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COORDENADORA DO PROGRAMA EDITORIAL

Suzana Leitão Russo (API/UFS/SE)

CONSELHO CONSULTIVO
Irineu Afonso Frey
Universidade Federal de Santa Catarina - Brasil
José Paulo Rainho
Universidade de Aveiro - Portugal
Luísa M. C. Carvalho
Instituto Politécnico de Setúbal - Portugal
Maria Emilia Camargo
Universidade de Caxias do Sul - Brasil
Paulo M. M. Rodrigues
Universidade de Lisboa - Portugal

COMITÊ EDITORIAL

Angela Isabel dos Santos Dullius Luis Felipe Dias Lopes


Universidade Federal de Santa Maria - Brasil Universidade Federal de Santa Maria - Brasil
Antonio Vanderlei dos Santos Maria Augusta Silveira Netto Nunes
Universidade Regional Integrada do alto Uruguai e das Missões - Brasil UNIRIO - Brasil
Carmen Regina Dorneles Nogueira Maria da Gloria Bandeira
Universidade Federal do Pampa - Campus Jaguarão - Brasil Universidade Federal do Maranhão - Brasil
Célia M. Q. Ramos Marta Elisete Ventura da Motta
ESGHT da Universidade do Algarve - Portugal Universidade de Caxias do Sul - Brasil
Cristina M. Quintella Maria Rita de Morais Chaves Santos
Universidade Federal da Bahia - Brasil Universidade Federal do Piauí - Brasil
Deise Juliana Francisco Reinaldo Castro e Souza
Universidade Federal de Alagoas - Brasil Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - Brasil
Fátima Regina Zan Simone de Cássia Silva
Instituto Federal Farroupilha - Brasil Universidade Federal de Sergipe - Brasil
Gesil Sampaio Amarante Segundo Norberto Nuno Pinto Santos
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) - Brasil Universidade de Coimbra - Portugal
José Aprígio Carneiro Neto Vivianni Marques Leite dos Santos
Instituto Federal de Sergipe - Brasil Universidade Federal do Vale do São Francisco - Brasil
Jonas Pedro Fabris Walter Priesnitz Filho
Universidade Federal de Sergipe - Brasil Universidade Federal de Santa Maria - Brasil
AUTORES

André Luis Dantas Ramos Marlisson Paulo Pinheiro da Silva


Anne Marrana dos Santos Ramos Pontes Matheus Liniker de Jesus
Claudilene dos Santos Silva Miburge Bolívar Gois Júnior
Daniel Oliveira Dantas Murilo Marchioro
Eline Silva da Cunha Ravena Barreto da Silva Cavalcante
Flávia Moreira Guimarães Pessoa Regiane Cristina do Amaral
Geraldo Magella Teixeira Renata Roberta Dantas Silva
Izabela Souza da Silva
Ricardo Martineli Massola
Jandira Valerio Gomes Maia
Roberto Alcântara de Oliveira Araújo
Josélia Souza de Medeiros
Rosalin Santana Barreto
José Ronaldo Veronesi Junior
Ruth Santos de Andrade
Josicleide Gomes Davi dos Santos
Loic Hernandez do Amaral e Aragão Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira
Lydianne Lumack do Monte Agra Tereza Raquel Ribeiro de Sena
Marcos André Santos Guedes Thyago Avelino Santana dos Santos
Maria do Amparo Marinho de Melo Yannine Nery do Nascimento
Maria Goretti Fernandes Vitor Oliveira Carvalho

Aracaju, 2021
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É proibido a reprodução total ou parcial, de
qualquer forma ou por qualquer meio. A violação dos direitos de autor (Lei nº 9.610, de 19
de fevereiro de 1998.) é crime estabelecido pelo artigo 184 do código penal.
Este livro, ou parte dele, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização
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no Brasil em 2009
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dos seus autores. Os autores são responsáveis pela obtenção da autorização escrita para
reprodução de materiais que tenham sido previamente publicados e que desejem que se-
jam reproduzidos neste livro.

CAPA
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PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA


Adilma Menezes

Printed in Brazil
Impresso no Brasil

Ficha Catalográfica elaborada pela Backup Books Editora

G393 Gestão da Saúde do Trabalhador e Ergonomia. Maria Goretti


Fernandes Izabela Souza da Silva (Organizadores). Aracaju:
Backup Books Editora, 2021.
286 p.
Vários autores.
ISBN: 978-65-995397-1-8
https://doi.org/10.47022/backup.books020

1. Gestão. 2. Saúde do Trabalhador. 2. Ergonomia. I. Fer-


nandes, Maria Goretti. II Silva, Izabela Souza da. III Título

C.D.U 65.614

Backup Books Editora


CEP 49.035-490 – Aracaju/SE
e-mail: backup.books.editora@gmail.com
www.backupbooks.com.br
“Quanto à busca da integridade da saúde
dos trabalhadores, em todos os aspectos,
mudanças de comportamento deverão
sobrepor como um dos maiores desafios das
empresas e trabalhadores, no âmbito em
que as instituições são feitas de pessoas, e
pessoas são feitas de escolhas”.
LEANDRO MELERO
Os autores agradecem o apoio:

da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior - CAPES

da Associação dos Magistrados de Sergipe - AMASE

do Tribunal Regional do Trabalho 21ª Região - RN

do Instituto Educacional Veronesi - IEDUV

da Backup Books Editora

da Universidade Federal de Sergipe - UFS


PREFÁCIO

Quando fui convidado pelas organizadoras, Profa. Maria Goretti


Fernandes e Izabela Souza da Silva, para fazer parte como autor des-
se livro e depois colaborar no prefácio desta importante obra, para
o meio acadêmico de todas as profissões e ciências que transitam
nesta seara profissional, fiquei muito honrado.
Este livro traz com clareza, veracidade e probidade assuntos
sobre a gestão em saúde do trabalhador, ergonomia, perícia judi-
cial, temas jurídicos na área, sendo uma importante obra para o
direcionamento e estruturação acadêmica das profissões inseridas
neste tema.
Segundo dados constantes no Obsrvatório Digital de Saúde e Se-
gurança do Trabalho, o Brasil registrou, entre 2012 e os dias atuais
quatro milhões, setecentos e doze mil e vinte e três acidentes, re-
presentando em média quase 1 acidente a cada 48 horas, sendo que
muitos destes acidentes foram decorrentes da não obsrvância das
normas regulamentadores, principalmente a NR 17 que trata sobre
Ergonomia, mostrando a importância das empresas terem um siste-
ma de Gestão em Saúde e Segurança no Trabalho, sendo a ergono-
mia uma ciência importante para tal.
A presente obra acadêmica traz uma reflexão sobre várias temá-
ticas que envolvem a Gestão em Saúde do Trabalhador e Ergono-
mia: desde novas ferramentas para Análise Ergonômica Preliminar
(NR17), Programa de Gerenciamento de Risco (NR1), Perícia Judicial
e Legislação Trabalhista, dentre outros. Com uma leitura fácil e ao
mesmo tempo muito técnica, leva você, leitor, a uma linha de racio-
cínio e reflexão aprofundada sobre o tema.
-8-
Gestão da saúde do trabalhador e ergonomia

O leitor encontrará no conjunto de capítulos, a fertilização de as-


suntos cujo eixo balizador é a temática do livro e traz uma sequência
lógica e ao mesmo tempo envolvente sobre o assunto.

Dr. José Ronaldo Veronesi Júnior


Diretor do IEDUV - Instituto Educacional Veronesi/ES - Brasil
SUMÁRIO

11 PREFÁCIO
José Ronaldo Veronesi Junior

13 DESFUNCIONALIDADE NA GESTÃO DE SAÚDE DOS EMPRE-


GADOS: ESTUDO DE CASO CONCRETO
Fátima Christiane Gomes de Oliveira

37 PERÍCIA ERGONÔMICA E PERÍCIA FISIOTERAPÊUTICA,


QUAIS AS DIFERENÇAS E SUAS SEMELHANÇAS
José Ronaldo Veronesi Junior

63 AVALIAÇÃO POSTURAL ERGONÔMICA: UMA NOVA FRONTEI-


RA NA SAÚDE DO TRABALHADOR
Miburge Bolívar Gois Júnior, Alana Lalucha de Andrade Guimarães,
Maiana Damares Santos Silva, Luiz Felipe Oliveira Bispo,
Yasmin Profeta da Silva Ribeiro, Vitor Oliveira Carvalho

87 RUÍDO E QUALIDADE DE VIDA EM TRABALHADORES DE UTI


Anne Marrana dos Santos Ramos Pontes, Jandira Valerio Gomes
Maia, Regiane Cristina do Amaral, André Luis Dantas Ramos,
Tereza Raquel Ribeiro de Sena

105 PREVALÊNCIA DE SINTOMAS OSTEOMUSCULARES ENTRE


MANIPULADORES DE ALIMENTOS DE UM SERVIÇO DE NU-
TRIÇÃO HOSPITALAR EM MACEIÓ
Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira, Ruth Santos de
Andrade, Josicleide Gomes Davi dos Santos, Geraldo Magella
Teixeira
125 YOGA NA SAÚDE DO TRABALHADOR: VÍDEO COMO RECURSO
EDUCACIONAL ABERTO
Maria do Amparo Marinho de Melo, Silvia Pessoa de Freitas
Pedrosa de Oliveira, Izabela Souza da Silva, Maria Goretti
Fernandes, Geraldo Magella Teixeira

135 O PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO E A SÍNDROME DO


USUÁRIO DO COMPUTADOR: CONDUTAS E ORIENTAÇÕES
NO SENTIDO DE PRESERVAR A SAÚDE OCULAR DE MAGIS-
TRADOS E SERVIDORES
Roberto Alcântara de Oliveira Araújo, Lydianne Lumack do Monte
Agra, Flávia Moreira Guimarães Pessoa

151 SÍNDROME DE BURNOUT NA PANDEMIA DA COVID-19: UMA


REVISÃO SISTEMÁTICA
Maria Goretti Fernandes, Ravena Barreto da Silva Cavalcante,
Izabela Souza da Silva, Claudilene dos Santos Silva, Rosalin
Santana Barreto

165 PROCESSOS DE TRABALHO EM SAÚDE E O ADOECIMENTO


DE PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍ-
LIA: ASPECTOS HISTÓRICOS, AVANÇOS E DESAFIOS INEREN-
TES ÀS ATIVIDADES
Loic Hernandez do Amaral e Aragão, Josélia Souza de Medeiros,
Marlisson Paulo Pinheiro da Silva, Yannine Nery do Nascimento

179 BOAS PRÁTICAS PROFISSIONAIS ENVOLVENDO P E R Í C I A S


JUDICIAIS TRABALHISTAS EM LIDES CAUSADAS POR CONS-
TRANGIMENTOS FÍSICOS ERGONÔMICOS
Marcos André Santos Guedes

213 AVALIAÇÃO DE RISCO PRELIMINAR EM ERGONOMIA (ARPE):


UM MODELO PRÁTICO PARA A AVALIAÇÃO ERGONÔMICA
PRELIMINAR E PARA O PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE
RISCOS
José Ronaldo Veronesi Júnior, Ricardo Martineli Massola
231 MINDFULNESS: UMA ALTERNATIVA PROMISSORA NA SAÚDE
DO TRABALHADOR
Eline Silva da Cunha, Matheus Liniker de Jesus, Murilo Marchioro

245 A CONTRIBUIÇÃO DAS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLE-


MENTARES EM SAÚDE  NA QUALIDADE DE VIDA DOS TRABA-
LHADORES
Renata Roberta Dantas Silva, Daniel Oliveira Dantas

265 NÃO TENHA MEDO DE PEDIR AJUDA: IMPACTOS NA QUALI-


DADE DE VIDA NO TRABALHO
Thyago Avelino Santana dos Santos

277 SOBRE OS AUTORES


- 13 -
Fátima Christiane Gomes de Oliveira

DESFUNCIONALIDADE NA GESTÃO
DE SAÚDE DOS EMPREGADOS:
ESTUDO DE CASO CONCRETO
Fátima Christiane Gomes de Oliveira

Direito à saúde

A Constituição da Organização Internacional do Trabalho, que


se encontra atualmente em vigor, foi aprovada na 29ª Reunião da
Conferência Internacional do Trabalho ocorrida no ano de 1946, em
Montreal, e tem como anexo a Declaração referente aos fins e objeti-
vos da Organização, que fora aprovada na 26ª reunião da Conferên-
cia da Filadélfia, em 1944.
O preâmbulo da noticiada Constituição afirma que a paz dura-
doura e universal se assenta na justiça social, elencando como um
de seus elementos fundamentais a “proteção dos trabalhadores con-
tra as moléstias graves ou profissionais e os acidentes do trabalho”
(ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 1946, p. 2-3).
A anexa Declaração da Filadélfia, por sua vez, especifica no seu
item III, os princípios fundamentais sobre os quais repousa a Orga-
nização Internacional do Trabalho e estabelece que esta organiza-
ção possui a obrigação de auxiliar as Nações do Mundo a executar
programas que visem “g) assegurar uma proteção adequada da vida
- 14 -
Desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados

e da saúde dos trabalhadores em todas as ocupações” (ORGANIZA-


ÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 1946, p. 21).
O Brasil ratificou o instrumento de emenda da Constituição da
Organização Internacional do Trabalho em 13 de abril de 1948, con-
forme Decreto de Promulgação n. 25.696, de 20 de outubro de 1948,
atualmente revogado pelo Decreto n. 10.088, de 5 de novembro de
2019 (BRASIL, 2019).
A Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro
de 1988, que se encontra atualmente em vigor no país, estabelece no
seu art. 6º, como direitos sociais fundamentais, a educação, a saúde,
o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância (BRASIL, 1988).
A seguir, a referida Constituição dispõe no art. 196: “[...] A saúde
é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988).
É possível inferir, pela maneira como a saúde foi tratada pelo
legislador constituinte, que lhe foi atribuída grande importância e
cuidado na qualidade de bem jurídico. Assim, ao reconhecer a saú-
de como direito social fundamental, o Estado se obrigou a formular
políticas públicas sociais e econômicas destinadas à sua promoção,
proteção e recuperação.
Em que pese o debate acerca da saúde seja concentrado majori-
tariamente nas medidas de combate às doenças e de acesso aos tra-
tamentos e às medicações, é essencial destacar que, hodiernamente,
o conceito mais apropriado de saúde é aquele que se aproxima do
ideal de promoção de bem-estar do indivíduo como um todo, afas-
tando-se do entendimento de que a mesma coincide tão somente
com a ausência de moléstia.
Para a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mun-
dial da Saúde “o conceito de saúde vai além da mera ausência de
- 15 -
Fátima Christiane Gomes de Oliveira

doenças. Na verdade, só é possível ter saúde quando há um completo


bem-estar físico, mental e social de uma pessoa” (OPAS/OMS BRA-
SIL, 2016).
É dentro deste contexto que surge a obrigação do empregador de
promover o bem-estar social do seu empregado, o que obrigatoria-
mente implica o fornecimento de um meio ambiente laboral que lhe
assegure integridade física e mental.

Gestão de saúde

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 cuidou


de estabelecer um norte procedimental nos seus arts. 198 a 200, atri-
buindo ao Sistema Único de Saúde a coordenação e a execução das
políticas para proteção e promoção da saúde no Brasil:

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma


rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema
único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de go-
verno;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.
§ 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do
art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além
de outras fontes.
§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde,
recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais
calculados sobre:
I - no caso da União, a receita corrente líquida do respectivo
exercício financeiro, não podendo ser inferior a 15% (quinze
por cento);
- 16 -
Desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados

II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da


arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recur-
sos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II,
deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos
Municípios;
III - no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto
da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos re-
cursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º.
§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada
cinco anos, estabelecerá:
I - os percentuais de que tratam os incisos II e III do § 2º;
II - os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à
saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-
nicípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Muni-
cípios, objetivando a progressiva redução das disparidades
regionais;
III - as normas de fiscalização, avaliação e controle das des-
pesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e mu-
nicipal;
IV - (revogado).
§ 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão
admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate
às endemias por meio de processo seletivo público, de
acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e
requisitos específicos para sua atuação.
§ 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial
profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira
e a regulamentação das atividades de agente comunitário de
saúde e agente de combate às endemias, competindo à União,
nos termos da lei, prestar assistência financeira complementar
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para o
cumprimento do referido piso salarial.
§ 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º
do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça
funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou
- 17 -
Fátima Christiane Gomes de Oliveira

de agente de combate às endemias poderá perder o cargo em


caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados
em lei, para o seu exercício.
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.
§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma
complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes
deste, mediante contrato de direito público ou convênio, ten-
do preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucra-
tivos.
§ 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios
ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos.
§ 3º É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou
capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos
casos previstos em lei.
§ 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que
facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas
para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como
a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus
derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização.
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras
atribuições, nos termos da lei:
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substân-
cias de interesse para a saúde e participar da produção de me-
dicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados
e outros insumos;
II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica,
bem como as de saúde do trabalhador;
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - participar da formulação da política e da execução das
ações de saneamento básico;
V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento
científico e tecnológico e a inovação;
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o con-
trole de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para
consumo humano;
- 18 -
Desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados

VII - participar do controle e fiscalização da produção, trans-


porte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoati-
vos, tóxicos e radioativos;
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compre-
endido o do trabalho. (BRASIL, 1988).

Não existe dúvida de que os gestores do Sistema Único de Saú-


de são os representantes de cada esfera de governo designados para
o desenvolvimento das funções do Executivo na saúde: no âmbito
nacional, o Ministro da Saúde; no âmbito estadual, o Secretário de
Estado da Saúde; e no municipal, o Secretário Municipal de Saúde.
É indiscutível que cabe ao Estado, portanto, por intermédio de
suas esferas diversas, a atividade e a responsabilidade de comandar
o sistema de saúde, gerindo-o de forma que assegure a todos os cida-
dãos o seu direito social à saúde.
Contudo, não se pode afirmar que a atribuição de gerir a saúde se
exaure na atuação daqueles atores.
Sobre o assunto, dispôs Buss (2010):

A Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, rea-


lizada em Ottawa, no Canadá, em 1986 que estabeleceu uma
série de princípios éticos e políticos, definindo os campos de
ação. De acordo com o documento, promoção da saúde é o
“processo de capacitação da comunidade para atuar na me-
lhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo maior par-
ticipação no controle desse processo”.
Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental
e social, os indivíduos e grupos devem saber identificar aspi-
rações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o
ambiente natural, político e social. A saúde é, portanto, um
conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais,
bem como as capacidades físicas. Assim, não é responsabili-
dade exclusiva do setor saúde e vai além de um estilo de vida
saudável, na direção de um bem-estar global.
- 19 -
Fátima Christiane Gomes de Oliveira

A carta afirma que são recursos indispensáveis para ter saú-


de: paz, renda, habitação, educação, alimentação adequada,
ambiente saudável, recursos sustentáveis, equidade e justiça
social, com toda a complexidade que implicam alguns desses
conceitos. A promoção da saúde é o resultado de um conjunto
de fatores sociais, econômicos, políticos e culturais, coletivos
e individuais, que se combinam de forma particular em cada
sociedade e em conjunturas específicas, resultando em socie-
dades mais ou menos saudáveis.
Na maior parte do tempo de suas vidas, a maioria das pessoas
é saudável, ou seja, não necessita de hospitais, CTI ou com-
plexos procedimentos médicos, diagnósticos ou terapêuticos.
Mas, durante toda a vida, todas as pessoas necessitam de
água e ar puros, ambiente saudável, alimentação adequada,
situações social, econômica e cultural favoráveis, prevenção
de problemas específicos de saúde, assim como educação e in-
formação – estes, componentes importantes da promoção da
saúde. Então, para promover a saúde, é preciso enfrentar os
chamados determinantes sociais da saúde.
A promoção da saúde se refere às ações sobre os condicio-
nantes e determinantes sociais da saúde, dirigidas a impactar
favoravelmente a qualidade de vida. Por isso, caracterizam-
-se fundamentalmente por uma composição intersetorial e,
intra-setorialmente, pelas ações de ampliação da consciência
sanitária – direitos e deveres da cidadania, educação para a
saúde, estilos de vida e aspectos comportamentais etc.
Assim, para melhorar as condições de saúde de uma população,
são necessárias mudanças profundas dos padrões econômicos
no interior dessas sociedades e intensificação de políticas so-
ciais, que são eminentemente políticas públicas. Ou seja, para
que uma sociedade conquiste saúde para todos os seus integran-
tes, é necessária ação intersetorial e políticas públicas saudáveis.

Extrai-se da sua fala a importância de se destacar que a con-


quista da saúde para todos os integrantes da sociedade não é
- 20 -
Desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados

responsabilidade apenas do setor de saúde e de seus gestores pú-


blicos, mas sim de uma ação intersetorial, de mudanças nos pa-
drões econômicos das sociedades e da intensificação de políticas
sociais.
A Constituição da República Federal do Brasil de 1988dispõe, no
seu art. 7º, quando elenca os direitos sociais:

Art.7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além


de outros que visem à melhoria de sua condição social:
[...] IV-salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unifi-
cado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas
e às de sua família com moradia, alimentação, educação,
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência
social, com reajustes periódicos que lhe preservem o po-
der aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qual-
quer fim;
[...] XXII-redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
normas de saúde, higiene e segurança;
[...] XXVIII- seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do
empregador, sem excluir a indenização a que este está obriga-
do, quando incorrer em dolo ou culpa; (BRASIL, 1988).

A exegese conjunta das disposições constitucionais transcritas


permite a afirmação de que o legislador constituinte atribuiu ao
empregador, como integrante da sociedade e detentor de poder di-
retivo dos empregados, obrigações inerentes à satisfação efetiva do
direito social à saúde conferido aos trabalhadores, quando estes se
encontram inseridos na relação de trabalho e desempenham as suas
atribuições no meio ambiente laboral.
A Consolidação das Leis do Trabalho aprovada pelo Decreto-Lei
nº 5.452, de 1º de maio de 1943, por sua vez, traz em seu bojo artigos
que impõem expressamente a obrigatoriedade da participação pa-
tronal na gestão de saúde de seus trabalhadores:
- 21 -
Fátima Christiane Gomes de Oliveira

Art. 157 - Cabe às empresas:


I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medici-
na do trabalho;
II - instruir os empregados, através de ordens de serviço,
quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes
do trabalho ou doenças ocupacionais;
III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo ór-
gão regional competente;
IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade com-
petente.
Art. 163 - Será obrigatória a constituição de Comissão Interna
de Prevenção de Acidentes (CIPA), de conformidade com ins-
truções expedidas pelo Ministério do Trabalho, nos estabele-
cimentos ou locais de obra nelas especificadas.
Parágrafo único - O Ministério do Trabalho regulamentará
as atribuições, a composição e o funcionamento das CIPA(s).
Art. 166 - A empresa é obrigada a fornecer aos empregados,
gratuitamente, equipamento de proteção individual adequa-
do ao risco e em perfeito estado de conservação e funciona-
mento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam
completa proteção contra os riscos de acidentes e danos à saú-
de dos empregados.
Art. 168 - Será obrigatório exame médico, por conta do empre-
gador, nas condições estabelecidas neste artigo e nas instruções
complementares a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho:
I - a admissão;
II - na demissão;
III - periodicamente.
Art. 169 - Será obrigatória a notificação das doenças profissionais
e das produzidas em virtude de condições especiais de trabalho,
comprovadas ou objeto de suspeita, de conformidade com as ins-
truções expedidas pelo Ministério do Trabalho. (BRASIL, 1943).

Nesse contexto é que a lei impõe ao empregador não apenas a


obrigação de pagar um salário capaz de satisfazer as necessidades
- 22 -
Desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados

vitais do empregado, mas também a obrigação de reduzir os riscos


inerentes ao trabalho mediante o cumprimento das normas de saú-
de, higiene e segurança, bem como a obrigação de pagar seguro con-
tra acidentes de trabalho e indenização cível quando incorrer em
dolo ou culpa que provoque lesão ao empregado.
A leitura dos referidos dispositivos da Lei Federal transcrita per-
mite inferir que a legislação trabalhista ordinária, ao lado da Cons-
tituição Federal, e ambas alinhadas com a normatização internacio-
nal sobre o assunto, impõem responsabilidade ao empregador pela
gestão da saúde de seus empregados.
A gestão da saúde do empregado haverá de se dar por meio da
adoção de medidas: 1) que previnam a ocorrência de acidentes de
trabalho e doenças ocupacionais; 2) de acompanhamento da saúde
dos seus trabalhadores, com exames rotineiros realizados por médi-
cos do trabalho; e 3) reparatórias, como, por exemplo, a notificação
de doenças decorrentes do trabalho na forma das instruções expe-
didas pela atual Secretaria de Trabalho, e o pagamento de seguros
e indenizações em caso de acidentes de trabalho ou doenças decor-
rentes do labor.

Desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados

Em que pese a existência de previsão normativa impondo a obri-


gação patronal de proteção dos trabalhadores – e no caso da Conso-
lidação das Leis do Trabalho, impondo a proteção específica da cate-
goria específica dos empregados1 – e estabelecendo explicitamente a

1 O termo “trabalhador” se aplica a toda pessoa que exerce trabalho remunerado, podendo
incluir, por exemplo, os autônomos e eventuais, ao passo que o termo “empregado” se apli-
ca à categoria de trabalhador que presta serviços pessoalmente, e está submetido ao poder
hierárquico do empregador, dele recebendo ordens e salário. A relação entre empregado e
empregador é regulada pela Consolidação das Leis Trabalhistas, e as causas dela decorrentes
são submetidas à Justiça do Trabalho.
- 23 -
Fátima Christiane Gomes de Oliveira

responsabilidade geral do Estado pela gestão de saúde dos cidadãos


e a responsabilidade do empregador pela gestão de saúde dos seus
funcionários quando inseridos num ambiente laboral, é imperiosa
a conclusão de que o trabalho têm se firmado como uma das princi-
pais fontes de adoecimento no mundo.
Segundo dados do Relatório Trabalhar para um futuro melhor
da Comissão Global sobre o Futuro do Trabalho da OIT (ORGANI-
ZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2019), 2,78 milhões de
pessoas morrem por ano em razão de acidentes ocupacionais ou do-
enças relacionadas ao trabalho.
A constatação deste fato, aliada aos atuais índices de desempre-
go, pobreza, desigualdades, informalidade e exclusão digital levou a
OIT a propor na publicação referida a construção de um novo con-
trato social que possa oferecer aos trabalhadores uma parcela justa
do progresso econômico, respeito pelos seus direitos e proteção con-
tra o risco, em troca de sua contribuição contínua para a economia.
A renovação desse contrato social requer uma ação comprometi-
da dos governos e das organizações de empregadores e trabalhado-
res no intuito de estabelecer um diálogo que leve ao incremento do
trabalho decente e sustentável e à diminuição dos índices de adoeci-
mentos, incapacidades e mortes derivadas do labor.
Enquanto os atores destas relações trabalham na construção des-
se futuro ideal, o que se verifica na prática é o adoecimento de traba-
lhadores como resultado de uma gestão desfuncional de sua saúde,
que se revela, ora pelo descumprimento habitual, ora pelo descum-
primento pontual do dever legal patronal de evitar a ocorrência de
acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.
É impossível se pensar na promoção do bem-estar dos emprega-
dos, dissociando-os de um meio ambiente de trabalho equilibrado e
harmonioso cujas políticas públicas e diretrizes legais de segurança
e saúde sejam efetivamente levadas em consideração e postas em
prática pelos responsáveis pela sua gestão.
- 24 -
Desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados

O estudo de caso a seguir revela as condições precárias de traba-


lho dos empregados da Empresa Brasileira de Correio e Telégrafos
no estado no Rio Grande do Norte, bem como as repercussões jurí-
dicas advindas da constatação, pelo Poder Judiciário Trabalhista, da
negligência da empresa no cumprimento de normas de segurança e
saúde do trabalho.

Estudo de caso concreto

Em 28 de julho de 2014, o Ministério Público do Trabalho, por


intermédio da Procuradoria Regional do Trabalho da 21ª Região,
ajuizou Ação Civil Pública em desfavor da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos, relatando a ocorrência de irregularidades di-
versas no meio ambiente de trabalho de agências dos correios no
estado do Rio Grande do Norte.
A referida ação foi distribuída por sorteio para a 9ª Vara do Tra-
balho de Natal, e protocolada sob o nº 0000880-67.2014.5.21.0009,
cabendo a sua apreciação à magistrada autora do presente capítu-
lo, que exercia, naquela oportunidade, a função de Juíza Auxiliar
da Vara.
Na petição inicial do processo, o Ministério Público do Trabalho
relatou que o descumprimento da legislação complementar traba-
lhista por parte dos Correios havia chegado ao seu conhecimento
por meio de denúncias anônimas, e, posteriormente, mediante re-
presentação formalizada pelo Sindicato dos Técnicos Industriais do
Rio Grande do Norte – SINTEC RN.
Diante das referidas denúncias, o Ministério Público do Trabalho
iniciou procedimento administrativo para apuração dos fatos noti-
ciados, oportunidade em que realizou audiências com os envolvidos e
solicitou ao Ministério do Trabalho e Emprego a fiscalização em agên-
cias da reclamada, proceder este que originou 22 (vinte e dois) autos
de infração.
- 25 -
Maria Goretti Fernandes; Izabella Souza da Silva

Os referidos autos de infração foram lavrados por agente compe-


tente, se revestiram da forma legal e foram devidamente motivados
com a caracterização das infrações cometidas pela empregadora em
cada agência e indicação do dispositivo legal desrespeitado.
Em seu bojo, tais autos revelaram a existência de um meio am-
biente de trabalho impróprio e não condizente com o ideal preconi-
zado pelo regramento existente acerca do assunto.
Não obstante a presunção de legitimidade que reveste a lavratura
dos autos de infração realizada por Auditores Fiscais no Trabalho
no exercício de sua atribuição institucional, a Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos insistiu, no decorrer do processo, na inocor-
rência de diversas irregularidades apontadas.
No intuito de suplantar eventual dúvida acerca da situação
real do meio ambiente laboral das agências dos Correios e diante
da dificuldade prática de se periciar todas as agências da referida
empresa do Rio Grande do Norte, então existentes à época, o juízo
nomeou um expert, e determinou a realização da prova técnica por
amostragem, tendo esta verificado a ocorrência das irregularidades
apontadas pelo Ministério Público do Trabalho, o que só corroborou
a verdade noticiada nos autos de infração dos auditores fiscais do
trabalho.
A sentença proferida nos autos do processo no dia 17 de setembro
de 2018 concluiu, após a valoração da prova técnica referida, a exis-
tência efetiva de irregularidades diversas nas agências, que foram
objeto de análise pelo perito nomeado, chamando atenção para o
fato de que a correção delas é imperiosa por não se tratarem de ben-
feitorias voluptuárias e sim necessárias2:

2 A terminologia e diferença entre os dois tipos de benfeitorias são extraídas do art. 96 do


Código Civil, que considerada as voluptuárias como “as de mero deleite ou recreio, que não
aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado
valor” e necessárias “as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore” (BRASIL,
2002).
- 26 -
Desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados

[...] A análise dos laudos periciais, que passam a fazer parte


dessa decisão como se nele estivessem transcritas, revela a
ocorrência das irregularidades apontadas na petição inicial
em todas as agências.
As irregularidades pelo descumprimento das NR 17, 23 e 24
são apontadas de forma específica nos laudos referentes às
agências de Areia Branca, Assu, Extremoz, Lagoa Nova/Natal
e Tibau.
A falta de elaboração ou implementação na forma adequada
do PCMSO, PPRA e AET também são noticiadas nos laudos
referentes às agências de Areia Branca, Assu, Extremoz, Lagoa
Nova/Natal e Tibau.
A apreciação das condições relativas à agência de Touros res-
tou prejudicada uma vez que, por equívoco, foi juntado no-
vamente o laudo relativo à agência de Extremoz no lugar do
laudo relativo àquela primeira.
Em todas as agências periciadas, é inconteste o descumpri-
mento do disposto no artigo 170 da CLT, que dispõe que “as
edificações deverão obedecer aos requisitos técnicos que ga-
rantam perfeita segurança aos que nelas trabalhem”, diante
das infrações às normas de proteção e segurança apontadas.
Note-se que a contestação sustenta que a reclamada tem in-
crementado as suas instalações, através de reformas que vi-
sam melhorar, corrigir e adaptar os seus estabelecimentos no
que diz respeito às infra-estruturas, instalações sanitárias e
elétricas.
De fato, tal proceder pode ser observado através de docu-
mentos como os enumerados de forma exemplificativa: 1) o
de ID 86c47f7 que revela a elaboração de PPRA em relação
ao ano de 2014; 2) os de ID afdf3f3 e ID 5e6be46 que revelam
a celebração de TAC perante o MPT da 10ª Região para im-
plementar integralmente as soluções apresentas nas análises
ergonômicas referentes a área operacional e de atendimento
até 31/12/2014; 3) o de ID. 921c0d0 que revela a elaboração de
LTCAT em relação à agência do bairro de Lagoa Nova/Natal; 4)
- 27 -
Maria Goretti Fernandes; Izabella Souza da Silva

o de ID ec0e508 e ID 19b581a que revelam tratativas para loca-


ção de imóvel com infra-estrutura sob medida para abrigar a
agência de Extremoz; 5) o de ID 5e36cc5 que apresenta o rol de
agências que tiveram o seu mobiliário substituído nos termos
do TAC 038/2007; 6) documentos diversos que constam da mí-
dia de DVD que se encontra depositada na secretaria da vara.
Alerta a demandada, contudo, que, em se tratando de Empre-
sa Pública, possui limitações orçamentárias legalmente im-
postas que a impedem de realizar investimentos e reformas
em imóveis e instalações, “a seu bel prazer”, tese que não me-
rece acolhida, mormente quando se percebe que as melhorias
das quais se fala aqui não dizem respeito a benfeitorias vo-
luptuárias, mas sim, a adequações necessárias para que seja
assegurado aos trabalhadores um meio ambiente de trabalho
saudável e seguro. [...] (RIO GRANDE DO NORTE, 2018).

No mais, o juízo, ao proferir a sentença, alertou para o fato de


que não é possível se aceitar o cumprimento parcial de regramento
relativo à segurança e saúde do trabalho, posto que o meio ambiente
laboral não é passível de fragmentação, devendo ser encarado como
único e indivisível, como se esclarece, em momento subsequente:

[...]
É preciso que se registre que o eventual cumprimento das
obrigações contidas nos dispositivos celetistas e nas normas
regulamentadoras em relação a uma ou outra agência, sem
que seja comprovado o atendimento das mesmas em relação
a todo o seu conjunto de agências, não afasta a pretensão ex-
posta na petição inicial, que se revela legítima desde que seja
percebida a lesão ao regramento correlato em pelo menos
parte das mesmas, como claramente ocorre nos autos.
Além disso, como bem expõe a parte autora, a pretensão em
tela não é apenas de reparação de danos constatados, mas
também de obtenção de uma tutela inibitória que impeça a
repetição das irregularidades futuramente.
- 28 -
Desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados

[...]
O meio ambiente, aí se incluindo o do trabalho, não pode ser
fracionado, sendo inconcebível a ideia de que o mesmo se en-
contra devidamente protegido se apenas uma norma está sen-
do cumprida na totalidade das agências e as demais normas
estão sendo negligenciadas, ou, em outra hipótese, se todas
as normas estão sendo cumpridas em uma única agência e as
mesmas normas estão sendo negligenciadas em outras agên-
cias. (RIO GRANDE DO NORTE, 2018).

Diante de tais ponderações, o juízo acolheu a postulação existen-


te na petição inicial, determinando à empresa a realização de ajuste
do meio ambiente laboral de suas agências ao regramento existente
acerca de saúde e segurança do trabalho, por meio de medidas como
a realização de análise ergonômica do trabalho, adequação do mobi-
liário e dos vestiários, disponibilização e uso adequado de extintores
de incêndio, entre outras, condenando a ré, nos moldes pretendidos
pelo órgão do parquet, a:

[...]
1) ELABORAR, por Médico ou Engenheiro do Trabalho espe-
cializado em Ergonomia a Análise Ergonômica do Trabalho
- AET, para avaliar a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, nos ter-
mos da NR 17, item 17.1.2., contemplando todas as Agências
e Centros de Triagem e Distribuição de Encomendas dos Cor-
reios no estado do Rio Grande do Norte;
2) ADEQUAR o mobiliário dos postos de trabalho de todas as
agências, observando os parâmetros contidos na NR 17, item
17.3;
3) DOTAR todas as Agências e Centros de Triagem e Distribuição
de Encomendas dos Correios no estado do Rio Grande do Nor-
te de extintores de incêndio, em conformidade com a Norma
ABNT NBR 12693:2010 e a NR-23, nos seus itens 23.11 a 23.18.5;
- 29 -
Maria Goretti Fernandes; Izabella Souza da Silva

4) ADEQUAR a iluminação do ambiente de trabalho de to-


das as agências e Centros de Triagem e Distribuição de En-
comendas dos Correios no Estado do Rio Grande do Norte
às disposições contidas na NR-17, observando os parâme-
tros contidos nos itens 17.5.3, 17.5.3.1, 17.5.3.2 e 17.5.3.3 da
referida NR;
5) ADEQUAR as instalações sanitárias de todas as agências e
Centros de Triagem e Distribuição de Encomendas dos Cor-
reios no Estado do Rio Grande do Norte às normas presen-
tes na NR-24 referentes à: 5.1) construção e/ou adaptação
de vestiários nas agências em que funcionários necessitem
fazer trocar de roupas, conforme estabelecido no item 24.2;
5.2) construção e/ou adaptação de locais apropriados para
realização das refeições, seguindo as orientações do item
24.3.15.2]; 5.3) manutenção das instalações sanitárias separa-
das por sexo, de acordo com o item 24.1.2.1, bem como obser-
var o cumprimento dos itens 24.1.3 à 24.1.27, os quais tratam
das exigências para o conjunto das instalações sanitárias;
5.4) fornecimento aos trabalhadores de água potável, em con-
dições de higiene, proibindo a utilização de recipientes coleti-
vos, conforme item 24.7.1 à 24.7.1.2;
6) ELABORAR e IMPLEMENTAR, efetivamente Programa de
Controle Médico de Saúde Ocupacional, de acordo com a es-
trutura determinada na Norma Regulamentadora nº 07, do
Ministério do Trabalho e Emprego, contendo informações
claras, precisas e objetivas, identificando todos os riscos a que
estão expostos os empregados;
7) ELABORAR e IMPLEMENTAR, efetivamente, Programa
de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), de acordo com a
estrutura proposta pela Norma Regulamentadora nº 09, do
Ministério do Trabalho e Emprego, contendo informações
claras, precisas e objetivas, com dados estatísticos completos
e atualizados anualmente, além de comparação com dados do
ano anterior.
[...] (RIO GRANDE DO NORTE, 2018).
- 30 -
Desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados

À condenação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos ao


cumprimento das obrigações de fazer no prazo de 180 (cento e oi-
tenta) dias foi atrelada a previsão de que o seu descumprimento ou
atraso implicaria a aplicação de multa no valor de 10.000,00 (dez)
mil reais por mês, em relação a cada obrigação descumprida, sendo
assim considerada desde que o descumprimento ou atraso ocorresse
em pelo menos uma agência do Estado.
É preciso ressaltar que a fixação da multa noticiada não teve
por objetivo atribuir uma punição pecuniária à empresa, que vinha
descumprindo as normas assecuratórias de um meio ambiente de
trabalho saudável, mas impedir a perpetuação da conduta patronal
negligente ou o retardamento de sua correção, mediante a atribui-
ção de um ônus financeiro em caso de reiteração dessa gestão des-
funcional da saúde no meio ambiente laboral.
Ao lado da condenação da empregadora ao cumprimento das obri-
gações de fazer elencadas, a sentença acolheu, ainda, a pretensão do
Ministério Público do Trabalho no tocante à condenação da empresa
ao pagamento de uma indenização por danos morais coletivos.
Nesse ponto, o juízo transcreveu lição de Medeiros Neto (2004, p.
156-159):

[...]
No que respeita, pois, às hipóteses de ocorrência de dano
moral coletivo, fácil é concluir, diante do que já foi mencio-
nado, que são amplas e não circunscritas às áreas nas quais
se detecta a sua configuração. Em maior intensidade tem-se
observado, certamente em face da repercussão social mais fa-
cilmente apreendida, a sua presença em situações de lesão ao
meio ambiente; ao direito dos consumidores; ao patrimônio
público e cultural; à moralidade pública; à ordem econômica
e à economia popular; ao direito de classes, categorias ou gru-
pos de trabalhadores; ao direito de crianças e adolescentes;
ao cânone constitucional da não-discriminação em relação
- 31 -
Maria Goretti Fernandes; Izabella Souza da Silva

ao gênero, à raça, à religião, à idade, ao estado de saúde ou


condição física ou mental.
[...]
Em sede trabalhista, colhem-se, primeiramente, os exemplos
ofertados por João Carlos Teixeira, que aponta para a confi-
guração de danos morais coletivos nas hipóteses de lesão ao
meio ambiente de trabalho, decorrente da violação das nor-
mas de proteção à saúde e à segurança dos trabalhadores;
submissão de trabalhadores à condição análoga a de escra-
vo, com privação dos direitos básicos inerentes à dignidade
da pessoa humana; e exploração de trabalho de criança ou de
adolescente.
Explicita mencionado autor que condutas de tal jaez ofendem
o sentimento ético do respeito ao próximo, dos bons costumes
e da moral enraizada na sociedade, ultrapassando, a ofensa,
interesses particulares dos lesados e alcançando e violando os
interesses sociais, com graves repercussões negativas.
[...]

É de se observar que o juízo entendeu que o descumprimento rei-


terado, e na amplitude que foi constatada da legislação trabalhista
complementar inserta nas normas regulamentadoras, importou em
lesão ao meio ambiente de trabalho, que foi expressamente tutelado
pela Constituição da República Federal do Brasil de 1988 em artigos
diversos, e a toda a categoria de empregados que ali desempenha-
vam as suas atribuições cotidianas:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do tra-


balho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:
[...] VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante trata-
mento diferenciado conforme o impacto ambiental dos pro-
dutos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;
- 32 -
Desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras


atribuições, nos termos da lei:
[...]
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compre-
endido o do trabalho.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivi-
dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.
§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao
Poder Público:
[...] VI - promover a educação ambiental em todos os níveis
de ensino e a conscientização pública para a preservação do
meio ambiente; (BRASIL, 1988).

Ponderou a sentença então:

[...]
Por se tratar de direito fundamental assegurado a toda a co-
letividade, a sua lesão importa em dano moral coletivo, que
deve ser indenizado na forma pretendida pelo autor.
[...] Dito isso, defere-se o pleito inicial de “Condenar a Ré, pelos
DANOS MORAIS COLETIVOS causados aos seus trabalhado-
res no estado do Rio Grande do Norte, em indenização no va-
lor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais)”.
As multas decorrentes do eventual descumprimento das obri-
gações de fazer e a indenização por danos morais coletivos de-
verão ser revertidas à instituição que tenha como finalidade a
prestação de serviços sociais relevantes à sociedade Potiguar,
como bem pleiteou a parte autora.
Na hipótese dos autos, determina-se a reversão das mesmas à
instituição PATAMADA - CNPJ 12.273.307/0001-45, pelos rele-
vantes serviços sociais que têm prestado a sociedade potiguar
na defesa de um meio ambiente ecologicamente equilibrado,
- 33 -
Maria Goretti Fernandes; Izabella Souza da Silva

através de campanhas de conscientização e educação sobre


o tema, e, sobretudo, da prestação de assistência veterinária
a animais vítimas de abusos, maus tratos e abandono. (RIO
GRANDE DO NORTE, 2018).

A sentença proferida foi mantida parcialmente pelo Tribunal Regio-


nal do Trabalho da 21ª Região após apreciação do Recurso Ordinário
interposto pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, sofrendo
alteração apenas no montante da indenização por danos morais.
O Desembargador relator, ao analisar o recurso apresentado pela
empregadora, entendeu que a imposição de “vultosa quantia”, a títu-
lo de indenização por danos morais poderia dificultar o implemento
das melhorias pretendidas pelo Ministério Público do Trabalho, o
que o levou a reduzi-la para R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta
mil reais).
Traz-se a ementa do acórdão proferido pela Segunda Turma de
Julgamento do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região nos au-
tos da Ação Civil Pública, noticiada na segunda sessão de julgamen-
to virtual realizada no dia 27 de abril de 2020:

Dano moral coletivo configurado. Conduta ilícita da empresa


em detrimento de vários empregados. Meio ambiente do tra-
balho. Condições degradantes.
Obrigação de fazer. Adaptações e reformas nos prédios que
servem às agências dos Correios. Imposição de multa (astrein-
te) pelo eventual descumprimento. Legalidade.
Quantum indenizatório reduzido. Aplicação do princípio da
razoabilidade.
Recurso ordinário conhecido e provido parcialmente. (RIO
GRANDE DO NORTE, 2020).

Em que pese a redução expressiva do valor atribuído à indeni-


zação por danos morais para 25% (vinte e cinco por cento) do valor
- 34 -
Desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados

original, é preciso registrar que a confirmação da sentença nos de-


mais pontos – a exemplo da condenação da empresa à adequação
de todas as agências existentes no Rio Grande do Norte ao formato
previsto nas Normas Regulamentadoras 07, 09, 17, 24 – reforça o
ideal de que a gestão do meio ambiente de trabalho e, de forma
indissociável, a da saúde dos empregados, deve se pautar priori-
tariamente na adoção de medidas que promovam o bem-estar do
indivíduo como um todo, e não naquelas que visem tão somente
reparar lesões já consolidadas à saúde deles e ao equilíbrio do am-
biente de trabalho.
A desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados, como a
que foi aqui demonstrada, se encontra na contramão das diretrizes
da Organização Mundial de Saúde e há de gerar prejuízos não ape-
nas ao meio ambiente de trabalho, e por decorrência, ao bem-estar
dos que ali laboram, mas também prejuízos financeiros aos empre-
gadores que são obrigados, por lei, a reparar financeiramente os da-
nos oriundos de sua negligência, sejam estes coletivos, como o que
foi objeto do pedido da ação sob comento, sejam eles individuais,
como os que forem eventualmente causados à saúde individual de
cada empregado no exercício de sua atividade.

Referências

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Maria Goretti Fernandes; Izabella Souza da Silva

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rídicos. Decreto nº 10.088, de 05 de novembro de 2019. Consolida atos nor-
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Vara do Trabalho de Natal. ACP-Civ 0000880-67.2014.5.21.0009. Juíza Auxi-
- 36 -
Desfuncionalidade na gestão de saúde dos empregados

liar da 9ª Vara do Trabalho de Natal: Fátima Christiane Gomes de Oliveira.


Julgamento: 17 de setembro de 2018. Disponível: https://pje.trt21.jus.br/
consultaprocessual/detalhe-processo/00008806720145210009. Acesso
em: 25 jan. 2021. Documento sob o Id ecc7ed1
- 37 -
José Ronaldo Veronesi Junior

PERÍCIA ERGONÔMICA E PERÍCIA


FISIOTERAPÊUTICA, QUAIS AS DIFERENÇAS
E SUAS SEMELHANÇAS

José Ronaldo Veronesi Junior

Introdução

O presente capítulo traz a luz da discussão a Perícia Judicial na


seara da Ergonomia e da Fisioterapia, qual suas diferenças e suas
semelhanças. O objetivo desse capítulo foi trazer um entendimento
claro para a sociedade qual o obejeto de cada perícia técnica. Traba-
lho com perícia judicial ergonômica e fisioterapêutica desde o ano
2000, e nesses anos venho estudando, pesquisando e publicando
nessa área de atuação.
Inicialmente trarei para vocês o entendimento sobre Perícia judi-
cial, sobre o perito do juiz e os assistentes técnicos das partes, inclu-
sive com um restrospecto histórico da perícia no Brasil.
Posteriormente trarei uma revisão da ergonomia da história a
modernidade, para podermos entender o que essa ciência trabalha
para poder correlacionar com o ato pericial. Então em seguida trago
a vocês o conhecimento da perícia fisiotearapêutica para entender-
mos o que se trata essa área de atuação para em seguida fazer o en-
tendimento final com as semelhanças e diferenças entre as perícias.
- 38 -
Perícia ergonômica e perícia Fisioterapêutica, quais as diferenças e suas semelhanças

Perícia Judicial

Segundo o Código de Processo Civil no seu Art. 156. que diz: O juiz
será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhe-
cimento técnico ou científico. Em seu § 1o que diz: Os peritos serão
nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos
técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido
pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. Desta forma fica claro
que Perícia judicial é a diligência designada pelo juiz para esclare-
cer um ponto controverso que exija conhecimento técnico-científico
(VERONESI, 2018).
Perícia é o exame de situações ou fatos relacionados à coisas e
pessoas, praticado por especialista na matéria que lhe é submetida,
com o objetivo de elucidar determinados aspectos técnicos (em geral
especificados através de quesitos), a fim de dar subsídio técnico-cien-
tífico para a decisão do Juiz (VERONESI, 2018).
A perícia é realizada por requisição formal de instituição, pública
ou privada, ou de pessoa jurídica. Seus resultados são apresentados
através de parecer sucinto, apenas com respostas aos quesitos for-
mulados, ou de laudo técnico com exposição detalhada dos elemen-
tos investigados, sua análise e fundamentação técnica - cientifica
das conclusões, além da resposta aos quesitos formulados.
O perito tem um papel fundamental e de muita responsabilidade,
pois o perito tem fé pública quando desempenha sua função, poden-
do o perito autenticar e reconhecer documentos, escutar testemu-
nhas e executar todas as funções necessárias (art. 473 do CPC). Por
este motivo o profissional não é perito, ele está como perito daquele
caso, daquele processo (VERONESI, 2018).
Perícia Judicial em resumo pode ser definida como: um traba-
lho técnico-científico imparcial, sobre fatos controvérsios entre as
partes, onde o perito do juiz, profissional qualificado e de confiança
- 39 -
José Ronaldo Veronesi Junior

do juízo, irá proceder de métodos sistemáticos, precisos, com ins-


trumentos quali-quantitativos sobre os pontos a serem analisados,
estruturando assim sua conclusão pericial.
Vamos entender o processo histórico da perícia judicial, com a
vigência do Código de Processo Civil de 1.939, instalou-se, a partir de
1/3/40, o sistema de um perito só, que era nomeado pelo juiz do fei-
to. Verificou-se logo o erro que isso constituía. Assim, já em 11/8/42,
pelo Decreto-lei n. 4.565, alterava-se o Código, para permitir às partes
indicarem, se estivessem de acordo, o perito único. Isto quase nun-
ca ocorria, dada à natural e quase permanente divergência entre as
partes. Daí prevaleceu, nomeado pelo magistrado, o perito único que
tal decreto-lei não suprimira. Tantas e tamanhas foram às inconve-
niências decorrentes dessa situação, que a Lei n. 8.570, de 7/1/46,
veio a instituir a situação que reinou até a entrada em vigor do atual
Código: uma parte indicava o seu perito, e a outra, não concordando
com o primeiro louvado, apontava o seu. Havendo divergência entre
ambos os laudos, o juiz nomeava um terceiro perito, chamado de-
sempatador (VERONESI, 2018).
Segundo Veronesi (2018) o sistema atual, instituído e regulamen-
tado por dispositivos do Código de Processo Civil de 1973, (parcial-
mente alterados pela Lei n.8.455, de 24/8/92), estabelece, resumida-
mente, as seguintes características:
• A perícia é realizada por um perito nomeado pelo juiz e de
exclusiva confiança deste, podendo, contudo, as partes argüir
suspeição de parcialidade do perito nomeado e requerer sua
substituição;
• Cada parte pode indicar seu assistente técnico e apresentar
quesitos para serem respondidos pelo perito;
• Os assistentes técnicos têm o direito de acompanhar as dife-
rentes diligências realizadas pelo perito e delas participar. Ao
perito incube a direção do trabalho pericial.
- 40 -
Perícia ergonômica e perícia Fisioterapêutica, quais as diferenças e suas semelhanças

O perito elabora e apresenta seu laudo, no prazo fixado pelo ju-


ízo, cabendo aos assistentes técnicos oferecem seus pareceres crí-
ticos ao laudo do perito, até quinze dias após a apresentação deste,
como deixa claro o Art. 477. do Código de Processo Civil. Os assisten-
tes são profissionais de confiança e credibilidade apenas de quem
os indicou; entre mentes, devem elaborar seus pareceres (são assim
designados os laudos do assistente técnico) com honestidade, ética
e probidade, que, obviamente, irão realçar os componentes técnicos
que possam favorecer os argumentos da parte interessada. Notar
que, de acordo com o art.156, do novo CPC o assistente técnico não
mais precisa ser profissional de nível universitário, pois tal exigên-
cia só se enquadra ao perito. Outro ponto importante a ressaltar que
o assistente técnico é de confiança da parte não podendo ser impe-
dido e nem suspenso como relata o Art. 466 do Código de Processo
Civil, sendo que o perito é obrigado a assegurar que os assistentes
técnicos participem do processo pericial (VERONESI, 2018).
Segundo o Art. 473 do Código de Processo Civil o laudo pericial
tem que conter:

I - a exposição do objeto da perícia;
II - a análise técnica ou científica realizada pelo perito;

III - a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demons-
trando ser predominantemente aceito pelos especialistas da área do
conhecimento da qual se originou;

Comentário: O Método Veronesi de Pericia Judicial para Fisioterapeuta,


foi validado cientificamente na 8 International Conference on Applied
Human Factors and Ergonomics, AHFE-2017, em Los Angeles-EUA, 2017.
Desta forma, quando o profissional Fisioterapeuta utilizar o Método Ve-
ronesi para pericia judicial este contemplará esta solicitação do CPC.

