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Comércio e Cidade Uma Relação de Origem++ PDF
Comércio e Cidade Uma Relação de Origem++ PDF
Este texto integra o livro Memórias do Comércio Paulista: Guia de Acervo, produzido pelo Projeto
Memórias do Comércio, idealizado pelo Sesc São Paulo e executado pelo Museu da Pessoa, em 2012
PROJETO MEMÓRIAS DO COMÉRCIO EM SÃO PAULO: NOVOS OLHARES
Este texto integra o livro Memórias do Comércio Paulista: Guia de Acervo, produzido pelo Projeto
Memórias do Comércio, idealizado pelo Sesc São Paulo e executado pelo Museu da Pessoa, em 2012
PROJETO MEMÓRIAS DO COMÉRCIO EM SÃO PAULO: NOVOS OLHARES
do “doux commerce” foi Montesquieu, que aparece na passagem do L’espirit des lois:
“(...) é quase uma regra geral que, onde quer que os costumes sejam polidos (moeurs
douces), existe o comércio − e onde quer que exista o comércio, os costumes são
polidos.”9
No entanto, a partir do final do século XVIII, com o advento das revoluções
industriais – têxtil, do carvão e do aço e, mais fortemente a partir do início do século
XX, com a revolução tecnológica –, a atividade comercial assume novamente um papel
secundário na economia, a reboque do setor industrial.10 Situação que perdurará por
quase todo o século XX, refletindo-se no pouco interesse dos estudos acadêmicos
sobre o comércio, principalmente no cenário nacional.
Inicialmente, pode-se dizer que o estudo do terciário (comércio e serviços
varejistas) foi uma área desenvolvida predominantemente por geógrafos e
economistas, interessados nas questões locacionais das atividades econômicas nas
quais o comércio também aparecia, tendo como precursores, entre 1930 e 1950,
Walter Christaller, Willian Reilly e August Losch, seguidos na década de 1960 e 1970
por François Perroux, Brian Berry, Marie André Prost, Michel Rochefort, Etienne
Dalmasso, entre outros. Com alguns desdobramentos no Brasil, encontram-se os
estudos de Roberto Lobato Correa, Pedro Geiger, Manoel Correia de Andrade, Milton
Santos, Paulo Roberto Haddad, embora mais focados nos estudos de rede urbana e
sua hierarquia, pois o ponto principal era o desenvolvimento econômico que tinha
como foco o setor industrial.
Na década de 1960 e 1970, com o crescimento da produção industrial, os
estudos sobre o varejo passaram a se direcionar para a compreensão do mercado,
abrindo espaço para o campo da administração e do marketing onde surgem nomes
como Richard Nelson, Willian Applebaum, Willian Davidson, Philip Kotler, Michel
Porter. No Brasil é possível identificar o início de uma preocupação com o setor
terciário, mas ainda bem distante das questões territoriais e urbanas.
Tendo em vista o surgimento do primeiro shopping center no Brasil, o
Shopping Iguatemi, em 1966 começam a surgir trabalhos nessa área, em que se
destacam, a partir de 1970, os trabalhos de Gilda Collet Bruna e Alberto de Oliveira
Lima Filho, Heliana Comin Vargas11 e Anita Kon.
A partir de então, com a saturação do mercado internacional e a mudança do
sistema de produção fordista para a produção flexível, concomitantemente com o
avanço das comunicações e transportes, o comércio recupera a sua primazia e o
processo de terciarização das grandes cidades se intensifica. A forma de comerciar e a
sofisticação de suas técnicas vão responder pela melhor colocação dos produtos
industriais. Além disso, toda uma série de novas necessidades vai ser criada para
manter a produção ativa em função da dinâmica do consumo. O comércio, por sua vez,
vai se virtualizar. E, ao mesmo tempo em que passa a prescindir do espaço físico, vai
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precisar retornar às suas origens como atividade social, devidamente integrada com as
demais (lazer, cultura, diversão, alimentação etc.), para manter as taxas de retorno.
No entanto, foi necessário esperar mais de uma década para o tema assumir
papel relevante nos meios acadêmicos, pois a indústria fordista, sua opulência e
impactos ambientais, roubaram a cena dos demais setores da economia urbana, no
âmbito dos estudos urbanos, no Brasil, principalmente, dos estudos sobre comércio e
cidade. Sem falar, é claro, dos poucos estudos sobre arquitetura comercial, que só
recentemente começaram a surgir. No contexto internacional, é importante
mencionar trabalhos pioneiros na área de arquitetura e urbanismo como os de Victor
Gruen, considerado o pai dos shopping centers; David Gosling, discutindo espaços
comerciais, e Johann Geist, sobre as arcadas comerciais.12
Posteriormente, terciário, terciarização e desindustrialização passaram a ser
temas discutidos em maior profundidade, principalmente depois do trabalho de Saskia
Sassen13, embora, ainda, sem a devida compreensão da composição, estrutura,
domínio e localização do terciário, e de sua verificação empírica localmente realizada.
