Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(Organizadora)
Curso de extensão
Escola que Protege
Realização:
Coordenação do Curso:
CAED - UFMG
Belo Horizonte, MG
2015
EDITORA CAED-UFMG
Editor: Prof. Fernando Selmar Rocha Fidalgo
Produção Editorial: Marcos Vinícius Tarquinio
Revisão de Português: Rita Gonsalvez
Projeto Gráfico: Departamento de Design/Caed
Formatação: Sérgio Luz
CONSELHO EDITORIAL
Prof. André Márcio Picanço Favacho
Profª Ângela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben
Prof. Dan Avritzer
Profª Eliane Novato Silva
Prof. Eucídio Pimenta Arruda
Prof. Hormindo Pereira de Souza
Profª Paulina Maria Maia Barbosa
Profª Simone de Fátima Barbosa Tófani
Profª Vilma Lúcia Macagnan Carvalho
Prof. Vito Modesto de Bellis
Prof. Wagner
Escola queJosé Corradi
protege_ficha Barbosa
catalografica.pdf 1 04/06/2014 10:53:23
2015
(1ª Edição atualizada)
MÓDULO 1:
APRESENTAÇÃO DO CURSO ESCOLA QUE PROTEGE
Mariane dos Reis Cruz 9
MÓDULO 3:
DIVERSIDADE NA ESCOLA E AS DIVERSAS MANIFESTAÇÕES DE VIOLÊNCIA E
VIOLAÇÕES
Juliana Batista Diniz Valério 37
MÓDULO 5:
ESCOLAS, ECA E ARTICULAÇÃO DE REDES INTEGRADAS DE AÇÕES
SOCIAIS: ENTRE CONTRADIÇÕES, DESAFIOS E POSSIBILIDADES
Walter Ude 81
MÓDULO 6:
MEDIDAS PROTETIVAS E SOCIOEDUCATIVAS
Eliane Castro Vilassanti 99
MÓDULO 7:
MEDIAÇÃO ESCOLAR
Bárbara Magalhães de Aguiar Oliveira
Lucas Furiati de Oliveira 117
MÓDULO 8:
UNIFORMIZAÇÃO E VIOLÊNCIA: POLÍTICAS DE DIVERSIDADE E MUDANÇA
ESTRUTURAL DE PRÁTICAS UNIFORMIZADORAS NA ESCOLA E NA FAMÍLIA.
DISCUTINDO E VIVENDO A DIVERSIDADE
José Luiz Quadros de Magalhães 131
GLOSSÁRIO 141
AUTORES 147
INTRODUÇ ÃO
Este módulo é composto por três unidades com carga horária de 10 horas/aulas.
A primeira unidade (O Conflito) aborda as questões referentes à teoria geral do conflito.
Traz algumas definições de conflito social, buscando contextualizá-lo de acordo com dife-
rentes correntes teóricas. A finalidade é a de introduzir o tema de maneira mais abran-
gente, para assim, adentrar mais especificamente no que seria o conflito em contexto
escolar.
A segunda unidade (O Conflito em Contexto Escolar) aborda o conflito especificamente
nos ambientes escolares. Aponta as principais origens, contradições e consequências do
pensar o conflito neste contexto. Ilustra um panorama geral sobre a temática no contexto
pedagógico.
A unidade 3 (A Mediação de Conflitos em Contexto Escolar) introduz e apresenta a media-
ção de conflito como uma metodologia e ferramenta importante de resolução dos confli-
tos em contexto escolar.
Por fim, a unidade 4 (A Metodologia de Mediação Escolar) apresenta as técnicas de media-
ção de conflitos, bem como seus princípios, fundamentos e dificuldades, além de traçar
um plano de ação e implementação da mediação, para que possa ser multiplicado onde
for conveniente.
A opção por partir inicialmente do panorama da teoria do conflito de forma mais gené-
rica e abrangente, ou seja, de uma perspectiva mais macro, e finalizar com o estudos das
metodologias, técnicas e ferramentas para mediação do conflito, visa localizar o estu-
dante de maneira mais esclarecedora, completa e contextualizada.
OBJETIVOS
MÓDULO 7
117
Conceituar o “conflito” não é uma tarefa fácil. Sua definição carrega, de antemão, uma
série de artifícios e significados acionados pelo uso deste termo tão recorrente na nossa
sociedade. Esse é um dilema que as ciências humanas vêm enfrentando, desde que a aná-
lise dos conflitos passou a ser considerado tema de interesse das ciências humanas, em
meados dos século XX. Já no final do século XIX, com o florescimento do funcionalismo,
a preocupação teórica com o tema do conflito nas sociedades fez nascer nas humanida-
des um novo conceito: conflito social. Como não poderia deixar de ser, a construção de
tal conceito não é definitivo e até os dias de hoje vem sofrendo inúmeras adaptações e
ressignificações.
De forma geral, a expressão conflito social não designa um fenômeno único. Os auto-
res funcionalistas que estavam preocupados com essa questão entendiam o conflito de
forma negativa, por exemplo. Eles acreditavam que o conflito era como uma falha na
organização social ou ainda uma forma de evidenciar a fragilidade de algumas estrutu-
ras sociais que através da “luta por valores e reivindicações de status, poder e recursos
escassos, procurava neutralizar, lesionar ou eliminar os rivais” (COSER, L.A. The functions
of social conflits. Glencoe, III., Free Press. 1965. p.8). Assim, falar de conflito social, para
esses estudiosos, era o mesmo que falar de problemas, danos e fraquezas estruturais que
denunciavam a inconsistência do sistema social.
No entanto, o significado e os sentidos atribuídos aos fenômenos e coisas podem ser
diversos quando explorados por outras perspectivas. Foi dessa maneira que G. Simmel
procura reinterpretar a temática do conflito. Para o sociólogo:
Seguindo esta mesma linha, autores como Lewis Coser e R. Dahrendorf, defenderam que
o conflito pode contribuir não somente para a preservação da ordem social, por funcio-
nar como uma válvula de escape e consequentemente fortalecer a organização social,
como também explicaram que a formação de grupos de conflito são capazes de gerar
questionamentos e ações que acabam por provocar mudanças de estrutura no sistema
social. A partir do pensamento de Simmel, a teoria do conflito sofre uma guinada e passa
a ser encarada positivamente, por se constituir num importante catalisador de mudança
e adaptação às novas realidades sociais. De maneira que hoje em dia, há teóricos como
Dadid Graeber (D. Grae, Fragmentos de antropologia anarquista. Virus editorial. 2001. P.
38) da linha da antropologia anarquista, que aposta nos conflitos como um constante e
permanente “estado de guerra” e defende ser necessário à sociedade, ao assumir que
um estado de consenso permanente “ocultaria uma violência intrínseca constante” pois
inibiria todo processo de criatividade e autonomia social. Em última análise, o que ele
defende é o que chamaríamos de uma sociedade do conflito.
Sabemos que a escola é o lugar que nos prepara para a vida. É o lugar onde nossos apren-
dizados são direcionados para a experiência da vida prática e, acima de tudo, é o lugar
onde diferentes modos de viver e compreender o mundo é compartilhado pelo contato
entre comunidade, pais e estudantes, funcionários e professores.
O conflito é parte integrante da vida social e pode ser compreendido como um fenômeno
social presente e persistente. O ambiente escolar, como esfera constituinte da sociedade,
evidentemente é também um lugar de conflito em potencial, ou seja, a escola é, inevita-
velmente, o lugar de ressonância da conflituosidade social, é um campo propício à emer-
gência do conflito.
É na escola que aprendemos, além dos conteúdos escolares, os valores mais fundamen-
tais para um bom convívio: o respeito ao próximo, a honestidade, a pontualidade, o res-
peito às hierarquias e autoridades, o respeito e cuidado ao patrimônio, dentre outros.
MÓDULO 7
119
São geralmente nestes contextos que encontramos um terreno fértil para se trabalhar
com a mediação de conflitos.
O que tem chamado a atenção da sociedade em geral, em relação aos conflitos no con-
texto escolar, é seu caráter violento. Cada dia mais, escutarmos depoimentos de professo-
res, pais e alunos, amedrontados e impressionados com a transformação da escola em
um espaço de disputa em que ocorrem agressões cada vez mais
violentas e frequentes no cotidiano destas instituições.
MULTIMÍDIA
Antes de quaisquer pré-julgamentos, devemos nos perguntar
Assista ao vídeo “Conflito =
Aprendizagem” disponível em:
não o porquê de tantos conflitos nas escolas, mas o porquê de
h t t p : // w w w . y o u t u b e . c o m / tamanha violência, dado que nem todo conflito acaba em agres-
watch?v=xzPwDuLOdUo). sões e brigas. Talvez uma boa resposta seja a maneira como bus-
camos solucionar e resolver nossos conflitos. Devemos analisar
com mais cuidado as ferramentas que vêm sendo utilizadas nas escolas para se conter,
prevenir e punir conflitos com objetivo de transformá-los em um processo pedagógico
para todos os envolvidos.
