza, Gabriel Grezoski Bitencourt, Rafael Jankovski, Irineu Afonso Frey

O artigo 11 do referido documento dispõe sobre a admissibilidade das provas


digitais, inclusive em blockchain, afirmando que o Tribunal responsável confirma-
rá a autenticidade dos dados eletrônicos apresentados pelas partes interessadas,
se tais forem coletados por meio de assinatura eletrônica, timestamping confiável,
verificação de valor de hash, coleta de blockchain e outras evidências, e verificados
com meios técnicos de retenção e à prova de adulteração ou por meio da platafor-
ma eletrônica de perícia e depósito, que são capazes de provar sua autenticidade
(CHINA, 2018).
Por fim, na Itália, em fevereiro de 2019, esse assunto foi regulamentado com a
promulgação de lei que dispõe sobre a validade jurídica dos contratos inteligentes
e da tecnologia baseada em livros distribuídos (Distributed Ledger Technology –
DLT), que é um sistema bastante similar ao blockchain (ITALIA, 2019).

CONCLUSÕES

Os resultados da pesquisa demonstraram que há uma lacuna no que diz res-


peito à existência de ferramentas e metodologias aptas a garantir o dinamismo
e segurança na proteção de segredos industriais por parte de empresas que não
queiram ou não possam utilizar os meios tradicionais de proteção à Proprieda-
de Intelectual. Neste cenário, o blockchain desponta como uma tecnologia apta a
suprir esta necessidade, já que possui características técnicas adequadas, moldan-
do-se às necessidades dos usuários, podendo servir como repositório seguro para
documentos e contratos sigilosos.
Entretanto, a segurança e dinamismo no armazenamento dos documentos que
se pretende preservar, representam apenas uma parte do problema. A outra parte
diz respeito à aceitação, perante os tribunais nacionais, dos documentos e contra-
tos armazenados dessa forma, como meio de prova em caso de eventuais litígios
judiciais gerados pela quebra da confiança.
Quanto à aceitação do blockchain como meio de prova perante o ordenamento
jurídico brasileiro, constatou-se que a doutrina processualista civil brasileira pas-
sou a incluir o blockchain no rol de provas atípicas a serem utilizadas em eventuais
litígios civis. No mesmo sentido, os diplomas legais passaram, a partir do mesmo
ano, a demonstrar, ainda que tacitamente, a imprescindível necessidade de aceitar
o papel preponderante do blockchain como meio de prova eletrônica. Por fim, é
perceptível que a jurisprudência, quando instada a responder questões que envol-
vam especificamente o uso da tecnologia tem aceito como meio de prova apto a
comprovar as pretensões de quem delas se vale.

145
USO DO BLOCKCHAIN PARA PROTEÇÃO DO SEGREDO INDUSTRIAL

Internacionalmente, o reconhecimento do blockchain como meio de prova apto


a garantir a preservação de segredos industriais se mostra num estágio mais avan-
çado do que no Brasil, sendo possível identificar casos como os da China, EUA e
Itália, onde a tecnologia já é percebida como uma realidade incontornável, que
precisa ser rapidamente absorvida pelos respectivos ordenamentos jurídicos a fim
de garantir o dinamismo de suas economias.
Como proposta de estudos futuros, sugere-se investigar a utilização do segredo
industrial por empresas nacionais, identificando os métodos utilizados para pro-
teger estes ativos e os meios a serem utilizados como prova judicial, nos casos em
que ocorram a prática de concorrência desleal.

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148
ESTUDO DO POTENCIAL DE INDICAÇÃO
GEOGRÁFICA DA LINGUIÇA CASEIRA DE
JOSÉ DE FREITAS

Tiago Soares da Silva, Rafael Sales Almendra,


Suzana Leitão Russo, Daniel Pereira da Silva

INTRODUÇÃO

Ao registrar e proteger a Indicação Geográfica (IG) de produtos agrícolas, pe-


cuários, florestais e da pesca em circulação produzidos no país, objetiva-se melho-
rar a qualidade dos produtos especiais locais, além de garantir o avanço da compe-
titividade regional através da proteção do produtor, fornecendo informações aos
compradores (COSTANIGRO; SCOZZAFAVA; CASINI, 2019).
O significado principal de uma indicação geográfica consiste na representação
de um selo ou registro usado em produtos que têm uma origem geográfica específica
e/ou que possuam qualidades ou reputação advindas dessa origem (WIPO, 2015).
A proteção por indicação geográfica preserva “o saber fazer” de uma região ou
comunidade, protege o conhecimento tradicional passado de geração a geração.
Sendo assim, os produtores que conseguem o registro por indicação geográfica não
transferem processos tradicionais de seus produtos para algo menos oneroso que
dinamize a produção, mas diminua a qualidade dos produtos (DIAS, 2018).
Os produtos agroalimentares possuem uma estreita relação com o lugar onde
são produzidos, distribuídos e comercializados, cuja prática é antiga tal qual a exis-
tência dos mercados onde se realizam as transações (ZAN, 2017).
A cidade de José de Freitas, que está localizada a 48 km da capital do estado do
Piauí, carrega consigo a fama de um produto muito conhecido na microrregião de
Teresina: a linguiça caseira de José de Freitas.
O produto é feito de forma artesanal por pequenos produtores residentes na
cidade. Também conhecida como a Terra da Linguiça Caseira, José de Freitas tem
uma larga produção com foco especialmente local e à na capital Teresina.
Neste contexto, esta pesquisa teve a seguinte questão norteadora: qual o poten-
cial da linguiça caseira de José de Freitas conseguir o título de indicação geográfica?
Logo, o objetivo da pesquisa consistiu em compreender a potencialidade da
linguiça caseira de José de Freitas em adquirir o status de indicação geográfica.
ESTUDO DO POTENCIAL DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DA LINGUIÇA CASEIRA DE JOSÉ DE FREITAS

REVISÃO DE LITERATURA

Considerando o aumento da competição nos mercados, os fornecedores que


conseguem promover distinção junto aos clientes na oferta de produtos ou ser-
viços análogos geram importantes diferenciais competitivos (REZENDE; SILVA;
DANIEL, 2017). As indicações geográficas podem ser uma boa alternativa na bus-
ca por esta diferenciação.
A valorização de produtos regionais, especialmente aqueles produzidos pelos
pequenos produtores, ainda é pouco utilizada para promoção do desenvolvimento
dos territórios, tendo por base a proteção da tradição que os envolve. Esta pode
ser uma estratégia fundamental em regiões em que os negócios agrícolas desem-
penham um papel fundamental para a economia dos países subdesenvolvidos. A
concepção da IG representa uma importante estratégia de sustentabilidade para o
desenvolvimento econômico, social, territorial e tecnológico (SILVA, 2017).
No contexto dos pequenos produtores brasileiros, as indicações geográficas po-
dem representar um importante diferencial para que o sucesso na comercialização
de produtos ou serviços fornecidos a sociedade, promovendo ainda a manutenção
destas pessoas em suas cidades de origem.
Diante do exposto, observa-se que os produtos agroalimentares são aqueles que
possuem uma estreita relação com o lugar onde são produzidos, distribuídos e
comercializados, cuja prática é antiga tal qual a existência dos mercados onde se
realizam as transações (ZAN, 2017).
Avaliada como um tipo de propriedade intelectual, a Indicação Geográfica
corresponde a um instrumento legal muito importante para efeitos de proteção e
valorização de produtos oriundos de um território que guarda características his-
tóricas e de identidade local, resguardando características específicas, qualitativas
e de notoriedade (SILVA, 2017).
As Indicações Geográficas podem ser fundamentais na estratégia de uma orga-
nização, pois impactam no posicionamento do produto ou serviço, dado que são
identificadas pelos clientes como padrão quanto à qualidade e origem desses pro-
dutos. Outro diferencial importante é que o prazo para a proteção é ilimitado, di-
ferentemente de outras propriedades intelectuais, como as patentes (LIMA, 2016).
As Indicações Geográficas fazem referência a produtos ou serviços oriundos
de uma origem geográfica específica. O registro é importante porque reconhece
características, reputação e qualidades que estão ligadas a determinada região, tra-
zendo como resultado a informação ao mercado de que a região é especializada e
com capacidade de produção diferenciada e de excelência (INPI, 2015).

150
Tiago Soares da Silva, Rafael Sales Almendra, Suzana Leitão Russo, Daniel Pereira da Silva

Conforme estabelece a Lei de Propriedade Industrial No. 9.279 de 14 de maio


de 1996 – LPI/96 o produto certificado deve se enquadrar em uma das duas mo-
dalidades de IG: a denominação de origem e a indicação de procedência (BRASIL,
1996), como pode ser observado no Quadro 01.
De acordo com o Quadro 1, a Denominação de Origem (DO) refere-se ao
nome da origem geográfica de país, cidade, região ou localidade de seu território
que oferece determinado produto ou serviço, a qual é a responsável por lhe confe-
rir as qualidades peculiares. Já a Indicação de Procedência (IP) refere-se à região
conhecida por produzir ou oferecer determinado produto ou serviço desenvolvido
por um grupo de pessoas e que confere reputação à região, qualidade e caracterís-
ticas únicas a origem do produto ou serviço (AGUIAR; LEME, 2020).

Quadro 01 - Divisão das indicações geográficas

Indicação de procedência Denominação de origem


Nome geográfico de um país, cidade, região ou Nome geográfico de país, cidade, região ou lo-
uma localidade de seu território que se tornou calidade de seu território, que designe produto
conhecido como centro de produção, fabricação ou serviço cujas qualidades ou características se
ou extração de determinado produto ou presta- devam exclusiva ou essencialmente ao meio ge-
ção de determinado serviço. É importante lem- ográfico, incluídos fatores naturais e humanos.
brar que, no caso da indicação de procedência, Na solicitação da IG de denominação de origem,
é necessária apresentação de documentos que deverá ser apresentada também a descrição das
comprovem que o nome geográfico seja conheci- qualidades e as características do produto ou ser-
do como centro de extração, produção ou fabri- viço que se destacam, exclusiva ou essencialmen-
cação do produto ou prestação do serviço te, por causa do meio geográfico, ou aos fatores
naturais e humanos
Fonte: INPI(2015).

Assim, enquanto a DO centra-se em aspectos geográficos como clima, solo,


altitude, por exemplo, a IP é voltada para o know-how, ou seja, para os aspectos
humanos por meio do emprego do conhecimento e técnicas para o cultivo, colheita
e produção (MARTINS; VASCONCELLOS, 2020).
Segundo o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), as Indicações
Geográficas (IG) referem-se a produtos ou serviços que possuem uma origem ge-
ográfica específica e conferem um registro por meio de um selo de autenticidade,
o qual reconhece a reputação, qualidades e características vinculadas ao local de
produção ou origem desses produtos ou serviços, que são considerados pelos con-
sumidores como diferenciados e de excelência (BERTONCELLO; SILVA; GON-
DINHO, 2016).
A presença do selo de autenticidade confere ao produto um valor intrínseco
em função tanto dos recursos naturais aplicados na produção, quanto da maneira

151
ESTUDO DO POTENCIAL DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DA LINGUIÇA CASEIRA DE JOSÉ DE FREITAS

que se produz, o que leva o item a se distinguir daqueles similares existentes no


mercado. Segundo Carvalho e Dias (2012), a IG atesta ao consumidor a segurança
dos produtos, através de um instrumento jurídico reconhecido, frente a um com-
petitivo mercado globalizado.
Para solicitar pedidos de reconhecimento de IG é necessário que associações,
sindicatos, institutos ou qualquer outra pessoa jurídica de representatividade co-
letiva, com real interesse e instituída no respectivo território o faça, mediante uti-
lização de formulário próprio, o qual contém informações sobre a área geográfica
bem como sua demarcação. Não obstante, é necessária a descrição do produto ou
serviço, do comprovante do recolhimento do pagamento de depósito, da procura-
ção e das etiquetas que embalam o produto (CARVALHO; DIAS, 2012).
Conforme a Instrução Normativa 095 de 28 de Dezembro de 2018, para a IP são
essenciais as comprovações de que a localidade tornou-se conhecida como centro
de extração, produção ou fabricação do produto ou como centro de prestação de
serviço, expressos, por meio de reportagens de jornais e revistas, artigos científicos,
livros, músicas, dentre outros. Já a DO, além das informações já mencionadas é
indispensável a descrição das qualidades e características do produto ou serviço
que se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluindo fatores
naturais e humanos, assim como a descrição do processo ou método de obtenção
do produto ou serviço que devem ser locais, leais e constantes.
Interessante salientar a proposta por Rezende et al. (2015) no que concerne à
documentação necessária para a solicitação de registro de IG, como pode ser ob-
servada no Quadro 2.
Dentre os benefícios esperados pela certificação de um produto, as IG são uti-
lizadas essencialmente como um instrumento para promoção dos mesmos, com
intuito de geração de riqueza e proteção da região produtora, e tem como conse-
quência a geração de desenvolvimento regional, seja por meio das exportações de
produtos, pelo fortalecimento no mercado interno ou pela promoção de produtos
e seu patrimônio histórico e cultural (CASTRO; GIRALDI, 2015).
Quanto ao uso do selo da indicação geográfica, este é restrito aos produtores e
prestadores de serviço atuantes na região. No caso das denominações de origem,
faz-se necessário o atendimento de requisitos específicos de qualidade. Vale sa-
lientar que os produtores dentro da região têm a opção por adotar ou não o uso
do selo, independente de participarem da associação. Considera-se que o registro
referido de IG é de natureza declaratória (BRASIL, 1996).

