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A competência dos tribunais para julgamento de IRDRs:

possível incompatibilidade decisória e a remessa


(obrigatória) aos tribunais superiores

A COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS PARA JULGAMENTO DE IRDRS:


POSSÍVEL INCOMPATIBILIDADE DECISÓRIA E A REMESSA
(OBRIGATÓRIA) AOS TRIBUNAIS SUPERIORES

La competenza dei tribunali per il giudizio dei “IRDRs”: possibile incompatibilità decisionale
e l’ (obbligatorio) rinvio alle Corti Superiori
Revista de Processo | vol. 277/2018 | p. 425 - 448 | Mar / 2018
DTR\2018\8996
___________________________________________________________________________
Juliana Melazzi Andrade
Graduanda em Direito na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
julianamelazzi.a@gmail.com

Área do Direito: Civil; Processual

Resumo: O presente artigo tem como escopo analisar os limites da eficácia vinculante das
teses jurídicas fixadas em Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR), no
âmbito da competência dos Tribunais Estaduais e Federais, à luz do sistema de
precedentes do CPC/2015. Objetiva-se propor uma sistemática que possa compatibilizar
os entendimentos adotados pelos tribunais em casos semelhantes, garantindo-se a
isonomia na interpretação e aplicação do direito pelos tribunais superiores, e, ao mesmo
tempo, o amadurecimento das teses dos repetitivos nas instâncias inferiores.

Palavras-chave: Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas – Código de Processo


Civil de 2015 – Tribunal de Justiça – Tribunal Regional Federal – Competência – Tribunais
Superiores

Riassunto: Il presente articolo si propone di analizzarei limiti della efficacia vincolante


delle tesigiuridiche fissate nell’“Incidente de Resoluçãode Demandas Repetitivas (IRDR)”
nell’ambitodella competenza dei Tribunali Statali e Federali,alla luce del sistema
precedente giudiziale delCPC/2015. L’obiettivo è proporre una sistematicache possa
rendere compatibile i giudizi dei tribunaliin casi analoghi, assicurando l’isonomianella
interpretazione e applicazione del dirittodalle Corti Superiori, e, allo stesso tempo,
lamaturazione delle tesi di processi ripetitivi nelleistanze inferiori.

Parole chiave: Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas – Codice di Procedura


Civile del 2015 – Tribunale Statale – Tribunale Federale – Competenza – Corti Superiori

Sumário:
1.Introdução

O tema dos “precedentes”1 e da eficácia vinculativa das decisões passou a ser mais
fortemente discutido no Brasil após a introdução no sistema processual brasileiro, por meio

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da Emenda Constitucional 3/93, da Ação Declaratória de Constitucionalidade e do


consequente efeito vinculante2 das decisões do Supremo Tribunal Federal, o que seguiu se
intensificando com a extensão da eficácia vinculante às decisões em Ação Direta de
Inconstitucionalidade (art. 28, parágrafo único, da Lei 9.868/99) e, ainda, com as súmulas
vinculantes instituídas pela Emenda Constitucional 45/04.

Não bastasse, o tema relativo à eficácia das decisões judiciais passou a ter destaque em
razão da proliferação de demandas isomórficas, o que levou Barbosa Moreira a destacar, já
há alguns anos, que seria uma matéria de necessário enfrentamento, diante das
“características da vida contemporânea”, a impor maior destaque ao processo de massa. 3

Aos poucos, outros novos institutos foram desenvolvidos, aproximando o sistema


(preponderantemente) de civil law brasileiro4 ao common law, como a exigência de
repercussão geral para admissão de recurso extraordinário no STF, com a consequente
eficácia vinculante das decisões (arts. 543-A e 543-B do CPC/73 (LGL\1973\5)); o recurso
representativo de controvérsia no caso de multiplicidade de recursos especiais com
fundamento em idêntica questão de direito no STJ (art. 543-C do CPC/73 (LGL\1973\5));
a súmula impeditiva de recursos (art. 518, § 1º, do CPC/73 (LGL\1973\5)); e o julgamento
liminar de demandas repetitivas (art. 285-A do CPC/73 (LGL\1973\5)).

Com o CPC de 2015, passou-se a ter no sistema brasileiro um elenco ainda maior de
provimentos vinculantes e a notória valorização das decisões como fonte do direito.5

O “sistema de precedentes” (ou a eficácia vinculativa das decisões judiciais) insere-se,


assim, como um dos pontos centrais do novo CPC (LGL\2015\1656), objetivando a
celeridade, efetividade e eficiência dos processos judiciais, de modo a se alcançar a melhor
tutela dos direitos, somado à preocupação em garantir que não haja julgamentos surpresa
(art. 10 do CPC (LGL\2015\1656)), julgamentos contraditórios sobre um mesmo tema ou
o tratamento anti-isonômico entre os jurisdicionados.6

Destaca-se, nesse contexto, o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR),


disciplinado nos arts. 976 a 987 do Código, que se propõe a unificar entendimentos
relativos a processos que contenham a mesma controvérsia sobre questão unicamente de
direito, material ou processual.7

Com o objetivo de abordar um dos pontos sensíveis dessa nova sistemática processual, 8 o
presente artigo se propõe a analisar a possível incongruência que pode advir do julgamento
de casos semelhantes nos Tribunais Regionais e Estaduais, devido aos limites de
competência destes e, por conseguinte, da aplicação das teses jurídicas formadas no
âmbito de IRDRs. Nesse sentido, por meio deste breve ensaio pretende-se apresentar uma
visão crítico-contributiva sobre o tema, analisando possíveis formas de se enfrentar o
problema.

2.1 Breve síntese do IRDR

Do direito estrangeiro se extraem dois sistemas processuais que serviram como inspiração
para as primeiras propostas que culminaram no sistema do IRDR: a) o sistema adotado na

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Inglaterra (Group LitigationOrder) e na Áustria (Pilotverfahren), que se vale de


causas-pilotos (processos-teste) e em que o próprio processo é julgado no caso concreto e
a tese fixada nesse julgamento é aplicada aos demais processos com a mesma matéria
jurídica; b) o sistema do Musterverfahren alemão, chamado de procedimento-modelo, em
que há a formação de um incidente que fixará a tese jurídica a ser aplicada a todos os
processos repetitivos, inclusive ao processo a partir do qual o incidente foi instaurado. 9-10

Ademais, importa frisar que, apesar de não ser referido como inspiração direta ao sistema
brasileiro, o ordenamento norte-americano previu, em 1968, no §1407 do Título 28 do seu
U.S.C. (Código Norte-Americano) o chamado Multidistrict Litigation, por meio do qual, caso
existentes ações civis sobre uma ou mais questões de fato comuns em diferentes distritos,
estas são transferidas para um único distrito e julgadas por juízes designados por um
Comitê.11

No direito brasileiro, pelo sistema criado pelo IRDR, embora haja posições divergentes,
adotamos o entendimento de parte da doutrina,12 no sentido de que é formado um
incidente processual a partir do qual não se pretenderá precipuamente o julgamento do
caso, mas sim a fixação de um entendimento sobre a questão de direito que se repete em
inúmeros processos,13 o qual deverá ser seguido pelo próprio tribunal e pelos juízos
inferiores.

O pedido de instauração do incidente poderá ser feito pelo juiz ou relator, de ofício, pelas
partes, pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública e será dirigido ao presidente do
tribunal (art. 977, caput, I, II e III), cabendo ao seu regimento interno definir o órgão
colegiado incumbido de julgá-lo (art. 978).