IV - resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo


juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público.
- 41 -
José Ronaldo Veronesi Junior

§ 1o No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em


linguagem simples e com coerência lógica, indicando como alcan-
çou suas conclusões.
§ 2o É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua designação,
bem como emitir opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou
científico do objeto da perícia.
§ 3o Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes
técnicos podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo tes-
temunhas, obtendo informações, solicitando documentos que es-
tejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas,
bem como instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos,
fotografias as ou outros elementos necessários ao esclarecimento do
objeto da perícia.

Comentário: Este artigo é muito importante para a atuação do perito


pois dá ao perito todos os direitos para produzir a prova pericial.

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) publicou diretrizes sobre


Prova Pericial relacionada a acidente do trabalho e doença ocupa-
cional a fim de que a prova pericial, a par de fundamentar as deci-
sões judiciais, tem igualmente vocação para orientar a prevenção de
danos à saúde, porquanto é apta a indicar a existência dos agentes
que contribuíram para a ocorrência do acidente ou para a eclosão da
doença e, desta forma, apontar medidas para a readaptação isenta
de riscos e para a readequação do meio ambiente onde também ope-
ram outros trabalhadores suscetíveis aos mesmos gravames. Em seu
Capítulo I no que refere-se ao perito as diretrizes trazem a seguinte
orientação:
Art. 1o - Nas perícias em matéria de acidente do trabalho e do-
enças ocupacionais deverão ser nomeados peritos que atendam as
normas legais e ético-profissionais para análise do objeto de prova,
- 42 -
Perícia ergonômica e perícia Fisioterapêutica, quais as diferenças e suas semelhanças

tais como médicos, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, te-


rapeutas ocupacionais, engenheiros, dentre outros, sem prejuízo da
nomeação de mais de um profissional, ainda que não se trate de pe-
rícia complexa, nos moldes do art. 431-B do Código de Processo Civil.
Na Seção II sobre Investigação Pericial no Art. Art. 7o que diz: A
perícia judicial realizada nas ações indenizatórias ajuizadas perante
a Justiça do Trabalho contemplará, para a avaliação do nexo causal
entre os agravos à saúde e as condições de trabalho, além do exame
clínico físico e mental e dos exames complementares, quando ne-
cessários nos itens II e III o estudo do local de trabalho e o estudo da
organização do trabalho.
Podemos perceber o quanto o conhecimento da ergonomia é fun-
damental para o processo pericial cujo objeto é acidente do trabalho
e/ou doença ocupacional, os itens II e III do Art. 7 diz claramente a
importancia de estudar o local e a organização do trabalho, procedi-
mentos esses necessários e usuais na prática da ergonomia. Os intes
X e XI estão diretamente ligados a saúde e segurança do trabalho,
que são ciências ligadas intrinsecamente com a ergonomia.

Ergonomia

Como cita Veronesi (2009) a aplicação da ergonomia é relatada


ainda no período pré-histórico quando o homem da caverna já adap-
tava as suas ferramentas as características anatômicas humana,
usava animais a fim de diminuir o esforço humano, buscando assim
mais conforto, segurança e desempenho eficiênte que é a essência
da ergonomia nos dias atuais segundo a Norma Regulamentadora
17 (NR17).
A ergonomia é relativamente recente no mundo moderno. Embo-
ra o termo tenha sido cunhado no século passado, apenas no início
deste século falou-se em alguma coisa prática decorrente da ergono-
- 43 -
José Ronaldo Veronesi Junior

mia, no caso, a mudança na escola de arquitetura francesa decorren-


te da assimilação e colocação em prática do conceito de ergonomia
aplicada ao interior e construções principalmente no que tange a
acessibilidade. Na história do trabalho, a aplicação da ergonomia é
muito recente, e somente pode-se falar de “ergonomia aplicada ao
trabalho” a partir dos anos 50, com o projeto da cápsula espacial
norte-americana (VERONESI, 2009).
Mas para que possamos entender perfeitamente o conceito de er-
gonomia, e sua linha mais atual, torna-se necessário entendermos
um pouco sobre a história do trabalho.
Em 1774, três fatores foram marcantes (a máquina de fiar, o tear
mecânico e a máquina de vapor de James Watt), precipitaram uma
mudança impressionante na forma de se organizar o trabalho, em
especial a máquina de vapor de James Watt permitiu uma grande
mudança na evolução do nosso planeta, onde foi possível de forma
mais rápida a mudança de pessoas do campo para as cidades, e prin-
cipalmente com a nova tecnologia foram iniciado os processos fa-
bris onde o entendimento do processo de trabalho se tornava cada
vez mais importante (VERONESI, 2014).
Segundo Veronesi (2014) o século 19, século da revolução indus-
trial, inicialmente na Inglaterra e depois tendo se espalhado para
os demais países da Europa e quase um século mais tarde para os
Estados Unidos da América: nesse tipo de organização do trabalho,
as pessoas passaram a ir até as fábricas e privilegiou-se os inventos,
em detrimento dos trabalhadores; foi um século de muita tensão
social e de más condições de trabalho na Inglaterra os adultos tra-
balhavam 18 horas por dia, e mulheres e crianças, 14 horas por dia,
inclusive em fundo de minas.
Em 1900, também foi a época do aparecimento de uma das fi-
guras mais controversas na história do trabalho: Frederick Wins-
low Taylor, cujo trabalho de racionalização de tempos e métodos
- 44 -
Perícia ergonômica e perícia Fisioterapêutica, quais as diferenças e suas semelhanças

e cuja filosofia gerencial foi tão importante que deu origem a uma
corrente, chamada “taylorismo” e cujo método de trabalho para a
melhoria da produtividade foi a “cronoanálise” e os “princípios da
administração científica”, melhor chamada de “administração ra-
cional”. Por meio de alguns princípios bem definidos, tornava-se
possível melhorar a produtividade das pessoas, eliminado-se tem-
po desnecessário, movimentos desnecessários e especializando as
pessoas nas funções para as quais tinham a melhor qualificação.
Método esse utilizado até os dias atuais, e que podemos refletir que
a ergonomia pode estar presente quando a cronoanálise e os es-
tudos dos métodos de fato melhora e otimiza os movimentos, as
posturas e facilita o trabalho a fim de proporcionar mais conforto,
segurança e desempenho eficiente (VERONESI, 2014). Método esse
que é muito utilizado nas Perícias Ergonômicas onde por meio dos
conceitos da cronoanálise podemos detectar repetitividade, esfor-
ço, tempo de pausas, tempo real de trabalho e muito mais (VERO-
NESI, 2016).
Segundo Veronesi (2014) o início da década, ocorreu uma explo-
são da cronoanálise e dos princípios de tempos e métodos, especial-
mente através de Frank e Lílian Gilbrenth. Em 1911, época da segunda
revolução industrial, em Detroit, Henry Ford instituiu três princípios
que mudaram radicalmente a fisionomia e a forma de trabalhar das
fábricas em todo o mundo: utilizando à risca os princípios básicos
do taylorismo, Ford a instituiu seguinte linha:

a) – a linha de montagem; o trabalhador ficava fixo numa deter-


minada posição, e o componente a ser montado é que vinha até ele,
resultando numa economia espetacular de movimentos; Situação
essa ainda utilizada nos dias atuais, o que faz com que refletimos
em vários aspectos: qual o ritmo de trabalho ideal a fim de propor-
cionar produtividade com prevenção, nessa linha o trabalhador fica
em uma única postura por longos tempos? Qual o ritmo de trabalho
- 45 -
José Ronaldo Veronesi Junior

ideal? O ritmo de trabalho “ideal” é benéfico ou traz riscos? Em fim


desafios que a evolução do trabalho traz para a ergonomia.
b) – o ritmo de trabalho era determinado pela máquina e não pelo
homem, evitando-se o desperdício de tempo; Mas quais as consequên-
cia do aumento do ritmo de trabalho, da repetitividade da tarefa, ou
seja mais desafios que a evolução do trabalho traz para a ergonomia.
c) – a produção em série, com a economia de escala; essa forma de
organizar o trabalho resultou num aumento impressionante da pro-
dutividade, e numa redução espetacular do preço dos bens de consu-
mo, obrigando as empresas a adotarem a fórmula de Taylor-Gilbreth-
-Ford como estratégia de sobrevivência e de competitividade.

Na década de 20, 30 e 40 nos Estados Unidos, ocorreu um desen-


volvimento espetacular do processo industrial e da produtividade
a partir dos princípios de tempos e métodos, cronoanálise e outros
valores inerentes ao taylorismo; a seleção médica era muito rigorosa,
privilegiando os fisicamente mais capazes e mais hábeis para deter-
minadas atividades, o princípio máximo dessa era foi expresso na
frase “é necessário adaptar o homem ao trabalho”, por esse prisma,
a prioridade era construir a máquina e o posto de trabalho e ter ho-
mens fortes e que consigam produzir cada vez mais. A tarefa seguin-
te era procurar o homem/mulher que a ele se adaptasse; no lado de
tempos e métodos, é dessa época a organização de trabalho que prio-
rizava a rapidez, a produção máxima, muitas vezes exagerada, o que
foi motivo de sátira no filme “tempos modernos” de Charles Chaplin
em que se mostram a realidade da época e que permanece até os dias
atuais em algumas atividades produtivas (VERONESI, 2014).
Outra característica marcante dessa época foi a super especiali-
zação, em que um trabalhador fazia apenas uma tarefa, e a correria
da linha de montagem, cuja velocidade oscilava aos sabores da von-
tade do gerente ou do chefe de produção, onde se buscava cada vez
mais a produção e muitas vezes sem dar importância à técnica des-
- 46 -
Perícia ergonômica e perícia Fisioterapêutica, quais as diferenças e suas semelhanças

prendida para a realização das atividades. O trabalhador aprendia


a fazer apenas uma atividade, alienado na sua tarefa e muitas vezes
por fora do que estava acontecendo no processo de produção. Pelo
lado psicológico, a premissa taylorista de considerar o trabalhador
como uma máquina movida por dinheiro, em que quanto mais tra-
balha mais ganha, surgindo assim o trabalhador “qualificado”, capaz
de produzir mais do que os colegas, e ganhar mais do que os outros,
em uma clara postura de individualismo, disputa e egoísmo. É im-
portante lembrar ainda que desde essa época, com o aparecimento
do especialista, aquela pessoa que fazia apenas uma tarefa durante a
sua jornada de trabalho, com a movimentação de um grupo muscu-
lar específico, houve a explosão do número de casos de tenossinovite
e outras lesões por esforços repetitivos e traumas cumulativos aos
membros superiores.
A partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, surgiram as
primeiras fábricas, que eram sujas, barulhentas, perigosas e onde a
jornada de trabalho chegava a 16 horas por dia, sem férias, em regi-
me quase escravo. Nesse século e no anterior, os engenheiros Vauban
e Belidor, respectivamente, tentam medir a carga do trabalho físico
diário nos locais de trabalho. Sugerem que cargas muito elevadas
levam a esgotamento e doenças, recomendando melhor organização
das tarefas para aumentar o rendimento, onde claramente o desem-
penho laboral é a prioridade em detrimento a saúde do trabalhador
(VERONESI, 2014). Ponto importante para as Perícias Ergonômicas
pois situações de cargas elevadas ainda existem no mundo laboral.
Na França, no início do século XX, é criado o primeiro laborató-
rio de pesquisa sobre trabalho profissional, por Jules Amar, o que dá
condições à fisiologia do trabalho de se desenvolver. Amar fornece
as bases da ergonomia do trabalho físico, estudando os diferentes
tipos de contração muscular (dinâmica e estática) e seu livro O motor
humano publicado em 1914, que é considerado por alguns, a primei-
ra obra de ergonomia (VERONESI, 2014). Bases estudadas naquela
- 47 -
José Ronaldo Veronesi Junior

época como: contração muscular (dinâmica e estática) é muito utili-


zado nas Perícias Ergonômicas para verificar e quantificar os riscos
da ergonomia física que o ambiente laboral proporciona.
Durante a I Guerra Mundial (1914-1917) foi criada a Comissão de
Saúde dos Trabalhadores na Indústria de Munições em 1915. Na II
Guerra Mundial (1939-1945), a construção de instrumentos bélicos
exigia muitas habilidades do operador e em condições ambientais
desfavoráveis e tensas no campo de batalha. Foram criados equipa-
mentos e dispositivos cada vez mais complexos, porém sob alto nível
de estresse. Isso acarretou a um desenvolvimento de sistemas abaixo
do esperado, levando à necessidade de se conhecer mais sobre o ho-
mem, suas habilidades e limitações, para que se conseguisse o má-
ximo do sistema de trabalho, foi quando surgiu a primeira intenção
de adaptar os equipamentos ao homem a fim de trazer segurança,
conforto e desempenho eficiente (VERONESI, 2014).
Em 1948 por meio do projeto da cápsula espacial norte-america-
na, nasce o conceito moderno de Ergonomia: naquele instante, foi
necessário fazer todo um replanejamento de tempo e meios de se
fazer a viagem ao espaço, em decorrência do desconforto pelo qual
passaram os astronautas no primeiro protótipo da cápsula espacial.
Surgia assim, com a antropometria, o conceito de que o fundamen-
tal não é adaptar o homem ao trabalho, mas ao contrário, procurar
adaptar as condições de trabalho ao ser humano, o que se faz até
hoje nos esportes de alto rendimento, como exemplo os cockpit da
fórmula 1 que é construído de acordo com a antropometria do piloto
(VERONESI, 2014). O estudo antropométrico é fundamental dentro
da Perícia Ergonômica a fim de analisar os aspectos orientados pela
NR17 e o ambiente laboral.
Essa sucessão de fatos culminou com a reunião pela primeira
vez, na Inglaterra, de um grupo de cientistas e pesquisadores inte-
ressados em discutir e formalizar a existência desse novo ramo de
aplicação interdisciplinar da ciência. Essa reunião ocorreu no dia
- 48 -
Perícia ergonômica e perícia Fisioterapêutica, quais as diferenças e suas semelhanças

12 de julho de 1949 e é considerada por alguns a data “oficial” de


nascimento da ergonomia. Nascia assim o conceito moderno da Er-
gonomia: um conjunto de ciências e tecnologias que procura fazer
um ajuste confortável e produtivo entre o homem e seu trabalho às
características do ser humano. Esse grupo reuniu-se pela segunda
vez em 16 de fevereiro de 1950 e na ocasião foi proposto o neologis-
mo ergonomia, formado pelos termos gregos ergo (trabalho) e nomos
(regras, leis naturais). Em ergonomia, o binômio conforto-produtivi-
dade andam juntos. Não é possível pensar somente no conforto, sem
pensar na produtividade. Também não é possível pensar em produ-
tividade sem pensar no conforto, porque esse resultado de produti-
vidade será transitório (VERONESI, 2014).
Quando entendemos a palavra Trabalho que vem do latim –
Tripalium, que era um instrumento para torturar os escravos e os
camponeses que não conseguiam pagar os impostos. O trabalho é
relacionado a esforço, suor, como diz em Gênesis 3:19: “Ganharás
o pão com o suor do teu rosto”. Dessa forma o trabalho quando é
interiorizado como esforço, sofrimento, insegurança, sem dúvida é
um ambiente propício para o adoecimento. Existe uma abordagem
tecnicista sobre as características humanas, o homo economicus (que
é racional) e busca a recompensa financeira com o trabalho e o homo
ludus (que vive de experiências emocionais positivas). Dessa forma
um dos grandes desafios que temos na ergonomia moderna, é trans-
forar o local de trabalho em um ambiente feliz, onde o trabalhador
é feliz com o trabalho, trabalhar com prazer, com satisfação, dessa
forma o mesmo sofrerá menos e terá menos riscos de adoecimen-
tos. Um exemplo pratico é duas população de trabalhadores, músico
que toca violino e trabalhadores de frigorífico na sala de corte, onde
ambos fazem atividade laboral com critérios causadores de doenças
osteomusculares semelhantes como: repetitividade e postura ina-
dequada. Porém o músico gosta do que faz, tem prazer e felicidade
no trabalho, enquanto o trabalhador da sala de corte muitas vezes,
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José Ronaldo Veronesi Junior

trabalha porque precisa “ganhar o pão”. A incidência de lesões em


trabalhadores de frigoríficos é muito maior que nos músicos mos-
trando uma forte tendência em relação a satisfação do trabalho.
A Norma Regulamentadora 17 no seu item 17.1. que diz: “Esta Nor-
ma Regulamentadoras visa a estabelecer parâmetros que permitam
a adaptação das condições de trabalho às características psicofisio-
lógicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de
conforto, segurança e desempenho eficiente”. Conforto trata-se de
que o trabalho proporciona do início ao fim conforto físico e mental
ao trabalhador; Segurança, é quando o trabalho não gera risco de
adoecimento nem acidente; Desempenho eficiente é quando o traba-
lho propicia que o trabalhador desempenha normalmente seu tra-
balho em toda sua vida, desta forma, não só permita que o trabalha-
dor realize sua atividade de forma fácil mas que o trabalhador não
adoeça e consiga desempenhar sua atividade por toda vida. Dentro
da linha de raciocínio citado anteriormente sobre o trabalho com
felicidade, no mundo moderno uma condição ergonômica é aque-
la que proporciona o máximo de conforto, segurança, desempenho
eficiente e felicidade e a proposta da revisão da NR17 traz ainda a
saúde, que é um entendimento mais global ainda.
O posto de trabalho computadorizado é provavelmente uma das
invenções que mais contribui para modificação do comportamento
e da postura do ser humano, onde devido a grande permanencia na
postura sentada o ser humano deixou de ser um “homo eretus”, para
se tornar um “homo sedam”. Além do trabalho sentado a tecnologia do
mundo moderno provocou mudanças no comportamento humano,
tornando o homem mais sedentário, onde os controle remotos, vide-
ogames e jogos mantem mais o homem sentado, onde antigamente o
lazer era feito com prática esportiva atualmente é feito sentado.
Ergonomia é um conjunto de ciências e tecnologia que busca a
adaptação confortável e produtiva entre o homem e seu trabalho,
basicamente procurando adaptar as condições de trabalho às carac-
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Perícia ergonômica e perícia Fisioterapêutica, quais as diferenças e suas semelhanças

terísticas do ser humano. A essência da ergonomia busca adaptar o


ambiente ao homem, porém com estes anos de atuação dentro da
ergonomia, vejo que além de adaptar o ambiente ao homem, temos
que adaptar o homem ao ambiente, pois não adianta termos um pos-
to de trabalho ergonômico se não temos trabalhadores com condi-
ções comportamentais para utiliza-los.
A necessidade de desenvolvimento sustentável tem sido ampla-
mente reconhecida no mundo e o desenvolvimento sustentável tor-
nou-se um tema bastante explorado em várias disciplinas e aplica-
bilidade no mercado internacional. Embora o papel da ergonomia
raramente é relatado ou considerado como um processo de desen-
volvimento sustentável, esta vem mostrando sua influência e impor-
tância nesse importante cenário (RADJYEV, 2014). Já Martin (2013)
em seus estudos relata que, a sustentabilidade é uma questão global
que tem a atenção do mundo, mas o papel da ergonomia na con-
cepção desta é mal compreendida e raramente considerada como
matéria impactante. As discussão sobre o conceito de sustentabili-
dade são propostos para melhorar as abordagens existentes entre os
fatores humanos e ergonomia (ZINK, 2013).
Dentro desta linha filosófica de pensamento o processo ergonô-
mico vem proporcionar maior solidez as empresas, aumentando o
processo competitivo e dentro da visão acadêmica e profissional da
ergonomia, vem gerando um desenvolvimento sustentável em seus
processos e produtos. Quando pensamos em um produto hoje ergo-
nômico como por exemplo um monitor de LCD, além do impacto na
saúde do ser humano traz o impacto a economia e a sustentabilida-
de por ter menos gasto de energia. Uma vez que evitaríamos mais
doenças e acidentes, teríamos um grande impacto no âmbito social
e econômico não somente das empresa como do pais. Ponto impor-
tante para o processo judicial moderno e futuro, pois as empresas
podem ser questionadas sobre a ergonomia e sustentabilidade e este
ponto controvérsio poderá ser tema pericial.
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José Ronaldo Veronesi Junior

“As soluções ergonômicas são divididas em soluções de engenha-


ria (desenho de equipamentos, mobiliário, posto de trabalho), acom-
panhamento médico, controles administrativos (rodízios de tarefas,
pausas, redução de monotonia e aumento da autonomia, manuten-
ção adequada de equipamentos, mobiliário e posto de trabalho) e
treinamento em noções básicas de ergonomia”.
A ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem po-
rém é fundamental que o homem seja adaptado ao trabalho, isso
decorre ao comportamento humano.
De maneira geral, os domínios de especialização da ergonomia são:
• Ergonomia física: está relacionada com as características
da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecâ-
nica em sua relação à atividade física. Os tópicos relevantes
incluem o estudo da postura e sobrecarga no trabalho, ma-
nuseio de materiais, movimentos repetitivos, força aplicada,
para evitar os distúrbios músculo-esquelético relacionados
ao trabalho, projeto de posto de trabalho, segurança e saúde.
• Ergonomia cognitiva: refere-se aos processos mentais, tais
como percepção, memória, raciocínio e resposta motora con-
forme afetem as interações entre seres humanos e outros
elementos de um sistema. Os tópicos relevantes incluem o es-
tudo da carga mental de trabalho, tomada de decisão, desem-
penho especializado, interação homem computador, stress,
capacidade e treinamento conforme esses se relacionem a
projetos envolvendo seres humanos e sistemas.
• Ergonomia organizacional: Trata-se das estruturas organi-
zacionais, políticas e de processos. Os tópicos relevantes in-
cluem comunicações, gerenciamento de recursos, projeto
de trabalho, organização temporal do trabalho, trabalho em
grupo, projeto participativo, novos paradigmas do trabalho,
trabalho cooperativo, cultura organizacional, organizações
em rede, tele-trabalho e gestão da qualidade.
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Perícia ergonômica e perícia Fisioterapêutica, quais as diferenças e suas semelhanças

Formas Específicas da Ergonomia

A partir de conceitos amplos sobre ergonomia, pode ocorrer a


perda da identidade da própria ergonomia. Uma delas que é defen-
dida em muitas linhas pelo mundo é Fator Humano, Fator Humano
e Ergonomia. A ergonomia pode ser aplicada em várias formas e
fases, aqui vou ilustrar algumas.

• Ergonomia do produto: Voltada para a concepção de produ-


tos ergonomicamente adequados para utilização pelos seus
usuários, também chamado de Usabilidade ou User Expe-
rience. É um contexto inovador da ergonomia que está dire-
tamente relacionada aos impactos da usabilidade no contex-
to físico, cognitivo e também emocional do usuário.

• Ergonomia da produção: Aplicada aos processos produti-


vos, ao estudo do trabalho em ação e o quanto a interação
homem-trabalho pode impactar na produtividade de ma-
neira positiva. O quanto os processos físico, organizacional
e cognitivo pode fazer com que a produtividade aumente
e como consequência temos também um trabalhador sau-
dável. É sem dúvida o processo ideal, aumento de produti-
vidade aliado a menor índice de adoecimento, acidentes e
afastamentos.

• Ergonomia de correção: Visa à correção de inadequações er-


gonômicas existentes no ambiente, nos meios e processos de
trabalho. Atua de maneira restrita, modificando os elemen-
tos parciais do posto de trabalho como: dimensão, ilumina-
ção, ruído, temperatura, layout do posto de trabalho etc.. Ou
mesmo da organização em forma pontual, como implanta-
ção de pausa ou rodízios.
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José Ronaldo Veronesi Junior

• Ergonomia de concepção: Atua na concepção de produtos e


processos de trabalho, visando sua concepção de acordo com
os conhecimentos ergonômicos. Interfere amplamente no
projeto do posto de trabalho, no instrumento, nas máquina
do sistema de produção, na organização do trabalho, na or-
ganização do sistema, na formação pessoal etc. É um traba-
lho mais global e importante dentro do processo preventivo e
produtivo na empresa.

• Ergonomia do processo: Refere-se aos meios pelos quais ocor-


rem o trabalho, a forma e os métodos de trabalho. Relaciona-
-se a um processo ergonômico contínuo numa organização,
trabalha dentro da organização do processo, na organização
do sistema.

• Ergonomia do desenvolvimento e Fator humano: Trata de


aumentar as capacidades e competências dos trabalhadores,
maior competência cognitiva, maior resistência musculo-es-
quelética, para ocorrer um melhor desenvolvimento opera-
cional de trabalho, também denominada de ergonomia de
conscientização.

• Ergonomia comportamental: Refere-se ao trabalho com-


portamental dos trabalhadores e da organização. Em muitos
ramos da indústria, especialistas em segurança ocupacional
identificaram algumas causas principais de lesões de traba-
lhadores relacionadas com o uso de modernas máquinas e
sistemas eletro-mecânicos: treinamento inadequado, ex-
periência de trabalho insuficiente e monotonia das tarefas
freqüentemente realizadas repetidamente (Tatic, 2017). À
medida que o comportamento humano é responsável pelas
principais causas dos acidentes, muitas pesquisas tratam a
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Perícia ergonômica e perícia Fisioterapêutica, quais as diferenças e suas semelhanças

questão da segurança de uma maneira muito mais pró-ativa,


sendo que os planos de segurança é dado pelos métodos de
comportamento humano (Dong, 2015). Nesse sentido a Rea-
lidade Virtual (VR) pode reduzir o tempo e os custos, e levar
a aumentos de qualidade, no desenvolvimento de um produ-
to e de um processo como comportamento laboral (Lawson,
2016). O poder imersivo da Realidade Virtual tem o potencial
de reintroduzir e ampliar a aprendizagem em pessoa que já
possui um aprendizado consolidado e muitas vezes vicia-
do. A realidade virtual (VR) permite observações altamente
detalhadas, medições de comportamento precisas e mani-
pulações ambientais sistemáticas em circunstâncias labo-
ratoriais controladas (Kuliga, 2015). A simulação da realida-
de virtual cria um estado de “imersão” que se aproxima da
situação real, permitindo a medida controlada de respostas
psicofisiológicas e comportamentais (Pericot-Valverde et al.,
2015). Dessa forma aqui nesse tópico trago essa novidade, a
Realidade Virtual como um instrumento poderoso no treina-
mento comportamental humano ou da organização, sendo
usado na ergonomia comportamental.

Uma reflexão interessante sobre a ergonomia comportamental,


seria em uma condição de trabalho, onde o trabalhador tem que
transportar uma panela de alimento com alta temperatura, o medo
de se queimar, leva o trabalhador a adotar posturas que não obriga-
toriamente seria adotada somente pelo peso. Desta forma para um
futuro próximo a tecnologia da Realidade Virtual poderá ser usada
em processos periciais.
- 55 -
José Ronaldo Veronesi Junior

Perícia Fisioterapêutica

A perícia judicial realizada por fisioterapeuta no Brasil foi ini-


ciada em 1999, pelo Fisioterapeuta José Ronaldo Veronesi Junior,
quando este profissional fez um laudo Fisioterapêutico para uma
paciente seguindo as normas da ABNT em formato de artigo e, este
documento enviado pelo advogado para a justiça.
O método de análise e formatação pericial foi sendo estuda-
do durante anos. O primeiro livro sobre o tema foi publicado em
2004, reeditado nos anos de 2008 e 2013. Ainda em 2004, a pe-
dido do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
- COFFITO, o Dr. Veronesi lançou o curso de aprimoramento pro-
fissional em Perícia Judicial pelo Método. Muitos alunos foram
formados nestes anos.
Em 2011 o autor do método, Dr. Veronesi fez sua tese de douto-
rado validando um protocolo de avaliação e quantificação da capa-
cidade funcional para pericia judicial, esta tese resultou em uma
publicação na Conferencia Mundial de Ergonomia, nos Estados
Unidos, em 2014 e uma publicação em um periódico científico do
Direito no mesmo ano. Para avaliar a capacidade funcional dentro
do protocolo do Método Veronesi, o autor publicou em 2012 o Livro
de Testes Funcionais Ortopédicos.
Buscando um aprimoramento contínuo na área pericial e com
a necessidade de um instrumento mais completo para análise do
processo pericial, o Dr. Veronesi lançou a ferramenta IVRE-ARMS -
Índice Veronesi de Risco Ergonômico para Atividade Repetitivas de
Membros Superiores, sendo validada na “6 International Conferen-
ce on Applied Human Factors and Ergonomics” em 2015 e publicado
na “Procedia Manufacturing neste ano”. A ferramenta IVRE-ARMS
permite uma analise da atividade laboral de maneira mais ampla e
sob a ótica dos aspectos físicos, cognitivos e organizacionais, trazen-
do uma maior sistematização dentro da inspeção pericial.
- 56 -
Perícia ergonômica e perícia Fisioterapêutica, quais as diferenças e suas semelhanças

O Método Veronesi traz uma capacitação contínua para os pro-


fissionais Fisioterapeutas interessados em trabalhar na área pericial,
seguindo o preceito do Art. 156 do Código de Processo Civil (CPC), “O
juiz será assistido por um perito quando a prova do fato depender de
conhecimento técnico ou científico em seu terceiro parágrafo que diz:
Os tribunais realizarão avaliações e reavaliações periódicas para ma-
nutenção do cadastro, considerando a formação profissional, a atu-
alização do conhecimento e a experiência dos peritos interessados”.
A perícia Fisioterapêutica ganhou sua resolução em 20 de Maio
de 2016 com a Resolução 466 do COFFITO, onde essa traz os seguin-
tes artigos:

Art. 1º A perícia fisioterapêutica é ato exclusivo do Fisiotera-


peuta.
Art. 2º Compete ao fisioterapeuta, no âmbito de sua expertise,
realizar perícias judiciais e assistência técnica em todas as suas
formas e modalidades, nos termos da presente Resolução.
Art. 3º Para efeito desta Resolução, considera-se perícia fisio-
terapêutica e assistência técnica, de acordo com as áreas de
atuação:
I- Perícia extrajudicial é a análise cuidadosa e sistemática da
capacidade funcional do indivíduo no âmbito das atividades
funcionais do ser humano;
II- Perícia Judicial, em geral, constitui a análise da incapacida-
de funcional do indivíduo em processos judiciais de qualquer
natureza;
III- Perícia Judicial do Trabalho é a análise do litígio, de na-
tureza laboral, referente ao estabelecimento ou não do nexo
causal, para tanto, no campo da atuação profissional, é dividi-
da em Perícia de Capacidade Funcional e Perícia Ergonômica.
A Perícia de Capacidade Funcional envolve o exame físico do
periciado no objetivo de qualificar e quantificar sua capacida-
de ou incapacidade funcional residual. A perícia ergonômica
é a análise dos aspectos do trabalho, utilizando metodologia
- 57 -
José Ronaldo Veronesi Junior

científica própria e consagrada na literatura atualizada e as


normas e leis do trabalho vigentes;
IV- Perícia Previdenciária é a análise da incapacidade funcio-
nal do indivíduo em pleito administrativo para concessão de
benefício previdenciário ou em ação judicial de natureza pre-
videnciária;
V- Perícia Securitária, que trata das incapacidades funcionais
decorrentes de acidentes, sequelas e desfecho de doenças
multifatoriais que acometem o ser humano;
VI- Perícia para Pessoas com Deficiências é a análise da capa-
cidade e incapacidade funcional do indivíduo para atividades
laborais, processos administrativos para fins de isenção e re-
dução fiscal e benefícios em geral;
Art. 4º O fisioterapeuta perito e o fisioterapeuta assistente
técnico deverão respeitar as normas e decisões do COFFITO
acerca da formação mínima necessária para a atuação.
Art. 5º O fisioterapeuta perito e assistente técnico deverá ob-
servar:
I- O exercício da atividade como perito pressupõe que o profis-
sional esteja regular com suas obrigações perante o Conselho
Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da circunscri-
ção onde ocorreu a prestação do serviço periciado;
II- Na função de perito e assistente técnico o fisioterapeuta
deverá identificar-se, de forma clara, em todos os seus atos, fa-
zendo constar, sempre, o número de seu registro no Conselho
Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional;
III- O fisioterapeuta não pode, em nenhuma circunstância, ou
sob nenhum pretexto, renunciar à sua liberdade profissional,
nem permitir quaisquer restrições ou imposições que possam
prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho;
IV- Na função de perito e assistente técnico não deve aceitar
qualquer tipo de constrangimento, coação, pressão, imposi-
ção, restrição ou benefícios que possam influir no desempe-
nho de sua atividade, que deve ser realizada com absoluta
isenção, imparcialidade e autonomia, podendo recusar-se a
- 58 -
Perícia ergonômica e perícia Fisioterapêutica, quais as diferenças e suas semelhanças

prosseguir ao exame e fazendo constar no laudo o motivo de


sua decisão;
V- O fisioterapeuta se responsabilizará, em caráter pessoal e
nunca presumido, pelos seus atos profissionais, resultantes
de relação particular de confiança e executados com diligên-
cia, competência e prudência, mediante termo de compromis-
so a ser firmado nos termos da lei processual;
VI- Não compete ao fisioterapeuta, na função de perito, a su-
gestão de aplicação de quaisquer medidas punitivas;
VII- É vedado ao fisioterapeuta deixar de atuar com absoluta
isenção quando designado para servir como perito ou assis-
tente técnico, bem como ultrapassar os limites de suas atri-
buições e de sua competência;
VIII- O fisioterapeuta deverá declarar-se suspeito ou impedi-
do para perícia do próprio paciente, de pessoa de sua família,
em empresa em que atue ou tenha atuado, ou de qualquer ou-
tra pessoa com a qual tenha relações capazes de influir em
seu trabalho;
IX- É vedada a conduta de intervir, quando em função de peri-
to ou assistente técnico, nos atos de outros profissionais.
Art. 6º Em sua atuação o fisioterapeuta perito e assistente téc-
nico deverá:
I- Cumprir e fazer cumprir a Resolução-COFFITO nº 424/2013,
que estabelece o Código de Ética e Deontologia da Fisiotera-
pia;
II- Cumprir e fazer cumprir a legislação processual vigente
pertinente à conduta pericial.
Art. 7º O fisioterapeuta perito deverá observar os valores do
disposto no Referencial Nacional de Procedimentos Fisiote-
rapêuticos, de acordo com a Resolução-COFFITO nº 428/2013.
- 59 -
José Ronaldo Veronesi Junior

Diferenças e semelhanças entre a perícia ergonômica e


fisioterapêutica

Conforme explicitado nos itens acima, ergonomia é a ciência que


busca a adaptação do ambiente laboral ao homem a fim de trazer
maior conforto, segurança e desempenho eficiente. Desta forma a
Perícia Ergonômica é aquela cujo objeto de dúvida do juízo seja so-
bre os cumprimentos normativos da ergonomia pela empresa, ou
mesmo por falhas ergonômicas da empresa que culminaram a doen-
ça e a acidente. E é justamente nesse ponto que ocorre a semelhança
da Perícia Fisioterapêutica, onde a dúvida do juízo é sobre o nexo
causal ou concausal entre uma doença e o trabalho, onde na grande
maioria das vezes a falha ergonômica foi uma ou a causa da doença.
A diferença entre as Perícias Ergonômica e Fisioterapêutica no
objeto da falha ergonômica com o adoecimento é que a Perícia Er-
gonômica que pode ser feita por qualquer profissional que detenha
conhecimento da ergonomia vai fazer uma análise ergonômica da(s)
atividade(s) desenvolvida(s) e apresentando o grau de risco desta(s)
atividade(s). Já a Perícia Fisioterapêutica irá utilizar a análise ergo-
nômica da(s) atividade(s) desenvolvida(s) como um dos fatores para
o estabelecimento ou não do nexo causal ou concausal. Além do
grau de risco ergonômico que a(s) atividade(s) desenvolvida(s) apre-
sentava, é analisado o tempo de exposição diário e total, a natureza
biomecânica da exposição, métodos preventivos adotados pela em-
presa e evidências epidemiológicas da doença no setor, chamados
de critérios para o nexo pelo Método Veronesi de Perícias Judiciais
(VERONESI, 2018).
Muitos juízes nomeiam profissionais Fisioterapeutas para fazer
a Perícia Ergonômica com o objetivo de estabelecimento do nexo, o
que em muitos casos causam confusão. Isto porque nestes casos o
Juiz nomeia o Fisioterapeuta para avaliar os aspectos ergonômicos e
um médico para estabelecer o nexo causal e/ou concausal, o Fisiote-
- 60 -
Perícia ergonômica e perícia Fisioterapêutica, quais as diferenças e suas semelhanças

rapeuta fazendo valer a normativa profissional a Resolução 466 do


COFFITO quando nomeado neste mister, faz uma conclusão quanto
ao nexo causal, não somente com os riscos ergonômicos mas com
todos os critérios citados acima, e o perito Médico também conclui
sobre o mesmo objeto: o nexo. Em muitos casos as conclusões são di-
ferentes, isto porque o perito Médico estabelece os critérios baseado
somente na avaliação clínica, sem analisar e estudar o local de tra-
balho bem como a organização do trabalho, e o perito Fisioterapeuta
por ter feito a recomendação do Art. 7 das diretrizes sobre Prova pe-
ricial do TST, onde pelo objeto da análise o perito Fisioterapeuta faz
o estudo do local e da organização do trabalho.
Outra demanda de Perícia Ergonômica, essa sim sem confusão, é
dado nas ações coletivas – Ações Civil Pública, onde uma instituição
representativa da sociedade, seja o Minsiterio Público do Trabalho
ou a Secretaria Especial do Trabalho do Minstério da Economia, an-
tigo Ministério do Trabalho ingressa com uma ação coletiva contra
uma empresa por motivos os quais envolve a falha ergonômica. Nes-
tas ações podem ocorrer casos os quais o obejto da perícia é análise
pontual de alguns itens da normativa ergonômica ou a falha global
em que envolve a disciplina de ergonomia.
Em um processo judicial na conclusão do Juiz o mesmo fez a se-
guinte reflexão:
a) A ocorrência da doença ou do acidente, os quais, por si só,
agridem o patrimônio moral e emocional dos trabalhadores
b) Nexo causal, decorrente de um ambiente de trabalho prejudi-
cial (especialmente quanto à ergonomia dos equipamentos);
c) Culpa empresarial. Por isso O valor arbitrado a título de in-
denização por danos morais (R$ 1.500.000,00), pautou-se em
parâmetros compatíveis, e o caráter pedagógico da medida.

- 61 -
José Ronaldo Veronesi Junior

Conclusão

Como podemos observar na decisão do juízo no caso de uma ação


coletiva, a penalidade para a empresa é de cunho pedagógico, a fim
de trazer uma melhoria no processo de trabalho para que no futuro
não tenha mais adoecimentos. Essa é a verdadeira Perícia Ergonô-
mica, na minha humilde opinião, onde o conhecimento especializa-
do e aprofundado da ergonomia ajuda no coletivo, que é o princípio
desta ciência.
Quando o Juiz tem como objetivo o estabelecimento ou não do
nexo causal ou concausal a perícia é Fisioterapêutica, onde o Perito
Fisioterapeuta irá aplicar os critérios para o nexo citado acima, onde
terá muito mais probidade, presteza e qualidade do que um profis-
sional somente identifica o grau de risco ergonômico e outro sem
conhecer o ambiente de trabalho estabelece o nexo. Porém quando
a controvérsia do processo for o cumprimento ou não das normas
regulamentadoras de Ergonomia ou mesmo for a falta de aplicabi-
lidade da ergonomia no aspecto preventivo a perícia é ergonômica.

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AVALIAÇÃO POSTURAL ERGONÔMICA:
UMA NOVA FRONTEIRA NA
SAÚDE DO TRABALHADOR

Miburge Bolívar Gois Júnior, Alana Lalucha de Andrade Guimarães,


Maiana Damares Santos Silva, Luiz Felipe Oliveira Bispo,
Yasmin Profeta da Silva Ribeiro, Vitor Oliveira Carvalho

Introdução

Uma avaliação postural ergonômica direcionada à saúde do tra-


balhador deve, por base, ser pautada por itens globais (avaliação
postural clínica) e específicos (avaliação postural no ambiente de
trabalho) referentes ao dia a dia laboral. Neste capítulo, em espe-
cial, apresentaremos a real importância da avaliação postural er-
gonômica interligada aos sistemas: ocular, mastigatório, auditivo,
vestibular, tegumentar, musculoesquelético e suas particularidades
proprioceptoras integradas a conceitos ergonômicos. Não menos
importante, abordaremos também a inserção das novas tecnologias
para uma boa avaliação postural ergonômica, sem esquecer de valo-
rizar o primordial aspecto da humanização no trabalho.
- 64 -
Avaliação Postural Ergonômica

O indivíduo e seus aspectos funcionais

Anatomia e funcionalidade

Anatomicamente, os sistemas ósseo, ligamentar, muscular, ten-


dinoso e articular são peças fundamentais para que o indivíduo pos-
sa desempenhar suas atividades de vida diária e laborais. O sistema
ósseo, no geral, funcionando como eixo de suporte a toda estrutura
axial do corpo humano (HART et al., 2017; BROTTO; BONEWALD,
2016). Já o ligamentar, suporta toda pressão cinética, classificado
como grandes estabilizadores primários do movimento (RASEN-
BERG; ÖZYÜREK; DINGEMANSE, 2020). Assim, o sistema muscular
apresenta relevância por acionar todo o complexo estrutural e fazer
com que o segmento corporal possa se locomover amplamente (TIE-
LAND; TROUWBORST; CLARK, 2018). Nesta mesma ação são reali-
zadas distribuições tensionais distais, ascendentes e descendentes,
orientando o papel da cápsula articular, responsável por lubrificar
e direcionar todos os sistemas supracitados. Então fica a pergunta:
qual a importância do entendimento anatômico para uma boa ação
postural ergonômica? Se um indivíduo apresenta anormalidades
anatômicas estruturais (mal formação vertebrais, escolioses), cau-
sas genéticas (lesões líticas neoplásicas) ou adquirida (hipercifose e
hiperlordose postural), certamente desenvolverá compensações ao
realizar movimentos simples ou complexos.

Cinesio-Biomecânica e suas relevâncias funcionais

Cinesiologia trata-se do estudo e interpretação do movimento


humano sem interações físicas, ou seja, procura mostrar como o mo-
vimento corporal é realizado através dos eixos e planos e respectivas
ações musculares (BISHOP, 2018). Biomecânica é a análise cinética
e cinemática do movimento humano através de interações físicas,
- 65 -
Miburge Bolívar Gois Júnior, Alana Lalucha de Andrade Guimarães, Maiana Damares Santos Silva,
Luiz Felipe Oliveira Bispo, Yasmin Profeta da Silva Ribeiro, Vitor Oliveira Carvalho

regidas pelas leis do movimento (SEYMORE et al., 2019). Enquanto a


cinesiologia preocupa-se em acompanhar de forma correta os movi-
mentos articulares do tipo: abrir o braço (abduzir), fechar os braços
(aduzir), dobrar os joelhos (flexionar), esticar os joelhos (estender)
e rodar a coluna (rotacionar); a biomecânica preocupa-se em quan-
tificar este movimento por ações de Torque interno (ação de um
músculo específico), torque externo (ação de um objeto a favor da
gravidade), força direcional (qual a direção da força), potência (for-
ça de ação ao mover), resistência (o quanto a força resiste as ações),
energia (economia ou gasto de energia para realizar o movimento)
entre outras. De forma mais branda, ações de força desproporcional
ou em ângulos exacerbados promovem espasmos musculares e con-
sequentemente algias (FICE; SIEGMUND; BLOUIN, 2018).
Assim, acredita-se que tais movimentos em diagonal da coluna,
ou seja, fora do eixo puro de movimento, poderá promover lesões
estruturais micro (protusões discais) e macro (hérnias de disco), as
quais culminarão em futuros desgastes articulares (artroses), pro-
vando assim ser importante um mínimo de entendimento do nosso
próprio corpo para não sermos acometidos com doenças posturais
realizadas durante nossas vidas.

Proprioceptores e ações de funcionalidade

Todas as vezes que nos referimos a proprioceptores, devemos en-


tender que nosso cérebro trabalha como uma central de captação
de estímulos (input) e respostas (output) para que possamos manter
uma boa postura por longos períodos (SPENCER et at., 2018). A ma-
nutenção desta boa postura depende de várias ações proprioceptivas
interligadas aos sistemas: mastigatório, ocular, auditivo, vestibular,
tegumentar e musculoesquelético, incluso o podo postural (ITO et
al., 2020). Todos estes sistemas apresentam suas particularidades e
funcionam em conjunto para manter a melhor postura em equilí-
- 66 -
Avaliação Postural Ergonômica

brio gravitacional do indivíduo, seja quando parado, manutenção


postural estática, ou em atividade, manutenção postural dinâmica
(PINTO et al., 2020). É relevante mencionar que estes sistemas estão
sempre de prontidão para propiciarem uma informação preventiva
e efetiva do movimento. Ações preventivas referem-se a toda ação
que o corpo responde a estímulos reacionais exteroreceptivos amea-
çadores a integridade física ou mental. Como exemplo, a retirada do
foco ocular a um raio intenso de luz, ou mesmo ambientes com altas
ondas de calor ou frio intenso.
Não pode ser esquecido que o sistema musculoesquelético apre-
senta suma importância reacional, principalmente quando estamos
sentados em uma cadeira por longo tempo ou realizamos posturas
repetitivas. Estas ações promovem intensa fadiga muscular nos om-
bro, coluna vertebral, quadril e pernas, principalmente por diminui-
ção de fluxo sanguíneo local muscular. Efetivamente, nosso corpo
reage aos estímulos mais consequentes de repetição, como exemplo:
girar o corpo, dar passos curtos ou mesmo transportar objetos leves
ou pesados. Assim confirma-se o quão é importante pensamos em
nosso corpo e quais são os atores principais para que tudo ocorra em
perfeita harmonia.
Será que nós já paramos hoje para entendemos a relação que
nossos olhos tem com a coluna, quadril, pernas e pés? Se não per-
cebeu, está na hora de entendermos. Logo abaixo abordaremos os
principais proprioceptores e suas relações intrínsecas com a postura
e abordagens ergonômicas na saúde do trabalhador.

Sistema ocular

Os captadores oculares são extremamente importantes para ma-


nutenção do equilíbrio tônico postural (GIRARD et al., 2015). Ao fe-
char os olhos um indivíduo pode perder todo o ponto de referência
central do equilíbrio, o qual é denominado de COP (Centro de Osci-
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Miburge Bolívar Gois Júnior, Alana Lalucha de Andrade Guimarães, Maiana Damares Santos Silva,
Luiz Felipe Oliveira Bispo, Yasmin Profeta da Silva Ribeiro, Vitor Oliveira Carvalho

lação Postural). Não somente a visão em si, imagem de objetos, como


também as ações musculares dos olhos, orientados pelos músculos
reto superior, inferior, medial e lateral, oblíquo superior e inferior,
são importantes como captadores proprioceptivos.
Em uma situação onde a luminosidade natural apresenta-se
ruim, muito se espera da luminosidade artificial de computadores
e celulares, fazendo com que indivíduos em seus postos de trabalho
acabem forçando a visão durante uma longa jornada laboral. Com
o tempo, o cansaço muscular dos olhos e a irritabilidade a luz serão
fatores predisponentes a sintomas rotineiros como dor de cabeça,
pescoço, além de alterações posturais.
A relação íntegra entre o sistema ocular e outros propriocepto-
res predizem equilíbrio corporal, porém quando ocorre desorgani-
zação de ações, o desequilíbrio postural e o aparecimento de dores
no corpo será uma constante (DOWNS, 2015). Por fim, não se torna
inflexível pensarmos que se um indivíduo apresenta diplopia, cata-
rata ou mesmo estrabismo, com o tempo cursará com desequilíbrios
musculares e aparecimento de problemas posturais. Além do mais,
se o setor ocupacional médico não disponibilizar boa orientação er-
gonômica, no posto de trabalho ou disponibilzar uma nova função
para o acometido, a possibilidade de afastamento trabalhístico pode
ocorrer o mais precoce.

Sistema mastigatório

O sistema mastigatório é um aparato imprescindível para o equilí-


brio postural (PRECHEL et al., 2018). Biomecanicamente, a mandíbula
é influenciada por ação de apoio ascendentes e descendentes por ab-
sorver forças gravitacionais interligadas entre a base de sustentação
do crânio e a primeira vértebra cervical, além de ações musculares
conjuntas com sistema ocular (WALCZYŃSKA-DRAGON et al., 2014). A
região mandibular apresenta grande importância por demonstrar re-
- 68 -
Avaliação Postural Ergonômica

levante ação muscular intrínseca através dos músculos supra hioide,


infra hioide, pterigoideo medial e lateral e mais superficiais masseter,
este responsável pelo fechamento e abertura da boca. Ações conjuntas
do platisma, esternocleidomastóideo, longo da cabeça e do pescoço,
escalenos anterior, médio e posterior interpõem-se com os da região
mais superficial e profunda da cervical: o reto posterior maior e me-
nor da cabeça, oblíquo superior e inferior, além dos intertransversais e
interespinhais (SCHMOLKE; CORDULA, 1994). Uma outra observação
importante é notada quando um indivíduo permanece muito tempo
com a boca aberta, em posição ortostática, o desequilíbrio postural
ocorrerá de forma gradual. Como relatado anteriormente, o sistema
mastigatório apresenta franca ligação com sistemas superiores, Sis-
tema Nervoso Central (SNC) e inferiores, Sistema Nervoso Periférico
(SNP) (ABDI et al., 2020). Em conjunto, a Articulação Temporo-Man-
dibular (ATM) é considerada a bússola mandibular, orientando todos
os movimentos da articulação bucal, contudo, alterações marcantes
neste sistema são conhecidas como Disfunções Temporo Mandibula-
res (DTM) (KMEID et al., 2020).
Uma desorganização dental do tipo mordida cruzada ou mesmo
disfunções oro-faríngea, encontradas em indivíduos respiradores
bucais, são fatores suficientes para desprogramar o sistema pos-
tural, mais conhecido como engrama podo-postural (SANO et al.,
2018). No mesmo sentido, informações aferentes e eferentes dos
captadores sensitivos e motores estão interligados ao sistema reti-
cular, cerebelo, gânglios da base e sistema vestibular. Mais especifi-
camente, o nervo trigêmio (quinto par craniano) apresenta grande
importância sensitiva e motora da região facial (EDVINSSON et al.,
2020). De forma clara, devemos entender que alterações na ATM
frequentemente promovem acometimentos do trigêmeo, culminan-
do na Síndrome Trigeminal, a qual caracteriza-se por forte dor local
(EVA 8-10), parestesias e perda de força dos músculos da face (GAM-
BETA;  CHICHORRO;  ZAMPONI, 2020). Indivíduos que realizam
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Miburge Bolívar Gois Júnior, Alana Lalucha de Andrade Guimarães, Maiana Damares Santos Silva,
Luiz Felipe Oliveira Bispo, Yasmin Profeta da Silva Ribeiro, Vitor Oliveira Carvalho

funções anti-ergonômicas, as quais promovem retificação da coluna


cervical com anteriorização da cabeça, cursam com problemas re-
spiratório (por diminuição do fluxo aéreo) e na ATM (por compres-
são da mandúbula, sobrecarregando o nervo trigêmio), devendo ser
evitado esta ação, principalmente por longas horas de trabalho.

Sistema Auditivo e Vestibular

Os sistemas auditivo e vestibular apresentam grande importân-


cia proprioceptiva postural (LOPEZ-POVEDA et al., 2017). O ouvido
interno é dividido fisiologicamente em labirinto anterior e poste-
rior, sendo de maior importância para o estudo do equilíbrio o la-
birinto posterior, composto por canais semicirculares e o vestíbulo
(VAN BEECK CALKOEN et al., 2019). Estes canais estão dispostos em
ângulos intercruzados, de forma tridimencionalizada e sua função
é a de captar acelerações angulares, causadas pela rotação da cabe-
ça em relação ao corpo (DAVIS, et al., 2016). Qualquer aceleração de
movimento nestes canais é captada e promove deslocamento da en-
dolinfa no sentido contrário do estado em repouso. Em conjunto, as
células ciliadas são receptores ativos do labirinto posterior (PLON-
TKE, 2017). O vestíbulo é uma pequena cavidade encontrada entre a
cóclea e os canais semicirculares, apresentando funções de detectar
posições e movimentos da cabeça em relação ao corpo e também
acelerações lineares no equilíbrio estático, per si, gerando infor-
mações aos receptores periféricos localizados no ouvido interno
(CHOI et al., 2017). Indivíduos que trabalham em ambientes com po-
luição sonora, ou seja, ruídos acima de 80 decibéis, estão mais pro-
pensos a desenvolverem problemas auditivos graves que poderão
cursar com forte dor de cabeça, tontura e desequilíbrios posturais. A
perda auditiva além de promover todos estes acometimentos geram
afastamentos laborais por longos períodos, tornando o trabalhador
assíduo a avaliações periciais.
- 70 -
Avaliação Postural Ergonômica

Sistema Tegumentar

O sistema tegumentar, pele, é considerado como o maior siste-


ma do corpo humano por desempenhar funções específicas em cada
região do corpo (MOISSL-EICHINGER et al., 2017). Histologicamen-
te, encontra-se dividido em três camadas: epiderme (camada mais
superficial), derme (camada mediana) e hipoderme (camada mais
profunda) (BOCHEVA; SLOMINSKI; SLOMINSKI, 2019). Uma parti-
cularidade deste tecido é poder detectar alterações de temperatura,
pressão e dor (MOISSL-EICHINGER et al., 2017). A pele é ricamente
polarizada por terminações nervosas livre na camada mais superfi-
cial (epiderme) e medialmente representa importante função pro-
prioceptiva, principalmente em ações de arco reflexo (HE et al., 2015).
Ressalta-se a importância do sistema tegumentar em dois exem-
plos comuns. Quando um indivíduo descalço pisa em um prego,
certamente o arco reflexo proposto primariamente pelos receptores
de pele faz com que este não se machuque com maior intensidade
retirando o pé do objeto perfurocortante como reflexo aguçado, ou
seja, por estímulo de retirada. Um outro exemplo ocorre como res-
posta ao frio, uma vez que indivíduos que realizam trabalhos em câ-
maras frias (estocagem de congelados), frequentemente sentem dor
muscular na região da coluna e pernas por hipotermia e acabam re-
alizando posturas protetivas antálgicas. Assim, fica claro, a impor-
tância do entendimento das Normativas Regulamentadoras (NR´s)
para utilização correta de EPIs, neste caso, calçados emburrachados
e roupas específicas para ambientes frios importantes como proteto-
res do sistema tegumentar, relevante proprioceptivo postural.