152
Tiago Soares da Silva, Rafael Sales Almendra, Suzana Leitão Russo, Daniel Pereira da Silva

Quadro 2: Documentação necessária para a solicitação de registro de IG

Categoria Documentação
i) Requerimento (modelo I) do qual conste: a) o nome geográfico; b) a descri-
ção do produto ou serviço; ii) instrumento hábil a comprovar a legitimidade do
Documentação requerente; iii) regulamento de uso do nome geográfico; iv) instrumento oficial
geral conforme que delimita a área geográfica; v) etiquetas, quando se tratar de representação
art. 6º (comum a gráfica ou figurativa da IG ou de representação de país, cidade, região ou locali-
IP e DO) dade do território, bem como sua versão em arquivo eletrônico de imagem; vi)
procuração, se for o caso; e, vii) comprovante do pagamento da retribuição cor-
respondente
Para IP, além das condições estabelecidas no art. 6º, o pedido deverá conter: a)
documentos que comprovem ter o nome geográfico se tornado conhecido como
Documentação centro de extração, produção ou fabricação do produto ou de prestação de servi-
complementar ço; b) documento que comprove a existência de uma estrutura de controle sobre
para IP confor- os produtores ou prestadores de serviços que tenham o direito ao uso exclusivo
me da IP, bem como sobre o produto ou a prestação do serviço distinguido com a IP;
art. 8º c) documento que comprove estar os produtores ou prestadores de serviços es-
tabelecidos na área geográfica demarcada e exercendo as atividades de produção
ou prestação do serviço
Para DO, além das condições estabelecidas no art. 6º, o pedido deverá conter: a)
elementos que identifiquem a influência do meio geográfico na qualidade ou nas
características do produto ou serviço que se devam exclusivamente ou essencial-
mente ao meio geográfico, incluindo fatores naturais e humanos; b) descrição do
Documentação
processo ou método de obtenção do produto ou serviço, que devem ser locais,
complementar
leais e constantes; c) documento que comprove a existência de uma estrutura de
para DO
controle sobre os produtores ou prestadores de serviços que tenham o direito ao
conforme art. 9º
uso exclusivo da DO, bem como sobre o produto ou prestação do serviço distin-
guido com a DO; d) documento que comprove estar os produtores ou prestadores
de serviços estabelecidos na área geográfica demarcada e exercendo as atividades
de produção ou de prestação do serviço.

Fonte: Rezende et al. (2015).

Conforme apresentado nesta seção, as IG proporcionam para a região vanta-


gens econômicas, além de que podem ser geradoras de diferenciais competitivos
em termos de conhecimento da região ao atrair mais negócios que podem agregar
e complementar à indicação geográfica, proporcionando à região a oportunidade
de melhoria das condições de vida da população e reduzindo a necessidade dos
programas de transferência de renda, empoderando a comunidade (BERTON-
CELLO; SILVA; GONDINHO, 2016).

ASPECTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa definiu o produto regional piauiense Linguiça Caseira de José de


Freitas como objeto para analisar a possibilidade de aquisição do signo de indica-

153
ESTUDO DO POTENCIAL DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DA LINGUIÇA CASEIRA DE JOSÉ DE FREITAS

ção geográfica. Justifica-se a escolha pelo produto em função de o mesmo ser bas-
tante conhecido no estado do Piauí. Desta forma, o objeto de estudo desta pesquisa
se caracteriza como um estudo de caso, que de acordo com Yin (2015), consiste em
uma pesquisa empírica que estuda um conteúdo contemporâneo no cenário da
vida real que o pesquisador não tem controle.
A pesquisa é caracterizada como qualitativa, que conforme Bogdan & Biklen
(2003), envolve aspectos como ambiente natural, a descrição dos dados, trabalho
com o processo, com o significado e com a análise indutiva.
Quanto aos objetivos da pesquisa, esta pode ser caracterizada como descritiva
que conforme Gil (2019), a pesquisa descritiva tem por propósito descrever carac-
terísticas de determinada população ou fenômeno, ou relacionar variáveis.
No que concerne à técnica de coleta de dados, este estudo é do tipo documen-
tal, posto que, conforme salientam Lakatos e Marconi (2017) e Gil (2019) a coleta
de dados se dá não somente em autores bibliográficos, mas também em produções
que não tiveram o tratamento científico, muitas vezes dispersos no espaço, como
arquivos particulares e sites de internet.
Para a realização desta pesquisa, utilizou-se como mecanismo de busca: lingui-
ça and “josé de freitas” nos portais das Instituições Científicas e Tecnológicas – ICT
piauienses, organizações públicas e privadas, portal de periódicos da CAPES e no
Google acadêmico.
Nas buscas realizadas, observou-se que o sítio eletrônico da cidade de José de
Freitas se encontra em manutenção, dispondo apenas de informações relativas aos
contracheques de servidores, Nota Fiscal Eletrônica e a Transparência.
Em relação às pesquisas realizadas nas ICT do estado do Piauí, que são a Univer-
sidade Federal do Piauí – UFPI, a Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Instituto
Federal do Piauí – IFPI e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRA-
PA, não foi detectada a realização de trabalhos relacionados com tal temática.
As informações sobre o produto foram coletadas no período compreendido
entre os meses de setembro e novembro de 2019, contemplado, portanto, todas as
informações relativas à Linguiça Caseira de José de Freitas.

ANÁLISE DE RESULTADOS

Esta pesquisa faz menção a um item produzido na cidade de José de Freitas,


localizada a 48 km da capital do estado do Piauí, que carrega consigo a fama de um
produto muito conhecido na microrregião de Teresina: a linguiça caseira de José de
Freitas. O produto é feito de forma artesanal por pequenos produtores residentes

154
Tiago Soares da Silva, Rafael Sales Almendra, Suzana Leitão Russo, Daniel Pereira da Silva

na cidade. Também conhecida como a Terra da Linguiça Caseira, José de Freitas


tem uma larga produção com foco especialmente local e a capital Teresina. Vale
salientar que o IFPI dispõe de um Campus Avançado na cidade de José de Freitas.
A cidade de José de Freitas está localizada na região do chamado Entre Rios,
que tem esta denominação por estar localizada entre os rios Poti e Parnaíba, sendo
este o mais importante do estado.
Segundo a Secretaria de Estado de Planejamento do Piauí – SEPLAN, a região
apresenta as seguintes potencialidades: turismo de negócios e eventos; polos de
saúde e educação; Produção de hortifrutis (Teresina); produção de açúcar e etanol;
produção de aves e ovos; extrativismo vegetal: babaçu; agroindústria: cajuína, be-
neficiamento de castanha de caju, produção de doces; indústrias: cerâmica, vestuá-
rio, química, bebidas e alimentos, móveis em madeira e metal; comércio e serviços.
A linguiça caseira de José de Freitas não é lembrada.

Figura 01: Territórios de Desenvolvimento do Piauí – Mapa de Potencialidades

Fonte: Secretaria de Estado de Planejamento do Piauí/SEPLAN, 2019.

Nos diversos blogs e portais das cidades de Teresina e José de Freitas, há regis-
tros que tratam e apresentam o produto como bastante conhecido na região.
Em matéria publicada pelo portal meio norte, de 02/06/2014, a matéria trata
sobre “Encontro de tradições juninas aquece o comércio local em José de Frei-
tas”. Um trecho aborda: “A Terra da Linguiça Caseira se transformará num enorme
palco de tradições, atrações folclóricas e culturais de todo a região.” (Portal Meio
Norte, 2014, online).
O website Cidadeverde.com é outro portal muito conhecido no Piauí. Em
19/10/13, houve a publicação da matéria “Viva Piauí: culinária dos municípios é

155
ESTUDO DO POTENCIAL DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DA LINGUIÇA CASEIRA DE JOSÉ DE FREITAS

destaque com degustação”, que tratava das festividades do aniversário do Piauí em


que eram apresentadas algumas das potencialidades do estado. Conforme a maté-
ria, “José de Freitas tem a linguiça caseira como sua iguaria maior: a carne de porco
cortada em pedacinhos e bem temperada, devidamente frita e servida com arroz
ou mesmo com o tira-gosto às margens da Barragem do Bezerro.” (Portal Cidade
Verde, 2013, online).
Em 2006, a Feira do Empreendedor, evento realizado pelo Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE, na matéria “Espaço Prefeito
Empreendedor destaca-se pela criatividade”, o município de José de Freitas apre-
sentou sua festa tradicional e o seu produto mais tradicional: “No sábado (18),
José de Freitas mostrará o seu tradicional Zé Pereira, que acontece no carnaval.
Na ocasião, serão servidos cachaça e a linguiça caseira fabricada no município.”
(Portal SEBRAE, 2006, online).
Nas buscas realizadas no portal de periódicos da CAPES e no Google acadêmico,
não foram encontradas pesquisas relacionadas à linguiça caseira de José de Freitas.
Conforme o exposto, a linguiça caseira ainda não alcançou o mesmo patamar
de um outro produto muito famoso na região, que é a cajuína. Diferentemente,
este produto virou música composta por artistas famosos, como Caetano Veloso,
descrita na música Cajuína.

Cajuína
Caetano Veloso

Existirmos: a que será que se destina?


Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina

Percebe-se, pela letra da música, que o cantor e compositor expressa não ape-
nas o produto, mas sua origem, objeto das indicações geográficas. Pelo revelado,
reforça-se de forma conclusiva que o produto é produzido na cidade de Teresina,
capital do estado do Piauí.

156
Tiago Soares da Silva, Rafael Sales Almendra, Suzana Leitão Russo, Daniel Pereira da Silva

De acordo com as pesquisas realizadas, as informações relativas à linguiça ca-


seira de José de Freitas estão dispersas e em quantidade limitada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As indicações geográficas são importantes instrumentos de desenvolvimento


regional, especialmente para países em desenvolvimento, tendo por base produtos
ou saberes locais que colaboram para o crescimento econômico local.
Além disso, podem ser igualmente importantes para que os pequenos produto-
res possam conviver em harmonia com a natureza, promovendo a sustentabilida-
de, proporcionando melhores condições de vida para a sociedade.
A linguiça caseira de José de Freitas apresenta características marcantes do sa-
ber fazer da culinária tradicional piauiense que se destaca pela qualidade e sabor
diferenciado. É um produto muito conhecido na região centro-norte do estado do
Piauí, mais especificamente na própria cidade em que há a produção como na ca-
pital, apresenta potencial para que se possa alcançar o selo de indicação geográfica.
As informações e divulgação do produto ainda são espaças e escassas, haven-
do ainda a necessidade de organização por parte dos produtores. Não se sabe ao
certo a quantidade de produtores nem onde estão localizados, algo essencial para
aquisição do selo.
Outro aspecto que vale salientar é a ausência de estudos relativos ao produ-
to, uma vez que não foram encontradas pesquisas relacionadas em nenhumas das
instituições científicas e tecnológicas do estado. Ainda, de acordo com os dados
coletados e conforme a legislação em vigor, a linguiça caseira de José de Freitas não
reúne todos os elementos necessários para que se possa solicitar e conseguir o selo
de indicação de procedência. Recomenda-se que a Prefeitura daquela cidade pos-
sa desenvolver estratégias no intuito de promover ações, tais como: levantamento
dos produtores de linguiça caseira, eventos, feiras, dentre outros, que possam criar
registros dos produtos, além de buscar parcerias com instituições científicas e tec-
nológicas, bem como outras entidades, como o SEBRAE.
Desta forma, acredita-se que o produto possa alcançar tamanho patamar, o
que poderá alavancar também outros produtos que são atualmente feitos no mu-
nicípio, além de promover a cidade para o restante do país ou até mesmo em nível
global. Sugere-se que em pesquisas futuras sejam realizados estudos in loco com os
produtores afim de coletar informações sobre o processo de fabricação observando
se há um padrão ou até mesmo um item específico que torne o produto peculiar.

