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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE
SEGURANÇA DO TRABALHO

RESUMO EXPANDIDO: Comportamento Seguro

Trabalho apresentado como requisito necessário


para abono de ausência na matéria de psicologia
de segurança do trabalho componente curricular
da pós-graduação em engenharia de segurança do
trabalho da Universidade Estadual de Maringá.

Aluno(a): DAYANNE ANGIOLETO MARTINS


Prof(a): Catarina Tanaka

MARINGÁ
2019
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1 ABONO 1
1.1 Comportamento Seguro: Ciência e senso comum na gestão dos aspectos humanos em
saúde e segurança no trabalho.

“O problema é trabalhar no piloto-automático”.

No que diz respeito à segurança grandes avanços foram realizados nos âmbitos
ambientais, tecnológicos, legais e organizacionais o que fez com que os índices de acidentes
fossem largamente reduzidos ao redor do mundo. Apesar disto, os acidentes ainda acontecem o
que fez com que os pesquisadores passassem a dar mais atenção aos fatores humanos.

Boa parte dos questionamentos a respeito de como educar as pessoas sobre segurança do
trabalho já foi respondido pelas ciências humanas e sociais porem esses conhecimentos não
haviam sido relacionados no âmbito do trabalho. O estudo da influência humana na ocorrência de
acidentes de trabalho, para a psicologia, necessita levar em conta a forma como o Ser Humano se
relaciona com seu meio de trabalho.

A “Psicologia da Segurança no Trabalho” vêm sendo desenvolvida desde os anos 70 e é


consiste em um conjunto de técnicas (metodologias de intervenção) que possibilitam compreender
e agir sobre os elementos humanos da prevenção de acidentes de trabalho com profundidade e
precisão. Ela complementa as práticas dos demais profissionais da área (médicos, engenheiros,
etc...) mas não deve ser praticada por de forma efetiva por profissionais sem a devida capacitação.

Muitas técnicas se empregadas de forma incorreta ou sem embasamento teórico e prático


podem gerar frustrações, aprendizagens inadequadas, resistências e descrenças, pois muitas vezes,
os resultados obtidos são parciais ou então são conquistados às custas de desgastes emocionais,
relacionais e de saúde geral dos trabalhadores. A despeito dos verdadeiros ganhos do processo de
prevenção de acidentes que são a saúde e a qualidade de vida dos trabalhadores.

O que separa os equipamentos modernos, as orientações dadas nos treinamentos, as


normas e procedimentos de trabalho, os sistemas de gestão, do comportamento cotidiano dos
trabalhadores?

Meliá (1999) relata que os modelos de análise funcional da conduta permitem identificar
os elementos que sustentam as condutas inseguras e os que sustentam ou poderiam sustentar as
condutas seguras. A análise do comportamento permite observar que corriqueiramente existe um
desequilíbrio de contingências desfavorável à conduta segura e favorável às condutas inseguras.
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Didaticamente os tipos de comportamentos destacados por profissionais da segurança são


divididos em seguros e inseguros. “Seguro” se referindo àquilo que o trabalhador faz e que
contribui para a não ocorrência de acidentes e “Inseguro” os comportamentos considerados que
contribuem para que os acidentes aconteçam.

Observasse que as ações educativas em segurança quase sempre tratam do comportamento


de risco, do ato inseguro. A maior parte do tempo dos treinamentos e campanhas de segurança é
utilizado para apontar aquilo que não deve ser feito, ou seja, mais tempo é gasto ensinando o
trabalhador aquilo que ele não deve do que aquilo que ele deve fazer, como se o comportamento
seguro pudesse ser reduzido simplesmente a um código de regras que dizem o que é permitido e o
que é proibido.

Bley (2004) define o Comportamento Seguro de um trabalhador, de um grupo ou de uma


organização como a capacidade de identificar e controlar os riscos presentes numa atividade no
presente, de forma a reduzir a probabilidade de ocorrências indesejadas no futuro, para si e para os
outros. É isso que deve ser desenvolvido e estimulado nos processos educativos para que os
comportamentos seguros sejam mais frequentes nas frentes de trabalho. O trabalhador deve ser
capacitado para pensar, sentir e agir frente aos riscos aos quais está exposto e as melhores formas
de controlá-los.

A partir de um estudo realizado por Bley (2004) que explorou o que caracteriza a
aprendizagem de comportamentos seguros nas atividades de risco aponta necessidades e lacunas
no processo de educação para a segurança no aspecto comportamental, foi concluído, através da
comparação das respostas de instrutores de treinamento de segurança e funcionários participantes
dos mesmos treinamentos quando perguntados sobre o que entendem por “Comportamento
Seguro”, que o que os instrutores e funcionários consideram como significado de
“comportamentos seguros” é divergente entre si e também está distante do conceito.

Além disso, foi percebido alto grau de generalidade nos termos utilizados tanto por
instrutores quanto por funcionários para definir o conceito. Logo, não há clareza a respeito das
propriedades que caracterizam o comportamento seguro. Esse fenômeno pode causar problemas
de capacitação, pois, se os instrutores não conseguem precisar as propriedades essenciais do tipo
de comportamento que ensinam, há grande chance de o treinamento não ter o resultado esperado.