Sistema musculoesquelético (tônico-postural)

Os captadores articulares são proprioceptores relacionados a ter-


minações nervosas livres (receptores de dor), corpúsculos de Ruffini
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Miburge Bolívar Gois Júnior, Alana Lalucha de Andrade Guimarães, Maiana Damares Santos Silva,
Luiz Felipe Oliveira Bispo, Yasmin Profeta da Silva Ribeiro, Vitor Oliveira Carvalho

(capta qualquer estímulo de estiramentos da cápsula articular), Pac-


cini (mecanismos de aceleração) e Golgi (responsável pelo aspecto
posicional da articulação) (HENRY; BAUDRY, 2019). Todas as vezes
que um indivíduo manifesta rigidez articular, perda de mobilidade,
cãimbras ou travamentos da coluna vertebral, espasmos, pode-se
afirmar que existiu neste momento uma falha dos captadores ar-
ticulares em relação a resposta longa e curta ao estímulo (MEIER;
VRANA; SCHWEINHARDT, 2019).
O sistema muscular, ao mesmo tempo, responde por contração
e relaxamento (plasticidade) não só de um músculo, mas como de
toda cadeia muscular postural por ações dos captadores classifica-
dos como Fusos Musculares (MILDREN; BENT, 2016).
No mesmo sentido, os tendões responsáveis pelo estiramento e
maior flexibilidade articular respondem através dos Orgão Tendino-
so de Golgi, seja na região próxima ou distal do tendão (MCCARTHY;
HANNAFIN, 2014). Na região proximal, há a junção miotendínea e
na distal o encontro com as fibras de Sharpey as quais ligam os ten-
dões aos ossos (MILDREN; BENT, 2016). Não menos importante, o
sistema aponeurótico (Fáscias) também apresenta sua contribuição
de proteção ao sistema muscular, mais notavelmente com captação
de estímulos dolorosos por inúmeras terminações livres (RIVARES
et al., 2020). No entanto, captadores articulares, musculares, tendí-
neos e aponeuróticos trabalham em conjunto para o melhor equilí-
brio postural.
De forma generalizada, o equilíbrio do corpo depende impres-
cindivelmente dos exteroceptores e proprioceptores que medeiam
estímulos aferentes, responsáveis por levarem informação, e efe-
rente, os que trazem a resposta (JENKS et al., 2017). O arco reflexo,
como citado anteriormente, é uma reação primitivo importante
para nossa sobrevivência capaz de nos distanciar da dor, nosso
quinto sinal vital. Em paralelo, os centros superiores (SNC) através
dos gânglios da base cerebelo, sistema estriado, núcleos basais e
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Avaliação Postural Ergonômica

bulbares recebem informações dos centros: ocular, mastigatório,


auditivo, vestibular, tegumentar e musculoesquelético (podo-pos-
tural), tônico e fásico de forma aferente e como resposta ocorre o
endireitamento postural. Esse efeito de ação-reação nervosa ocor-
re em milionésimos de segundos e é capaz de nos corrigir insti-
tivamente para evitar o aparecimento da fadiga muscular e dor.
De fato, um indivíduo que apresenta atraso ou déficit no esquema
corporal costuma levar maior tempo para o endireitamento pos-
tural e por vezes esta ação promove o aparecimento de quadros
álgicos. Uma forma de melhor entendimento que a noção da perda
no esquema corporal é fato observável no dia a dia pode ser reve-
lado quando uma criança fica muito tempo sentada em frente ao
computador e desenvolve uma postura cifótica torácica, ou seja,
anteriorização do tronco. Esta mesma criança levará esta imagem
postural para várias atividades rotineiras, seja as refeições, sentar-
-se no sofá, dormir, escovar os dentes entre outras. A este tipo de
perda momentânea do esquema corporal é denominado de atra-
so no engrama cerebral. No indivíduo mais idoso é observado que
ações coordenadas de movimento entre braços, quadril e pernas,
ao longo da vida, vão se tornando mais demoradas e complexas
pela perda parcial progressiva do esquema corporal, resultando
em deformidades posturais mais graves. Ergonomicamente, a re-
alização de atividade laboral no ambiente de trabalho promove
melhor qualidade de vida por mater o sistema musculoesquelético
ativo, evitando assim encurtamentos musculares, rigidez articular,
perda de massa magra e desequilíbrios posturais.

Avaliação postural global

A postura é definida como a disposição relativa do corpo no es-


paço em determinado momento (BOJANEK et al., 2020). No entanto,
a postura correta, idealiza-se quando ocorre estresse mínimo im-
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Miburge Bolívar Gois Júnior, Alana Lalucha de Andrade Guimarães, Maiana Damares Santos Silva,
Luiz Felipe Oliveira Bispo, Yasmin Profeta da Silva Ribeiro, Vitor Oliveira Carvalho

postos sobre cada articulação corporal para a melhor liberdade de


movimento (SIMPSON, MAHARAJ, MOBBS, 2019). Por outro lado, a
postura menos correta é demonstrada através da exacerbação desse
estresse articular (LUDWIG et al., 2020). Para cada posição corporal
há um determinado senso postural, como exemplo, a postura corre-
ta ao dormir, levantar, varrer a casa, carregar compras, dirigir, entre
outras. Deve-se observar que dificilmente são encontrados indivídu-
os assumindo uma postura correta ou idealizada durante as ativida-
des laborais.
É razoável imaginarmos que a realização de posturas adequadas
a específicas ações de movimento no trabalho, garantam ao operá-
rio menor risco de lesões e maior longevidade na função desempe-
nhada. Partindo do pressuposto que máquinas industriais, cadeiras
e balcões ainda não são feitos ergonomicamente para cada trabalha-
dor, o efeito adaptativo a estes materiais tem sido a única alternati-
va praticável. Para Ito et al. (2021), este efeito adaptativo é o maior
promotor dos desequilíbrios posturais ao longo da vida tendo como
consequência dor muscular crônica.
Observe que se um indivíduo é jovem e trabalha na parte burocrá-
tica, ou seja, permanecendo muito tempo sentado, pouco desconforto
postural este terá, se e somente se, apresentar bom índice de massa
corpórea e bom estado de saúde geral. Por outro lado, um indivíduo
mais velho que trabalha com a mesma quantidade de horas do jovem
pouco suporta longas horas de trabalho. Certamente, este último in-
divíduo demonstrará uma postura ruim e os sintomas dolorosos, pós
fadiga muscular, aparecerão diariamente. Isso acontece por diversos
motivos: mal adaptação as mobílias, longos períodos na mesma po-
sição sentada, estresse burocrático, entre outros. Fica marcante que
se um indivíduo apresenta maus hábitos alimentares, associados ao
estresse, maior gasto de energia corporal e fadiga postural, o apareci-
mento de doenças que cursam com quadro clínico agudo, sub-agudo
ou crônicos será o maior motivo para afastamentos laborais (TRAE-
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Avaliação Postural Ergonômica

GER et al., 2017). Entre as deformidades posturais mais comuns estão:


a retificação da coluna cervical, deformidade que ocorre por diminui-
ção côncava da lordose cervical, afetando indivíduos que trabalham
diretamente com computadores, Ipads ou telefones celulares. Mal ilu-
minação do ambiente e discrepâncias visuais entre a tela do computa-
dor ou celulares promovem fadiga dos músculos posteriores do pesco-
ço e como reação tendemos a deixar a coluna cervical mais retificada
para aliviar a fadiga. Esta postura viciosa propiciará de forma mais
agudizada espasmos musculares constantes e em estágios crônicos o
aparecimento de hérnias discais na coluna cervical. Então existe uma
boa solução para que estes quadros possam ser minimizados? Sim!
Uma correta iluminação ambiental, de preferência com luz natural
na direção ideal, uma boa cadeira de trabalho, a qual possa propiciar
bom conforto e boa postura, ou seja, cadeiras ajustáveis e sem rodi-
nhas, certamente deixará o indivíduo longe de problemas na coluna.
O reflexo seguinte promovido pela fadiga postural é a hiperlordo-
se cervical, aumento do ângulo posterior da coluna cervical, causa-
da por espasmo ou cansaço muscular e como consequência induz o
indivíduo a uma hipercifose torácica, ou seja, anteriorização do tó-
rax. Não obstante, este mesmo indivíduo poderá desenvolver como
desequilíbrio descendente uma escoliose postural.
A dor lombar, lombalgia ou síndrome da dor lombar é classifica-
da como um conjunto de sinais e síntomas clínicos, de causa multi-
fatorial. Nos casos agudos o índice álgico pode cursar entre 4-10 na
escala EVA de dor, porém nos casos mais crônicos este índice tende a
diminuir e permanecer mais constante com dor (3-5 na escala EVA).
O Fator causativo mais comum da síndrome da dor lombar ainda é a
ação mecânica postural, por permanência de longas horas sentados
na cadeira, seja no banco de um carro ou em cadeiras de escritórios
burocráticos (JACOBS et al., 2017).
Contudo, a não procura antecipada ao setor clínico, médico do
trabalho para tentar sanar estes problemas, poderão culminar em
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Luiz Felipe Oliveira Bispo, Yasmin Profeta da Silva Ribeiro, Vitor Oliveira Carvalho

doenças mais graves, classificadas como doenças de bandeira ama-


rela, ou seja, com pior prognóstico ao tratamento. Doenças do tipo
cervicobraquialgias, toracicalgias e lombociatalgias são classifica-
das como bandeira amarela (GOIS-JÚNIOR, 2018). As doenças supra-
citadas não são consideradas modernas, porém a criação de mate-
riais não funcionais e a mal informações do uso destas, promovem o
agravamento da doença, além do afastamento laboral.
Seguindo o raciocínio clínico, observem que afastamentos labo-
rais não são bons nem para o trabalhador que apresentará uma le-
são musculoesquelética classificada como Doenças Osteomuscular
Relacionada ao Trabalho (DORT), nem para as empresas que investi-
ram em treinamentos e não progredirão com a falta de funcionários
bem treinados (HOSSAIN et al., 2018).
Segundo Yi et al. (2019), avaliação ergonômica postural constan-
te associada a atividades de ginástica laboral, realizada por fisiote-
rapeutas e educadores físicos, certamente promovem uma melhor
qualidade de vida aos funcionários. Por fim, investimentos em re-
cursos humanos, humanização setorial, valorização profissional,
capacitação consciente, intervalos de trabalho e ambientes sem
estresse propiciará um setor mais produtivo, longe do risco de do-
enças funcionais promovidas pelo ritmo alucinante do mercado de
trabalho.

Ergonomia e seus aspectos funcionais

A ergonomia pode ser classificada como uma ação preventiva


junto a saúde ocupacional, tanto da empresa como do trabalhador.
É relevante afirmar que a ergonomia também está presente em vá-
rias situações laborais e objetiva encontrar melhores soluções ocu-
pacionais biomecânicas, psicológicas e ambientais, através de um
biorritmo salutar do funcionário (SUNDSTRUP et al., 2020). Todas
as equipes envolvidas em ações ergonômicas posturais devem seguir
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Avaliação Postural Ergonômica

as principais Normativas Regulamentadoras (NRs), importante para


proteger o trabalhador. As NRs são conhecidas como normas deter-
minadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), regulamen-
tadas em 1978 por intermédio da portaria n.3214 das quais hoje faz
parte 35 NRs com maior ênfase a NR17, revisada em 1990 pela portaria
MTPS n. 3751 (SCHELLEWALD, KLEINERT, ELLEGAST, 2020). Mais es-
pecificamente, a NR17 versa sobre a importância de valorizar os parâ-
metros de melhoria ocupacional, seja para transporte de carga (ma-
teriais), mobiliários, condições de posto de trabalho, EPIs, condições
físicas, psíquicas e ambientais (FONTANA, D‘ERRICO, 2020).
Funcionalmente, dados antropométricos como peso, altura, IMC,
tamanho das pernas e braços interferem mais diretamente em ca-
racterísticas do trabalhador e suas funções no dia a dia (HSIAO,
2013). Observem que mulheres, homens, jovens e idosos apresen-
tam aspectos diferentes e dependentes dos dados antropométricos
para uma boa realização funcional ergonômica. Se por um lado os
asiáticos tendem a apresentar retificação na coluna lombar e pou-
ca massa muscular nos membros inferiores, africanos tendem a
hiperlordoses e maior percentual de massa muscular nesta mesma
região quando jovens (JACOBS et al., 2017). Ergonomicamente, de-
ve-se pensar que características antropométricas, juntamente com
particularidades fisiológicas posturais, dificultam uma padroniza-
ção ergonômica dos materiais.
Para a biomecânica ocupacional, os aspectos mais importantes
são os preventivos, pois estes quando bem aplicados evitarão novas
ocorrências em saúde e afastamentos trabalhísticos. No mesmo sen-
tido, deve-se entender que ao levantar um peso de forma errada ou
mesmo permanecer longas horas sentados na mesma posição pro-
moverá fadiga e dor, principalmente na região da coluna. Outro as-
pecto que deve ser bem compreendido é a importância do braço de
alavanca, o qual faz sentido não só em projeções de materiais mas
também em ações de movimentos. Assim, torna-se muito mais er-
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gonomicamente inteligente e menos desgastante, de forma enérgi-


ca, transportar objetos o mais próximo do corpo, agachar dobrando
as pernas mantendo a coluna o mais ereta possível, digitar em um
computador com a tela bem horizontalizada, sentar de forma corre-
ta e a cada 40 minutos levantar e fazer com que a musculatura seja
vasculariza, sendo estes procedimento o esperado como orientações
preventivas ergonômicas.
O aspecto, usabilidade, remete-se de forma mais simples a adap-
tação dos materiais as características psicofisiológicas do trabalha-
dor (KUSHNIRUK et al., 2014). O principal objetivo da usabilidade
é garantir que dispositivos e sistemas estejam o melhor adaptado à
maneira como o trabalhador usará ferramentas emocionais ao longo
da jornada de trabalho. Quando falamos de usabilidade devemos nos
ater a características da condução (relacionado ao aprendizado do
operário as ferramentas), carga de trabalho (elementos de interface
que minimizarão sobrecarga psíquica e mecânica) e adaptabilidade
(facilitação do manuseio de tarefas e materiais), avaliados por ques-
tionários em software interativos (HENDERSON, STUCKEY, KEEGEL,
2018). Contudo, novos modelos de avaliações posturais ergonômicas,
por intermédio de novas tecnologias, contribuem para uma análise
mais robusta e criteriosa, favorecendo o binômio empresa-operário.

Avaliação postural ergonômica, uma nova fronteira

Uma valiação postural ergonômica ideal versa sobre a interação de


novas tecnologias, sem perder de vista que o diagnóstico ergonômico
busca uma visão globalizada, propondo integrar o maior número pos-
sível de características que contemplem a segurança e a saúde ocupa-
cional preventiva. Antes de mais nada, torna-se importante salientar
que esta nova fronteira avaliativa jamais poderá deixar de abordar
apreciações ergonômicas (mapeamento dos problemas existentes),
boa diagnose ergonômica (avaliação mais profunda sobre a saúde do
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Avaliação Postural Ergonômica

indivíduo através de entrevistas, relatórios e prontuários), projeções


ergonômicas (novas adaptabilidades aos postos de trabalho), testes er-
gonômicos (os quais garantirão o melhor feed-back do que foi realiza-
do ao longo do tempo de trabalho) e por fim otimizações (procurando
rever questões de erros e acertos laborais de forma breve). Todas estas
avaliações e mais precisamente a ergonômica postural, remete-se a
esclarecer que diversos fatores influenciam direta e indiretamente
os postos de trabalho e devem ser feitas por profissionais da área de
segurança de empresa lícita recursos humanos, comissão interna de
prevenção de acidentes e serviço especializado em engenharia de se-
gurança e medicina do trabalho (RH, CIPA e SESMT), acompanhadas
da equipe em saúde ocupacional.
Ao longo da evolução, o estudo da posturologia ergonômica vem
ganhando muito espaço não só em aspectos tecnológicos como tam-
bém em novas implementações clínicas fisioterapêuticas (HOE et
al., 2018). É importante salientar que a posturologia e ergonomia são
ciências complementares e codependentes dos aspectos cinesiológi-
cos, biomecânicos e neuro-ortopédicos e juntas têm propiciado dimi-
nuição de afastamentos trabalhísticos (DE ALMEIDA NASCIMENTO
et al., 2016), (JACOBS et al., 2016), (CARINI et al., 2017), (MORAUD et
al., 2018), (MEIER, VRANA, SCHWEINHARDT, 2019).
Estudos recentes mostram que sistemas de Realidade Virtual, Re-
alidade Aumentada, Sistemas 3d, Xsens e biodex system interligadas
a tecnologias 5G são classificadas como novas tecnologias ergonô-
micas posturais (VIEIRA et al., 2020; SAGHAFIAN et al., 2020; GAZ-
ZOLA et al, 2020; MICARELLI 2019; KU et al., 2019; BRIGHAM, 2017;
VIEIRA, PALMER, CHAVES, 2016; EFTEKHAR-SADAT et al., 2015; DE
OLIVEIRA LIRA et al., 2020).
Se por um lado, a avaliação tradicional nos remete a análises do
sistema corporal, novas tecnologias nos levam a patamares surpre-
endente em relação a análise multivariadas da saúde funcional do
trabalhador. É razoável compreendemos que estas novas tecnologias
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Miburge Bolívar Gois Júnior, Alana Lalucha de Andrade Guimarães, Maiana Damares Santos Silva,
Luiz Felipe Oliveira Bispo, Yasmin Profeta da Silva Ribeiro, Vitor Oliveira Carvalho

ainda são pouco acessíveis a pesquisadores e profissionais atuantes


em países subdesenvolvidos. Em verdade, estas propiciam a chan-
ce avaliativa integrada de sistemas corporais conjugados, do tipo:
ocular, mastigatório, auditivo, vestibular, tegumentar e musculoes-
quelético em uma mesma análise regida por circuitos inteligentes
informáticos. Compreensivelmente, empresas de países desenvolvi-
dos aprimoram cada vez mais protocolos avaliativos posturais alia-
dos a tecnologia de ponta com o intuito de acompanhar em tempo
real a saúde ocupacional dos funcionários. Não obstate, milhões de
dólares são gastos em medicamentos e afastamentos trabalhísticos
em todo mundo e com certeza empresas inteligentes se aprimoram
cada vez mais para promover ações preventivas.

Conclusão

Por fim, devemos entender que uma boa avaliação postural er-
gonômica deva ser construída através do entendimento de aspectos
anatômicos, ciensio-biomecânicos e proprioceptivo interligados ao
estado físico, psíquico e emocional. A inserção de novas tecnologias
como suporte a avaliação postural ergonômicas em grandes empre-
sas tem favorecido uma melhor análise dos parâmetros qualitativos
e quantitativos com precoce identificação dos principais problemas
posturais. Contudo, a valorização do profissional através de progra-
mas de humanização setorial e suporte a melhor qualidade de vida,
durante as funções laborais, são vistas como importantes para a saú-
de do trabalhador. Afinal é direito de todo funcionário ser orientado
ergonomicamente sobre riscos laborais e dever das empresas promo-
verem ações avaliativas e preventivas, só assim atingiremos a maturi-
dade em sermos classificados funcionalmente como humanos e não
máquinas pré-programadas a realizar atividades de repetição.
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Avaliação Postural Ergonômica

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RUÍDO E QUALIDADE DE VIDA EM
TRABALHADORES DE UTI
Anne Marrana dos Santos Ramos Pontes, Jandira Valerio Gomes Maia,
Regiane Cristina do Amaral, André Luis Dantas Ramos,
Tereza Raquel Ribeiro de Sena

Introdução

O ruído pode ser definido como uma energia acústica audível


capaz de prejudicar o bem-estar físico e emocional das pessoas, em
geral associado a um som desagradável ou indesejável para o ser hu-
mano (FORMIGONI, 2013; LOPES, GONÇALVES, ANDRADE, 2019),
pode estar presente em diversos ambientes, e é um dos agentes de
risco ocupacional nocivo à saúde, em especial à auditiva, que pode
trazer consigo consequências negativas que afetam o trabalhador
exposto durante sua vida laboral (OLIVEIRA et al., 2015).
No desenvolvimento das habilidades de trabalho, o indivíduo
pode se deparar com estressores ambientais tais como os agentes
químicos (fumos, poeiras, gases e vapores), agentes físicos (ruído,
temperaturas extremas, radiações), agentes biológicos (vírus, bac-
térias e fungos), estressores ergonômicos (organização das tarefas,
jornadas, turnos e ritmos extenuantes), além da possibilidade de
acidentes de trabalho (ANDRADE, SOARES, GONÇALVES, 2019). A
associação desses estressores pode gerar efeitos negativos sobre a
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Ruído e qualidade de vida em trabalhadores de UTI

saúde e bem-estar dos trabalhadores (OLIVEIRA et al., 2015). Dentre


os agentes agressores à saúde e à qualidade de vida dos trabalha-
dores, podemos destacar a poluição sonora, causada pelo ruído no
ambiente laboral, que também é considerado um fator de risco para
acidentes de trabalho (DIAS et. al., 2006).
Trabalhadores expostos ao ruído ocupacional intenso apresen-
tam risco três a quatro vezes maior de se acidentarem quando com-
parados a trabalhadores não expostos (CORDEIRO et. al., 2005). No
Brasil, a área hospitalar é responsável pelo maior número de aciden-
tes de trabalho, correspondendo a 53.524 casos (BRASIL, 2017). Para
Cordeiro et al. (2005), “diferente do que o nome sugere, eles não são
eventos fortuitos ou acidentais, mas sim fenômenos socialmente de-
terminados e passíveis de prevenção”.
Mesmo sendo um lugar ideal para atendimento e recuperação
de pacientes graves, a UTI é considerada um ambiente de trabalho
agressivo para os trabalhadores e uma das áreas mais afetadas pelo
ruído de alarmes de diversos equipamentos (FILUS, 2014; SANTOS,
2010). Além do ambiente insalubre, o trabalho dos profissionais de
saúde nos hospitais ocorre em jornadas exaustivas prejudiciais à
saúde dos trabalhadores com efeitos sobre a saúde mental dos mes-
mos (SCHMIDT, 2013; BARBOSA, 2014), podendo inclusive afetar a
qualidade de vida deste trabalhador.
A avaliação da qualidade de vida prevê a percepção do indivíduo
de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores
nos quais ele vive, em relação aos seus objetivos, expectativas, pa-
drões e preocupações (WHO, 1994). Trata-se de um conceito amplo
que inter-relaciona o meio ambiente com os aspectos físicos, psico-
lógicos, nível de independência, relações sociais e crenças pessoais
(FLECK, 2008).
Dentre os instrumentos para se avaliar a qualidade de vida têm-
-se o QWLQ-bref ou QVT-bref (CHEREMETA et al., 2011), que pode ser
vista como um indicador da qualidade da experiência humana no
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Anne Marrana dos Santos Ramos Pontes, Jandira Valerio Gomes Maia, Regiane Cristina do Amaral,
André Luis Dantas Ramos, Tereza Raquel Ribeiro de Sena

ambiente de trabalho, afinal, o indivíduo passa a maior parte de seu


tempo ativo, trabalhando (AMARAL, 2015; FOLADOR, 2018).
Assim, o objetivo deste estudo, com olhar interdisciplinar, foi de
mensurar os níveis de pressão sonora ambiental na UTI adulto de
um hospital público do estado de Sergipe, descrever os possíveis im-
pactos à saúde e à qualidade de vida do trabalhador, de modo que se-
jam desenvolvidos instrumentos de avaliação dos efeitos auditivos e
extra-auditivos da exposição ocupacional ao ruído, além de oferecer
subsídios para a reflexão dos profissionais da saúde em relação à
saúde auditiva, qualidade de vida do trabalhador e a importância de
planejar ações de gestão e vigilância epidemiológica para este fim.

Materiais e métodos

O estudo foi realizado com trabalhadores do setor de UTI adulto


de um hospital público do estado de Sergipe. Foi aprovado pelo Co-
mitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe, sob
CAAE nº 40979515.7.0000.5546. Foram realizados o levantamento da
rotina de trabalho, o layout da UTI Adulto do hospital e os níveis de
pressão sonora (NPS) no ambiente.
As medições dos níveis sonoros no ambiente interno da UTI adulto
do hospital foram feitas em períodos da manhã (8h às 12h) e tarde (13h
às 19h), em condições ambientais favoráveis, ou seja, sem interferên-
cia do clima. A escolha desses horários deu-se pela execução de grande
número de procedimentos médicos e de enfermagem, significando os
picos de ruído. Foi utilizado o medidor de NPS da marca Larson Davis,
modelo SoundTrack LxT1, classe 1, operando no circuito de compen-
sação “A” e resposta lenta (SLOW), com protetor de vento acoplado, e
calibrador acústico CAL200 (marca: Larson Davis), em conformidade
com as NBR 10152 (ABNT, 2017). Os ambientes internos avaliados en-
contravam-se aclimatizados com aparelhos de ar-condicionado tipo
Split e a temperatura ajustada em 18ºC nas medições internas. Para
- 90 -
Ruído e qualidade de vida em trabalhadores de UTI

a medição acústica da UTI adulto do hospital selecionado foi utiliza-


do o método simplificado da NBR 10152 (ABNT, 2017), estabelecendo:
distância superior a 1,00m das paredes, teto, piso, mobiliários e de ele-
mentos com significativa transmissão sonora como janelas, portas ou
entradas de ar. As posições de medição tiveram no mínimo 0,70m de
distância entre elas, sendo executadas em 37 pontos, onde em cada
ponto foram realizadas medições em alturas diferentes (1m e 1,5m),
tendo 1min de duração cada uma. Todas as medições foram executa-
das em dias de utilização normal do ambiente, com janelas fechadas.
As medições nos postos de trabalho foram determinadas próximas à
zona auditiva do trabalhador e as demais variáveis na altura do tórax,
de acordo com NR-17 (BRASIL, 1990).
Nos leitos 8 e 10 não foram definidos pontos de medição, pois a
distância do ponto anterior e posterior seriam insuficientes para tal
medição. Já os pontos dos leitos 7 e 11 foram medidos dentro do leito
por terem distância suficiente do mobiliário para tal.
Realizou-se a dosimetria de ruído com áudio dosímetro 706, da
marca Larson Davis, em 4 trabalhadores, em dias diferentes, os quais
três desses trabalhadores selecionados, foram técnicos de enferma-
gem (das 7h às 13h, feminino, 37 anos; das 7h às 13h, masculino, 40
anos; das 13h às 18h, feminino, 37 anos) e uma gerente de enferma-
gem (das 8h às 18h, feminino, 27 anos). O equipamento foi colocado
e retirado na hora programada e o microfone fixado no local mais
próximo da zona auditiva do trabalhador.
Para a avaliação acústica as medições obtidas foram comparadas
aos valores de referência para enfermaria, de 40 dBA para confor-
to e 45 dBA como valor aceitável definidos pela NBR 10152 (ABNT,
2017) e NR 17 (BRASIL, 1990). Em relação à saúde dos trabalhadores,
os valores seguiram os parâmetros dos limites de tolerância ou de
exposição ocupacional ao ruído definido pela NR 15 (BRASIL, 1978).
A UTI adulto do hospital pesquisado possui trabalhadores dis-
tribuídos em 10 funções: técnicos de enfermagem, enfermeiros,
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Anne Marrana dos Santos Ramos Pontes, Jandira Valerio Gomes Maia, Regiane Cristina do Amaral,
André Luis Dantas Ramos, Tereza Raquel Ribeiro de Sena

médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, técnicos em


farmácia, farmacêuticos, nutricionistas e técnicos administrativos,
subdivididos em 5 equipes: plantão matutino, vespertino, noturno
1, noturno 2 e noturno 3. Quanto ao regime de trabalho, a maioria
é celetista, com admissão por meio de concurso público e processo
seletivo, apenas 5 são estatutários.
A coleta de dados ocorreu nos meses de dezembro de 2019 a ja-
neiro de 2020. O cálculo amostral tomou como critério o nível de
confiança de 95% e erro amostral de 10% perfazendo um mínimo de
13 participantes.
Para a coleta de dados foram avaliados 15 trabalhadores que res-
ponderam o questionário sobre queixas e sintomas auditivos com-
posto por 16 questões fechadas, contendo dados de identificação e
informações sobre a história de vida e ocupação, antecedentes fami-
liares de perda auditiva, uso de medicamentos potencialmente oto-
tóxicos, presença de sintomas auditivos e não auditivos, entre outras
investigações de possíveis causas de hipoacusias (OLIVEIRA, 2015).
O questionário de avaliação da qualidade de vida no trabalho –
QVT-bref (CHEREMETA, 2011) utilizado pelos pesquisadores foi com-
posto por 20 questões fechadas, com o objetivo de avaliar a qualidade
de vida no trabalho, sob o ponto de vista pessoal, físico/saúde, psi-
cológico e profissional. Ao se avaliar a QVT-bref, as questões foram
caracterizadas pelos domínios: Físico/Saúde, Psicológico, Pessoal e
Profissional de acordo com Reis Júnior (2008). Para analisar os resul-
tados da QVT os domínios foram classificados por pontuação, sendo:
0 a 22.5 considerado muito insatisfatória, 22.5 a 45 insatisfatória, 45
a 55 neutro, 55 a 77.5 satisfatória e 77.5 a 100 muito satisfatória (CHE-
REMETA, 2011). Os dados foram analisados de forma descritiva e por
Correlação de Spearman (dados não normais). Foram utilizados os
pacotes estatísticos do Microsoft Excel e SPSS 21.0
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Ruído e qualidade de vida em trabalhadores de UTI

Resultados

A UTI (figura 1) analisada possuía aproximadamente 3.000m² inte-


grada ao hospital e configurada para atendimento de pacientes adultos.
Trata-se de um hospital público localizado na zona oeste da cidade de
Aracaju. O ambiente era composto por forro de laje em concreto arma-
do, revestido com argamassa, piso frio de cerâmica; janelas de vidro
liso, com estrutura metálica medindo 1,61x0,5m e 1x1,47mm sem vene-
zianas, nem cortinas, que ficavam permanentemente fechadas; exis-
tiam divisórias entre os 26 leitos e colunas de sustentação em alvenaria.

Figura 1- Layout da UTI Adulto do hospital público de Sergipe.

Fonte: Autoria própria (2019)


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Anne Marrana dos Santos Ramos Pontes, Jandira Valerio Gomes Maia, Regiane Cristina do Amaral,
André Luis Dantas Ramos, Tereza Raquel Ribeiro de Sena

Foram observados os seguintes aparelhos geradores de ruídos: as-


piradores de secreção a vácuo, monitor multiparâmetros (oximetria,
frequência cardíaca, frequência respiratória, temperatura e pressão
arterial), bombas de infusão, ventiladores mecânicos, fontes de oxi-
gênio e ar comprimido, sempre ligados quando o leito está ocupado
por um paciente, além dos painéis de oxigênio, ar comprimido, aler-
tas de leitos, impressoras e telefones de uso coletivo.
As medições do período matutino foram realizadas nos pontos
21-36 e no período vespertino dos pontos 1-20 e 37-66, ou seja, foram
medidos 66 pontos. O NPS equivalente (LAeq) apresentou média de
64,77 dBA, variando de 48,7 a 76,3 dBA. No período matutino a média
do LAeq foi 65,59 dBA, e para o vespertino a média do LAeq foi 65,82
dBA. O nível sonoro mínimo (LAeq min) foi de 45,3,6 dBA (no quarto
multidisciplinar para técnicos), de 75,7dBA (no corredor da gerência
próximo à entrada da UTI, onde existe um sistema de ar muito rui-
doso e com mau funcionamento). O nível sonoro máximo (LAsmax)
foi de 52,7 dBA (no quarto multidisciplinar para técnicos) e de 80,1
dBA (no leito 03). A média geral do LAeq de 64,79 dBA, e LAsmax de
70,25 dBA (Tabela 1).

Tabela 1– Medições de ruído na UTI adulto de hospital público em Sergipe, NBR 10152, 2020
Ponto/
Ambiente LAeq,1min [dBA] LASmax [dBA] LASmin [dBA] LAeq [dBA]
medição
Leito 01 1,0m PE 01 61,7 65,6 58,8
Leito 01 1,5m PE 02 62,5 65,8 55,5 62,01
Leito 02 1,0m PE 03 65,4 71,5 61,8
Leito 02 1,5m PE 04 66,7 74,6 61,1 66,05
Leito 03 1,0m PE 05 69,7 80,1 63,3
Leito 03 1,5m PE 06 69,2 77,3 63,3 69,45
Leito 04 1,0m PE 07 63,7 68,6 60,3
Leito 04 1,5m PE 08 65,0 72,7 61,0 64,35
Leito 05 1,0m PE 09 66,5 71,4 62,0
Leito 05 1,5m PE 10 63,3 68,5 60,8 64,90
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Ruído e qualidade de vida em trabalhadores de UTI

Ponto/
Ambiente LAeq,1min [dBA] LASmax [dBA] LASmin [dBA] LAeq [dBA]
medição
Leito 06 1,0m PE 11 60,6 63,6 58,8
Leito 06 1,5m PE 12 64,4 74,5 60,0 62,50
Leito 07 1,0m PE 13 61,9 64,9 59,5
Leito 07 1,5m PE 14 62,3 65,1 60,4 62,10
Leito 09 1,0m PE 15 66,0 75,5 61,4
Leito 09 1,5m PE 16 64,2 70,9 60,2 65,10
Leito 11 1,0m PE 17 63,4 74,9 59,8
Leito 11 1,5m PE 18 66,0 74,7 62,0 64,70
Leito 12 1,0m PE 19 67,0 73,9 61,8
Leito 12 1,5m PE 20 63,5 71,4 59,4 65,25
Leito 13 1,0m PE 21 65,1 71,1 61,3
Leito 13 1,5m PE 22 71,0 75,0 67,9 68,50
Leito 14 1,0m PE 23 66,5 72,0 62,2
Leito 14 1,5m PE 24 63,0 69,5 59,1 64,75
Leito 15 1,0m PE 25 63,8 68,3 59,2
Leito 15 1,5m PE 26 64,4 70,4 60,2 64,20
Leito 16 1,0m PE 27 64,6 67,8 61,6
Leito 16 1,5m PE 28 64,7 71,5 60,3 64,65
Leito 17 1,0m PE 29 66,2 67,8 66,8
Leito 17 1,5m PE 30 65,3 66,5 64,7 65,75
Leito 18 1,0m PE 31 63,3 66,8 59,6
Leito 18 1,5m PE 32 66,8 71,4 61,8 65,05
Leito 19 1,0m PE 33 65,6 73,0 58,5
Leito 19 1,5m PE 34 64,9 70,9 59,9 65,25
Leito 20 1,0m PE 35 65,9 74,7 60,2
Leito 20 1,5m PE36 68,3 70,3 65,8 67,10
Leito 22 1,0m PE 37 63,8 68,3 60,5
Leito 22 1,5m PE 38 64,7 70,1 60,7 64,25
Leito 25 1,0m PE 39 65,3 71,9 59,0
Leito 25 1,5m PE 40 64,9 72,8 58,8 65,10
Leito 26 1,0m PE 41 61,5 65,1 57,8
Leito 26 1,5m PE 42 62,4 66,6 58,3 61,95
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Anne Marrana dos Santos Ramos Pontes, Jandira Valerio Gomes Maia, Regiane Cristina do Amaral,
André Luis Dantas Ramos, Tereza Raquel Ribeiro de Sena

Ponto/
Ambiente LAeq,1min [dBA] LASmax [dBA] LASmin [dBA] LAeq [dBA]
medição
Isolamento 1,0m PE 43 66,0 69,1 59,9
Isolamento 1,5m PE 44 64,6 67,0 61,0 65,30
Farmácia 1,0m PE 45 63,7 67,0 59,6
Farmácia 1,5m PE 46 65,8 68,4 63,4 64,75
Balcão central (entre os leitos 01 e 18) 1,0m PE 47 63,5 70,5 59,6
Balcão central (entre os leitos 01 e 18) 1,5m PE 48 66,5 70,3 63,0 65,00
Balcão central (entre os leitos 03 e 16) 1,0m PE 49 67,8 77,6 63,1
Balcão central (entre os leitos 03 e 16) 1,5m PE 50 66,5 75,5 61,7 67,15
Balcão central (entre os leitos 04 e 14) 1,0m PE 51 68,0 74,5 62,9
Balcão central (entre os leitos 04 e 14) 1,5m PE 52 66,5 76,6 63,3 67,25
Quarto dos médicos 1,0m PE 53 61,2 71,2 53,8
67,20
Quarto dos médicos 1,5m PE 54 60,8 73,2 51,6
Sala gerência de enfermagem 1,0m PE 55 65,3 73,3 57,4
Sala gerência de enfermagem 1,5m PE 56 60,1 68,3 56,9 62,70
Corredor gerência próx. a saída 1,0m PE 57 76,2 76,8 73,9
76,25
Corredor gerência próx. a saída 1,5m PE 58 76,3 78,9 75,3
Corredor gerência próx. a UTI 1,0m PE 59 76,2 78,9 75,3
Corredor gerência próx. a UTI 1,5m PE 60 76,3 76,8 75,7 76,25
Refeitório 1,0m PE 61 58,0 64,1 56,2
Refeitório 1,5m PE 62 62,1 74,5 56,2 60,05
Quarto multidisciplinar Técnicos 1,0m PE 63 50,4 61,7 45,3
Quarto multidisciplinar Técnicos 1,5m PE 64 48,7 52,7 45,4 49,55
Quarto multidisciplinar 1,0m PE 65 54,1 60,9 52,4
Quarto multidisciplinar 1,5m PE 66 52,9 54,0 52,5 53,50
Fonte: Pesquisa de campo (2020).

As medidas de dosimetrias (Tabela 2) apresentaram a média de


LAeq de 75,3 dBA e a LAsmax de 100,55 dBA, com dose de exposição
com fator de troca 5 (Q5) de 12,9%, projetado para exposição diária
do trabalhador por 8h/dia. Os resultados com projeção de exposição
para 6h/dia apresentaram dose de 8,2%, 8,2% e 3,1%, sendo realiza-
das em três trabalhadores em dias diferentes com média do LAeq de
75,3 dBA e LAsmax 96,2 dBA. Para as demais dosimetrias os valores
encontrados foram de LAeq 75,3 dBA e LAsmax de 97,29 dBA.
- 96 -
Ruído e qualidade de vida em trabalhadores de UTI

Tabela 2 – Doses de ruído projetadas para jornadas diárias com fator de troca 5 (Q5)
Data Período de medição LAeq LAsmax LAmin Dose (Q5)
18/12/2019 8h às 12:29h 74,5 dBA 101,0 dBA 48,8 dBA 8,8%
14h às 18h 76,1 dBA 100,1 dBA 53,3 dBA 6,4%
Média 75.3 dBA 100,5 dBA 51,0 dBA 12,9%
17/12/2019 7h às 13h 76,2 dBA 99,2 dBA 48,1 dBA 8,2%
24/12/2019 7h às 13h 77,0 dBA 96,1 dBA 48,7 dBA 8,2%
28/01/2020 13h às 19h 72,7 dBA 93,3 dBA 54,9 dBA 3,1%
Média 75,3 dBA 96,2 dBA 50,57 dBA _
Fonte: Pesquisa de campo (2020)

Foram entrevistados 15 trabalhadores por meio da ferramenta


Google Forms no período de dezembro/2019 e janeiro 2020, sendo
a idade média de 40 anos (desvio padrão de 8.7), 13 mulheres e 2 ho-
mens, 10 trabalhadores exerciam a função de técnico em enferma-
gem, 8 trabalhadores possuíam carga horária de 8 horas/dia e 5 de
6 horas/dia. Sobre o tempo de trabalho dos entrevistados, 7 deles
tinham de 5 a 10 anos de exercício profissional em UTI.

Figura 2: Distribuição dos pontos de medição por intensidades mensuradas em dBA. Em destaque vermelho limite
de nível aceitável para enfermaria NBR 10152 (ABNT, 2017).

Fonte: Autoria própria (2020)


- 97 -
Anne Marrana dos Santos Ramos Pontes, Jandira Valerio Gomes Maia, Regiane Cristina do Amaral,
André Luis Dantas Ramos, Tereza Raquel Ribeiro de Sena

Todos os trabalhadores relataram que o ambiente era ruidoso, a


média de exposição diária foi de 8 horas. Em relação à exposição re-
creacional a maioria negou, no total de 8 trabalhadores, bem como
em relação à exposição pregressa, no total de 6 trabalhadores.
Em relação aos sinais e sintomas auditivos, 8 indivíduos defini-
ram a audição como boa, apenas 1 como ruim e nenhum como exce-
lente. Os sinais mais citados foram: desconforto a sons intensos, com
o total de 13 trabalhadores, desses 6 classificaram esse desconforto
como de baixa intensidade, 4 como alta e 3 como média; dificuldade
em conversar em ambientes barulhentos, no total de 11 indivíduos;
7 entrevistados referiram dor de cabeça. O zumbido foi citado por 6
trabalhadores, desses 3 referiram a intensidade como baixa e 3 como
média, o mesmo número de trabalhadores referiram irritabilidade.
No domínio Físico/Saúde, o valor encontrado foi 54,17, representan-
do um índice neutro de QVT. O domínio Psicológico alcançou o score
de 48,33 e índice neutro de QVT. O único domínio que alcançou o nível
satisfatório foi o Pessoal, com valor de 59,17. Já o domínio que apresen-
tou o menor índice de QVT foi o Profissional, dentre os domínios avalia-
dos, com índice 39, 81 considerado insatisfatório, de acordo com a escala
adotada pelo teste. Em relação aos quatro domínios avaliados a QVT dos
colaboradores encontra-se em nível neutro com valor 50,37 (Figura 3).

Figura 3- Distribuição de valores médios de QVT total e por domínio em trabalhadores da UTI adulto
do hospital público de Sergipe, 2020.
QVT;
50,37037037

Profissional;
39,81481481

Pessoal;
59,16666667

Psicológico;
48,33333333

Físico/Saúde;
54,16666667
Fonte: Pesquisa de campo (2020)
- 98 -
Ruído e qualidade de vida em trabalhadores de UTI

Ao se correlacionar os valores do QVT-bref com as variáveis “ouve


bem”, “trauma acústico”, “desconforto”, “zumbido”, “irritabilidade” e
“insônia” foi verificada significância estatística (Correlação de Spe-
arman) para o item intensidade de desconforto (p=0.07), irritabilida-
de (p=0.025) e cefaleia (p<0.001).

Discussão

Este estudo identificou que todos os 66 pontos de medições reali-


zados na UTI adulto do hospital pesquisado ultrapassam o nível de
conforto acústico estabelecido pela NBR 10152 (ABNT, 2017) e NR 17
(BRASIL, 1990) de 40 dBA de nível de conforto e de 45 dBA de nível
aceitável, respectivamente.
Ressalta-se que todos os índices encontrados representam um
nível de conforto acústico inadequado para atividades que exijam
atenção e solicitação intelectual constantes, ou seja, os valores são
considerados desconfortáveis, sem necessariamente causar proble-
mas auditivos irreversíveis, como a perda auditiva induzida por ruí-
do (Figura 2). Mesmo assim, as medições não ultrapassam o nível de
exposição diária ao ruído de acordo com a NR-15 (BRASIL, 1978), que
caracteriza limites para fins de insalubridade.
A NBR 10152 (ABNT, 2017) estabelece os parâmetros acústicos de
níveis de pressão sonora em ambientes internos em função da finali-
dade de uso, para este estudo foi adotado a similaridade da UTI adul-
to do hospital pesquisado com o local enfermaria descrito na norma,
cujos valores deverão estar entre 40 e 45 dBA. Todos os valores en-
contrados nesta pesquisa foram superiores aos níveis de conforto da
citada norma, o que reforça a existência de um ambiente desconfor-
tável, no tocante ao ruído ambiental, para os trabalhadores do setor.
Estudos demonstraram índices elevados de ruídos em UTI com
médias mínimas variando entre 50,40 e 51,16 dBA e máximas entre
57,59 e 60,96 dBA (CHRISTOFEL, 2016). Entretanto, Taube e Barja
- 99 -
Anne Marrana dos Santos Ramos Pontes, Jandira Valerio Gomes Maia, Regiane Cristina do Amaral,
André Luis Dantas Ramos, Tereza Raquel Ribeiro de Sena

(2016), apontam medições com médias entre 72 dBA e 79 dBA, e picos


que chegaram a superar 85dBA. No presente estudo foram encontra-
dos valores similares de médias mínimas de 60,62 dBA e máximas
de 70,25 dBA. Valores aproximados foram identificados em hospitais
na Áustria (60 a 65 dBA), Espanha (55 dBA), Itália (56,9 a 61,2 dBA) e
na Grécia (60,3 a 67,4 dBA), evidenciando que a poluição sonora não
é apenas um problema local, mas envolve diversos países e culturas
(SAMPAIO, 2010).
Miasso e colaboradores (2006) relatam que, através de estudos
realizados ao longo dos últimos anos, a presença de erros no preparo
e dispensação, administração de medicamentos e monitoramento
do paciente em relação aos efeitos do medicamento, pode estar re-
lacionada a alguns fatores individuais e falhas sistêmicas, dentre as
quais estão os problemas no ambiente como o nível de barulho. No
presente estudo foram encontrados valores de ruído que indicam
um ambiente desconfortável, ou seja, com índices superiores tidos
pela NBR 10152 (ABNT, 2017) como inaceitáveis.
Em todas as dosimetrias de ruído foram obtidos valores inferio-
res a 50% na quantificação da dose. Portanto, não foi excedido o li-
mite do nível de ação conforme indicado na NR 9 (BRASIL, 1994). Em
todas as dosimetrias de ruído foram verificados valores inferiores a
85 dBA em LAeq, mas superiores ao LAsmax, o que não caracteriza o
ambiente como insalubre para o agente físico ruído.
Os resultados encontrados neste estudo indicam que o limite
de tolerância de exposição diária para o ruído contínuo ou inter-
mitente para ambientes insalubres, NR 15 (BRASIL, 1978), não foi
ultrapassado, porém, é importante destacar que os trabalhadores
foram expostos a picos de ruído elevados (entre 93,3 e 101,0 dBA).
Desta forma, tais exposições podem estar associadas a problemas
de saúde, como elevação no nível geral de vigilância, aceleração da
frequência cardíaca e respiratória, alteração da pressão arterial e
da função intestinal, dilatação das pupilas, aumento do tônus mus-
- 100 -
Ruído e qualidade de vida em trabalhadores de UTI

cular, aumento da produção de hormônios tireoidianos e estresse


(DIAS et. al., 2006).
Os ruídos existentes nos ambientes hospitalares podem sofrer a
influência de equipamentos tais como o monitor cardíaco, que pode
chegar a intensidade de 81,38 dBA, alarmes de infusores com 73,60
dBA e respiradores com 97.56 dBA (OLIVEIRA, 2015). Em nossa pes-
quisa foram detectadas fontes de ruídos adicionais na UTI adulto do
hospital pesquisado que podem piorar o ruído no local tais como:
reprodução de música através do aparelho celular (alguns trabalha-
dores utilizam fones de ouvidos), abertura de portas, atendimento
de telefone, movimento de pacientes para exames, conversas entre
profissionais da equipe, entre profissionais e pacientes, e entre pro-
fissionais e visitantes.
No grupo estudado, constatamos a presença significativa de algu-
mas alterações de ordem orgânica, como intolerância a sons inten-
sos (13), dificuldade em conversar em ambiente ruidoso (11), dor de
cabeça (07), zumbido (06), irritabilidade (05), as quais podem estar
sendo provocadas ou acentuadas pela ação nociva do excesso de ru-
ído (BRASIL, 1994). Ressaltamos que grande parte dos trabalhado-
res entrevistados citou exposição ao ruído e desconforto para sons
intensos, o que mostra a urgência de medidas preventivas e de eli-
minação desse agente de risco, assim como uma proteção eficaz ao
trabalhador, visando seu bem-estar físico.
A organização do trabalho pode impactar negativamente a saúde
dos trabalhadores (SILVA, 2017). Nesse contexto, o domínio profissio-
nal, que foi o de menor índice (39,81), utilizou perguntas sobre a varie-
dade de tarefas, participação nas decisões e espírito de camaradagem
entre colegas, entre outras; ou seja, a cooperação também tem um pa-
pel importante na organização do trabalho (BRASIL, 2002).
Alguns autores relacionaram QVT com a eficácia organizacional
e a participação dos trabalhadores nas decisões e nos problemas
das empresas (CHEREMETA, 2011), de forma similar. Nosso estudo
- 101 -
Anne Marrana dos Santos Ramos Pontes, Jandira Valerio Gomes Maia, Regiane Cristina do Amaral,
André Luis Dantas Ramos, Tereza Raquel Ribeiro de Sena

identificou o domínio de QVT profissional como insatisfatório (FO-


LADOR, 2018). No qual, segundo Cheremeta et al. (2011), no domínio
profissional, os colaboradores são muito dependentes das condições
de trabalho, dos benefícios oferecidos pela empresa e das atitudes de
responsabilidade social, portanto, não dependem apenas de si mes-
mos para aumentar a QVT nesse aspecto.
Neste estudo, a QVT esteve associada à intensidade de desconfor-
to (p=0.07), irritabilidade (p=0.025) e cefaleia (p<0.001), queixas co-
muns em indivíduos com perda auditiva induzida por ruído, PAIR,
(BRASIL, 2006), que, quando combinadas, aumentam o risco de aci-
dentes de trabalho e podem causar múltiplos efeitos negativos à saú-
de do trabalhador e seu bem-estar (LOPES, GONÇALVES, ANDRADE,
2019; ILKUZA, 2014; BRASIL, 2006). Silva et. al (2017) também apon-
tam a cefaleia entre as doenças ocupacionais mais referidas por in-
tegrantes da equipe de enfermagem.

Considerações finais

Este estudo pôde concluir que o ambiente da UTI adulto do ho-


pital público pesquisado é desconfortável para os trabalhadores
que exercem atividades que necessitem atenção e solicitação inte-
lectual constantes, visto que todos os valores encontrados foram
superiores aos níveis de conforto da NBR 10152 e da NR 17 (ABNT,
2017; BRASIL, 1990).
Mesmo se tratando de um ambiente desconfortável, a UTI adulto
em questão não se caracteriza como local insalubre para o agente
físico ruído, pois de acordo com a NR 15 (BRASIL, 1978) o nível de
exposição diária de ruído não foi ultrapassado.
No tocante à QVT, o domínio Profissional apresentou menor ín-
dice (39,81) dentre os demais, o que indica que a organização do tra-
balho pode impactar negativamente os trabalhadores. Além disso,
a QVT foi associada aos aspectos auditivos de desconforto (p=0.07),
- 102 -
Ruído e qualidade de vida em trabalhadores de UTI

irritabilidade (p=0.025) e cefaleia (p<0.001), queixas comuns em in-


divíduos acometidos por perda auditiva por exposição ao ruído.
Os efeitos sobre a QVT e sobre a saúde auditiva dos trabalhadores
expostos a ambientes de trabalho ruidosos desconfortáveis nos leva
a crer na importância de pesquisas nesta área, a fim de favorecer
melhores condições de trabalho e de qualidade de vida aos traba-
lhadores das UTIs. Ressalta-se que a atenção e a solicitação intelec-
tual constantes fazem parte do dia a dia do trabalho na UTI adulto.
Nesse contexto, um ambiente acusticamente desconfortável poderá
prejudicar uma tomada de decisão, principalmente se associada ao
cansaço e tensões em trabalhadores em tempos de pandemia.

