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Antes de começar a falar sobre feminicídio em si, é de extrema importância que

se entenda que a perspectiva de gênero é fundamental para a compreensão do


termo feminicídio.
Portanto, entende-se gênero como construções sociais dos atributos femininos
e masculinos definidos como papéis de gênero. Os papéis de gênero são
comportamentos aprendidos em uma sociedade, comunidade ou grupo social,
nos quais seus membros são condicionados a considerar certas atividades,
tarefas e responsabilidades como sendo masculinas ou femininas.
E, a partir disso, cria-se um estereótipo, que alimenta discriminações e violências
por terem características relacionais hierárquicas, ou seja, as atribuições dos
papéis masculinos e femininos se complementam, convertendo diferenças em
desigualdades.

CONCEITO:

Ou seja, "Feminicídio" é o assassinato de mulheres pela condição de serem


mulheres.
Esse termo, surgiu na década de 70, para dar visibilidade à discriminação e
violência sofridos pelas mulheres. O Feminicídio é, portanto, um crime de ódio.

Em regra, se considera que há dois tipos de feminicídio: O feminicídio íntimo e o


"não íntimo".
O Feminicídio íntimo se caracteriza pelo vínculo que a vítima tem com o
agressor, em contexto de violência doméstica e familiar. São os crimes nos quais
o autor do fato são os parceiros ou ex parceiros da vítima.
O Feminicídio não íntimo é quando não há relação entre autor e vítima e ocorre
quando se mostra um menosprezo, desumanização ou discriminação à condição
de mulher, é o tratar a mulher como um objeto. São casos em que há violência
sexual por um desconhecido seguido de homicídio - tentado ou consumado -, ou
ainda casos em que há tortura e mutilação.

Um dos casos mais famosos desse tipo de feminicídio, é o ocorrido em Castelo


Piauí, onde quatro adolescentes, entre 15 e 17 anos, se distanciaram um pouco
da cidade, rumo a um ponto turístico próximo, para tirar fotos que iriam utilizar
em um trabalho escolar. Quando estavam deixando o local, foram abordadas por
cinco homens - sendo quatro adolescente e um adulto - e, a partir daí, as
amarraram em uma árvore, espancaram, estupraram e foram jogadas do alto de
um rochedo para que morressem. Uma veio à óbito.
O feminicídio não íntimo é o tipo mais difícil de se identificar, já que não há
relação o autor e a vítima, devendo-se prestar atenção aos detalhes do crime
para que se posso identificar se houve ou não o crime de feminicídio, uma vez
que nem todas as vezes em que uma mulher é assassinada se configura nesse
termo, como nos casos de latrocínio (roubo seguido de morte) ou uma briga
simples entre desconhecidos, não há o que se falar em feminicídio.

Ressalte-se que mesmo que o feminicídio seja enquadrado como uma violência
doméstica, o crime também pode ter evidências de menosprezo à condição de
mulher.

Legislação:

A partir de pressões da sociedade, assim como de organizações internacionais,


a partir dos anos 2000 diversas nações latino-americanas tipificaram o
feminicídio em suas legislações.
No Brasil, o crime entra legalmente em vigor a partir da Lei nº 13.104, em 2015,
que alterou o art. 121 do Código Penal, incluindo o feminicídio como
circunstância qualificadora do crime de homicídio e, portanto, sendo adicionado
ao rol dos crimes hediondos, que são crimes considerados gravíssimos, pois
ferem a dignidade humana, além de, por exemplo, não poder haver fiança, serão
inicialmente cumpridos em regime fechado, a progressão de regimes terá uma
parcela maior, entre outros.
(LER ARTIGO)

Para além da pena mais grave, o aspecto mais importante da tipificação do


feminicídio é a visibilidade que vai se trazer ao crime, assim como a oportunidade
se se conhecer a dimensão e as características nas diferentes realidades vividas
pelas mulheres no Brasil, permitindo assim o aprimoramento das políticas
públicas para coibi-lo e atuar de modo preventivo.