A cultura de violência que sobressai nos modos de interagir dos indivíduos não escapa
às escolas de uma forma geral. Para se desenvolver uma educação para a convivência de
paz e para uma gestão positiva dos conflitos, aquela que visa construir uma tradição de
paz e de cidadania dentro das escolas, a resolução de conflitos vem se desenvolvendo
como uma importante ferramenta que modela e ensina, de diferentes formas, culturalmente
Apesar dos programas de resolução de conflitos terem sido concebidos fora do contexto
escolar, rapidamente a técnica foi sendo introduzida nas escolas, devido a este seu caráter
de potencialidade conflitivo. Esta adaptação das RAC às escolas se deu sobretudo no início
dos nos 80, mais uma (vez? ) nos EUA, Califórnia, com o programa “Recursos de resolução
de conflitos para a escola e jovens” desenvolvido pela NAME (Associação Nacional de
Mediação Escolar) com os seguintes objetivos: a) mostrar aos jovens alternativas não vio-
lentas aos conflitos reais da sua vida; b) aprender a compreender e a valorizar a própria
cultura e a cultura dos restantes; c) transmitir às crianças e jovens o seu papel protago-
nista na construção de um mundo mais pacifico. (C. Morgado, I. Oliveira, 2009).
Nasce assim, dessa experiência, a transferência da resolução de conflito comunitária para
escolar, a partir do pressuposto de que a escola é parte integrante da vida social, como
forma de prevenção de futuros conflitos e disseminação de valores como colaboração,
respeito e responsabilidade.
A Educação para a Resolução de Conflitos (ERC) possibilita aos alunos a oportunidade de
conhecer a dinâmica e a natureza do conflito. Do seu papel social e cultural atrelado à forma
como resolvemos nossos problemas. As finalidades destes programas são (Jones, 2004):
MÓDULO 7
121
MULTIMÍDIA
Assista ao vídeo: Mediação Resolve Conflitos na Escola (disponível em http://www.youtube.com/
watch?v=4CAJ9ZgByWY)
O que é a mediação:
Princípios da mediação:
a) Voluntariedade: as pessoas envolvidas no processo de mediação devem estar por
opção voluntárias ao participar do processo. Os sujeitos não podem ser induzidos nem
coagidos a participar da mediação.
b) Confidencialidade: A mediação é um mecanismo no qual os indivíduos procuram o
acompanhamento de um mediador de maneira livre e espontânea. Sendo assim, pressu-
põe que esse processo deva acontecer sob o fundamento da confiança, que por sua vez,
implica sigilo, não apenas entre mediandos, mas por todos os outros agentes externos
envolvidos no procedimento da mediação. Isso significa inclusive, que os envolvidos no
conflito têm o direito de decidir sobre a maneira como o principio da confidencialidade
será aplicado, como os fatos serão expostos e comunicados. Dessa maneira, a aplicabili-
dade metodológica da resolução dos conflitos está concentrada nos mediandos e não no
mediador. A falta de confidencialidade e de sigilo das informações pode ser, sem dúvida,
um dos principais responsável pela quebra de confiança entre as partes envolvidas, além
de botar em xeque e o potencial resolutivo do conflito.
c) Imparcialidade/ Neutralidade e Independência: O processo de mediação exige a par-
ticipação de um terceiro: o mediador, que deve ser imparcial. Essa imparcialidade não
significa ser o equivalente a uma espécie de tabula rasa, pois todos nós temos nossa
MÓDULO 7
123
Objetivos da mediação:
De acordo com Jares (2002), o processo de mediação deverá:
a) favorecer e estimular a comunicação entre as partes em conflito;
b) fazer com que ambos os envolvidos compreendam o conflito de forma mais geral
e abrangente, ou seja, não somente de seu próprio ponto de vista;
c) facilitar a analise das causas do conflito, para que interesses e sentimentos
não sejam confundidos como a mesma coisa, dificultando a imparcialidade do
processo;
d) propiciar, de maneira criativa, a conversão das diferenças para melhor solucionar
o conflito;
e) reparar, sempre que viável, as lacunas emocionais que possam existir entre as
partes.
MÓDULO 7
125
MÓDULO 7
127
Textos Complementares:
• Direito e Mediação de Conflitos: entre Metamorfose da Regulação Social e
Administração Plural da Justiça. Camila Silva Nicácio. (disponível em: http://www.
direito.ufmg.br/revista/index.php/revista/article/view/148)
• Mediação Escolar – Inclusão e Pacificação dos Jovens pela Comunicação. Lília
Maia de Morais Sales. (disponível em: http://ojs.unifor.br/index.php/rpen/article/
viewFile/1089/1663)
• Projeto Escola de Mediadores. Viva Rio/ Balcão de Direitos (disponível em: http://
www.cnmp.mp.br/conteate10/pdfs/tema4_cartilha-mediadores.pdf)
Vídeos Interessantes:
• Disciplina e indisciplina na sala de aula:
http://www.youtube.com/watch?v=Gfa3XlA7mUI&feature=related
• Indisciplina Escolar:
http://www.youtube.com/watch?v=8W_NYiwT_3w&feature=related
• Regras e Limites:
http://www.youtube.com/watch?v=xjbxbEHoMZs&feature=related
• Ciclo da Violência e Educação:
http://www.youtube.com/watch?v=84QCoerjkbU&feature=related
• Projeto Mediação Escolar:
http://www.youtube.com/watch?v=FGvJEm-0x28&feature=BFa&list=PLF3B6305F
EB941C47
• Mediação Resolve Conflitos em Escola:
http://www.youtube.com/watch?v=4CAJ9ZgByWY
• Pro Dia Nascer Feliz:
http://www.youtube.com/watch?v=g5W7mfOvqmU
MÓDULO 7
129
Fernando Filgueiras1
Ana Maria Montandon 2
Bárbara Magalhães Aguiar de Oliveira3
Ivna Mascarenhas Abreu4
resUMo: Este artigo investiga a relação aBsTracT: This article investigates the re-
entre corrupção e democracia, enfocando lation between and democracy, emphasizing
algumas questões relativas à experiência de- some questions related to the Brazilian de-
mocrática brasileira pós-1988. Pretendemos mocratic experience after 1988. We intend
mostrar como, apesar de um sentimento to show how, despite of a existent feeling in
existente na opinião pública brasileira de the Brazilian public opinion that corruption
que a corrupção se faz mais presente na is more present at the public scene, progress
cena pública, houve avanços no que tange à has been made regarding the management
gestão e administração da coisa pública. Este and administration of the public affairs. This
artigo se baseia em dados de pesquisas de article is based on data of survey researches
survey realizadas pelo Centro de Referência promoted by Public Interest Reference Cen-
do Interesse Público da Universidade Federal ter of the Minas Gerais Federal University.
de Minas Gerais. Argumentamos que uma We argue that a culturalist view may cover
visão culturalista pode encobrir avanços up achieved advances in the control dimen-
conquistados na dimensão do controle, sion, besides a fatalist treatment which has
além de um tratamento fatalista que pouco given little contribution to the institutional
contribui para o aprimoramento institucional improvement of democracy.
da democracia.
1. PreÂMBUlo aNalÍTIco
A definição do conceito de corrupção só é possível por meio de uma
observação histórica balizada em contextos linguísticos altamente diferenciados no
tempo. Não há uma única abordagem ou uma lei capaz de definir a corrupção de uma
maneira totalizante, estando ela referida a contextos de linguagens e interlocuções
práticas que se modificam em função dos diferentes problemas que configuraram
a história política.
1 O presente texto foi discutido na mesa “Corrupção e cultura política no Brasil”, realizada em 24 de
setembro de 2010 no auditório do Centreinar/UFV, durante as atividades da I Semana Acadêmica de
Ciências Sociais da UFV – “Ciências Sociais e vida pública”. Participaram do debate os professores Raul
Magalhães (UFJF), Diogo Tourino de Sousa (DCS/UFV) e Marcelo José Oliveira (DCS/UFV).
2 Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (DCP/
UFMG). Autor de Corrupção, democracia e legitimidade (Editora UFMG, 2008). Email: fernan-
dofilgueiras@hotmail.com
3 Discente do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Bolsista de
iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). Email:
barbara_moca@hotmail.com
4 Discente do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Bolsista de
iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). Email:
barbara_moca@hotmail.com
5 Discente do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e de Adminis-
tração Pública da Escola de Governo “Paulo Neves de Carvalho” da Fundação João Pinheiro. Emaail:
ivnaabreu98@gmail.com
6% 5% 6% 7% 2%
9%
3% 2% 3% 2%
4%
4%
18% 20%
23% 22% 31%
40%
72% 69%
68% 65% 65%
53%
48%
46%
35% 34%
14% 15%
3% 4%
Apenas minoria destas Mais ou menos a metade A maioria destas pessoas NS/NR
pessoas aceitaria entrar no aceitaria entrar no aceitaria entrar no
mas que a estabilidade política e a prevalência dos direitos individuais não condizem
com uma posição moralista da política, que defenda, sobretudo, uma moralização
da política por meio de um combate à corrupção. Uma posição moralista na po-
lítica significa anteceder, nos termos de Weber (2002), uma ética dos fins últimos
a uma ética de responsabilidade, a qual deve imperar no quadro da política e da
burocracia na modernidade. A democracia, nesse sentido, deve conviver com a
corrupção, que em sua gramática não significa a ideia de uma decadência, mas
BASE 2.400
4. coNsIderaÇÕes FINaIs
Tratamos de abordar o tema da corrupção mais referido a um problema
institucional, cujas causas se dão na ilegalidade de sobrepor o interesse privado ao
interesse público no exercício das funções públicas, do que entendê-lo como um
traço do caráter brasileiro que, portanto, não possui uma saída palpável, dando-se
como fenômeno inevitável. Uma abordagem culturalista e moralista da corrupção
no Brasil pode encobrir avanços na gestão pública e contribuir para o sentimento
atávico que cerca o imaginário brasileiro.