Tanto a instauração quanto o julgamento deverão ter a mais ampla publicidade, por meio
de registro eletrônico no CNJ (art. 979), que deverá ser sempre atualizado e acompanhado
da tese jurídica, dos fundamentos determinantes adotados e das normas relacionadas (art.
979, §§ 1º e 2º).

No que concerne ao processamento, uma vez preenchidos os requisitos de repetição de


processos sobre mesma questão de direito e o risco de ofensa à isonomia e à segurança
jurídica, previstos no art. 976, proceder-se-á ao juízo de admissibilidade do incidente, que
deverá ser colegiado (art. 981).

Parte da doutrina, em especial a que defende que o IRDR é processado na sistemática da


causa-piloto, aponta um terceiro requisito que, embora não esteja previsto expressamente
em lei, resultaria do sistema, qual seja, a existência de ao menos um processo pendente
perante o tribunal.14 O posicionamento, contudo, não é unânime.15

A despeito de tal debate, uma vez admitido o incidente, devem ser suspensos os processos
no Estado ou região do tribunal sobre a matéria, requisitadas informações aos órgãos do
juízo em que tramita o processo a partir do qual surgiu o incidente e intimado o Ministério
Público (art. 982).

É característica do IRDR a participação das partes, interessados e o Ministério Público, que


serão ouvidos pelo relator, assim como “pessoas com experiência e conhecimento na
matéria”, em audiência pública (arts. 983, caput e § 1º, e 984). Em seguida, será julgado
o incidente e formada a tese jurídica a ser aplicada aos processos individuais ou coletivos

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sobre idêntica questão de direito que tramitem ou venham a tramitar na área de jurisdição
do respectivo tribunal, inclusive os juizados especiais, cabendo reclamação em caso de
descumprimento (art. 985).

O Código prevê que o IRDR seja julgado no prazo de um ano, com preferência sobre outros
processos, com exceção daqueles que envolvam réu preso e pedido de habeas corpus.
Passado esse prazo, será dada continuidade aos processos sobre a matéria, que haviam
sido suspensos, salvo decisão fundamentada do relator em sentido contrário (art. 980). 16

A tese jurídica, contudo, não é imutável, podendo ser superada pelo mesmo tribunal, de
ofício ou a requerimento dos legitimados do art. 977, III (art. 986), sendo cabível,
também, a interposição de recurso especial ou extraordinário contra o julgamento do
mérito do incidente, com efeito suspensivo (art. 987), para que o tribunal superior analise
a tese fixada.

Na hipótese de haver recurso ao tribunal superior, a eficácia vinculativa da decisão – que


antes ficaria adstrita ao Estado ou Região do Tribunal que processou o IRDR – passa a ter
abrangência nacional, vinculando os juízos de primeiro grau, os tribunais de segunda
instância e o próprio tribunal superior, até que haja eventual revisão ou superação. 17

Embora haja crítica no sentido de que o acórdão elaborado no IRDR será autonomizado da
faticidade que lhe deu origem, ou, em outras palavras, valerá como uma norma geral e
abstrata desconectada do processo-piloto, de forma análoga a uma lei,18 importa destacar
que, ainda que a análise realizada pelo Tribunal quando da fixação da tese seja
predominantemente de direito, não serão os aspectos fáticos ignorados, pois haverá uma
projeção da situação fática padrão, extraída dos processos afetados e dos que venham a
instruir o incidente, sobretudo porque a delimitação da situação fática em que a norma é
aplicada é de extrema importância para compreender a tese fixada e enquadrá-la em
demandas futuras.19

Isso significa que uma decisão é delineada a partir de fatos específicos e condições dos
casos repetitivos que se supõe resolver e, assim, a autoridade da decisão depende e está
limitada a esses fatos e condições, de modo que quando aplicados, deve-se analisar se há
similitude dentre os casos que serviram à reprodução da controvérsia e o caso em que se
pretende empregar o precedente.20

Buscou o CPC/2015 (LGL\2015\1656), assim, garantir meios de se evitar a coexistência de


decisões conflitantes sobre pretensões semelhantes, sendo necessário, para tanto, que
haja a efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão
unicamente de direito e, ao mesmo tempo, risco de ofensa à isonomia e à segurança
jurídica (art. 976, I e II, do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).21

3.1 Noções gerais sobre os precedentes

O precedente judicial consiste em uma decisão que irradia seus efeitos para além do caso
que o originou e serve de referência para o julgamento de casos futuros. 22 O que torna a
decisão judicial um precedente é justamente o seu potencial para servir de regra para

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decisões judiciais de casos futuros envolvendo fatos ou questões jurídicas idênticas ou


similares,23 uma vez que possui razões universalizáveis.

É por meio do chamado stare decisis que se verifica o desenvolvimento de um direito


coerente e consistente, em, ao mesmo tempo, preservar a continuidade, dar igual
tratamento a litigantes em situações semelhantes, garantir a economia processual – ao
poupar os juízes de reanalisar seguidamente a mesma questão – e pela previsibilidade,
uma vez que as partes poderão melhor antecipar a decisão que será proferida. 24

Claro que isso não significa que a aplicação de súmula ou acórdão vinculante deva ser
mecânica e subsuntiva, dispensando a atividade interpretativa pelo julgador e a
manifestação das partes acerca da incidência do precedente.25

Com efeito, os precedentes possuem como característica a inércia argumentativa que


exige um qualificado ônus argumentativo tanto para o magistrado quanto para as partes
(como aplicação do princípio da cooperação, previsto no art. 6º do CPC (LGL\2015\1656))
para demonstrar que o precedente se formou equivocadamente ou que não goza mais de
congruência social e/ou consistência sistêmica (overruling), ou para demonstrar que no
caso em julgamento há fatos relevantes que o distanciam do caso em que se firmou o
precedente (distinguishing).26

Isso é de extrema importância ao se constatar que a ossificação de um entendimento


através da permanência de um precedente no tempo pode provocar o efeito inverso
pretendido por este, diminuindo a credibilidade no Judiciário ao impor um entendimento
que não mais se adequa à sociedade.27

Não sendo o caso de superar ou distanciar o precedente, será aplicada a sua ratio decidendi
– também chamada de motivos determinantes28 – ao caso concreto, que, formada a partir
da fundamentação de uma decisão, é a generalização das “razões adotadas como passos
necessários e suficientes para decidir um caso ou as questões de um caso pelo juiz”.29
Assim, será considerado precedente o que for resultado de fundamentada e cuidadosa
análise judicial desenvolvida por meio de intenso contraditório.30 O que for pronunciado
pelo juiz no julgamento, mas que não é essencial para a decisão do caso, apesar de poder
ser citado em foros persuasivos em casos futuros,31 não integrará o dispositivo, porquanto
podem não ter sido desenvolvidos de forma integral à consideração do Tribunal,32 sendo
chamado de obiter dictum.

Definida a ratio decidendi, esta terá tanto uma direção vertical, vinculando os juízes em
grau inferior na hierarquia judicial, quanto uma direção horizontal, ao ter força persuasiva
com relação à própria Corte que pronunciou a decisão,33 como uma decisão com verdadeiro
conteúdo de enunciação de uma regra jurídica.

