SCHOULTZ, Lars. Estados Unidos: poder e submissão. Bauru, SP: Edusc, 1998, p. 151- 178.
(O estabelecimento do Império: Cuba e a Guerra contra a Espanha).
Fichamento de texto Luísa Novaes
Lars Schoultz aborda as relações de Cuba com os Estados Unidos, ressaltando a
instabilidade que assolava a ilha antes mesmo da guerra hispano-americana. Os Estados Unidos sempre estiveram envolvidos com a luta cubana pela independência, concedendo auxílio aos insurgentes, tendo em vista os interesses políticos e econômicos que os norte-americanos possuíam. Os conflitos pela independência entre cubanos, espanhóis e norte-americanos continuaram até o governo de McKinley, que herdou todos os problemas da relação entre EUA e América Latina, mas tentou, de início, estabelecer um governo cuja pauta principal não fosse a política externa. No entanto, o próprio partido do governo convenceu o presidente a assumir a responsabilidade de restaurar a paz em Cuba. Embora McKinley não quisesse adotar uma política externa agressiva, o contexto em que os Estados Unidos se encontrava tendia para a intervenção incisiva: os republicanos do governo, que já estavam acostumados com as presidências anteriores, que priorizavam as políticas externas, incentivaram a agressividade; a imprensa e a mídia fomentava na população o sentimento de guerra, utilizando a estratégia sensacionalista da “imprensa marrom”, que relatava a crueldade que os espanhóis despendiam sobre os cubanos ávidos por liberdade; e, por fim, os políticos, conhecidos como “jingoes” (significava Jesus e eram aqueles de defendiam o imperialismo e o expansionismo), que defendiam o Destino Manifesto, pautados no darwinismo social. Esses últimos eram liderados por Theodore Roosevelt, secretário assistente da Marinha de Guerra de McKinley e pelo Senador Henry Cabot Lodge, e pressionavam o governo vigente a tomar medidas agressivas e belicosas. Roosevelt lutava para proteger a masculinidade da nação, isto é, segundo ele, a guerra era o modo de demonstrar a superioridade dos Estados Unidos em relação aos territórios inferiores, como Cuba, levando a civilização e polindo a raça humana. Além disso, pode-se afirmar que a defesa pela guerra de Roosevelt também era motivada pela possibilidade de ascensão pessoal, impulsionando sua carreira como político. Entre 1897 e 1898, os Estados Unidos tentaram acordos diplomáticos para pressionar os espanhóis a venderem Cuba a eles, o que culminou a instauração de um governo reformista relativamente autônomo na ilha cubana, de modo a desagradar boa parte dos conservadores espanhóis que lá viviam. Diante da revolta gerada, os Estados Unidos decidem mandar o navio de guerra Maine até Havana, onde foi explodido e naufragado, marcando um grande desastre humano e diplomático para os norte-americanos. Nesse contexto, a imprensa teve um papel muito importante para inflamar a opinião pública acerca da tragédia, alegando a iminência de uma grande guerra. Na época, McKinley e a Marinha reportaram a catástrofe como um acidente ocasionado pela explosão de uma mina no fundo do mar; anos mais tarde, estudos concluíram que o Maine foi destruído por um incêndio dentro do navio. Portanto, devido à tragédia, a guerra foi inevitável. McKinley enviou uma mensagem de Guerra ao Congresso, insistindo que fosse disponibilizado o uso da força militar para cessar a guerra e assegurar a segurança dos Estados Unidos. Contudo, os espanhóis viram esse ato como uma declaração de guerra, e o presidente norte-americano declarou bloqueio continental de Cuba e solicitou uma declaração de guerra retroativa ao Congresso. A marinha norte-americana derrotou rapidamente a resistência dos espanhóis, tomando as Filipinas e a ilha cubana, que passaram a ser controladas pelos Estados Unidos, juntamente com Porto Rico e Guam. Nesse sentido, Cuba passou a ser submetida ao controle militar norte-americano, que alegava essa necessidade até que houvesse completa paz e ordem no país. McKinley havia prometido conceder a independência governamental plena; o governador geral Leonard Wood defendia a anexação total de Cuba, implantando um governo de confiança e reformas educacionais, a fim de que a própria ilha percebesse a necessidade da anexação. “Assim, Cuba tornou-se um laboratório para reformas sociais progressistas, especialmente em saúde e serviço público”. Na política, no entanto, o governo não foi bem sucedido. Criou-se uma polícia, a fim de conter a desordem entre os soldados cubanos, que ainda possuíam, na visão dos norte-americanos, um espírito de selvageria, incitado pela guerra recente. Além disso, Wood promoveu uma série de medidas para que o presidente estadunidense percebesse a incapacidade dos cubanos para se autogovernarem: restringiu o direito ao voto aos homens maiores de 20 anos letrados, que possuíssem imóveis ou serviço militar nas forças insurgentes antes da queda de Santiago. Os cidadãos remanescentes eram aqueles considerados por Wood como o “elemento decente” em Cuba, brancos majoritariamente e nativos. Posteriormente, nas eleições de 1900, as contradições acerca do expansionismo vieram à tona. Por um lado, os republicanos e, principalmente os apoiadores do Destino Manifesto, defendiam o imperialismo norte-americano, alegando que, nas Filipinas, eles derrotaram a revolta armada e levaram a liberdade e a civilização ao povo. Por outro lado, os políticos democratas não concordavam plenamente com a política imperialista que o governo de McKinley adotava. Para eles, não seria ideal incorporar os povos nativos, especificamente das Filipinas, ingovernáveis, à União, visto que eles colocariam em risco a civilização norte-americana e a forma de governo. Assim, eles defendiam que fosse concedida a esses povos uma forma de governo estável, a independência e a proteção contra interferências externas. A forma encontrada pelos Estados Unidos de manter o controle sobre Cuba, garantindo sua independência formal, foi a Emenda Platt, um documento que, no artigo 3, limitava a independência do governo cubano, garantindo aos Estados Unidos a possibilidade de intervir para a manutenção da ordem e da liberdade individual. O artigo 7 previa a venda ou o arrendamento aos Estados Unidos de terras cubanas necessárias para postos de abastecimento de carvão ou navais. Ademais, foi estabelecido uma base militar na baía de Guantánamo. Em 1902, a independência foi concedida aos cubanos, mediante a aceitação plena da Emenda Platt na Constituição. Dessa maneira, os Estados Unidos haviam garantido o controle da ilha por tempo indeterminado.