157
ESTUDO DO POTENCIAL DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DA LINGUIÇA CASEIRA DE JOSÉ DE FREITAS

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160
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA
ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER
A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

INTRODUÇÃO

A inovação tem um papel fundamental no desenvolvimento de qualquer país


e dentro desse contexto o tema Indústria 4.0 tem recebido grande destaque no
debate internacional, com vários países adotando ações específicas para adaptar
seus ambientes inovativos para esta nova realidade (BIENHAUS; HADDUD, 2018;
IEDI, 2018).
No Brasil esse tema ainda está muito pulverizado, com várias ações ocorrendo
de forma desconexa, dificultando o alcance de resultados mais tangíveis. A exis-
tência de muitos atores com os mesmos objetivos enfraquece o potencial das ações
tanto pela ineficiência no uso dos recursos, quanto pela dificuldade dos beneficiá-
rios conseguirem entender como participar de tantas ações ocorrendo em paralelo
(IEDI, 2019; CNI, 2016).
Diante da importância do tema Indústria 4.0 para o desenvolvimento do país,
envolvendo uma complexa interação entre uma grande quantidade de atores, den-
tro da lógica da tríplice hélice, com a participação de Governo, Empresas e ICTs,
faz-se necessário que o Brasil rapidamente encontre um modelo que permita ace-
lerar a adoção de tecnologias alinhadas com esta nova realidade (KAPLAN; NOR-
TON, 2004; IEDI, 2018; CNI, 2018).
Assim, este estudo visa realizar uma análise estatística do Mapa Estratégico
Teórico para desenvolver a Indústria 4.0 no Brasil, proposto no estudo de Lima
(2020), sob o ponto de vista de especialistas de diversas instituições que atuam
direta ou indiretamente com o tema.
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa utiliza as abordagens qualitativa e quantitativa, que utiliza prima-


riamente afirmações baseadas em hipóteses e raciocínio de causa e efeito, utilizan-
do estratégias de investigação como o levantamento e coleta de dados.
A partir da proposta do mapa estratégico teórico proposto no estudo de Lima
(2020) foi elaborado um questionário, sendo este submetido à avaliação de diver-
sas instituições que têm experiência na interação com indústrias e que atuam de
alguma forma com o tema Indústria 4.0.
Para a avaliação do modelo foi utilizado um instrumento de coleta, que teve
como objetivo identificar o potencial do impacto das ações que foram propostas no
mapa estratégico teórico para acelerar a inovação tecnológica voltada para Indústria
4.0 nas indústrias brasileiras. O questionário possuía uma escala de Likert de cinco
pontos, ou seja, i) 1 = Potencial extremamente baixo de impacto positivo; ii) 2 = Po-
tencial baixo de impacto positivo; iii) 3 = Potencial médio de impacto positivo; iv) 4
= Potencial elevado de impacto positivo ; v) 5 = Potencial extremamente elevado de
impacto positivo. No Quadro 1 estão apresentadas as referidas escalas e suas divisões.

Quadro 1 - Escala do instrumento de coleta de dados referentes aos construtos

Blocos Construto Tipo de Escala


Bloco 1 Ambiente colaborativo para inovação Likert - 5 pontos
Bloco 2 Pessoas qualificadas para a inovação Likert - 5 pontos
Bloco 3 Fomento e financiamento para inovação Likert - 5 pontos
Bloco 4 Marco legal da inovação e cultura de propriedade intelectual Likert - 5 pontos
Bloco 5 Infraestrutura de suporte à inovação Likert - 5 pontos
Fonte: Elaborado pelo autor, 2020.

Para a pesquisa quantitativa utilizou-se o Programa Computacional Estatístico


(SPSS), disponível na Universidade Federal de Sergipe, no Departamento de Esta-
tística e Ciências Atuariais.
Inicialmente foi prevista a coleta de dados primários em 106 instituições divi-
didas em Instituições Governamentais; Institutos SENAI de Inovação (ISI); Ins-
titutos Credenciados EMBRAPII; e, Associações Nacionais da Indústria. Porém
o início da aplicação do questionário ocorreu no inicio de março/2020 e com o
fechamento de várias instituições devido à Pandemia da COVID-19, só foi possível
coletar a resposta de 19 instituições.

162
Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

A partir destas respostas foi realizada uma análise de frequências, com o per-
fil e a visão geral dos entrevistados sobre os itens propostos para acelerar no
Brasil o desenvolvimento e adoção de tecnologias e inovações voltadas para a
Indústria 4.0.
Para validação estatística da pesquisa foi realizada uma Análise Fatorial Explo-
ratória intrabloco e outra entre os blocos, validando-se os resultados através dos
testes Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e de Bartlett, analisando-se ainda a consistência
interna dos itens do questionário, através do Alpha de Cronbach.

PESQUISA COM ESPECIALISTAS SOBRE O MAPA ESTRATÉGICO


TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

Foi realizada uma pesquisa para identificar a percepção de especialistas sobre


a proposta de Mapa Estratégico Teórico para Desenvolver a Indústria 4.0 no Brasil
apresentada pelo estudo de Lima e Russo (2020), sendo os principais resultados
apresentados a seguir.

MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO

A partir de uma revisão bibliográfica e sistematização e análise de dados se-


cundários Lima e Russo (2020) propuseram um Mapa Estratégico Teórico para
Desenvolver a Indústria 4.0 no Brasil.
O Mapa Estratégico proposto conta com 5 perspectivas, sendo eles “Ambiente
colaborativo para inovação”, “Pessoas qualificadas para a inovação”, “Fomento e
financiamento para inovação”, “Marco legal da inovação e cultura de propriedade
intelectual” e “Infraestrutura de suporte à inovação” e seus respectivos objetivos
estratégicos, como pode ser visto na Figura 1.
A partir das perspectivas e dos objetivos apresentados anteriormente por Lima
(2020) propuseram também um painel com dezessete ações estratégicas, sendo
pelo menos uma para cada um dos onze objetivos, conforme pode ser visto no
Quadro 2.

163
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

Figura 1 - Mapa estratégico teórico para desenvolver a indústria 4.0 no Brasil

Ambiente colaborativo para inovação


Desafio: Superar barreiras para uma interação mais fluida entre atores do ambiente de inovação.
O.E. 1: Definir atividades eco- O.E. 2: Executar projetos alinha- O.E. 3: Ampliar interação entre
nômicas com maior potencial dos ao modelo da Indústria 4.0 e as universidades e empresas,
de integração ao modelo da In- com foco nas atividades mapea- nas atividades voltadas para a
dústria 4.0 nos estados e muni- das, em vários estados, para difun- Indústria 4.0.
cípios brasileiros. dir essa política pública no país.

Pessoas qualificadas para a inovação


Desafio: Estimular a formação (qualificação) de profissionais adequados às demandas da indústria 4.0.
O.E. 4: Definir áreas de conheci- O.E. 5: Ofertar formações/qualificações voltadas para a Indústria
mento mais relevantes para o Bra- 4.0.
sil, no tema Indústria 4.0.
Fomento e financiamento para inovação
Desafio: Desburocratizar e preparar pesquisadores (de empresas e ICTs) para a captação de recursos
para a inovação voltada à Indústria 4.0.
O.E. 6: Ampliar a oferta de meca- O.E. 7: Ampliar o uso de mecanismos de fomento/financiamen-
nismos de fomento/financiamen- to para a Indústria 4.0.
to adequados à Indústria 4.0.
Marco legal da inovação e cultura de propriedade intelectual
Desafio: Tornar o marco legal mais funcional em relação à realidade da Indústria 4.0 e estimular o
maior uso da PI no Brasil.
O.E. 8: Aperfeiçoar marco legal O.E. 9: Aperfeiçoar Sistema de PI para ampliar o seu uso pelas
do Brasil para atender às necessi- empresas.
dades da Indústria 4.0.
Infraestrutura de suporte à inovação
Desafio: Facilitar o acesso à infraestrutura necessária para o desenvolvimento de projetos inovadores
voltados para a Indústria 4.0.
O.E. 10: Aperfeiçoar a infraestru- O.E. 11: Criar mecanismos de estímulo ao uso da infraestrutu-
tura voltada para C,T&I existente ra de C,T&I para desenvolvimento de tecnologias voltadas para
para atender às demandas volta- oportunidades da Indústria 4.0.
das para oportunidades da Indús-
tria 4.0.
Fonte: Adaptado de LIMA, 2020.

164
Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

Quadro 2 – Objetivos Estratégicos e respectivas ações

Objetivos Ações
1- Definir atividades econômicas 1.1- Implantar política pública estratégica de desenvolvimento
com maior potencial de integra- econômico voltada para a Indústria 4.0, como política de Estado.
ção ao modelo da Indústria 4.0 1.2- Definir atores relevantes e seus papéis potenciais no modelo
nos estados e municípios brasi- da indústria 4.0.
leiros. 1.3- Mapear, nos estados e municípios brasileiros, atividades eco-
nômicas brasileiras com maior potencial de integração ao modelo
da Indústria 4.0
2- Executar projetos alinhados 2.1- Mapear e sistematizar informações sobre atores relevantes e
ao modelo da Indústria 4.0 e com seus papéis potenciais, no modelo da Indústria 4.0, nos níveis fe-
foco nas atividades mapeadas, deral, estadual e municipal.
em vários estados, para difundir
essa política pública no país.
3- Ampliar interação entre as 3.1- Desenvolver modelo de interação entre ICTs e empresas nas
universidades e empresas, nas atividades voltadas para a Indústria 4.0.
atividades voltadas para a Indús- 3.2- Estimular implantação de modelo de interação entre ICTs e
tria 4.0. empresas nas atividades voltadas para a Indústria 4.0 em todos os
estados.
4- Definir áreas de conhecimento 4.1- Mapear áreas do conhecimento mais relevantes para a geração
mais relevantes para o Brasil, no de tecnologias voltadas para a Indústria 4.0.
tema Indústria 4.0.
5- Ofertar formações/qualifica- 5.1- Definir cursos/formações prioritários, voltados para a Indústria 4.0.
ções voltadas para a Indústria 5.2- Estimular a oferta de cursos/qualificações voltados para a Indús-
4.0. tria 4.0 em instituições de formação técnica, de ensino superior e ou-
tras instituições com capacidade para qualificar pessoas nesse tema.
6- Ampliar a oferta de mecanis- 6.1- Mapear mecanismos de fomento/financiamento voltados para
mos de fomento/financiamento a Indústria 4.0 e propor adequações/novos mecanismos.
adequados à Indústria 4.0.
7- Ampliar o uso de mecanismos 7.1- Ampliar acesso às informações sobre mecanismos para fo-
de fomento/financiamento para a mentar/financiar inovações voltadas para Indústria 4.0
Indústria 4.0. 7.2- Ofertar qualificações para que as ICTs e empresas aumentem
o uso dos mecanismos voltados ao fomento/financiamento de ino-
vações voltadas para Indústria 4.0.
8- Aperfeiçoar marco legal do 8.1- Mapear marcos legais específicos para a indústria 4.0 nos pa-
Brasil para atender às necessida- íses mais avançados no tema e propor marco legal específico para
des da Indústria 4.0. estimular a Indústria 4.0 no Brasil.
9- Aperfeiçoar Sistema de PI para 9.1- Mapear aperfeiçoamentos nos sistemas de PI, realizados nos
ampliar o seu uso pelas empresas. países mais avançados e no tema Indústria 4.0, e propor melhorias
no sistema brasileiro, ampliando o uso pelas empresas.
10- Aperfeiçoar a infraestrutura 10.1- Mapear infraestrutura existente no Brasil, voltada para C,-
voltada para C,T&I existente para T&I, suas deficiências em relação às necessidades oriundas da In-
atender às demandas voltadas para dústria e 4.0 e propor melhorias.
oportunidades da Indústria 4.0.
11- Criar mecanismos de estí- 11.1- Mapear e sistematizar informações sobre as potencialidades
mulo ao uso da infraestrutura de da infraestrutura existente/aperfeiçoada, para o desenvolvimento
C,T&I para desenvolvimento de de projetos voltados à Indústria 4.0.
tecnologias voltadas para oportu-
nidades da Indústria 4.0.
Fonte: Adaptado de LIMA, 2020.

165
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

PERFIL DOS ENTREVISTADOS

Conforme Figura 2, a maioria dos entrevistados (63,2%) possui pós-graduação,


sendo que destes 31,66 % possuem Doutorado, vindo em seguida os que possuem
nível superior, com 36,8% das respostas.

Figura 2 – Maior Titularidade

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

A maioria dos respondentes é da área das engenharias, correspondendo a


63,2% das respostas, vindo em seguida as ciências sociais e aplicadas e as ciências
humanas, ambas com 15,8%. Ver Figura 3.

Figura 3 – Área de Formação

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

166
Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

A maior parte dos entrevistados avalia o seu próprio conhecimento sobre o


tema Indústria 4.0 como intermediário, com 68,4% das respostas, vindo em segui-
da os que consideram elevado, com 26,3%, conforme Figura 4.

Figura 4 – Como você avalia o seu conhecimento sobre Indústria 4.0

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

Quando perguntados sobre o tempo de atuação com o tema Indústria 4.0 ve-
rifica-se que a maioria possui mais de 1 ano e menos de 3 anos (42,1%), vindo em
seguida os que possuem até 1 ano, com 31,6% das respostas. Ver Figura 5.

Figura 5 – Tempo (em anos) de atuação com o tema Indústria 4.0

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

167
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

AVALIAÇÃO DAS PROPOSTAS DE OBJETIVOS ESTRATÉGICOS E RESPEC-


TIVAS AÇÕES

Os entrevistados foram questionados sobre a sua percepção quanto ao poten-


cial impacto positivo que os objetivos estratégicos e suas respectivas ações teriam
no desenvolvimento da indústria 4.0 no Brasil, caso fossem implementados, dentro
da lógica de cada uma das cinco perspectivas propostas.