Desse modo, nota-se que a ideologia do sistema de precedentes possui como finalidades a
integridade do Direito e o tratamento isonômico,34 minimizando, na medida do possível, as
divergências interpretativas acerca das normas, de modo a colaborar para a proteção da
previsibilidade e, por conseguinte, da segurança jurídica.35

Prevê o art. 926 do CPC (LGL\2015\1656) que deve jurisprudência ser mantida estável,

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íntegra e coerente pelos tribunais. Conjuntamente com o art. 927, foi instituído um regime
de eficácia vinculativa para algumas das decisões judiciais proferidas pelos Tribunais
Estaduais, Regionais e pelos Tribunais Superiores.36

A jurisprudência estável indica que linhas de decisões constantes e uniformes sobre uma
matéria não podem ser abandonadas ou modificadas arbitrária e discricionariamente;
jurisprudência íntegra significa que, ao ser proferida decisão, deve-se levar em conta toda
a evolução histórica das decisões proferidas anteriormente sobre o mesmo tema; por fim,
jurisprudência coerente significa que aos casos análogos deve ser assegurada uma
aplicação principiológica e normativa isonômica.37

Com o CPC/2015 (LGL\2015\1656), substituiu-se o caráter meramente persuasivo da


jurisprudência anterior pelo caráter normativo da norma-precedente (arts. 927, § 1º, e
489, § 1º, VI), aplicando-se os princípios da igualdade e da segurança jurídica, de modo a
reduzir a discricionariedade judicial. Os juízes e tribunais deverão, nos casos elencados no
art. 927,38 aplicar as decisões como normas e não como conselhos ou boas razões. 39

A partir da redução dessa discricionariedade é que, inclusive, a independência e autonomia


dos juízes e tribunais aumentam, porquanto se diminui a subjetividade decisória e se evita
a exposição dos julgadores a pressões políticas e sociais, já que estarão vinculados à lei e
aos precedentes.40

Dessa forma, as Cortes Supremas e as Cortes de Justiça não poderão variar frivolamente
os seus padrões decisórios, tendo o dever de observar, interpretar e aplicar os precedentes
e a jurisprudência vinculante, quando suas conclusões se amoldarem ao caso (arts. 926,
927, 489, § 1º, IV, V e VI).41

4.1 A esfera de vinculação da tese do IRDR e os conflitos entre tribunais

Caberá ao órgão indicado pelo regimento interno do tribunal o julgamento do incidente,


responsável pela uniformização da jurisprudência interna e pelo juízo de admissibilidade,
uma vez presentes os requisitos do art. 976, conforme os arts. 978 e 981 do CPC
(LGL\2015\1656).

A partir de então, serão suspensos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que


tramitarem no Estado ou na Região (art. 982, I) e, julgado o incidente, a tese jurídica será
aplicada a todos os processos que versarem sobre idêntica questão de direito e que
tramitarem na área de jurisdição do respectivo tribunal – inclusive àqueles que tramitarem
nos juizados especiais do respectivo Estado ou região, bem como aos casos futuros que
versarem idêntica questão de direito e que venham a tramitar no território de competência
do tribunal (art. 985, I e II).

Isso significa que, definida a tese em determinado tribunal, não é impositiva a sua
aplicação em tribunal de competência diversa, uma vez que a competência delimita o
quadro jurídico de atuação de uma unidade organizacional.42

Na doutrina clássica de Chiovenda, três são os critérios para determinar a competência: o


critério objetivo, relacionado ao valor da causa, natureza da causa e matéria discutida; o

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critério funcional, relacionado às funções exercidas pelo magistrado, se juízo de primeira


ou de segunda instância ou se juízo de cognição ou de execução; por fim, o critério
territorial, relacionado à circunscrição territorial de cada órgão jurisdicional.43

No âmbito do direito brasileiro, é importante pontuar que tribunais distintos podem ter
atuações similares quando se analisa a competência em razão do território e da matéria,
havendo distinção apenas quando observada a pessoa envolvida.

Por isso é que, por exemplo, Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais podem
processar paralelamente as mesmas ações de direito bancário, como ações revisionais,
ajuizadas por consumidores que residem na mesma comarca, diferenciando sua atuação
apenas conforme se trate de uma instituição de direito privado ou não.

Tal constatação é de extrema importância, uma vez que, em razão da coincidência de


competências – a depender dos critérios de competência territorial, funcional ou objetiva –,
podem os Tribunais de Justiça e Regionais Federais adotar entendimentos conflitantes
sobre casos com fatos e condições isomórficas, acarretando a apreciação diversa da
mesma matéria.

Entre esses conflitos, cita-se, a título de exemplo, a questão afetada para julgamento no
TRF da 4ª Região, em regime de IRDR, relativa à necessidade de somar parcelas vincendas
ao valor da causa para fins de definir a competência dos Juizados Especiais Federais. 44
Semelhante tema é discutido em Tribunais Estaduais, tendo em vista a existência de
Juizados Especiais Estaduais.45

Do mesmo modo, no TJSP foi instaurado e admitido IRDR (Tema n. 3), sobre a
possibilidade de ajuizamento de ação de prestação de contas sem o indicativo dos
lançamentos reputados indevidos e/ou duvidosos,46 mas, do mesmo modo, tal questão
também é discutida em âmbito federal.47 Com efeito, as causas de natureza bancária são
um bom exemplo acerca dessa sobreposição de competências, uma vez que há demandas
absolutamente idênticas ajuizadas contra Bancos privados (nos Tribunais Estaduais) e, de
outro lado, a Caixa Econômica Federal (na Justiça Federal).

Outro exemplo discutido tanto em âmbito federal quanto estadual é o primeiro tema de
IRDR instaurado no TJSC, no qual se discutiu a “necessidade ou não de comprovação de
hipossuficiência do autor do pleito de dispensação de medicamento ou terapia no âmbito
da assistência à saúde”. Admitido e julgado, fixou-se tese estabelecendo requisitos
imprescindíveis à concessão judicial de fármaco ou procedimento padronizado e não
padronizado pelo SUS.48

Do mesmo modo, e com ainda mais facilidade, é possível pensar em entendimentos


conflitantes em tribunais estaduais distintos, cuja competência seja definida apenas em
razão do território. Corriqueiro, nesse sentido, o julgamento das mesmas questões pelo
TJSP e pelo TJRJ, por exemplo, a evidenciar a possibilidade de que haja decisões
divergentes firmadas em IRDRs instaurados paralela ou sucessivamente.

Se se pretende, portanto, que seja introduzido no ordenamento brasileiro um sistema de


precedentes judiciais voltado para a estabilidade na aplicação das normas, não se pode
ignorar a inconsistência existente com a aplicação diversa em casos semelhantes, em que
a questão de direito é precisamente a mesma.49

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Considerando a separação por competências no Brasil, não seria possível que um único
Tribunal fosse responsável por decidir a uniformização de matérias vinculando os juízos
independentemente de sua competência, uma vez que a legitimidade para que os juízes
atuem em uma causa está limitada à sua “área de atuação”.50

No que tange à disciplina do IRDR, é verdade que o art. 982, § 3º, do CPC
(LGL\2015\1656) prevê a possibilidade de ser requerido ao STF ou STJ que sejam
suspensos “todos os processos individuais ou coletivos em curso no território nacional que
versem sobre a questão objeto do incidente já instaurado”. No mesmo sentido, o art. 987
dispõe que caberá recurso extraordinário ou especial do julgamento do mérito do
incidente, com efeito suspensivo, do qual advirá tese jurídica de aplicação em todo o
território nacional sobre processos individuais ou coletivos sobre idêntica questão de
direito. Tais dispositivos poderiam, em tese, resolver o problema da compatibilização de
entendimentos apresentadas nas linhas anteriores.