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Ruído e qualidade de vida em trabalhadores de UTI

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PREVALÊNCIA DE SINTOMAS OSTEOMUSCULARES
ENTRE MANIPULADORES DE ALIMENTOS DE UM
SERVIÇO DE NUTRIÇÃO HOSPITALAR EM MACEIÓ

Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira, Ruth Santos de Andrade,


Josicleide Gomes Davi dos Santos, Geraldo Magella Teixeira

Introdução

As inovações tecnológicas trouxeram mudanças na esfera produ-


tiva, por conseguinte, o processo de trabalho e a exigência de uma
maior produtividade, por parte dos trabalhadores, cresceu, o que
acarretou na automatização do trabalho; fato que impulsiona a ex-
ploração da mão de obra e a degradação da saúde do trabalhador.
Desta forma, o trabalho que genericamente deveria trazer benefícios
para saúde do indivíduo, passa a gerar sobrecarga física, psicossocial
e aumento de lesões e acidentes no ambiente laboral (LARA, 2011).
Devido a essas mudanças, cresce o número de profissionais com
LER/ DORTs (Lesões por esforços repetitivos/ Distúrbios osteomus-
culares relacionados ao trabalho), que são eventos relacionados ao
trabalho e advêm da sobrecarga de estruturas osteomusculares do
corpo e por não haver um tempo de recuperação para as mesmas.
Essa sobrecarga ocorre dentre outros fatores, pela utilização de-
masiada de determinado grupo muscular exigido em movimentos
repetitivos sem tempo de descanso ou pela continuidade de uma
- 106 -
Prevalência de Sintomas Osteomusculares entre Manipuladores de Alimentos de um Serviço de
Nutrição Hospitalar em Maceió

mesma postura por tempo prolongado (ISOSAKI et al., 2011b; ISO-


SAKI et al., 2011a).
O crescimento das LER/DORTs pode ser explicado pelo fato de
que as empresas, no geral, sejam elas do setor industrial ou de servi-
ços, negligenciam a saúde dos trabalhadores à medida que não dão
a devida importância aos limites físicos, emocionais, psicológicos
ou sociais dos mesmos, sendo, portanto, muito comum a ênfase na
produtividade e no lucro da empresa às custas da sobrecarga de seus
empregados (ISOSAKI et al., 2011a; SOUZA e OLIVEIRA, 2015).
Essas enfermidades compreendem as doenças musculoesque-
léticas que atingem músculos, nervos, tendões, articulações, car-
tilagens, discos intervertebrais, são de cunho inflamatório e dege-
nerativo e, muitas vezes, levam a quadros de dor e limitação. Nos
Estados Unidos esses agravos constituem quase 53% dos benefícios
do seguro de compensação dos trabalhadores, representando ainda,
em grande parte do mundo, a maior causa de recebimentos de com-
pensações por dias sem trabalhar em consequência desses agravos
(SOUZA e SANTANA, 2011).
A depender do tipo de trabalho e do ambiente em que se realiza
a atividade laboral, o indivíduo estará sujeito aos diferentes tipos e
intensidades de riscos ocupacionais; fatores tecnológicos, econômi-
cos e sociais são decisivos para exposição dos riscos e, portanto, do
adoecimento dos trabalhadores (MEDINA e MAIA, 2016; NEVES e
NUNES, 2009; SOUZA e SANTANA, 2011).
O trabalho em instituições que fazem parte da área da saúde,
principalmente em ambiente hospitalar, é considerado um dos
maiores geradores de alterações do sistema musculoesquelético de-
vido desgastes mecânico, físico e psicológico, pois o corpo do tra-
balhador é exposto de forma diária, contínua e prolongada a um
ambiente que demanda alta responsabilidade; neste espaço laboral
os funcionários exercem suas atividades, muitas vezes, sob ritmo
acelerado, com precisão dos movimentos, associado a uma rotina de
- 107 -
Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira, Ruth Santos de Andrade,
Josicleide Gomes Davi dos Santos, Geraldo Magella Teixeira

trabalho extenuante; fatores que, junto aos aspectos psicossociais,


favorecem o surgimento de doenças ocupacionais (LOURENÇÃO et
al., 2017; MAGNAGO et al., 2007).
O setor de Nutrição e Dietética é um dos serviços essenciais na
ambiência hospitalar e constitui-se de nutricionistas, técnicos admi-
nistrativos, lactaristas, técnicos em nutrição e os manipuladores de
alimentos. Este Setor tem por finalidade oferecer assistência nutri-
cional à comunidade hospitalar, seja ela sadia ou com alguma enfer-
midade, através do fornecimento das refeições, educação alimentar
e orientação da dieta adequada para cada indivíduo. As denomina-
ções dos cargos, das jornadas e os locais de trabalho podem ser dife-
rentes, dependendo da instituição de trabalho (BARBOSA et al., 2012;
BERTIN et al., 2009; ISOSAKI et al., 2011b).
Os manipuladores de alimentos exercerem suas atividades de for-
ma a garantir um preparo de alimentos de maneira saudável e segu-
ro; trata-se de uma atividade repleta de exigências, algo que requer
bastante responsabilidade. Somado a isso, fatores como a degrada-
ção do ambiente físico, exposição a vibrações, calor, pressão mecâni-
ca localizada, manutenção de posturas inadequadas, repetitividade
e duração prolongada de alguma atividade podem contribuir para o
desenvolvimento de doenças ocupacionais com consequentes pre-
juízos na produtividade, estas por sua vez, podem ser potencializadas
quando somados a fatores psicossociais (BERTIN et al., 2009; CASA-
ROTTO e MENDES, 2003; MATOS e PROENÇA, 2003; ISOSAKI et al.,
2011a; ISOSAKI et al., 2011b).
Embora as pesquisas sobre sintomas osteomusculares tenham se
desenvolvido, ainda há poucos estudos específicos sobre a prevalên-
cia de sintomas osteomusculares e os fatores associados a estes em
Serviços de Nutrição e Dietética, principalmente se restringirmos
aos manipuladores de alimentos em ambiente hospitalar; esses pro-
fissionais, apesar de tamanha importância de sua função, ainda é
uma população negligenciada quanto aos cuidados com a saúde por
- 108 -
Prevalência de Sintomas Osteomusculares entre Manipuladores de Alimentos de um Serviço de
Nutrição Hospitalar em Maceió

parte dos empregadores e da ciência (BERTIN et al., 2009; ISOSAKI


et al., 2011b).
Nesta perspectiva, este trabalho objetivou identificar a prevalên-
cia de sintomas osteomusculares relacionados aos manipuladores de
alimentos de um hospital público do município de Maceió - AL. O co-
nhecimento destes dados torna possível a elaboração de programas
de prevenção e/ou tratamento para minimizar as repercussões da
presença de sintomas osteomusculares na vida dos manipuladores
de alimentos, visando melhorar a qualidade de vida dos mesmos.

Métodos

Trata-se de um estudo descritivo, de caráter transversal, produto


de um projeto guarda-chuva que discute Educação em Saúde na me-
lhora da qualidade de vida no trabalho e queixas álgicas ocupacio-
nais em manipuladores de alimentos em ambiente hospitalar.
Antecedendo a coleta de dados, o presente artigo, como forma de
seguir os preceitos éticos de pesquisas envolvendo seres humanos, foi
submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universi-
dade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), obtendo
aprovação em 26/04/2018 sob o protocolo nº 86631418.3.0000.5011.
O estudo foi realizado em um hospital público do município de
Maceió – Al. O referido hospital foi escolhido como cenário para essa
pesquisa por ser considerado um hospital escola referência no trata-
mento de doenças infectocontagiosas em todo o estado de Alagoas,
por ser um hospital que atende a população através do Sistema Único
de Saúde (SUS) e ter como funcionários os sujeitos dessa pesquisa.
A amostra foi composta por profissionais do setor de Nutrição e
Dietética, mais especificamente, os manipuladores de alimentos que
foram selecionados segundo critérios de inclusão (indivíduos de am-
bos os gêneros, efetivos no setor de nutrição do referido hospital há
pelo menos um ano; aceitar participar da pesquisa; assinar o Termo
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Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira, Ruth Santos de Andrade,
Josicleide Gomes Davi dos Santos, Geraldo Magella Teixeira

de consentimento livre e esclarecido (TCLE)) e exclusão (ter diagnós-


tico de doença neurológica que possa interferir na percepção de dor
do indivíduo).
A escolha da amostra foi realizada devido os sujeitos possuírem
os atributos necessários para o bom andamento da pesquisa. Foi re-
alizado contato pessoal com os profissionais em questão, informan-
do-os acerca dos objetivos, justificativa e pontos positivos da pesqui-
sa e convidando-os a participar da mesma.
O tamanho da população foi definido em quarenta e seis (46) pro-
fissionais, que representam o total da população de manipuladores
de alimentos. Sendo cinco (05) auxiliares de cozinha, três (03) bu-
rocratas, quinze (15) copeiros de ala, doze (12) cozinheiros, sete (07)
copeiros de refeitório e quatro (04) almoxarifes de alimentos; o que
representa 100% da população em questão. O tamanho da amostra
foi determinado por conveniência baseado no número de profissio-
nais que atuam no setor de nutrição do referido hospital.
Dentre os 46 profissionais que representavam o total de manipu-
ladores de alimentos, seis (06) não puderam participar da pesquisa
por motivos de: três (03) estava de férias, um (1) em licença materni-
dade e dois (2) em benefício pelo Instituto Nacional do Seguro So-
cial (INSS), restando 40 profissionais. Entretanto, quatro (04) desses,
após realizado contato pessoal informando acerca da pesquisa, não
demonstraram interesse; portanto, restaram 36 manipuladores de
alimentos, sujeitos desse estudo, conforme fluxograma (figura1).

Figura 1: Fluxograma para ajuste da amostra

Fonte: Pesquisa de campo (2018).


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Prevalência de Sintomas Osteomusculares entre Manipuladores de Alimentos de um Serviço de
Nutrição Hospitalar em Maceió

Inicialmente os manipuladores de alimentos consentiram parti-


cipar da pesquisa estando cientes dos procedimentos de realização
e objetivos da mesma. A coleta de dados foi obtida após assinado o
Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
O instrumento de coleta de dados foi realizado através da apli-
cação do questionário sociodemográfico, que refere-se aos dados
de identificação do trabalhador, desenvolvido para compreender
as questões de caráter mais pessoal e obtenção de dados demográ-
ficos sobre os participantes (sexo, idade, estado civil, nível de esco-
laridade, peso e altura), doenças auto referidas (hipotireoidismo,
artrite, diabetes, fibromialgia, hérnia de disco, gota, tendinite do
supra espinhoso e fraturas), informações referentes a hábitos de
vida (tabagismo, realização de atividade física, realização de ati-
vidades domésticas, realização de trabalhos manuais, se toca ins-
trumentos musicais, se passa tempo em frente ao computador e
realização de atividades que exigem o uso excessivo dos membros
superiores) e informações referentes a caracterização do sistema
ocupacional (turno de serviço, carga horária, tempo de profissão e
realização de outra atividade ocupacional). O questionário é com-
posto por 15 (quinze) perguntas elaboradas pelo pesquisador, de
resposta individual, rápida e simples, de forma a garantir melhor
compreensão das mesmas.
Para identificar os sintomas osteomusculares foi utilizado o
Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO), deri-
vado de Standardized Nordic Questionnaire. O questionário em ques-
tão foi validado no Brasil e adaptado culturalmente à língua portu-
guesa, foi reproduzido em diversos idiomas na última década, dando
origem a inúmeros estudos, os quais, alcançaram resultados satisfa-
tórios, por ser um instrumento simples e fácil de ser aplicado, moti-
vos pelos quais foi escolhido para ser instrumento metodológico des-
sa pesquisa. Através do QNSO é identificado a presença de sintomas
osteomusculares, sendo, portanto, um importante aporte para averi-
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Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira, Ruth Santos de Andrade,
Josicleide Gomes Davi dos Santos, Geraldo Magella Teixeira

guação do ambiente de trabalho, no entanto, não deve ser utilizado


como base para diagnóstico clínico. (PINHEIRO et al., 2002).
Há alguns modelos de QNSO, o geral, que engloba todas as áreas
anatômicas do corpo, e os específicos para as regiões de pescoço, om-
bros e coluna lombar. O modelo utilizado neste estudo consiste no
geral do QNSO. O indivíduo responde baseado nos últimos doze (12)
meses e os sete (07) dias que antecedem a entrevista, bem como, no-
ticia se houve afastamento das atividades rotineiras no último ano.
Por se tratar de um instrumento simples e com bons resultados, o
QNSO é bastante recomendado em investigações epidemiológicas e
estudos que visam mensurar a incidência dos sintomas osteomuscu-
lares (PINHEIRO et al., 2002).
Os questionários foram aplicados em uma sala reservada do se-
tor de Nutrição e Dietética do referido hospital, sem ruído, no me-
lhor horário para a logística dos trabalhadores de modo que não
prejudicasse o andamento e produtividade dos mesmos. Todos os
encontros foram previamente combinados com a coordenação de
nutrição do setor. Além disso, é importante ressaltar, que o pesqui-
sador principal da pesquisa esteve sempre ao lado dos sujeitos para
elucidar quaisquer dúvidas, mas sem interferir nas respostas.
Após a coleta, os dados foram tratados através da estatística des-
critiva e apresentados na forma de percentual, média, desvio padrão,
tabelas e gráficos; tudo através do programa Microsoft Excel 2010.

Resultados

Entre os manipuladores de alimentos, sujeitos da pesquisa,


91,67% são do sexo feminino e 8,33% do sexo masculino. Do total de
mulheres, manipuladores de alimentos, 96,97% referiram presença
de sintoma osteomuscular (SOM).
Quanto ao estado civil, verificou-se que a maioria dos participan-
tes eram casados (58,33%), seguido de separados (22,21%), solteiros
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Prevalência de Sintomas Osteomusculares entre Manipuladores de Alimentos de um Serviço de
Nutrição Hospitalar em Maceió

(16,66%) e viúvos (2,77%); sobre o grau de escolaridade, a maioria re-


latou ter ensino médio completo (66,66%); a média de idade encon-
trada entre os participantes foi de 47,33 anos (DP = 8,947), com ida-
de mínima de 30 anos e máxima de 65 anos; dos que apresentaram
SOM foi de 47,77 anos (DP= 8,685). Estes dados podem ser vistos na
tabela 1 logo abaixo.

Tabela 1- Caracterização dos Manipuladores de Alimentos participantes da pesquisa. Junho 2018.


Variável Caracterização da população
Média de idade 47,33
Gênero Feminino 91,67%
Gê Gênero Masculino 8,33%
Escolaridade (Nível Superior Completo) 0,0%
Escolaridade (Nível Superior Incompleto) 2,77%
Escolaridade (Nível Médio Completo) 66,66%
Escolaridade (Nível Médio Incompleto) 11,11%
Escolaridade Fundamental completo 11,11%
Escolaridade (Fundamental incompleto) 8,33%
Estado Civil (Casado) 58,33%
Estado Civil (solteiro) 16,66%
Estado Civil (separado) 22,21%
Estado Civil (viúvo) 2.77%.
Fonte: Pesquisa de campo (2018).

O tempo médio de serviço dos manipuladores de alimentos na


profissão foi de 10,083 anos (DP=9,566); a carga horária de trabalho
diária apresentou média de 12 horas (DP=0) e em relação a outra
atividade profissional a maioria (83,33%) não exercia outra atividade
remunerada, além da referida.
A prevalência de sintomatologia osteomuscular no último ano,
quando investigada, independente da região corporal afetada, foi de
97,22% conforme demonstrado no gráfico 1.
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Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira, Ruth Santos de Andrade,
Josicleide Gomes Davi dos Santos, Geraldo Magella Teixeira

Gráfico 1: Prevalência de sintomas osteomusculares independentemente do local

Fonte: Pesquisa de campo (2018).

As regiões corporais em que se registraram mais queixas foram


punhos/mãos com 77,78%, seguida de parte superior e inferior das
costas, ambas com 75% e tornozelo/pé com 72,22%. Dos participan-
tes da pesquisa, na última pergunta do questionário Nórdico, 72,22 %
responderam que apresentaram sintomas nos últimos 7 dias; dentre
as regiões em que foi apresentado maior número de queixas na últi-
ma semana, pode-se destacar a parte inferior das costas com 55,56%,
seguidas de punhos/mãos e tornozelo/pé, ambos com 47,22%. Todos
os dados referentes ao QNSO encontram-se na Tabela 2.

Tabela 2 – Distribuição de sintomas osteomusculares, incapacidade funcional, procura por profissional da área de
saúde entre os manipuladores de alimentos. Junho de 2018.
Região Anatômica Sintomas nos Impedimento Assistência Sintomas nos
últimos 12 nos últimos 12 Médica nos últimos últimos 07
meses % meses % 12 meses % dias %
Pescoço 44,40 2,78 13,89 22,22
Ombros 55,50 16,67 27,78 30,56
Parte Superior das costas 75,00 8,33 30,56 36,11
Cotovelos 22,22 5,56 16,67 11,11
Punhos/Mãos 77,78 11,11 36,11 47,22
Parte Inferior das Costas 75,00 19,44 44,44 55,56
Quadril/Coxas 52,78 13,89 25,00 25,00
Joelhos 61,11 8,33 30,56 36,11
Tornozelo/Pé 72,22 13,89 36,11 47,22
Fonte: Pesquisa de campo (2018).
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Prevalência de Sintomas Osteomusculares entre Manipuladores de Alimentos de um Serviço de
Nutrição Hospitalar em Maceió

Apesar de 97,22% dos manipuladores de alimentos queixarem-se


de dor, apenas 25% dos investigados responderam que a presença
da sintomatologia osteomuscular nos últimos 12 meses impediu a
realização de atividades da vida diária e desse percentual, mais da
metade (61,11%), relatou ter procurado consulta a algum profissional
da saúde devido ao referido problema.
Em relação aos hábitos de vida, estes revelaram que a maioria
dos indivíduos com presença de sintoma osteomusculares (SOM)
não são fumantes (91,43%) e não realizam atividade física regular
(85,71%); porém 100% da população do estudo, incluindo indivíduos
com e sem SOM, realizam trabalhos manuais e atividades que exi-
gem o uso excessivo dos membros superiores (MMSS), inclusive, a
maioria dos manipuladores de alimentos que apresentam SOM rea-
lizam atividades domésticas (91,43%).

Discussão

O percentual de dados relacionados ao sexo dos participantes


do estudo mostra-se semelhante aos resultados encontrados em
um estudo realizado por Isosaki et al. (2011a), Fernandes et al. (2014),
Sousa et al. (2019) e Garcia e Centenaro (2016). A predominância de
mulheres como manipuladores de alimentos mostra-se em diversos
estudos que tiveram como amostra este público, e esse dado pode-se
elucidar, pois apesar da inserção das mulheres em outras ativida-
des profissionais, as mesmas são mais facilmente contratadas em
empregos semelhantes às atividades domésticas, como por exemplo,
manipuladores de alimentos e isso pode ser explicado pelo proces-
so histórico da entrada das mulheres no mercado de trabalho, onde
grande parte delas ingressaram no campo de alimentos, na cozinha,
sendo as atividades nesse campo de atuação rotuladas como con-
tinuidade do trabalho doméstico e reflete no fato da ocupação ser
menos valorizada (SOUSA et al., 2019; ABADIA et al., 2017).
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Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira, Ruth Santos de Andrade,
Josicleide Gomes Davi dos Santos, Geraldo Magella Teixeira

Além do predomínio de mulheres como manipuladores de ali-


mentos, houve também grande prevalência de mulheres com sin-
tomas osteomusculares (96,97%) e isso pode ser explicado pelo fato
de todas as mulheres que apresentaram SOM na amostra, também
realizarem atividades domésticas; situação semelhante foi descrita
também em um estudo que objetivou conhecer a prevalência de sin-
tomas de distúrbios osteomusculares em bancários, o mesmo trouxe
que o crescimento das queixas osteomusculares em mulheres está
relacionado à dupla jornada de trabalho das mesmas, na empresa,
submetendo-se ao trabalho repetitivo e manutenção de posturas
inadequadas e, em casa, com trabalhos domésticos realizados ma-
nualmente (BRANDÃO et al., 2005).
Quanto ao estado civil e média de idade dos participantes do es-
tudo, os dados encontrados mostram-se semelhantes aos resultados
descritos num estudo realizado por Isosaki et al. (2011a).
A média de idade dos participantes da pesquisa que apresenta-
ram sintomas osteomusculares pode ter relação com o processo
de envelhecimento, pois com a chegada do mesmo, há degradação
progressiva de funções do corpo humano, como a função cardiovas-
cular, osteomuscular, sensitiva, além de funções neurológicas. Esse
processo inicia - se por volta dos trinta a quarenta anos e acelera-se
com o passar dos anos. Como dito, com o envelhecimento, a força
muscular começa a diminuir, juntamente com a flexibilidade e al-
cances, principalmente dos membros superiores, região do corpo
que apresentou no presente estudo alta prevalência de SOM (IIDA e
WIERZZBICKI, 2005).
Sobre o grau de escolaridade, a maioria dos indivíduos relataram
ter ensino médio completo (66,66%), o que vai de encontro a maio-
ria dos estudos com esse público que, apontam em seus resultados,
um menor nível de escolaridade dos manipuladores de alimentos
(CUNHA NETO e ROSA, 2014; PRAXEDES, 2003; SOUZA et al., 2004;
GONZALEZ et al., 2009; MELLO et al., 2010; CASTRO et al., 2011).
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Prevalência de Sintomas Osteomusculares entre Manipuladores de Alimentos de um Serviço de
Nutrição Hospitalar em Maceió

A maior predominância de nível médio de escolaridade também


foi encontrada nos estudos de Abadia et al. (2017), Devides (2010),
Soares (2011), Isosaki et al. (2011b) e Fernandes et al. (2014), compro-
vando que a escolaridade desta categoria tem mudado, o que talvez,
justifique-se pelo fato dos certames exigirem pessoas mais instruí-
das para preencher a função.
Especificamente quando levado em consideração os últimos doze
meses, a prevalência de 97,22 % de SOM nos indivíduos investigados
no presente estudo, aponta para um elevado comprometimento na
classe dos manipuladores de alimentos, o que também foi demons-
trado nos resultados de um estudo realizado em um serviço de nu-
trição hospitalar, utilizando o QNSO para avaliar os SOM antes da
intervenção nas situações de trabalho (ISOSAKI et al., 2011b) e no
estudo de Chyuan et al. (2004) em um restaurante hoteleiro.
Apesar de 97,22% dos manipuladores de alimentos queixarem-se
de dor, apenas 25% responderam que a presença da sintomatologia
osteomuscular impediu a realização de atividades da vida diária e
profissional, o que pode ser explicado devido à impossibilidade de
pararem de trabalhar por ser a principal fonte de renda em casa,
tendo filhos e parentes sob suas responsabilidades. O estudo de Ber-
tin et al. (2009), fortalece essa situação quando descreve em seus
resultados que as participantes do estudo praticamente não aban-
donam o emprego, pois todas as manipuladoras trabalhavam por
necessidade de sobrevivência.
Acredita-se que tais queixas possam estar ligadas às condições de
trabalho observadas e relatadas pelos manipuladores de alimentos,
como: alta temperatura, ruído excessivo, chão escorregadio, instru-
mentos pesados, pias e cadeiras com desenho antiergonômico e me-
didas inadequadas que levavam à adoção de posturas erradas, além
de atividades caracterizadas por movimentos repetitivos, levanta-
mento de peso excessivo e permanência na postura em pé por lon-
gos períodos de tempo. O estudo de Casarotto e Mendes (2003) sobre
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Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira, Ruth Santos de Andrade,
Josicleide Gomes Davi dos Santos, Geraldo Magella Teixeira

queixas, doenças ocupacionais e acidentes de trabalho em trabalha-


dores de cozinhas industriais, fortalece essa situação, quando afirma
que problemas no ambiente laboral podem contribuir para acidentes
de trabalho, aparecimento de LER/DORT e dores na coluna.
Entre as repercussões de saúde dos profissionais, verificou-se alta
prevalência de SOM, sobretudo nos membros superiores, especifica-
mente região de punhos/mãos; parte superior e inferior das costas;
seguido de tornozelos/pés. Dados semelhantes a estes foram encon-
trados nos estudos de Pontes et al. (2014), Isosaki et al. (2011b) e Ca-
sarotto e Mendes (2003) com prevalência de sintomas dolorosos na
coluna, sobretudo na região lombar, nos membros superiores e nos
membros inferiores.
A alta prevalência de SOM nos membros superiores, região de
punhos/mãos, pode ser explicada pela sobrecarga no sistema oste-
omuscular, devido à manipulação de equipamentos e utensílios de
cozinha (espátula e facas para preparo de alimentos que exige que
o manipulador permaneça estático, com o pescoço flexionado du-
rante longo período de tempo), o manejo de instrumentos pesados,
uso de equipamentos que provocam vibrações e à higienização de
louças, atividades que levam ao uso de força, elevação dos membros
superiores acima de 90°, desvio ulnar/radial e flexo/extensão de
punho; todas de forma repetitiva, com esforço e sobrecarga, fatores
que podem provocar o surgimento de desordens musculoesqueléti-
cas. Condições semelhantes foram descritas no estudo de Casarotto
e Mendes (2003) ao analisarem as queixas, doenças e acidentes de
trabalho em trabalhadores de cozinhas industriais.
Quanto à alta prevalência de sintomas osteomusculares nos tor-
nozelos/pés relatada pela população do estudo, pode ser atribuída
ao fato dos trabalhadores permanecerem na postura em pé por um
prolongado período de tempo, associada ao transporte de objetos
e, deslocamentos contínuos em jornadas de trabalho que chegam a
12 horas diárias, sem a realização das pausas recomendadas. Além
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Prevalência de Sintomas Osteomusculares entre Manipuladores de Alimentos de um Serviço de
Nutrição Hospitalar em Maceió

disso, posturas inadequadas, condições ambientais não favoráveis


e, o trabalho em ritmo acelerado e repetitivo, são fatores que con-
tribuem para o desencadeamento de desordens circulatórias nos
MMII, condições que são características das atividades dos manipu-
ladores de alimentos (BERTOLDI e PROENÇA, 2008; CASAROTTO e
MENDES, 2003).
Em relação aos sintomas osteomusculares na região da coluna
(lombar) referidos pelos manipuladores de alimentos durante aplica-
ção do QNSO, a presença pode ser explicada pelo fato de realizarem
diversas atividades, dentre elas, a pesagem dos alimentos em balança,
lavagem das louças em pias inapropriadas ergonomicamente; ativi-
dades que acabam por forçar a inclinação de tronco e força excessiva
no manuseio das panelas, no transporte e no levantamento de cargas;
todas realizadas com a manutenção da postura em flexão de tronco,
associada ao levantamento de peso, pois este, é transferido para colu-
na vertebral que, apesar de suportar grandes cargas no sentido verti-
cal, é suscetível a lesões quando aplicam-se forças divergentes à dire-
ção de seu eixo. Tudo isso, gera sobrecarga ao sistema osteomuscular,
especificamente na região inferior das costas (ISOSAKI et al., 2011b;
CASAROTTO e MENDES, 2003; LIDA, 2005).
Os altos valores de prevalência apontados anteriormente podem
ser considerados como consequência do atual modelo do mercado
de trabalho, que faz com que os trabalhadores exerçam suas ativi-
dades através de intensos e inadequados movimentos repetitivos
dos diversos segmentos corporais, esforço com sobrecarga, inclusi-
ve estática, além de fatores psicológicos como estresse e ansiedade,
provocando muitos problemas musculoesqueléticos (LARA, 2011;
BARBOSA et al., 2012).
Nesse contexto, a atividade dos manipuladores de alimentos
pode, em longo prazo, gerar várias desordens musculoesqueléticas,
diversas vezes relacionadas a quadros álgicos intensos, podendo
acarretar na incapacidade dos indivíduos de realizarem atividades
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Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira, Ruth Santos de Andrade,
Josicleide Gomes Davi dos Santos, Geraldo Magella Teixeira

de vida diária (AVD’s) e atividades de vida profissional (AVP’s), assim


como 25% da população desse estudo, que em um dos itens do QNSO
responderam que nos últimos 12 meses em algum momento foram
impedidos de realizar atividades cotidianas devido a algum sintoma
osteomuscular, o que gera afastamentos da atividade profissional
(ISOSAKI et al., 2011b; BRANDÃO et al., 2005).

Conclusão

De maneira geral foi observado que os manipuladores de alimen-


tos do presente estudo apresentaram alta prevalência de sintoma-
tologia osteomuscular. Tais resultados sugerem que a presença dos
SOM pode interferir na qualidade de vida dos profissionais com pre-
juízos na esfera laboral e pessoal do indivíduo.
Nesta perspectiva, faz-se imprescindível a implantação de medi-
das educativas e investimentos como forma de incitar nos trabalha-
dores a compreensão da realidade e a importância de seu papel na
melhora das condições de saúde e, gerar com isso, mecanismos fun-
damentais para melhora e prevenção dos distúrbios ocupacionais.
Tendo em vista a escassez de estudos voltados para esta catego-
ria, é extremamente importante a realização de mais pesquisas vol-
tadas para este público e valorização desses profissionais.

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YOGA NA SAÚDE DO TRABALHADOR: VÍDEO
COMO RECURSO EDUCACIONAL ABERTO

Maria do Amparo Marinho de Melo, Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira,


Izabela Souza da Silva, Maria Goretti Fernandes, Geraldo Magella Teixeira

Introdução
Em um mundo cada vez mais competitivo em que a carga laboral
é excessiva e exaustiva, a busca pela qualidade de vida no trabalho
tem se intensificado através da promoção de ações organizacionais
no intuito de melhorar a saúde e o bem-estar dos seus colaboradores
(OMS, 2010).
De acordo com Minayo (1997), saúde do trabalhador configura-
-se como um campo de práticas e de conhecimentos estratégicos
interdisciplinares - técnicos, sociais, políticos, humanos, multipro-
fissionais e interinstitucionais, voltados para analisar e intervir nas
relações de trabalho que provocam doenças e agravos. Seus marcos
referenciais são os da Saúde Coletiva, ou seja, a promoção, a preven-
ção e a vigilância.
Nesta perspectiva a saúde ocupacional configura uma importan-
te estratégia, não somente para garantir a saúde dos trabalhadores,
mas também para contribuir positivamente para a produtividade,
qualidade dos produtos, motivação e satisfação do trabalho e, por-
tanto, para a melhora geral da qualidade de vida dos indivíduos e da
sociedade como um todo (MINAYO, 1992).
- 126 -
Yoga na Saúde do Trabalhador

Um ambiente laboral insalubre pode contribuir para o adoeci-


mento de grande parte dos trabalhadores, como consequência da
exposição prolongada a uma série de riscos ocupacionais inerentes
ao processo de trabalho, sejam eles físicos, químicos, biológicos, me-
cânicos, ergonômicos e emocionais. Desta forma torna-se impres-
cindível que as instituições públicas e privadas implementem, entre
os funcionários, práticas de promoção a saúde tanto física quanto
mental, no intuito de minimizar estes agravos (ANTUNES; ALVES,
2004; GALON; MARZIALE; SOUZA, 2011; MERLO et al., 2003; RI-
BEIRO; SHIMIZU, 2007; SALDANHA et al., 2013; SILVA et al., 2014;
WORM et al., 2016).
Por se tratar de uma atividade que trabalha simultaneamente as-
pectos físicos, mental e espiritual o Yoga tem sido frequentemente
relacionado a melhora da qualidade de vida no trabalho e bem es-
tar dos indivíduos. Baseado nisso, como forma de trazer benefícios
ao trabalhador e prevenir acidentes e danos à saúde resultantes do
processo laboral, as técnicas de Yoga foram incluídas como uma das
atividades do Programa da Academia da Saúde no âmbito do SUS,
por meio da Portaria n. 719, de 7 de abril de 2011 (BARROS, et al.2014;
COSTA; GRECO; ALEXANDRE, 2018).
Portanto, no tocante à busca pela saúde e bem-estar, pode-se ci-
tar a utilização de técnicas de yoga como complementação de trata-
mentos médicos tradicionais. A Yogaterapia tem sido reconhecida
como uma importante aliada no tratamento das diversas doenças e
problemas corporais, como distúrbios coronários, respiratórios, psi-
cológicos, hormonais e os referentes ao funcionamento da estrutura
músculo-esquelética, sendo recomendada por um crescente número
de médicos ao redor do mundo (PONCE, 2006).
O yoga é uma filosofia antiga de origem indiana que envolve pos-
turas (asanas), meditação (dhyana), respiração (pranayama) e rela-
xamento (yoganidra); a prática regular propicia o desenvolvimento
de força, resistência muscular, flexibilidade e equilíbrio. Trata-se de
- 127 -
Maria do Amparo Marinho de Melo, Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira,
Izabela Souza da Silva, Maria Goretti Fernandes, Geraldo Magella Teixeira

uma técnica que vem sendo bastante estudada e tem demonstrado


diversos efeitos positivos no tratamento de doenças crônicas, como
hipertensão, asma, obesidade, doenças neuromusculares e psiquiá-
tricas (BAPTISTA; DANTAS, 2002; ALJASIR; BRYSON; AL-SHEHRI,
2010; KYEONGRA, 2007).
Mediante os benefícios proporcionados pela prática regular do
yoga é de grande importância ampliar a atuação da referida técnica
como uma prática educativa na promoção da saúde; mas para isso,
é necessário que abordagens de cuidado em educação e saúde sejam
realmente significativas para o sujeito, portanto, é preciso um pro-
cesso de educação que seja experimentado e compreendido na reali-
dade subjetiva e não somente por meio de um treinamento imposto
por condutas e normas (FOUCAULT, 2013).
Diante das considerações relatadas acima, o presente trabalho
tem o objetivo de apresentar o processo de construção de um Recur-
so Educacional Aberto em forma de vídeo orientando os profissio-
nais sobre os benefícios relacionados a prática do Yoga na saúde do
trabalhador.

Materias e métodos

Para elaboração do produto educacional em questão, intitulado:


Yoga na saúde do trabalhador, optou-se por um vídeo educativo, por
se tratar de um recurso eficaz no processo de ensino/aprendizagem
e estar baseado no resultado obtido pela integração da linguagem,
som e movimentos (GREGÓRIO, 2016).
De acordo com Moran (1995), o vídeo é uma combinação da co-
municação sensorial-sinestésica com a audiovisual, da intuição com
a lógica e da emoção com a razão. Ele inicia com o sensorial, emocio-
nal e intuitivo para, atingir posteriormente, o racional.
Vale destacar que foram utilizados os pressupostos do método
CTM3 no desenvolvimento do vídeo, desenvolvido por Santos et
- 128 -
Yoga na Saúde do Trabalhador

al.(2019a). Tal método consiste na construção de um produto educa-


cional, somado a um referencial teórico e metodológico que aborde
a Análise Transacional e os Estados de Ego propostos por Eric Bern
(Kertész, 1987), a Neurolinguística e a Multisensorialidade.
Diante disso, foi elaborado um vídeo no formato mp4, por meio
do programa Vídeo Scribe®, utilizando-se músicas e figuras livres
de direitos autorais.
Na tentativa de atingir o máximo de pessoas em sua totalida-
de, buscou-se trabalhar no desenvolvimento do vídeo, os três es-
tados de ego e os diferentes sentidos inerentes a personalidade do
ser humano.
O Estado de Ego Adulto, é trabalhado a partir das orientações
descritas no vídeo; o Estado de Ego Pai, à medida que incentiva as
pessoas a se cuidarem, a procurar nas técnicas do Yoga como uma
alternativa de melhorar a qualidade de vida no trabalho; o Estado
de Ego Criança, através das figuras em forma de desenho, além da
linguagem acessível para todas as idades e da âncora em formato de
boneca que aparece em todos os slides.
Quanto os diferentes sentidos, a audição foi estimulada por meio
da música e da voz da narradora; a visão através das imagens; o
olfato por meio das frutas; o sinestésico por meio da música e da
sensibilidade que o vídeo provoca no espectador pela busca do auto
cuidado.
Como âncora, foi posto no vídeo o desenho de uma bonequinha,
em postura de Yoga, em todos os slides.

Resultados

Para compor as informações contidas no produto educacional


buscou-se na literatura instrumentos textuais capazes de traduzir
as formas de apresentação dos conteúdos trabalhados na constru-
ção do conhecimento. Para isso, as seguintes palavras chaves foram
- 129 -
Maria do Amparo Marinho de Melo, Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira,
Izabela Souza da Silva, Maria Goretti Fernandes, Geraldo Magella Teixeira

previamente definidas no DECS: saúde do trabalhador, transtornos


traumáticos cumulativos, riscos ocupacionais e Ioga.
Para escolha das ilustrações foi levado em consideração o estímu-
lo aos três estados de ego (Adulto, Pai e criança) e os diferentes sen-
tidos inerentes a personalidade humana, como forma de atingir os
profissionais em sua totalidade. Para isso foram utilizadas imagens
livres de direitos autorais.
Após compilação de todo material desenvolveu-se um produto
educacional que resultou em um vídeo educativo. Para tanto, utili-
zou-se o programa videoscribe, com narração e músicas selecionadas
na bliblioteca de áudio do youtube, livre de direitos autorais.
Tanto as ilustrações quanto a disposição do texto no vídeo foram
elaboradas de forma que tornassem claras e objetivas as informa-
ções a serem repassadas. A escolha pelo vídeo se deu por englobar
diversos mecanismos, dentre eles o sensorial, visual e auditivo, pois
assim, tornou-se mais fácil de atingir as pessoas por meio de diver-
sos sentidos, somado ao fato de ser um meio acessível a qualquer
indivíduo com acesso a celular e internet.

Figura 1 – Abertura do Vídeo Yoga na Saúde do Trabalhador

Fonte: Próprios Autores (2021)

Vale ressaltar que este produto foi exposto ao público em geral


e a pareceristas AD HOC para avaliação na II Sessão de Produção
Técnica Educacional do Mestrado Profissional em Ensino em Saúde
- 130 -
Yoga na Saúde do Trabalhador

e Tecnolodia da UNCISAL, em Maceió/AL e obteve como resultado:


validado.

Discussão

Em vigor desde 2004, a Política Nacional da Saúde do Trabalhador


do Ministério da Saúde visa à redução dos acidentes e doenças rela-
cionadas ao trabalho mediante a execução de ações de promoção, re-
abilitação e vigilância na área de saúde. Portanto, é muito importante
reconhecer a educação e a saúde como áreas de produção e aplicação
de saberes destinados ao desenvolvimento humano (PEREIRA, 2003).
Nesta perspectiva, desenvolver atividades de educação em saúde
através do engajamento da população em assuntos relacionados a qua-
lidade de vida e a saúde, oriundos da construção do conhecimento, tor-
na-se um bem valioso na prevenção de doenças (MOREIRA et al, 2013).
Para isso, o desenvolvimento de estratégias educativas como for-
ma de promoção da saúde, torna-se possível através do uso de mate-
riais educativos que funcionam como recursos didáticos para atin-
gir o ensino-aprendizagem. Tais recursos podem ser construídos em
diversos formatos, como vídeos, jogos, bonecos, simulações, e-books,
manuais, cartilhas, histórias, entre outros, virtuais ou não; na reali-
dade, eles complementam o ato de ensinar e influenciam o ganho de
habilidades cognitivas, afetivas e/ou psicomotoras (ALMEIDA, 2017;
SANTOS et al., 2019a).
Com base no exposto acima, faz-se necessário definir estratégias
para solucionar problemas, elaborar conclusões e assimilar conteú-
dos; estas estratégias são também chamadas de Estilos de Aprendi-
zagem, as quais, de acordo com CERQUEIRA (2000, p. 36) são:

O estilo que um indivíduo manifesta quando se confronta


com uma tarefa de aprendizagem especifica. (...) uma pre-
disposição do aluno em adotar uma estratégia particular de
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Maria do Amparo Marinho de Melo, Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira,
Izabela Souza da Silva, Maria Goretti Fernandes, Geraldo Magella Teixeira

aprendizagem, independentemente das exigências especifi-


cas das tarefas.

Os Estilos de Aprendizagem demonstram que cada pessoa tem


uma forma própria para ensinar e aprender. De acordo com RODRI-
GUES e SCHIMIGUEL (2018), SANTOS et al (2019b), tais estilos estão
baseados nos canais de expressão humana e são resumidos em, vi-
sual, auditivo e sinestésico (modelo CAV), incluindo, também, o olfa-
tivo e gustativo.
Para Cerqueira (2000) é de extrema importância que o educador
conheça também seu próprio estilo de aprendizagem, pois influen-
ciam sobremaneira no modo como o professor organiza sua aula,
planeja estratégias diferenciadas, seleciona recursos materiais e se
relaciona com os estudantes.
É importante ressaltar que, além dos sentidos utilizados para o
processo de aprendizagem, cada pessoa apresenta uma estrutura de
personalidade, dividida em três partes, denominada de Estados de
Ego, que explicita a forma como elas se comportam frente a diversas
situações. Esses estados de ego classificam-se em:
• Pai, relacionado às normas, limites, cuidados, regras (o que é
ensinado);
• dulto, representa o que é mais racional e realista (o que é pen-
sado);
• Criança, responsável pela parte da diversão, alegria, criativi-
dade, espontaneidade (o que é sentido) (SANTOS et al., 2019b).

Cabe ressaltar a importância que o educador deve considerar


para escolher um recurso educativo que contemple (ao máximo) ele-
mentos dos estilos de aprendizagem e os estados de ego dos indiví-
duos (SANTOS et al., 2019b; RODRIGUES; SCHIMIGUEL, 2018).
A utilização dos recursos tecnológicos devem acontecer de forma
criativa e crítica, favorecendo práticas interdisciplinares que con-
- 132 -
Yoga na Saúde do Trabalhador

tribuam para a qualificação da educação e a formação do cidadão;


prática defendida por Vianna (2009, p.10) ao afirmar que “uma das
funções básicas da escola hoje é ajudar o aluno a saber pesquisar,
saber procurar informações, saber estudar”.
É importante compreender, que qualquer recurso educacional
pode ser potencializado através de uma âncora. Segundo Santos
et al. (2019b), esta tem a finalidade de reforçar um comportamen-
to para remeter a uma informação anterior. Elas podem ser visual,
olfativas, gustativas ou auditivas e podem ser percebidas pelos indi-
víduos de forma positiva ou negativa, dependendo das experiências
vivida por eles.

Conclusão

Com base no estudo apresentado, pode-se afirmar a fundamen-


tal importância dos recursos educativos na prática de ensino, com
o intuito de diversificar as formas de apresentação dos conteúdos
trabalhados na construção do conhecimento. A escolha do vídeo
educativo nesse contexto trata-se do Yoga na Saúde do Trabalhador,
que representa uma ferramenta de grande valor para a prática do
processo de ensino –aprendizagem, através do uso adequado da tec-
nologia na perspectiva de proporcionar uma educação de qualidade.

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O PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO E A SÍNDROME DO
USUÁRIO DO COMPUTADOR: CONDUTAS E
ORIENTAÇÕES NO SENTIDO DE PRESERVAR A
SAÚDE OCULAR DE MAGISTRADOS E SERVIDORES

Roberto Alcântara de Oliveira Araújo, Lydianne Lumack do Monte Agra,


Flávia Moreira Guimarães Pessoa

Introdução

Nos últimos anos, as reformas dos procedimentos e ritos juris-


dicionais para a solução dos conflitos sociais visam eliminar ou
diminuir entraves burocráticos e buscar atender ao comando cons-
titucional da duração razoável do processo (art. 5°, inciso LXXVIII,
CF/1988), modernizando o gerenciamento das atividades e serviços
judiciários com foco na eficiência (art. 37, caput, CF/1988) e na le-
galidade (art. 5°, inciso II, CF/1988) e os anseios de uma sociedade
pautada pela tecnologia.
Assim, o processo judicial, enquanto método de apaziguar os
embates sociais, precisa ser amplamente repensado para ser muito
mais rápido, ágil, completo, acessível e facilitador do fluxo de infor-
mações provenientes da transformação digital que já se manifesta
fortemente nos setores produtivos (DRUMMOND, 2020, p. 126).
Tal revolução digital no Poder Judiciário traz inúmeros e inegá-
veis benefícios, tanto para servidores e magistrados quanto para
- 136 -
O processo judicial eletrônico e a síndrome do usuário do computador

jurisdicionados, mas cabe aos tribunais se adequarem a esta nova


situação e ajustarem suas condutas e orientações no sentido de pre-
servar a saúde ocular de todos os sujeitos processuais e aqueles que
demandam os serviços jurisdicionais.
Os efeitos da expansão do coronavírus (COVID-19) pelo planeta
e pelo país - inclusive tendo recebido da Organização Mundial da
Saúde (OMS) a classificação de pandemia, com o risco potencial
de a doença infecciosa atingir a população de forma simultânea
e não se limitando a locais que já tenham sido identificadas como
de transmissão interna - intensificaram a marcha para a adoção
da plataforma eletrônica e virtual para a realização do processo e
dos atos processuais, especialmente com a edição das Resoluções
n°s 345, de 9 de outubro de 2020 (Juízo 100% Digital) e 372, de 12 de
fevereiro de 2021 (Balcão Virtual), ambas do Conselho Nacional de
Justiça – CNJ.

O cenário demonstra que o processo judicial precisa não so-


mente ser “turbinado” pela tecnologia, mas também até mes-
mo remodelado para cumprir adequadamente a sua função
de método para a resolução de conflitos e a pacificação social
(DRUMMOND, 2020, p. 128)

O uso intensivo do recurso digital, por sua vez, traz em sua


esteira uma maior exposição dos usuários a aparelhos eletrônicos,
tais como computadores, laptops, tablets e smartphones, submeten-
do-os aos possíveis efeitos deletérios desta exposição muitas vezes
excessiva. Um conjunto de sintomas e queixas oculares e sistêmicas
pode se apresentar nestes casos e compõe o que se conhece como
a Síndrome do Usuário do Computador (SUC). Sensação de corpo
estranho, olhos vermelhos, lacrimejamento, visão borrada, fadiga
ocular, além de cefaléia e dor em pescoço, ombros e costas são fre-
quentemente relatados por pessoas que usam aparelhos eletrônicos
por várias horas durante o dia (BLEHM, 2005, 253-262).
- 137 -
Roberto Alcântara de Oliveira Araújo, Lydianne Lumack do Monte Agra,
Flávia Moreira Guimarães Pessoa

Estimativa feita no início dos anos 2.000 descreve que o traba-


lhador americano passa, entre atividades ocupacionais e de lazer,
cerca de 7 horas diárias usando computadores e outros devices ele-
trônicos e cerca de 90% destes trabalhadores apresentam algumas
das queixas relacionadas a SUC (BLEHM, 2005, 253-262). Tendo em
vista tais números, não fica difícil perceber que esta síndrome está
se tornando um problema de saúde pública cada vez mais expressi-
vo, a qual ganha importância ainda maior diante da pandemia de
Coronavírus.

O Processo Judicial Eletrônico

A atuação de juízes e servidores por meio de dados e informa-


ções digitais e virtuais não é novidade ao Poder Judiciário brasileiro
e acompanha os avanços tecnológicos, conforme o desenvolvimento
de infraestrutura de informática, telecomunicação e plataformas di-
gitais nos mais diversos tribunais do país e “essas mudanças ainda
se apresentam em fase inicial, mas com impactos bastante significa-
tivos” (ALVES; ALMEIDA, 2020, p. 48).
Além de combater a morosidade na prestação jurisdicional, po-
dem ser apontadas outras vantagens como a agilidade na tramitação;
custo-benefício do procedimento; tráfego e trânsito do informe, sem
contingenciamento; redução do número de recursos judiciais; redu-
ção dos custos de transporte e deslocamento de pessoal; redução dos
custos ambientais, com a diminuição da impressão dos documentos;
redução dos custos operacionais com a entrega e armazenamento de
documentos e processos; o compartilhamento simultâneo de docu-
mentos e processos, disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana; e
a criação de banco de dados (PAIVA, 2020, p. 158/159).
A Lei Federal n°11.419, de 19 de dezembro de 2006, já tratava da
tramitação por meio eletrônico de processos judiciais, comunicação
de atos e transmissão de peças processuais.
- 138 -
O processo judicial eletrônico e a síndrome do usuário do computador

Tal lei contém as normas gerais sobre os procedimentos e praxes


por meios eletrônicos de armazenamento e transmissão de dados, o
envio de petições, de recursos e a prática dos atos processuais digi-
tais em geral, até o julgamento final do último recurso, tudo com a
utilização de assinatura eletrônica, com prévio credenciamento no
Poder Judiciário (art. 2°) e remessas dos autos, internas e externas,
por via eletrônica.
As provas e documentos úteis e necessários ao deslinde da ação
judicial devem ser digitalizados, valendo, para todos os efeitos le-
gais, como originais (art. 11).
Quanto à documentação e comunicação dos atos processuais,
fora prevista a adoção pelos tribunais de sistemas de processamen-
to de ações judiciais, utilizando a rede mundial de computadores,
por meio de redes internas e externas (art. 8°). Os livros cartorários
de controle passaram a ser gerados e armazenados por meio exclu-
sivamente eletrônico (art. 16), bem como a instituição do Diário da
Justiça eletrônico, como único veículo oficial de divulgação dos atos
processuais e administrativos próprio (art. 4°, caput).
Em 2015, o legislador busca acelerar a imersão ao mundo digital do
processo e da plataforma eletrônica de trabalho de magistrados e ser-
vidores do Poder Judiciário. A edição do Código de Processo Civil, Lei
Federal n°13.105, de 16 de março de 2015, amplia o disciplinamento da
prática eletrônica de atos processuais para todos os tribunais, inclusive
com aplicação aos atos notariais e de registro (art. 193, parágrafo único).
A preocupação da nova legislação é a defesa de um gerenciamen-
to processual e da eficácia do processo, com a eliminação de boa
parte dos chamados “tempos mortos do processo” (THEODORO JÚ-
NIOR, 2016, p. 195).
A prática eletrônica do ato processual poderá ocorrer em qualquer
horário até as 24 horas do último dia do prazo (art. 213, CPC/2015). As
intimações dos advogados serão realizadas por meio eletrônico (art.
287, CPC/2015) e as citações também (art. 246, CPC/2015).
- 139 -
Roberto Alcântara de Oliveira Araújo, Lydianne Lumack do Monte Agra,
Flávia Moreira Guimarães Pessoa

No entanto, ao lado do gerenciamento do processo por meio ele-


trônico e tecnológico, atos processuais são praticados com a presença
obrigatória dos atores processuais, como o atendimento de partes e
advogados por servidores e magistrados em seus balcões e gabinetes,
as audiências de conciliação e de instrução e julgamento, nas quais
são colhidas as provas orais de testemunhas, declarantes e peritos
(art. 152, inciso III, art. 334, art. 358, todos do CPC/2015), bem como
as sessões de julgamento dos órgãos colegiados, com as sustentações
orais promovidas pelos advogados das partes (art. 937, CPC/2015).
Outro momento de contato “direto” entre juiz, partes e advogados é
fruto da determinação do art. 6°, Código de Processo Civil/2015, que trata
do princípio da cooperação processual, por meio de atendimentos das
partes e advogados, audiências preliminares e de instrução e julgamen-
to, nos juízos de primeiro grau e a sustentação oral, perante os tribunais.
Com a mudança de paradigmas trazida pela pandemia do coro-
navírus e as medidas necessárias para seu enfrentamento, o CNJ
buscou ações que assegurassem o isolamento social e compatibili-
zassem a continuidade dos serviços judiciais, modificando a forma
de atendimento presencial para o virtual.
Por meio da Resolução n°313, de 19 de março de 2020, foram sus-
pensos os atendimentos presenciais das partes, advogados e interessa-
dos, definindo que os atendimentos por meio da modalidade remota.
Com o agravamento da pandemia, o CNJ ampliou as hipóteses de
trabalho remoto, estabelecendo a obrigatoriedade da regulamenta-
ção pelos tribunais da realização de sessões virtuais e a utilização de
videoconferência de forma padronizada, além de incentivar a digi-
talização dos processos e atos judiciais (Resolução CNJ n°314, de 20
de abril de 2020).
A Resolução n°345, de 9 de outubro de 2020, do Conselho Nacio-
nal de Justiça – CNJ, autoriza os tribunais do país a adotarem o “Juí-
zo 100% Digital” em suas unidades jurisdicionais com a tramitação
processual de forma remota, ou seja, por meio do acesso à internet,
- 140 -
O processo judicial eletrônico e a síndrome do usuário do computador

sem a necessidade de comparecimento físico aos Fóruns e edifícios


do Poder Judiciário. Tanto na área trabalhista, cível, criminal, de fa-
mília e previdenciária.
Logo em seu art. 1°, a Resolução n°345 já estabelece que “todos os
atos processuais serão exclusivamente praticados por meio eletrô-
nico e remoto por intermédio da rede mundial de computadores”.
A opção pela tramitação em “Juízo 100% Digital” é facultativa,
tanto pela parte demandante, no momento da distribuição da ação,
como pela parte demandada, até o momento do oferecimento da
contestação (art. 3°).
As citações, notificações e intimações ocorrerão por qualquer
meio eletrônico, com a indicação pelas partes e advogados de ende-
reço eletrônico e número de telefone móvel celular.
O art. 5° define, ainda, que as audiências e sessões serão “exclusi-
vamente por videoconferência”.
O atendimento às partes deverá ser prestado, no horário de aten-
dimento ao público, de forma remota por telefone, e-mail, chamadas
de vídeo, aplicativos digitais ou outros canais de comunicação defi-
nidos pelos tribunais, mediante a devida e necessária infraestrutura
de informática e de telecomunicação (art. 4°).
Logo o atendimento aos advogados deverá ser realizado durante
o horário fixado para atendimento ao público, observando a ordem
de solicitação, os casos urgentes e as preferências legais. Demonstra-
do o interesse do advogado de ser atendido pelo magistrado, será de-
vidamente registrado o dia e hora, por meio eletrônico, e a resposta
deverá ocorrer no prazo de até 48 horas (art. 6°).
Como afirmou o Ministro Luiz Fux, Presidente do Supremo Tri-
bunal Federal – STF e do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, os tem-
pos atuais exigem uma Justiça virtual, ágil e eficiente, destacando-se
o “Juízo 100% Digital”, que assegura ao cidadão brasileiro o direito
de escolha a tramitação integralmente virtual do seu processo judi-
cial. O que já ocorre em mais de 900 varas (FUX, 2021).
- 141 -
Roberto Alcântara de Oliveira Araújo, Lydianne Lumack do Monte Agra,
Flávia Moreira Guimarães Pessoa

São vários os tribunais que já adotaram “Juízo 100% Digital” os


Tribunais de Justiça do Acre (TJAC), do Amazonas (TJAM), da Bahia
(TJBA), do Ceará (TJCE), do Espírito Santo (TJES), de Goiás (TJGO), de
Minas Gerais (TJMG), do Maranhão (TJMA), do Mato Grosso (TJMT),
do Mato Grosso do Sul (TJMS), de Pernambuco (TJPE), do Rio Grande
do Norte (TJRN), do Rio de Janeiro (TJRJ), de Rondônia (TJRO) e de
São Paulo (TJSP), além do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Fe-
deral (TRE-DF), Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região (TRT14),
que abrange os Estados de Acre e Rondônia, do Tribunal Regional do
Trabalho da 9ª Região (TRT9), com competência no Estado do Para-
ná, e dos Tribunais Regionais Federais da 3ª Região (TRF3), com com-
petência em Mato Grosso do Sul e São Paulo, da 4ª Região (TRF4),
que atua na região Sul, e da 5ª Região (TRF5), que atende à população
de Estados do Nordeste (BRASIL; 2021a).
Vale registrar, ainda, que os tribunais devem acompanhar e veri-
ficar os resultados da implantação do “Juízo 100% Digital” mediante
os indicadores de produtividade e celeridade estabelecidos pelo CNJ
(art. 7°).
Em 9 de fevereiro passado, o CNJ expediu a Resolução n°372, in-
titulada de “Balcão Virtual”, tornando permanente o acesso remoto
direto e imediato dos usuários dos serviços judiciais aos cartórios e
secretarias das unidades jurisdicionais do país.
Os tribunais, em seus sítios na internet, disponibilizarão acesso
para o atendimento virtual, que deverá ser realizado por servido-
res de cada unidade jurisdicional, durante o horário de expediente,
reforçando a atual fase dos tribunais de crescente oferta de atendi-
mento virtual, baseado na ampliação dos processos eletrônicos e da
tecnologia para a realização de audiências e sessões de julgamento
por videoconferência (BRASIL, 2021b).