Nesse sentido, repassamos os entendimentos históricos acerca do tema
e descrevemos como se deu, no Brasil, a formação das explicações, em nosso pen-
samento social, referentes à existência da corrupção, o que nos levou aos avanços
recentes de tal entendimento a partir da pesquisa realizada com os servidores
públicos federais. As conclusões apontadas reafirmam o objetivo desse artigo: há
uma necessidade de reformas institucionais na direção de uma concretização de
diretrizes mais eficientes na construção da integridade pública do país, o que passa
pela fiscalização e punição mais efetiva dos agentes públicos e privados que insistem
em transgredir as fronteiras entre público e privado.
No entanto, o que fizemos foi apontar um caminho para os futuros estu-
dos que pretendem seguir essa mesma linha, pois entendemos que são necessárias
pesquisas que tenham como finalidade o estudo mais aprofundado das ações e
reformas específicas para o estabelecimento e concretização de instituições mais
reFerÊNcIas BIBlIoGrÁFIcas
ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
AVRITZER, Leonardo, BIGNOTTO, Newton, GUIMARÃES, Juarez e STARLING,
Heloisa M. Murgel (org.). Corrupção: ensaios e críticas. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2008
CÂNDIDO, Antônio. “O significado de Raízes do Brasil”, in: HOLLANDA, Sérgio
Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
CARVALHO, José Murilo de. “Mandonismo, coronelismo, clientelismo. Uma
discussão conceitual.”, in: Dados – Revista de Ciências Sociais, vol. 40, nº 2,
1997.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Editora Atlas,
2001.
FAORO, Raymundo. Os donos do poder. Formação do patronato político brasileiro.
São Paulo: Globo, 2000.
FILGUEIRAS, Fernando. “A tolerância à corrupção no Brasil: uma antinomia entre
normas morais e prática social”, Opinião Pública, vol. 15, n° 2, 2009.
FILGUEIRAS, Fernando. Corrupção, democracia e legitimidade. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2008.
HIRSCHMAN, Albert O. The Passions and the Interests. Princeton: Princeton
University Press, 1997.
HOLLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
ROSE-ACKERMAN, Susan. Corruption and government. Cambridge: Cambridge
University Press, 1999.
SCHWARTZMAN, Simon. Bases do autoritarismo brasileiro. Rio de Janeiro: Campus,
1982.
TOCQUEVILLE, Alexis de. A democracia na América. São Paulo: Martins Fontes,
1998 (vols. I e II).
VIANA, Oliveira. Instituições políticas brasileira. Rio de Janeiro: Itatiaia; São Paulo:
EDUSP, 1985.
WEBER, Max. “A política como vocação”, in: WRIGHT MILLS, Charles; GERTH,
Hans (eds.) Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 2002.
WEBER, Max. Economy and Society: A Outline of Interpretative Sociology, Los
Angeles: University of California Press, 1978, (2 volume set).
relaTÓrIos de PesQUIsa
CENTRO DE REFERÊNCIA DO INTERESSE PÚBLICO. Relatório do
projeto corrupção, democracia e interesse público. Belo Horizonte: Universidade
aPÊNdIce MeTodolÓGIco
Os dados expostos nesse artigo tratam de duas pesquisas de survey
realizadas pelo Centro de Referência do Interesse Público da UFMG.
A primeira pesquisa refere-se a duas baterias de survey realizadas em 2008
e 2009, em parceria com o Instituto Vox Populi, sobre o tema da corrupção. As duas
pesquisas basearam-se em uma amostra por cotas, referente ao território nacional,
de 2421 indivíduos, na pesquisa de 2008, e 2400 indivíduos, na pesquisa de 2009.
As cotas foram estabelecidas a partir dos dados do Censo 2000 e da PNAD 2006,
tendo em vista a distribuição por zona residencial (rural e urbana), renda familiar,
região, grupos etários, escolaridade e atividade econômica (PEA e não PEA). O nível
de confiança obtido nessa amostra é de 95,5%, com margem de erro de +/- 2,0%.
A segunda trata de um survey com servidores públicos federais, em uma
pesquisa realizada pelo Centro de Referência do Interesse Público da UFMG, em
parceria com a Controladoria Geral da União (CGU), financiada pelo Escritório
das Nações Unidas Sobre Drogas e Crime (UNODC). A pesquisa partiu de uma
amostragem de 1115 servidores públicos federais, civis, do Poder Executivo, es-
tratificada por ramos da administração pública (administração direta, autarquias
e fundações), por escolaridade e sexo. O nível de confiança obtido é de 95,5% e
margem de erro de +/- 3,0%.
moca.barbara@gmail.com
Yurij Castelfranchi
ycastelfranchi@gmail.com
therezanardelli@gmail.com
* We would like to thank the students Vanessa Sander, Meghie Rodrigues, and Sofia Rodrigues for their
precious help in some of the narrative groups and with part of the transcriptions.
Abstract
Utilizing a new method of illustrated and narrative focus groups (Castelfranchi, 2013), associated with
techniques from semiotic analysis and storytelling, the researchers interviewed and documented speeches and
collective drawings made by groups of 6-10 children, aged around 7-12 yo, in 5 city schools of Diamantina,
Vespasiano and Belo Horizonte (Minas Gerais, Brazil). In the context of collective invention of illustrated
stories, the children talked about science, the scientists and their practices.
Relevant results were found: 1. Our subjects are equipped, in general, with less instruments than their Italian
peers to represent or describe the figure, activity and practices of science and scientists, and need to resort
almost exclusively on the stereotyped images provided by media on the subject; 2. A marked difference
between children from affluent social classes, enrolled in private schools, and children from schools in the state,
or groups belonging to lower classes, concerning the access to scientific and technological information and its
1
appropriation and elaboration; 3. In both cases, however, the picture narrated by children about science and
scientists’ activity is seen as predominantly positive (mostly, the scientists doing “good” and “useful” things,
instead of being "mad" or "bad", for instance) - the positive view about science being prior, and partly
Introduction
Studies on public perception and attitudes about science and technology are growing in the world such as in
Latin America, both in the area of Social Studies of Science and Technology and educational and
communicational fields (Polino and Castelfranchi, 2011 and 2012). However, there are relatively few studies
that seek to understand the infant and juvenile imagery, attitudes and representations of science and scientists.
As we see it, the choice in doing this research considering such generational crop is quite relevant because,
firstly, several studies (Mead and Metraux 1957; Jarvis, 1996) demonstrated that the representations of science,
scientist and the technology are formed already in childhood, generating a marked influence over the
motivations, enthusiasm and distrust that children may have about the scientific disciplines, as well as on their
future choices on studies and careers. Secondly, the study on perceptions about science in children and
adolescents is important to improve policies and educational campaigns, as it is fundamental to form tools for
public communication of science that might be able to engage concretely, emotionally, cognitively and
In our research, we present a new technique which we call "narrative and illustrated focus groups", that
has already been empirically tested in Italy (Castelfranchi et al, 2006, 2008) and in Brazil. These special kinds
of focus groups allow a dynamically mapping of the perceptions of children from collecting data from stories
invented with and by them and the drawings they create to illustrate these stories.
Most of the research conducted with children and adolescents approaches the perception and knowledge
about science and technology in subtractive terms, in a "deficit" model (what does the children do not know, do
not understand or realize in an "inappropriate" way) less than in positive terms (such as: how do children
construct their representations, what they know about science and scientists). The classical technique called
2
"Draw A Scientist Test" (Chambers, 1983) is an example: it helps to identify stereotypes in the scientific
imagery of children at an early age. In this methodology, children are encouraged to draw a scientist or his lab.
Then a checklist is used to identify which stereotypes are more frequent in the drawings which, in turn, are
interpreted and associated with some classical leit-motifs such as: the “crazy scientist”, the “evil scientist", the
“inattentive scientist”, the "lamp" symbolizing a genius idea, the "eureka", etc.