Não obstante, verifica-se que o pedido de suspensão nacional e a interposição de recurso


aos Tribunais Superiores ainda decorre da voluntariedade da parte (ou do Ministério
Público, de interessados ou amicus curiae), de modo que não é possível assegurar que
haverá a uniformização a nível nacional.

Pode ocorrer, assim, a incongruência hermenêutica nos Tribunais Regionais e Estaduais ou


até mesmo ser fixada tese nos Tribunais Superiores apenas depois de muitos processos já
terem sido julgados naqueles Tribunais com entendimentos incompatíveis, em muitos dos
quais não seria mais possível reverter o resultado, por já ter sido constatado o trânsito em
julgado.

Desse modo, tendo em vista que a função paradigmática dos Tribunais Superiores é
justamente proferir decisões responsáveis por moldar o ordenamento jurídico, 51 evitando
posicionamentos incompatíveis entre os tribunais sobre matéria constitucional ou
infraconstitucional federal, poderia se cogitar de sistemática semelhante à remessa
necessária (art. 496) quando verificada incompatibilidade de entendimentos com relação a
outro tribunal de competência diversa.

Embora seja a (tradicional) remessa necessária bastante criticada por alguns autores, que
a veem como um privilégio anti-isonômico, ao existir em razão da pessoa e não em razão
da relevância pública da matéria,52 ou como um obstáculo à efetivação da razoável duração
do processo,53 uma utilização analógica do instituto garantiria a harmonização das
decisões dos tribunais, ao obrigar que, verificadas incompatibilidades capazes de
prejudicar a coerência da interpretação de normas jurídicas, seja a questão levada à
tribunais hierarquicamente superiores.

Serviria essa remessa obrigatória justamente à celeridade processual e sem qualquer


sujeição a pessoas determinadas, atuando sempre que se verificar uma inconsistência na
formação e aplicação de entendimento pelos tribunais de segunda instância. O Tribunal
remeteria, necessariamente, o IRDR para os tribunais superiores após a fixação da tese, de
modo a submetê-la à apreciação e consequente abrangência nacional.

Poder-se-ia pensar, ademais, em uma “remessa” prévia, inclusive quanto ao pedido de

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suspensão nacional, tornando-o obrigatório quando se observar a possível


incompatibilidade de julgados.

O benefício dessa remessa obrigatória seria, assim, buscar a harmonização de


entendimentos em casos isomórficos em âmbito nacional.

Não se ignora a possibilidade de se afirmar, então, que melhor seria que os IRDRs fossem
instaurados logo perante os Tribunais Superiores, evitando-se essa primeira etapa
“provisória”. Embora a crítica mereça atenção, pensamos que não afasta a remessa ora
cogitada, conquanto com o processamento do IRDR no Tribunal Estadual ou Regional se
garantirá o amadurecimento da questão, com a prática dos atos de instrução, quais sejam,
as audiências públicas, a manifestação do Ministério Público, das partes do processo que
deu origem ao incidente, de órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, de
pessoas com experiência e conhecimento na matéria, sobretudo a apresentação de teses
divergentes. O processamento perante os tribunais de segunda instância pode servir como
etapa de instrução e amadurecimento da tese, extraindo-se os benefícios de que os
tribunais superiores funcionem como uma instância revisora necessária, que partirá de
discussão já aprofundada, com manifestações das partes e votos judiciais.

Ademais, desse modo não será necessário sobrecarregar ainda mais tribunais que já
recebem milhares de processos ao ano.54-55

A instituição de um sistema de remessa obrigatória fomentaria, à luz das exigências do


direito processual contemporâneo, a pretendida isonomia na interpretação e aplicação do
direito aos casos repetitivos.

Embora não se possa resolver o problema da falta de coerência e integridade das decisões
simplesmente por meio da adoção de um “sistema de precedentes obrigatórios” no
ordenamento brasileiro, como aponta notória doutrina, 56 a verdade é que as mudanças
instituídas pelo Código se propõem, na linha de modificações legislativas anteriores, a
reduzir a enxurrada de processos isomórficos nos tribunais, possibilitando a prolação de
decisões que garantam, sobretudo, a isonomia entre os jurisdicionados.

Não se pode ignorar, contudo, que a multiplicidade de recursos não se dá apenas no âmbito
de um único tribunal, podendo haver questões semelhantes sendo debatidas, ao mesmo
tempo, em Tribunais Regionais e Estaduais. É possível que haja decisões conflitantes em
âmbito de IRDRs instaurados perante tribunais distintos.

Desse modo, pode a remessa obrigatória aos Tribunais Superiores servir à efetiva
coerência no Judiciário brasileiro, como pretende o CPC/2015 (LGL\2015\1656). Por meio
da remessa, pretende-se a harmonização da hermenêutica jurídica em casos isomórficos,
garantindo-se, ao mesmo tempo, a preservação do amadurecimento do debate sobre o
tema perante os tribunais de segunda instância.

É imprescindível a segurança jurídica do Estado Democrático de Direito e, atrelada a ela, a


proteção da confiança, o que se verifica com a uniformidade ou, ao menos, a estabilidade
na orientação dos tribunais.57

Propõe-se, indiscutivelmente, uma solução que contemple a eficiência no processo

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contemporâneo, em uma lógica de alcance máximo de resultados,58 a partir da otimização


da prestação jurisdicional. Ao mesmo tempo, a lógica do “sistema de precedentes”, que se
dispõe a servir de parâmetro necessário para aferição da igualdade de todos perante a
ordem jurídica,59 pode ser mais facilmente garantida.

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ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes. Salvador: JusPodivm, 2015.

1 A questão referente à existência de um sistema de precedentes no direito brasileiro é


controversa e não será objeto direto deste estudo. A respeito do termo “precedentes”,
leciona Georges Abboud: “Há um perigoso equívoco em que incorre parcela de nossa
doutrina ao tratar de precedente. Trata-se de pura equiparação do precedente do common
law à jurisprudência vinculante brasileira. [...] não podemos fazer a leitura equivocada de
imaginar que a súmula, o acórdão que julga o IRDR ou oriundo de recurso (especial ou
extraordinário repetitivo) são equiparáveis à categoria do genuíno precedente do common
law” (ABBOUD, Georges. Do genuíno precedente do stare decisis ao precedente brasileiro:
os fatores histórico, hermenêutico e democrático que os diferenciam. Revista de Direito da
Faculdade Guanambi, v. 2, n. 1, ano 2, jan.-jun. 2016, p. 62-63). Em sentido distinto,
sustentando que o Novo CPC instituiu um verdadeiro sistema de precedentes no Brasil:
ATAÍDE JR., Jaldemiro Rodrigues. Flexibilidade, stare decisis e o desenvolvimento do

Página 13
A competência dos tribunais para julgamento de IRDRs:
possível incompatibilidade decisória e a remessa
(obrigatória) aos tribunais superiores

anticipatory overruling no direito brasileiro. Revista de Processo, São Paulo, v. 236, p.


279-301, out. 2014; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel (Coord.).
Comentários ao Código de Processo Civil: artigos 926 ao 975. São Paulo: Ed. RT, 2016. v.
15. p. 47-51; ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes. Salvador:
JusPodivm, 2015. p. 359-374.