PERSPECTIVA “AMBIENTE COLABORATIVO PARA INOVAÇÃO”

Essa perspectiva contou com os objetivos estratégicos “1. Definir atividades


econômicas com maior potencial de integração ao modelo da Indústria 4.0 nos
estados e municípios brasileiros”, “2. Executar projetos alinhados ao modelo da
Indústria 4.0 e com foco nas atividades mapeadas, em vários estados, para difundir
essa política pública no país” e “3. Ampliar interação entre as universidades e em-
presas, nas atividades voltadas para a Indústria 4.0.”.
Ao se analisar a opinião dos especialistas sobre os objetivos apontados anterior-
mente percebe-se alinhamento com o resultado de outros estudos (PACAGNELLA
JÚNIOR; PORTO, 2011; CNI, 2018) que apontam que tais objetivos propiciam a
cooperação em pesquisa e desenvolvimento, gerando um ambiente inovativo com
resultados positivos mais significativos.
Ao se avaliar de forma mais detalhada a opinião dos entrevistados verifica-se
que o Objetivo Estratégico 1 “Definir atividades econômicas com maior potencial
de integração ao modelo da Indústria 4.0 nos estados e municípios brasileiros” tem
um potencial “elevado” ou “extremamente elevado” para gerar um impacto posi-
tivo na inserção, de forma mais veloz, das empresas brasileiras na era da Indústria
4.0 no Brasil, pois a soma dessas duas respostas foi de 63,2%, sendo a ação “1.1
Implantar política pública estratégica de desenvolvimento econômico voltada para
a Indústria 4.0, como política de Estado” a mais relevante, com potencial elevado
ou muito elevado para 73,7% dos entrevistados. Ver Figura 6.

168
Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

Figura 6 – Avaliação do impacto do Objetivo Estratégico 1 e suas respectivas ações.

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

Ao se analisar o Objetivo Estratégico 2 “Executar projetos alinhados ao mode-


lo da Indústria 4.0 e com foco nas atividades mapeadas, em vários estados, para
difundir essa política pública no país” verifica-se que possui impacto positivo “ele-
vado” ou “extremamente elevado” para 68,4%, possuindo, a ação proposta para o
seu alcance “2.1 Mapear e sistematizar informações sobre atores relevantes e seus
papéis potenciais, no modelo da Indústria 4.0, nos níveis federal, estadual e muni-
cipal” o mesmo nível de avaliação para 57,9%. Ver Figura 7.

Figura 7 – Avaliação do impacto do Objetivo Estratégico 2 e suas respectivas ações.

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

Ao se analisar o Objetivo Estratégico 3 “Ampliar interação entre as universida-


des e empresas, nas atividades voltadas para a Indústria 4.0” verifica-se que pos-
sui impacto “elevado” ou “extremamente elevado” para 73,7%, possuindo, a ação

169
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

proposta para o seu alcance “3.1 Desenvolver modelo de interação entre ICTs e
empresas nas atividades voltadas para a Indústria 4.0” o mesmo tipo de avaliação
para 84,2%. Ver Figura 8.

Figura 8 – Avaliação do impacto do Objetivo Estratégico 3 e suas respectivas ações.

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

PERSPECTIVA PESSOAS QUALIFICADAS PARA A INOVAÇÃO

Essa perspectiva contou com os objetivos estratégicos “4. Definir áreas de co-
nhecimento mais relevantes para o Brasil, no tema Indústria 4.0” e “5. Ofertar for-
mações/qualificações voltadas para a Indústria 4.0”.
A opinião apresentada pelos especialistas sobre os temas desses objetivos está
alinhada com os resultados do estudo de Chibás, Pantaleón e Rocha (2013) e com
estudos da CNI (2018) e do IBGE (2020), que apontam a falta de pessoal qualifi-
cado como um grande desafio para o fortalecimento das atividades inovadoras nas
indústrias brasileiras.
Ao se analisar especificamente o Objetivo Estratégico 4 “Definir áreas de co-
nhecimento mais relevantes para o Brasil, no tema Indústria 4.0” verifica-se que
possui impacto “elevado” ou “extremamente elevado” para 84,3%, possuindo, a
ação proposta para o seu alcance “4.1 Mapear áreas do conhecimento mais re-
levantes para a geração de tecnologias voltadas para a Indústria 4.0” 78,9% das
avaliações como sendo de elevado impacto. Ver Figura 9.

170
Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

Figura 9 – Avaliação do impacto do Objetivo Estratégico 4 e suas respectivas ações.

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

Ao se analisar o Objetivo Estratégico 5 “Ofertar formações/qualificações volta-


das para a Indústria 4.0” verifica-se que possui impacto “elevado” ou “extremamente
elevado” para 78,9%, possuindo, a ação proposta para o seu alcance “5.2 Estimular a
oferta de cursos/qualificações voltados para a Indústria 4.0 em instituições de forma-
ção técnica, de ensino superior e outras instituições com capacidade para qualificar
pessoas nesse tema” o mesmo tipo de avaliação para 84,2%. Ver Figura 10.

Figura 10 – Avaliação do impacto do Objetivo Estratégico 5 e suas respectivas ações.

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

171
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

PERSPECTIVA FOMENTO E FINANCIAMENTO PARA INOVAÇÃO

Essa perspectiva contou com os objetivos estratégicos “6. Ampliar a oferta de


mecanismos de fomento/financiamento adequados à Indústria 4.0” e “7. Ampliar o
uso de mecanismos de fomento/financiamento para a Indústria 4.0”.
As opiniões dos especialistas entrevistados, sobre esse tema, coadunam-se com
os resultados de outros estudos, a exemplo dos realizados por Maçaneiro e Che-
robim (2011) e Silva e Dacorso (2013) e dados da pesquisa PINTEC 2017 (IBGE,
2020), onde se verifica que entre as barreiras à inovação nas empresas brasileiras de
transformação, merecem destaque as questões financeiras.
A análise detalhada dos resultados da pesquisa reforça justamente esta preocu-
pação, pois no Objetivo Estratégico 6 “Ampliar a oferta de mecanismos de fomento/
financiamento adequados à Indústria 4.0” verifica-se que a execução deste objetivo
tem potencial para gerar um impacto “elevado” ou “extremamente elevado” para
84,3% dos entrevistados, possuindo, a ação proposta “6.1 Mapear mecanismos de
fomento/financiamento voltados para a Indústria 4.0 e propor adequações/novos
mecanismos” o mesmo tipo de avaliação na opinião de 84,2%. Ver Figura 11.

Figura 11 – Avaliação do impacto do Objetivo Estratégico 6 e suas respectivas ações.

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

Ao se analisar o Objetivo Estratégico 7 “Ampliar o uso de mecanismos de fo-


mento/financiamento para a Indústria 4.0” verifica-se que possui impacto “eleva-
do” ou “extremamente elevado” para 89,5%, possuindo, a ação proposta para o seu
alcance “7.2 Ofertar qualificações para que as ICTs e empresas aumentem o uso
dos mecanismos voltados ao fomento/financiamento de inovações voltadas para
Indústria 4.0” o mesmo tipo de avaliação para 89,4%. Ver Figura 12.

172
Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

Figura 12 – Avaliação do impacto do Objetivo Estratégico 7 e suas respectivas ações.

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

PERSPECTIVA MARCO LEGAL DA INOVAÇÃO E CULTURA DE PROPRIE-


DADE INTELECTUAL

Essa perspectiva contou com os objetivos estratégicos “8. Aperfeiçoar marco


legal do Brasil para atender às necessidades da Indústria 4.0” e “9. Aperfeiçoar
Sistema de PI para ampliar o seu uso pelas empresas”.
Ao se analisar o estudo de Cornell University, Insead e WIPO (2019) verifica-
-se que está em harmonia com a opinião dos especialistas sobre essa perspectiva e
seus objetivos/ações, pois mostra que este tema tem grande relevância no estímulo
empresarial, gerando o crescimento dos negócios existentes, bem como a atração
de novos investimentos inovativos.
Analisando-se o Objetivo Estratégico 8 “Aperfeiçoar marco legal do Brasil para
atender às necessidades da Indústria 4.0” verifica-se que possui impacto “eleva-
do” ou “extremamente elevado” para 68,9%, possuindo, a ação proposta para o
seu alcance “8.1 Mapear marcos legais específicos para a indústria 4.0 nos países
mais avançados no tema e propor marco legal específico para estimular a Indústria
4.0 no Brasil” o mesmo tipo de avaliação para mais da metade dos entrevistados
(52,7%). Ver Figura 13.

173
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

Figura 13 – Avaliação do impacto do Objetivo Estratégico 8 e suas respectivas ações.

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

Ao se analisar o Objetivo Estratégico 9 “Aperfeiçoar Sistema de PI para ampliar


o seu uso pelas empresas” verifica-se que possui impacto elevado para quase me-
tade dos entrevistados (47,4%). A ação proposta para o seu alcance “9.1 Mapear
aperfeiçoamentos nos sistemas de PI, realizados nos países mais avançados e no
tema Indústria 4.0, e propor melhorias no sistema brasileiro, ampliando o uso pe-
las empresas” foi avaliada como de impacto “elevado” ou “extremamente elevado”
para mais da metade dos entrevistados (52,7%). Ver Figura 14.

Figura 14 – Avaliação do impacto do Objetivo Estratégico 9 e suas respectivas ações.

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

174
Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

PERSPECTIVA INFRAESTRUTURA DE SUPORTE À INOVAÇÃO

Essa perspectiva contou com os objetivos estratégicos “10. Aperfeiçoar a in-


fraestrutura voltada para C,T&I existente para atender às demandas voltadas para
oportunidades da Indústria 4.0” e “11. Criar mecanismos de estímulo ao uso da
infraestrutura de C,T&I para desenvolvimento de tecnologias voltadas para opor-
tunidades da Indústria 4.0”.
Os estudos de Almeida, Silva e Oliveira (2014), da CNI (2018) e do IEDI (2019)
mostram que investimentos em infraestrutura voltada para atender às necessida-
des inovativas empresariais, possibilitam maior velocidade na colocação de produ-
tos inovadores no mercado, propiciando também maior competitividade, estando
estes resultados alinhados às opiniões emitidas pelos especialistas consultados so-
bre o tema.
A análise do Objetivo Estratégico 10 “Aperfeiçoar a infraestrutura voltada para
C,T&I existente para atender às demandas voltadas para oportunidades da Indús-
tria 4.0” mostra que ele tem impacto “elevado” ou “extremamente elevado” para
78,9%, possuindo, a ação proposta para o seu alcance “10.1 Mapear infraestrutura
existente no Brasil, voltada para C,T&I, suas deficiências em relação às necessi-
dades oriundas da Indústria e 4.0 e propor melhorias” o mesmo tipo de avaliação
para mais da metade do entrevistados (57,9%). Ver Figura 15.

Figura 15 – Avaliação do impacto do Objetivo Estratégico 10 e suas respectivas ações.

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

Ao se analisar o Objetivo Estratégico 11 “Criar mecanismos de estímulo ao


uso da infraestrutura de C,T&I para desenvolvimento de tecnologias voltadas para

175
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

oportunidades da Indústria 4.0” verifica-se que o mesmo tem impacto “elevado” ou


“extremamente elevado” para 57,9%, possuindo, a ação proposta para o seu alcance
“11.1 Mapear e sistematizar informações sobre as potencialidades da infraestrutu-
ra existente/aperfeiçoada, para o desenvolvimento de projetos voltados à Indústria
4.0” o mesmo tipo de avaliação para 63,2% dos entrevistados. Ver Figura 16.

Figura 16 – Avaliação do impacto do Objetivo Estratégico 11 e suas respectivas ações.

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

De forma sintética, levando-se em consideração apenas o somatório das res-


postas indicando impacto positivo “elevado” ou “extremamente elevado”, ao se
comparar as respostas referentes exclusivamente aos objetivos estratégicos pro-
postos, verifica-se na Figura 17 que o objetivo 7 “Ampliar o uso de mecanismos
de fomento/financiamento para a Indústria 4.0” recebeu o maior percentual de
respostas (89,5%), seguido pelos objetivos 6 “Ampliar a oferta de mecanismos de
fomento/financiamento adequados à Indústria 4.0” e 4 “Definir áreas de conheci-
mento mais relevantes para o Brasil, no tema Indústria 4.0”, ambos com 84,2% das
respostas.
Avaliando-se as respostas referentes exclusivamente às ações estratégicas pro-
postas, levando-se em consideração apenas o somatório das respostas indicando
impacto positivo “elevado” ou “extremamente elevado”, verifica-se na Figura 18 que
a ação 7.2 “Ofertar qualificações para que as ICTs e empresas aumentem o uso
dos mecanismos voltados ao fomento/financiamento de inovações voltadas para
Indústria 4.0” é a mais relevante para 89,5%, seguido pela ação 3.1 “Desenvolver
modelo de interação entre ICTs e empresas nas atividades voltadas para a Indústria
4.0”, que mereceu maior destaque para 84,2% dos entrevistados.

176
Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

Figura 17 - Objetivos Estratégicos de acordo com o percentual de respondentes que indicaram grau
de importância “Elevado” ou “Extremamente elevado”.

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

Figura 18 - Ações estratégicas de acordo com o percentual de respondentes que indicaram grau de
importância “Elevado” ou “Extremamente elevado”.

Fonte: Pesquisa direta, 2020.

ANÁLISE FATORIAL EXPLORATÓRIA

Nesta etapa, a partir dos construtos desenvolvidos, conforme Quadro 14, es-
tabeleceram-se os fatores de cada construto separadamente, através da seguinte
sequência:

177
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

a) Análise Fatorial Exploratória (AFE) intrabloco, usando o método das com-


ponentes principais com rotação Varimax, que foi realizada separadamente a cada
item dos construtos no sentido de verificar, para a realidade em causa, se faz sen-
tido manter a escala sem nenhum tipo de ajustamento e para verificar se existe
correlação entre os construtos confirmando a sua explicação.
b) Depois, foi feita a análise em blocos no qual foram analisados os construtos
em conjunto. Para a validação da adequação das duas análises, utilizou-se o Tes-
te Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), o Teste de Bartlett, para verificar se os itens são
adequados para realizar a AF e o Alpha de Cronbach, para analisar a consistência
interna dos itens do questionário. O Quadro 3 representa os construtos e seus itens
usados na análise.