Although DAST results are important, it has, in our opinion, serious limitations. Firstly, it assumes a
deficit perspective (Hilgartner, 1990; Castelfranchi, 2008): trying to identify faults or alleged "distortions" in
the imagination of children, it ultimately reinforces stereotypes, since they are precisely what are demanded
from the beginning. Moreover, it provides only a static image of the scientist, leaving aside the understanding of
science as processes, in its methods and social aspects. It also hampers the possibility of investigating the
constitution of the representations and opinions, ie, connections and references and sources children use to form
their ideas.
Considering these insufficiencies, we decided to perform a more depth semiotic analysis of children's
drawings, and cross it with a discourse and content analysis of children’s own words during the activity.
Furthermore, we chose to modify the contexts of the activity: instead of a fixed task (draw a scientist, only), we
created a collective narrative game based on Role Playing Games techniques in which children themselves told
For our research, five focus groups1 were conducted in the state of Minas Gerais (Brazil) lasting from 45
to 60 minutes, each with 6-8 children aged 7-12 years old, from the following socio-cultural contexts: a)1 focus
group at an educational project in the city of Vespasiano, which attend children and adolescents at risk situation
from outskirts; b)1 focus group in a private school in Belo Horizonte, mainly frequented by children from
wealthy or middle classes; c)3 focus groups in Diamantina, with children coming from three public schools in
1
The setting and operational structure are similar to those of traditional focus groups (Kitzinger and Barbour, 1999;. Bloor et al,
2001), but adapted to the juvenile universe and a group discussion with 6-8 participants.
3
the city and its countryside, mainly from lower classes. Each focus group had the presence a moderator and one
or two observers. They were all recorded in audio and/or video, and the words of children were literally
transcribed for textual and discursive analysis2. Children’s drawings were collected, scanned and analyzed in
their visual content and by semiotic analysis (Flick, 1998). The results were compared to earlier narrative focus
What differ our methodological technique from the others is, firstly, the discussion guide. It is not based
on thematic points, but in a narrative draft: a story, outlined at the beginning of the meeting by the moderator,
whose main characters are scientists. From this point, children themselves imagine the characters (scientists,
their friends, humans or non humans, animals or fantastic beings, etc.), draw them and develop the story in joint
participation with the moderator, that comes up with a problem to be solved in the narrative scenario: a puzzle
to be unraveled or an obstacle to be faced in teamwork (like to cure a disease, find a missing object, find a
secret or passage, etc.). Children are free to comment and invent the unfolding of the narrative, and they
illustrate it until its final outcome, discussing it among themselves and with the moderator. This technique
allows to enable a ludic, playful dynamic, similar to those in a psychodrama or in a Role Playing Game, turning
visible and awakening, in our opinion, the juvenile imagination in its many dimensions and complexity -
minimizing the model "school task driven by an adult", typical of DAST, and tending to provide less
The narrative illustrated focus group allows, in an attempt to be less caricatural, to show the complexity
of children’s imaginary, its nuances, and its dimensions of sociability, power, knowledge, practices - making
visible complex and sophisticated knowledges of science, and identifying unspoken beliefs, metaphors and
connotations. The immersion in a narrative game of collective improvisation allows children to imagine and
externalize: What's in the pockets of his white coat? How do scientists solve problems, unravel puzzles, face
challenges? What instruments do they use? Do they work alone or in teams? Are they lonely? Do they have
2
The qualitative and quantitative textual analysis, as well as the drawings, was supported by QDA-Miner software. The semiotic
analysis was based on the categories already described in Castelfranchi et al, 2006 and 2008).
4
Results
Socio-economic nuances
First, we should emphasize the differences we found in children's representations depending on the
socio-cultural context in which they belong. Children from rural or urban periphery demonstrated, in general,
not only difficulty in describing the figure of a scientist, but also to imagine his/her work routine, the equipment
they use, and even small confusions regarding his/her role or mission in the world - in some cases, children
even explicitly verbalized that they did not know what a scientist is3. Evidence of this lack of familiarity with
science or unequal access to information were mixed with lack of information and unknowns of a more generic
Thus, it became clear in our results that low-income children, from rural or peri-urban areas, resort more
often to the classic narrative elements and imagery when representing scientists (the white coat, the glasses, the
"crazy hair", the bench lab full of tubes,"potions", microscopes…) so well detected by the DAST test.5. It is also
clear to us that children with such socioeconomic profile build their repertoires of speech and image primarily
based on information from television6, specifically from broadcast television: cartoons and soap operas. In turn,
the children from upper classes have school and family as important instruction references, and when they
mentioned television there also appeared paid channels such as NatGeo, Discovery Channel, Animal Planet.
In focus groups conducted in Italy, 8 years olds, from both public and private schools, both in urban
centers and outskirts, could in many cases describe with complexity and sophistication the scientific activity,
making use, even if with infant words and metaphors, of concepts such as "hypothesis," "experiment, "trial and
error “ and "analysis" (Castelfranchi et al. 2006). All groups in Brazil found it more difficult to imagine or
3
Some examples of such difficulty: The moderator asks: "Now let's draw a scientist"/ Child: "What is that?". The moderator
encourages the design details: "... I see some objects... which objects does the scientist take there?"/ Child: "... I don’t know...".
4
A 11 year old reported not knowing the pathways in the body for the air we breathe, and where it goes. He showed that air came
only from his mouth. When asked about what happens if we close my mouth, if we could still breathe, he said "no." Similarly, some
children believed that there was only one lung in the body, or did not know what was in the digestive system besides the stomach.
5
In our experiments, for instance, many times when a child asked "Scientist? But how do I draw it? ", another child answered: "Easy,
just put a lab coat on it, so everyone understands”.
6
Moderator: "Do you know what a scientist is?"/ Child: "I know they have glasses ... like in the soap opera on TV ...".
5
Scientific method: practices and stereotypes
Concerning the scientists’ practices, the main ideas mentioned by the children were generally linked to
the idea of search, investigation, observation and study. Connotations for more specific concepts such as
hypothesis or deduction, measurement or calculation, of trial and error, are absent. Thus, to make science
means, primarily, to study, to collect information or, on the other hand, to invent machines. The idea of research
is mostly located, for these children, typically in the semantic field of scholarly research: it is made "with
notebook laboratory and books", "studying the issue", "building things" - in 33 % of the drawings, we have the
figure of the scientist allied to suitcases or backpacks, often loaded with various tools such as books,
magnifying glasses and syringes. The imagery of the scientists’ workplace appears generically among them: a
conventional desk appears in 38 % of the drawings, often with various instruments on top, similar to those
found in the suitcases (Picture 1) . In relation to the characteristics of a scientist, terms like "smart", "study too
much", "know a lot”, and "research" are often triggered (see also table 1).
The scientific activity is almost always associated, in the drawings and speech, to the use of tools and
technologies7 whose main functions, for children, is to leverage the observation, or store and provide
information (as we can see by the most recurrent objects drawn: see table 2 - drawing). Rarely, the scientist
tools are used, for example, to measure or identify causality factors. Similarly, computers are more often viewed
as analogous to books, or as a repository of information. It is also rare for children to express articulated notions
about how the scientist does research, or "invent their machines". What the scientist can do is not clearly
explained. It is described primarily in terms of technology, sometimes with magical connotations ("potions").
The power of the scientist would not be, mainly, to formulate problems, or solve them, but to produce or find
objects that make things happen ("robots", "herbs that heal", etc.). Thus, the idea of hypothesis stricto sensu
does not appear. However, other aspects of the research process arise, albeit in embryonic form: scientists
7
In almost 13% of the drawings there are representations of technology or machinery.
6
know, thanks to their machines or books, discover the causes of certain phenomena8.
Some children, either using or not the term "analysis”, conceptualized as an important part of the
research process the idea of splitting into parts, to isolate fractions of a system to understand what is happening:
a scientist, for example, when looking for a cure for a disease, observes "the plants with a magnifying glass to
see what's in them". When studying the human body, she/he will "study each part of the system. You see an
arm, another arm...Will you take off an arm... [laughs] No, don’t take an arm!... No, it's in the book". To
Child 1: He may have been shot in the leg. And his leg was blistered. Then the bubbles rose and he was Aaaahhh!
Child 2: He may have been stung by bees! Child 3: He may be allergic... Child 2: Let's analyze it, ué! Child 3: Then
the guy invented a microbe that enter into the guy to analyze it... Child 1: Then after he removes the microbe with a
syringe, and analyzes all virus that has within it. Child 2: Look, the microbe has a mouth like, and they entered a
blood, a globular cell, actually. Then he pulls with a syringe and...Child 3: Maybe we can get a syringe to draw the
2004), which also appears in the imagination of the studied children: in many cases, they make use of icons and
symbols of danger on scientists’ objects. Several of them used in their designs standardized danger signs, such
as the skull, the icon of radioactivity, etc...They argued: "It is to sign that the bag may have dangerous
things…”. The coat itself, in some cases, was in the semantic field of risk: "Moderator: Why is he wearing
scrubs in the office? Child: "Because [...] a substance could drop on it...". Or even: "Child: We have to use
gloves because there are substances that hurt us ... like ...Uranium!"