2 “A eficácia erga omnes de uma ação direta de inconstitucionalidade estaria restrita à sua
parte dispositiva, apesar de corrente em contrário, atingindo a eficácia geral e abstrata da
norma objeto do controle, atingindo a todos os potenciais destinatários, inclusive os órgãos
do Poder Judiciário e o próprio Supremo Tribunal Federal. Já o efeito vinculante é um plus
em relação à eficácia erga omnes e obriga a Administração Pública e os órgãos do
Judiciário, excluindo-se o Supremo Tribunal, a submeter-se à decisão proferida na ação
direta. Na prática, significa que o Poder Judiciário (demais juízes e tribunais), mesmo no
controle difuso de constitucionalidade e a Administração Pública direta e indireta, deve
observar o que ficou decidido, sob pena de afrontar a autoridade do Supremo Tribunal
Federal, dando ensejo à Reclamação. [...] A Emenda Constitucional n. 3, de 16 de março de
1993, que deu origem à Ação Declaratória de Constitucionalidade, [...] [estabeleceu] a
eficácia erga omnes e vinculante, com base no direito alemão. [...] A decisão da ação direta
de inconstitucionalidade, em sede cautelar ou definitiva, possui eficácia vinculante apta a
excluir do mundo jurídico determinado dispositivo desconforme à Constituição da
República, podendo gerar normatização pela adoção da técnica da declaração de
inconstitucionalidade com ou sem redução de texto” (CARNEIRO JÚNIOR, Amilcar Araújo.
A contribuição dos precedentes judiciais para a efetividade dos direitos fundamentais.
Brasília: Gazeta Jurídica, 2012. p. 209-210).

3 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Ações coletivas na Constituição Federal de 1988.


Revista de Processo, São Paulo, v. 61, p. 187-200, jan.-mar. 1991.

4 Preponderantemente, porque, “no direito brasileiro, em particular, o ordenamento


jurídico combina, historicamente, desde a Constituição Republicana de 1891, a matriz
judicial do common law (checks and balances, judicial review e remedies precede rights) e
do civil law (princípio da legalidade)” (ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos
precedentes. Salvador: JusPodivm, 2015. p. 314). Acrescenta o autor, em outra obra, que
“em verdade, o Brasil não é um país de civil law, mas um país de tradição híbrida – civil law
e commow law” (ZANETI JR., Hermes. Comentários ao art. 926. In: CABRAL, Antonio do
Passo; CRAMER, Ronaldo (Coord.). Comentários ao novo Código de Processo Civil. 2. ed.
rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 1321).

5 ZANETI JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes. Salvador: JusPodivm, 2015. p.
329-330.

6 LIMA, Tiago Asfor Rocha. Primeiras impressões sobre os precedentes judiciais no Projeto
de Novo Código de Processo Civil. Revista de Informação Legislativa, Brasília, n. 190, ano
48, abr.-jun. 2011. p. 281. Nas palavras de Aluísio Gonçalves de Castro Mendes e Larissa
Clare Pochmann: “O ponto de equilíbrio do novo diploma está na conjugação de três
fatores (a) evitar a profusão de decisões divergentes proferidas e de caráter meramente
persuasivo no que toca tanto aos precedentes, como à súmula e à jurisprudência; (b)

Página 14
A competência dos tribunais para julgamento de IRDRs:
possível incompatibilidade decisória e a remessa
(obrigatória) aos tribunais superiores

assegurar a fundamentação das decisões, de forma que os precedentes disponham de


clareza, solidez e profundidade nos seus fundamentos, para que possam ser respeitados e
seguidos e (c) que sejam firmados dentro de um tempo razoável, mas com o
amadurecimento das teses e argumentações formuladas” (MENDES, Aluísio Gonçalves de
Castro; SILVA, Larissa Clare Pochmann da. Precedente e IRDR: algumas considerações.
In: DIDIER JR., Fredie et al. (Coord.). Coleção Grandes Temas do novo CPC. Salvador:
JusPodivm, 2015. v. 3. p. 573-574). Para que efetivamente sejam alcançados os objetivos
pretendidos pelo novo Código, Dierle Nunes e Rafael Dilly Patrus sugerem a criação de
centros de assessoria técnico-jurídica, “a subsidiar a todos os julgadores de uma Câmara
pressupostos jurídicos idênticos para suas decisões”, e o respeito pleno do contraditório,
“de modo a levar em consideração todos os argumentos suscitados para a formação de um
padrão decisório, pelos juízes e pelas partes” (NUNES, Dierle; PATRUS, Rafael Dilly. Uma
breve notícia sobre o procedimento-modelo alemão e sobre as tendências brasileiras de
padronização decisória: um contributo para o estudo do incidente de resolução de
demandas repetitivas brasileiro. In: FREIRE, Alexandre et al. (Org.). Novas tendências do
processo civil: estudos sobre o projeto do novo Código de Processo Civil. Salvador:
JusPodivm, 2013. p. 474).

7 MENDES, Aluísio Gonçalves de Castro; SILVA, Larissa Clare Pochmann da. Precedente e
IRDR: algumas considerações. In: DIDIER JR., Fredie et al. (Coord.). Coleção Grandes
Temas do novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2015. v. 3. p. 575-576.

8 Sobre o “Sistema de julgamento de casos repetitivos”, ver, amplamente: DIDIER JR.,


Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil. Salvador:
JusPodivm, 2016. v. 3. Capítulo 15.

9 NEVES, Daniel Amorim Assumpção.Novo Código de Processo Civil comentado. Salvador:


JusPodivm, 2016. p. 1601.

10 Sobre o modelo alemão, antes mesmo da instituição da Comissão de Juristas para


elaboração do CPC: “É enorme a utilidade de um procedimento como o Musterverfahren
alemão, que permite a tratativa coletiva de questões comuns a muitos processos,
pacificando-as de maneira única para todas as causas, sem os malabarismos teóricos
típicos das ações coletivas” (CABRAL, Antonio do Passo. O novo procedimento-modelo
(musterverfahren) alemão: uma alternativa às ações coletivas.Revista de Processo, São
Paulo, v. 147, p. 123-146, maio 2007).

11 Outras informações podem ser obtidas em: [www.jpml.uscourts.gov/].

12 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2015. p.
479; CUNHA, Leonardo Carneiro da; DIDIER JR., Fredie. Recursos contra decisão proferida
em incidente de resolução de demandas repetitivas que apenas fixa a tese jurídica. In:
DIDIER JR., Fredie (Coord.) et al. Coleção Grandes Temas no novo CPC. julgamento de
casos repetitivos. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 10. p. 316-318; CABRAL, Antonio do
Passo. Comentários aos arts. 976 a 987. In: CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER, Ronaldo
(Coord.). Comentários ao novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense: 2015. p.
1422.

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A competência dos tribunais para julgamento de IRDRs:
possível incompatibilidade decisória e a remessa
(obrigatória) aos tribunais superiores

13 TEMER, Sofia. Incidente de resolução de demandas repetitivas. Salvador: JusPodivm,


2016. p. 80. No mesmo sentido: MENDES, Aluísio Gonçalves de Castro; RODRIGUES,
Roberto de Aragão Ribeiro. Reflexões sobre o incidente de resolução de demandas
repetitivas previsto no Projeto de novo Código de Processo Civil. Revista de Processo, São
Paulo, v. 211, p. 191-207, set. 2012; NUNES, Dierle. Comentários aos arts. 1.036 a 1.040.
In: ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa et al. (Coord.). Breves comentários ao novo Código
de Processo Civil. São Paulo: Ed. RT, 2015. p. 2320.