Quadro 3 - Construtos e seus itens

Construtos Itens dos Construtos


A1- Definir atividades econômicas com maior potencial de integração ao modelo da
Indústria 4.0 nos estados e municípios brasileiros.
A2- Implantar política pública estratégica de desenvolvimento econômico voltada para
a Indústria 4.0, como política de Estado.
A3- Definir atores relevantes e seus papéis potenciais no modelo da indústria 4.0.
A4- Mapear, nos estados e municípios brasileiros, atividades econômicas brasileiras
com maior potencial de integração ao modelo da Indústria 4.0.
Ambiente
A5- Executar projetos alinhados ao modelo da Indústria 4.0 e com foco nas atividades
colabora-
mapeadas, em vários estados, para difundir essa política pública no país.
tivo para
inovação A6- Mapear e sistematizar informações sobre atores relevantes e seus papéis potenciais,
no modelo da Indústria 4.0, nos níveis federal, estadual e municipal.
A7- Ampliar interação entre as universidades e empresas, nas atividades voltadas para
a Indústria 4.0.
A8- Desenvolver modelo de interação entre ICTs e empresas nas atividades voltadas
para a Indústria 4.0.
A9- Estimular implantação de modelo de interação entre ICTs e empresas nas ativida-
des voltadas para a Indústria 4.0 em todos os estados.
P1- Definir áreas de conhecimento mais relevantes para o Brasil, no tema Indústria 4.0.
P2- Mapear áreas do conhecimento mais relevantes para a geração de tecnologias vol-
tadas para a Indústria 4.0.
Pessoas P3- Ofertar formações/qualificações voltadas para a Indústria 4.0.
qualifica- P4- Definir cursos/formações prioritários, voltados para a Indústria 4.0.
das para a P5- Estimular a oferta de cursos/qualificações voltados para a Indústria 4.0 em institui-
inovação ções de formação técnica, de ensino superior e outras instituições com capacidade para
qualificar pessoas nesse tema.
P6- Formar/Qualificar profissionais e gestores públicos em todo o país, em áreas vol-
tadas para a Indústria 4.0.

178
Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

Continuação
Construtos Itens dos Construtos
F1- Ampliar a oferta de mecanismos de fomento/financiamento adequados à Indústria 4.0.
F2- Mapear mecanismos de fomento/financiamento voltados para a Indústria 4.0 e
Fomento e propor adequações/novos mecanismos.
financia- F3- Ampliar o uso de mecanismos de fomento/financiamento para a Indústria 4.0.
mento para F4- Ampliar acesso às informações sobre mecanismos para fomentar/financiar inova-
inovação ções voltadas para Indústria 4.0
F5- Ofertar qualificações para que as ICTs e empresas aumentem o uso dos mecanis-
mos voltados ao fomento/financiamento de inovações voltadas para Indústria 4.0.
L1- Aperfeiçoar marco legal do Brasil para atender às necessidades da Indústria 4.0.
Marco legal L2- Mapear marcos legais específicos para a indústria 4.0 nos países mais avançados no
da inovação tema e propor marco legal específico para estimular a Indústria 4.0 no Brasil.
e cultura de L3- Aperfeiçoar Sistema de PI para ampliar o seu uso pelas empresas.
propriedade L4- Mapear aperfeiçoamentos nos sistemas de PI, realizados nos países mais avançados
intelectual e no tema Indústria 4.0, e propor melhorias no sistema brasileiro, ampliando o uso
pelas empresas.
I1- Aperfeiçoar a infraestrutura voltada para C,T&I existente para atender às deman-
das voltadas para oportunidades da Indústria 4.0.
Infraes- I2- Mapear infraestrutura existente no Brasil, voltada para C,T&I, suas deficiências em
trutura de relação às necessidades oriundas da Indústria e 4.0 e propor melhorias.
suporte à I3- Criar mecanismos de estímulo ao uso da infraestrutura de C,T&I para desenvolvi-
inovação mento de tecnologias voltadas para oportunidades da Indústria 4.0.
I4- Mapear e sistematizar informações sobre as potencialidades da infraestrutura exis-
tente/aperfeiçoada, para o desenvolvimento de projetos voltados à Indústria 4.0.
Fonte: Elaborado pelo autor

ANÁLISE FATORIAL EXPLORATÓRIA INTRABLOCOS

Os valores da estatística Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) (por serem maiores do


que 0,5, valor de referência) e os resultados do Teste de Bartlett (com a significân-
cia p<0,5) para cada construto, separadamente, revelaram a adequação da análise
fatorial (Quadro 4), pois valores entre 0,5 e 1,0 indicam que a análise fatorial é
apropriada, enquanto abaixo de 0,5 indicam que a análise pode ser inadequada
(HAIR et al., 2005).

Quadro 4 – KMO e Teste de Bartlett

Blocos KMO Teste de Bartlett*


Ambiente colaborativo para inovação 0,616 89,817
Pessoas qualificadas para a inovação 0,577 44,922
Fomento e financiamento para inovação 0,519 18,627
Marco legal da inovação e cultura de propriedade intelectual 0,609 27,525
Infraestrutura de suporte à inovação 0,649 23,447
Fonte: Elaborado pelo autor
*Estatisticamente Significativo a 1%.

179
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

No Quadro 5 foi usada a codificação que se encontra no Quadro 4, sendo ob-


servado que o modelo apresentou um bom ajustamento, apresentando-se os pesos
de cada item que integra a análise. Boa parte dos indicadores conseguiu um poder
de explicação alto, considerando todos os fatores obtidos (comunalidades).
As medidas de confiabilidade dadas pelo índice de Alfa de Cronbach foram
maiores do que 0,6 (Quadro 5), valor crítico, segundo Malhotra (2006), eviden-
ciando a validade dos fatores formados.
Quanto mais próximo seu valor estiver da unidade, melhor a consistência in-
terna do construto. Se o valor encontrado para o Alfa de Cronbach for inferior a
0,6, a escala é considerada sem validade interna.
No Quadro 5, das comunalidades, com o peso inicial de 1,0 para todos os itens,
é possível observar que apesar de alguns itens possuírem pouca relação com os
construtos, muitos conseguiram um poder de explicação alto (valores maiores do
que 0,7), o maior valor encontrado foi 0,960 para o construto L – Marco legal da
inovação e cultura de propriedade intelectual, sendo os valores mais elevados de
cada bloco marcados em cinza claro.

Quadro 5 – Comunalidades

Alpha de
Blocos Itens dos Blocos Peso Fatorial Variância Explicada (%)
Cronbach
A1 0,633
A2 0,764
A3 0,606
Ambiente colabo- A4 0,472
rativo para ino- A5 0,482 63,870 0,871
vação A6 0,903
A7 0,670
A8 0,664
A9 0,554
P1 0,637
Pessoas qualifi- P2 0,755
P3 0,685
cadas para a ino- 70,817 0,769
P4 0,780
vação P5 0,514
P6 0,879
F1 0,400
Fomento e finan- F2 0,413
ciamento para F3 0,551 46,600 0,712
inovação F4 0,455
F5 0,512
Marco legal da L1 0,960
inovação e cultu- L2 0,791
L3 0,861 86,648 0,638
ra de propriedade
L4 0,854
intelectual
Infraestrutura de I1 0,791
I2 0,536
suporte à inova- 61,927 0,858
I3 0,467
ção I4 0,683
Fonte: Elaborado pelo autor.

180
Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

O grau de explicação atingido pelos fatores foi calculado pela AF. Apesar de
fraca a relação entre alguns fatores, o modelo consegue explicar em 86,648% da va-
riância dos dados originais para o construto L - Marco legal da inovação e cultura
de propriedade intelectual. O modelo apresentou o seguinte ajustamento:
• 63,87% para o construto A - Ambiente colaborativo para inovação;
• 70,82% para o construto P- Pessoas qualificadas para a inovação;
• 46,60% para o construto F- Fomento e financiamento para inovação;
• 86,65% para o construto L - Marco legal da inovação e cultura de proprie-
dade intelectual;
• 61,93% para o construto I- Infraestrutura de suporte à inovação (valores
arredondados em duas casas decimais).

No Quadro 7 pode-se observar o grau de explicação atingido pelos fatores de


cada construto que foi calculado pela AF.

Quadro 7 – Variância explicada total

Soma dos Soma dos


Autovalores Iniciais
Fatores

Quadrados de Extração Quadrados da Rotação


% da Va- % Cumu- % da Va- % Cumu- % da Va- % Cumu-
Total Total Total
riância lativa riância lativa Total riância lativa
A - Ambiente colaborativo para inovação
1 4,525 50,274 50,274 4,525 50,274 50,274 3,223 35,807 35,807
2 1,224 13,596 63,870 1,224 13,596 63,870 2,526 28,063 63,870
3 0,960 10,664 74,533            
4 0,784 8,708 83,242            
5 0,732 8,134 91,375            
6 0,348 3,865 95,240            
7 0,262 2,911 98,151            
8 0,107 1,189 99,341            
9 0,059 0,659 100,000            
P- Pessoas qualificadas para a inovação
1 3,033 50,549 50,549 3,033 50,549 50,549 2,928 48,799 48,799
2 1,216 20,269 70,817 1,216 20,269 70,817 1,321 22,019 70,817
3 0,817 13,615 84,432            
4 0,580 9,666 94,098            
5 0,219 3,649 97,747            
6 0,135 2,253 100,000            
F- Fomento e financiamento para inovação
1 2,330 46,600 46,600 2,330 46,600 46,600      
2 0,988 19,756 66,356            
3 0,805 16,106 82,463            
4 0,612 12,233 94,696            
5 0,265 5,304 100,000            

181
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

Continuação
Soma dos Soma dos
Fatores Autovalores Iniciais
Quadrados de Extração Quadrados da Rotação
% da Va- % Cumu- % da Va- % Cumu- % da Va- % Cumu-
Total Total Total
riância lativa riância lativa Total riância lativa
1 2,344 58,592 58,592 2,344 58,592 58,592 2,324 58,108 58,108
2 1,122 28,055 86,648 1,122 28,055 86,648 1,142 28,540 86,648
3 0,334 8,348 94,996            
4 0,200 5,004 100,000            
I- Infraestrutura de suporte à inovação
1 2,477 61,927 61,927 2,477 61,927 61,927      
2 0,736 18,398 80,325            
3 0,567 14,174 94,498            
4 0,220 5,502 100,000            
Fonte: Elaborado pelo autor.

ANÁLISE FATORIAL ENTRE OS BLOCOS

Para a análise fatorial (AF) entre os blocos foram usados todos os itens dos
construtos em conjunto. O Quadro 8 mostra as Comunalidades.
Ainda no Quadro 8 observa-se que o modelo apresentou um bom ajustamento,
sendo apresentados os pesos de cada item que integra a análise. Todos os indica-
dores conseguiram um poder de explicação alto (acima de 0,7), considerando os
fatores obtidos (comunalidades).
O maior valor encontrado foi 0,979 para o item L2- Mapear marcos legais es-
pecíficos para a indústria 4.0 nos países mais avançados no tema e propor marco
legal específico para estimular a Indústria 4.0 no Brasil, valor destacado em negrito
no Quadro 8.

Quadro 8 - Comunalidades

Itens dos Construtos Inicial Extração


A1- Definir atividades econômicas com maior potencial de integração ao modelo
1,000 0,862
da Indústria 4.0 nos estados e municípios brasileiros.
A2- Implantar política pública estratégica de desenvolvimento econômico volta-
1,000 0,939
da para a Indústria 4.0, como política de Estado.
A3- Definir atores relevantes e seus papéis potenciais no modelo da indústria 4.0. 1,000 0,897
A4- Mapear, nos estados e municípios brasileiros, atividades econômicas brasi-
1,000 0,860
leiras com maior potencial de integração ao modelo da Indústria 4.0.
A5- Executar projetos alinhados ao modelo da Indústria 4.0 e com foco nas ati-
1,000 0,928
vidades mapeadas, em vários estados, para difundir essa política pública no país.
A6- Mapear e sistematizar informações sobre atores relevantes e seus papéis po-
1,000 0,959
tenciais, no modelo da Indústria 4.0, nos níveis federal, estadual e municipal.

182
Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

Continuação
Itens dos Construtos Inicial Extração
A7- Ampliar interação entre as universidades e empresas, nas atividades voltadas
1,000 0,891
para a Indústria 4.0.
A8- Desenvolver modelo de interação entre ICTs e empresas nas atividades vol-
1,000 0,795
tadas para a Indústria 4.0.
A9- Estimular implantação de modelo de interação entre ICTs e empresas nas
1,000 0,849
atividades voltadas para a Indústria 4.0 em todos os estados.
P1- Definir áreas de conhecimento mais relevantes para o Brasil, no tema In-
1,000 0,951
dústria 4.0.

P2- Mapear áreas do conhecimento mais relevantes para a geração de tecnologias


1,000 0,854
voltadas para a Indústria 4.0.