FEMINICÌDIO NO BRASIL
Com essas informações e partindo da perspectiva de gênero, percebe-se que,
por meio dos papéis de gênero, ao colocar o masculino como superior ao
feminino, a sociedade tornou os crimes de violência contra à mulher, algo
comum.
Parte-se da premissa, então, que a sociedade é machista. Consequentemente,
o Estado Brasileiro e suas instituições também o são.
Isso desencadeou diversos efeitos negativos para as mulheres: até pouco
tempo, os crimes sexuais só eram contra as mulheres honestas. A omissão do
Estado perante os crimes contra mulheres era ainda maior do que se é hoje em
dia.
Já tem praticamente quatro anos da lei do feminicídio e o Estado ainda não é
capaz de prevenir, completamente, e punir esses crimes.
A partir da Lei Maria da Penha, em 2006, que trata dos crimes de violência contra
às mulheres, percebe-se que houve uma diminuição do crescimento dos
números de feminicídios, principalmente, por causa da mobilização para
denúncias dos delitos, assim como a tentativa de implantar medidas protetivas.
Entretanto, por causa da morosidade do Estado e pelo fato de não estarem bem
preparados para proteger a mulher vítima, muitas vezes, antes que o Estado faça
algo, já ocorreu o feminicídio.
Outro fato que contribui para a realidade atual é a tolerância com a violência
contra a mulher, assim como a subestimação das ameaças e outras formas de
violência.
Por muitas vezes, por não deixar marcas aparentes, os casos de ameaças ou
violência psicológica e moral acabam sendo considerados menos importantes
pelos profissionais da rede de atendimento ou até pela própria vítima.
Ocorre que, na maioria dos casos (principalmente no Brasil, onde temos uma
grande taxa de Feminicídio íntimo), o feminicídio não é um crime que ocorre de
maneira imediata. Normalmente, começa com uma ameaça, que se torna
violência moral e psicológica, que vira um empurrão, uma lesão corporal leve,
até chegar no feminicídio.
POr isso, é muito importante que se faça as denúncias, mesmo quando não
considerar que é algo tão sério.

SOCIEDADE

Nos crimes de violência contra às mulheres, a mulher acaba sendo vítima três
vezes. Ela é vítima do crime, do sistema de justiça brasileiro (desde as
delegacias até o sistema judiciário) e da sociedade.
É vítima quando recorre ao Sistema de Justiça e eles demoram para a proteger,
além de, por várias vezes, ser colocada no banco dos réus ao se considerar o
comportamento dela para a realização do crime.
É vítima do julgamento da sociedade.
Há uma tendência de colocar a mulher como provocadora do crime, por causa
de sua personalidade, seus comportamentos, jeito de vestir, por onde estava, a
que horas estava, com quem estava.
O homem, por outro lado, é tido como como aquele que foi provocado e, por
causa de forte emoção causada por ato da vítima, comete o crime. Acontece,
que ao dizer que o autor do crime o cometeu por causa de fortes emoções,
ocasionadas por provocação da vítima, há uma culpabilização da mulher e,
consequentemente, a diminuição da gravidade da conduta do homem.
A sociedade, assim como a imprensa, por muitas vezes, transforma a vítima em
vilã do crime.
A exemplo disto, o caso de Isabela, jovem de 19 anos, que estava em um
churrasco com a família do namorado. Ela, por se encontrar cansada, foi deitar-
se. Seu cunhado, a encontrando num estado de inconsciência, a violentou. O
namorado, ao encontrá-los na cama, a espancou e a queimou, em cima do
colchão. Isabela teve 80% do corpo queimado e morreu logo após.
Entretanto, a manchete de determinado jornal traz [...].
Esse tipo de comportamento, além de perpetuar a cultura da violência, alimenta
a impunidade e, consequentemente, a tolerância social ao assassinato de
mulheres.

Por todo o exposto, é imperativo que haja uma maior visibilidade sobre o
feminicídio e suas causas, para que se tenha uma mobilização em não só punir
esse crime, mas, principalmente, preveni-los, seja educando a sociedade,
principalmente as crianças, seja descobrindo meios da total efetivação das leis
e medidas protetivas.

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