In the narrative drawings made by children from public schools and belonging to lower classes,
8
As a child said, for example: the scientist "can take a stone that's being broken very easily, and that is not normally easily broken,
and see because of what she's breaking this way."
7
mentions to specific concepts or specific informations on science were very rare: most of the specific
vocabulary was related to medical or police-investigative contexts, probably related to the context of the story
we offered them9. Regarding the socio-economic differences and their influence on the perception of the
children’s scientific imaginary, we observed that, in the middle class school, it was evident the references to
topics of current researches and to names of real scientists. On the other hand, children from lower classes
appeared to have little knowledge about specific topics related to the scientific world, although they frequently
mentioned the use of specific instruments for scientific research (however, in most cases, they did not know
how to name them - a microscope, for example, has been named as a "more powerful magnifying glass”).
Media stories represent the main source of symbolic and iconic resources used by children to narrate the
scientists, which is predictable. Far more interesting is to see how well the concrete information and notions
about science tend to relate to the media more than the school in general. Both television fiction and science
communication are sources of information and forming agents of science representations for children -
especially when it comes to middle-class children, with varying informational habits and living in an context of
Conclusions: the narrative focus group in science education and science communication
As already shown in previous studies, children construct their images of scientists and science mainly
from classic stereotypes (Casltefranchi, 2003, 2004) and media stories. However, these stereotypes function as a
9
There appeared names and technical jargon such as: depression, drugs such as dipyrone and paracetamol, diagnostic techniques such
as measuring blood pressure. It was also mentioned by several children the use of powder to identify fingerprints ("A beauty product
that can show digitals ...").
10
When imagining how a scientist identifies an animal species, for example, a child said "But they [scientists] have experience with
snakes. Like that biologist on RedeTV, he looks at it and says a which snake it is." About stem cells: "I've seen on TV, they are so [...]
I do not remember [where I saw the stem cells], I think it was the Discovery, or Animal Planet." When questioned if they had watched
any TV program about science or scientists, the children from the urban private school replied, "A lot!" And mentioned: "NatGeo,
Discovery Channel, Animal Planet, let me see what else. I like .. Discovery Civilization, Discovery Science, Discovery…”.
10
8
narrative skeleton, which does not say everything about the children’s view: to study only the stereotype, as it is
done in the DAST test, is largely insufficient. The narrative focus groups, in trying to situate scientists and
science in a dynamic context, can better handle the complexity of children's representations.
In our opinion, the narrative groups can be successfully applied, especially with children over 7 years
old, as non-formal educational activities involving the formulation of hypotheses about a phenomenon being
experienced collectively, or the reconstruction of stories about science and scientists - both contributing to the
awakening of curiosities, concerns, motivations and questions as well as to initiate various empirical activities
and experiments. These experiments, besides being a research tool, thanks to its dynamic and immersive
characteristics, may be useful to drive narrative, immersive and ludic experiences for science teaching
experiences both in non-formal contexts (experiences in museums, workshops, "scientific camps", etc.) and in
the classroom as complementary activities in science teaching, contributing , for example, for inquiry based
learning.
Preliminary results show what kind of information (complementary and additional to the DAST
methodology, questionnaires and interviews) can be obtained via illustrated narrative groups: it was detected
evidence that stereotypical images of scientists are only a superficial visual layer beneath which lurk cognitive
constructions and more complex imaginary made by children. Such layers - visible only when children imagine
what a scientist does, with whom, how he solves problems - allow to access epistemological, sociological and
ethical aspects of representations of science and scientists. They also can show to which extent the social and
cultural capital of children is an important factor not so much to detect if children achieve to know the
stereotypical image of a scientist in a white coat and glasses, but as a variable that make rise other rich, dense
Bibliography
Barbour, R.S. and Kitzinger, J. (eds) (1999). Developing Focus Group Research. London: Sage.
Bloor, M., Frankland, J., Thomas M. and Robson, K. (2001) Focus Groups in Social Research. London: Sage.
Castelfranchi, Y. (2003). Imaginando uma paleontologia da cultura científica. Comciência, Julho. Disponível
em: http://www.comciencia.br/reportagens/cultura/cultura17.shtml.
9
Castelfranchi, Y. (2008). Para além da tradução: o jornalismo científico crítico na teoria e na prática. Los
desafíos y la evaluación del periodismo científico en Iberoamérica. Jornadas Iberoamericanas sobre la ciencia
en los medios masivos. Santa Cruz de la Sierra: Aeci, Ricyt, Cyted, SciDevNet e Oea,1, 10-20.
Castelfranchi, Y. (2004). Toward a ‘palaeontology’ of public representation of science. Paper presented at
PCST-8 Congress. Barcelona: PCST-8 (Public Communication of Science and Technology).
Castelfranchi, Y.; Manzoli, F.; Gouthier, D.; Cannata, I. (2008). O cientista é um bruxo? Talvez não: ciência e
cientistas no olhar das crianças. In: massarani, luisa. (org.). Ciência e criança: a divulgação científica para o
público infanto-juvenil. Rio de janeiro: Museu da Vida - Fiocruz, p. 13-18.
Castelfranchi, Y.; Manzoli, F.; Gouthier, D.; Cannata, I. (2006). Children's perceptions of science and
scientists. In: 09th International Conference on Public Communication of Science & Technology (pcst-9), 2006,
Seoul.
Chambers, D.W. (1983), “Stereotypic images of the scientist: The Draw-a-Scientist Test”.Science Education,
67(2), pp.255-265.
Flick, U. (1998), An Introduction to Qualitative Research. Londres. SAGE.
Greig, A. and Taylor, J. (1999) Doing Research with Children. London: Sage.
Hilgartner, S. (1990). The Dominant View of Popularization: Conceptual Problems, Political Uses. Social
Studies of Science, 20(3), pp.519-539.
Jarvis, T. (1996), “Examining and Extending Young Children’s Views of Science and Scientists”, em Parker,
L.H., Gender, Science and Mathematics, Kluwer Academic Publishers, pp.29-40.
Mead, M. et al. (1957). Image of the Scientist among High-School Students. Science, vol. 126,nº 3270, 30 de
agosto, pp.384-390.
Morgan, M.; Gibbs, S.; Maxwell, K.; Britten, N. (2002). Hearing children’s voices: methodological issues in
conducting focus groups with children aged 7-11 years. Qualitative Research, 1 Abr. v. 2, n. 1, p. 5–20.
Polino, C., & Castelfranchi, Y. (2012). The “Communicative Turn” in Contemporary Techno-science: Latin
American Approaches and Global Tendencies. In B. Schiele, M. Claessens, & S. Shi (Eds.), Science
Communication in the World (pp. 3–17). Springer Netherlands.
Polino, C.; Castelfranchi, Y. (2011). Knowledge of and Attitudes towards Science and Technology in
Iberoamerica. In: Bauer, M.; Shukla, R.; Allum, N.. (Org.). The Culture of Science: How Does the Public Relate
to Science Across the Globe. New York: Routledge, p. 155-175.
10
Esta publicacíón puede ser encontrada en la seguinte página web:
http://www.institutobancopalmas.org/a-revolucao-das-moedas-sociais-do-palmacard-ao-e-
dinheiro/
El suporte en que fue publicado no es academico pero el contenido del texto coresponde a la
investigación de campo hecha por mi en la occasion de mis estudios de maestria, durante los años
de 2014-2016.
A (r)evolução das Moedas Sociais: Do Palmacard ao E-dinheiro.
• Resgate de memória: Joaquim de Melo – Banco Palmas
• Autoria e texto: Bárbara Magalhães de Aguiar Oliveira, mestranda em Sociologia pela
Universidade Federal de Minas Gerais (moca.barbara@gmail.com)
Você conseguiria lembrar de todas as moedas que já circularam no Brasil? Quantas foram ao
todo? Réis, Cruzeiro, Cruzado, Real...até açúcar já foi moeda de troca, por aqui! Se
observarmos a história econômica do Brasil, vamos constatar que tivemos circulando em
nosso país, mais moedas que essas aí em cima citadas.
Até mesmo uma nação consolidada e bem estabelecida, ao longo de sua vida, necessita testar
pequenos ajustes e soluções para adaptar e equilibrar suas ferramentas econômicas a uma
situação financeira especifica. É a tal adequação meios a fins, a adaptação de modelos
econômicos a uma realidade contextual, conjuntural.
Aqui no Conjunto Palmeiras não foi diferente! Como você deve saber, o Banco Palmas é
conhecido mundialmente pelo pioneirismo na implementação de práticas de economia
solidária em seu território. Hoje, passados 17 anos, somos a experiência de Banco Comunitário
mais antiga do país, quem sabe até mesmo do mundo. Essa história, como qualquer boa
história, começou por meio de muita luta e mobilização de uma comunidade carente, que
precisou se virar economicamente, já que eram negligenciados pelo governo local. Dessa
vontade de fazer crescer com as próprias pernas, surgiu a famosa Moeda Social Circulante
Local, O Palmas, tão conhecida e divulgada pelos arredores do Brasil.