- 142 -
O processo judicial eletrônico e a síndrome do usuário do computador

Síndrome do usuário do computador: aspectos médicos

Imagens e palavras formadas nas telas eletrônicas são compostas


por pontos extremamente pequenos e brilhantes chamados pixels,
que tendem a ser mais brilhantes no centro e mais brandos na peri-
feria. Essa conformação, diferentemente do que ocorre nas palavras
e imagens impressas, tornam o foco pelo olho humano mais difícil
e exigem mais deste órgão no momento de formar uma visão clara
e nítida (HEITING, 2017 e JASCHINSKI et al., 1996 p. 152-164). Apesar
dos estudos mais atuais refutarem com bastante segurança a pos-
sibilidade de que o uso prolongado do computador traga prejuízos
permanentes a visão, os prejuízos transitórios são inegáveis e uma
ampla gama de sintomas vem sendo associada a SUC, conforme
apresentada na Tabela 1.

Tabela 1 – Categoria de sintomas na SUC e diagnósticos mais comuns
Categoria de Sintomas Sintomas Causas Possíveis
Astenopia Fadiga ocular, sensação de peso nos olhos Visão binocular e acomodação
Superfície Ocular Olho seco, lacrimejamento, hiperemia ocular
e problemas com lentes de contato
Visual Visão borrada, demora na mudança de foco, Erro refrativo, acomodação, visão
visão dupla e presbiopia binocular e correção da presbiopia
Extra-Ocular Dor cervical, dor nas costas e dor nos ombros Posição do computador

Baixa de visão Saturação dos fotorreceptores


Cegueira Transitória retinianos
Fonte: (Blehm et al, 2005)

A intensidade destes sintomas parece ter relação direta com o


tempo de uso de aparelhos eletrônicos e a percepção dos sintomas
pode variar entre os indivíduos, dependendo de sua capacidade vi-
sual e da demanda das atividades com eletrônicos (TRAVERS, 2002,
p. 489-93 e PATEL, 1991, p.888-92).
- 143 -
Roberto Alcântara de Oliveira Araújo, Lydianne Lumack do Monte Agra,
Flávia Moreira Guimarães Pessoa

No que tange a fisiopatologia dos sintomas astenopéicos, pode-se


dividi-la em três grandes grupos: os mecanismos de superfície ocu-
lar, os mecanismos acomodativos e os mecanismos extraoculares.
As alterações da superfície ocular têm sua principal representan-
te na síndrome do olho seco. Sabe-se que a frequência do piscar (nor-
malmente de 15-20 piscadas por hora) diminui no uso prolongado
das telas eletrônicas, o que leva a uma piora na qualidade da lágrima
e a sua rápida evaporação. Além disso, a posição em que normal-
mente ficam os computadores e laptops (na mesma linha horizontal
dos olhos) levam a uma maior exposição da superfície ocular com
evaporação do filme lacrimal e ressecamento ocular. Aliado a estes
fatores intrínsecos, ainda pode-se encontrar fatores extrínsecos de
ressecamento ocular, tais como: doenças sistêmicas (como doen-
ças autoimunes), uso de medicações (como anti-hipertensivos, diu-
réticos, antidepressivos e antipsicóticos), idade e sexo (mulheres e
idosos são mais suscetíveis ao olho seco), uso de lente de contato e
baixa umidade ambiente (como a causado pelo aparelho de ar con-
dicionado) (SOTOYAMA, 1995, p.43-55, SHIMMURA, 1999, p.408-11 e
LIESEGANG, 1994, p.76-81)
Dentre os fatores acomodativos, encontram-se os erros refrativos
(inclusive a presbiopia) e os desvios oculares. O surgimento de insu-
ficiência de convergência e de forias latentes em condições diversas,
mas que se manifestam no uso prolongado de telas foi mostrado em
alguns trabalhos prévios, assim como o surgimento transitório de
miopia. Tais condições diminuem a capacidade acomodativa dos
pacientes e pode desencadear alguns dos sintomas típicos da SUC
(MUTTI, 1996, p.521-30 e SPEEG-SCHARTZ, 2001, p. 521-30).
Os fatores extraoculares, por fim, referem-se à iluminação am-
biente (que se muito brilhante pode aumentar as queixas oculares),
a umidade do ar ambiente (como dito anteriormente) e ao posicio-
namento inadequado do usuário com relação ao eletrônico em uso
(SOTOYAMA, 1995, p.43-55).
- 144 -
O processo judicial eletrônico e a síndrome do usuário do computador

Diante deste quadro de grande amplitude de sintomas e queixas


e seus respectivos fatores causais, algumas medidas podem ser to-
madas no intuito de limitar o impacto da SUC no sistema visual e
qualidade de vida dos usuários de computador por tempo prolon-
gado. Tais medidas se dividem em dois pilares principais: cuidados
médicos e cuidados de conscientização.
Os cuidados médicos envolvem consultas regulares com o médi-
co oftalmologista. Nesta consulta, ametropias devem ser diagnosti-
cadas e corrigidas, assim como os desvios oculares, sejam eles laten-
tes ou manifestos. Uso de medicações sistêmicas e oculares devem
ser avaliadas e ajustadas sempre que possível à necessidade parti-
cular do examinado. O uso de lentes de contato deve ser orientado e
otimizado e alterações da superfície ocular devem ser registradas e
minimizadas (SPEEG-SCHARTZ, 2001, p. 521-30).
Diante da importância há muito reconhecida do olho seco na
SUC, comentários específicos devem ser dedicados a sua conduta.
A prescrição de lágrimas artificiais adequadas a cada caso é a prin-
cipal arma terapêutica disponível nos consultórios oftalmológicos.
Deve-se ter preferência aos colírios com maior viscosidade (e não
os mais aquosos), por apresentar a proposta de proporcionar uma
lubrificação ocular mais intensa e duradoura, além de atuarem na
manutenção do pH lacrimal (ACOSTA, 1999, p.663-9)
Os cuidados de conscientização, por sua vez, referem-se a orien-
tações gerais que, quando adotadas, tem o potencial de melhorar a
relação entre o uso prolongado de telas e a saúde ocular e sistêmica
dos usuários. Em termos ambientais, deve-se cuidar da luminosida-
de e umidade do ar no ambiente de trabalho. Luzes excessivamente
brilhantes, assim como grandes janelas com incidência direta de
luz solar no ambiente de trabalho devem ser evitadas. A diminuição
das lâmpadas e adoção de cortinas leves devem ser consideradas.
Da mesma forma, o brilho e contraste das telas de computadores
e laptops devem ser ajustadas, de modo a não se tornarem fonte de
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Roberto Alcântara de Oliveira Araújo, Lydianne Lumack do Monte Agra,
Flávia Moreira Guimarães Pessoa

desconforto devido a seu excesso. A umidade do ar costuma ser for-


temente desequilibrada pelo uso constante de aparelhos de ar-con-
dicionado. Sendo inviável o desuso destes, sugere-se a manutenção
regular dos mesmos e adoção de umidificadores de ar (MUNSHI,
2017, p. 3).
Os aparelhos eletrônicos devem ter seus monitores adequada-
mente posicionados. Sugere-se que o centro do monitor esteja cerca
de 10 cm abaixo da linha do olhar, pois desta forma o olhar do usu-
ário se mantém direcionado para baixo, permitindo que a pálpebra
superior cubra e proteja parcialmente a superfície ocular, além de
permitir certo relaxamento a musculatura intrínseca e extrínseca
dos olhos. A distância sugerida entre o usuário e a tela é de 40 cm,
permitindo que a visão binocular de perto não seja sobrecarregada
e, com isso, a reserva acomodativa do usuário seja em alguma me-
dida preservada. Tal posicionamento também é útil na prevenção
de dores musculares em ombros, pescoço e costas (HEITING, 2017).
Por fim, no rol das medidas comportamentais, encontra-se a
recomendação de pausas regulares durante o uso de eletrônicos.
Pausas curtas frequentes parecem permitir o relaxamento dos mús-
culos oculares e com isso diminuir os sintomas astenopéicos (SAN-
CHEZ-ROMAN, 1996, p.189-96). Uma regra básica criada para facili-
tar a adoção desta medida é a regra 20-20-20, na qual se sugere um
descanso de 20 segundos a ser repetido a cada 20 minutos e durante
o qual o usuário de telas deve focar seu olhar a uma distância de 20
pés (cerca de 6 metros).
Diante destas orientações, percebe-se que o tratamento da SUC
é multidirecional e engloba cuidados médicos e comportamentais
que, em conjunto, promovem a proteção da saúde ocular e a preven-
ção de um problema de saúde pública cada vez mais expressivo.
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O processo judicial eletrônico e a síndrome do usuário do computador

Conclusão

São inegáveis os benefícios trazidos pelo chamado “mundo vir-


tual” no sentido de atender a eterna demanda de celeridade, fácil
acesso e eficiência no poder Judiciário e o processo de virtualização
do processo teve na pandemia de COVID-19 um aliado poderoso. No
entanto, inegável também é a sobrecarga na saúde geral, e em espe-
cial na saúde ocular, dos magistrados e servidores. As queixas advin-
das do uso prolongado de telas expuseram esta sobrecarga e podem
ser consideradas fatores importantes na queda de qualidade de vida
e de trabalho dos servidores, além de terem possível e provável im-
pacto na produtividade destes trabalhadores.
Sugere-se, então, as seguintes medidas no sentido de minorar os
danos – transitórios, mas significativos – na saúde do trabalhador:
• Consulta oftalmológica regular.
A avaliação e correção de doenças oculares, como ametro-
pias e desvios, é crucial para uma boa saúde dos olhos e um
bom rendimento no trabalho. O médico oftalmologista é o
profissional capacitado a diagnosticar e tratar tais doenças
e consultas regulares, de frequência no mínimo anual, são
fortemente recomendadas. Nestas consultas também são
avaliados outros fatores, como situações predisponentes
a SUC e sua correção ou controle, prescrição de lágrimas
artificiais adequadas a cada caso e troca de medicações
oculares que possam interferir no bom funcionamento do
sistema visual.

• Consulta regular com o médico generalista e/ou médico espe-


cialista no caso de doenças sistêmicas.
Existe a necessidade de lembrar que doenças sistêmicas e suas
respectivas medicações de controle podem interferir direta-
mente na saúde dos olhos e um trabalho conjunto entre oftal-
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Roberto Alcântara de Oliveira Araújo, Lydianne Lumack do Monte Agra,
Flávia Moreira Guimarães Pessoa

mologista e médicos de outras especialidades pode ser o dife-


rencial nos casos de pacientes com queixas relacionadas a SUC.

• Orientações quanto a condições ideais do ambiente de trabalho.


Seja no trabalho remoto domiciliar, seja no ambiente físico
dos tribunais e fóruns, medidas simples como controle da ilu-
minação e umidade do local de trabalho e adequado posicio-
namento das telas com relação a posição do usuário trazem
impacto positivo na saúde laboral, com diminuição de quei-
xas como dores em ombros, pescoço e costas, além de minimi-
zar os sintomas do ressecamento ocular
• Orientações comportamentais durante o uso prolongado de
telas.
Medidas muitas vezes simples podem ser adotadas no sentido
de minorar queixas e desconforto. Lembrar de piscar regu-
larmente e pausas curtas durante o período de trabalho (lem-
brando da regra 20-20-20: pausas de 20 segundos, a cada 20
minutos de trabalho, como o olhar a 20 pés de distâncias) são
algumas destas simples e poderosas orientações.

A revolução digital no Poder Judiciário pode ser considerada um


“caminho sem volta” e inúmeros e inegáveis são seus benefícios, tan-
to para servidores e magistrados quanto para jurisdicionados. Cabe
aos tribunais se adequarem a esta nova situação e ajustarem suas
condutas e orientações no sentido de preservar a saúde ocular de
todos os sujeitos processuais e aqueles que demandam os serviços
jurisdicionais.
O eventual custo de saúde daqueles que trabalham com as ferra-
mentas digitais pode e deve ser minorado, no sentido não apenas da
preservação da saúde, mas reconhecendo também que o aumento
da produtividade e eficiência vêm no esteio destes benefícios. Me-
didas simples de orientação e conscientização e cuidados médicos
- 148 -
O processo judicial eletrônico e a síndrome do usuário do computador

regulares são um diferencial na condução dos casos de síndrome do


usuário do computador e podem transformar um ambiente de tra-
balho inóspito e um ambiente saudável, confortável e que favorece
a produtividade. Enfim, o tipo do ambiente no qual todo servidor
precisa, deseja e merece trabalhar.

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SÍNDROME DE BURNOUT NA PANDEMIA
DA COVID-19: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Maria Goretti Fernandes, Ravena Barreto da Silva Cavalcante, Izabela Souza da
Silva, Claudilene dos Santos Silva, Rosalin Santana Barreto

Introdução

A obstinação do ser humano de colocar em prática suas habilida-


des e seus valores adquiridos durante a vida sempre fizeram parte
da ambição profissional. Contudo, a alta competitividade no mer-
cado de trabalho, somada às exigências de produção e competên-
cia, cobram do trabalhador uma postura de maior desgaste físico e
emocional. Como resultado, diferentes enfermidades podem surgir,
dentre elas a Síndrome de Burnout (PÊGO; PÊGO, 2016).
A manifestação da Burnout se apresenta através das caracterís-
ticas subjetivas internas do indivíduo e acaba por refletir em senti-
mentos e atitudes negativas que afetam tanto o próprio indivíduo
quanto a organização para a qual ele trabalha, com a sensação de
que chegou ao limite (RAMBO, 2018).
Além disso, a exaustão emocional leva à falta de comprometi-
mento e empenho nas atividades ocasionando relações interpesso-
ais frias e distantes e, consequentemente, o isolamento social, po-
dendo destruir a autoestima e a eficácia ocupacional, alargando-se
para a vida pessoal e social (MENDES, 2002; BERNIK, 2008; ALVES,
2017).
- 152 -
Síndrome de Burnout na Pandemia da Covid-19

A pandemia da COVID-19 colaborou para a pressão psicológica e


sintomas psicossomáticos nos profissionais de saúde destacando-se:
a sobrecarga de trabalho; os equipamentos e suporte organizacio-
nal escassos; a política frágil de cargos e salários; a elevada carga
horária; a baixa remuneração; os duplos vínculos empregatícios; os
vínculos precários nos contratos de trabalho; a responsabilidade ele-
vada e o contato cotidiano com a dor, sofrimento, morte (PETZOLD;
PLAG ; STRÖHLE, 2020).
Vale ressaltar que International Stress Management Association
menciona que antes da pandemia da COVID-19, cerca de 30% das
pessoas economicamente ativas conviviam com Burnout no país, se-
gundo dados da (ISMA-BR, 2013).
Com a propagação do vírus e o início da pandemia, as incerte-
zas, as tensões e as angústias aumentaram no mundo todo, surgindo
uma preocupação crescente de pesquisadores, educadores e gesto-
res com questões pertinentes à saúde mental voltada ao trabalho,
cujos olhares trazem consenso quanto ao vertiginoso aumento de
transtornos mentais ou de sofrimento psíquico no meio profissional
(PETZOLD; PLAG; STRÖHLE, 2020).
Dessa forma, a expansão do coronavírus e o isolamento social
fez com que a Síndrome de Burnout intensifica-se, pois na tentati-
va de conter a disseminação do vírus muitas empresas fecharam
seus espaços físicos, e as residências foram transformaram em es-
critórios, dessa forma, as pessoas acabaram por se tornarem mais
exaustas., os trabalhadores são os mais vulneráveis a desenvolver
sinais e sintomas que podem levá-los a um desgaste físico, emocio-
nal e psíquico caracterizando um estresse laboral crônico (FREI-
TAS et al., 2020).
É importante destacar que os trabalhadores da saúde apresentam
os maiores índices de Burnout, uma vez que estes profissionais ex-
perimentaram significativos riscos físicos e psicológicos durante a
pandemia de COVID-19 (FIREW et al., 2020). 
- 153 -
Maria Goretti Fernandes, Ravena Barreto da Silva Cavalcante, Izabela Souza da Silva,
Claudilene dos Santos Silva, Rosalin Santana Barreto

Diante desse cenário, o presente estudo tem como propósito in-


vestigar o perfil das pesquisas sobre Síndrome de Burnout durante a
pandemia da COVID-19.

Metodologia e métodos

Na construção de uma revisão sistemática de literatura são con-


sideradas diferentes abordagens, entre as revisões bibliométrica,
integrativa e meta-análise. Em todas essas propostas existe a pre-
ocupação de se concentrar nos principais estudos publicados para
identificar padrões sobre características de pesquisa ou limitações
nos campos de estudo (CARVALHO; FLEURY; LOPES, 2013; REDON-
DO et al., 2017).
A base de dados Scopus foi escolhida para revisão sistemática com
abordagem bibliométrica dos principais documentos científicos pelo
fato de ser considerada umas das principais bases multidisciplinares
de pesquisas no cenário nacional e internacional. As palavras-cha-
ve utilizadas foram “burnout syndrome and Covid 19 and Sars-CoV-2
or pandemic”, no idioma inglês, além dos operadores booleanos
“AND” e “OR”, para efeitos de amplitude e restrição à pesquisa. Os
procedimentos para realização da pesquisa ocorreram através de 3
(três) etapas, apresentadas no fluxograma disposto na Figura 1.

Figura 1. Fluxograma das etapas para realização da revisão sistemática

Fonte: Elaborado pelos autores (2021)


- 154 -
Síndrome de Burnout na Pandemia da Covid-19

A etapa 1 se referiu à delimitação do escopo da análise, através de


pesquisa dos documentos científicos na base Scopus, que forneceu
dados essenciais para a análise sistemática, incluindo áreas de estu-
dos, número de citações, determinação do período de análise, entre
outras informações relevantes.
A seleção dos documentos científicos foi realizada na etapa 2,
com os seguintes termos: “burnout syndrome and Covid 19 and Sars-
-CoV-2 or pandemic” utilizando o idioma inglês no campo tópico. Con-
siderando as publicações no período 2020 até o ano de 2021, foram
identificados 120 documentos científicos.
Com o propósito de refinar a busca, foram adotados os seguin-
tes critérios: (a) idioma do artigo, considerando os artigos na língua
inglesa; e (b) restrito aos termos das palavras-chave associadas “bur-
nout syndrome and Covid 19 and Sars-CoV-2 or pandemic”. Em segui-
da, os resumos dos documentos científicos foram lidos e analisados,
onde destes, 18 documentos foram excluídos por não atenderem aos
critérios principais. A seleção finalizou com 102 documentos cientí-
ficos relacionados ao tema.
A etapa 3 constou da análise descritiva dos dados, após a defi-
nição dos instrumentos de coleta, com análise dos documentos de
forma quantitativa visando descrever as principais características
através das seguintes variáveis: (a) evolução de publicações e cita-
ções; e (b) obras mais citadas. O objetivo desta etapa foi a descrição,
de forma sistêmica, das principais características sobre o campo de
estudo relacionado à temática pesquisada. Para isto, fez-se uso de
planilhas eletrônicas e do software CiteSpace® desenvolvido por
Chen (2006) para a descrição dos dados.

Resultados e discussões

A análise descritiva do estudo permitiu apresentar, de forma ilus-


trativa, os resultados para cada busca. Dos 102 documentos obtidos,
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Maria Goretti Fernandes, Ravena Barreto da Silva Cavalcante, Izabela Souza da Silva,
Claudilene dos Santos Silva, Rosalin Santana Barreto

observou-se que cerca de 56% foram artigos científicos (Figura 2).


Isto demonstra a importância da disseminação do conhecimento
através da publicação científica, especialmente sobre Síndrome de
Burnout, uma vez que esse problema foi agravado nos dois útlimos
anos durante a pandemia da COVID-19.

Figura 2. Quantidade de documentos científicos relacionados aos termos encontrados na Scopus, 2021

Fonte: Elaborado pelos autores (2021)

Esse achado pode ser comprovado com base em outro estudo que
ressoaram pesquisas com estatísticas crescentes de depressão, sín-
dromes variadas de ansiedade, comportamento suicida, Síndrome
de Burnout, surtos psicóticos, uso problemático de álcool e outras
drogas, estresse, fadiga e esgotamento profissional entre os profis-
sionais da saúde (DUAN; ZHU, 2020). Sendo considerável o percen-
tual de documentos científicos que relataram sobre Burnout na pan-
demia nos profissionais da área de saúde.
Quanto a evolução dos documentos científicos e citações na base
Scopus, a figura 3, apresenta um maior número de documentos no
ano de 2020 e um aumento do número de citações em 2021.
Os dados encontrados demonstram que no primeiro ano da pan-
demia publicou-se cerca de 75 documentos relacionando Burnout a
pandemia. No ano seguinte, o número de citações dos estudos nessa
temática, passaram de 492 para 789, percebendo-se um crescente in-
teresse pelo tema por parte dos pesquisadores.
- 156 -
Síndrome de Burnout na Pandemia da Covid-19

Figura 3. Evolução dos documentos científicos e citações em cada ano na Scopus no período de 2020-2021

Fonte: Elaborado pelos autores (2021)

Um estudo realizado em torno dos prováveis sintomas psicológi-


cos decorrentes do surto de doenças infecciosas analisou dentre 6.223
citações inéditas, 480 artigos de revisão e 193 estudos em doenças
como: Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), três cepas do ví-
rus Influenza A (H1N1, H5N1, H7N9), Ebola, Síndrome Respiratória do
Oriente Médio (MERS) e SARS-CoV-2 em 57 países, onde 17 a 80,5%
do percentual dos trabalhadores, apresentaram sintomas psicoló-
gicos devido estresse pós-traumático e, de 14,7 a 76%, foi relatada a
Síndrome de Burnout (FIEST et al., 2021), o que fez demonstrar como o
processo de enfraquecimento decorrente de um período prolongado
de estresse profissional afeta a vida do trabalhador e como o assunto
vem ganhando espaço entre pesquisas envolvendo surtos e pande-
mias (FRANÇA et al., 2014).
Ao analisar o percentual das pesquisas referentes a Burnout na
pandemia nos países mais influentes, a Figura 4, demonstra a maior
produção de documentos científicos nos Estados Unidos.
Vale ressalta que esse país chegou a registrar números recordes
de casos de COVID-19 registrados de 2020 a 2021, justificando-se des-
sa forma o maior interesse por pesquisas nessa área. O Brasil, em-
bora tenha altos índices de mortes por contaminação pelo vírus na
pandemia, não se destacou nas publicações selecionadas na Scopus.
- 157 -
Maria Goretti Fernandes, Ravena Barreto da Silva Cavalcante, Izabela Souza da Silva,
Claudilene dos Santos Silva, Rosalin Santana Barreto

Figura 4. Países mais influentes das publicações selecionadas na Scopus no período de 2020-2021

Fonte: Elaborado pelos autores (2021)

Alguns estudos revelam que os limiares de exaustão e desliga-


mento do Burnout foram alcançados por 85,9% e 83,5% dos pesqui-
sados, respectivamente, durante a pandemia. Essas descobertas são
semelhantes a muitas pesquisas relatadas em outros países como os
Estados Unidos, durante a pandemia, revelaram o impacto genera-
lizado da COVID-19 (LAI MA et al., 2020; TAN et al., 2020) na saúde
do trabalhador.
Outra pesquisa realizada pela Microsoft (2020) com 6.165 traba-
lhadores maiores de 18 anos do setor de informação em 8 países ao
redor do mundo, incluindo o Brasil, identificou que cerca de 33%
das pessoas que estão trabalhando remotamente relataram a falta
de separação entre trabalho e vida pessoal como fator impactante
negativo desencadeador de estresse.
Outra análise importante demonstra as principais áreas de co-
nhecimento relacionadas a Burnout e o COVID-19 entre 2020 e 2021.
Sendo a área médica a que apresenta o maior percentual (72%) de
estudos científicos relacionados ao tema, conforme a Figura 5.
- 158 -
Síndrome de Burnout na Pandemia da Covid-19

Figura 5. Top 5 das áreas de conhecimento relacionadas ao tema encontrados na Scopus no período de 2020-2021

Fonte: Elaborado pelos autores (2021)

Esse achado evidencia que mundialmente a pandemia provocou


um despertar para ações em saúde mental direcionadas aos que es-
tão à frente da linha de cuidado (PETZOLD; PLAG; STRÖHLE, 2020).
Uma vez que desde o início da pandemia, uma gama de profis-
sionais de saúde vem atuando na linha de frente de atendimento
da doença, entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos
e demais profissionais da área. Essas categorias permanecem mui-
tas horas ao lado dos pacientes, o que os tornam mais suscetíveis
aos possíveis impactos psicológicos da pandemia, ocasionados
pelo nível elevado de estresse vivenciado no ambiente, o que afe-
ta diretamente a saúde mental (SOUZA; SOUZA, 2020; NUNES e
SMEHA, 2017).
A tabela 1 destaca os principais autores e afiliações das publica-
ções relacionada a Burnout e a Covid-19.
Onde o Reino Unido destaca-se com dois autores, Chang e Long
respectivamente, que produziram 04 publicações, sendo duas para
cada autor sobre a temática em questão.
Quanto as afiliações das publicações, observa-se que duas foram
do King’s College London e as outras duas do Imperial College Lon-
don. Demonstrando um maior interesse dessas afiliações sobre a
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Maria Goretti Fernandes, Ravena Barreto da Silva Cavalcante, Izabela Souza da Silva,
Claudilene dos Santos Silva, Rosalin Santana Barreto

Burnout em tempos pandêmicos, uma vez que o Reino Unido foi o


primeiro país europeu a passar dos cem mil mortos por COVID-19.

Tabela 1. Principais autores e afiliações das publicações na Scopus no período de 2020-2021


Autor Nº de Publicações Afiliações País
Chang, C., 2 King’s College London Reino Unido
Chirico, F., 2 University of Toronto Canadá
Civantos, A.M., 2 University of Pennsylvania Estados Unidos
Long, Q., 2 Imperial College London Reino Unido
Magnavita, N., 2 National University of Singapore Singapura

Fonte: Elaborado pelos autores (2021)

A Figura 7 analisa os conteúdos dos documentos científicos, utili-


zando a frequência das palavras encontradas nas palavras-chave. É
possível verificar que os temas Covid (33%), Saúde mental (31%), Trans-
torno de ansiedade (16%), Pandemia (15%), Coronavírus (15%) e Síndro-
me de Burnout (15%). Verificando-se que as temáticas relacionadas a
COVID-19 e a saúde mental estiveram em maior evidência científica.

Figura 7 - Nuvem de palavras recorrentes as palavras-chave dos documentos científicos na scopus no período
(2020-2021)

Fonte: Elaborado pelos autores (2021)


- 160 -
Síndrome de Burnout na Pandemia da Covid-19

A nuvem de palavras formada com as palavras-chaves dos docu-


mentos científicos analisados reflete o panorama de interesse sobre
a correlação da COVID-19 com saúde mental. Tendo em vista que um
estudo da Microsoft realizado com trabalhadores de diversos países
revelou cerca de 44% dos trabalhadores brasileiros com relatos de
terem uma maior sensação de esgotamento relacionada a Síndrome
de Burnout na pandemia. No estudo também demonstrou o aumen-
tou do sentimento de exaustão em relação ao trabalho em Singa-
pura com um percentual de 37%, nos Estados Unidos o percentual
chegou a 31%, na Índia cerca de 29% e na Austrália o percentual foi
de 28% (MICROSOFT, 2020), corroborando os achados encontrados
quanto a crescente preocupação do mundo em investigar a correla-
ção da pandemia com a Burnout.

Conclusão

O estudo permitiu maior entendimento sobre a Síndrome de Bur-


nout na pandemia da COVID-19, destacando a sua contribuição para
a área de saúde do trabalhador na medida em que examina a influ-
ência do Burnout na percepção das demandas laborais, no contexto
extremo da pandemia.
Considerando os dados obtidos nesse estudo, fica notório a influ-
ência da pandemia sobre o crescimento dos casos desta síndrome,
principalmente entre os profissionais da saúde, levando a graves
problemas de ordem psicológica, dentre estes os quadros de cansa-
ço mental, ansiedade, desmotivação, frustração e depressão citados
nos documentos científicos apresentados.
Assim, os agravos à saúde física e mental provocados pela Sín-
drome de Burnout contribuem na queda da produtividade ou dos
serviços prestados, e, consequentemente, da qualidade de vida do
trabalhador conforme foi observado nos documentos científicos
analisados nesse estudo.
- 161 -
Maria Goretti Fernandes, Ravena Barreto da Silva Cavalcante, Izabela Souza da Silva,
Claudilene dos Santos Silva, Rosalin Santana Barreto

A análise realizada sugere que outros estudos sejam realiza-


dos com a finalidade de investigar estratégias a serem adotadas
para prevenir o esgotamento profissional durante a pandemia da
COVID-19.

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ADOECIMENTO DE PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO
BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA: ASPECTOS HISTÓRICOS,
AVANÇOS E DESAFIOS INERENTES ÀS ATIVIDADES

Loic Hernandez do Amaral e Aragão, Josélia Souza de Medeiros, Marlisson


Paulo Pinheiro da Silva, Yannine Nery do Nascimento

Introdução

Não é incomum observarmos nos diferentes cenários de práti-


ca laboral o adoecimento de profissionais por diversas causas. Para
além das condições ambientais a que o/a trabalhador/a está expos-
to/a durante a execução de suas atividades, bem como as próprias
características da sua atuação, destaca-se o processo de trabalho
como elemento de igual importância a ser considerado e que tam-
bém pode oferecer riscos à saúde.
O processo de trabalho é entendido, de acordo com Souza et.
al. (2015), como “uma prática social destinada a um determinado
objeto, que deve ser transformado em um produto, fazendo uso de
instrumentos para atingir uma finalidade específica”. Além disso,
quando pensamos no “conjunto de ações coordenadas, desenvolvi-
das pelos trabalhadores, onde indivíduos, famílias e grupos sociais
compõem o objeto de trabalho, e os saberes e métodos representam
os instrumentos que originam a atenção em saúde”, de acordo com
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Processos de trabalho em saúde e o adoecimento de profissionais da atenção básica e saúde da família

Fontana et. al. (2016), estamos diante do conceito de processo de


trabalho em saúde.
Em alguns casos, a elevada exigência física e mental evidencia
uma dimensão do trabalho que contribui para o adoecimento dos/
as trabalhadores/as e que se relaciona intimamente às exaustivas
jornadas de trabalho – com “hipersolicitação” aos/às trabalhadores/
as –, bem como à desvalorização desses e às situações que desenca-
deiam respostas de estresse, deste modo, considerando a importân-
cia de se analisar os determinantes do adoecimento e a complexidade
da relação entre o trabalho e a saúde do/a trabalhador/a (CARDOSO,
2015). Ainda de acordo com Cardoso (2015), há uma “justaposição de
riscos denominados clássicos, como os físicos e químicos, e os novos
riscos causados pela pressão do tempo e pela exigência de uma pro-
dutividade cada vez mais elevada”, assim, trazendo à luz das discus-
sões os “aspectos emocionais e psicológicos, com o pressuposto de
que elas não podem ser tratadas separadamente. ”
No contexto da saúde, aponta-se para uma redefinição do modelo
de cuidado, que concentra a sua atenção ao indivíduo e suas dimen-
sões próprias – biopsicossociais –, que requer um caráter relacional,
permitindo o acolhimento do próprio indivíduo e das suas queixas, a
formação de vínculo e a real compreensão dos problemas para a cons-
trução de um projeto terapêutico resolutivo (BROTTO & DALBELLO-
-ARAUJO, 2012). Essa forma de trabalho relacional é bem visualizada
quando tratamos, no Sistema Único de Saúde (SUS), da Atenção Bá-
sica e Saúde da Família (AB-SF) por meio de sua estratégia de modelo
assistencial, estruturando-se a partir dos vínculos, do contato direto e
permanente com a população no território e da compreensão amplia-
da do processo saúde-doença, refletindo tecnologias leves de saber,
porém com grande diversidade (OLIVEIRA & PEREIRA, 2013).
Ainda que estejamos nos referindo a baixas densidades tecnoló-
gicas em formas de ofertar cuidado em saúde, é importante ressaltar
que nem sempre os/as profissionais da saúde, neste caso, da AB-SF,
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Loic Hernandez do Amaral e Aragão, Josélia Souza de Medeiros, Marlisson Paulo Pinheiro da Silva,
Yannine Nery do Nascimento

estarão isentos dos impactos negativos que o processo de trabalho


poderá oferecer, perdendo-se a dimensão cuidadora como consequ-
ência que produzirá efeito direto sobre os/as usuários/as por decor-
rência do adoecimento do/a trabalhador/a e da insatisfação para o
exercício profissional (BROTTO & DALBELLO-ARAUJO, 2012).
É neste cenário que se figura a importância de se estabelecer um de-
lineamento acerca dos aspectos históricos que contribuíram para a for-
mação do atual modelo assistencial de cuidado em saúde, repercutin-
do nas principais características ordenadoras do processo de trabalho
na AB-SF, que determinam o adoecimento profissional e como este ce-
nário impulsionou a criação de uma política de atenção voltada para
a saúde do/a trabalhador/a de caráter eminentemente vigilante, pro-
tetor e preventivo, sem comprometer as ações assistenciais e curativas.
Outrossim, identificar os avanços e os desafios para o trabalho li-
vre de riscos à saúde dos/as profissionais da saúde na AB-SF permite
que estratégias sejam pensadas para otimizar o processo de trabalho
em saúde, a efetividade das ações, a garantia da resolutividade de de-
mandas esperadas, a qualidade dos serviços prestados, de modo que
o potencial dos/as trabalhadores/as possa ser alcançado sem que o
adoecimento e os demais acometimentos à saúde e suas repercus-
sões sociais sejam recorrentes no contexto laboral.

Aspectos históricos relacionados à saúde do/a trabalha-


dor/a e processos de trabalho e adoecimento na AB-SF

Historicamente, é possível destacar a preocupação acerca da Saú-


de do Trabalhador e da Trabalhadora (STT) paralelamente ao perío-
do do Movimento da Reforma Sanitária no Brasil, durante a década
de 1970, contribuindo para as discussões que aconteceriam anos
após, durante a VIII Conferência Nacional de Saúde e a I Conferên-
cia Nacional de Saúde do Trabalhador (GOMEZ et al., 2018). Trata-se,
de acordo com Lacaz et. al. (2019), de um período de construção de
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Processos de trabalho em saúde e o adoecimento de profissionais da atenção básica e saúde da família

“convenções e acordos coletivos de trabalho, mediante a negociação


de cláusulas relativas à organização nos locais de trabalho visando
ao controle da nocividade, e em defesa da saúde”, permitindo o ques-
tionamento relativo “às condições e ambientes de trabalho insalu-
bres e sua repercussão na saúde dos trabalhadores, mediante avalia-
ções públicas dessas condições/ambientes”.
De acordo com Gomez et. al. (2018), ao final da VIII Conferência
Nacional de Saúde, destacou-se que “o trabalho em condições dig-
nas e o conhecimento e controle dos trabalhadores sobre processos
e ambientes de trabalho são pré-requisitos para o pleno exercício
do acesso à saúde”. Assim, já se discutia processos de trabalho como
determinante do processo saúde-doença corroborando a ideia de
instrumento para a compreensão adequada da dimensão social e
histórica do trabalho e dessa relação (AMORIM et. al., 2017; GOMEZ
et. al., 2018).
É importante ressaltar que ambas as conferências citadas ante-
riormente contribuíram, em termos de marco político normativo no
Brasil, para a concepção de STT como um direito universal garanti-
do pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado por meio da
Lei 8.080/1990, permitindo a atenção aos/às trabalhadores/as desde
a assistência e vigilância ao controle das condições e dos ambien-
tes de trabalho (GOMEZ et. al., 2018). Ainda, a lei orgânica da saú-
de apresenta em seu arcabouço uma busca pelo rompimento com
o modelo biomédico hegemônico tradicional em detrimento de um
modelo de atenção ampliado e centrado no usuário e nos determi-
nantes e condicionantes de saúde.
Assim, iniciou-se uma mudança considerável nos processos de
trabalho, no que diz respeito a AB-SF, por meio da Estratégia Saú-
de da Família (ESF), de acordo com Pavoni & Medeiros (2009), “pelo
trabalho interdisciplinar e em equipe, pela valorização dos diversos
saberes e práticas na perspectiva de uma abordagem integral e re-
solutiva, e pelo acompanhamento e avaliação sistemática das ações
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Loic Hernandez do Amaral e Aragão, Josélia Souza de Medeiros, Marlisson Paulo Pinheiro da Silva,
Yannine Nery do Nascimento

implementadas”. Ressalta-se, ainda, que o surgimento da ESF, ante-


riormente implantada como um programa, em 1994, buscou a reo-
rientação do modelo assistencial de saúde, por meio da formulação
de novas práticas de cuidado que devem considerar o paradigma da
produção social de saúde, como destacam Leite & Veloso (2009).
Ademais, a aprovação da Política Nacional de Atenção Básica, no
ano de 2006, redefiniu a forma de ofertar atenção em saúde, abran-
gendo as ações de promoção e proteção da saúde, além da prevenção
de agravos e do diagnóstico e tratamento, de caráter individual ou
coletivo. Embora as perspectivas das práticas de saúde tenham me-
lhorado, de acordo com Damasceno & Merces (2020), “os trabalha-
dores deste modelo de atenção à saúde estão expostos à realidade
dos conflitos sociais das comunidades e ao estresse decorrente da
violência nestas áreas”, ressaltando também a convivência direta
“com o sofrimento do próximo, com a escassez de recursos e a imen-
sa demanda de responsabilidades, que afetam a resolutividade das
ações” e que este cenário contribui para “o desenvolvimento de do-
enças ligadas ao trabalho”.
Diante disso, torna-se necessário entender quais os avanços con-
tribuíram para os processos de trabalho no âmbito da AB-SF e como
os desafios se figuram, solicitando uma reflexão inadiável para a
proposição de medidas de promoção e proteção à saúde do trabalha-
dor e da trabalhadora.

Avanços

Considerando a necessidade de se efetivar os princípios e dire-


trizes do SUS e da Atenção Primária à Saúde, a nova dinâmica de
trabalho passou a se distanciar daquela existente na atenção hos-
pitalar e se deslocou para as práticas gerenciais e sanitárias “execu-
tadas sob a forma do trabalho em equipe, dirigidas a populações de
áreas territoriais específicas [...], levando em consideração a dinami-
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Processos de trabalho em saúde e o adoecimento de profissionais da atenção básica e saúde da família

cidade do território, assumindo-se a responsabilidade de resolver os


problemas mais frequentes e relevantes do território”, como expõem
Carvalho et. al. (2016).
Para este novo contexto laboral, destacam-se a criação da Política
Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT), em
2012, e a implementação da Vigilância em Saúde do Trabalhador (VI-
SAT) com ações voltadas para a AB-SF, por meio da Política Nacional
de Vigilância em Saúde, a partir do ano de 2018. No entanto, desde
o ano de 2011, com o estabelecimento das diretrizes da Política Na-
cional de Promoção da Saúde do Trabalhador do Sistema Único de
Saúde, foram reforçados os princípios gerais para as ações da VISAT
com enfoque na promoção e na proteção da saúde dos/as trabalha-
dores/as, incluindo-se aqueles/as da AB-SF (CARVALHO et. al., 2016).
Neste cenário, a referida política estabeleceu a universalidade, a de-
mocratização das relações de trabalho e a integralidade da atenção
à saúde do/a trabalhador/a do SUS, bem como a qualidade do tra-
balho, a humanização do trabalho em saúde e a valorização dos/as
trabalhadores/as, dentre outros (BRASIL, 2011).
Além disso, outro avanço importante para a AB-SF foi a disposi-
ção da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador
(RENAST), em articulação com a VISAT, para analisar os contextos
de trabalho e de produção de atividades e ações dos/as trabalhado-
res/as, com vistas, dentre outros aspectos, à articulação intersetorial
de forma ampla e fortalecida e ao incentivo à produção científica na
área, a partir do reconhecimento da importância de se compreender
a organização do trabalho e todas as suas interfaces até a produção
do cuidado em saúde. (LACERDA E SILVA et. al., 2014).
Ainda, o processo de trabalho em saúde na AB-SF recebeu gran-
des contribuições a partir da organização da rede de atenção. Em
seu estudo qualitativo, Lacerda e Silva et. al. (2014) destacaram fa-
las das equipes de saúde da família, que apontam o acesso, a longi-
tudinalidade e a coordenação do cuidado como essenciais no dia a
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Loic Hernandez do Amaral e Aragão, Josélia Souza de Medeiros, Marlisson Paulo Pinheiro da Silva,
Yannine Nery do Nascimento

dia dos/as trabalhadores/as, embora também apontem dificuldades


para a efetivação destes atributos da atenção primária.
Por sua vez, a instituição do Núcleo Ampliado de Saúde da Fa-
mília (NASF-AB), previamente conhecido como “núcleo de apoio”, a
partir de sua portaria normativa nº 154 de 24 de janeiro de 2008,
caracterizou-se como um avanço e fortaleceu a corresponsabiliza-
ção e a gestão integrada do cuidado nos processos de trabalho da
AB-SF, contribuindo com seu caráter multiprofissional assistencial
e de apoio matricial, que potencializa a coordenação do cuidado e o
compartilhamento de diferentes saberes dos núcleos profissionais,
otimizando os atributos citados anteriormente (LEITE et. al., 2014;
LACERDA E SILVA et. al., 2014).
É importante ressaltar a implementação do Programa de Melho-
ria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), em 2011,
contribuindo, no tocante ao processo de trabalho em saúde, para um
maior controle das atividades realizadas, acompanhamento do tra-
balho, a busca de soluções e as reflexões dos/as profissionais acerca
de mudanças necessárias durante o processo, de forma a empode-
rar e conferir autonomia aos membros da equipe (FERREIRA et. al.,
2018). Diante disso, vale evidenciar que a satisfação pelo trabalho
pode ser identificada como um fator psicossocial protetivo contra o
adoecimento e que favorece a saúde e o bem-estar dos/as profissio-
nais, estando relacionada a condições dinâmicas e subjetivas que in-
fluenciam na saúde física, mental e social (TAMBASCO et. al., 2017).

Desafios

Embora possamos identificar inúmeros avanços no contexto da


AB-SF e dos processos de trabalho, destaca-se que o modelo de aten-
ção fragmentado repercute até o momento atual, conferindo pouca
importância à saúde do trabalhador e da trabalhadora e potencia-
lizando o sofrimento das equipes (SALDANHA DA SILVEIRA et. al.,
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Processos de trabalho em saúde e o adoecimento de profissionais da atenção básica e saúde da família

2019). Além disso, as demandas do trabalho na AB-SF caracterizadas


pelo envolvimento com a autonomia das pessoas e os seus determi-
nantes e condicionantes de saúde, além da pressão da comunidade,
produzindo impactos de ordem física e emocional, carecem de aten-
ção e refletem a ocorrência de estresse e insatisfação com o trabalho
(MEDEIROS et. al. 2016); por conseguinte, o adoecimento dos/as tra-
balhadores/as.
Outrossim, Medeiros et. al. (2016) apontam que “a realização do
trabalho em equipe, a falta de recursos materiais e o relacionamento
interpessoal com a comunidade e a chefia se constituem no maior
fator de influência do trabalho sobre a saúde”. Isto é justificado por
esses mesmos autores pois, diariamente, os/as trabalhadores/as são
cobrados/as por resultados, conferindo uma carga cognitiva asso-
ciada à responsabilidade profissional e uma carga psíquica decor-
rente das relações. Neste cenário, “os ACS [agentes comunitários de
saúde], por residirem na comunidade, são mais cobrados e possuem
maior tendência ao desgaste psicológico, além de apresentarem
maiores queixas físicas devido às peculiaridades de seu trabalho”,
como demonstram Medeiros et. al., (2016). Ademais, os aspectos re-
lacionados ao trabalho em equipe multiprofissional também emer-
gem como um desafio à medida que os membros do processo de tra-
balho se distanciam e criam tensões no ambiente, que contribuem
para o adoecimento profissional e a redução da qualidade de aten-
ção (MEDEIROS et. al., 2016).
Adicionalmente, outros fatores estão associados aos adoecimen-
tos dos profissionais da AB-SF, sobretudo os adoecimentos mentais,
e que se caracterizam como desafios que precisam ser superados a
fim de otimizar os processos de trabalho nesse nível de atenção. Den-
tre eles, destacam-se os baixos salários e as condições inadequadas
de trabalho, assim como a desarticulação da rede de atenção e a ge-
rência vertical (MEDEIROS et. al., 2016). Para mais, é imperativo não
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Loic Hernandez do Amaral e Aragão, Josélia Souza de Medeiros, Marlisson Paulo Pinheiro da Silva,
Yannine Nery do Nascimento

negligenciar os desafios relacionados aos riscos dentro das unidades


de saúde, que decorrem da organização do trabalho e contemplam
as relações humanas, a rotina do serviço e o aporte insuficiente de
equipamentos de proteção individual (MEDEIROS et. al., 2016). Além
disso, no tocante aos conflitos existentes, podemos considerar como
outro desafio importante as limitações que refletem um processo de
formação inadequado e fragmentado, que é bastante influenciado
por um modelo de atenção técnico-assistencial e que cria barreiras
entre as relações humanas.
Para além dessas perspectivas apresentadas, um fato curioso deve
ser ressaltado como desafio também: há uma baixa produção de es-
tudos que relacionam a saúde e o trabalho em saúde e, mesmo com
as investigações já existentes, observam-se trabalhos fragmentados
e dispersos, sobretudo no tocante à AB-SF, embora seja reconhecido
o aumento da incidência de adoecimentos nos/as profissionais deste
nível de atenção (CARVALHO et. al., 2016). Dessa forma, a carência de
informações dificulta as intervenções sobre os fatores contextuais
do trabalho na AB-SF que potencializam as suas características no-
civas e repercutem no adoecimento do/a trabalhador/a.
Ainda, de acordo com Lucchese et. al. (2019), um dos maiores desa-
fios encontrados no modelo da AB-SF é a prevalência da insatisfação
no trabalho causada muitas vezes pela demanda excessiva, assim
como pela baixa remuneração e por demandas externas decorrentes
da equipe de trabalho e da gestão com influência político-partidária
que desmotivam o/a trabalhador e desconstroem as perspectivas de
oferta de cuidado com qualidade. Por fim, Gomez et. al. (2018) ressal-
tam outros desafios que persistem atualmente como a ausência da
cultura de saúde do trabalhador e a resistência das vigilâncias tradi-
cionais, além da ineficiência das ações inerentes ao governo em suas
diferentes esferas, no tocante à saúde do/a trabalhador/a no SUS.
Diante desses desafios apontados, portanto, percebe-se a urgência
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Processos de trabalho em saúde e o adoecimento de profissionais da atenção básica e saúde da família

de uma atenção voltada para o público em questão, de forma a mini-


mizar os impactos diversos do adoecimento decorrente do trabalho,
sejam de ordens físicas, psíquicas ou sociais.

Considerações Finais

É importante considerar que a reorientação do trabalho em saú-


de, proposta por um novo modelo de atenção, a partir da criação do
SUS, teve suas bases históricas em movimentos de grande repercus-
são, que buscaram novas formas de ofertar cuidado aos indivídu-
os, com enfoque na integralidade das ações. Desta forma, esse novo
modelo aproximou os/as profissionais de saúde da população e de
suas demandas, sobretudo no nível da AB-SF, pelo contato direto e/
ou indireto com os determinantes e condicionantes dos diferentes
territórios.
À medida que os processos de trabalho se adaptavam à nova
realidade, algumas demandas dos/as trabalhadores/as emergiram
e impulsionaram debates acerca da necessidade de se discutir
e promover saúde e qualidade de vida e trabalho neste nível de
atenção. Neste contexto, alguns marcos políticos normativos foram
fundamentais na construção de políticas e programas que passaram
a contemplar o cuidado sobre a dinâmica dos processos de trabalho
no SUS, com vistas a redução dos agravos e doenças relacionados à
prática laboral e as demais repercussões do adoecimento.
Alguns avanços puderam ser observados, como a instituição de
políticas nacionais de saúde do/a trabalhador/a, além da vigilância
em saúde, da ampliação das equipes e dos incentivos aos processos
de trabalho na AB-SF, otimizando a organização e a qualidade da
atenção e influenciando na satisfação e disposição para o trabalho
como forma de proteção contra agravos e doenças.
Por outro lado, podemos observar desafios diários inerentes às
atividades e que influenciam também nos processos de trabalho da
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Loic Hernandez do Amaral e Aragão, Josélia Souza de Medeiros, Marlisson Paulo Pinheiro da Silva,
Yannine Nery do Nascimento

AB-SF, demandando uma urgência na proposição de novas medi-


das de proteção à saúde dos/as trabalhadores/as. Tais desafios in-
cluem as dificuldades das relações entres os indivíduos, seja dentro
da equipe multiprofissional ou entre profissionais e usuários/as de
saúde, mas também entre profissionais e a gestão do SUS. Também
se destacam a desvalorização profissional e as péssimas condições
de trabalho – desde a estrutura física das unidades de saúde à falta
de equipamentos de proteção individual, bem como à organização
do processo de trabalho –; por conseguinte, levando à insatisfação
profissional e ao acometimento por doenças, sobretudo aquelas de
ordem psíquica e emocional. Além disso, há uma carência de estu-
dos que correlacionem de forma unificada a saúde do trabalhador
da AB-SF e os processos de trabalho em sua rotina diária, dificul-
tando a identificação dos fatores contextuais que contribuem para
o adoecimento e o afastamento do trabalho. Nota-se, portanto, uma
incongruência entre os avanços e os desafios, até mesmo uma cor-
relação entre estes aspectos, requerendo cautela no que diz respeito
ao entendimento dos determinantes de (in)satisfação pelo trabalho.
Desta forma, percebe-se a importância de se adequar as deman-
das do processo de trabalho na AB-SF às necessidades inadiáveis
dos/as trabalhadores/as, podendo-se sugerir que, para além da re-
orientação das práticas em saúde, sejam fundamentais a reorienta-
ção da formação profissional e a articulação entre gestores/as para
o fortalecimento das ações de vigilância em saúde e de estruturação
do SUS, contemplando-se os adequados financiamentos deste nível
de atenção e as medidas intersetoriais entre os diferentes segmentos
do governo.
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Processos de trabalho em saúde e o adoecimento de profissionais da atenção básica e saúde da família

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BOAS PRÁTICAS PROFISSIONAIS ENVOLVENDO
PERÍCIAS JUDICIAIS TRABALHISTAS EM
LIDES CAUSADAS POR CONSTRANGIMENTOS
FÍSICOS ERGONÔMICOS

Marcos André Santos Guedes

Introdução

Ao considerar a literatura atual especializada no contexto peri-


cial forense o que se observa é uma pequena produção científica que
se estreita vertiginosamente quando a pesquisa retrata metodolo-
gias periciais que visem auxiliar o trabalho do investigador, espe-
cialmente quando a questão envolver úteis ações que resultem em
resultados satisfatórios no esclarecimento de doenças intrínsecas
relacionadas ao grupo dos movimentos repetitivos.
Ao considerar que as doenças pertencentes ao grupo das Lesões
por Esforços Repetitivos – LER, conhecidas também por Doenças
Osteomusculares Resultantes do Trabalho – DORT, assume dificul-
dades na sua caracterização diagnóstica, Marques, et al (1999, p. 02),
aponta que esta falta de certeza advém de aspectos multifatoriais
com que as doenças podem se manifestarem, bem como por ele-
mentos importantes como: biomecânicos, pessoais, organizacionais,
e psicossociais que possuem a capacidade de conduzir a diferentes
diagnósticos clínicos.
- 180 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

A complicada evidenciação de particularidades diagnósticas nos


leva a acreditar que os desafios não se resumem somente no ato inves-
tigatório em caracterizar a doença por si só, mas também se observa
que a própria definição pelo melhor tratamento com que o paciente/
trabalhador deverá ser conduzido também requer astúcia plena.
Segundo o trabalho desenvolvido por Bellusci (1996, p.113 a118),
o tratamento de pacientes acometidos por doenças integrantes do
grupo LER/DORT sugere um rigor no tocante as responsabilidades
interdisciplinares e multiprofissionais da equipe envolvida no tra-
tamento, bem como na tomada de decisão clínica quando diante do
tratamento a ser empregado.
Assim depreende-se uma necessidade de aproximação do corpo
médico quando do seu compromisso em reconhecer a presença ou
ausência de uma doença do grupo LER/DORT, e a controvérsia pro-
cessual sobre o nexo de causalidade e/ou a capacidade funcional
laboral a ser praticada por outros profissionais técnicos da área de
saúde não necessariamente médicos. Agindo em simbiose multipro-
fissional esperam-se maiores e melhores subsídios que poderão ser
utilizados pelo corpo clínico num tratamento futuro indicado para
o paciente que se acometeu.
Com efeito, os estudos ergonômicos demonstram possuir poten-
cial para uma articulação dos interesses, ou seja, uma assertividade
no processo investigativo pericial quando das avaliações/visórias ou
exames de determinado fato/estado revelador de um nexo-causal,
e a definição das melhores linhas de tratamento a ser seguido pelo
trabalhador/paciente adoecido.
Por sua vez, se temos a possibilidade do conhecimento ergonô-
mico contribuir, também, para o balizamento numa pericia forense
trabalhista em busca do nexo-causal em uma lide de LER/DORT, à
vista disto extrai-se que a maioria dos corpos periciais desconhece
o potencial desta ciência, sobretudo quanto às ferramentas ergonô-
micas de avaliação ambiental servirem como uma boa prática no
- 181 -
Marcos André Santos Guedes

ato pericial. Se a prova pericial constitui o instrumento por meio do


qual a convicção do juiz se instala, então os profissionais interessa-
dos em atuar no segmento da justiça trabalhista deverão se aprofun-
dar e apresentar seus meios de provas legítimos pautados no âmbito
do conhecimento especial, técnico ou científico, tal como defendido
por SALIBA (2015, p. 10).
Com a exposição dessas informações iniciais aditados as necessi-
dades de que o produto final do expert forense assuma real maestria
balizadora nas decisões forenses, e considerando como base a inexis-
tência de método único, completo e autossuficiente na avaliação dos
constrangimentos físicos ergonômicos que levaram ao surgimento
de lides na justiça trabalhista, assim então reuniremos elementos
caracterizadores de boas práticas profissionais de expert forense
militantes nesta temática de descontentamento físico ergonômico.

