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Eu acho que fazem muito barulho sobre isso. Há alguns anos fiz
uma coleta de dados com adolescentes internos na FEBEM e, em
vários momentos, de nossa interação, eles usaram a linguagem do “p”
e outras linguagens que eu não conseguia compreender e muito
menos utilizar. Ou seja, usaram recursos de uma comunidade
lingüística, a qual eu não pertencia, de forma a me isolar ou mesmo
deixar evidente que eu não pertencia ao grupo. Minha filha “tipo
assim”, se refere a ônibus como balaio e usa várias palavras que não
fazem parte de minha comunidade discursiva. Muitas vezes, tenho
que pedir a ela que traduza o que está dizendo.
Assim como não me interessava aprender os códigos dos
internos da FEBEM, também não me interesso em aprender as gírias
que minha filha usa ou as formas de interação no “chat”. Eu
simplesmente não pertenço àquelas comunidades discursivas, mas se
o fizesse, aprenderia rapidamente as novas formas de comunicação,
pois nós, os humanos, temos a capacidade de linguagem que nos
permite aprender e utilizar várias formas de expressão.
Entendo que não existe desordem lingüística, e nem ameaça
aos códigos já estabelecidos. Tanto é assim, que os usuários
do chat não enfrentam problemas de comunicação quando interagem
com outras comunidades discursivas. Nunca vi nenhum professor ou
pais reclamando que não conseguem interagir com os adolescentes
que usam muito o chat. A mudança de código de acordo com o
contexto, faz parte da competência comunicativa de todo falante. É
Interessante observar que ninguém implica com a linguagem usada na
transmissão de mensagens pelo celular, a SMS (short message
service). No entanto, ela também é cheia de supressões e
abreviaturas, pois precisa se adequar ao espaço da tela do celular,
assim como o chat precisa se adequar ao tempo, à ligeireza da
interação típica desse gênero. Talvez, a tolerância possa ser explicada
pelo fato de ser a primeira do domínio privado e não do público, como
é o caso do chat.
8- O que é "Netiqueta"?
Referências
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