P3- Ofertar formações/qualificações voltadas para a Indústria 4.0. 1,000 0,890


P4- Definir cursos/formações prioritários, voltados para a Indústria 4.0. 1,000 0,912
P5- Estimular a oferta de cursos/qualificações voltados para a Indústria 4.0 em
instituições de formação técnica, de ensino superior e outras instituições com 1,000 0,716
capacidade para qualificar pessoas nesse tema.
P6- Formar/Qualificar profissionais e gestores públicos em todo o país, em áreas
1,000 0,882
voltadas para a Indústria 4.0.
F1- Ampliar a oferta de mecanismos de fomento/financiamento adequados à
1,000 0,934
Indústria 4.0.
F2- Mapear mecanismos de fomento/financiamento voltados para a Indústria 4.0
1,000 0,929
e propor adequações/novos mecanismos.
F3- Ampliar o uso de mecanismos de fomento/financiamento para a Indústria 4.0. 1,000 0,873
F4- Ampliar acesso às informações sobre mecanismos para fomentar/financiar
1,000 0,825
inovações voltadas para Indústria 4.0
F5- Ofertar qualificações para que as ICTs e empresas aumentem o uso dos mecanis-
1,000 0,783
mos voltados ao fomento/financiamento de inovações voltadas para Indústria 4.0.
L1- Aperfeiçoar marco legal do Brasil para atender às necessidades da Indústria 4.0. 1,000 0,883
L2- Mapear marcos legais específicos para a indústria 4.0 nos países mais avançados
1,000 0,979
no tema e propor marco legal específico para estimular a Indústria 4.0 no Brasil.
L3- Aperfeiçoar Sistema de PI para ampliar o seu uso pelas empresas. 1,000 0,909
L4- Mapear aperfeiçoamentos nos sistemas de PI, realizados nos países mais
avançados e no tema Indústria 4.0, e propor melhorias no sistema brasileiro, am- 1,000 0,972
pliando o uso pelas empresas.
I1- Aperfeiçoar a infraestrutura voltada para C,T&I existente para atender às
1,000 0,899
demandas voltadas para oportunidades da Indústria 4.0.
I2- Mapear infraestrutura existente no Brasil, voltada para C,T&I, suas deficiên-
1,000 0,847
cias em relação às necessidades oriundas da Indústria e 4.0 e propor melhorias.
I3- Criar mecanismos de estímulo ao uso da infraestrutura de C,T&I para desen-
1,000 0,962
volvimento de tecnologias voltadas para oportunidades da Indústria 4.0.
I4- Mapear e sistematizar informações sobre as potencialidades da infraestru-
tura existente/aperfeiçoada, para o desenvolvimento de projetos voltados à In- 1,000 0,895
dústria 4.0.
Fonte: Elaborado pelo autor.

183
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

O modelo entre os blocos consegue explicar a variância dos dados originais,


apresentando um ajustamento (88,834%), sendo melhor que a análise intrablocos.
No Quadro 9 observa-se o grau de explicação atingido pelos fatores de cada cons-
truto que foi calculado pela AF.

Quadro 9 – Variância explicada total

Soma dos Quadrados de Soma dos Quadrados


Autovalores Iniciais
Extração da Rotação

% da Variância
% da Variância

% da Variância
% Cumulativa

% Cumulativa

% Cumulativa
Fatores
Total

Total

Total

Total
1 8,727 31,166 31,166 8,727 31,166 31,166 4,536 16,201 16,201
2 4,463 15,940 47,106 4,463 15,940 47,106 3,517 12,561 28,762
3 2,776 9,915 57,022 2,776 9,915 57,022 3,203 11,440 40,202
4 2,355 8,410 65,431 2,355 8,410 65,431 3,041 10,860 51,062
5 2,038 7,279 72,710 2,038 7,279 72,710 2,914 10,406 61,469
6 1,818 6,495 79,205 1,818 6,495 79,205 2,902 10,365 71,834
7 1,564 5,587 84,792 1,564 5,587 84,792 2,847 10,167 82,000
8 1,132 4,042 88,834 1,132 4,042 88,834 1,913 6,834 88,834
9 0,806 2,878 91,712            
10 0,626 2,234 93,946            
11 0,473 1,689 95,635            
12 0,361 1,289 96,924            
13 0,284 1,013 97,937            
14 0,232 0,829 98,766            
15 0,157 0,561 99,327            
16 0,091 0,324 99,651            
17 0,053 0,189 99,841            
18 0,045 0,159 100,000            
19 0,000 0,000 100,000            
20 0,000 0,000 100,000            
21 0,000 0,000 100,000            
22 0,000 0,000 100,000            
23 0,000 0,000 100,000            
24 0,000 0,000 100,000            
25 0,000 0,000 100,000            
26 0,000 0,000 100,000            
27 0,000 0,000 100,000            
28 0,000 0,000 100,000            
Fonte: Elaborado pelo autor.

184
Rodrigo Rocha Pereira Lima, Suzana Leitão Russo, Luis Felipe Dias Lopes

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo analisar a opinião de especialistas so-


bre a proposta de Mapa Estratégico Teórico para desenvolver a indústria 4.0 no
brasil, que conta com cinco perspectivas, sendo elas: “Ambiente colaborativo para
inovação”, “Pessoas qualificadas para a inovação”, “Fomento e financiamento para
inovação”, “Marco legal da inovação e cultura de Propriedade Intelectual” e “Infra-
estrutura de suporte à inovação”, que abrangem os principais desafios à inovação
no Brasil.
As 05 perspectivas contam com um total de onze Objetivos Estratégicos, ne-
cessários para superar os desafios para o desenvolvimento da indústria 4.0 no país,
desdobrados em dezessete ações estratégicas.
Para avaliar a aderência do mapa proposto com a realidade brasileira foram
identificados diversos atores que poderiam contribuir com o aperfeiçoamento do
mapa estratégico teórico proposto.
Tais especialistas apontaram como principais objetivos a serem perseguidos
“Ampliar o uso de mecanismos de fomento/financiamento para a Indústria 4.0”,
“Ampliar a oferta de mecanismos de fomento/financiamento adequados à Indús-
tria 4.0” e “Definir áreas de conhecimento mais relevantes para o Brasil, no tema
Indústria 4.0”.
Entre as ações estratégicas, os especialistas apontaram que merecem destaque
“Ofertar qualificações para que as ICTs e empresas aumentem o uso dos mecanis-
mos voltados ao fomento/financiamento de inovações voltadas para Indústria 4.0”
e “Desenvolver modelo de interação entre ICTs e empresas nas atividades voltadas
para a Indústria 4.0”.
Como forma de validar estatisticamente o mapa foi feita uma análise fatorial
exploratória intrablocos e outra entre os blocos, revelando a adequação da análise
fatorial através dos testes de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e de Bartlett. Através das
medidas de confiabilidade dadas pelo índice de Alfa de Cronbach evidenciou-se
também a validade dos fatores formados.
Na análise intrablocos, apesar de alguns itens possuírem pouca relação com os
construtos, muitos conseguiram um poder de explicação alto, merecendo destaque
“Aperfeiçoar marco legal do Brasil para atender às necessidades da Indústria 4.0”,
“Mapear e sistematizar informações sobre atores relevantes e seus papéis poten-
ciais, no modelo da Indústria 4.0, nos níveis federal, estadual e municipal” e “For-
mar/Qualificar profissionais e gestores públicos em todo o país, em áreas voltadas
para a Indústria 4.0”.

185
VALIDAÇÃO ESTATÍSTICA DO MAPA ESTRATÉGICO TEÓRICO PARA DESENVOLVER A INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL

Ao se fazer a análise entre os blocos verificou-se que o modelo apresentou bom


ajustamento, sendo que todos os indicadores conseguiram um poder de explicação
alto, considerando os fatores obtidos (comunalidades).
Diante de todas as informações, levantadas e analisadas durante este estudo,
verifica-se que o mapa estratégico teórico proposto para acelerar o desenvolvimen-
to e a adoção de inovações tecnológicas, pertinentes à realidade da Indústria 4.0,
possui aderência à visão de especialistas brasileiros.

RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Através da ampliação da quantidade de instituições e especialistas entrevista-


dos será possível aprofundar a análise estatística, possibilitando-se a construção de
um modelo de equações estruturais, capaz de identificar possíveis necessidades de
ajustes no mapa e, assim, transformar esse mapa teórico em um mapa empírico,
que poderá efetivamente gerar o alcance dos resultados propostos no mapa estra-
tégico.

REFERÊNCIAS

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desenvolvimento regional. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional,
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CNI, Confederação Nacional da Indústria. Mapa estratégico da indústria 2018-2022. Rev.


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ovação – PINTEC, 2017. Tabelas Completas. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Indus-
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Acesso em: 27 fev. 2018.

187
O USO DE SEMIOQUÍMICOS DE ESPÉCIES
DE Annona COMO ATRAENTE NO MANEJO
INTEGRADO DE PRAGAS: UM ESTUDO
PROSPECTIVO

Rita de Cássia Correia da Silva, Maxdouglas dos Santos,


Ruth Rufino do Nascimento, Adriana de Lima Mendonça

INTRODUÇÃO

A pinheira (Annona Squamosa) e a gravioleira (Annona muricata) têm destaque


na fruticultura em várias partes do mundo e grande aceitação comercial. No Brasil,
as áreas comercialmente cultivadas estão concentradas nos Estados do Nordeste,
destacando-se Alagoas e Bahia como principais produtores (BRAGA SOBRINHO,
2014; OLIVEIRA, 2017). Sua produção se constitui como um importante fator de
impacto econômico, crescente demanda e interesse pela polpa, por parte do con-
sumidor e das indústrias que utilizam o fruto como matéria-prima para produção
de sucos, doces, produtos medicinais, cosméticos e outros (ARAÚJO, LEONEL;
NETO, 2008; DE MORAES et al., 2018).
Um dos principais obstáculos à exploração econômica destas frutíferas é a
existência de um complexo de pragas que atacam estas culturas, causando graves
prejuízos que comprometem a sua produção (BRAGA SOBRINHO, 2014). Dentre
elas, uma das principais é o lepidóptero Cerconota anonella, (Sepp.,1830) (Lepi-
doptera: Depressariidae), popularmente conhecido como broca do fruto, a qual
possui hábito noturno e é classificada como sendo uma praga primária por limitar
diretamente o cultivo de plantas de A. Squamosa (pinha, fruto-do conde) Os danos
expressivos causados por C. anonella são evidentes nos frutos, cuja polpa é dani-
ficada, ocorrendo uma redução de seu valor comercial e a produção desta cultura
(MICHELETTI et al., 2001; MARTELLETO; IDE, 2008 ). Segundo OLIVEIRA et
al. (2001) o potencial de dano sobre as plantas de A. muricata (graviola), na au-
sência de frutos, concentra-se nas flores e botões florais deixando-os secos e com
manchas escuras de forma irregular; impedindo assim, a reprodução dos frutos, e
consequentemente contribuindo para a diminuição de frutos disponíveis para o
comércio.

189
O USO DE SEMIOQUÍMICOS DE ESPÉCIES DE Annona COMO ATRAENTE NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGA

Os Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) que plantas emitem, tais como


àquelas pertencentes ao gênero Annona, alvo do presente estudo, podem revelar
o status fisiológico ou uma situação de estresse ao qual a mesma está sujeita e po-
dem influenciar em quase todos os aspectos da vida de insetos que sequestram
ou adquirem compostos de plantas hospedeiras e os usam como precursores de
seu feromônio sexual (RIFFEL et al., 2010; HORAS, 2009; BACHMANN, 2015).
O perfil dos COVs liberados pode mudar de acordo com a variedade e estágio
fenológico da planta, podendo ser: vegetativo, florado ou frutificado (HARE, 2011;
ZHU; PARK, 2005).
Por outro lado, em insetos, a escolha do parceiro sexual é imprescindível para
a cópula, através da percepção do macho aos COVs liberados pela fêmea, que de-
sencadeiam uma série de comportamentos, expressada em uma sequência padrão.
A escolha do hospedeiro por parte da fêmea acasalada, no momento da postura, é
fundamental para a sobrevivência e sucesso da sua prole (NAVA, 2005; LOPES et
al., 2009). Assim, o entendimento dos mecanismos que atuam nas interações entre
fêmeas e planta hospedeira é de grande importância para a preservação do cultivar.
Por este motivo, as interações bitróficas (inseto-planta e inseto-inseto) vêm sen-
do pesquisadas, sendo os COVs cairomonais investigados como alternativa para o
manejo comportamental de pragas, pois estas substâncias químicas utilizadas na
comunicação entre espécies diferentes, além de indicar a presença do alimento,
induzem, entre outras ações, a alimentação e a oviposição (STRAPASSON, 2012;
BLADE, 2017). Na interação inseto-inseto, os feromônios sexuais desempenham
papel fundamental no comportamento de atração e acasalamento de insetos; mui-
tas espécies de besouros se alimentam e acasalam em plantas hospedeiras como re-
sultado da atratividade desencadeada pelo feromônio sexual (ZHANG et al., 2012)
Algumas medidas de controle, envolvendo tratamentos físicos e químicos, têm
sido empregadas na tentativa de minimizar os danos causados por esta praga nos
plantios. Com o propósito de substituir o uso de agrotóxicos, novas estratégias
ecologicamente corretas e viáveis para a preservação das plantas começam a ser
desenvolvidas e aplicadas (SOBHY et al., 2014). A utilização de semioquímicos,
como é o caso dos cairomônios, em estudos comportamentais é uma estratégia
promissora que vem sendo investigada no controle de pragas e, o desenvolvimento
de tecnologias inovadoras devem ser estimuladas e portanto, está em concordância
com o principal objetivo deste estudo: estimar o potencial da geração de um bio-
produto baseado em COVs emitidos por plantas de Anonna na atração e controle
da praga C. anonella.