14 De acordo com o Enunciado 344 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “(art.


978, parágrafo único) A instauração do incidente pressupõe a existência de processo
pendente no respectivo tribunal”.

15 MENDES, Aluísio Gonçalves de Castro; TEMER, Sofia. O incidente de resolução de


demandas repetitivas do novo Código de Processo Civil. Revista de Processo, São Paulo, v.
243, p. 283-331, maio 2015; CÂMARA, Helder Moroni (Coord.). Código de Processo Civil:
comentado. São Paulo: Almedina, 2016. p. 1223. Semelhante posicionamento foi adotado
pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados, que divulgou o
Enunciado n. 22, segundo o qual “A instauração do IRDR não pressupõe a existência de
processo pendente no respectivo tribunal” (Enunciado disponível em:
[httwww.enfam.jus.br/wp-content/uploads/2015/09/ENUNCIADOS-VERS%C3%83O-DEF
INITIVA-.pdf]).

16 Além do processamento em capítulo próprio sobre o instituto do IRDR no CPC/2015


(capítulo VIII do CPC/2015), diversos foram os dispositivos a abordá-lo: art. 12, § 2º, III,
que exclui o julgamento do IRDR à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença
ou acórdão; art. 138, § 3º, que autoriza o amicus curiae a recorrer de decisão que julgar o
IRDR; art. 313, IV, sobre a suspensão do processo quando há a admissão de IRDR; art.
332, III, relativo à improcedência liminar do pedido; art. 932, IV, c, que estabelece
incumbir ao relator negar provimento a recurso que for contrário a entendimento firmado
em IRDR; art. 988, IV e § 4º, que autorizam reclamação quando há aplicação indevida ou
não aplicação de tese jurídica firmada em IRDR; entre outros.

17 Sobre o tema, v.: PEIXOTO, Ravi. Superação do precedente e segurança jurídica. 2. ed.
rev., ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2016.

18 GONÇALVES, Marcelo Barbi. O incidente de resolução de demandas repetitivas e a


magistratura deitada. Revista de Processo, São Paulo, v. 222, p. 221-247, ago. 2013.

19 TEMER, Sofia. Incidente de resolução de demandas repetitivas. Salvador: JusPodivm,


2016. p. 203-204.

20 RE, Edward D. Stare decisis – Education and training series. Federal Judicial Center,
1975. p. 6.

21 Nota-se, com isso, uma diferença com relação ao instituto existente no ordenamento
norte-americano, no qual, caso as questões em comum sejam predominantemente de

Página 16
A competência dos tribunais para julgamento de IRDRs:
possível incompatibilidade decisória e a remessa
(obrigatória) aos tribunais superiores

direito, não será possível a Multidistrict Litigation.

22 CAMBI, Eduardo; FOGAÇA, Mateus Vargas. Sistema de precedentes judiciais


obrigatórios no novo Código de Processo Civil. In: DIDIER JR., Fredie et al. (Coord.).
Coleção Grandes Temas do Novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2015. v. 3. p. 343; ZANETI
JR., Hermes. O valor vinculante dos precedentes. Salvador: JusPodivm, 2015. p. 353.
“Seria possível pensar que toda decisão judicial é um precedente. Contudo, ambos não se
confundem, só havendo sentido falar de precedentes quando se tem uma decisão dotada
de determinadas características, basicamente a potencialidade de se firmar como
paradigma para a orientação dos jurisdicionados e dos magistrados. De modo que, se todo
precedente ressair de uma decisão, nem toda decisão constitui precedente. Note-se que o
precedente constitui decisão acerca de matéria de direito – ou, nos termos do common law,
de um point of law –, e não de matéria de fato, enquanto a maioria das decisões diz
respeito a questões de fato” (MARINONI. Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed.
rev. e atual. São Paulo: Ed. RT, 2011. p. 215).

23 MEDINA, José Miguel Garcia; FREIRE, Alexandre; FREIRE, Alonso Reis. Para uma
compreensão adequada do sistema de precedentes no Projeto do novo Código de Processo
Civil brasileiro. In: FREIRE, Alexandre et al. (Org.). Novas tendências do processo civil:
estudos sobre o Projeto do novo Código de Processo Civil. Salvador: JusPodivm, 2013. p.
687.

24 RE, Edward D. Stare decisis – Education and training series. Federal Judicial Center,
1975. p. 2.

25 STRECK, Lenio; ABBOUD, Georges. O NCPC e os precedentes – Afinal, do que estamos


falando? In: DIDIER JR., Fredie et al. (Coord.). Coleção Grandes Temas do Novo CPC.
Salvador: JusPodivm, 2015. v. 3. p. 177-178.

26 ATAÍDE JR., Jaldemiro Rodrigues de. O princípio da inércia argumentativa diante de um


sistema de precedentes em formação no direito brasileiro. Revista de Processo, São Paulo,
v. 229, p. 377-401, mar. 2014. Também sobre o tema: NUNES, Dierle; HORTA, André
Frederico. Aplicação de precedentes e distinguishing no CPC/2015: uma breve introdução.
In: DIDIER JR., Fredie et al. (Coord.). Coleção Grandes Temas do novo CPC. Salvador:
JusPodivm, 2015. v. 3. p. 309.

27 “La stabilità è certamente un valore fonte di un incremento della credibilità sociale,


pertanto, di un rafforzamento dell’istituzione giudiziaria, se come termine di confronto ci
rappresentiamo un’istituzione immaginaria (o forse non tanto?), i cui orientamenti si
concretino in oscillazioni o sbandamenti casuali, privi di ogni logica interna, magari
neanche voluti come tali, perché manca la consapevolezza dell’esistenza del precedente.
Ma, d’altro canto, sembra innegabile che la cristallizazione, l’ossificazione dello jus dicere,
attraverso il perpetuarsi di un atteggiamento supinamente imitativo dei precedenti che
vengono dal passato e il rifiuto del prendere atto del nuovo che si afferma nella società
civile, esigendo meditati cambiamenti dalla giurisprudenza, può essere fonte non già di un
aumento, bensì di una diminuzione di credibilità e di autorità della magistratura”
(CHIARLONI, Sergio. Efficacia del precedente giudiziario e tipologia dei contrasti di

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A competência dos tribunais para julgamento de IRDRs:
possível incompatibilidade decisória e a remessa
(obrigatória) aos tribunais superiores

giurisprudenza.Revista de Processo, São Paulo, v. 229, p. 403-430, mar. 2014).

28 SOARES, Carlos Henrique. O precedente judicial e a súmula com efeito vinculante no


novo Código de Processo Civil brasileiro. In: ARRUDA ALVIM, Thereza et al. (Coord.). O
novo Código de Processo Civil brasileiro: estudos dirigidos: sistematização e
procedimentos. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 383.

29 MITIDIERO, Daniel. Fundamentação e precedente:– dois discursos a partir da decisão


judicial. Revista de Processo, São Paulo, v. 206, p. 61-78, abr. 2012.

