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CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE
SEGURANÇA DO TRABALHO
MARINGÁ
2019
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1 ABONO 1
1.1 Comportamento Seguro: Ciência e senso comum na gestão dos aspectos humanos em
saúde e segurança no trabalho.
No que diz respeito à segurança grandes avanços foram realizados nos âmbitos
ambientais, tecnológicos, legais e organizacionais o que fez com que os índices de acidentes
fossem largamente reduzidos ao redor do mundo. Apesar disto, os acidentes ainda acontecem o
que fez com que os pesquisadores passassem a dar mais atenção aos fatores humanos.
Boa parte dos questionamentos a respeito de como educar as pessoas sobre segurança do
trabalho já foi respondido pelas ciências humanas e sociais porem esses conhecimentos não
haviam sido relacionados no âmbito do trabalho. O estudo da influência humana na ocorrência de
acidentes de trabalho, para a psicologia, necessita levar em conta a forma como o Ser Humano se
relaciona com seu meio de trabalho.
Meliá (1999) relata que os modelos de análise funcional da conduta permitem identificar
os elementos que sustentam as condutas inseguras e os que sustentam ou poderiam sustentar as
condutas seguras. A análise do comportamento permite observar que corriqueiramente existe um
desequilíbrio de contingências desfavorável à conduta segura e favorável às condutas inseguras.
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A partir de um estudo realizado por Bley (2004) que explorou o que caracteriza a
aprendizagem de comportamentos seguros nas atividades de risco aponta necessidades e lacunas
no processo de educação para a segurança no aspecto comportamental, foi concluído, através da
comparação das respostas de instrutores de treinamento de segurança e funcionários participantes
dos mesmos treinamentos quando perguntados sobre o que entendem por “Comportamento
Seguro”, que o que os instrutores e funcionários consideram como significado de
“comportamentos seguros” é divergente entre si e também está distante do conceito.
Além disso, foi percebido alto grau de generalidade nos termos utilizados tanto por
instrutores quanto por funcionários para definir o conceito. Logo, não há clareza a respeito das
propriedades que caracterizam o comportamento seguro. Esse fenômeno pode causar problemas
de capacitação, pois, se os instrutores não conseguem precisar as propriedades essenciais do tipo
de comportamento que ensinam, há grande chance de o treinamento não ter o resultado esperado.
Sem considerar isso, as ações pouco podem fazer frente à força que o comportamento
corriqueiro impõe no sentido contrário da mudança. Essa gama de relações pode ser a responsável
pelo insucesso de ferramentas de conscientização em segurança, que atingem seus objetivos num
primeiro momento, mas após um período de tempo, permitem que os problemas considerados
ultrapassados voltem a ocorrer.
Para estudar os conceitos de percepção de risco é necessário que lembremos que o contato
estabelecido pelo ser humano com o mundo externo é através dos seus sentidos por onde os
estímulos da realidade são recebidos e ganham significados. Esse processo de receber e converter
o estímulo externo é chamado de sensação enquanto o processo de atribuição de sentido à
informação recebida é chamado de percepção. Por isso, em prevenção o processo perceptivo é
fundamental, pois quando lidamos com preservação da saúde, estamos vinculados à capacidade
das pessoas de se relacionar com os perigos de forma cuidadosa, evitando danos à integridade
física e psíquica dos indivíduos, isto é, prevenir acidentes e doenças.
Essa ferramenta permite ver que muitas vezes, o operador se coloca em comportamentos
de risco apenas por não conhecer quais os perigos aos quais está exposto, o que aumenta a
probabilidade deste se expor ao perigo e consequentemente seus comportamentos tendem a ser
inseguros. Em última análise, quem não percebe os riscos dificilmente tem condições de escolher
o meio mais seguro de agir, pois ela é pré-requisito para um comportamento seguro consciente.
Para que estes fenômenos psicossociais sejam identificados é necessário, em grande parte,
da capacidade do corpo da empresa em observar, entender e interpretar as informações. No
entanto, por se tratarem de aspectos de difícil observação, destacando-se os cognitivos e afetivos,
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No dia a dia, estes fenômenos podem ser subsídios para o desenvolvimento de práticas e
seus respectivos indicadores quando observados de forma sistemática. A aplicação correta destes
métodos e indicadores humanos em segurança, quando aliados a todos os demais elementos
existentes no Sistema de Gestão de Segurança, permite uma compreensão aprimorada e
consistente do componente humano no processo de prevenção dos acidentes de trabalho.
Vale destacar que a simples existência destes elementos e ações não garante resultados
positivos em prevenção de acidentes. Quando falamos de pessoas é necessário levar em conta que
somos indivíduos distintos, algo que funciona em uma empresa provavelmente não terá o mesmo
resultado em outra, porque as pessoas são diferentes, e a cultura e o nível de desenvolvimento do
Sistema de Gestão em SST também. Ações de Segurança Comportamental têm como ponto de
sucesso a competência avançada em identificar e analisar os fatores psicossociais de maneira
adequada e tecnicamente embasada. Profissionais que se propõem a atuar sobre o comportamento
humano devem ser devidamente capacitados para este fim, sob pena de incorrer em graves
equívocos conceituais e até problemas éticos.
Finalizando, sempre foi dada ênfase ao “tecnicismo” na formação dos profissionais que
atuam nos ambientes produtivos, e este é um fator que certamente influencia na dificuldade de
gerenciar as pessoas com foco em SST pois, quando tratamos de comportamentos, atitudes,
cognição, cultura, estamos falando de pessoas e não de máquinas ou equipamentos.
Para que seja possível gerenciar a segurança e a saúde das pessoas com consistência e
ética é necessário desenvolver diferentes componentes deste universo como uma formação mais
“humanitária” dos profissionais, do presidente da empresa ao auxiliar de produção, normas e
políticas públicas que considerem os aspectos mais subjetivos deste processo, relações de trabalho
mais saudáveis para ambos os lados, e tantos outros. Enfim, para gerenciar comportamento
humano é preciso verdadeiramente humanizar o contexto produtivo.
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REFERÊNCIAS
DAVIES, D.R.; SHACKLETON, V.J. Psicologia e trabalho. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1977.
GELLER, E.S. Psychology of Safety Handbook. Boca Raton: Lewis publishers, 2002.
GLENDON, I.; McKENNA, E.F. Human safety and risk management. Londres: Chapman &
Hall, 1995.
MELIÁ, J. L.Un modelo causal psicosocial de los acidentes laborales. Anuario de Psicología,
29 (3), 25-43, 1998.
ZANELLI, J.C. e col. Psicologia: organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed,
2004.