190
Rita de Cássia Correia da Silva, Maxdouglas dos Santos, Ruth Rufino do Nascimento, Adriana de Lima Mendonça

METODOLOGIA

A busca de anterioridade patentária foi realizada através da consulta às bases de


dados de patentes Patentinspiration, WIPO (World Intellectual Property Organiza-
tion), INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual), no período de janeiro
2020 a março de 2020 para delineamento do atual cenário tecnológico acerca do
uso dos COVs cairomonais de espécies do gênero Annona para controle de pragas,
utilizando o string de busca apresentado na tabela 1.

Tabela 1: Strings utilizados na busca de anterioridade patentária.

Annona Biocides
Annona and muricata Cerconota
Annona and squamosa Pheromone
Annona and lepidoptera kairomones
Annona and Cerconota Lepidoptera
Annona and semiochemicals Control and pest
Annona and compounds Control and pest and pheromone
Annona and pesticide Control and pest or pheromone and kairomones
Annona and chromatography Control and pest and pheromone and kairomones
Annona and volatiles Control and pest and pheromone and kairomones and lepidoptero

Fonte: Autoria própria (2020)

Durante o mesmo período foi realizada a revisão bibliográfica através de bus-


cas de artigos científicos relacionados ao tema, utilizando as bases internacionais
Science Direct e Scopus, para comparação com os resultados da revisão patentária.
Os campos utilizados para a busca de artigos foram: “título” e “resumo” e os strin-
gs de busca consideraram os operadores booleanos “and” e “or” para indicar aos
sistemas de busca como a combinação de descritores deveria ser realizada. Foram
utilizados como critérios de inclusão os idiomas português e inglês, o período de
busca abrangeu o período de 10 anos (1999 a 2019).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos para as buscas de anterioridade de patentes e artigos


científicos utilizando os strings da tabela 1, são apresentados na tabela 2. Como
resultados, foram encontrados 201 patentes relacionadas a palavra-chave Annona
em caráter mundial no período de 1999 a 2019, tendo em vista que foi escolhido
documentos depositados em até 20 anos.

191
O USO DE SEMIOQUÍMICOS DE ESPÉCIES DE Annona COMO ATRAENTE NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGA

Tabela 2: Resultados das buscas nas bases PatentInspiration, INPI, WIPO, Scorpus e Scienci Direct.

String de busca Patentinspiration INPI WIPO Scopus Science Direct


Annona 201 5 193 2795 1856
Annona and muricata 52 4 71 1151 504
Annona and squamosa 96 1 135 1271 598
Annona and lepidoptera 1 0 1 125 58
Annona and Cerconota 0 0 0 18 0
Annona and semiochemicals 0 0 0 4 4
Annona and compounds 24 0 8 1212 1188
Annona and pesticide 2 0 3 228 208
Annona and chromatography 6 0 11 485 439
Annona and volatiles 0 0 0 167 250
Biocides 14 22 4889 13 11750
Cerconota 1 1 1 18 0
Pheromone 3669 51 2524 23489 15580
kairomones 39 1 40 844 682
Lepidoptera 1519 25 1677 38153 10612
Control and Pest 32730 89 16894 58876 54230
Control and pest and kairomones or 4 0 16894 104 0
Cerconota
Control and pest or pheromone and 11 0 1 160 189
kairomones
Control and pest and pheromone and 3 0 0 60 189
kairomones
Control and pest and and kairomones 0 0 0 20 0
and lepidoptera
Fonte: Autoria própria (2020)

Ao analisar os dados fornecidos pelas patentes disponibilizadas percebe-se que


os depósitos de patentes relacionados as espécies de Annona começou a ter um
aumento a partir do ano de 2014. O ápice das publicações foi em 2017 com 38 de-
pósitos, como pode ser verificado na Figura 1. Esses dados permitem constatar que
as pesquisas sobre espécies de Annona ainda é algo que está em fase de desenvol-
vimento, se comparado com os depósitos de patentes referentes a outros assuntos
ainda existem poucas patentes sobre o tema proposto na pesquisa.

192
Rita de Cássia Correia da Silva, Maxdouglas dos Santos, Ruth Rufino do Nascimento, Adriana de Lima Mendonça

Figura 1- Evolução do número de depósitos de patentes relacionadas as espécies de Annona no


mundo.

Fonte: Autoria própria (2020)

Com relação a distribuição geográfica das patentes depositadas verifica-se que


o continente asiático é o que possui os maiores números de patentes deposita-
das sobre tecnologia de utilização de espécies de Annona, seguido pelo continente
americano. Nos continentes África, Oceania e Antártida ainda não foram registra-
das patentes nessa área de pesquisa.
A figura 2 relaciona os principais países depositantes de patentes relacionadas
ao termo Annona. Das 201 patentes recuperadas no geral, destaca-se na lideran-
ça do ranking a China com 32 depósitos (15,92%), as Filipinas com 21 depósitos
(10,44%) e a Índia com 19 depósitos (9,45%).
O Brasil ocupa o nono lugar no ranking com depósitos de cinco patentes, a sa-
ber: BR102017003197A2 Método de produção de microestrtruturas e nanocápsu-
las de ciclodextrina contendo óleo da Annona vepretorum Mart, BR10201602977A2
processo de extração de óleo de semente de graviola (Annona muricata l.) e produ-
to obtido; BR102012026697A2 Fitoterápico formulado a partir de um extrato ace-
tônico padronizado obtido das folhas da Annona muricata; BR102018008313A2
Formulação inseticida/acaricida microemcapsulada por spray dryer de Annona
squamosa e Aannona muricata e a BR102014010066A2 Composição com ativi-
dade feromonal e uso no controle da broca de frutos anonáceas que se refere a
formulações com atividade de feromônio sexual, eficazes no controle da broca de
frutos (Cerconota anonella) de anonáceas (pinha, graviola e atemóia).

193
O USO DE SEMIOQUÍMICOS DE ESPÉCIES DE Annona COMO ATRAENTE NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGA

Mediante a análise dos dados obtidos nas bases de patentes, foi possível ob-
servar que o depósito de patentes não se restringe somente a empresas, algumas
universidades também depositaram patentes como o caso do Paraná, da Bahia, do
México, entre outras; isso ocorre porque as universidades investem em pesquisa e
essas pesquisas geram ou aperfeiçoam produtos tecnológicos.

Figura 2- Principais depositantes.

Fonte: Autoria própria (2020)

A figura 3 mostra a relação do número de patentes depositadas para cada Clas-


sificação Internacional de Patentes (IPC), que é um sistema de classificação das
patentes por símbolo de acordo com as diferentes áreas tecnológicas a que per-
tencem. A partir da análise desta figura, pode-se observar que o maior número de
patentes de espécies de Annona se enquadraram em quatro das diversas grandes
classificações de patentes A61 (Ciências médicas e veterinárias), A23 (gênero ali-
mentício), C07 (Química) e A01 (Agricultura). Esse perfil de classificação para as
patentes recuperadas indica o potencial do uso de Annona nas áreas de aplicação
tecnológica. As classificações observadas por subgrupo foram: A61K 36 com 62
depósitos, A23L 33 com 26 depósitos, C07D 307 com 13 depósitos, A01N65 com
13 depósitos. Percebe-se que a maioria das patentes estão classificadas na Seção A
que diz respeito a necessidades humanas.

194
Rita de Cássia Correia da Silva, Maxdouglas dos Santos, Ruth Rufino do Nascimento, Adriana de Lima Mendonça

Figura 3 - Quantidade de publicações de acordo com a classificação IPC

Fonte: Autoria própria (2020)

A figura 4 apresenta a distribuição das patentes por conceitos e pode-se perce-


ber os diversos ramos de desenvolvimento das patentes sobre espécies de Annona.
As patentes incluem processos de melhorias em medicamentos, alimentos, cosmé-
ticos e plantas. É um universo muito amplo já que as espécies de Annona podem
ser utilizadas na indústria farmacêutica, energética, alimentícia, entre outras.

Figura 4- Distribuição dos resultados da pesquisa por conceitos.

Acetogeninas . Animais . Annona . Bebida . Câncer . Etanol. Flor . Folha . Comida


. Formulação . Fração . Frutas . Inflamação . Ingredientes . Sabor . Suco . Lactona .
Pele. Medicina . Leite . Muricata . Nutrição. Óleo . Squamosa . Açúcar . Chá . Tumor.
Substâncias. Vinho.

Fonte: Autoria própria (2020)

Como apresentado na tabela 2, as buscas de artigos nas bases Scopus e Scien-


ce Direct resultaram na recuperação de 2795 e 1856 documentos, respectiva-
mente, quando utilizado o termo “Annona”. Analisando a quantidade de artigos
publicados por ano em cada uma das bases no período de 1999 a 2019, é possível
observar o crescimento das publicações de artigos científicos com o passar dos
anos. O ano com o maior número de publicações foi o ano de 2019, como pode
ser visto na figura 5.

195
O USO DE SEMIOQUÍMICOS DE ESPÉCIES DE Annona COMO ATRAENTE NO MANEJO INTEGRADO DE PRAGA

Figura 5 - Perfil de publicações de artigos científicos por ano nas bases Scopus e Science Direct.

Fonte: Autoria própria (2020)

Dos 2795 artigos recuperados na base Scopus com a utilização do temo “An-
nona”, 731 são de origem brasileira. Esse resultado faz do Brasil o país que mais pu-
blicou utilizando o termo Annona em todo mundo, seguido pela Índia com 643, Es-
tados Unidos com 264 México com 187 e China com 154, como mostra a figura 6.

Figura 6: Ranking de países e publicação de artigos científicos na base Scopus.

Fonte: Autoria própria (2020)

Após serem analisados os títulos e resumos dos artigos constatou-se que exis-
tem poucos estudos visando o uso de semioquímicos de espécies de Annona como
atraente no manejo integrado de pragas.

196
Rita de Cássia Correia da Silva, Maxdouglas dos Santos, Ruth Rufino do Nascimento, Adriana de Lima Mendonça

Essa liderança em publicações de artigos não corrobora com a quantidade de


depósitos de patentes, onde o país fica em nono lugar como observado na tabela
figura 2.
Uma das possíveis explicações para o Brasil apresentar poucos depósitos de
patentes e liderar em produção científica, reside no fato da ausência da cultura pa-
tentária no meio acadêmico. Muitos pesquisadores desconhecem como funciona o
processo de um pedido de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade In-
dustrial (INPI), como elaborar as partes constituintes de um pedido de depósito de
patente (relatório descritivo, reinvindicações e resumo) e poucos conhecem a Lei
de Inovação n.º 10.973. Esse desconhecimento, por parte dos pesquisadores, con-
tribui para uma redução na geração de tecnologias criadas e produzidas no Brasil.

CONCLUSÃO

A presente revisão patentária e bibliográfica indicou o crescente número de de-


pósitos de patentes e publicação de artigos científicos, ambos envolvendo espécies
de Annona. Esse fato culmina na prospecção tecnológica sinalizada pelo interesse
mundial tanto no desenvolvimento de produtos à base de Annona como no de-
senvolvimento de pesquisas científicas sobre o tema. O mercado das anonaceas
não converge apenas para a produção de bioinseticidas, o mercado farmacêutico e
alimentício também é bem difundido.
O Brasil foi um dos países com pouco destaque no número de patentes publica-
das sobre espécies de Annona, mas com alto índice de artigos publicados envolven-
do o tema. Isso mostra o interesse do país em proporcionar pesquisa e consequente
surgimento de novas tecnologias que possam complementar ou otimizar às que já
existem e a análise de patentes pode identificar as possibilidades de mercado e as
suas ramificações mais promissoras.

REFERÊNCIAS

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2005.