30 NERY JUNIOR, Nelson; ABBOUD, Georges. Stare decisisvs direito jurisprudencial. In:
FREIRE, Alexandre et al. (Org.). Novas tendências do processo civil: estudos sobre o
Projeto do novo Código de Processo Civil. Salvador: JusPodivm, 2013. p. 498. Em crítico
posicionamento com relação ao sistema de precedentes introduzido pelo CPC/15,
acrescentam os autores: “[...] não se pode justificar a instituição desmedida da
jurisprudência com efeito vinculante, sob o argumento de que estaria sendo introduzido
em nosso ordenamento o sistema do stare decisis. Em consonância com o que afirmamos,
não se deve nunca perder de vista que ostare decisis é mais do que a aplicação da regra
de solução análoga para casos iguais, pois essa seria uma visão muito mais simplificada de
um procedimento altamente complexo que, por séculos, estruturou-se naquelas
comunidades. A doutrina do stare decisis, em sua acepção técnica, surgiu apenas mais
tarde, mediante uma sistematização das decisões, que distinguia a elaboração/construção
(holding) do caso que consistiria no precedente e seria vinculante para casos futuros, e
o dictum, que consistia na argumentação utilizada pela Corte, dispensável à decisão e,
desse modo, não vinculante. Essa argumentação demonstra o quão diferente é a mecânica
dos sistemas de precedente em relação a nossa técnica de utilização da solução paradigma
para processos repetitivos. A utilização do precedente para solucionar o caso concreto
exige intensa interpretação e realização de contraditório entre as partes. Já o uso dos arts.
543-B e 543-C do CPC dispensaria nova argumentação das partes – até mesmo porque o
processo em que elas atuam estaria sobrestado – para que o juiz decidisse imediatamente
a lide a partir do que ficou estabelecido na decisão paradigma (piloto) proferida pelo STF ou
STJ” (p. 499-505).

31 COSTA NETO, José Wellington Bezerra da. Precedentes no Código de Processo Civil de
2015: somos ainda civil law? Revista de Processo, São Paulo, v. 258, p. 387-418, ago.
2016. Também sobre o tema: NERY JR, Nelson; ABBOUD, Georges. Stare decisisvs. direito
jurisprudencial. In: FREIRE, Alexandre et al. (Org.). Novas tendências do processo civil:
estudos sobre o Projeto do novo Código de Processo Civil. Salvador: JusPodivm, 2013. p.
491.

32 FINE, Tomi M.O uso do precedente e o papel do princípio do stare decisis no sistema
legal norte-americano. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 782, p. 90-96, dez. 2000.

33 TARUFFO, Michele. Precedente e giurisprudenza. Estudios en homenaje a Héctor


Fix-Zamudio. Biblioteca Jurídica Virtual del Instituto de Investigaciones Jurídicas de la
UNAM, p. 765-810.

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A competência dos tribunais para julgamento de IRDRs:
possível incompatibilidade decisória e a remessa
(obrigatória) aos tribunais superiores

34 CRAMER, Ronaldo. Precedentes judiciais: teoria e dinâmica. Rio de Janeiro: Forense,


2016. p. 74-76.

35 MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Ed.
RT, 2011. p. 126. Acrescenta ainda o autor que “Pouco adiantaria ter legislação estável e,
ao mesmo tempo, frenética alternância das decisões judiciais. Para dizer o mínimo, as
decisões judiciais devem ter estabilidade porque constituem atos de poder. Ora, os atos de
poder geram responsabilidade àquele que os instituiu. Assim, as decisões não podem ser
livremente desconsideradas pelo próprio Poder Judiciário” (p. 130).

36 TEMER, Sofia. Incidente de resolução de demandas repetitivas. Salvador: JusPodivm,


2016. p. 210.

37 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2015. p.
427-432.

38 Confira-se a crítica de MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel


(Coord.).Comentários ao Código de Processo Civil: artigos 926 ao 975. São Paulo: Ed. RT,
2016. v. 15. p. 70: “O art. 927, CPC/2015, é meramente exemplificativo, tendo em conta
que deixa de mencionar que a partir do julgamento derecursos extraordinários e de
recursos especiais não repetitivosjulgados pelas Turmas do Supremo Tribunal Federal e do
Superior Tribunal de Justiça e a partir do julgamento deembargos de divergênciaé possível
formar precedentes. A uma, se o recurso extraordinário e o recurso especial por si só visam
a viabilizar a outorga de unidade ao direito, então é óbvio que não é necessário ligar
necessariamente a formação de precedentes mediante esses recursos ao incidente de
assunção de competência (art. 947, CPC/2015) ou à forma repetitiva (arts. 1.036 a 1.041,
CPC/2015) – como, nada obstante, sugere o art. 927, III, CPC/2015. A duas, o recurso de
embargos de divergência visa justamente a viabilizar acomposição de eventuais
dissensosentre decisões no âmbito das Cortes Supremas, de modo que a sua função só
pode estar evidentemente atada à superação do dissenso e à busca pela unidade do
direito. Em outras palavras: à formação de precedentes. Como é evidente, num e noutro
caso pode simplesmente não ser necessária a pronúncia da Seção, da Corte Especial ou do
Pleno para o julgamento da questão a fim de que se obtenha a formação de um
precedente”.

39 ZANETI JR., Hermes. Comentários ao art. 926. In: CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER,
Ronaldo (Coord.). Comentários ao novo Código de Processo Civil. 2. ed. rev., atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 1311.

40 ZANETI JR., Hermes. Comentários ao art. 926. In: CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER,
Ronaldo (Coord.). Comentários ao novo Código de Processo Civil. 2. ed. rev., atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 1318-1319.

41 MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel (Coord.). Comentários ao Código de


Processo Civil: artigos 926 ao 975. São Paulo: Ed. RT, 2016. v. 15. p. 55.

42 CANOTILHO, J. J. Gomes.Direito constitucional e teoria da Constituição. 3. ed. Coimbra:

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A competência dos tribunais para julgamento de IRDRs:
possível incompatibilidade decisória e a remessa
(obrigatória) aos tribunais superiores

Almedina, 1999. p. 503.

43 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Campinas: Bookseller,


2000. v. 2. p. 183-186.

44 Tema n. 2, Processos paradigma n. 50332079120164040000 e


50259845520154047200, admitido pela Corte Especial em 22.09.2016.

45 TJRJ, AI 0042399-54.2014.8.19.0000, Decisão Monocrática, Marcia Ferreira Alvarenga,


j. 20.08.2014; TJDFT, AI 0034759-96.2015.8.07.0000, 2ª T. Cível, rel. Des. João Egmont,
j. 13.04.2016; TJDFT, CC 0701095-96.2016.8.07.0000, 1ª CC, rel. Des. Hector Valverde
Santana, j. 06.02.2017; TJPR, AI 1.399.582-7, 7ª CC, rel. Des. Dalla Vecchia, j.
02.02.2016.

46 O processo paradigma é de n. 2121567-08.2016.8.26.0000 e foi admitido pela Turma


Especial – Privado 2 em 09.08.2016.

47 TRF-1ª Reg., ApCiv 0000417-63.2007.4.01.3808, 5ª T., rel. Des. Néviton Guedes, j.


29.07.2015; TRF-2ª Reg., Ap 0015968-23.2008.4.02.5101, 6ª T. Especializada, rel. Des.
Guilherme Calmon Nogueira da Gama, j. 28.07.2016; TRF-2ª Reg., Ap
0046332-66.1994.4.02.5101, 5ª T. Especializada, rel. Des. Julio Mansur, j. 29.03.2011;
TRF-2ª Reg., Ap 0001763-03.2005.4.02.5001, 6ª T. Especializada, rel. Des. Guilherme
Couto de Castro, j. 12.10.2010; TRF-4ª Reg., 4ª T., rel. Des. Vivian Josete Pantaleão
Caminha, Ap 5012156-69.2013.404.7003, j. 26.10.2016.