As marcas do trabalho

A história brasileira pode ser explicada ou entendida através de


seus aspectos sociais, econômicos, políticos, (...), mas, sobretudo, fo-
calizar entendimento nas marcas produzidas pelo exercício moder-
no do trabalho tem demonstrado ser de extrema relevância a ponto
de não se poder nem se conseguir descartar aspectos de uma rea-
lidade como: A carência de diretrizes utilizadas como metodologia
investigativa em explicação ao nexo-causal dos adoecimentos ocu-
pacionais e em especial os pertencentes às enfermidades atribuídas
ao grupo da LER/DORT.
De fato, a preocupação atual com a saúde ampla e irrestrita do
trabalhador tem conduzido ao desenvolvimento de pesquisas e es-
tudos científicos afinados em solver os problemas laboral-ocupacio-
nais decorrentes de razões diversas, e dentre elas a que se observa de
um sentimento predominante de que todo trabalho carrega consigo
algo danoso, necessário para a vida, e sem solução completa.
- 182 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

Num olhar da sagrada escritura o sentimento que se mostra da


prática do trabalho remete claramente que seu realizar deve ser par-
te integrante da vida de todos, arremessando para o caminho da rea-
lização pessoal. Associar a realização do trabalho à felicidade do ser
humano deve ser uma premissa a ser desenvolvida. Se o sentido do
trabalho (labor) encontra-se estacionado na compreensão essencial
daquilo que o sentimento de prazer gera, então o aprofundamento
na sagrada escritura revela também ser possível existir um senti-
mento concorrente (nem mais superior ou inferior) do trabalho com
entendimento de labuta, ou seja, o manto do sacrifício acompanha
todo aquele que assim pratica um trabalho em geral, e ainda sendo
possível incorrer um dano potencializado diante das não observa-
ções quanto às leis do trabalho correto.
A ciência ergonômica tem na Norma Regulamentadora – NR-17
da Portaria 3214/78, do antigo Ministério do Trabalho que aprova
as normas regulamentadoras em sintonia com o Capítulo V, Título
II, da Consolidação das Leis do Trabalho-CLT relativas à Segurança
e Medicina do Trabalho, sua legislação mais específica direciona-
da para a necessidade que todo trabalho atinja uma prática segura
combinada com bem estar e conforto do trabalhador. A norma esta-
belece logo na sua abertura aquilo que será detalhando ao longo de
todo o seu regulamento, e que em razão do seu conteúdo reproduzi-
mos parte desta legislação:

17.1 Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer parâme-


tros que permitam a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a
proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempe-
nho eficiente;
17.1.1 As condições de trabalho incluem aspectos relaciona-
dos ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao
mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do
posto de trabalho e à própria organização do trabalho;
- 183 -
Marcos André Santos Guedes

17.1.2 Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às


características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao
empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, de-
vendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de traba-
lho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora.

Para Paiva, et al, (2020, p. 02 a 04) a NR-17 surgiu com objetivo


em regular a necessidade de adaptação do ambiente de trabalho ao
operário em serviço, bem como estabelecer parâmetros, procedi-
mentos e metas para tal. Se este foi o sentimento que pairou quando
da construção da diretriz legal nacional em Ergonomia observa-se
que há lacunas na legislação que ainda não foram devidamente es-
clarecidas a exemplo do detalhamento da metodologia de avaliação
ergonômica e especificação de limites necessários para o trabalho.
Deste modo, os desafios profissionais dos especialistas em ergono-
mia que atuam nas cortes trabalhistas em lides voltadas a questões
de nexo-causal envolvendo doenças do grupo LER/DORT acabam
aumentando pela improdutiva legislação em vigor.
De uma forma contrária, Guimarães (2004, p. 02 a 07) revela a
existência de um aumento da participação da Ergonomia nos litígios
envolvendo confiabilidade de produtos. A solicitação por especialis-
tas na área de Ergonomia como assistentes em questões envolvendo
o comportamento e expectativas do homem e sua reação a projetos
defeituosos tem crescido levemente nas cortes judiciais trabalhistas.

Doenças integrantes do grupo LER/DORT: Conceitos e


características

Reunir doenças ocupacionais em grupos que apresentem simi-


laridades parece ser uma ótima tática de estudo quando o objetivo
consiste em compreender seu funcionamento e ao mesmo tempo
permitir um maior controle da doença. Um exemplo disto advém
- 184 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

das legislações relativas a doenças osteomusculares, como o Decreto


6.957/09 que alterou o regulamento da Previdência Social.
As lesões por esforços repetitivos – LER sofreu uma evolução de
conceitos ao longo do tempo. Para Wagner, et al (2014, p. 7 a 9) a LER/
DORT no Brasil foi narrada inicialmente como um caso de tenos-
sinovite ocupacional - TO, mas foi em 1973 durante o XII Congres-
so Nacional de Prevenção a Acidentes de Trabalho que casos foram
apresentados atingindo especialmente as profissionais lavadeiras,
limpadoras e engomadeiras. Em 1987 a Previdência Social reconhece
a tenossinovite do digitador como parte integrante da classificação
das lesões por Esforços Repetitivos, mas foi somente em 1991 através
das publicações em conjunto do Ministério unificado do Trabalho e
Previdência Social que se reservou espaço para uma norma relativa
a LER/DORT, e assim integrante de um conjunto de normas técnicas
para avaliação de incapacidade existente na época.
A Seguradora Social Brasileira (Previdência Social) traz no anexo
da Instrução Normativa n. 98/2003 uma atualização clínica da LER/
DORT acompanhada de seu entendimento conceitual técnico-didá-
tico que se apresenta pela:

(...) caracterizada pela ocorrência de vários sintomas conco-


mitantes ou não, tais como: dor, parestesia, sensação de peso,
fadiga, de aparecimento insidioso, geralmente nos membros
superiores, mas podendo acometer membros inferiores. En-
tidades neuro-ortopédicas definidas como tenossinovites,
sinovites, compressões de nervos periféricos, síndromes mio-
faciais, que podem ser identificadas ou não. Frequentemente
são causa de incapacidade laboral temporária ou permanen-
te. São resultados da combinação da sobrecarga das estru-
turas anatômicas do sistema osteomuscular com a falta de
tempo para sua recuperação. A sobrecarga pode ocorrer seja
pela utilização excessiva de determinados grupos musculares
em movimentos repetitivos com ou sem exigência de esfor-
- 185 -
Marcos André Santos Guedes

ço localizado, seja pela permanência de segmentos do corpo


em determinadas posições por tempo prolongado, particular-
mente quando essas posições exigem esforço ou resistência
das estruturas musculoesqueléticas contra a gravidade. A
necessidade de concentração e atenção do trabalhador para
realizar suas atividades e a tensão imposta pela organização
do trabalho são fatores que interferem de forma significativa
para a ocorrência das LER/DORT (...).

Menegon, et al (2002, p. 48) apontam para publicações e deba-


tes que surgiram sobre a necessidade em associar doenças como a
tenossinovite e os trabalhos essencialmente de digitação. Aumen-
tou-se assim então, o quadro de doenças integrantes do grupo LER/
DORT como temos observado através de publicações mais recentes
como: Decreto n. 3.48/99 da Previdência Social, da lei 8.213/91, Decre-
to 6.957/09 da Previdência Social.
Esse cenário reafirma ser de grande relevância situar quais do-
enças ocupacionais fazem parte do grupo LER/DORT. Deste modo,
a tabela 1 abaixo traz uma compilação do anexo presente no Decreto
n. 6.957/09 da Previdência Social onde revela as principais doenças
do sistema físico osteomuscular e do tecido conjuntivo relacionado
a fatores de riscos ocupacionais, especialmente os provocados por
esforços repetitivos.

Tabela 1 – Descrição de doenças osteomusculares X agentes geradores


Agentes etiológicos ou fatores de risco de nature-
Doenças (cid)
za ocupacional (cid)
a) Outras Artroses (M19. -) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57. 8).
b) Outros transtornos articulares não classificados em outra Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
parte: Dor Articular (M25.5) Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) 
Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
c) Síndrome Cervicobraquial (M53.1)
Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7)
- 186 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

Agentes etiológicos ou fatores de risco de nature-


Doenças (cid)
za ocupacional (cid)
Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
d) Dorsalgia (M54.-): Cervicalgia (M54.2); Ciática (M54.3);
Ritmo de trabalho penoso (Z56.3)
Lumbago com Ciática (M54.4)
Condições difíceis de trabalho (Z56.5)
e) Sinovites e Tenossinovites (M65.-): Dedo em Gatilho
Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
(M65.3); Tenossinovite do Estilóide Radial (De Quer-
Ritmo de trabalho penoso (Z56.3)
vain) (M65.4); Outras Sinovites e Tenossinovites (M65.8);
Condições difíceis de trabalho (Z56.5)
Sinovites e Tenossinovites, não especificadas (M65.9)
f) Transtornos dos tecidos moles relacionados com o uso,
o uso excessivo e a pressão, de origem ocupacional
(M70.-): Sinovite Crepitante Crônica da mão e do punho
(M70.0); Bursite da Mão (M70.1); Bursite do Olécrano
Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
(M70.2); Outras Bursites do Cotovelo (M70.3); Outras
Ritmo de trabalho penoso (Z56.3)
Bursites Pré-rotulianas (M70.4); Outras Bursites do Jo-
Condições difíceis de trabalho (Z56.5)
elho (M70.5); Outros transtornos dos tecidos moles rela-
cionados com o uso, o uso excessivo e a pressão (M70.8);
Transtorno não especificado dos tecidos moles, relacio-
nados com o uso, o uso excessivo e a pressão (M70.9).
g) Fibromatose da Fascia Palmar: “Contratura ou Moléstia Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
de Dupuytren” (M72.0) Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7)
h) Lesões do Ombro (M75.-): Capsulite Adesiva do Ombro
(Ombro Congelado, Periartrite do Ombro)  (M75.0);
Síndrome do Manguito Rotatório ou Síndrome do Su- Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
praespinhoso (M75.1); Tendinite Bicipital (M75.2); Ten- Ritmo de trabalho penoso (Z56)
dinite Calcificante do Ombro (M75.3);  Bursite do Ombro Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7)
(M75.5); Outras Lesões do Ombro (M75.8); Lesões do
Ombro, não especificadas (M75.9)
i) Outras entesopatias (M77.-): Epicondilite Medial
Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
(M77.0); Epicondilite lateral (“Cotovelo de Tenista”);
Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7)
Mialgia (M79.1)
j) Outros transtornos especificados dos tecidos moles Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
(M79.8) Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7)
Fósforo e seus compostos (Sesquissulfeto de Fós-
k) Osteonecrose (M87.-): Osteonecrose devida a drogas foro) (X49.-; Z57.5)
(M87.1); Outras Osteonecroses secundárias (M87.3) Vibrações localizadas  (W43.-; Z57.7)
Radiações ionizantes (Z57.1)
l) Doença de Kienböck do Adulto (Osteo-condrose do Adulto
do Semilunar do Carpo) (M93.1) e outras Osteocondro- Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7)
-patias especificadas (M93.8)
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6957.htm (acessado em 15/03/2021)
- 187 -
Marcos André Santos Guedes

Ao considerar as informações da tabela acima se acredita tratar


de uma fonte balizadora prestigiada para os trabalhos praticados
pelo corpo pericial quando em investiduras periciais judiciais tra-
balhistas, especialmente quando a lide envolver constrangimentos
osteomusculares resultantes de movimentos repetitivos.
Nesse postulado as doenças alcançam uma explicita associação
com seus principais fatores estabelecedor, e que não obstante não se
deve alimentar como única fonte de consulta para a determinação
de nexo-causal litigioso.
O mesmo decreto traz também outro anexo importante: o reco-
nhecer dos perfis das atividades econômicas principais onde as do-
enças do grupo LER/DOR estão intrinsicamente presentes.
A partir dos estudos de Alacantara, et al (2009, p.5,6,7,8) vislum-
brou-se que o conteúdo desta correlação não deve ser entendido
como absoluta para definição da atividade econômica da empresa
onde seja encontrado o distúrbio, mas como de grande valia uma
vez que a delimitação via atividade econômica orienta o corpo pe-
ricial em sua compreensão de convergir às atividades encontradas
nestas organizações como algo intrínseco aos distúrbios observados,
além disto denuncia o tipo de benefício praticado pela Previdência
Social através da existência de uma definição de nexo-causal com o
trabalho (DORT definido = benefício B91) ou uma indefinição com o
trabalho (DORT indefinido = benefício B31).
A classificação pela Previdência Social de benefícios distintos
para origens de LER/DORT com nexo-causal definido ou indefinido
suscita pistas que se utilizou também dos sintomas manifestados
pelo trabalhador para tal propositura. Diferentes graus de classifi-
cação da LER/DORT são definidos em função do aparecimento da
gravidade de seus sintomas, como por exemplo, relacionados à: Dor,
controle dos movimentos, inchaços, força, status psicológicos. Para
tanto, Medeiros et al (2012, p.50 a 52) aponta para os seguintes está-
- 188 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

gios definidos, que em razão do seu conteúdo, objetividade e clareza


de ideias tomamos a liberdade de reproduzir, in verbis:

a) Grau I: Representa a fase inicial das lesões, onde as queixas


são subjetivas e a dor rara. Há relatos de sensação de peso e des-
conforto na região afetada, como braços e ombros, sensação
essa evidenciada geralmente pela manhã, ao levantar. Pode ha-
ver dor quando a região afetada for comprimida e comumente
os portadores relatam que os objetos comuns parecem mais
pesados do que o habitual. Neste estágio as LER dificilmente
prejudica o rendimento no trabalho e o prognóstico é ótimo;
b) Grau II: A dor nesta fase é mais intensa e localizada e au-
menta à medida que o quadro clínico evolui. A sintomatologia
dolorosa está presente durante o trabalho cotidiano, de for-
ma intermitente. A dor, apesar de ser de média intensidade, já
afeta o rendimento no trabalho, principalmente nos momen-
tos de exacerbação. Pode haver calor, parestesia, leve edema
e alterações de sensibilidade. O repouso e a desaceleração do
ritmo de trabalho proporcionam o desaparecimento da dor. O
prognóstico é bastante favorável;
c) Grau III: nesta fase a dor se intensifica ainda mais, tor-
nando-se persistente. Os trabalhadores têm mais queixas. O
repouso somente alivia a dor, mas ela persiste. É comum a
perda da força muscular e a parestesia. O edema é frequente
e ocorre hipertonia muscular e sensível queda na produtivi-
dade. Há dificuldades para segurar objetos e as tarefas coti-
dianas ficam prejudicadas. Há dificuldade para dormir e dor
noturna. O afastamento das atividades laborais para poupar
os membros afetados evitando dores já não surte mais efeito.
Há edema bem pronunciado na região afetada, calor, crepi-
tação, perda de movimentos, mãos frias e suadas e muita dor
durante a realização de movimentos simples. O prognóstico é
reservado e depende muito do pronto-atendimento;
d) Grau IV: esta fase é a mais grave e a de maior sofrimento para
o paciente. A dor é muito intensa e constante, podendo chegar
- 189 -
Marcos André Santos Guedes

ao insuportável. Qualquer movimento é fator agravante para a


dor. Ocorrem atrofias, principalmente dos dedos, perda da for-
ça muscular e dos movimentos. O paciente perde a capacidade
de trabalho e fica inválido. Essa fase é caracterizada por distúr-
bios psicológicos, depressão, ansiedade e angústia, exatamente
pela perda da capacidade laboral e pelas dificuldades cotidia-
nas impostas pela doença. O prognóstico é sombrio. O próprio
paciente não acredita na sua capacidade de recuperação.

Estudos mostram que diagnosticar as doenças do grupo LER/


DORT não representa um ato de investigação simples. Para Ramos
(2012, p. 12 a 15) o fato de o termo LER/DORT assumir caráter gené-
rico já condiciona, por si só, a necessidade do corpo médico em cer-
car-se de maiores subsídios para um diagnóstico específico. Uma das
dificuldades, neste sentido, reside no fato da grande variedade de
patologias distintas poderem se instalar e evoluir de forma distinta
em razão de sua etiologia ou até mesmo pelo tempo necessário para
que uma lesão persistente migre para uma condição crônica.
Ainda de acordo com Ramos (2012, p. 12 a 15) em geral sabe-se
que conforme estabelecido o diagnostico para lesões musculares ini-
cia-se com uma história clínica detalhada do trauma, seguida por
um exame físico com inspeção e palpação dos músculos envolvidos,
bem como a realização de testes de função com a presença ou não
de resistência externa.
Medeiros et al (2012, p.50 a 52) apontam que diagnosticar trau-
mas pertencentes ao grupo LER/DORT deva ser basicamente clínico
e como regra inicia-se pelo estudo da vida profissional pregressa do
paciente, da história da doença e do exame físico minucioso. Segun-
do Filho et al (2004, p.154,155,156) os fatores envolvidos na gênese
desses distúrbios apontam para aspectos multifatoriais, e assim per-
mitindo um debate em aspectos como: As limitações na caracteri-
zação dos traumas encontrados nos quadros clínicos e os aspectos
envolvidos na cognição das causas provocadoras.
- 190 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

Metodologia

O estudo aqui desenvolvido assumiu características de análises


qualitativas em pesquisas técnico-jurídicas relevantes relacionadas
à atividade do perito forense em lides ergonômicas. Tal identificação
como pesquisa não quantitativa deu-se pelo entendimento de que
números e estatísticas não conseguem retratar com fidelidade com-
portamentos, e atitudes dos peritos judiciais em seus atos periciais, e
assim possibilitassem a reunião de um perfil de regras de ouro a ser
conhecida e fomentada entre os profissionais militantes neste âmbito.
A identificação dos estudos técnico-jurídicos, voltados para a
área de atuação pericial em constrangimentos ergonômicos, desen-
rolou-se via pesquisa no portal do Google Acadêmico sempre utili-
zando palavras-chaves relacionadas à abordagem temática apresen-
tada. De maneira não fútil foi também combinado com matrizes de
pesquisas de estudos já praticados por este autor em outros estudos
correlacionados.
A força no reconhecimento tipificado como de boas práticas
periciais judiciais, que adveio como consequência das análises das
fontes pesquisadas, ocorreu pela averiguação técnica direta do valor
prático alto ou baixo contributivo do objeto pesquisado.

A atuação de profissionais Engenheiros em perícias


forenses ergonômicas e suas legislações balizadoras

O advento do século XXI não pressupõe que os estudos direciona-


dos para os profissionais que atuam com causas periciais trabalhis-
tas encontrem-se exaurida. Muito pelo contrário, o que se observa
na hodiernidade dos tempos é um nível raso de bibliografia dirigida
a estes profissionais, sobretudo aos profissionais Engenheiros.
Refletir sobre as demandas provenientes da modernidade dos
tempos faz todo o sentido, principalmente quando se observa uma
- 191 -
Marcos André Santos Guedes

exigência desenfreada de conhecimentos e domínios amplos e pro-


fundos em determinadas especialidades profissionais, sobretudo da-
queles que atuam em causas jurídicas.
Conhecer a matéria de formação profissional e suas minúcias
permitirá não apenas atuar em outras áreas como a jurídica, mas
consentirá criar uma proteção própria diante do chamado erro pro-
fissional. Segundo Nascimento (2011, p.14 a 20), que atua como juiz
do trabalho a cerca de 30 anos, há uma tendência comum do en-
volvimento de profissionais Engenheiros como parte integrante das
ações que transitam na justiça, e isto se deve pelo desconhecimento
da legislação e os procedimentos administrativos e legais que deve-
riam ser observados caso a caso, pois os cursos superiores e médios
não contem disciplinas de caráter legal que permitisse o conheci-
mento prévio sobre as nuances que envolvem o erro profissional.
Em todo trabalho desenvolvido por profissional qualificado
pressupõe-se, ao ter sido designado para um ato pericial, que este
tenha alcançado a completude profissional das coisas, não só dos
conhecimentos teóricos e práticos alcançados na academia e que
envolvem a formação específica assumida, mas acompanhada
também e, portanto não menos importante, de tudo aquilo que ga-
rantirá que seu exercício possa seguir adiante sempre alicerçado
em aspectos como os defendidos por Nascimento (2011, p.14 a 20)
e por Ascari et al (2017, p. 02, 03) tais como: A busca incessante da
verdade dos fatos pelo uso de regras técnicas de ouro, pela prática
integral da lei em seu sentido mais puro de proclamar o cidadão
como fim e fundamento do direito entrelaçando-se com a busca do
bem comum, pela prestação do melhor serviço necessário, e não
tão distante incluiríamos outros aspectos como a necessidade in-
cansável em atualização da matéria tendo a curiosidade sua mola
propulsora, dentre outros.
Sobre a finalidade da lei e suas nuances observa-se que o princí-
pio do bem comum numa visão teológica se apresenta como:
- 192 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

O fim da lei é o bem comum. A lei deve ser escrita não em


vista de um interesse privado, mas a favor da utilidade co-
mum dos cidadãos. “Portanto é necessário que as leis hu-
manas sejam proporcionadas ao bem comum” (Tomás de
Aquino. Suma Teológica. Ascari et al (2017, p. 02, 03).

Dantas et al (2013, p. 1, 2, 3, 4) complementa que o perito precisa


ser um profissional habilitado, legal, cultural, e intelectualmente, e
deve exercer virtudes morais e éticas com total compromisso com a
verdade.
Segundo Nascimento (2011, p.14 a 20), nessa busca de alicerces
cada vez mais sólidos os profissionais Engenheiros devem obedecer
e respeitar não só as leis (a todo o perito não lhe é dado o direito do
desconhecimento das leis), como também a boa técnica (chamamos
sua atenção para a importância desta), e o dever de sempre cumprir
as regras de conduta, evitando a imperícia, imprudência e a negli-
gência, em outras palavras, evitando sempre o erro profissional que
possa acontecer. Avançar na compreensão de cada dimensão tridi-
mensional apontada se faz necessário.
De acordo com Dantas et al (2013, p. 1, 2, 3), uma perícia é conheci-
da no âmbito das ciências jurídicas como perícia forense, e como tal
constitui-se numa medida de instrução necessitando de investiga-
ções complexas, confiadas pelo juiz, a cargo de um especialista que
trará, através de todo o seu conhecimento e competência, informa-
ções detalhadas sobre as questões técnicas as quais foi designado a
desvendar, neste caso especialmente sobre as disfunções do sistema
osteomuscular integrantes da DORT.
Em outra obra de Nascimento (2011, p.19 a 40) afirma que a perí-
cia judicial é a prova técnica produzida durante a etapa de instrução
processual na forma de atividade ou diligência ordenada por um
juiz visando o esclarecimento deste sobre a existência ou inexistên-
cia de terminado fato, e que para tanto é realizada com a finalidade
- 193 -
Marcos André Santos Guedes

de oferecer prova material para esclarecimento dos fatos de interes-


se da justiça.
Assim então, infere-se que o resultado final da pericia judicial,
denominada de laudo pericial, alcança importância valiosíssima
como divisor de águas da questão analisada permitindo o conven-
cimento do juiz através dos argumentos técnico-científicos manifes-
tados pelo expert especialista em ergonomia envolvendo o objeto da
prova pericial, e assim conferindo ao magistrado decidir de forma
correta e justa sobre uma lide em questão.
A competência legal para o exercício profissional na área peri-
cial deve assumir preceito jurídico, tal como podemos observar em
outras categorias profissionais como a dos bacharéis em Ciências
Contábeis. Através do Decreto-lei nº 9.295/46, no Art. 25, letra “c”, es-
tes profissionais tiveram o reconhecimento de atribuição privativa
e, portanto com competência legal para o exercício de perícias judi-
ciais e extrajudiciais envolvendo a área contábil.
Segundo Nascimento (2011, p.19 a 40) a legislação não define, e
não oferece o conceito de perito judicial. Entretanto, podemos ob-
servar no projeto de lei nº 3.419/2004 que regulamenta o exercício
da atividade, a definição de atribuições do perito judicial e do assis-
tente técnico, veja:

Art 1º Perito judicial é o profissional com curso superior, ha-


bilitado pelo respectivo órgão de classe regional, inscrito na
associação de perito do Estado, nomeado por Juiz de Direito
para atuar em processo judicial que tramite em varas e tri-
bunais de justiça Estaduais, em Varas e Tribunais Regionais e
Federais, com a finalidade de pesquisar e informar a verdade
sobre as questões propostas, através de laudos e de prova cien-
tífica e documentais.

No mesmo ano a propositura acima foi rejeitada pelo Conselho


Federal de Engenharia e Agronomia - CONFEA por entender encon-
- 194 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

trar-se eivada de equívocos ao regulamentar uma profissão que já


se encontra regulamentada, pois os peritos judiciais de cada área de
atuação já estão registrados nos respectivos conselhos profissionais,
cada qual exigindo que a atividade pericial seja exercida no âmbito
do conhecimento específico. Desta forma entende-se que a ativida-
de pericial é parte integrante das atividades praticadas por profissio-
nais Engenheiros dentro de suas respectivas especialidades.
Se ao CONFEA é reservado o direito legal de conceder a habili-
tação profissional, inclusive para práticas periciais, ainda assim é
comum que os operadores do direito e profissionais das áreas afins
encontrem dificuldades na identificação se esses estão legalmente
habilitados, tal como defende YEE (2008, p.15 a 27).
Para anular dúvidas de possível ausência de habilitação profissio-
nal do perito judicial os operadores do direito, representado na sua
máxima através dos Juízes do Trabalho, podem se certificar por dois
caminhos como apresentados por YEE (2008, p.15 a 27), conheçamos:
a) Certificar, através do portal do CREA da Unidade da Fede-
ração, onde o profissional encontra-se vinculado, para fins
de certificar se o mesmo está registrado em condição regu-
lar junto à entidade de classe e que esteja anotado no seu
registro como especialista em Engenharia de Segurança do
Trabalho;
b) Solicitar, através da mesma fonte, uma Certidão formal
que é fornecida de forma digitalizada, em alguns CREAs,
quando o profissional encontrar com a anuidade quitada.

Uma ação recente expressa à prática de um destes caminhos. A


Resolução CSJT nº 247/2019 em seu Art. 11 obrigou o credenciamento
de todos os auxiliares da justiça do trabalho (peritos, tradutores, e
interpretes) junto ao Sistema de Assistência Judiciária da Justiça do
Trabalho - AJ/JT, e assim devem apresentar as informações obriga-
tórias necessárias dentre elas: Carteira do Conselho/Órgão de Clas-
- 195 -
Marcos André Santos Guedes

se respectivo (frente e verso), em caso de filiação obrigatória para o


exercício da profissão que exija curso superior; certificado de espe-
cialização na área de atuação ou certidão do órgão profissional se
for o caso; diploma de conclusão de curso de pós-graduação lato ou
stricto sensu, caso seja necessário para o exercício de especialidade;
dentre outros.
Sobre a resolução nº 359/91do CONFEA que dispõe sobre: O exer-
cício profissional, o registro, e as atividades do Engenheiro de Segu-
rança do Trabalho e dá outras providências enfatizamos seus aspec-
tos voltados a prática pericial:

Conselho Federal de Engenharia e Agronomia


Resolução N. 359/1991
Dispõe sobre o exercício profissional, o registro e as ativida-
des do Engenheiro de Segurança do Trabalho e dá outras pro-
vidências.
O Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia,
no uso da atribuição que lhe confere o artigo 27, alínea “f”, da
Lei nº 5.194, de 24 DEZ 1966,
(...)
Art. 4º – As atividades dos Engenheiros e Arquitetos, na es-
pecialidade de Engenharia de Segurança do Trabalho são as
seguintes:
1 - Supervisionar, coordenar e orientar tecnicamente os servi-
ços de Engenharia de Segurança do Trabalho;
2 - Estudar as condições de segurança dos locais de trabalho
e das instalações e equipamentos, com vistas especialmen-
te aos problemas de controle de risco, controle de poluição,
higiene do trabalho, ergonomia, proteção contra incêndio e
saneamento;
3 - Planejar e desenvolver a implantação de técnicas relativas
a gerenciamento e controle de riscos;
4 - Vistoriar, avaliar, realizar perícias, arbitrar, emitir pare-
cer, laudos técnicos e indicar medidas de controle sobre grau
- 196 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

de exposição a agentes agressivos de riscos físicos, químicos


e biológicos, tais como poluentes atmosféricos, ruídos, calor,
radiação em geral e pressões anormais, caracterizando as ati-
vidades, operações e locais insalubres e perigosos;
5 - Analisar riscos, acidentes e falhas, investigando causas,
propondo medidas preventivas e corretivas e orientando tra-
balhos estatísticos, inclusive com respeito a custo;
6 - Propor políticas, programas, normas e regulamentos de Se-
gurança do Trabalho, zelando pela sua observância;
7 - Elaborar projetos de sistemas de segurança e assessorar a
elaboração de projetos de obras, instalação e equipamentos,
opinando do ponto de vista da Engenharia de Segurança;
8 - Estudar instalações, máquinas e equipamentos, identifi-
cando seus pontos de risco e projetando dispositivos de segu-
rança;
9 - Projetar sistemas de proteção contra incêndios, coordenar
atividades de combate a incêndio e de salvamento e elaborar
planos para emergência e catástrofes;
10 - Inspecionar locais de trabalho no que se relaciona com a
segurança do Trabalho, delimitando áreas de periculosidade;
11 - Especificar, controlar e fiscalizar sistemas de proteção co-
letiva e equipamentos de segurança, inclusive os de proteção
individual e os de proteção contra incêndio, assegurando-se
de sua qualidade e eficiência;
12 - Opinar e participar da especificação para aquisição de
substâncias e equipamentos cuja manipulação, armazena-
mento, transporte ou funcionamento possam apresentar
riscos, acompanhando o controle do recebimento e da expe-
dição;
13 - Elaborar planos destinados a criar e desenvolver a pre-
venção de acidentes, promovendo a instalação de comissões e
assessorando-lhes o funcionamento;
14 - Orientar o treinamento específico de Segurança do Traba-
lho e assessorar a elaboração de programas de treinamento
geral, no que diz respeito à Segurança do Trabalho;
- 197 -
Marcos André Santos Guedes

15 - Acompanhar a execução de obras e serviços decorrentes


da adoção de medidas de segurança, quando a complexidade
dos trabalhos a executar assim o exigir;
16 - Colaborar na fixação de requisitos de aptidão para o exer-
cício de funções, apontando os riscos decorrentes desses exer-
cícios;
17 - Propor medidas preventivas no campo da Segurança do
Trabalho, em face do conhecimento da natureza e gravidade
das lesões provenientes do acidente de trabalho, incluídas as
doenças do trabalho;
18 - Informar aos trabalhadores e à comunidade, diretamente
ou por meio de seus representantes, as condições que possam
trazer danos a sua integridade e as medidas que eliminam ou
atenuam estes riscos e que deverão ser tomadas.

O novo Código de Processo Civil, em vigor desde 2015, regu-


la entre os Art. 464 ao Art. 480 as questões sobre prova pericial.
Nesta seção é encontrado todo o ordenamento sobre a matéria e
define a prova pericial como aquela produzida por especialista
a pedido das partes ou do juízo devendo observar os requisitos e
formalidades que a matéria requer. Ao assumir a posição de au-
xiliar da justiça, os peritos judiciais são guiados por legislações
pertinentes previstos na Constituição Federal, na Consolidação
das Leis do Trabalho e em Leis processuais esparsas como a Lei
n.5.584/1970 que trata da prova pericial na justiça do trabalho,
vejamos trecho relacionado:

Art. 3º Os exames periciais serão realizados por perito único


designado pelo Juiz, que fixará o prazo para entrega do laudo.

Parágrafo único. Permitir-se-á a cada parte a indicação de um


assistente, cujo laudo terá que ser apresentado no mesmo pra-
zo assinado para o perito, sob pena de ser desentranhado dos
autos.
- 198 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

Vieira (2010, p. 239, 240, 241) complementa subsidiariamente ci-


tando outras fontes processuais como as normas do Direito Proces-
sual Civil – Código de Processo Civil, Lei n. 5.869/73 – e outras leis
processuais como a Lei n.9.099/95.
Um profissional ao atuar como perito forense em lides trabalhistas,
especialmente aquelas relacionadas às disfunções osteomusculares
motivadas por movimentos repetitivos, deverá atentar-se para algumas
legislações importantes que ajudarão a compreender não só o fluxo na-
tural de um processo, mas também na observação de aspectos necessá-
rios relativos às práticas sintonizadas com as regras jurídicas, e assim,
prevenindo falhas no caminhar do exercício do perito (que deve realiza-
-la com isenção, zelo, qualidade, empenho, honestidade) e obviamente
proporcionando celeridade nos trabalhos junto à justiça trabalhista.
Todos esses cuidados denota que a legislação já traz uma metodo-
logia implícita a serem seguidos pelos peritos judiciais Engenheiros
ou de outras áreas, seja na regulamentação dos prazos a serem res-
peitados e/ou na atuação do modus operandi técnico a ser exercido
pelo corpo pericial forense. As fontes de consulta a seguir integram
um baú de riquezas para todos aqueles profissionais peritos que não
pretende concorrer em erros profissionais, são eles:
A) Consolidação das Leis do Trabalho: Art. 195, 827, 839, 842,
856, 837, 840, 841, 842, 843, 844, 847, 848, 878, 888;
b) Códigos de Processo Civil: Art. 134, 135,145, 146, 147, 345, 334,
420, 423,424, 425, 429, 436, 437;
c) Código Penal: Art. 342, 327

Ao debruçar-se sobre alguns dos artigos elencados observa-se que


a atuação do profissional de Engenharia ao contribuir como auxiliar
da justiça em causas periciais forenses, com destaque na elucidação
de lides no âmbito da LER/DORT, concorre em responsabilidades
que notadamente quando violadas poderão leva-lo a responder ju-
dicialmente pelo dano e ação praticados devidamente tipificados no
- 199 -
Marcos André Santos Guedes

âmbito do direito civil e penal e também na esfera administrativa


através de seus órgãos de classe profissional.

Decisões judiciais que retratam a transgressão ao


princípio da responsabilidade civil e penal aplicada ao
perito judicial e medidas de boas práticas profissionais

Na obra desenvolvida por Nascimento (2011, p.14 a 20) casos prá-


ticos de transgressões são apresentados na forma de duas decisões
judiciais onde os profissionais Engenheiros ao atuar na qualidade de
perito judicial praticaram erro profissional, e que por compreender
a importância delas transcrevemos na íntegra sua redação.

RETRATAÇAO DA FALSA PERICIA. MOMENTO FINAL E


CONSEQUENCIAS PARA O PERITO. CPC, ART. 147
O acusado de realizar o delito de falsa perícia pode se retra-
tar até o momento que antecede a sentença, ficando livre da
punição respectiva. Assim, o juiz do processo criminal poderá
receber a denúncia antes da conclusão do processo em que a
verdade foi frustrada pela apresentação da falsa perícia. STJ,
RHC 3.509/MG, 5 Turma, Rel. Min. Edson Vidigal

FALSA PERICIA. RESPONSABILIDADE PELOS PREJUIZOS


QUE CAUSAR AS PARTES. ART. 147, CPC
Responde o perito pelos prejuízos que causar as partes, a par-
tir das informações inverídicas que, por dolo ou culpa, prestar.
Mais que isso, ficará inabilitado para realizar outras perícias,
pelo período de 2 anos. Poderá responder , ainda, pela realiza-
ção de crime (crime de falsa perícia), bem como, eventualmen-
te, por ato de improbidade administrativa. A necessidade de se
estabelecer responsabilidade do perito é inquestionável. JOSE
MARCELO MENEZES VIGLIAR. COMENTÁRIO AO ART. 147
DO CPC. P.P. 399, COD. DE PROCESSO CIVIL INTERPRETADO.
ED. ATLAS S.A-2004. COORD. ANTONIOCARLOS MARCATO.
- 200 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

Ao abordar em termos jurídicos a responsabilidade do perito ju-


dicial pelos trabalhos praticados, Vieira (2010, p. 239, 240, 241) define
como sendo todo aquele que responde perante a lei por uma regra de
conduta violada, e para tanto variantes desta responsabilidade são ti-
pificadas no ordenamento jurídico: Uma responsabilidade penal ocor-
re quando uma ação ou omissão configura crime previsto no código
penal, uma responsabilidade civil quando a ação ou omissão carac-
teriza prejuízo material ou moral a alguém, e uma responsabilidade
administrativa quando configurado uma violação do dever funcional.
Ao se configurar um erro profissional praticado por um Enge-
nheiro na condição de perito forense este profissional estará sujei-
to não apenas as normas legais em vigor (direito civil e penal), mas
também as imposições administrativas advindas do vínculo obri-
gatório com a classe profissional de Engenheiros – CREA/CONFEA.
Para Nascimento (2011, p.11 a 19) os operadores do direito, sobretudo
juízes do trabalho, devem desenvolver a conscientização dos profis-
sionais, e não só como também dos sindicatos, federações, institutos
e órgãos de classe aqui exemplificada através do Conselho Regional
de Engenharia e Agronomia - CREA/Conselho Federal de Engenha-
ria e Agronomia - CONFEA. Ainda neste campo, defende que as atu-
ações do CREA devem ir além da tarefa fiscalizatória naturalmente
desenvolvida pelo conselho, zelar pelo aprimoramento profissional
e estimular a realização de cursos de aperfeiçoamento profissional
estimulará o interesse na autoproteção contra os erros profissionais
que surjam, sobretudo quando praticados por peritos judiciais auxi-
liares do juízo.
Um mecanismo visual estruturado capaz de representar os ele-
mentos e ligações que compõe a responsabilidade civil e, portanto
assumindo natureza reparatória pode ser conhecida na obra de
NASCIMENTO (2011, p.217 a 232). Na representação, o direito a inde-
nização se mostra no caminho do pagamento financeiro e isto resul-
ta da combinação de elementos simultâneos demonstrados abaixo.
- 201 -
Marcos André Santos Guedes

Figura 1 – Composição dos elementos que integram a indenização

Fonte: Nascimento, Perícia judicial: teoria e prática.

O modelo de mecanismo apresentado demonstra que a respon-


sabilidade está presente na previsão das leis, bem como nos contra-
tos celebrados de prestação de serviços e naquilo que é considerado
como ato ilícito. O dano pode ser identificado pelos prejuízos que
envolvem as partes envolvidas, e o erro=culpa representado pela
conduta imprudente, negligente ou imperícia do profissional sem-
pre tendo como base de sustentação a inexecução de um dever que o
agente profissional podia conhecer e observar quando da execução
da atividade profissional. Já o direito indenizatório significa reparar,
restaurar, consertar o que foi quebrado, diminuído, perdido.
Outro mecanismo de organização dos elementos que compõe a
natureza penal ao qual o perito forense pode vir a ser enquadrado
converge para a arquitetura gráfica abaixo:

Figura 2 – Composição dos elementos da condenação penal

Fonte: Nascimento, Perícia judicial: teoria e prática.


- 202 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

Ao pensar que a atividade do Engenheiro possa sofrer punições


quando da sua atuação como perito forense pode causar no mínimo
muita estranheza para os que não labutam no meio judicial, entre-
tanto a legislação protege a todos inclusive quando diante da prática
constatada de um erro do profissional pericial na qualidade formal
ou material.
Enumerar as melhores práticas realizadas pelos peritos judiciais
quando atuando em lides judiciais causadas por disfunções ergonô-
micas do sistema osteomuscular pode se configurar em uma ação
árdua. Entretanto, as passagens anteriores revelam que as boas prá-
ticas basilares de atuação do perito forense são de fácil acesso e tem
seu inicio justamente no conhecer das legislações pertinentes a ma-
téria do Direito Pericial.
As boas práticas profissionais do perito forense não se resumem
somente ao domínio da coisa jurídica por si só, mas da mesma forma
há uma encargo imperioso deste profissional no tocante a conhecer,
dominar, e escolher de forma ampla e profunda todas as técnicas
metodológicas de investigação que melhor subsidie seu laudo peri-
cial que servirá para o devido esclarecimento e convencimento das
dúvidas do douto juízo.
Ao considerar que o único responsável pela redação do laudo
pericial e consequentemente por todas as informações ali contidas
seja o perito forense, então escolher de forma técnica quais metodo-
logias investigativas de avaliação ergonômica dos traumas vincula-
dos a DORT sejam aplicadas a cada caso investigado acaba sendo um
compromisso a ser alcançado.
Definir a(s) metodologia(s) de investigação de avaliação(ões) a
ser(em) empregada(s) como meio probatório existencial das relações
de nexo-causal ergonômicas e suas causas concorrentes requer ini-
cialmente a compreensão multifatorial com que os traumas ergonô-
micos podem emergir, e por isto uma combinação de metodologias
se apresenta como sendo o caminho a ser perseguido.
- 203 -
Marcos André Santos Guedes

As diretrizes de ouro na prática pericial judicial ergonômica de-


manda um planejamento de uma modelagem ergonômica, tal como
defendido também por SANTOS (2017, p.17 a 20). Nesta ação e seus
efeitos em modelar, o planejamento estratégico acontece pela iden-
tificação e reunião de um conjunto de técnicas de análises ergonô-
micas de âmbito qualitativo/quantitativo estritamente relacionado
à situação problema do reclamante (autor da ação judicial) e que
seja suficientemente capaz de captar todo o cenário investigado.
Agindo neste sentido alcançaremos uma assertividade nas conclu-
sões manifestadas que a todo ato pericial judicial impõe, e que são
reveladas através da segurança nas interpretações reais de cada caso
investigado.
O ato de interpretar e descrever os labores do reclamante e suas
subdivisões em tarefas de forma imparcial e submissa a realidade
se faz de extrema importância para alcançar os requisitos mínimos
que o conceito das melhores práticas em perícias forenses ergonô-
micas atribui.
Ainda segundo Santos (2017, p.17 a 20), passa pelo indispensável
que o entendimento da forma e variações do processo de trabalho
seja realizado através da observação da atividade, pois não se deve
reduzir somente ao relato proferido pelo reclamante e nos modelos
mentais do próprio perito forense ergonômico.
A análise deve ser feita a partir da execução da atividade-tare-
fa, levando em consideração as variabilidades existentes e as regu-
lações realizadas pelo reclamante para atingir as metas e objetivos
estabelecidos pela função ocupada. Neste momento devem-se anali-
sar aspectos como: Funcionamento do estabelecimento da reclama-
da (Ré da ação judicial), verificação das relações entre as disfunções
da situação do trabalho, a atividade desenvolvida pelo reclamante e
consequentemente as repercussões destas atividades/tarefas para a
saúde do reclamante e para o que deveria ser a correta execução da
atividade.
- 204 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

Ainda que este seja um entendimento defendido, o perito forense


ergonômico, especialmente os profissionais de Engenharia, devem
considerar também outros aspectos no ato pericial, tais como: O
alcance na execução dos movimentos, a postura corporal adotada
diante dos movimentos corporais necessários a prática da ativida-
de/tarefa, as dimensões das ferramentas e máquinas, o ritmo de tra-
balho aplicado, a intensidade da força aplicada, dentre outras. Ao
agir desta forma estará contribuído para a formação do conceito de
regras de ouro profissional (boas práticas) e consequentemente para
uma excelência profissional.
Tal propositura já encontra alicerce bastante difundido na pró-
pria legislação trabalhista brasileira pertinente a questões ergonô-
micas a exemplo da NR-17e seu manual de aplicação, e em outras
fontes técnicas específicas como a norma internacional ISO 11228-
3/2017, onde reproduzimos abaixo suas diretrizes ergonômicas
quando diante de trabalhos praticados envolvendo movimentação
manual de pequenas cargas em alta frequência.
A tabela 2 em frente apresenta uma proposta sugerida pela nor-
ma internacional ISO 11228-3/2017 contendo importantes e conheci-
das ferramentas metodológicas ergonômicas de caráter investigati-
vo. Nesta norma cada técnica assume ênfase elucidativa própria ao
esclarecer à dinâmica que envolve os constrangimentos em deter-
minados segmentos corporais, ou ao apontar fatores de riscos de ne-
cessária observação e análise e assim, portanto representando uma
valiosa relevância de boas práticas em ato pericial judicial ergonô-
mico exercido sobretudo pelos Engenheiros.
- 205 -
Marcos André Santos Guedes

Tabela 2 – Relação de técnicas metodológicas de avaliação X ênfase X características principais


Região corporal melhor retratada Ferramentas ergonômicas sugeridas Principais características da
pela ferramenta pela ISO 11228-3/2017 Ferramenta ergonômica
OWAS (A)
REBA (B)
Tronco
PLIBEL (C)
QEC (D)
Membros superiores STRAIN INDEX (E)
OWAS (A)
REBA (B)
Tronco
PLIBEL (C).
QEC (D)
OWAS (A)
REBA (B).
Tronco
PLIBEL (C)
QEC (D)
RULA (F)
STRAIN INDEX (E)
OSHA CHECKLIST (G)
Tronco HAL/TLV ACGIH (H)
UPPER LIMB EXPERT TOOL (I)
OCRA INDEX (J)
OCRA CHECKLIST (K)
RULA (F)
OSHA CHECKLIST (G)
Membros superiores HAL/TLV ACGIH (H)
UPPER LIMB EXPERT TOOL (I)
OCRA INDEX (J)
OWAS (A)
REBA (B)
Tronco
PLIBEL (C)
QEC (D)
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Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

Região corporal melhor retratada Ferramentas ergonômicas sugeridas Principais características da


pela ferramenta pela ISO 11228-3/2017 Ferramenta ergonômica
Articulações variadas STRAIN INDEX (E)
OWAS (A)
REBA (B)
Tronco
PLIBEL (C)
QEC (D)
OWAS (A)
REBA (B)
Tronco
PLIBEL (C)
QEC (D)
OWAS (A)
REBA (B)
Membros inferiores
PLIBEL (C)
QEC (D)
Fonte: Norma técnica internacional ISO 11228-3

Legenda:
(A) OWAS: Analisa posturas de diferentes segmentos corporais; considera também a sua frequência durante a transferência de
trabalho.
(B) REBA: Semelhante à RULA (checklist). Considera todos os segmentos corporais ao mesmo tempo.
(C) PLIBEL: Ckecklist para identificação de diferentes fatores de risco para diferentes segmentos corporais; considera posturas,
movimentos, equipamentos e outros aspectos organizacionais.
(D) QEC: Método rápido para estimar o nível de exposição; consideram diferentes posturas, força, carga manuseada, duração da
tarefa com atribuição de pontuações.
(E) STRAIN INDEX: Método minucioso que considera os seguintes fatores de riscos: intensidade de esforço, duração do esforço
por ciclo, esforços praticados por minuto, postura da mão/punho, velocidade de trabalho e duração da tarefa por dia.
(F) RULA: Análise rápida codificada de posturas estáticas e dinâmicas; considera também frequências de força e ação: o resul-
tado é um escore de exposição para quais medidas preventivas devem ser tomadas.
(G) OSHA CHECKLIST: Checklist proposto durante o desenvolvimento do padrão OSHA (revogado); considera repetitividade,
posturas inadequadas, força, alguns elementos adicionais e alguns aspectos organizacionais.
(H) HAL /TLV ACGIH : Método detalhado baseado principalmente na análise de frequência de ações e de pico de força; outros
fatores principais são genericamente considerados.
(I) UPPER LIMB EXPERT TOOL: Método de avaliação por varredura da carga de trabalho; considera repetições, força empregada,
posturas inadequadas, duração da tarefa e alguns fatores adicionais.
(J) OCRA INDEX: Método minucioso que considera os seguintes fatores de riscos: frequência de ações, repetitividade, posturas
inadequadas, força, fatores adicionais, falta de períodos de recuperação, duração da tarefa repetitiva.
(K) OCRA CHECKLIST: Checklist proposto durante o desenvolvimento do padrão OSHA (revogado); considera repetitividade,
posturas inadequadas, força, alguns elementos adicionais e alguns aspectos organizacionais.
- 207 -
Marcos André Santos Guedes

Outra contribuição relevante para as boas práticas periciais ju-


diciais ergonômicas aponta para um estudo voltado para o conhe-
cimento de métodos dirigidos para avaliação e/ou prevenção dos
Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT.
Um guia produzido pelo Instituto Sindical Europeu (European
Trade Union Institute – ETUI) reuniu análises de 15 métodos de avalia-
ção e prevenção aos riscos de doenças musculoesqueletais (MSDs).
Os métodos apresentados nesse guia são classificados de acordo
com os níveis de habilidades dos usuários: Uma categoria voltada
para o estudo da detecção precoce das disfunções músculos-esque-
letais, outra categoria de usuários voltados para análises de caráter
geral, e por fim a mais importante dentro do escopo deste estudo, ou
seja, a voltada especialmente às questões de âmbito especializado
em questões ergonômicas praticadas pelos peritos judiciais ergonô-
micos. 
De acordo com esses estudos envolvendo os 15 métodos analisa-
dos pelo ETUI a maioria deles estão preocupados com a quantifica-
ção de riscos sendo que os métodos mais simples (MAC, KIM, ART,
etc.) permitem a inclusão de perguntas que levam a soluções dos
problemas, enquanto os métodos mais complexos tendem a focar
no assunto, posição, força exercida, etc. Portanto, no exercício da
prática profissional pericial judicial ergonômica os métodos mais
recomendados nas elucidações tenderiam a serem: OWAS, RULA,
OCRA. Conheçamos através da tabela 3 abaixo o conteúdo dos dados
obtidos pelo ETUI:
- 208 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

Tabela 3 – Relação de técnicas metodológicas X níveis de exigência de análises X grupo de usuários


FOCO PRINCIPAL
RELAÇÃO DE POTENCIAIS USUÁRIOS DAS
NIVEL Quantificação de Identificação de
FERRAMENTAS
Riscos soluções
MAC2, KIM2, FIFARIM2, Risk filter
Triagem (de- Grupos pontuais de trabalho com conheci-
ART1, Keyserling and assessment work-
tecção precoce) mentos na área de ergonomia
Checklist3 sheets2, PLIBEL1
Profissionais de segurança do trabalho que NIOSH , Psycho-
2

integram o Serviço Especializado de Enge- physical tables2,


Análise SOBANE – Observation1
nharia de segurança e Medicina do Trabalho Strain Index3, OCRA
(SESMT) e higiene ocupacional. Checklist3
Ergonomistas, Engenheiros de segurança
OWAS1, RULA1,
Pericial do trabalho com ênfase em ergonomia, -
OCRA index3
Fisioterapeutas.
Fonte: European Trade Union Institute – ETUI (https://www.etui.org/sites/default/files/Guide%20MSD-web.pdf) com adapta-
ções e entendimentos produzidos pelo autor. Data de acesso: 07/03/2021
Legenda: 1- Corpo inteiro; 2- Problemas lombares; 3- Membros superiores

Conclusões

Este trabalho teve por objetivo identificar e analisar as escassas


bibliografias voltadas às questões práticas do ato pericial judicial
ergonômico, bem como reunir algumas diretrizes que fazem parte
de um modelo, ainda incipiente, de atuação profissional conhecido
por: Boas práticas profissionais em pericias judiciais ergonômicas.
As boas práticas profissionais são também conhecidas como melho-
res práticas ou mesmo regras de ouro e que seu conceito faz parte do
contexto do expert moderno.
Essa terminologia técnica, muito comum na área das Engenha-
rias, tem se demonstrado uma bússola quando o interesse profis-
sional recai na necessidade de se conhecer rapidamente todas as
informações necessárias para a realização de um trabalho de exce-
lência, e neste caso devendo ser pautado também em parâmetros
defendidos pelo direito pericial, tais como: virtudes morais e éticas;
- 209 -
Marcos André Santos Guedes

compromisso com a verdade e assim, portanto recaindo no domínio


de todas as ferramentas e métodos intrínsecos ao ato pericial e que
apontem infalivelmente para este axioma; legislações legais e téc-
nicas pertinentes à matéria investigada; habilitação; dentre outras.
Ao considerar que os esclarecimentos esperados para embasar
corretamente um douto julgador, num processo judicial ergonômi-
co, passam indispensavelmente pelo enfrentamento de análise mul-
ticausal e multidisciplinar que envolve os nexos causais das doenças
integrantes do grupo LER/DORT, então tudo isto demonstra por si só
que o expert perito nomeado na causa judicial não pode e não con-
seguirá abarcar todo o conhecimento técnico-científico necessário
para apresentar as respostas totais de um processo judicial. Disto
podemos experienciar que profissionais distintos como Médicos, Fi-
sioterapeutas, e Engenheiros têm sido nomeados pela justiça traba-
lhista em frentes distintas nas elucidações que envolvem processos
judiciais ergonômicos.
Seguramente, o profissional militante na área de perícias judi-
ciais ergonômicas deve ser um exímio devoto do estudo continuado
na matéria da ciência ergonômica, além de possuir virtudes como
prudência e dedicação no exercício da atividade como expert da jus-
tiça trabalhista.
Ao constatar que determinadas ferramentas ergonômicas tem
seus melhores resultados quando aplicados a determinados segmen-
tos corporais, concluímos que a norma ISO 11228-3/2017 combinada
com os estudos provenientes do Instituto Sindical Europeu contri-
buem na prática para auxiliar na construção de laudos periciais er-
gonômicos com menor nível de imprecisões, e assim podendo fazer
parte integrante da relação caracterizadora de boas práticas profis-
sionais que envolvem o perito judicial ergonômico.
- 210 -
Boas práticas profissionais envolvendo perícias judiciais trabalhistas
em lides causadas por constrangimentos físicos ergonômicos

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Marcos André Santos Guedes

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AVALIAÇÃO DE RISCO PRELIMINAR EM
ERGONOMIA (ARPE): UM MODELO PRÁTICO
PARA A AVALIAÇÃO ERGONÔMICA PRELIMINAR
E PARA O PROGRAMA DE GERENCIAMENTO DE RISCOS

José Ronaldo Veronesi Júnior, Ricardo Martineli Massola

Norma Regulamentadora como Sistema de Gestão

A Norma Regulamentadora 1 (NR1) do Ministério do Trabalho foi


modificada e atualizada em março de 2020, definindo como geren-
ciar os riscos de segurança, saúde e meio ambiente no trabalho (IN,
2020). Tal atualização tansforma a NR1 em um sistema de gestão em
segurança e saúde ocupacionais, necessário para o atendimento das
demandas da área dentro das empresas. Um sistema de gestão em
saúde e segurança pode ser capaz de colocar estas mesmas áreas
dentro dos indicadores organizacionais, contribuindo para a melho-
ria contínua dos processos. Por intermédio da NR1 são definidas as
normas para o Gerenciamento de Riscos Ocupacionias (GRO), cujos
documentos comprobatórios de cumprimento farão parte do Pro-
grama de Gerenciamento de Riscos (PGR). O GRO deverá identificar
os perigos, avaliar os riscos e estabelecer os controles necessários
para que acidentes e lesões sejam evitados. Por sua vez, os documen-
tos comprobatórios do PGR deverão mostrar o inventário de riscos
da empresa e as ações estabelecidas para mitiga-los. A Figura 1 apre-
- 214 -
Avaliação De Risco Preliminar Em Ergonomia (ARPE)

senta o GRO como um grande guarda-chuva para as Normas Regu-


lamentadoras e o PGR.