A ausência de compreensão do significado dos novos produtos e serviços, na sua
interação com os demais atores, quer empresas, quer indivíduos (consumidores), e o
avanço do apelo ao consumo de produtos e de lugares, intensificado pela necessidade
de ampliar o mercado consumidor e pelo crescimento da atividade turística e de lazer
como forte atividade motriz da economia, exigem estudos sobre os espaços terciários
e sua localização de forma mais sistemática e intensa. O quadro a seguir dá uma ideia
da complexidade dos estudos do comércio e serviços varejistas e sua amplitude em
termos de áreas do conhecimento com as quais estabelece forte interface.
Este texto integra o livro Memórias do Comércio Paulista: Guia de Acervo, produzido pelo Projeto
Memórias do Comércio, idealizado pelo Sesc São Paulo e executado pelo Museu da Pessoa, em 2012
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PROJETO MEMÓRIAS DO COMÉRCIO EM SÃO PAULO: NOVOS OLHARES
consumidor. Um estudo que registre a vida de comerciantes contada por eles mesmos,
informa uma série de coisas sobre o cotidiano do cidadão comum, não reveladas pela
história escrita pelos detentores do poder, que costumam retratar a vida e a ação dos
dominadores. É preciso ir além das informações teóricas da academia. É preciso
conhecer a história também por quem a faz e não apenas por quem a observa ou
escreve sobre ela.
No caso do Estado de São Paulo, ter o registro de fatos do início do século XX −
como se nos oferece a coletânea Memória do Comércio de São Paulo −, contados por
pessoas que ajudaram a construí-los (filhos e netos), num momento em que a cidade
de São Paulo assumia a condição de primeira cidade do país, é sem dúvida uma
enorme contribuição para as pesquisas urbanas que vão além da história do comércio,
pois, como indica o título do presente artigo, “comércio e cidade: uma relação de
origem”.
1
Heliana Comin Vargas graduou-se arquiteta e urbanista pela FAU/USP, em 1974, e economista pela
PUC-SP, em 1982. É mestre (1986) e doutora (1993) em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-USP. Cursou
pós-doutorado em Formação de Lideranças para o Planejamento Ambiental em Genebra, na Academia
Internacional de Meio Ambiente, em 1996. É professora Titular da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo, Departamento de Projeto, junto ao grupo de disciplinas de
Planejamento Urbano e Regional. É especialista em estudos de dinâmica e economia urbanas, com foco
no setor terciário e com ênfase nas atividades de comércio e serviços varejistas, adentrando o campo
das atividades de recreação e lazer, cultura e turismo.
2
LONGMAN Dictionary of Contemporary English. 2ª ed. Harlow: Longman, 1987.
3
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 4ª ed. Rio de
Janeiro: Zahar, 1997.
4
VARGAS, Heliana Comin. Espaço terciário. O lugar, a arquitetura e a imagem do comércio. São Paulo:
SENAC, 2001.
5
MUMFORD, Lewis. A cidade na história. Trad. de Neil R. da Silva. Belo Horizonte: Itatiaia, 1965.
6
VARGAS, Heliana Comin. Localização estratégia ou estratégia na localização. São Paulo: FAU-USP,
1992.
7
VARGAS, 2001, op. cit.
8
SOUSA, Antonio Alvarez. El ocio turístico em las sociedades industriales avanzadas. Barcelona: Bosch,
Casa editorial, S.A., 1994.
9
HIRSCHMAN, Alberto. As paixões e os interesses: argumentos políticos para o capitalismo antes de seu
triunfo. Trad. de Lúcia Campello. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. 59 pág.
10
VARGAS, 1992, op. cit.
11
VARGAS, Heliana Comin. A importância das atividades terciárias no desenvolvimento regional.
Dissertação de mestrado – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, USP. São Paulo, 1985.
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Memórias do Comércio, idealizado pelo Sesc São Paulo e executado pelo Museu da Pessoa, em 2012
PROJETO MEMÓRIAS DO COMÉRCIO EM SÃO PAULO: NOVOS OLHARES
12
Para saber mais sobre espaços comerciais, veja VARGAS, 2001, op. Cit.
13
SASSEN, Saskia. As cidades na economia mundial. São Paulo: Studio Nobel, 1998.
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Memórias do Comércio, idealizado pelo Sesc São Paulo e executado pelo Museu da Pessoa, em 2012