199
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO, TENDÊNCIAS COMPETITIVAS

SOBRE OS AUTORES

Nome: Adriana de Lima Mendonça


Formação: Drª. em Ciências/Química Orgânica
Instituição de atuação: Centro Universitário Tiradentes-Unidade Maceió-Ma-
ceió/AL-Brasil
http://lattes.cnpq.br/0381713043828464

Nome: Ana Karla de Souza Abud


Formação: Dra. em Engenharia Química
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Propriedade Intelectual - PPGPI
http://lattes.cnpq.br/2720547210430667

Nome: Antonio Martins de Oliveira Junior


Formação: Dr. em Engenharia Química - COPPE/UFRJ
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-graduação em Ciência da Propriedade Intelectual - PPGPI
http://lattes.cnpq.br/6812943821298890

Nome: Breno Ricardo de Araújo Leite


Formação: Bacharel em Ciências Aeronáuticas (AFA) e Mestrando do Programa
de Pós-graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para
Inovação (PROFNIT/UFSC)
Instituição de atuação: Força Aérea Brasileira
Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA)
http://lattes.cnpq.br/8793321901301171

Nome: Bruno Ramos Eloy


Formação: Doutorando em Ciência da Propriedade Intelectual
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-graduação em Ciência da Propriedade Intelectual - PPGPI
http://lattes.cnpq.br/2776164752107926

201
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO, TENDÊNCIAS COMPETITIVAS

Nome: Carla Cristina de Souza


Formação: Bacharel em Ciências Contábeis (Faculdade Avantis) e Mestranda do
Programa de Pós-graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecno-
logia para Inovação (PROFNIT/UFSC)
Instituição de atuação: Softplan Planejamento e Sistemas
Departamento Financeiro
http://lattes.cnpq.br/3972988391628562

Nome: Cleide Mara Barbosa da Cruz


Formação: Mestre em Ciência da Propriedade Intelectual/UFS
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-graduação em Ciência da Propriedade Intelectual - PPGPI
http://lattes.cnpq.br/3266608192198359

Nome: Cleo Clayton Santos Silva


Formação: Doutorando em Ciência da Propriedade Intelectual/UFS
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-graduação em Ciência da Propriedade Intelectual - PPGPI
http://lattes.cnpq.br/0833666295346324

Nome: Daniel Barreto Doria Amado


Formação: Mestrando em Ciência da Propriedade Intelectual/UFS
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-graduação em Ciência da Propriedade Intelectual - PPGPI
http://lattes.cnpq.br/3847239207823783

Nome: Daniel Pereira da Silva


Formação: Dr. em Biotecnologia Industrial
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Propriedade Intelectual – PPGPI
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2804708148095897

Nome: Diego Silva Souza


Formação: Doutorando em Ciência da Propriedade Intelectual/UFS
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-graduação em Ciência da Propriedade Intelectual - PPGPI
http://lattes.cnpq.br/8460050019893487

202
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO, TENDÊNCIAS COMPETITIVAS

Nome: Douglas Alves Santos


Formação: Dr. em Tecnologias de Processos Químicos e Bioquímicos - Programa
em Tecnologia de Processos Químico. Escola de Química.
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituição de atuação: Universidade Federal do Paraná – UFPR – Curitiba/PR - Brasil
Programa de Pós-graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecno-
logia para a Inovação – PROFNIT – Ponto Focal UFPR
http://lattes.cnpq.br/3290738105470603

Nome: Flavia Aquino da Cruz Santos


Formação: Bacharela em Enfermagem
Instituição de atuação: Universidade Tiradentes – UNIT – Aracaju/SE
Departamento de Enfermagem
http://lattes.cnpq.br/3222104506325788

Nome: Flávia Luiza Araújo Tavares da Silva


Formação: Graduanda em Engenharia de Alimentos
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Departamento de Tecnologia de Alimentos
http://lattes.cnpq.br/5962232927148916

Nome: Gabriel Grezoski Bitencourt


Formação: Bacharel em Direito (UNIVALI) e Mestrando do Programa de Pós-gra-
duação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação
(PROFNIT/UFSC)
Instituição de atuação: Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovado-
ras - Fundação CERTI
Assessoria Jurídica
http://lattes.cnpq.br/5544418166976598

Nome: Glessiane de Oliveira Almeida


Formação: Mestre em Ciência da Propriedade Intelectual/UFS
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-graduação em Ciência da Saúde
http://lattes.cnpq.br/7903752206832844

203
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO, TENDÊNCIAS COMPETITIVAS

Nome: Irineu Afonso Frey


Formação: Dr. em Engenharia de Produção (UFSC)
Instituição de atuação: Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC – Floria-
nópolis/SC
Ciências Contábeis - Centro Socioeconômico (CSE)
http://lattes.cnpq.br/1971038997895602

Nome: João Antônio Belmino dos Santos


Formação: Dr em Engenharia de Processos
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-graduação em Ciência da Propriedade Intelectual - PPGPI
http://lattes.cnpq.br/9277814890785373

Nome: Luana Brito de Oliveira


Formação: Dra. em Ciência da Propriedade Intelectual/UFS
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-graduação em Ciência da Propriedade Intelectual - PPGPI
http://lattes.cnpq.br/5322229323891278

Nome: Luis Felipe Dias Lopes


Formação: Dra. em Engenharia de Produção/UFSC
Instituição de atuação: Universidade Federal de Santa Maria – UFSM – Santa
Maria/RS
Programa de Pós-graduação em Administração - PPGA
http://lattes.cnpq.br/1074372911061770

Nome: Maria Elisa Marciano Martinez


Formação: Mestre em Engenharia Química/USP
Instituição de atuação: Instituto Nacional da Propriedade Industrial - São Paulo/SP
Coordenação de Relações Institucionais - COINS/SP - INPI
http://lattes.cnpq.br/1665993600801390

Nome: Maria Geovânia Dantas Silva


Formação: Mestre em Química/UFS e Doutoranda em Ciência da Propriedade
Intelectual - PPGPI/UFS.
Instituição de atuação: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Sergipe/IFS - Campus Aracaju/SE.
http://lattes.cnpq.br/5098210761570586

204
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO, TENDÊNCIAS COMPETITIVAS

Nome: Mariana Araujo Adelino


Formação: Técnica em Tecnologia da Informação
Instituição de atuação: Instituto Federal do Piauí – IFPI – Piripiri/PI - Brasil
Laboratório de Pesquisas e Estudos em Computação – LAPEC
http://lattes.cnpq.br/6808303509472597

Nome: Maxdouglas dos Santos


Formação: Graduado em Agronomia
Instituição de atuação: Campos de Engenharia e Ciências Agrárias – CECA - Rio
Largo/AL – Brasil
http://lattes.cnpq.br/1752681309695475

Nome: Nadja Rosele Alves Batista


Formação: Mestranda em Ciência da Propriedade Intelectual/UFS
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-graduação em Ciência da Propriedade Intelectual - PPGPI
http://lattes.cnpq.br/0712177778532687

Nome: Patrícia Beltrão Constant Lessa


Formação: Dra. em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos
http://lattes.cnpq.br/2424269805717579

Nome: Rafael Sales Almendra


Formação: Mestre em Administração e Controladoria/UFC e Doutorando em Ci-
ência da Propriedade Intelectual/UFS
Instituição de atuação: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Piauí – IFPI – Campo Maior/PI
Departamento ou Programa: Coordenação do Curso Bacharelado em Administração
Departamento ou Programa: Campus Campo Maior
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3445859953494127

205
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO, TENDÊNCIAS COMPETITIVAS

Nome: Rafael Jankovski


Formação: Bacharel em Direito (UFPR) e Mestrando do Programa de Pós-gra-
duação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação
(PROFNIT/UFSC)
Instituição de atuação: Ministério Público Federal - PR
Divisão de Execução Financeira e Orçamentária
http://lattes.cnpq.br/5221730776091594

Nome: Renata Silva-Mann


Formação: Dra. em Agronomia (Fitotecnia)
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Departamento de Engenharia Agronômica – DEA
http://lattes.cnpq.br/5570543667939997

Nome: Rita de Cássia Correia da Silva


Formação: Mestra em Engenharia Química
Instituição de atuação: Universidade Federal de Alagoas-UFAL-Maceió/AL-Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Doutorado em Biotecnologia - Rede
Nordeste de Biotecnologia – RENORBIO.
http://lattes.cnpq.br/3379671687465031

Nome: Rodrigo Rocha Pereira Lima


Formação: Dr. em Ciência da Propriedade Intelectual/UFS
Instituição de atuação: Instituto Euvaldo Lodi NR/SE – Aracaju/SE - Brasil
Programa de Pós-graduação em Ciência da Propriedade Intelectual - PPGPI
http://lattes.cnpq.br/6940824917144173

Nome: Ruth Rufino do Nascimento


Formação: Ph.D. em Química/ Keele University, Stafforshire, Reino Unido
Instituição de atuação: Universidade Federal de Alagoas-UFAL-Maceió/AL-Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Pós-Graduação em Química e Biotec-
nologia-PPGQB
http://lattes.cnpq.br/7975227032836139

206
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO, TENDÊNCIAS COMPETITIVAS

Nome: Samanta Soares Machado


Formação: Bacharel em Química/Unicamp
Instituição de atuação: Universidade Federal do Paraná – UFPR – Curitiba/PR - Brasil
Programa de Pós-graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecno-
logia para a Inovação – PROFNIT – Ponto Focal UFPR
http://lattes.cnpq.br/9610700860438169

Nome: Silvia Manoela Santos de Jesus


Formação: Mestre em Ciências da Educação/UFPE e Doutoranda em Ciência da
Propriedade Intelectual/UFS
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – Aracaju/SE - Brasil
Programa de Pós-graduação em Ciência da Propriedade Intelectual - PPGPI
http://lattes.cnpq.br/5781099018176442

Nome: Suzana Leitão Russo


Formação: Dra. Engenharia de Produção - UFSC
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/SE
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Propriedade Intelectual – PPGPI
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8056542335438905

Nome: Tais Letícia de Oliveira Santos


Formação: Graduanda em Tecnologia de Alimentos
Instituição de atuação: Instituto Federal de Sergipe – IFS – São Cristóvão/SE - Brasil
Programa de Graduação em Tecnologia de Alimentos
http://lattes.cnpq.br/0113288078316701

Nome: Tiago Soares da Silva


Formação: Administração
Instituição de atuação: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Piauí – IFPI – Teresina/PI
Núcleo de Inovação Tecnológica
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2792219523495141

207
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO, TENDÊNCIAS COMPETITIVAS

Nome: Victor Manoel Pelaez Alvarez


Formação: Dr. em Ciências Econômicas/ Universite de Montpellier I, U.M.I, França
Instituição de atuação: Universidade Federal do Paraná – UFPR – Curitiba/PR - Brasil
Programa de Pós-graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecno-
logia para a Inovação – PROFNIT – Ponto Focal UFPR
http://lattes.cnpq.br/7929005597555969

Nome: Wanderson de Vasconcelos Rodrigues da Silva


Formação: Mestre em Ciência da Propriedade Intelectual
Instituição de atuação: Instituto Federal do Piauí – IFPI – Piripiri/PI - Brasil
Laboratório de Pesquisas e Estudos em Computação – LAPEC
http://lattes.cnpq.br/7216097918561707

208
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO, TENDÊNCIAS COMPETITIVAS

ÍNDICE REMISSIVO

Alimentos Prebióticos: 28

Cerveja: 29, 30, 31, 32, 40, 41, 44

Competitividade Sustentável: 45, 62

Educação: 62, 97, 98, 99, 100, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 119, 155, 158,
160, 204, 205, 207

Empresas de Base Tecnológica: 109, 110, 112, 113, 114, 120, 122

Indicação Geográfica: 149, 150, 152, 153, 154, 157, 158, 159, 160

Indicadores Tecnológicos: 14, 135

Indústria 4.0: 161, 162, 163, 164, 165, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 175,
176, 178, 179, 182, 183, 185, 186, 187

Inovação: 13, 20, 24, 26, 27, 34, 51, 55, 58, 61, 64, 67, 68, 69, 70, 71, 73, 76, 77, 78,
82, 85, 94, 95, 98, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 119, 120, 121, 122, 123,
125, 135, 158, 161, 162, 163, 164, 168, 170, 172, 173, 175, 178, 179, 180, 181, 182,
185, 186, 187, 197, 201, 202, 203, 206, 207, 208

Inovação Tecnológica: 34, 58, 110, 112, 113, 114, 121, 162, 207

Jurisprudência: 137, 141, 142, 143, 145, 147

Laticínios: 129

Linguiça Caseira: 149, 153, 154, 155, 156, 157

Mapa Estratégico: 161, 162, 163, 164, 185, 186, 187

Mapeamento Tecnológico: 11, 12, 13, 29, 33, 35, 67, 68, 71, 86

Mobilidade Inteligente: 79, 80, 82, 84, 86, 87, 88, 89, 90, 92, 93

209
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO, TENDÊNCIAS COMPETITIVAS

Ordenamento Jurídico: 139, 142, 143, 145

Patentes: 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 28, 150, 191,
192, 193, 194, 195, 197, 198

Patentes Verdes: 45, 51, 54, 55, 57, 58, 60, 61, 62, 63, 64, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73,
75, 76, 77, 78

Patentometria: 86, 110, 111

Potencial 12, 13, 23, 26, 29, 31, 32, 33, 42, 52, 62, 70, 77, 79, 82, 93, 97, 98, 124,
149, 155, 156, 157, 159, 161, 162, 164, 165, 168, 172, 176, 178, 179, 182, 183, 189,
190, 194

Propriedade: 11, 12, 13, 16, 24, 26, 27

Prospecção Tecnológica: 33, 43, 44, 78, 84, 85, 95, 97, 98, 108, 147, 197

Prova Judicial: 142, 146

Resíduos: 29, 30, 31, 32, 33, 42, 43, 47, 48, 53, 54, 70, 78

Smart City: 82, 83, 90, 93

Sólidos: 29, 41, 46, 48, 70

Tecnologia: 12, 13, 14, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 30, 33, 35,
41, 47, 48, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 58, 60, 61, 62, 63, 64, 67, 68, 69, 70, 71, 73, 75, 76,
77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 91, 93, 94, 95, 97, 98, 99, 100, 102,
103, 104, 105, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 118, 119, 120, 121, 122,
123, 135, 137, 138, 140, 141, 143, 144, 145, 146, 158, 161, 163, 164, 165, 170, 175,
178, 179, 183, 190, 193, 197, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 207, 208

Tecnologias Verdes: 51, 53, 54, 56, 61, 63, 67, 69, 70, 71, 78,

Tendências Competitivas 29, 35, 45, 60, 85

Tecnologia da Informação e Comunicação: 79, 80, 84, 98, 99, 100, 103

210
MAPEAMENTO TECNOLÓGICO, TENDÊNCIAS COMPETITIVAS

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