Mas essa iniciativa não nasceu de um dia pro outro, ela foi fruto de muita experimentação,
diálogo e uma série de parcerias, que hoje se concretizou em um dos produtos financeiros,
oferecido pelo Banco Palmas, de maior impacto e visibilidade.
Nesta publicação, iremos destrinchar um pouco melhor os caminhos percorridos pela Moeda
Palmas até sua configuração atual. Nossa intenção é além de registrar e manter viva a história
dessa incrível tecnologia/ferramenta econômica, evidenciar os processos e dinâmicas
presentes na instituição de uma moeda social.
Boa Viagem!
1
PALMACARD
Foi a primeira experiência de moeda social que o Banco Palmas e o Conjunto Palmeiras vivenciaram.
Foi uma criação paralela ao surgimento do Banco Comunitário. O PALMACARD nada mais era que
uma moeda em formato de cartão de crédito e que funcionava como um circulante local por permitir o
consumo de produtos, mercadorias e serviços no próprio bairro. Também foi a primeira moeda a circular
de forma aberta dentro da comunidade.
Aspectos Descrição
Quando surgiu 1998
O que levou a criação O principal motivo de criação foi o estimulo
ao consumo local: a antecipação do crédito
aos moradores, vinculado a um cartão que só
era aceito dentro do Conjunto Palmeiras
acabava por incentivar as compras no
comércio do próprio bairro.
Do ponto de vista do morador, era uma ótima
oportunidade de ganhar mais prazo e
flexibilidade no pagamento de suas contas,
enquanto que para o comerciante, a
vantagem está na fidelização deste cliente ao
seu empreendimento.
Como se dava a fabricação Era manual, feito no Word em um
computador. O cartão possuía frente e verso,
de forma que a parte de trás era reservado
ao preenchimento dos campos destinado a
anotar o valor dos gastos que seu
proprietário ia fazendo.
Na parte da frente, estava presente a
logomarca do Banco Palmas e a
descriminação do valor total do crédito
concedido ao usuário do cartão.
2
Como funciona Uma vez que o consumidor se registrava no
banco e garantia seu cartão, ele já estava
apto a consumir localmente. No verso do
dele, o comerciante anotava o valor total da
compra realizada e pouco a pouco uma
pequena “tabelinha” de gastos ia sendo
preenchida. Os gastos eram feitos de forma a
não ultrapassar o limite de crédito concedido
pelo banco ao cliente. Por isso o próximo
comerciante a conceder uma compra via
PALMACARD, devia fazer uma rápida
conferencia dos valores anteriormente gastos
pelo seu cliente. Era preciso estar atento ao
limite de crédito concedido pelo banco.
No final do mês, o comerciante se dirigia ao
banco, com as faturas das vendas realizadas e
o repasse em dinheiro era feito a ele.
O valor do crédito concedido pelo banco
variava de 20 a 100 reais, no máximo.
Cada comerciante possuía um código de
identificação do seu estabelecimento, usado
para o reconhecimento e controle dos
3
pagamentos do final mês.
A emissão do cartão era mensal.
Essa moeda é de tipo aberta, ou seja, todos
os comerciantes e consumidores que
desejassem poderiam aderir ao sistema do
cartão.
Como/quando aplicar Por ser um sistema muito artesanal, pode ser
trabalhado em comunidades que estejam
iniciando o processo de criação de um banco
ou iniciativas de economia solidária.
Também seu uso pode ser aconselhável em
comunidades pequenas ou muito afastadas
de grandes centros urbanos ou sem grande
acesso a recursos tecnológicos, ou ainda com
poucas unidades de famílias a serem
beneficiadas, por exemplo, já que a gestão
dessa moeda é muito trabalhosa.
Marco regulatório Na época de sua criação o marco regulatório
era inexistente, assim como os bancos
comunitários. Por se tratar de uma
experiência inovadora, ninguém (governo,
legislação e comunidade) sabia muito ao
certo se era permitido a instituição e o
funcionamento deste tipo de cartões.
Resultados >> Foi a primeira experiência no país de
cartão de crédito comunitário;
>> Estimulou o consumo local;
>> Importante por fomentar na comunidade
a cultura da solidariedade;
>> Consolidou e credibilizou a concepção do
Banco Palmas;
>>Valorizou tanto os empreendimentos do
bairro, como as pessoas que passaram a
consumir sem maiores constrangimentos;
>>Consolidou-se enquanto um cartão
emergencial.
Porque terminou A dificuldade em manter a logística do cartão
e o alto volume de faturas geradas, levou a
necessidade de operacionalizar outro tipo de
moeda. Alem do mais, o controle em relação
à fraudes é mais difícil de ser mantida.
Nºs – Movimentação financeira >>200 comércios cadastrados
>>3 mil famílias no sistema.
>>Movimentou em torno de 60 mil
reais/mês.
4
PALMARES
Esta moeda foi criada especificamente para ser utilizada dentro dos clubes de trocas que, na
época, se iniciavam no Conjunto Palmeiras. Era um facilitador, uma ferramenta de mediação
entre as trocas de produtos realizadas nas feiras, que aconteciam quinzenalmente. Instituiu-se,
então, uma moeda própria para esses eventos, cujo objetivo era incentivar não só a troca de
produtos e serviços entre seus membros, suprindo assim uma carência de acesso à alguns
artigos, mas também para que os envolvidos tivessem a oportunidade de se relacionar, criar
vínculos e parcerias. Diferentemente da anterior, o PALMARES era uma moeda fechada,
utilizada apenas nos clubes de trocas. Os valores das cédulas equivaliam aos reais da época: 1,
5, 10, 50 Palmares.
Aspectos Descrição
Quando surgiu 2000
O que levou a criação Surgiu a partir das feiras de trocas. Muitos
moradores do Conjunto Palmeiras passaram
a produzir alguns produtos e precisavam
comercializá-los. A solução encontrada para
essa demanda foi instituir uma feira de troca,
tal qual alguns modelos já existentes pelo
Brasil, como também na Argentina.
Com a consolidação das feiras, viu-se a
necessidade de criar uma moeda que
facilitasse o processo da troca de produtos
entre os membros desse clube, e assim,
criou-se a moeda PALMARES.
O objetivo era expandir a relação entre os
pequenos produtores que iam surgindo no
bairro, muito motivados pela prática da
economia solidária, e que o banco já vinha
financiando.
5
com o valor do produto ofertado, para que as
compras pudessem acontecer de fato. Ao
final da feira, cada qual saia com os produtos
trocados.
É importante sublinhar que desta forma, o
lastro da moeda não era o real em si, mas sim
os próprios produtos. Ninguém voltava para
casa com um PALMARES sequer, mas sim
com os produtos que havia adquirido. Apesar
da presença desta moeda, o que ocorria nas
feiras era a troca de um produto por outro,
facilitada pelo circulante.
A feira acabava, então, com o resgate dos
produtos. Os Palmares eram recolhidos e
guardados pelo Banco, com a finalidade de
ser usado no próximo clube de trocas.
A adesão ao clube de trocas era simples e
não exigia muitos requisitos. Poderia ser feita
no momento da feira, desde que a pessoa
fosse moradora da comunidade e que o
produto a ser trocado ou o serviço a ser
oferecido, fosse produzido pela própria
pessoa.
A feira contava com a presença de um
coordenador, que geria as questões relativas
aos preços dos produtos e mediavam
algumas trocas, havia também um secretário
para anotações e pequenos serviços e um
tesoureiro que cuidava da parte da gestão da
moeda da feira.
6
>>Alimentou e oxigenou o espírito de
solidariedade entre as pessoas participantes
da feira;
>>Iniciou a cultura das feiras, muito
consolidada hoje, no Conjunto Palmeiras.
Porque terminou Uma vez instituída a cultura das trocas, as
pessoas começaram a perceber que elas
poderiam ser realizadas independentemente
das feiras/clubes de troca. As pessoas
poderiam trocar umas com os outros quando
quisessem e em suas casas.
Outro fator foi a restrição de produtos: a
repetição de artigos começou a acontecer. A
variedade ficou restrita, de modo que as
novas necessidades de produtos e serviços
não foram mais satisfazendo os participantes.
Nºs – Movimentação financeira >>Mais de 100 pessoas chegaram a participar
das feiras;
>>Mais de 50 produtores e produtoras;
PALMIRINS
Eram os centavos dos PALMERES.
Não surgiu imediatamente à criação desta moeda. A percepção da necessidade de sua criação
veio só mais tarde, com o tempo, ao se perceber que miudezas e artigos de baixo valor possuía
uma grande importância nas feiras. Assim, acrescida as cédulas de 1, 5 e 10 PALMARES,
incorporou-se os PALMIRINS à prática dos clubes de troca do Conjunto Palmeiras.
