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O IMPACTO DO MOVIMENTO FEMINISTA

NO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA

Jéssica Marques Menezes Jardim


Orientadora: Ms. Gabriela Barretto de Sá
Justificativa

É perceptível a reprodução do patriarcalismo no pensamento


criminológico que reafirma o caráter machista que o Estado trata os
conflitos, buscando manter a mulher em uma posição passiva.
Mostra-se, assim, a necessidade de mudança do discurso
criminológico, a partir de uma perspectiva feminista.

Objetivos

Metodologia
CAP. I - CRIMINOLOGIA: BREVE HISTÓRICO
 CONCEITO:
- 1885, Garofálo;
- 1889, Paul Topinard;
Lola Aniyar de Castro (1983, p. 52 apud, BATISTA, 2007, p. 27), “a
atividade intelectual que estuda os processos de criação das normas
penais e das normas sociais [...]: o seu processo de criação, a sua
forma e conteúdo e os seus efeitos”.

Nilo Batista (2007), o estudo criminológico no Brasil, em sua maioria,


estaria limitado ao conhecimento da etiologia do comportamento
delitivo, além de não questionar a construção política do direito
penal, nem tampouco a aparição social de comportamentos desviantes e
a reação social, uma vez que se baseiam na Escola Positivista.
CAP. I
 Constituição do campo da criminologia:
- Final do século XIX: transição entre Escola Clássica e Escola Positivista;

 CRIMINOLOGIA POSITIVISTA:
- Legitimação da ordem estabelecida

- Paradigma etiológico;

- Cesare Lombroso, Ferri e Garofálo;

- Vera Regina Pereira de Andrade (1995), ciência causal-explicativa, sendo


a criminalidade considerada um fenômeno natural e causalmente
determinado;

- Anos 60
CAP. I
 Do paradigma da reação social ou de definição:
- Labeling approach (teoria do etiquetamento);

 Criminologia Crítica:
“Punição e estrutura social” (1939), de Rusche e Kirchheimer;
“Vigiar e Punir” (1975), de Michel Foucalt;

Alessandro Baratta (2002), “a criminalidade é um bem negativo,


distribuído desigualmente conforme a hierarquia dos interesses fixada
no sistema socioeconômico e conforme a desigualdade social entre os
indivíduos”.

- Mecanismos de controle e processo de criminalização – Mito do direito


penal como um direito igualitário;

- Objeto central de estudo: Sistema de Justiça Criminal.


CAP. II - A MULHER NO DISCURSO CRIMINOLÓGICO
 O HISTÓRICO DO DISCURSO CRIMINOLÓGICO NO TRATAMENTO
DAS MULHERES:
- Controle patriarcal;

 A visão da mulher pela Escola Positivista:


“La Donna Delinquente” (1892), Lombroso e Ferrero;
Soraia Mendes (2012), a delinquência feminina, normalmente, estaria
ligada ou a uma expressão de amoralidade ou a um excesso de
masculinidade e que, conforme Otto Pollack, o fato de haver menos
mulheres encarceradas se dava pela teoria do cavalheirismo, no qual o
Sistema de Justiça Criminal seria mais brando com as mulheres, uma vez
que, por causa da sociedade patriarcal, eram estereotipadas como frágeis
e indefesas.

 A visão da mulher pela Escola Crítica:


Vera Andrade (2005, p. 75), “incapacidade protetora, preventiva e
resolutória do SJC”.
CAP. II
O TRATAMENTO CRIMINOLÓGICO NOS CASOS DE CRIMES
SEXUAIS, EM ESPECIAL O ESTUPRO:

- Depoimento da vítima como principal prova do crime - Harmonia;

- Princípio in dubio pro reo;

- Inversão do ônus da prova;

- Estereótipo de estuprador;

- Lascívia sexual X Poder e dominação;

Vera Andrade (2012, p. 153), o estupro é “um fenômeno de uma


estrutura de poder existente entre homens e mulheres”.
CAP. II
O TRATAMENTO CRIMINOLÓGICO NOS CASOS DE CRIMES
SEXUAIS, EM ESPECIAL O ESTUPRO:

APELAÇÃO CRIMINAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. PALAVRA DA


VÍTIMA. PROVA ISOLADA. DEMAIS DEPOIMENTOS MERAMENTE
DERIVADOS. CARÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA AUTORIA E
MATERIALIDADE. IN DUBIO PRO REO. ABSOLVIÇÃO.
POSSIBILIDADE. APELO PROVIDO. 1. A palavra da vítima em crimes de
natureza sexual deve, para ensejar um condenação, encontrar-se
alicerçada e em consonância com outros elementos que convicção
que a corroborem, sendo insuficientes depoimentos meramente
derivados da versão da suposta ofendida. 2. Inexistindo
comprovação cabal da autoria do crime, impõe-se a aplicação do
postulado do in dubio pro reo, para promover a absolvição do
acusado.(TJ-RR, ACr 0060110000142 - Relator Des. Mauro Campello,
Publicação 19/04/2013) (grifos nossos)
CAP. II
 A REVITIMIZAÇÃO DA MULHER PELA SOCIEDADE:

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Tolerância social à violência


contra as mulheres - 2014): 58% dos entrevistados acreditam, total ou
parcialmente que “se as mulheres soubessem se comportar haveria
menos estupros”;

Menina de 16 anos vítima de estupro coletivo;


CAP. III - A CRIMINOLOGIA FEMINISTA

 O SURGIMENTO DA CRIMINOLOGIA FEMINISTA:

- Entre 1960 e 1970: Movimento feminista;

Alessandro Baratta (1999, p. 21), “a construção social do gênero, e


não a diferença biológica do sexo, o ponto de partida para a análise
crítica da divisão social de trabalho entre mulheres e homens na
sociedade moderna, vale dizer, da atribuição aos dois gêneros de
papeis diferenciados (sobre ou subordinado) nas esferas de produção,
da reprodução e da política, e, também, através da separação entre
público e privado”.
CAP. III

 As teorias feministas do direito:

1. Empirismo feminista (feminismo liberal): aplicação igualitária do direito;

Carol Smart (1994), “o direito é sexista”;

2. Feminismo radical: caráter masculino do direito e busca pelo


reconhecimento das diferenças;

Carol Smart (1994), “o direito é masculino”;

3. Feminismo socialista: introduz o conceito de gênero;

Carol Smart (1994), “o direito tem gênero”.


A CRIMINOLOGIA FEMINISTA
 A Criminologia Crítica e a Crítica Feminista:

Soraia Mendes (2014), um saber “de homens, para homens e sobre


homens”;

 O ESTADO DA ARTE DA CRIMINOLOGIA FEMINISTA:

“Women, Crime and criminology” (1977), Carol Smart;

“Criminologia e Feminismo” (1999), Carmen Hein de Campos;

“Por uma criminologia feminista e negra: uma análise crítica da


marginalização da mulher negra no cárcere brasileiro” (2016), Isadora
Vasconcelos e Manoel Oliveira.
CAP. III
 CONTRIBUIÇÕES NO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA:
- Maior presença de mulheres no estudo criminológico;
- Expansão do objeto de estudo da criminologia;
- Inserção do paradigma de gênero;

Alessandro Baratta (1999), não se pode mais analisar corretamente a


questão criminal, principalmente da seletividade, se não for por uma
perspectiva de gênero, devendo as criminologias crítica e feminista se
unirem, uma vez que essa óptica ratifica e amplia os estudos
criminológicos sobre o processo de criminalização.

- Androcentrismo do saber criminológico;


- Controle social informal (família – mulher) e formal (Estado – homem);
- Esfera pública (Estado) e privada (família);
- Utilização do Direito Penal, de maneira simbólica, na defesa dos direitos
das mulheres;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a Criminologia, historicamente, teve grande
influência do patriarcalismo, fazendo com que se trate, nas raras
vezes que o faz, a mulher por meios de estereótipos e a
colocando em um papel submisso ao homem. O estudo
criminológico, então, é parcial e machista.
Mostra-se a necessidade da ampliação do objeto de estudo
no saber criminológico, tendo como base as relações de gênero
e patriarcado e não somente as relações econômicas e de
classes sociais.
Entretanto, ainda que tenha ocorrido um aumento de mulheres
produtoras deste saber, se percebe um déficit no estudo da
Criminologia Feminista.
Desta forma, é imprescindível que se desenvolva uma
Criminologia Feminista, a partir da Criminologia Crítica,
reconhecendo-se as contribuições que o feminismo trouxe a
esse saber.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Vera R. P. A Soberania Patriarcal: o sistema de justiça criminal no
tratamento da violência sexual contra a mulher. Revista Brasileira de Ciências
Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 48, maio-jun. 2004. p. 260-290.
___________________. Pelas Mãos da Criminologia: o controle penal para
além da (des)ilusão. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2012. 360p .
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal:
introdução à sociologia do direito penal. Trad. Juarez Cirino dos Santos. 3. ed.
Rio de Janeiro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2002.
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. Rio de Janeiro:
Editora Revan, 11ª edição, 2007.
BATISTA, Vera M. Introdução Crítica à Criminologia Brasileira. 1. ed. Rio de
Janeiro: Revan, 2011. v. 1. 126p .
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CAMPOS, Carmen H. Criminologia e Feminismo. 1. ed. Porto Alegre: Sulina,
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GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. Niterói-RJ: Editora Impetus, 11ª
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INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (Brasil). Tolerância
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LINHARES, Juliana. Bela, recatada e "do lar". Revista VEJA, Editora ABRIL,
Edição Especial - ano 49 (VEJA 2474), p. 28-19, 20 abr, 2016.
MENDES, Soraia da R. (RE)Pensando a criminologia: reflexões sobre um
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(Doutorado em Direito). Universidade de Brasília, Faculdade de Direito,
Brasília - DF.
ROSSI, Marina. O que já se sabe sobre o estupro coletivo no Rio de
Janeiro. El Pais, Brasil, 2016.
SMART, Carol. Women, crime and criminology: a feminist critique.
London: Routledge & Kegan Paul, 1976.
Obrigada!

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