Figura 1 – Relação entre o GRO, Normas e PGR

Fonte: MASSOLA e SILVA, 2020

Com a revisão da NR1, que trata sobre Disposições Gerais das


Normas Regulamentadoras e Gerenciamento de Riscos Ocupacio-
nais, fica definido em seu item 1.5.3.2 que (BRASIL, 2020):

A organização deve:
a) evitar os riscos ocupacionais que possam ser originados no
trabalho;
b) identificar os perigos e possíveis lesões ou agravos à saúde;
c) avaliar os riscos ocupacionais indicando o nível de risco;
d) classificar os riscos ocupacionais para determinar a neces-
sidade de adoção de medidas de prevenção;

Observe a adoção do verbo “deve”, em clara determinação de


obrigatoriedade de identificação de perigos, possíveis lesões, avalia-
ção dos riscos com sua respectiva indicação de nível e classificação.
Assim, observa-se a clara necessidade de métodos que poderão de-
terminar uma classificação de nível de risco, comumente divididos
- 215 -
José Ronaldo Veronesi Júnior, Ricardo Martineli Massola

em risco alto, risco médio e risco baixo do perigo identificado para o


risco adjacente. Desta forma, fica claro a importância de classificar
os riscos ocupacionais, dentre estes os riscos que envolvem os aspec-
tos ergonômicos.
O item 1.5.3.2.1 da NR1 informa que: “a organização deve consi-
derar as condições de trabalho, nos termos da NR-17, mostrando a
importância do estudo ergonômico em todas as formas necessárias,
seja em um Levantamento Preliminar do Risco, seja em uma Análise
Ergonômica do Trabalho” (BRASIL, 2020). Em seu item 1.5.4.4, espe-
cificamente no sub item 1.5.4.4.3, a Norma traz que “a gradação da
severidade das lesões ou agravos à saúde deve levar em conta a mag-
nitude da consequência e o número de trabalhadores possivelmente
afetados” (BRASIL, 2020). Assim a NR1 estabelece que os riscos ergo-
nômicos devem ser avaliados e tratados por meio de uma avaliação
preliminar e respeitando os preceitos da norma de ergonomia vigen-
te no Brasil, denominada Norma Regulamentadora 17 - NR17.
Um novo texto da NR17 tem sido discutido pelo governo, em con-
junto com representantes sindicais e de empresas, com previsão de
publicação em 2021. A proposta do novo texto da NR17 estabelece
que toda empresa deve realizar uma Avaliação Ergonômica Prelimi-
nar (AEP) antes de qualquer avaliação ergonômica profunda. Esta
AEP tem como objetivo identificar, avaliar e eliminar ou mitigar ra-
pidamente os riscos ergonômicos que poderiam ser resolvidos facil-
mente, ao invés de demandar de estudos mais longos e aprofunda-
dos, como sugere o texto da norma atual. Essa nova proposta da lei
estabelece a norma em que essa avaliação preliminar deve ser feita.
A AEP deve identificar e avaliar os riscos ergonômicos, classifi-
cando-os em uma escala de prioridade, identificando a gravidade
dos perigos e riscos, juntamente com a sua chance (ou probabilida-
de) de ocorrência. Todos os controles de engenharia e administrati-
vos tomados pela empresa para eliminar ou mitigar os riscos tam-
bém devem estar no AEP, e a maneira pela qual os trabalhadores e
- 216 -
Avaliação De Risco Preliminar Em Ergonomia (ARPE)

as trabalhadoras estão participando das decisões tomadas também


deve estar clara. Perigos e lesões devem ser descritos, possíveis fon-
tes devem ser identificadas e o nível de risco deve ser apontado. Isso
deve ser tratado usando uma combinação de gravidade e probabi-
lidade ou chance de ocorrência. Um plano de ação deve ser estabe-
lecido após esta avaliação. Caso algum perigo ou risco necessite de
uma investigação mais complexa para sua identificação ou solução
do problema, deve-se proceder a uma análise mais aprofundada, de-
nominada de Análise Ergonômica do Trabalho (AET). Assim, a AET
só será necessário se o AEP não for suficiente para identificar pe-
rigos ou soluções. A Análise Ergonômica do Trabalho é um estudo
aprofundado a partir de uma demanda, que pode ser por questões de
saúde (como o adoecimento, acidentes ou dados epidemiológicos),
por ações ineficazes previamente adotadas, necessidade de melhoria
da produtividade ou por fiscalização, auditorias e aspectos judiciais,
caracterizados como demandas legais (Manual de Aplicação da Nor-
ma Regulamentadora 17, 2002). Vale salientar que muitos relatórios
de Análise Ergonômica do Trabalho são contratados para cumprir
uma demanda legal, seja por fiscalização ou por ação judicial, e se
faz necessário somente um relatório simplicado sobre a questão fa-
tídica, por meio de Checklists ou documentos simplificados, o que
distorce o real propósito da Análise Ergonômica do Trabalho. O fato
é que estas regras não chegam a respostas significativas, nem resol-
vem problemas específicos (SANTOS, 2010), levando a ergonomia
a uma simples apresentação documental e não a uma ciência que
objetiva melhorar as condições de trabalho e o próprio trabalho,
nem leva à gestão de riscos ergonômicos, fundamental nas práticas
administrativas da saúde e da segurança do trabalho. Sendo assim,
vê-se a necessidade de métodos que possibilitem o gerenciamento
da Ergonomia como parte do processo da empresa e não somente
como mera produtora de documentos ou da ergonomia como atraso
do processo industrial.
- 217 -
José Ronaldo Veronesi Júnior, Ricardo Martineli Massola

Conforme descrito pela NR1 e na proposta do novo texto da NR17,


a AEP possui a estrutura de algumas Matrizes de Risco, como a ma-
triz conhecida como Failiure Mode and Effect Analysis (FMEA) ou, em
tradução livre, Análise de Modo e Efeitos de Falha (neste capítulo
identificada somente como FMEA). Tais matrizes são comumente
usadas por empresas que visam a adequação à normas, como a ISO
45001, que cosidera como fator de sucesso para a promoção e pro-
teçao da saúde física e mental dos trabalhadores e trabalhadoras, o
desenvolvimento de processos eficazes para identificar perigos, con-
trolar riscos de Saúde e Segurança Ocupacional (SSO) e aproveitar
oportunidades de SSO (ISO, 2018).
O objetivo deste capítulo é de apresentar uma Matriz de Risco
adaptada para essa nova demanda legal, que seja capaz de auxiliar
profissionais e empresas na Avaliação Ergonômica Preliminar con-
forme o novo texto da NR17, e no atendimento da nova NR1, abran-
gendo o inventário de risco ergonômico necessário e elaboração do
Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).

Sobre Matrizes de Risco e o FMEA

A definição de risco é a probabilidade de um perigo gerar um


dano, quando se trata de fator de risco a saúde é tudo aquilo que au-
menta a probabilidade de ocorrer uma doença ou ausência de saúde
(VERONESI JÚNIOR, 2016).
Matrizes de Risco são ferramentas de identificação de probabili-
dades e seus respectivos impactos ou severidades, utilizadas para o
gerenciamento de riscos em diversas áreas (como Qualidade, Enge-
nharia de Processos e Segurança do Trabalho). Buscam identificar
e determinar o tamanho dos riscos, possibilitando que ações sejam
deteminadas para o controle destes mesmos riscos identificados. O
objetivo principal é determinar se os controles planejados ou exis-
tentes são adequados. A intenção é que os riscos sejam controlados
- 218 -
Avaliação De Risco Preliminar Em Ergonomia (ARPE)

antes do perigo. Através do cruzamento destes indicadores em uma


matriz, ela determina qual o grau de risco para o aspecto ou perigo
identificado, normalmente um uma escala semafórica (verde, ama-
relo e vermelho, para identificar o grau de risco em baixo, modera-
do e alto, respectivamente), conforme a Figura 2. Com isso, torna-
-se possível o gerenciamento e a tomada de decisões frente ao risco
apresentado. Segundo Vallejo (2009) todos os métodos de gestão
possuem valores e objetivos pré-determinados em seus pressupostos
teóricos. Na aplicação de um método, torna-se fundamental a neces-
sidade de uma análise apurada de alguns aspectos antes da escolha,
tais como: ramo de atividade, cultura organizacional, entendimento
dos conceitos do método e sua aplicabilidade.

Figura 2 – Exemplo de uma Matriz de Risco

Fonte: os autores (2021)

A Matriz de Risco mais difundida é a Failure Mode and Effect


Analysis, ou FMEA. O FMEA é o processo de revisão de tantos com-
ponentes, montagens e subsistemas quanto possível para identificar
modos de falha em potencial em um sistema e suas causas e efeitos
(Santos, Oliveira, Carvalho, 2017). Para cada componente, os modos
de falha e seus efeitos resultantes no resto do sistema são registrados
em uma planilha FMEA específica. É uma ferramenta de design usa-
da para analisar sistematicamente as falhas postuladas de compo-
nentes e identificar os efeitos resultantes nas operações do sistema.
- 219 -
José Ronaldo Veronesi Júnior, Ricardo Martineli Massola

Tem sido utilizado pela Engenharia de Processos e Qualidade para


identificar possíveis falhas no sistema produtivo, mas pouco utili-
zado pela Segurança e Saúde Ocupacional para identificar perigos e
riscos nessas áreas (Santos et al, 2017). O FMEA identifica qualitati-
vamente a severidade da lesão (S), sua ocorrência de probabilidade
(O) e como o perigo associado pode ser detectado ou controlado (D).
Ao aplicar uma escala ordinal para cada variável do FMEA, é pos-
sível multiplicá-las e estabelecer o Número de Prioridade de Risco
(Risk Priority Score, ou RPN). Este RPN definirá qual atividade avalia-
da tem uma prioridade mais alta.
Matrizes de Risco, como o FMEA, têm sido utilizadas para es-
tabelecer prioridades em algumas avaliações ergonômicas, pois
algumas ferramentas de avaliação em ergonomia não foram pro-
jetadas para esse fim. Tomando a Avaliação da Fadiga Muscular
de Suzanne Rodgers como exemplo (Rodgers, 2005), ela mostra as
pontuações para cada uma das partes do corpo, mas não produz
uma única pontuação que permita aos tomadores de decisão com-
parar qual atividade é a pior. Com essa pontuação, nem sempre
é possível comparar atividades que poderiam ter diferentes níveis
de prioridade, fato que pode prejudicar a tomada de decisão ge-
rencial sobre um sistema de ergonomia. Outras ferramentas, como
o REBA, que avalia principalmente posturas inadequadas, nem
sempre apresentam melhora em sua pontuação final mesmo após
tendo sido realizadas ações evidenciadas que diminuem os riscos
ergonômicos (Silva, 2018). Outro problema com as ferramentas er-
gonômicas é o fato de que nem sempre é possível fazer uma com-
paração entre as diferentes ferramentas de avaliação. Por exemplo,
se a ferramenta Strain Index de Morre e Garg (Moore & Garg, 1995)
mostra uma pontuação 15, classificada como de alta prioridade,
esta prioridade não pode ser comparada com uma atividade ava-
liada usando a Equação Revisada de Levantamento de Cargas da
NIOSH (Waters et al, 1995) com um índice de levantamento de 3,0,
- 220 -
Avaliação De Risco Preliminar Em Ergonomia (ARPE)

também classificado como de alta prioridade. Daí a pergunta: qual


atividade tem maior prioridade se um gerente se depara com a ne-
cessidade de tomar a decisão de atuar em apenas uma delas? Como
os gestores e líderes podem tomar melhores decisões em Ergono-
mia que terão um impacto maior e melhor? Diferentes tipos de ma-
trizes têm sido usados dessa maneira para ajudar na tomada desse
tipo de decisão (Cook, 2008). No entanto, até o momento, o núme-
ro de métodos aplicados à matrizes que possibilitam a adequação
aos perigos e riscos ergonômicos é limitado. Sendo assim, busca-se
aqui apresentar um método de utilização de uma Matriz de Risco
baseada no FMEA, que considera a Classificação Internacional de
Funcionalidade (CIF) e o resultado de ferramentas ergonômicas
previamente utilizadas, onde será avaliado a severidade em dois
aspectos (magnitude do dano que o perigo pode gerar e percentual
da população exposta ao perigo) e probabilidade (gradação do risco
por ferramentas ergonômicas e controle do perigo).

O Método ARPE: Avaliação de Risco Preliminar em Ergonomia

O método ARPE foi desenvolvido para ser utilizado como méto-


do de gestão em ergonomia. Com ele, busca-se atender os requisitos
da NR1 e NR17, os requisitos de normas internacionais (como a ISO
45001) para as empresas certificadas ou em busca de uma certifica-
ção, bem como método auxiliar em perícias de casos de Distúrbios
Ósteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) e Análises Ergo-
nômicas do Trabalho (AET).
O método tem como base as variáveis de severidade, ocorrência
e detecção, típicas do FMEA, dentro de uma lista não-exaustiva de
perigos ergonômicos, compondo o chamado inventário de risco. Ba-
seia-se na CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade) para
determinar a severidade, bem como em desfechos importantes para
a ergonomia além da ocorrência de lesão, que são a fadiga e o des-
- 221 -
José Ronaldo Veronesi Júnior, Ricardo Martineli Massola

conforto. A probabilidade de ocorrência tem como a base a própria


CIF, a observação de riscos ergonômicos e os controles existentes.
Como classificação, a CIF não estabelece um modelo de “proces-
so” de funcionalidade e incapacidade. No entanto, ela pode ser utili-
zada para descrever o processo fornecendo os meios para a descrição
dos diferentes constructos e domínios. Ela permite, como processo
interativo e evolutivo, fazer uma abordagem multidimensional da
classificação da funcionalidade e da incapacidade e fornece as bases
para os utilizadores que desejam criar modelos e estudar os diferen-
tes aspectos deste processo. Neste sentido, a CIF pode ser vista como
uma linguagem: os textos elaborados com base nesta classificação
dependem dos utilizadores, da sua criatividade e da sua orientação
científica (VERONESI JÚNIOR, 2014).
O método ARPE possibilita a adequação dentro de modelos e mé-
todos existentes e já utilizados pela empresa. Por entendermos que as
organizações devem adaptar a abordagem aos seus próprios requisi-
tos, levando em consideração a natureza do seu trabalho e a gravida-
de e a complexidade dos seus riscos, busca-se, com o método ARPE,
uma melhor universalização da avaliação de riscos em ergonomia.
O objetivo principal é determinar se os controles planejados ou
existentes são adequados. A intenção é que os riscos sejam controla-
dos antes do perigo ocorrer.
Assim sendo, os passos básicos na avaliação de riscos são:
• Classificar as atividades de trabalho- Preparar uma lista das
atividades de trabalho cobrindo os recintos, a fábrica, as pesso-
as e os procedimentos, e coletar informações a respeito deles;
• Identificar os perigos – Identificar todos os perigos significa-
tivos relacionados com cada atividade de trabalho, conside-
rando quem pode ser prejudicado e como;
• Determinar o risco – Fazer uma estimativa subjetiva do ris-
co associado com cada perigo, assumindo que os controles
planejados ou existentes estão a postos; os avaliadores devem
- 222 -
Avaliação De Risco Preliminar Em Ergonomia (ARPE)

também considerar a eficácia dos controles e as consequên-


cias de suas falhas;
• Decidir se o risco é tolerável – Julgar se as precauções exis-
tentes ou planejadas em saúde e segurança do trabalho (se
houver) são suficientes para manter os perigos sob controle e
se atendem a requisitos legais;
• Preparar um plano de ação de controle de risco (se necessá-
rio) – Preparar um plano para lidar com quaisquer assuntos
encontrados pela avaliação que requeiram atenção; as orga-
nizações devem assegurar que os controles novos e existentes
permaneçam a postos e sejam eficazes;
• Revisar a adequação do plano de ação – Reavaliar os riscos
com base nos controles revisados e verificar se os riscos são to-
leráveis; a palavra “tolerável” significa, aqui, que o risco foi re-
duzido ao nível mais baixo do que é razoavelmente praticável.

Classificar as Atividades de Trabalho

A NR1 trata, no item 1.5.7.3, sobre o Inventário de Riscos Ocupacio-


nais. Ela declara, em seu item 1.5.7.3.2, que o Inventário de Riscos Ocu-
pacionais deve contemplar, no mínimo, as seguintes informações:

a) caracterização dos processos e ambientes de trabalho;


b) caracterização das atividades;
c) descrição de perigos e de possíveis lesões ou agravos à
saúde dos trabalhadores, com a identificação das fontes ou
circunstâncias, descrição de riscos gerados pelos perigos,
com a indicação dos grupos de trabalhadores sujeitos a es-
ses riscos, e descrição de medidas de prevenção implemen-
tadas;
d) dados da análise preliminar ou do monitoramento das ex-
posições a agentes físicos, químicos e biológicos e os resulta-
dos da avaliação de ergonomia nos termos da NR-17.
- 223 -
José Ronaldo Veronesi Júnior, Ricardo Martineli Massola

Por isso, torna-se necessário, como primeira etapa, a identifica-


ção das áreas e setores da empresa. Dentro destes, deve-se incluir, na
avaliação de riscos, cada uma das atividades realizadas.

Identificação dos Perigos

O método ARPE sugere uma lista não-exaustiva de perigos. Por


perigo entendemos toda fonte com potencial de causar lesões ou do-
enças (ISO, 2018). A Ergonomia identifica, em sua vasta literatura,
diversas situações provenientes de perigos ergonômicos, tais quais:
esforços excessivos, posturas inadequadas, alta repetitividade de mo-
vimentos, durações excessivas de esforços, exposição à vibração (de
membros ou de corpo todo), monotonia, ritmos intensos, trabalhos
em turnos, situações de sobrecarga mental, entre diversas outras. A
Tabela 1 exemplifica alguns perigos do Inventário de Riscos do ARPE.

Tabela 1 – Exemplos de perigos do Inventário de Riscos do método ARPE


Perigos físicos Perigos cognitivos Perigos organizacionais
Trabalho sem posturas incômodas Exigência de alto nível de concentração Monotonia
ou pouco confortáveis por longos
períodos
Postura de pé por longas períodos Exigência de alto nível de memória Ritmo intenso
Trabalho com esforço físico intenso Trabalho em condições de difícil comunicação Trabalho noturno
Fonte: os autores (2021)

Os perigos são fatores prováveis de ocorrência de um dano, que


pode ser incapacitante ou não (a severidade do perigo), a partir des-
ses perigos temos que avaliar o risco deste perigo gerar o dano, a
partir do risco, que é um fator probabilístico (probabilidade do pe-
rigo gerar o dano) iremos ter um fator gradativo do risco para cada
perigo ergonômico.
A identificação de perigos pode ser acompanhada de fatores obje-
tivos que buscam dar uma referência ao avaliador. Tais fatores obje-
- 224 -
Avaliação De Risco Preliminar Em Ergonomia (ARPE)

tivos tem sua origem em estudos científicos que compõe as referên-


cias do método, conforme a Tabela 2.

Tabela 2 – Exemplos de perigos e seus critérios adotados


Perigo Área afetada Critério objetivo
Postura de pé por longos períodos Coluna lombar > horas
Mãos (pega tipo pinça) >0,5kg
Trabalho com esforço físico intenso
Ombro > 4,5kg
Fonte: os autores (2021)

Determinação dos Riscos

Por risco, entende-se o efeito da incerteza. São os eventos, as con-


sequências em potencial e a probabilidade associada (ISO, 2018). O
método ARPE busca associar os perigos e riscos dentro do escopo de
fatores e influência e desfechos estudados pela ergonomia, trazendo
luz ao processo de elaboração da matriz de risco. Um esforço físi-
co ou uma postura inadequada poderão trazer fadiga, desconforto
ou uma lesão músculo esquelética. Dessa forma, ao ser observado o
perigo de trabalho com esforço físico intenso sendo realizado com
a posição de pinça de uma das mão, manuseando uma carga de 0,5
kg (conforme Tabela 2), temos o risco de tendinopatia de punhos e
mãos e da Síndrome do Túnel do Carpo. A Tabela 3 exemplifica o
risco associado ao perigo.

Tabela 3 – Risco associado ao Perigo no método ARPE


Perigo Área afetada Critério objetivo Risco
Tendinipatias
Trabalho com esforço físico intenso Mãos (pega tipo pinça) >0,5kg Sindrome do Túnel
de Carpo
Fonte: os autores (2021)
- 225 -
José Ronaldo Veronesi Júnior, Ricardo Martineli Massola

Classificação do Risco

A tomada de decisão da pontuação de matrizes de risco pode, às


vezes, ser um processo subjetivo que leva em consideração a expe-
riência e o conhecimento do time avaliador. Quando um perigo é
identificado, este pode ser seguido de um critério objetivo, que de-
termina seu grau de severidade. Quanto maior o número de perigos
associados para determinado seguimento corporal, maior a chance
de fadiga, desconforto ou lesão. Por isso, o método ARPE pode adotar
critério de associação de riscos que trará maior lucidez na tomada
de decisão das pontuações de severidade.
O método ARPE classifica a severidade em 5 níveis distintos: tri-
vial, tolerável, moderada, substancial e intolerável. O fator multipli-
cador é de 1, 3, 6, 9 e 12, respectivamente. Para isso, leva em conside-
ração a magnitude da consequência e o percentual de trabalhadores
da área afetados. Tendo a Classificação Internacional de Funciona-
lidades como referência de base para nortear sobre a severidade da
consequência do possível dano decorrente ao perigo pode ocorrer
no grupo de trabalhadores expostos, classifica a magnitude e o per-
centual de trabalhadores conforme a Tabela 4.

Tabela 4 – Severidade do método ARPE, determinada por magnitude e percentual de trabalhadores


expostos
Percentual de Trabalhadores (CIF)
Índice Magnitude da Consequência (Severidade)
(Severidade)
1- Trivial Não leva a nenhuma repercussão Até 5% do setor
2- Tolerável Gera somente fadiga/desconforto Entre 6% até 25% do setor
3- Moderado Afastamento abaixo de 15 dias Entre 26% até 50% do setor
4- Substancial Afastamento acima de 15 dias Entre 51% até 95% do setor
5- Intolerável Aposentadoria por Incapacidade permamente Acima de 96% do setor
Fonte: os autores (2021)
- 226 -
Avaliação De Risco Preliminar Em Ergonomia (ARPE)

Após a determinação da severidade, torna-se necessário a deter-


minação da chance ou probabilidade de ocorrência do risco. A proba-
bilidade da ocorrência pode ser dada por ferramentas ergonômicas
previamente utilizadas pela empresa ou pelos próprios parâmetros
do método ARPE. Por exemplo, o levantamento de uma carga de 15
quilos realizado apenas uma única vez no turno é considerado um
perigo de magnitude tolerável para o risco de lombalgia. Porém se
realizado em associação a alta frequência ou repetição e à posturas
adversas da coluna lombar, pode ser considerado um perigo subs-
tancial, que leva a afastamento acima de 15 dias, com probabilidade
substancial. A Tabela 5 mostra a classificação para determinação da
probabilidade.

Tabela 5 – Probabilidade de ocorrência de desfechos


Risco ergonômico encontrado (Probabilidade)
Risco trivial / até 5% de risco
Risco tolerável / de 6% até 25% de risco
Risco Moderado / 26% até 50% de risco
Risco Substancial / 51% até 95% de risco
Risco intolerável / acima de 96% de risco
Fonte: os autores (2021)

Por último, os controles existentes auxiliam a determinar a pro-


babilidade da ocorrência. Por controles entendemos todas as melho-
rias de engenharia e/ou administrativas que possam influenciar po-
sitivamente na prevenção de desfechos relacionados à ergonomia.
A existência de talhas, balancins, mesas elevatórias e esteiras são
exemplos de controles de engenharia. Atividades como rodízio, gi-
nástica laboral, pausas, treinamentos e checklists são exemplos de
controles administrativos. Controles de engenharia devem ter maior
peso e significância na determinação de controles. Estes controles
serão classificados conforme a Tabela 6.
- 227 -
José Ronaldo Veronesi Júnior, Ricardo Martineli Massola

Tabela 6 – Classificação de Controles do método ARPE


Controle existente (Probabilidade)
Existem controles eficientes e temos certezas destes
Existem controles com falhas leves
Existem controles com falhas moderadas
Existem controles com falhas graves
Não existem controles
Fonte: os autores (2021)

Pontuação de Prioridade de Risco

Cada um dos 4 fatores multiplicadores do ARPE pode ser classifi-


cado em uma escala com 5 classificações. As classificações recebem
pontuações de 1, 3, 6, 9 e 12, respectivamente. Assim sendo, a Pontu-
ação de Prioridade de Risco (RPN, do inglês Risk Priority Score) será
determinada pela multiplicação da pontuação atribuída a cada um
dos quatro fatores multiplicadores. A pontuação final deverá variar
entre 1 e 20.736, podendo também ser determinada pelo percentual
dessa pontuação. Foi utilizado os intervalos percentuais da CIF para
determinar se o risco é intolerável, substancial, moderado, tolerável
e trivial, com a seguinte reflexão, se o risco é intolerável pode gerar
uma incapacidade completa (deficiência completa pela CIF) sendo
maior que 96% de incapacidade, ou seja o risco maior que 96% gera
tal incapacidade, bem como o risco substancial gera uma deficiência
grave, o risco moderado gera uma deficiência moderada, o risco tole-
rável uma deficiência ligeira e o risco trivial não gera deficiência. A
Tabela 7 mostra a classificação final do RPN.
- 228 -
Avaliação De Risco Preliminar Em Ergonomia (ARPE)

Tabela 7 – Classificação final da Pontuação de Prioridade de Risco


Score Final Risco Encotrado Percentual do risco Classificação CIF
19699,2 até 20736 Intolerável Acima de 96% Deficiência completa
10368 até 19699,1 Substancial Entre 50% a 95% Deficiência grave
5184 até 10367,9 Moderado Entre 25% a 49% Deficiência moderada
1036,8 até 5183,9 Tolerável Entre 5 a 24% Deficiência Ligeira
Abaixo de 1036,7 Trivial Até 4% Nenhuma Deficiência
Fonte: os autores (2021)

Considerações Finais

O método de Avaliação de Risco Preliminar em Ergonomia (ARPE)


foi desenvolvido para o atendimento das novas demandas criadas
por novas legislações e pela crescente necessidade das empresas em
possuir um método confiável, de fácil aplicação e que dialogue com
os demais processos das empresas. A Norma Regulamentadora 1,
que traz em seu texto o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR),
solicita que métodos como o ARPE sejam aplicados como forma de
avaliação de perigos e riscos em ergonomia. Concomitante à isso, a
Norma Regulamentadora 17 traz a necessidade da Avaliação Ergonô-
mica Preliminar (AEP), que possibilite um levantamento de potenciais
perigos e riscos que tenham aspectos da ergonomia como desfecho.
O método ARPE torna-se uma excelente ferramenta para este atendi-
mento, por considerar os critérios orientados como severidade (mag-
nitude do perigo e percentual de trabalhadores expostos ao perigo) e
probabilidade (risco ergonômico e controles existentes) desta forma
traz uma avaliação ampla e completa sobre severidade probabilidade.
Ainda, pode ser um forte aliado nas perícias em casos de LER/DORT,
visto sua base na Classificação Internacional de Funcionalidade, bem
como um excelente método de gerenciamento ergonômico, mesmo
após a realização da Análise Ergonômica do Trabalho.
Por ser um método com boa base científica para sua determi-
nação, feito por intermédio de normas internacionais, como a ISO
- 229 -
José Ronaldo Veronesi Júnior, Ricardo Martineli Massola

45001 e CIF, e possuindo a base de realização do FMEA, acreditamos


ser um excelente método de escolha para as necessidades e deman-
das das empresas.

Referências

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NR 01. Aprova a nova redação da Norma Regulamentadora nº 01 -Dis-
posições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais.(Processo nº
19966.100073/2020-72). Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Brasília, Publicado em: 12/03/2020 | Edição: 49 | Seção: 1 | Página: 17.
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IN – IMPRENSA NACIONAL. (9 de Março de 2020). PORTARIA Nº 6.730, DE
9 DE MARÇO DE 2020. https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-6.
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45001:2018: Occupational health and safety management systems – requi-
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Avaliação De Risco Preliminar Em Ergonomia (ARPE)

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Arquitetura e Urbanismo, Universidade Metodista de Piracicaba (215P.),
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- 231 -
Eline Silva da Cunha, Matheus Liniker de Jesus, Murilo Marchioro

MINDFULNESS: UMA ALTERNATIVA PROMISSORA NA SAÚDE DO


TRABALHADOR

Eline Silva da Cunha, Matheus Liniker de Jesus, Murilo Marchioro

Mindfulness

No Brasil, o termo mindfulness foi traduzido como “atenção ple-


na” e é empregado para referir-se a uma capacidade inata (traço)
ou estado mental que regula a atenção para o momento presente.
A atenção plena enquanto capacidade, vem sendo cada vez menos
explorada atualmente, em virtude da multiplicidade de tarefas que
realizamos simultaneamente (MARTÍ; GARCIA-CAMPAYO; DEMAR-
ZO, 2016). Para além de um estado mental, o termo mindfulness tam-
bém é empregado para designar uma das meditações mais difundi-
das no meio científico.

Atenção plena é consciência – cultivada através de um foco de


atenção prolongado e específico, que é deliberado, voltado ao
momento presente e livre de julgamentos. Trata-se de um dos
vários tipos de meditação, se você considerar que meditação é
qualquer forma de (1) sistematicamente regular nossa atenção
e energia, (2) influenciando e possivelmente transformando a
qualidade da nossa experiência, (3) a fim de realizar em sua
plenitude a nossa humanidade e (4) os nossos relacionamen-
tos com os ouros e com o mundo (KABAT-ZINN, 2017, p. 11).
- 232 -
Mindfulness

O uso da meditação mindfulness no contexto da pesquisa e saúde


teve seu marco histórico na década de 1970, quando o biólogo mo-
lecular norte-americano Jon Kabat-Zinn, entrou em contato com a
meditação zen budista e inseriu um programa de redução de estresse
no centro médico da Universidade de Massachusetts, com a criação
de um protocolo de meditação adaptado a uma linguagem neutra
(ocidental), que ele denominou de Mindfulness-Based Stress Reduction
(MBSR). O programa MBSR foi desenhado para lidar com ansiedade,
estresse, dor e enfermidade (KABAT-ZINN, 1982; SIEGEL; BARROS,
2018). Inicialmente a técnica foi utilizada principalmente em cen-
tros médicos, hospitais e instituições de saúde, porém seu emprego
foi se expandido para ambientes escolares e corporativos (ISRAEL;
CLEMENTE; EDUARDO, 2011; MARTÍ, A; GARCIA-CAMPAYO, J; DE-
MARZO, 2016; WALDEMAR et al., 2016).
Este capítulo se caracteriza como uma pesquisa qualitativa e
descritiva que objetiva-se em apresentar a meditação mindfulness,
amplamente divulgada na atualidade, como alternativa promissora
no contexto laboral a partir de uma revisão seletiva da literatura em
base de dados com SCIELO, LILACS e BIREME, além de livros e teses
de diversas instituições de Ensino Superior publicados até o ano de
2021, bem como apontar algumas técnicas para a sua prática.

Importância da atenção para o trabalho

A sociedade atual vem sendo submetida desde a infância a expo-


sição excessiva à informação. O excesso de informação cotidiana,
dificulta a manutenção do foco de atenção, devido tanto à velocida-
de quanto à multiplicidade com que as informações se sobrepõem
no decorrer das ações desenvolvidas durante o dia. Desse modo, a
capacidade de filtrar de informações importantes para o desenvol-
vimento das atividades cotidianas é prejudicada pelo excesso de in-
formações irrelevantes que chegam aos nossos sentidos (SIMÕES,
- 233 -
Eline Silva da Cunha, Matheus Liniker de Jesus, Murilo Marchioro

2014). A seleção é considerada a função por excelência da atenção,


que por sua vez é movida pelo interesse do indivíduo e concorre para
a execução de uma ação de maneira eficaz (KASTRUP, 2007).

E trabalhar é estar atento. Infelizmente a atenção não é um


estado estável, fixo, duradouro. Poderíamos compará-la a um
arco constantemente tencionado. Ela consiste essencialmen-
te em um número repetido de esforços, de tensões mais ou
menos intensas, que seguem-se umas às outras com maior ou
menor velocidade. Em uma atenção enérgica e aguerrida, es-
ses esforços seguem-se tão próximos uns dos outros que dão
a ilusão de continuidade, e essa aparente continuidade pode
durar algumas horas a cada dia (PAYOT, 2018, p. 34).

Existem diversos instrumentos disponíveis com a finalidade de


avaliar ou mensurar a capacidade mindfulness enquanto traço ou
característica da personalidade. Dentre estes, destaca-se a escala
“Mindful Attention Awareness Scale (MAAS)”, um questionário auto
administrado composto por 15 itens, os quais se propõem a medir
a presença ou ausência de atenção ou consciência ao que ocorre no
momento e na vida diária, como por exemplo: “Eu realizo as ativi-
dades de forma apressada, sem estar realmente atento a elas”; “Eu
realizo trabalhos e tarefas automaticamente, sem estar consciente
do que estou fazendo”; “Eu quebro ou derramo as coisas por falta
de cuidado, falta de atenção ou por estar pensando em outra coisa”.
Para cada item deve-se atribuir uma pontuação situada na faixa en-
tre 1 (quase sempre) a 6 (quase nunca) e essa escala pode ser utiliza-
da em indivíduos submetidos ou não a treinamento com meditação
mindfulness (DE BARROS et al., 2015; MARTÍ, A; GARCIA-CAMPAYO,
J; DEMARZO, 2016; PIRES et al., 2015).
Os treinamentos ou práticas de meditação, incluindo mindful-
ness, têm chamado a atenção de neurocientistas que investigam a
consciência, a regulação da atenção por meio do treinamento men-
- 234 -
Mindfulness

tal, além de psicoterapeutas interessados ​​no desenvolvimento pes-


soal e relações interpessoais (LUDWIG; KABAT-ZINN, 2008). São inú-
meros os livros, treinamentos e mentores que se propõem a trainar
o foco de atenção com vista a um melhor desempenho no alcance
de metas profissionais. Sem dúvida a manutenção da atenção é um
grande desafio para os trabalhadores da sociedade contemporânea,
e nesse contexto pode se considerar a prática da meditação mindful-
ness como uma alternativa de baixo custo e fácil aplicação.
O estudo de Jensen et al., (2012) observou que meditadores sub-
metidos a um treinamento em mindfulness, apresentaram capaci-
dade de manter a atenção em um objeto por períodos mais longos,
além de melhor resposta cognitiva em atividades atencionais e ca-
pacidade de memória. No entanto, faz-se necessário recordar que a
atenção é essencial a própria prática de mindfulness (levar a atenção
à respiração, sons do ambiente, partes do corpo), e as dificuldades
iniciais especialmente para indivíduos com déficit de atenção, de-
vem ser consideradas. Em um outro estudo, sugere-se que a atenção
plena permite uma atenção mais estável e controlada em contextos
de rotina onde os indivíduos estão sujeitos a erros devido a lapsos de
atenção e sendo assim, mindfulness poderia reduzir erros ao reduzir
tais lapsos (SMALLWOOD; SCHOOLER, 2015).

Mindfulness saúde do trabalhador e estresse ocupacional

Existe uma intensa dedicação por parte de pesquisadores para es-


tabelecer critérios, estratégias e mecanismos que possam potencia-
lizar a saúde e o bem estar no ambiente de trabalho (DANNA; GRI-
FFIN, 1999; SANTOS; DE CEBALLOS, 2013; SIQUEIRA; PADOVAM,
2008). Sabe-se que o trabalho e a vida pessoal de um indivíduo não
são entidades separadas mas domínios inter-relacionados e entrela-
çados com efeitos recíprocos uns sobre os (ZEDECK; MOSIER, 1990).
Dessa forma, o estresse relacionado ao trabalho combinado com o
- 235 -
Eline Silva da Cunha, Matheus Liniker de Jesus, Murilo Marchioro

estresse da vida cotidiana pode levar a resultados físicos e emocionais


prejudiciais por causa do excesso físico e demandas mentais coloca-
das no corpo e na mente humana (COOPER; CARTWRIGHT, 1994).
Bostock et al., (2019), investigou um programa mindfulness dispo-
nibilizado por meio de um aplicativo para smartphone a 238 funcio-
nários de duas grandes empresas do Reino Unido, ele apontou rela-
tos de melhora significativa no bem-estar, sofrimento, tensão além
da percepção de apoio social no local de trabalho, quando compa-
rado a um grupo não participante dessa intervenção. Os estudos de
Dave et al., (2020), voltando-se para o sistema educacional e os pro-
blemas como estresse e esgotamento, produziu relatos interessante
quanto aos efeitos de um programa de mindfulness. Foi observado
melhorias na atenção plena, autocompaixão e realização pessoal
além de diminuições no isolamento, ansiedade, fadiga e exaustão
emocional. Destinando um olhar especial às enfermeiras psiquiá-
tricas, um estudo reuniu 100 profissionais de três hospitais na pro-
víncia de Hunan, na China, as participantes do grupo de meditação
obtiveram redução nos níveis de estresse ocupacional, ansiedade,
depressão e outras emoções negativas, produzindo uma melhora
na saúde mental desse grupo (YANG; TANG; ZHOU, 2018). Lin et al.,
(2019), propôs um estudo bastante parecido com um grupo de 110
enfermeiras, apontando a diminuição do estresse e o afeto negativo,
em contraste com a melhora do afeto positivo e a resiliência. Os au-
tores caracterizaram a meditação como uma ferramenta potencial
para a melhora da satisfação no trabalho.
Além de todos os benefícios mencionados anteriormente, um es-
tudo realizado com 61 agentes de segurança, policiais, submetidos
ao Treinamento em Resiliência Baseado em Mindfulness (MBRT)
detectou maiores reduções no cortisol salivar, agressão auto-relata-
da, estresse organizacional, esgotamento, distúrbios do sono, e au-
mentos relatados na flexibilidade psicológica e não reatividade pós
intervenção (CHRISTOPHER et al., 2018). Estudos também revelam
- 236 -
Mindfulness

melhorias na saúde cardiovascular dos profissionais submetidos a


mindfulness no contexto do trabalho. A principal variável avaliada
no estudo foi a variabilidade da frequência cardíaca, observando
efeito positivo pós-intervenção com duração de 6-8 semanas (ARRE-
DONDO et al., 2017; KRICK; FELFE, 2019).
De modo geral, as práticas de meditação baseadas em Mindfulness
têm produzido grande acervo literário com fortes indicações de apli-
cabilidade no contexto organizacional do trabalho, relacionando-se a
melhorias no bem-estar, redução de estresse, satisfação no trabalho e
até mesmo no desempenho das tarefas (PANG; RUCH, 2019). Os resul-
tados positivos sobre o estresse ocupacional das intervenções Mind-
fulness são relados em diversos trabalhos, se tornando um consenso
para diferentes profissionais, quanto aos seus potenciais benefícios
no ambiente laboral (AMELI et al., 2020; DÍAZ-SILVEIRA et al., 2020;
GUO et al., 2019; JENNINGS et al., 2019; LILLY et al., 2019).

Como praticar Mindfulness

Incluir ou retomar um hábito em nossa rotina exige mais do que


conhecimento, exige abertura e disciplina. Como bem disse o famo-
so escritor Duhigg (2012), “Transformar um hábito não é necessaria-
mente fácil nem rápido, nem sempre é simples, mas é possível”.

Se você acredita que pode mudar – se faz disso um hábito -, a


mudança se torna real. Este é o verdadeiro poder do hábito: a
revelação de que seus hábitos são o que você escolhe que eles
sejam. Uma vez que essa escolha ocorre – e torna-se automáti-
ca -, ela não apenas é real, como começa a parecer inevitável,
a coisa, que nos conduz “irresistivelmente rumo ao nosso des-
tino, qualquer que seja ele” (DUHIGG, 2012, p. 285).

Atualmente estão disponíveis em grande quantidade treina-


mentos de forma on-line ou presenciais, cursos, palestras, livros e
- 237 -
Eline Silva da Cunha, Matheus Liniker de Jesus, Murilo Marchioro

sites que ensinam os princípios fundamentais para incluir a prá-


tica de mindfulness na vida diária. Nosso objetivo aqui será expor
algumas dicas e orientações simples para começar ou retomar esse
hábito salutar. Como diz Jon Kabat-Zinn, um dos principais res-
ponsáveis pela difusão dessa técnica: “Mindfulness é a simplicidade
em si mesmo. Trata-se de parar e estar presente. Isso é tudo”. Dessa
forma podemos refletir sobre a simplicidade da técnica que exige
algum esforço e força de vontade para se consolidar como hábito
saudável forma simples e se adequando a realidade de cada um que
devemos buscar inserir a meditação no nosso dia a dia.
Podemos dividir as práticas em formais e informais. As práticas
formais são as técnicas de meditação propriamente ditas e as infor-
mais ocorrem quando estamos levando a atenção consciente para as
atividades cotidianas. O cultivo de uma rotina com práticas formais
(meditar), nos ajuda a manter a atenção também durante o decorrer
do dia nas atividades simples ou complexas.
Dicas para a prática da meditação mindfulness (prática formal):
a) De preferência escolha um local calmo, o ambiente pode fa-
vorecer a concentração, porém a meditação mindfulness pode
ser realizada em qualquer lugar, inclusive nas filas de banco,
supermercado, etc.;
b) Não existe uma posição ideal para praticar mindfulness (posição
sentada, posição de buda, deitado) a prática pode ser realizada até
mesmo caminhando, entretanto manter uma postura confortável
e a coluna alinhada (ereta) ajuda a manter a concentração;
c) Escolha uma âncora ou objeto da sua concentração. Para rea-
lizar a prática formal, você deve inicialmente escolher a ânco-
ra ou ponto de apoio sob o qual você irá levar a sua atenção, as
âncoras mais utilizadas geralmente são a própria respiração,
os sons do ambiente ou as sensações ao longo do corpo;
d) Comece com poucos minutos, caso você esteja iniciando ou re-
tornando as práticas de meditações, é indicado que inicie suas
- 238 -
Mindfulness

práticas com poucos minutos, uma pausa de três minutos, por


exemplo. Aos poucos você deverá aumentar a duração da sua
prática favorecendo que os efeitos sejam ainda mais duradouros.
e) Respeite seu intervalo de trabalho. Caso deseje iniciar esse novo
hábito durante a sua rotina laboral, respeite os limites de interva-
lo da sua instituição adaptando o seu tempo de prática para evitar
transtornos. Por exemplo: se você realiza 20 minutos de interva-
lo, pode selecionar 10 minutos para a prática e o restante para
um café ou conversar com os colegas. De preferência inicie com
a meditação o seu momento de intervalo, dessa forma evitará a
autosabotagem (comportamento em que criamos empecilhos ou
problemas que nos impedem de atingir um objetivo).

Sugestão de práticas que podem ser realizadas no am-


biente de trabalho

Prática com foco na respiração

Sentado numa posição confortável com a coluna ereta, com os


olhos fechados ou olhando num ponto fixo para baixo, leve toda sua
atenção para a sua respiração, para os movimentos de entrada e sa-
ída do ar, a velocidade, o trajeto que o ar percorre, vá percebendo os
detalhes envolvidos no ato de respirar e apenas isso. Você vai notar
que sua mente irá frequentemente se distrair e “viajar”, gentilmente
apenas retorne sua atenção para a respiração e perceba ela se acal-
mando. Com o tempo, a sua capacidade de manter a atenção no foco
desejado tende a aumentar (controle da mente).

Mindfulness com foco nos sons do ambiente

Sentado numa posição confortável com a coluna ereta, com os


olhos fechados ou olhando num ponto fixo para baixo, leve toda sua
- 239 -
Eline Silva da Cunha, Matheus Liniker de Jesus, Murilo Marchioro

atenção para os sons do ambiente onde você se encontra. Perceba os


sons mais próximos a você e tente perceber os sons que estão mais
distantes, sem julgar (ruins, bons, confusos), apenas tente perceber
os sons que te rodeiam com seus detalhes. Assim como na prática
anterior você poderá notar a sua mente divagando em alguns mo-
mentos para longe do seu objeto de atenção, apenas retorne nova-
mente para o seu foco de atenção quando perceber que saiu dele,
sem se culpar ou se punir mentalmente por isso, seja gentil consigo
mesmo pois essa “distração” faz parte do processo e quanto mais
tempo você se dedicar a meditação, mais treinada sua mente ficará.

Body Scan ou escaneamento corporal

Essa técnica é frequentemente realizada na posição deitada mas


pode ser adaptada para a posição sentada, quando você estiver no
seu ambiente de trabalho. Sentado numa posição confortável com
a coluna ereta, com os olhos fechados ou olhando num ponto fixo
para baixo, vá conduzindo gentilmente sua atenção pelas regiões do
seu corpo. Você poderá iniciar pelos seus pés (solas dos pés, dedos,
calcanhar), ir subindo aos poucos de maneira lenta e gradativa: tor-
nozelos, panturrilhas, joelhos, coxas, quadris, abdômen, tórax, pes-
coço, região da nuca, braços, mãos, cabeça, couro cabeludo, face. A
ordem não é tão fundamental o importante é que você explore com
detalhes as regiões do seu corpo. Essa técnica é muito indicada pois
promove um aumento da consciência corporal.

Considerações Finais

A falta de tempo para inserir a meditação na rotina, é uma “des-


culpa” frequente entre os profissionais, entretanto, se fizermos uma
análise de consciência, o que denominamos de “falta de tempo” pode
ser na verdade falta de prioridade ou de organização.
- 240 -
Mindfulness

É preciso organizar-se. Precisamos ter um plano, horários


bem pensados, onde cada dever encontre seu melhor mo-
mento e sua duração certa, de modo que se possam cumprir
adequadamente todos eles. Uns exigirão mais tempo, outros
menos, mas quanto menos tempo possamos dedicar, maior
qualidade deveremos procurar (FAUS, 2020, p. 126).

De fato encarar a meditação como um dever seria algo interessan-


te, não como um fardo a mais a ser carregado, mas sim como uma
tomada de consciência de que a nossa saúde e autocuidado são essen-
ciais para o bem estar laboral. Eis porque a meditação dentre outras
práticas integrativas vêm sendo considerada cada dia mais como uma
estratégia promissora na promoção da saúde do trabalhador.

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A CONTRIBUIÇÃO DAS PRÁTICAS
INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM SAÚDE 
NA QUALIDADE DE VIDA DOS TRABALHADORES

Renata Roberta Dantas Silva, Daniel Oliveira Dantas

Introdução

O trabalhador está sujeito a desgaste fisico e mental, e pode de-


senvolver lesões e doenças, portanto, muitas vezes se tornam neces-
sárias intervenções que preservem sua saúde (COSTA et al., 2017;
BARREIROS et al., 2019).
O ambiente de trabalho é o centro da organização de vida do
trabalhador e determinante das suas condições de saúde. A saúde
do trabalhador é uma área da saúde pública que realiza estudos e
intervenções relacionadas ao processo saúde-doença, buscando a
transformação dos trabalhadores tornando-os promotores de saúde
inserindo-os nos processos produtivos. Assim, a Constituição Fede-
ral de 1988, estabelece a saúde como direito do cidadão e dever do
estado, garantindo a saúde integral para todos os trabalhadores in-
dependentemente do vínculo que possuem no mercado de trabalho.
O Sistema Único de Saúde (SUS) possui um compromisso com a vida
dos trabalhadores no processo de trabalho, produção, vida laboral,
inatividade, desemprego, envelhecimento e aposentadoria (BRASIL,
2018).
- 246 -
A contribuição das práticas integrativas e complementares em saúde 
na qualidade de vida dos trabalhadores

As práticas integrativas e complementares em saúde (PICS) são


diferentes formas de abordagem que têm como objetivo estimular
mecanismos naturais de prevenção de doenças, buscando a recu-
peração do indivíduo. As PICS estabelecem uma visão ampliada do
processo saúde-doença por meio de tecnologias eficientes e seguras
de diagnóstico e de terapia. As PICS integram o ser humano com a
natureza e a sociedade, sendo recomendada sua utilização pela Or-
ganização Mundial da Saúde (OMS) desde 1970. No Brasil, as PICS
foram introduzidas na política de saúde após a criação do SUS
(BRASIL, 2015).
A implementação gradativa das PICS voltadas para a saúde do
trabalhador promove o autocuidado de forma a contextualizar pro-
blemas existentes no ambiente de trabalho. No âmbito do SUS o
cuidado em saúde é implementado por meio de diversas práticas
integrativas e complementares que são ofertadas em diferentes am-
bientes da Rede de Atenção à Saúde (RAS), visando a saúde do indi-
viduo como um todo, inteiro e holístico com o desafio de um novo
paradigma em reconhecer a espiritualidade e vitalidade ao invés da
doença (BRASIL, 2018).
Em 2020, o Ministério da Saúde atualizou a Lista de Doenças
Relacionadas ao Trabalho (LDRT) por meio da Portaria N° 2.309 de
28 de agosto a partir do trabalho desenvolvido no SUS. Na LDRT, as
doenças são organizadas em duas estruturas: Lista A, agentes e/ou
fatores de risco com respectivas doenças relacionadas ao trabalho;
e Lista B, doenças relacionadas ao trabalho com respectivos agentes
e/ou fatores de risco. São inúmeras as doenças associadas ao proces-
so de trabalho, sendo possível destacar por exemplo como as prin-
cipais, doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo,
neoplasias (tumores), doenças do aparelho respiratório, transtornos
mentais e comportamentais, e doenças do olho e anexos. Quanto aos
agentes causadores de doenças e fatores de risco mais frequentes, é
possível citar exposição a agentes físicos, químicos e biológicos, con-
- 247 -
Renata Roberta Dantas Silva, Daniel Oliveira Dantas

dições ergonômicas e psicossociais do trabalho, risco de acidentes e


intoxicações (BRASIL, 2020a).
Segundo o INSS, entre 2012 a 2018, a principal causa de afasta-
mentos por motivo de doença devida à atividade laboral foi a dorsal-
gia (21%), seguida de lesões no ombro (17%) e por sinovite e tenossino-
vite (9%). Doenças mentais, transtornos psicológicos e relacionados
a estresse somam 8% do total de afastamentos (SMARTLAB, 2018).
No Brasil cresceu em 16% o quantitativo de serviços que ofertam
as PICS, sendo que 100% das capitais brasileiras as ofertam através
da RAS. No total, 4.297 municípios ofertam PICS, representando 77%
dos municípios do Brasil. Em 2019, um total de 1.734 estabelecimen-
tos de média e alta complexidade ofertaram PICS, sendo 42% clíni-
cas e ambulatórios especializados, 20% policlínicas, 19% centros de
atenção psicossocial e 9% hospitais gerais. A Figura 1 mostra o nú-
mero de estabelecimentos de média e alta complexidade que oferta-
ram PICS em 2019 (BRASIL, 2020b)
O objetivo deste trabalho é identificar na literaturatura se as
PICS têm contribuído com a saúde dos trabalhadores. Em outras pa-
lavras, verificar se é possível afirmar de forma confiável que as PICS
contribuem com a qualidade de vida dos trabalhadores.
A relevância desse estudo está em descrever o que a literatura
expõe sobre as práticas integrativas e complementares na saúde do
trabalhador, identificando sua relevância, contribuindo para sua
disseminação e para incentivar novos estudos na área.
- 248 -
A contribuição das práticas integrativas e complementares em saúde 
na qualidade de vida dos trabalhadores

Figura 1 – Estabelecimentos de média e alta complexidade que ofertaram PICS em 2019.