MOEDA PALMAS MOMOMO
Surgiu como um desdobramento dos PALMARES. Aos poucos a comunidade foi percebendo
que as trocas de produtos não necessitava estar vinculada exclusivamente às feiras. A moeda
enquanto ferramenta de troca já estava consolidada e já havia conquistado o gosto e a
confiança da comunidade. Assim, surge a idéia de expandir esse sistema para toda a
comunidade, de forma aberta.
A moeda Palmas foi a primeira experiência de moeda paralela ao Real circulando no Brasil. Na
ocasião de sua instituição, recebe o nome e o sobrenome que todas as moedas sociais
vinculadas à Bancos Comunitários, tem no Brasil, hoje: Moeda Social Local Circulante. Sua
implementação só foi possível graças à parceria com uma ONG holandesa, a Strohalm, que
apoiava iniciativas voltadas à prática da economia solidária e moedas sociais abertas. As
7
cédulas levavam em sua composição outra sigla, além do nome da própria moeda e a do Banco
Comunitário: MoMoMo, Movimento Monetário Mosaico.
Aspectos Descrição
Quando surgiu 2002
O que levou a criação A exaustão do clube de trocas e o desejo de
trocar diariamente, foram um dos principais
motivos que levaram a implementação dessa
nova moeda.
A necessidade de expandir a abrangência de
circulação dos produtos, mercadorias e
serviços da comunidade, de uma forma mais
abrangente, na comunidade, também foi
outro fator.
Como se dava a fabricação Confeccionada na Argentina, na época o
principal fabricante de moedas paralelas da
América Latina, devido a explosão dos clubes
de trocas no país. As cédulas passaram a
deter todas as tecnologias de segurança que
uma moeda precisa ter.
Foram impressas um total 900mil cédulas.
8
O PALMAS, além de circular abertamente em
todo o Conjunto Palmeiras, passou a ser
usado não só na compra de produtos, mas
também como meio de pagamento de
serviços e na obtenção de crédito.
A conversibilidade de PALMAS em Reais e
vice-versa era realizada sem a cobrança de
qualquer tipo de taxa, no cambio de 1
PALMAS = 1 real.
Como/quando aplicar A Moeda Social Local Circulante é utilizada
quando se tem na comunidade um Banco
Comunitário em funcionamento e uma rede
de comerciantes e moradores já
sensibilizadas para as práticas de economia
solidária e do consumo local. Exige uma
relativa capacidade de gestão por parte do
Banco Comunitário, que tem como objetivo
assegurar a circulação adequada e segura da
moeda.
Marco regulatório Até a criação da moeda, não havia regulação
que abrigasse as características de uma
moeda social circulante local.
É nesse momento que os primeiros conflitos
com os órgãos de fiscalização financeiro do
país, surgem, até culminar em um processo
criminal iniciado por parte do Banco Central
do Brasil (BACEN).
Mediante algumas negociações e processos
judiciais, as primeiras resoluções e pareceres
sobre a legalidade das moedas sociais, são
emitidos, via BACEN. São as chamadas Notas
Técnicas1, que regulamentam, reconhecem e
permitem iniciativas como a que acabava de
nascer no Conjunto Palmeiras.
>> Critérios e características de uma Moeda
Social Circulante Local:
a)lastreada em moeda nacional; b)indexada
com base na moeda nacional; c)de livre
aceitação; d)circulação restrita; e)que
permita o cambio.
Resultados >> Possibilitou a ascensão da Moeda PALMAS
e do Banco Comunitário;
>> Grande adesão da comunidade;
>> Reforça o princípio e a prática de consumo
local: compra e venda de produtos e serviços
de forma massiva, via Moeda Palmas;
>>Primeira vez que se cunhou o termo
1
NOTA-TÉCNICA PGBC-387/2011 – 1º de setembro de 2011
9
Moeda Social Circulante Local, nome
especifico das moedas sociais dos bancos
comunitários;
>> O Banco Palmas foi o responsável direto
por pautar, oficializar, permitir e legalizar a
circulação de moedas sociais e bancos
comunitários no Brasil.
Porque terminou A principal missão da moeda, o fomento do
consumo e produção local foi alcançado.
Além da dificuldade de manter o controle
financeiramente seguro, em condições de
uso massivo.
*No Conjunto Palmeiras, a moeda PALMAS
não se extinguiu completamente, mas é certo
que ela já não mais possui o mesmo impacto
e circulação, da época de sua implementação.
Nºs – Movimentação financeira >>100 mil Palmas (valor) em circulação
>> 30 mil cédulas impressas.
MOEDA PALMAS TRANSPORTE COLETIVO
No auge da circulação da Moeda Social Palmas, foi estabelecido um acordo entre o Sindicato
de Transporte Coletivo Alternativo de Fortaleza e o Banco Palmas. O acordo previa a aceitação
do Palmas como vale-transporte. Na época o número de transportes alternativos autônomos
particulares, as topiques, era grande no bairro, maior que os meios oficiais. Era o ano de 2008.
Cria-se, então, uma espécie de vale transporte, específico para o uso neste tipo de transporte,
que barateava o custo da passagem, se comparada ao valor da passagem comprada em reais.
A adesão da comunidade foi muito grande, o que permitiu o sucesso da iniciativa, além de
proporcionar uma grande visibilidade ao Banco Palmas em toda Fortaleza, já que as topiques
circulavam em toda a cidade com a logo: “aceitamos Palmas”. Um publicidade que despertou a
curiosidade dos fortalezenses espalhados pela cidade.
MOEDA PALMAS SELOS COMEMORATIVOS (apelativo para o consumo | 15 anos)
Está vinculada a campanha de apelo ao consumo local realizada pelo Banco Palmas no ano
2004. “Consumo sustentável, consumo no bairro” eram os dizerem impresso nos selos auto-
colantes, adesivados em cada célula da Moeda Palmas que retornava ao banco. Essa foi a
oportunidade da moeda circular com uma nova cara.
Anos mais tarde, em 2013, com o aniversário de 15 anos da fundação do Banco Comunitário
Palmas, inaugura-se novamente outro selo: Palmas 15 anos.
10
O objetivo dessas duas iniciativas era aproveitar a circulação da moeda para fazer uma
divulgação e campanha. Tal estratégia era também muito útil para a resolução de pequenos
problemas relacionados à segurança da moeda: mudando vez ou outra, pequenas
características, impede-se que o modelo antigo seja fraudado. Essa tática é muito importante
ser realizada a cada um ou dois anos, para que a cópia ilegal seja dificultada. Esta também é
uma ótima maneira de aumentar a publicidade da moeda e assim, angariar novos adeptos e
dar maior visibilidade à causa.
PALMINHAS
Esta é uma moeda muito especial! O PALMINHAS são moedas criadas exclusivamente para
desenvolver trabalhos com as crianças do Conjunto Palmeiras e nasceu de um projeto em
parceria com a SENAES (Secretária Nacional de Economia Solidária). Ela é utilizada para
promover atividades educativas e culturais com os pequenos da comunidade.
Aspectos Descrição
Quando surgiu 2013
O que levou a criação A necessidade de manter conservada a
memória da comunidade em torno da
história do Banco Palmas, levou a instituição
a criar uma moeda para as crianças. A idéia é
a de que por meio do manuseio e
conhecimento do PALMINHAS, elas tenham
acesso à historia da comunidade.
A crença é a de que através de seu uso, as
crianças possam recuperar a memória da
moeda PALMAS, bem como incitar a cultura
da solidariedade e empoderamento local no
meio infantil.
Como se dava a fabricação É feita numa gráfica de segurança, com os
mesmos critérios da moeda Palmas.
Como funciona Uma equipe do Banco Palmas em parceria
com as escolas locais, constroem oficinas de
educação financeira por meio de dinâmicas
de compra, venda e troca de materiais
escolares utilizando o PALMINHAS.
Na ocasião, aproveitam para contar a história
do bairro e os porquês da importância de se
criar uma moeda social pertencente a
comunidade.
A atividade possui um caráter pedagógico,
ensina a importância do consumo local e
sensibiliza as crianças a consumirem de
forma consciente, de acordo com as
necessidades de suas famílias.
Como/quando aplicar Quando já existe um sistema de moeda social
consolidado na comunidade e necessita-se
expandir essa cultura do consumo local para
11
as novas gerações.
Marco regulatório Não há nenhum impedimento em relação a
sua realização, por se tratar de uma iniciativa
educativa e lúdica.
Resultados >>Estimula a relação das crianças com o
mundo dos adultos, via aspectos econômicos;
>> Promove ações de educação financeira;
>> Ensina os princípios do
empreendedorismo para a solidariedade;
>>Ajuda a preservar a memória e acultura na
utilização da moeda local.
Porque terminou Continuam sendo aplicadas
MOEDA EM CARTÃO MAGNÉTICO – Mumbuca
A moeda social MUMBUCA foi pensada para atender uma política pública da Prefeitura da
cidade de Maricá, RJ. Ela nasce junto com a bolsa solidária MUMBUCA, integrante às iniciativas
do Banco Comunitário criado na cidade. Como estratégia primordial do banco, criou-se uma
bolsa para as famílias de baixa renda do município, a ser paga por meio de uma moeda social
eletrônica. Esta é a primeira versão de uma moeda social que migrou do formato de papel para
o eletrônico. O primeiro pagamento realizado por meio desta nova moeda, ocorreu em 30 de
dezembro de 2013 e beneficiou, em seu inicio, 20 famílias.