48 “1.1 Para a concessão judicial de remédio ou tratamento constante do rol do SUS,


devem ser conjugados os seguintes requisitos: (1) a necessidade do fármaco perseguido e
adequação à enfermidade apresentada, atestada por médico; (2) a demonstração, por
qualquer modo, de impossibilidade ou empecilho à obtenção pela via administrativa (Tema
350 do STF). 1.2 Para a concessão judicial de fármaco ou procedimento não padronizado
pelo SUS, são requisitos imprescindíveis: (1) a efetiva demonstração de hipossuficiência
financeira; (2) ausência de política pública destinada à enfermidade em questão ou sua
ineficiência, somada à prova da necessidade do fármaco buscado por todos os meios,
inclusive mediante perícia médica; (3) nas demandas voltadas aos cuidados elementares à
saúde e à vida, ligando-se à noção de dignidade humana (mínimo existencial),
dispensam-se outras digressões; (4) nas demandas claramente voltadas à concretização
do máximo desejável, faz-se necessária a aplicação da metodologia da ponderação dos
valores jusfundamentais, sopesando-se eventual colisão de princípios antagônicos
(proporcionalidade em sentido estrito) e circunstâncias fáticas do caso concreto
(necessidade e adequação), além da cláusula da reserva do possível” (Processo paradigma
n. 0302355-11.2014.8.24.0054/50000, incidente admitido em 17.05.2016 e julgado em
09.11.2016 pelo Grupo de Câmaras de Direito Público). Confiram-se alguns julgados sobre
o tema em âmbito federal: TRF-1ª Reg., AI 0042516-11.2016.4.01.0000, 6ª T., rel. Des.
Kassio Nunes Marques, j. 14.11.2016; TRF-2ª Reg., AI 0010912-05.2016.4.02.0000, 5ª T.
Especializada, rel. Des. Marcello Ferreira de Souza Granado, j. 16.11.2016; TRF-4ª Reg.,
AI 5048126-85.2016.404.0000, 4ª T., rel. Des. Vivian Josete Pantaleão Caminha, j.
01.02.2017; TRF-5ª Reg., Ap e Remessa Necessária 0800351-53.2015.40.58401, 1ª T.,

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A competência dos tribunais para julgamento de IRDRs:
possível incompatibilidade decisória e a remessa
(obrigatória) aos tribunais superiores

rel. Des. Manuel Maia (convocado), j. 10.10.2016; TRF-4ª Reg., Ap e Remessa Necessária
5026291-43.2014.4.04.7200, 4ª T., rel. Des. Salise Monteiro Sanchotene, j. 04.08.2015.

49 Como bem elucida Toni M. Fine: “Um sistema legal baseado no precedente judicial
tende a influenciar profundamente os cidadãos por meio de um senso de estabilidade e
confiança no regime legal. Se as regras de direito são constantemente reformuladas e
aplicadas de maneira inconsistente, o sistema como um todo dá a impressão de
instabilidade. A aplicação de princípios bem fundamentados inspira confiança nas regras de
direito e nas instituições que as promovem” (FINE, Toni M. O uso do precedente e o papel
do princípio do stare decisis no sistema legal norte-americano. Revista dos Tribunais, São
Paulo, v. 782, p. 90-96, dez. 2000).

50 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2015. p.
47.

51 NUNES, Dierle. Processualismo constitucional democrático e o dimensionamento de


técnicas para a litigiosidade repetitiva a litigância de interesse público e as tendências “não
compreendidas” de padronização decisória. Revista de Processo, São Paulo, v. 199, p.
41-83, set. 2011. “E é precisamente essa a função que as Cortes Supremas devem
desempenhar: dar unidade ao Direito mediante a sua adequada interpretação a partir do
julgamento de casos a ela apresentados. Com isso, a função da Corte Suprema é proativa,
sendo sua atuação destinada a orientar a adequada interpretação e aplicação do Direito por
parte de toda a sociedade civil e de todos os membros do Poder Judiciário. A sua função
tem no horizonte o futuro: ela atua de maneira proativa com o fim de guiar a interpretação
do Direito, dando a ele unidade” (MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel (coord.).
Comentários ao Código de Processo Civil: artigos 926 ao 975. São Paulo: Ed. RT, 2016. p.
44. v. 15).

52 GRINOVER, Ada Pellegrini. Os princípios constitucionais e o Código de Processo Civil.


São Paulo: Bushatsky, 1975. p. 42-46.

53 KOEHLER, Frederico Augusto Leopoldino. A razoável duração do processo. 2. ed. rev.,


ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2013. p. 266-275.

54 De acordo com os dados da “Justiça em números” de 2016, relatório estatístico anual


divulgado pelo CNJ, o STJ terminou o ano de 2015 com um estoque de 373.534 processos,
representando um aumento de 2,5% com relação a 2014, tendo cada ministro
solucionado, em média, 10.350 processos no ano, ou seja, 43 casos ao dia, considerando
20 dias úteis por mês (Justiça em números 2016: ano-base 2015/Conselho Nacional de
Justiça – Brasília: CNJ, 2016. p. 351. Disponível em:
[www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/10/b8f46be3dbbff344931a933579915488.
pdf]. Acesso em: 24.03.2017).

55 Do mesmo modo, conforme as estatísticas divulgadas pelo STF, em 2016 foram


protocolados na Suprema Corte mais 89.971 processos no tribunal. Ao todo, foram
proferidas 96.019 decisões monocráticas e 13.155 colegiadas (Estatísticas do STF.
Disponível em: [www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=estatistica]. Acesso

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A competência dos tribunais para julgamento de IRDRs:
possível incompatibilidade decisória e a remessa
(obrigatória) aos tribunais superiores

em: 24.03.2017).

56 “Embora estejamos de acordo quanto à necessidade de manter a jurisprudência


coerente e, com isso, promover a segurança e a igualdade jurídica, não podemos
concordar que a questão seja tão facilmente resolvida pela simples adoção de uma (sic)
teoria dos precedentes obrigatórios, que, inclusive, o projeto do Novo Código de Processo
Civil buscava institucionalizar. O problema da falta de coerência e integridade das decisões
(que, por sinal, são coisas distintas) reside naquilo que é o coração da própria teoria dos
precedentes obrigatórios: o sujeito da modernidade e a possibilidade de uma livre
atribuição de sentidos” (STRECK, Lenio Luiz; RAATZ, Igor e. A teoria dos precedentes à
brasileira entre o solipsismo judicial e o positivismo jurisprudencialista ou “de como o
mundo (não) é um brechó”.Revista de Processo, São Paulo, v. 262, p. 379-411, dez. 2016.

57 CANOTILHO, J. J. Gomes.Direito constitucional e teoria da Constituição. 3. ed. Coimbra:


Almedina, 1999. p. 260.

58 Propondo o processo de resultados: DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de


direito processual civil. 7. ed. rev. São Paulo: Malheiros, 2013. v. I. p. 252-253.

59 MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel (Coord.).Comentários ao Código de


Processo Civil: artigos 926 ao 975. São Paulo: Ed. RT, 2016. v. 15. p. 65.

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