Fonte: BRASIL, 2020b.

Metodologia

O presente trabalho apresenta uma busca integrativa na litera-


tura sobre práticas complementares na saúde do trabalhador. A re-
visão integrativa tem o intuito de identificar estudos já realizados,
analisar seus resultados para consolidar o conhecimento sobre o
tema, e apontar lacunas para pesquisas futuras (MENDES; SILVEI-
RA; GALVÃO. 2008).
Esta revisão seguiu as seguintes etapas: definição da pergunta
norteadora, busca na literatura, coleta de dados, análise crítica dos
estudos, discussão dos resultados e apresentação da revisão integra-
tiva (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010). A pergunta norteadora do
trabalho foi definida como: quais PICS têm contribuído com a saúde
dos trabalhadores?
O primeiro passo foi identificar as palavras chave relevantes atra-
vés da página DeCS – Descritores em Ciências da Saúde. A seguir
foi feita uma busca nas bases Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),
PubMed e Scientific Electronic Library Online (SciELO). As três bases
- 249 -
Renata Roberta Dantas Silva, Daniel Oliveira Dantas

foram selecionadas pelo fato de serem abertas. As strings usadas fo-


ram “Práticas Integrativas e Complementares” and “Saúde do Tra-
balhador” em português e “Complementary Therapies” and “Occupa-
tional Health” em inglês. A busca foi feita sem restrição no ano de
publicação. Foram encontrados 158 trabalhos. Após a eliminação de
duplicadas usando o software Zotero, restaram 90 trabalhos.
Foram realizadas duas etapas de seleção. Em ambas, os trabalhos
foram avaliados independentemente por dois pesquisadores. Foram
excluídos trabalhos não selecionados por nenhum pesquisador, e
incluídos os trabalhos selecionados por um ou dois pesquisadores.
A primeira etapa de seleção consistiu na leitura do título e do
resumo dos trabalhos. Foram eliminadas referências a vídeos, te-
ses, dissertações e trabalhos não relacionados ao tema de interesse.
Também foram eliminados trabalhos em línguas que não fossem
português, espanhol ou inglês. Foram mantidas revisões da litera-
tura. Após esta etapa, restaram 22 trabalhos. A segunda etapa de se-
leção consistiu na leitura completa dos trabalhos. Após esta etapa,
restaram 19 trabalhos. A Figura 2 ilustra o processo de seleção.
Após a leitura dos artigos, foram elaboradas duas tabelas: Tabe-
la 1, revisões da literatura, e Tabela 2, fontes primárias. Ambas pos-
suem as seguintes informações: idioma, título, autor/ano, objetivo,
método, prática, e tamanho da amostra. A tabela das revisões possui
ainda uma coluna com as bases de dados usadas, e a tabela com as
fontes primárias, uma coluna com o ambiente onde o trabalho foi
realizado.
A maior parte dos artigos encontrados foram publicados nos últi-
mos seis anos. O mais antigo foi publicado em 1997. A Figura 3 mos-
tra a frequência de artigos publicados por ano.
- 250 -
A contribuição das práticas integrativas e complementares em saúde 
na qualidade de vida dos trabalhadores

Figura 2 – Processo de seleção.

Fonte: autoria própria (2021).


- 251 -
Renata Roberta Dantas Silva, Daniel Oliveira Dantas

Figura 3 – Artigos publicados por ano.

Fonte: autoria própria (2021).

Figura 4 – Bases usadas nas revisões.

Fonte: autoria própria (2021).

Resultados e discussão

Esta revisão selecionou dezenove estudos datados de 1997 a 2021,


ou seja, em uma janela de 24 anos. A maior parte dos estudos en-
contrados é em inglês (13 estudos, 68,4%), seguida de português (5
estudos, 26,3%) e espanhol (1 estudo, 5,3%).
- 252 -
A contribuição das práticas integrativas e complementares em saúde 
na qualidade de vida dos trabalhadores

Dos dezenove estudos, quatro (21,1%) são revisões da literatura. A


Tabela 1 mostra os detalhes das revisões da literatura encontradas.
Duas revisões são integrativas e duas, sistemáticas. Nessas revisões
foram usadas doze bases de dados diferentes. As bases mais frequen-
tes foram MEDLINE (4 estudos, 100%), Cochrane (3 estudos, 75%) e
CINAHL (3 estudos, 75%). A Figura 4 mostra a frequência das bases
de dados usadas nas revisões encontradas.
Nas revisões encontradas, as PICS citadas são ioga, técnicas de
relaxamento, técnicas de exposição à luz, meditação, mindfulness
e musicoterapia. A Figura 5 mostra as frequências das técnicas en-
contradas nas revisões da literatura. As revisões R01 e R03 buscam
compreender a relação entre as PICS e a saúde do trabalhador. Os
trabalhos têm como objetivo verificar a eficácia das PICS na pro-
moção da saúde do funcionário, melhorando seu bem estar. A revi-
são R01 conclui que a meditação e a intervenção de atenção plena
podem melhorar o desempenho do funcionário no trabalho e sua
saúde psicossocial. A revisão R03 conclui que o planejamento do
trabalho pode ser considerado a principal estratégia de promoção
da saúde dos profissionais de enfermagem. As revisões R02 e R04
buscaram avaliar resultados de intervenções com práticas integra-
tivas voltadas à saúde do trabalhador. A revisão R02 mostra que o
ioga traz resultados físicos e psicológicos favoráveis para o traba-
lhador de diferentes áreas. A melhoria desses resultados depende
de estratégias que promovam a participação dos funcionários. A
revisão R04 busca melhorar a qualidade do sono de trabalhadores
com intervenções não farmacológicas, como por exemplo usando
luz brilhante intermitente ou óculos de bloqueio de luz. O autor
sugere que terapias complementares ampliam os efeitos do trata-
mento.
A Tabela 2 mostra os detalhes das quinze fontes primárias en-
contradas. Quatro desses estudos são reflexões teóricas. Discutem as
vantagens das PICS sem analisar uma amostra de entrevistados ou
- 253 -
Renata Roberta Dantas Silva, Daniel Oliveira Dantas

sujeitos. Outros três foram baseados em entrevistas semi-estrutura-


das, e um em entrevista feita através de questionário disponibiliza-
do na Internet. Um estudo foi sobre um relato de experiência. Os seis
estudos restantes foram ensaios clínicos. Os estudos baseados em
entrevistas envolveram de 12 a 877 entrevistados. Os ensaios clínicos
envolveram de 4 a 45 sujeitos. Dentre os seis ensaios clínicos encon-
trados, três são do tipo antes e depois, e três são do tipo randomizado
com controle. As técnicas encontradas com maior frequência nas
fontes primárias foram massoterapia, fitoterapia, meditação e reiki.
A Figura 6 mostra as frequências de todas as técnicas encontradas
nas fontes primárias.
Os estudos de reflexão teórica P01, P04, P05 e P10 descrevem
abordagens das PICS que podem ser utilizadas para tratamento de
doenças relacionadas ao ambiente de trabalho. Mencionam tamém
conflitos entre o uso das PICS e o uso da medicina tradicional. Dois
artigos não especificaram uma prática integrativa, os demais cita-
ram, fitoterapia, homeopatia, terapia do toque, massagem, reiki,
respiração diafragmática, imaginação guiada, meditação, ioga e
aromaterapia clínica.
Os estudos baseados em entrevistas foram P02, P03 e P11. Esses
estudos focaram nas práticas de meditação, espiritualidade, terapia
do toque, ioga e fitoterapia. O estudo P11 não especifica práticas uti-
lizadas. No estudo P02 os entrevistados têm a percepção de que as
práticas funcionam, porém o pesquisador relata não ter obtido evi-
dência suficiente para comprovar sua eficácia. O estudo P03 discute
apenas os aspectos culturais relacionados ao uso da fitoterapia na
comunicade coreana de Sydney, não tendo avaliado sua eficácia. No
estudo P11, os entrevistados relatam ter a percepção de que as PICS
contribuem para a redução do estresse fora do ambiente de traba-
lho, em especial a massoterapia. Porém demonstram preocupação
quanto ao seu uso no local de trabalho devido ao conflito entre as
PICS e as práticas clínicas convencionais.
- 254 -
A contribuição das práticas integrativas e complementares em saúde 
na qualidade de vida dos trabalhadores

Figura 5 – Frequência das técnicas encontradas nas revisões da literatura.

Fonte: autoria própria (2021).

Tabela 1 – Revisões da literatura.


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well-being. trabalho melhoram o cINFO, MEDLINE,
bem-estar do funcio- AMED, CINAHL
nário. Plus, Embase e
PubMed.
R002 Ioga na saúde do COSTA; GRECO; Investigar e analisar o Revisão integrati- Ioga CINAHL, MEDLINE, 10 artigos
trabalhador: revisão ALEXANDRE, que a literatura científica va de estudos de Web of Science,
integrativa de estudos 2018 dos dez anos subsequen- intervenção. Scopus, Cochrane
de intervenção tes à publicação da Polí- e SciELO.
tica Nacional de Práticas
Integrativas e Comple-
mentares apresenta so-
bre resultados de inter-
venções utilizando ioga
no ambiente de trabalho
com trabalhadores
R03 Saúde dos trabalha- FARIAS ET AL., “compreender me- Revisão integra- Musicotera- “MEDLINE, LI- 23 artigos
dores de enfermagem: 2019 lhor as estratégias de tiva da literatura pia, técnicas LACS e BDENF.
revisando as estraté- promoção da saúde com análise qua- de relaxamen- “
gias de promoção à para a enfermagem litativa. to e ioga
saúde profissionais.”
R04 Non-Pharmacological CROWTHER et Avaliar os resultados Revisão siste- D i f e r e n t e s Embase, MEDLINE, 65 artigos
Interventions to Im- al., 2021 de intervenções não mática, síntese técnicas de ex- Cochrane, Pub- na análise
prove Chronic Disease farmacológicas voltadas qualitativa e me- posição à luz Med, PsychINFO, qualitativa e
Risk Factors and Sleep para distúrbios do sono, ta-análise Web of Science e 38 na análise
in Shift Workers: A em trabalhadores por CINAHL. quantitativa
Systematic Review and turnos.
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Renata Roberta Dantas Silva, Daniel Oliveira Dantas

Tabela 2 – Fontes primárias.


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Id. Título Autor/ano Objetivo Método Prática Ambiente Amostra


P08 Occupational low BORGES ET AL., Avaliar a eficácia da Ensaio clínico “Massagem por Pronto Socorro 45 sujei-
back pain in nursing 2014 massagem para dimi- controlado rando- acupressão” COHAB II (ER), na tos
workers: massage ver- nuir a coluna lombar mizado. cidade de Carapi-
sus pain ocupacional dor em cuíba, Estado de
trabalhadores de uma São Paulo.
equipe de enfermagem
em um Pronto Socorro.
P09 Musculoskeletal Pain GUPTA et al., Determinar a preva- Web-based survey Várias (massa- Leste da Índia. 877 en-
Management Among 2015 lência de MSDs entre gem, fitoterapia, trevista-
Dentists: An Alternati- dentistas que residem ioga, acupressão, dos
ve Approach. no leste da Índia e o uso meditação, home-
de terapias CAM para opatia, exercícios
o gerenciamento de de respiração,
MSDs entre dentistas. acupuntura, quiro-
(melhorar tradução) praxia, reiki)
P10 Propuesta de enfer- “ VÁ S Q U E Z ; Contribuir para a abor- Reflexão teórica. N/A N/A N/A
mería con terapias VÍLCHEZ-BAR- dagem dos riscos psi- Discute os riscos
complementarias para BOZA; VALEN- cossociais no trabalho, psicossociais
el abordaje de riesgos ZUELA-SUAZO, da enfermagem, às associados ao
psicosociales a nivel 2016” terapias complemen- ambiente de tra-
laboral tares. balho e formas de
mitigá-los.
P11 Nurses’ views on WRIGHT et al., Explorar a percepção Entrevista apro- Várias Emergency De- 12 entre-
workplace wellbeing 2016 e experiências de en- fundada semi-es- partment and vistados
programmes. fermeiras no uso de truturada e análi- Burns High De-
PICs dentro e for a do se qualitativa. pendency Unit
ambiente de trabalho of a single site of
para gerenciamento de an acute hospital
estresse. trust.
P12 A craniopuntura japo- BARREIROS et Caracterizar a técnica Estudo do tipo Craniopuntura Uma instituição 7 profis-
nesa como instrumen- al., 2019 de craniopuntura japo- antes e depois. pública de saúde, sionais da
to para o tratamento nesa como instrumento de assistência em equipe
da dor não específica para o tratamento da nível primário.
em profissionais de dor não específica em
saúde profissionais de saúde.
P13 Práticas integrativas e BEZERRA et al., Descrever as ações de Relato de experi- Shiatsu, reiki Unidade de Saúde Número
complementares em 2019 Práticas Integrativas e ência realizada em da Família (USF) não infor-
saúde junto a profis- Complementares em 2017 e 2018. Justiniano Ho- mado de
sionais da atenção Saúde realizadas com mem de Siqueira, profissio-
primária trabalhadores da Aten- no bairro Potengi, nais da
ção Primária Natal, RN, Brasil. unidade
de saúde
P14 The Effects of Grou- CHEVALIER ET “Determinar os efeitos Projeto de pesqui- Aterramento elé- The Chopra Center 16 masso-
nding (Earthing) on AL., 2019 do aterramento na sa e intervenção/ trico do corpo do for Well-Being em terapeu-
Bodyworkers’ Pain and qualidade de vida e dor ensaio clínico massagista Carlsbad, Califór- tas
Overall Quality of Life: dos massoterapeutas. randomizado du- nia, EUA.
A Randomized Control- Aterramento, refere- plo-cego (RCT)
led Trial. -se ao contato direto
do corpo com o solo,
como andar descalço
em solo úmido ou na
grama.”
- 257 -
Renata Roberta Dantas Silva, Daniel Oliveira Dantas

Id. Título Autor/ano Objetivo Método Prática Ambiente Amostra


P15 Aromaterapia para a DIAS; DOMIN- Investigar a efetividade Estudo quantita- A ro m a t e r a p i a , Uma instituição 27 docen-
ansiedade e estresse GOS; BRAGA, do uso da aromaterapia tivo, explorató- massagem pública de ensino tes
de professores de en- 2019 com os óleos essenciais rio-descritivo e superior do inte-
fermagem de lavanda (Lavan- correlacional com rior do Estado de
dula angustifolia) ou delineamento São Paulo.
ylang-ylang (Cananga quase-experi-
odorata), associada à mental do tipo
massagem, para o alí- antes e depois.
vio da ansiedade e do
estresse.

O estudo P09 utilizou um questionário disponibilizado na inter-


net para entrevistar 877 dentistas do leste da Índia. O estudo visa
identificar a prevalência de distúrbios músculo-esqueléticos, entre
esses profissionais, e determinar com que frequência usam PICS
para administrar distúrbios músculo-esqueléticos. As PICS usadas
com mais frequência são massagem, fitoterapia, ioga e acupressão.
O autor desse estudo recomenda o uso das PICS como alternativa às
terapias convencionais por profissionais dentistas para a prevenção
da dor causada pela má postura durante o trabalho.
O relato de experiência P13 descreve o uso das PICS entre pro-
fissionais da atenção básica de saúde do SUS, especificando como
prática utilizada o shiatsu e o reiki com o objetivo de gerenciar o
estresse e evitar o burnout. O estudo conclui que essas práticas são
eficazes no gerenciamento de estresse, além de ter promovido a
conscientização desses profissionais do SUS quanto à importância
do autocuidado.
- 258 -
A contribuição das práticas integrativas e complementares em saúde 
na qualidade de vida dos trabalhadores

Figura 6 – Frequência das técnicas encontradas nas fontes primárias.

Fonte: autoria própria (2021).

Os estudos com ensaios clínicos antes-e-depois P06, P12 e P15 vi-


sam explorar como as PICS auxiliam o tratamento da dor inespecífi-
ca, ansiedade e gerenciamento do estresse. As práticas citadas foram
reflexologia, craniopuntura e aromaterapia associada a massagem.
Os estudos P06 e P12 concluíram que a prática utilizada, reflexologia
e craniopuntura respectivamente, é eficaz. O estudo P15 relata uma
eficácia reduzida das práticas de aromaterapia e massagem.
Os estudos com ensaios clínicos randomizados P07, P08 e P14
visam avaliar a eficácia das seguintes práticas: acupuntura, quiro-
praxia, massagem terapêutica, técnicas mente-corpo, massagem por
acupressão e aterramento elétrico do corpo do massagista. Todos os
estudos afirmam ser positiva a utilização das práticas integrativas.
A revisão integrativa da literatura encontrou dezenove artigos
sobre as PICS aplicadas à saúde do trabalhador sendo oferecidas
em diversos locais. Essas práticas estão associadas a resultados po-
sitivos na saúde do trabalhador. Os trabalhadores da área da saúde
utilizam as PICS para autocuidado além de as divulgarem para pro-
- 259 -
Renata Roberta Dantas Silva, Daniel Oliveira Dantas

fissionais de outras áreas com o objetivo de reduzir problemas de


saúde relacionados ou não ao ambiente de trabalho (COSTA; GRE-
CO; ALEXANDRE, 2018; FARIAS et al., 2019).
Ações voltadas a utilização das PICS são de grande relevância
uma vez que despertam nos envolvidos a promoção da própria saú-
de, inclusive no trabalhador do SUS. O incentivo ao uso das práticas
integrativas deve vir desde a formação dos trabalhadores da saúde,
pois isso contribuiria para a utilização dessas práticas na atuação do
profissional e consequente popularização das PICS. (BEZERRA et al.,
2019; BARREIROS et al., 2019).
Estudos sugerem que os profissionais devem ser educados sobre
terapias alternativas além das terapias convencionais pelo fato de
essas práticas reduzirem fatores de risco de doenças relacionadas à
atividade laboral (GUPTA et al., 2015; CROWTHER et al., 2021).
A OMS tem se empenhado em regularizar a prática da medicina
complementar pelo fato de sua utilização pela sociedade atual ser
ampla. Faz-se necessário que os profissionais de saúde se familia-
rizem com o assunto e ofereçam aos seus clientes novas alternati-
vas de autocuidado e mitigação dos riscos psicossociais no trabalho
(VÁSQUEZ; VÍLCHEZ-BARBOZA; VALENZUELA-SUAZO, 2016).
As práticas integrativas ajudam os profissionais a lidarem com
situações de alto estresse, proporcionando relaxamento, melhoria
do sono, diminuição da ansiedade e da depressão, de forma a au-
mentar seu nível de qualidade de vida e de saúde (CHEVALIER et
al., 2019).
Dentre os artigos selecionados, nove avaliaram a eficácia das
PICS. Seis (66,7%, P06, P08, P12, P14, R02 e R04) avaliam as PICS
como eficazes, dois (22,2%, P15 e R01) como parcialmente eficazes,
e um (11,1%, P02) como não eficaz. Os demais não avaliam a eficácia
das práticas, apenas as discutem e as recomendam. Diante do expos-
to, os resultados mostram que é promissor o uso das PICS voltadas
para a promoção da qualidade de vida e saúde do trabalhador. As
- 260 -
A contribuição das práticas integrativas e complementares em saúde 
na qualidade de vida dos trabalhadores

práticas podem ser aplicadas em diferentes cenários nos mais diver-


sos tipos de trabalhadores.

Conclusões

Este estudo foi desenvolvido com a finalidade de identificar na li-


teratura se as PICS têm contribuído com a saúde dos trabalhadores,
verificando se é possível afirmar que as práticas integrativas contri-
buem com a qualidade de vida dos trabalhadores. Constatamos que
é escasso o número de estudos na interseção entre práticas integra-
tivas e saúde do trabalhador. Foram encontrados apenas dezenove
estudos alinhados ao objetivo deste trabalho.
Os resultados são promissores quanto a utilização das práticas
voltadas para a promoção da qualidade de vida e da saúde do traba-
lhador, de forma a serem aplicadas em diferentes cenários e com os
mais diversos tipos de trabalhadores. Portanto, essas práticas deve-
riam ser mais estudadas, pelo fato de os estudos na área serem es-
cassos mesmo sendo benéficas no cenário da saúde do trabalhador.
Nesse sentido, a utilização das práticas integrativas permite a re-
dução dos fatores de risco de doenças relacionados ao trabalho além
de contribuirem para a promoção do autocuidado.
Dada a importância do assunto, torna-se necessário o desenvolvi-
mento de novas pesquisas que demonstrem a eficácia e viabilidade
da utilização das práticas integrativas e complementares na saúde
do trabalhador em diferentes ambientes de trabalho, maior divulga-
ção e oferta dessas terapias nas redes de atenção à saúde.
- 261 -
Renata Roberta Dantas Silva, Daniel Oliveira Dantas

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- 265 -
Thyago Avelino Santana dos Santos

NÃO TENHA MEDO DE PEDIR AJUDA:


IMPACTOS NA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

Thyago Avelino Santana dos Santos

Vulnerabilizar-se

O estudo sobre os impactos da qualidade de vida no ambiente


laboral tem sido matéria de grandes debates, principalmente no que
diz respeito ao trabalhador reconhecer que precisa de ajuda e, con-
sequentemente, empreender um movimento de pedir ajuda, a fim de
salvaguardar a sua qualidade de vida. Todavia, desafios pela atenção
integral à saúde dos trabalhadores são caminhos observados pelas
diretorias de gestão de pessoas, com maior destaque no século XXI,
no contexto público e privado, em movimentos para enxergar o “tra-
balhador” na sua integralidade de necessidades e, não somente no
cumprimento de metas e tarefas laborais.
Ainda, utilizo a pesquisa bibliográfica, como metodologia prin-
cipal, desdobrando em uma investigação teórico sobre os assuntos
correlatos ao título proposto, partindo da premissa de que alguns
conflitos que ocorrem no ambiente laboral podem ser minimizados
diante da melhoria do clima organizacional, além do olhar atento da
instituição para a estrutura integral do ser humano.
Com isso, chamo a atenção do estudo sobre o objetivo principal
de contextualizar como os servidores/trabalhadores estão assumin-
- 266 -
Não tenha medo de pedir ajuda

do a vulnerabilidade do ser, assumindo para si que em alguns mo-


mentos da vida precisará pedir ajuda sem receio da vulnerabiliza-
ção e quais os desdobramentos dessa ação.
E por falar em vulnerabilização, segundo Brown (2016, p. 25) vul-
nerabilidade não é ganhar ou perder; é ter a coragem de se mostrar
e ser visto quando não se tem controle algum sobre o resultado.
Vulnerabilidade não é fraqueza, mas, sim, nossa maior medida da
coragem. Acredito também que existem alguns preceitos básicos a
respeito de ter coragem, correr risco de se mostrar vulnerável e su-
perar as adversidades, assumindo algumas regras para “dar a volta
por cima”.
Ainda, Brown (2016, p. 28) menciona que:

Os líderes mais transformadores e resilientes com que traba-


lhei ao longo da minha carreira têm três coisas em comum.
Em primeiro lugar, reconhecem o papel central que os relacio-
namentos e a história de cada um desempenham na cultura
e na estratégia de seu empreendimento, e conservam a curio-
sidade sobre as próprias emoções, ideias e comportamentos.
Em segundo lugar, compreendem e se mantêm curiosos sobre
como emoções, ideias e comportamentos se interligam nas
pessoas lideradas por eles e sobre como esses fatores afetam
os relacionamentos e a percepção de cada um. Em em terceiro
lugar, têm a capacidade e a disposição necessárias para se co-
locar em situações incômodas e de vulnerabilidade.

Nessa linha de raciocínio, Brown (2016, p. 29) ensina que vive-


mos numa cultura da insuficiência, uma cultura de “nunca ser bom
o bastante”, sendo que o principal interesse de homens e mulheres
plenos e bem sucedidos é levar uma vida definida pela coragem, pelo
compromisso e por um claro senso de propósito.
Em tempos de crise (momento de incertezas, perdas, perspecti-
vas confusas), natural que pensamentos e ações sejam dirigidos pela
- 267 -
Thyago Avelino Santana dos Santos

parte mais pré-histórica do cérebro, destinada a lidar com tigres com


dentes de sabre, mas não necessariamente nas crises deste mundo. 
Diante de tal posição descrita e destacada, indico que você reflita
sobre seus valores, crenças íntimas que mais importam quando “o
mundo inteiro parece estar desmoronando”. Pergunto: você já parou
para checar quais são os sentimentos que invadem sua mente e seus
pensamentos no momento em que não consegue pedir ajuda?
Segundo Ury (2015, p. 79), é preciso aceitar o passado, perdoar
quem nos fez mal, pois não significa aprovar nem esquecer o que
foi feito, mas, sim, aceitar o fato consumado e nos libertar de seu
peso opressivo. Afinal, os maiores beneficiários do perdão somos sós
mesmos. O rancor e a raiva acabam por nos ferir e nos esgotar mais
que as pessoas por quem temos ressentimento. Cultivar rancores faz
tanto sentido quanto continuar segurando a bagagem a bordo de
um trem; apenas nos cansa, sem necessidade.
Também, tão importante quanto perdoar os outros é perdoar a
si mesmo. Sem dúvida, todos nós em algum momento sentimos cul-
pa, vergonha, recriminação e ódio por nós mesmos, pelas diferentes
maneiras e muitas ocasiões em que nos desrespeitamos, não cum-
prindo as promessas que fizemos a nós mesmos, e nos magoamos,
assim como o próximo.

O caminho para dentro

O naturalista Charles Darwin1 acreditava que emoções são adap-


tações que permitem que humanos e animais sobrevivam e se re-
produzam.  Assim, quando estamos com  raiva, é provável que con-
frontemos a fonte de nossa irritação. Quando sentimos medo, temos

1 Charles Darwin foi um dos primeiros pesquisadores a estudar cientificamente emoções. Ele sugeriu
que demonstrações emocionais também poderiam desempenhar um papel importante na segurança e na
sobrevivência.
- 268 -
Não tenha medo de pedir ajuda

mais chances de fugir da ameaça. Quando sentimos amor, podemos


procurar um companheiro e se reproduzir, por exemplo.
Para dar maior clareza aos desafios atuais que você está enfren-
tando nas operações do mercado financeiro, Rashid (2019, p. 142)
compartilha o exercício mostrado no Quadro1.

Quadro 1 – Exercício – Desafios Atuais


Escreva sobre um desafio atual que você está enfrentando e tentou resolver. Descreva-o em termos concretos: O
que é? Quando começou e há quanto tempo está acontecendo? Em que aspectos tem sido desafiador?
O Desafio Suas reflexões
Descreva um desafio atual que precisa ser resolvido
Quando ele começou? Quanto tempo durou?
Quais são seus efeitos?
Que aspectos deste desafio você gostaria de mudar?
Que estratégia específica de sabedoria prática você pode usar para fazer mudanças
adaptativas?

Vale outra reflexão: em um momento de dificuldade, diante de


sentimentos “ruins” não praticamos como nos libertarmos dessa
dor, praticamos compaixão porque às vezes é difícil ser um ser hu-
mano. Quando aceitamos plenamente a realidade de somos seres
humanos imperfeitos, que enfrentam dificuldades e são propensos
a cometer erros, nosso sistema emocional naturalmente começa a
abrandar.
A fim de oportunizar fluidez na percepção, trago a exemplifica-
ção da positividade que está embutido no arrependimento que é:
um dos lembretes emocionais mais poderosos de que a mudança e o
crescimento são necessários. Outrossim, aliado ao fato de que assim
como todas as emoções, o arrependimento pode ser usado de manei-
ra construtiva ou destrutiva, dependendo do seu equilíbrio mental.
Ou seja, viver sem arrependimentos é crer que você não tem nada
a aprender, nada a corrigir e nenhuma oportunidade de ser mais
corajoso na vida.
- 269 -
Thyago Avelino Santana dos Santos

Navegando pelo inconsciente, percebe-se que a mente inconscien-


te está constantemente filtrando e trazendo à atenção informações
e estímulos que afirmam crenças preexistentes, além de apresentar
pensamentos e impulsos repetidos que espelham o que a pessoa fez
no passado, causando movimentos mentais de “ruminação” e, con-
sequentemente, desgastes emocionais que paralisam no que errou
ou deixou de fazer.
Ademais, a arte da autocompaixão prevê voltar-se gradualmente
para o desconforto emocional quando se surge, sendo importante
traçar a diferença entre culpa e vergonha, sendo que o primeiro se
refere a se sentir mal em relação a um comportamento, enquanto
o segundo diz sobre se sentir mal em relação a nós mesmos. Pois,
existem pensamentos repetitivos específicos que podem passar por
sua mente quando a vida se torna difícil, dúvidas persistentes com
frequência originadas na infância que parecem patentemente claras
e verdadeiras em seus momentos vulneráveis. Alguns exemplos são:
“Eu sou medíocre”; “Eu não serei ninguém na vida”; “Eu sou um fracas-
so”; “Eu não inteligência para isso”; “Eu não sou importante”.
Assim, as crenças básicas negativas comuns que os seres humanos
têm sobre si mesmos são construídas, principalmente, na primeira in-
fância (0 a 7 anos de idade), diante do que os pais e ou responsáveis te
levaram a crer como verdadeiros na sua estrutura de personalidade.
Um fato a ser observado com enraizadora de tais crenças é que você
pode ter uma tendência a silenciar suas crenças básicas, por vergonha
dos outros e medo de ser rejeitado(a), por exemplo.
Lasater (2020, p. 117) preceitua que, em geral, quando estamos
aflitos e nossos pensamentos estão a todo vapor, não somos capazes
de ter empatia com os outros até que nossa própria necessidade de
empatia seja suficientemente atendida. Portanto, a autoempatia é
um primeiro passo importante na integração da Comunicação não
violenta, pois uma vez conectados com nós mesmos, estaremos mais
abertos a dirigir nosso interesse e curiosidade à outra pessoa.
- 270 -
Não tenha medo de pedir ajuda

Assim inicia o processo de empatia silenciosa que é o mesmo que o


processo de autoempatia, com a diferença de que você está internamen-
te se perguntando sobre outra pessoa em vez de sobre si mesmo.
Além disso, mostra-se como eficaz que você assuma suas histó-
rias de queda, erros... Homens e mulheres que reconhecem o que es-
tão sentindo diante de arrependimentos e frustrações identificam os
principais ensinamentos extraídos desse processo e, permitem que
que o fluxo emocional siga livre de aprisionamentos limitantes em
fatos do passado.
Brown (2016, p. 59) ensina um exercício simples e ao mesmo
tempo eficaz para a identificação da autocompaixão: “escreva uma
história de superação que você já passou na sua vida, descreva os
fatos associando aos sentimentos que estavam presentes naquele
momento, bem como como empreendeu para superar os momentos
difíceis (pessoas, ferramentas, comportamentos). Ao final, leia com
atenção e perceba o quanto você é capaz de crescer, mesmo nos mo-
mentos desafiantes da vida”.

Os primeiros passos

Na percepção de que algo está errado consigo e que é necessário


pedir ajuda, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida no âm-
bito do trabalho, em destaque, Neff (2019, p.18) ensina dez passos que
auxiliam na manifestação de melhor qualidade de vida no trabalho,
iniciando pelo primeiro passo para criar mudanças significativas
em sua vida não é somente acreditar que é possível, é também es-
tar disposto a empreender os investimentos pessoais necessários e
concretizar o possível, degrau a degrau. Acreditar nas mudanças de
padrões emocionais e comportamentais, é possível diante da consci-
ência do processo.
O segundo passo é se permitir vivenciar o sucesso em seu am-
biente laboral, em vez de regurgitar a mesma velha narrativa de
- 271 -
Thyago Avelino Santana dos Santos

acreditar que você somente ficará feliz quando atingir o cargo máxi-
mo na instituição, devendo treinar sua mente mudar seu monólogo
interior da reclamação para: “Eu permito que minha vida seja boa no
momento do agora.” Portanto, permita-se ser feliz e bem-sucedido(a)
agora e não se sentir culpado(a) por isso. Você tem o direito de toda
a prosperidade e abundância, permita-se entrar em uma existência
inteira, feliz, saudável, fundamentada e consciente. O terceiro pas-
so é criar uma blindagem mental, a fim de que os medos de outras
pessoas não afetem as suas certezas, principalmente diante da ma-
neira como as pessoas reagem às notícias de seu sucesso dentro da
empresa/instituição, pois tal movimento delas lhe dirá como elas re-
almente estão em intenção real na sua vida. De maneira mais crista-
lina, os medos e frustrações de outras pessoas são projeções de suas
próprias situações. Eles não têm nada a ver com o que você é ou não
é capaz, você é o protagonista de seus esforços para o gerenciamento
de suas emoções.
O quarto passo é cercar-se de reforço positivo, iniciando com
uma simples ação diária, por exemplo: mude a mensagem do alarme
da manhã no telefone para ler: “Hoje será incrível”; “Parabéns por seu
desenvolvimento pessoal”; “Acolha seus pensamentos”; “Aprenda, estude,
o caminho é infinito”. Certifique-se de que os itens que você tem aces-
so com maior frequência trazem positividade e esperança.  Outra
ação eficaz é deixar de seguir nas redes sociais as pessoas que fazem
você se sentir mal consigo mesmo e siga as que estão constantemen-
te postando mensagens motivacionais e ideias interessantes. 
Projete o seu sucesso profissional como um fato presente e não
como algo incerto que poderá acontecer no futuro, representando
o quinto passo. Em vez de dizer: “Espero fazer isso um dia aconteça”,
diga: “Estou planejando como fazer isso agora”. Em vez de pensar: “Serei
feliz quando estiver em um lugar diferente da minha vida”, pense: “Sou
completamente capaz de ser feliz aqui e agora, nada está me impedindo”.
O sexto passo é ser capaz de imaginar o que você quer da sua vida,
- 272 -
Não tenha medo de pedir ajuda

sendo absolutamente essencial para criar o campo eficaz de mani-


festação e compreensão do seu inconsciente para qual caminho gui-
á-lo, porque se você não sabe para onde está indo, não saberá para
que lado está o seu sucesso profissional e o campo de equilíbrio da
qualidade de vida funcional. Assim, organize em seu ambiente de
trabalho um quadro ou um caderno de acesso diário com um con-
junto de palavras e de imagens que representam o que você deseja e
como deseja viver, diante da organização emocional no trabalho que
agora resta ainda mais evidente para você.
O sétimo passo é identificar crença mental ainda te impede de al-
cançar aquilo que você deseja como ponto de qualidade de vida no
trabalho. Para identificar sua resistência, questione-se. Pergunte a si
mesmo por que você se sente melhor quando procrastina ou por que
conseguir o que realmente deseja pode colocá-lo(a) em um lugar que
faça você se sentir mais vulnerável do que nunca. Encontre uma ma-
neira de atender a essas necessidades antes de prosseguir e, se preci-
sar, peça ajuda de um profissional qualificado. Seguindo nessa linha,
o oitavo passo é empreender um plano mestre para sua vida, indepen-
dentemente do tempo projetado para a concretização dos seus planos
financeiros, profissionais e de vida pessoal, identifique seus principais
valores e motivações. Pergunte a si mesmo qual é o objetivo final do
que você deseja alcançar enquanto estiver vivo; imagine o tipo de lega-
do que você deseja deixar na empresa/instituição onde você faz parte
do quadro de pessoas. Depois de identificar seus valores gerais, você
pode tomar decisões a longo prazo que se alinham com o seu propósi-
to concreto, evitando devaneios mentais e processos utópicos.
A prática da gratidão corresponde ao nono passo, pois é a melhor
maneira de começar a se colocar no espaço de “ter” em vez de “que-
rer”, expressando seu agradecimento por tudo o que você já tem,
planejando com inteligência emocional quais as próximas ações a
serem adotadas para a concretização do que almeja no âmbito labo-
ral. Nada magnetiza tanto a abundância para você como gratidão. E
- 273 -
Thyago Avelino Santana dos Santos

o décimo passo é cercar-se de pessoas verdadeiramente gratas pela


vida, solidárias e criativas.
Além dos ensinamentos acima destacados, Brown (2016, p. 153) re-
gistra também passos sobre alcançar uma vida plena, na busca pela
qualidade de vida no trabalho e de forma integrativa da vida: Culti-
var a autenticidade: libertar-se do que os outros pensam; Cultivar a
autocompaixão: libertar-se do perfeccionismo; Cultivar um espírito
resiliente: liberte-se do entorpecimento e da impotência; Cultivar a
gratidão e a alegria: libertar-se da escassez e do medo do desconhe-
cido; Cultivar a intuição e confiar na fé: libertar-se da necessidade de
certezas; Cultivar a criatividade: libertar-se das comparações; Cultivar
o lazer e o repouso: liberte-se do cansaço como símbolo de status e
da produtividade como fator de autoestima; Cultivar a serenidade e
a quietude: libertar-se da ansiedade como estilo de vida; Cultivar o
trabalho significativo: libertar-se da falta de autoconfiança e de supo-
sições sobre como as coisas “deveriam” ser; Cultivar o riso, a música
e a dança: libertar-se da insegurança e de “estar sempre no controle”.

Conclusão

Ainda que o estudo tenha atingido o objetivo proposto e tenha ofe-


recido contribuições no que se refere à qualidade de vida no trabalho
frente aos movimentos de vulnerabilizar-se e, consequentemente, pe-
dir ajuda sem medo de ser um comportamento de fraqueza pelo tra-
balhador, há pontos no escopo deste estudo que podem ser ampliados
diante da amplitude do tema por meio de estudos futuros.
Na pesquisa, mostrou-se que o medo de ficar fora do controle e
incapaz de tolerar incertezas no âmbito laboral são características
comuns de comportamentos que ressoem com ansiedade, em seus
diversos níveis, além do diagnóstico de depressão, com flutuações
usuais de humor e respostas emocionais de curta duração aos desa-
fios da vida cotidiana. 
- 274 -
Não tenha medo de pedir ajuda

Ademais, observa-se que a mudança comportamental do traba-


lhador apoia-se no pressuposto que não é possível dissociar a satis-
fação no trabalho de outros domínios da vida, ou seja, o bem-estar
do trabalhador está congruente com seu estado de satisfação com a
vida, de felicidade e de bem-estar subjetivo.
Assim, evidente de que as emoções exercem uma grande in-
fluência nas decisões do trabalhador, desde o decidir ir para o
ambiente de trabalho até em quais comandos devem ser adotados
para a efetivação do labor, sendo fundamental conectar-se com
as necessidades por trás dos pensamentos julgadores consigo e
com o outro. Além disso, evidente demonstrado que na ausência
de empatia e autocompaixão, somente um caminho será como
provável: resolver os problemas no local de trabalho com o uso da
força sobre outra pessoa, perdendo-se a qualidade de vida dian-
te dos desgastes naturais da imposição e não do engajamento da
equipe.
Por fim, vulnerabilar-se significa ter coragem para pedir ajuda e
viver a verdade de cada um, na busca eficaz pela qualidade de vida
no âmbito do trabalho e na vida integral, afinal, quando decidimos
reconhecer nossa própria história e viver segundo a nossa verdade,
levamos nossa luz às trevas no inconsciente.

Referências

BROWN, BRENÉ. Mais forte do que nunca. Tradução de Vera Lúcia Ribeiro.
Rio de Janeiro: Sextante, 2016.
LASATER, IKE. Comunicação não violenta no trabalho: um guia prático
para se comunicar com eficácia e empatia. Tradução de Laura Claessens.
São José dos Campos: Colab Colibri, 2020.
NEFF, KRISTIN. Manual de mindfulness e autocompaixão: um guia para
construir forças internas e prosperar na arte de ser seu melhor amigo.
Tradução de Sandra Maria Mallmann da Rosa. Revisão técnica de Simone
Teresinha Aloise Campani. Porto Alegre: Artmed, 2019.
- 275 -
Thyago Avelino Santana dos Santos

RASHID, TAYYAB. Psicoterapia positiva: manual do terapeuta. Tradução


de Sandra Maria Mallmann da Rosa. Revisão técnica de Marco Montar-
royos Callegaro. Porto Alegre: Artmed, 2019.
URY, WILLIAM. Como chegar ao sim com você mesmo. Tradução de Afonso
Celso da Cunha. Rio de Janeiro: Sextante, 2015.
SOBRE OS AUTORES

Nome: André Luis Dantas Ramos


Formação: Doutor em Engenharia Química UFRJ/COPES
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/
SE - Brasil
Departamento: Departamento de Engenharia Ambiental – Campus São Cris-
tóvão
http://lattes.cnpq.br/0892700525174165

Nome: Anne Marrana dos Santo Ramos Pontes


Formação: Graduanda de Fonoaudiologia
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/
SE - Brasil
Departamento: Departamento de Fonoaudiologia - Campus São Cristóvão
http://lattes.cnpq.br/5261468567214898

Nome: Claudilene dos Santos Silva


Formação: Graduanda em Fisioterapia/UFS
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/
SE - Brasil
Departamento ou Programa: Departamento de Fisioterapia da Universidade
Federal de Sergipe – DFT/UFS
http://lattes.cnpq.br/4486882832910740

Nome: Daniel Oliveira Dantas


Formação: Dr. em Ciência da Computação, IME-USP
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – Aracaju/SE - Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Pós-Graduação em Ciência da Com-
putação - PROCC
http://lattes.cnpq.br/6032675883071976

Nome: Eline Silva da Cunha


Formação: Ma. em Fisioterapia/UFRN
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – Aracaju/SE -
Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Pós-graduação em Ciência Fisioló-
gicas - PROCFIS
http://lattes.cnpq.br/1901274447452655
- 278 -
Gestão da saúde do trabalhador e ergonomia

Nome: Flávia Moreira Guimarães Pessoa


Formação: Doutora em Direito Público/UFBA
Instituição de atuação: Conselho Nacional de Justiça - Brasil
Departamento ou Programa: Comitê de Atenção Integral à Saúde de Magistra-
dos e Servidores
http://lattes.cnpq.br/2987779178843187

Nome: Geraldo Magella Teixeira


Formação: Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNI-
FESP)
Instituição de atuação: Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
– UNCISAL– Maceió/AL - Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Mestrado Profissional em Ensino
em Saúde e Tecnologia
CV: http://lattes.cnpq.br/0553089994592057

Nome: Izabela Souza da Silva


Formação: doutoranda em Ciência da Propriedade Intelectual
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe (UFS)- Aracaju/SE- Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Pós-Graduação em Ciência da Pro-
priedade Intelectual – PPGPI
CV: http://lattes.cnpq.br/1823326324498324

Nome: Jandira Valerio Gomes Maia


Formação: Graduanda de Fonoaudiologia
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/
SE - Brasil
Departamento: Departamento de Fonoaudiologia - Campus São Cristóvão
http://lattes.cnpq.br/1744258408524503

Nome: Josélia Souza de Medeiros


Formação: Fonoaudióloga/UFPB
Instituição de atuação: Fundo Municipal de Saúde de Jaboatão dos Guararapes
– Pernambuco – Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Residência Multiprofissional em
Atenção Básica e Saúde da Família
http://lattes.cnpq.br/4272526084909822

Nome: José Ronaldo Veronesi Junior


Formação: Dr. em Ciências Biomédicas/IUNIR - Convalidado Pela Universidade
Anhanguera de São Paulo, com o Título de Doutor em Biotecnologia Inovação
em Saúde
- 279 -
Maria Goretti Fernandes; Izabella Souza da Silva

Instituição de atuação: Faculdade Delta/ES – Brasil, Diretor do IEDUV - Institu-


to Educacional Veronesi/ES - Brasil, Investigador Parceiro da ErgoUX da Facul-
dade de Arquitetura da Universidade de Lisboa

Nome: Josicleide Gomes Davi dos Santos


Formação: Fisioterapeuta
Instituição de atuação Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
– UNCISAL– Maceió/AL - Brasil
http://lattes.cnpq.br/9499301030155696

Nome: Loic Hernandez do Amaral e Aragão


Formação: Fisioterapeuta/UFS
Instituição de atuação: Fundo Municipal de Saúde de Jaboatão dos Guararapes
– Pernambuco - Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Residência Multiprofissional em
Atenção Básica e Saúde da Família
http://lattes.cnpq.br/9835505096609720

Nome: Lydianne Lumack do Monte Agra


Formação: Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Oftalmologia e Ciên-
cias Visuais, da Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina.
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – Aracaju/SE -
Brasil
Departamento ou Programa: Departamento de Oftalmologia
http://lattes.cnpq.br/2627465200004237

Nome: Marcos André Santos Guedes


Formação: Msc. em Ergonomia / UFPE
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – Aracaju/SE -
Brasil
Departamento ou Programa: Divisão de Segurança do Trabalho - DISET
http://lattes.cnpq.br/1270476686540613

Nome: Maria do Amparo Marinho de Melo


Formação: Mestre em Ensino em Saúde e Tecnologia/UNCISAL
Instituição de atuação: Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
– UNCISAL– Maceió/AL - Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Mestrado Profissional em Ensino
em Saúde e Tecnologia.
- 280 -
Gestão da saúde do trabalhador e ergonomia

Nome: Maria Goretti Fernandes


Formação: Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN)
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe (UFS)- Aracaju/SE- Brasil
Departamento ou Programa: Departamento de Fisioterapia da Universidade
Federal de Sergipe (UFS)- Aracaju/SE- Brasil
CV: http://lattes.cnpq.br/6643077577344920

Nome: Marlisson Paulo Pinheiro da Silva


Formação: Fonoaudiólogo/UFRN
Instituição de atuação: Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Fi-
gueira – Pernambuco – Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Residência Multiprofissional em
Saúde Coletiva
http://lattes.cnpq.br/0195283199474334

Nome: Matheus Liniker de Jesus Santos


Formação: Me. em Ciência Ciências Fisiológicas/UFS
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – Aracaju/SE -
Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Pós-graduação em Ciência Fisioló-
gicas - PROCFIS
http://lattes.cnpq.br/4004174168430772

Nome: Murilo Marchioro


Formação: Dr. em Ciência Biológicas/UFRJ
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – Aracaju/SE -
Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Pós-graduação em Ciência Fisioló-
gicas - PROCFIS
http://lattes.cnpq.br/0236515445675827

Nome: Ravena Barreto da Silva Cavalcante


Formação: Especialista em Atenção Básica em Saúde da Família/UFMG
Instituição de atuação: Universidade Federal de Alagoas – UFAL – Maceió/AL
– Brasil
Departamento ou Programa: Santa Casa de Misericórdia de Maceió, SCMM
http://lattes.cnpq.br/1028177437478672
- 281 -
Maria Goretti Fernandes; Izabella Souza da Silva

Nome: Regiane Cristina do Amaral


Formação: Doutora em Odontologia / Saúde Coletiva FOP/UNICAMP
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/
SE - Brasil
Departamento: Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Ser-
gipe – Campus Aracaju
http://lattes.cnpq.br/1744258408524503

Nome: Renata Roberta Dantas Silva


Formação: Especialista em Emergência e UTI, FAJAR
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – Aracaju/SE -
Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplica-
das à Saúde - PPGCAS
http://lattes.cnpq.br/0895820244532293

Nome: Ricardo Martineli Massola


Formação: Mestre em Educação Física pela UNICAMP, Faculdade de Educação
Física da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Especialista em Ergo-
nomia pela University of California, Berkeley - EUA
Instituição de atuação: Professor do IEDUV - Instituto Educacional Veronesi/
ES - Brasil.

Nome: Roberto Alcântara de Oliveira Araújo


Formação: Mestre em Direito/UFSE
Instituição de atuação: Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe – Aracaju/SE
- Brasil
Departamento ou Programa: Comitê de Atenção Integral à Saúde de Magistra-
dos e Servidores
http://lattes.cnpq.br/8733540833559773

Nome: Rosalin Santana Barreto


Formação: Mestranda em Biotecnologia/UFS
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – Aracaju/SE –
Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia –
PROBIO
http://lattes.cnpq.br/7388431256510526
- 282 -
Gestão da saúde do trabalhador e ergonomia

Nome: Ruth Santos de Andrade


Formação: Fisioterapeuta
Instituição de atuação Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
– UNCISAL– Maceió/AL - Brasil
http://lattes.cnpq.br/4474781652493530

Nome: Silvia Pessoa de Freitas Pedrosa de Oliveira


Formação: Mestre em Ensino em Saúde e Tecnologia/UNCISAL
Instituição de atuação: Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
– UNCISAL– Maceió/AL - Brasil
Departamento ou Programa: Programa de Mestrado Profissional em Ensino
em Saúde e Tecnologia.
http://lattes.cnpq.br/3813244802073153

Nome: Tereza Raquel Ribeiro de Sena


Formação: Doutora em Ciências da Saúde UFS
Instituição de atuação: Universidade Federal de Sergipe – UFS – São Cristóvão/
SE - Brasil
Departamento: Departamento de Fonoaudiologia – Campus São Cristóvão
http://lattes.cnpq.br/7563232811461487

Nome: Thyago Avelino Santana dos Santos


Formação: Dr. em Ciências Jurídicas e Sociais/UMSA
Instituição de atuação: Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe – TJSE – Ara-
caju/SE - Brasil
Departamento ou Programa: Secretaria Judiciária: Coordenadoria de Perícias
Judiciais
http://lattes.cnpq.br/7957641179802071

Nome: Yannine Nery do Nascimento


Formação: Fonoaudióloga/UFS
Instituição de atuação: Fundação Hospitalar de Saúde de Sergipe
Departamento ou Programa: Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, Aracaju,
Sergipe
http://lattes.cnpq.br/8577642107986172
- 283 -
Maria Goretti Fernandes; Izabella Souza da Silva

ÍNDICE REMISSIVO

Atenção primária à saúde 169, 178, 262


Autocompaixão 235, 269, 270, 273, 274
Avaliação preliminar 215
boas práticas 10, 121, 122, 179, 181, 190, 199, 202, 204, 207, 208, 209
Condições de trabalho 28, 42, 43, 47, 49, 101, 102, 116, 120, 122, 175
Covid-19 136, 146, 151, 152, 153, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 162, 163
Empatia 269, 270, 274
Engenharia. 51, 78, 103, 104, 193, 194, 195, 196, 198, 200, 204, 208, 211
Ergonomia 183, 193, 195, 208, 210, 213, 215, 216, 219, 220, 221, 222, 223,
224, 226, 228, 229
Estresse ocupacional 234, 235, 236
Gestão 7, 13, 15, 20, 22, 23, 30, 34, 265
Ioga 129, 133, 252, 253, 254, 255, 256, 257, 262
Ler/dort 106, 117, 122, 134, 180, 183, 184, 185, 187, 189, 198, 209, 210, 211,
228
Mindfulness 231, 232, 233, 234, 235, 236, 237, 238, 240, 241, 242, 243
Negligência 24, 34, 192
Nexo causal 42, 56, 58, 59, 60, 61, 210
Olho seco 142, 143, 144
Pandemia 136, 137, 139, 146, 151, 152, 153, 155, 156, 157, 158, 160, 161, 162
Perícia 179, 190, 192, 193, 197, 199, 201, 203, 209, 211
Perícia Fisioterapêutica 55, 56, 59, 62
Posturologia 78, 80
- 284 -
Gestão da saúde do trabalhador e ergonomia

Práticas integrativas 240, 246, 247, 249, 252, 254, 255, 257, 258, 259,
260, 261, 262
Programa de Gerenciamento de Risco 7, 213, 217, 228
Qualidade de Vida 18, 19, 32, 245, 247, 257, 259, 260, 265, 270, 272, 273,
274
Riscos ocupacionais 102, 104, 106, 126, 129, 185, 214, 215, 222, 229
Ruído 52, 69, 87, 88, 89, 90, 93, 98, 104
Saúde do trabalhador 17, 46,63, 66, 81, 79, 101, 102, 105, 121
Saúde ocupacional 29, 75, 78, 79, 122, 125, 134, 163, 219
Síndrome de Burnout 151, 152, 153, 154, 156, 159, 160, 161, 162
Síndrome do usuário do computador 135, 136, 142, 148
Tecnologias 48, 63, 77, 76, 78, 79, 166, 246
Trabalho 7, 13, 14, 18, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34,
35, 36, 37, 38, 39, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 54, 56, 57, 58,
59, 60, 61, 62, 67, 69, 70, 72, 73, 74, 75, 80, 82, 84
Unidade de Terapia Intensiva 103, 104
- 285 -
Maria Goretti Fernandes; Izabella Souza da Silva

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