Aspectos Descrição
Quando surgiu 2013
O que levou a criação Visando a oxigenação da economia local do
município, a prefeitura de Maricá determina
o pagamento de bolsas de 85 reais às famílias
necessitadas da cidade (Lei Municipal 2248).
Como o volume de benefícios era grande,
além da emissão de moeda física, nesta
quantidade, ser complicada e custosa, e a
gestão do recurso destinado às bolsas
também se tornaria complexificada, teve-se a
idéia de utilizar um cartão eletrônico
magnético para efetuar tais transações.
A necessidade de se gerir um sistema mais
seguro, uma vez que o dinheiro para tal é
proveniente de uma de uma fonte pública de
recursos, fez com que essa modalidade de
moeda fosse a mais apropriada.
12
MUMBUCAS para consumir localmente, nos
comércios credenciados junto ao Banco
Comunitário. O deposito das MUMBUCAS é
feito no cartão magnético de cada família,
que realizam suas compras na rede
credenciada, através de maquininhas de
P.O.S customizadas para a aceitação da
moeda mumbuca.
Como/quando aplicar Mais voltado para o atendimento de
programas de distribuição direta de renda,
com base na economia solidária, em parceria
com o poder público.
Marco regulatório Para se replicar esse modelo, há que estar
amparado em leis municipais, principalmente
pelo fato de ser um beneficio concedido, via
governo, à pessoas de baixa renda.
Especificamente no que diz respeito à
utilização do cartão, o marco regulatório é
existente e é o mesmo que regula as
empresas de cartão de crédito tradicionais.
Resultados >> Por ser um sistema eletrônico, o controle,
prestação de contas e fiscalização, bem como
a administração dos recursos fica facilitado, o
que é de interesse tanto das prefeituras
quanto dos órgãos competentes, como é o
caso BACEN;
>> O registro é feito de forma automática, em
tempo real e com muita precisão já que se
trata de um sistema web;
>>Maior Governança e transparência em um
maior volume de recursos.
Porque terminou Em vigor
Nºs – Movimentação financeira >>14 mil beneficiados, recebendo 85 reais
por mês;
>>Movimento de 1milhao e 100mil
MUMBUCAS mensais no comércio local.
MOEDA ELETRONICA: E-DINHEIRO
A grande novidade dos Bancos Comunitários é uma tecnologia social que nasceu da adaptação
das leis de pagamentos eletrônicos à realidade desses bancos. O E-DINHEIRO é uma moeda
social eletrônica, operacionalizada por meio de um celular smarthphone, preferencialmente,
que possibilita, via instalação de um aplicativo desenvolvido especialmente para esse fim. A
moeda social eletrônica nada mais é que um novo meio de pagamento digital. O E-DINHEIRO
não é apenas mais uma plataforma de pagamento tradicional, como a dos bancos oficiais, e
13
sim uma moeda social porque fomenta o comercio local, e toda a sua gestão e administração
passa pelo controle dos bancos comunitários.
Aspectos Descrição
Quando surgiu 2015
O que levou a criação Necessidade de modernização do sistema
financeiro dos Bancos Comunitários.
Possibilidade de manter a sustentabilidade
dos bancos.
Como se dava a fabricação O aplicativo foi desenvolvido por meio da
parceria de uma empresa privada de
tecnologia, mais o Banco Palmas e a Rede de
Bancos Comunitários.
Foi firmado um acordo/termo de cooperação
entre essas três entidades que determina que
a propriedade do uso do software é de
exclusividade da rede de bancos
comunitários por pelo menos 20 anos.
Por enquanto o e-dinheiro é um software
proprietário, mas a intenção é de torná-lo
livre, uma vez que os custos de sua
implementação e funcionamento sejam
todos sustentáveis.
Como funciona Por meio de um aplicativo de celular,
disponível no sistema operacional android e
IOS.
O usuário da moeda pode realizar
pagamentos, transferências, depósitos,
cobranças, checagem de extrato e até mesmo
resgate.
Para fazer as compras por meio do E-
DINHEIRO, basta apenas que o consumidor
faça uma espécie de recarga do valor
desejado em seu banco comunitário. Esse
crédito é automaticamente vinculado ao
número de registro do cliente, que a partir
desse momento está ápito a realizar suas
compras.
Os comércios também têm um número de
celular cadastrado, para que possa usufruir
dos recebimentos.
Em cada transação comercial realizada, é
descontado do comerciante, 2% referente a
valor total da compra. Essa taxa, menor que
as de qualquer cartão convencional, é
destinado ao Banco Comunitário para a
manutenção do sistema operacional e como
uma receita, que é revertida em beneficio
tanto da comunidade quanto do próprio
14
banco comunitário.
As transações comerciais realizadas via E-
DINHEIRO, podem ser comparadas como
àquelas feitas com um cartão de débito
tradicional.
Como/quando aplicar Em qualquer local ou comunidade que exista
um Banco Comunitário e internet acessível
aos moradores e comerciantes. O uso da
moeda eletrônica não dispensa a necessidade
do processo de mobilização, organização e
conscientização da comunidade para as
práticas de economia solidária e do consumo
local sustentável.
Marco regulatório Foi regulamentada, via Banco Central, em
2013, com o objetivo de fomentar a inclusão
financeira – lei das moedas eletrônicas2.
Resultados >> Garante inclusão financeira;
>>Gera receitas para o banco (por meio da
taxa de 2% que é cobrada ao comerciante, ao
se efetuar transações comerciais de compra e
venda de produtos e serviços), o que garante
a sustentabilidade e autonomia financeira
dos Bancos Comunitários, ainda muito
vinculados a recursos e iniciativas
governamentais;
>>Facilita a comunicação entre as pessoas
através de um chat do próprio aplicativo;
>> Também é ecológico por dispensar o uso
do papel;
>>Mais econômico em termos de
manutenção do sistema e mais fácil de
operacionalizar;
>> Maior segurança, conforto e comodidade
para os usuários que não precisam mais
portar o dinheiro em espécie;
>>Maior transparência na gestão dos
recursos;
>>Possibilita agregar novas formas de trocas
econômicas que não são permitidas pela
moeda física.
Porque terminou Uma iniciativa muito recente, foi
implementada no ano de 2015 e portanto,
em vigor.
Nºs – Movimentação financeira >> 20 bancos comunitários em utilização da
moeda;
>> 2mil usuários na plataforma;
>> 120 comércios cadastrados;
2
Lei nº 12.865/13
15
* * *
Como você pôde perceber, a gestão de um Banco Comunitário passa por inúmeras adaptações
a momentos bem específicos da vida não só desta entidade, mas de toda a comunidade. É
preciso estar atento e ser sensível as pequenas transformações, às diferentes necessidades
que vão surgindo ao longo da vida financeira de um banco.
As diversas experiências de moedas que o Banco Palmas vem experimentando ao longo dos
seus 17 anos são frutos e resultados de um longo e árduo processo de investimentos não só
financeiros, mas, sobretudo social. Estar sempre adaptando às novas necessidades econômicas
de uma determinada comunidade é um legado que devemos compartilhar com o mundo, é
isso que a nós nos fala essa longa Jornada.
Uma crítica que se pode fazer ao sistema financeiro tradicional, em geral, é a incapacidade de
se adaptar as circunstancias econômicas de localidades que nem sempre estão inseridas na
mesma lógica de funcionamento vigente no país, seja pela impossibilidade de funcionar
segundo as exigências deste modelo, ou simplesmente pelo fato de optarem por um sistema
diferenciado, mais adaptado e inclusivo a realidade local, por exemplo.
Acreditamos que a moeda, aparentemente parte muito especifica de uma realidade
econômica maior, pode ser uma importante ferramenta de resgate da autonomia financeira
das pequenas sociedades, principalmente às economicamente marginalizadas. Por isso é
preciso lutar não só por uma gestão financeira que inclua as pessoas e sua comunidade tal
qual a realidade econômica que vivenciam, mas também reivindicar que as ações econômicas
estejam sempre ligadas às necessidades sociais de seus interessados. Afinal, sociedade e
economia são parte indissociável de um mesmo processo.
Para saber mais:
>> Resoluções que legalizam a circulação de moedas sociais: NOTA-TÉCNICA PGBC-387/2011,
DE 1º DE SETEMBRO DE 2011
>> Moedas eletrônicas: Lei nº 12.865/13; Resoluções: nº 4.282 e 4.283; e Circulares n.3.680,
n. 3.681, n. 3.682 e n. 3.683, todas de 4 de novembro de 2013.
>> Contatos: Instituto Palmas | Av. Valparaíso, 620 - Conj. Palmeiras, Fortaleza - CE,
CEP: 60870-440 | tel: (85) 3459-4848 | e-mail: >>>>>>
16