Ainda, ao se comparar as categorias apresentadas e os pressupostos do conceito de


Comportamento Seguro percebe-se que boa parte delas não tem correspondência direta com uma
conduta preventiva na realização de atividades. Treinamentos, cursos, palestras, procedimentos e
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políticas são importantes estratégias para a promoção da mudança de “comportamentos de risco”


para “comportamentos seguros”. mas é preciso clareza em quais são os comportamentos de risco
existentes, quais os comportamentos seguros que se deseja estimular, o que faz com que as
pessoas ajam desta forma, e o que é preciso fazer para tornar a mudança desejável pelas pessoas.

Sem considerar isso, as ações pouco podem fazer frente à força que o comportamento
corriqueiro impõe no sentido contrário da mudança. Essa gama de relações pode ser a responsável
pelo insucesso de ferramentas de conscientização em segurança, que atingem seus objetivos num
primeiro momento, mas após um período de tempo, permitem que os problemas considerados
ultrapassados voltem a ocorrer.

Para estudar os conceitos de percepção de risco é necessário que lembremos que o contato
estabelecido pelo ser humano com o mundo externo é através dos seus sentidos por onde os
estímulos da realidade são recebidos e ganham significados. Esse processo de receber e converter
o estímulo externo é chamado de sensação enquanto o processo de atribuição de sentido à
informação recebida é chamado de percepção. Por isso, em prevenção o processo perceptivo é
fundamental, pois quando lidamos com preservação da saúde, estamos vinculados à capacidade
das pessoas de se relacionar com os perigos de forma cuidadosa, evitando danos à integridade
física e psíquica dos indivíduos, isto é, prevenir acidentes e doenças.

A percepção de risco também diz respeito à capacidade da pessoa em identificar a


frequência, e não a probabilidade de ocorrência, na qual está exposta a situações ou condições de
trabalho perigosas e reconhecer os riscos que este oferece, não apenas na atividade que sempre
realiza, mas em todo o contexto de trabalho. Muitas vezes o processo de percepção do risco não é
objetivo, ou mesmo racional, mas muito influenciado por fatores diversos e que variam de
indivíduo para indivíduo, em função de sua estrutura mental e do seu repertório adquirido. Na
prática falta por parte das empresas buscarem conhecer em que nível se encontra a percepção de
risco dos seus trabalhadores.

Por meio do mapeamento da Percepção de Risco dos trabalhadores é possível mensurar a


capacidade deles em identificar os perigos e riscos. Ou seja, neste mapeamento é considerado não
apenas a atividade-fim do profissional, mas todo o entorno que compõe o cenário no qual o
trabalho ocorre. A Psicologia da Segurança no Trabalho utiliza como ferramenta para este
mapeamento um questionário com diversos tipos de perigos e riscos de acidentes, cujo formato
permite avaliar a percepção e a noção de risco dos trabalhadores.
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Essa ferramenta permite ver que muitas vezes, o operador se coloca em comportamentos
de risco apenas por não conhecer quais os perigos aos quais está exposto, o que aumenta a
probabilidade deste se expor ao perigo e consequentemente seus comportamentos tendem a ser
inseguros. Em última análise, quem não percebe os riscos dificilmente tem condições de escolher
o meio mais seguro de agir, pois ela é pré-requisito para um comportamento seguro consciente.

O comportamento seguro é o resultado de um conjunto de fatores individuais e do


ambiente de trabalho que permitem às pessoas terem ações preventivas no trabalho. No âmbito
dos Sistemas de Gestão, os conceitos que se relacionam com esse comportamento podem ser
aplicados no sentido de potencializar ou mesmo, viabilizar, um programa amplo de Gestão de
Segurança e Saúde.

Um dos maiores desafios na implantação de um Sistema de Gestão é o êxito em


comprometer as pessoas envolvidas somado às questões do monitoramento de resultados. Mas, a
despeito das dificuldades, a implantação de algumas perspectivas de análise e aplicação permitem
realizar o monitoramento do processo no que se refere ao comportamento seguro. Os Indicadores
Humanos em segurança podem ser basicamente classificados em “Proativos” e os “Reativos”,
onde os primeiros referem-se aqueles que buscam identificar os aspectos humanos antes do
acontecimento de uma perda ou acidente de trabalho e os seguintes integram-se aos indicadores
organizacionais que medem situações que já ocorreram.

A análise dos indicadores “Proativos” será baseada no conceito de “Atitude Preventiva”, o


qual pressupõe que o comportamento seguro se torna um hábito por meio da articulação dentro de
três dimensões do funcionamento psicológico: a dimensão cognitiva que diz respeito ao nível de
conhecimento e informações que o trabalhador tem a respeito das suas atividades e todas as suas
interfaces numa frente de trabalho, por exemplo, à dimensão afetiva composta pelos aspectos
interiores do ser humano como suas razões pessoais para se prevenir, seu nível de motivação, seus
comportamentos encobertos como pensamentos e sentimentos, e outros aspectos que referem-se
ao elemento emocional dos trabalhadores e finalmente pela a dimensão da ação que consiste na
forma como o indivíduo realiza o seu trabalho e é composta por aquilo que pode ser observado
pelas outras pessoas, é a prática. Retoma-se então a ideia do pensar, sentir e agir.

Para que estes fenômenos psicossociais sejam identificados é necessário, em grande parte,
da capacidade do corpo da empresa em observar, entender e interpretar as informações. No
entanto, por se tratarem de aspectos de difícil observação, destacando-se os cognitivos e afetivos,
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é de suma importância levar em conta que os profissionais da organização estejam capacitados


efetivamente para a identificação de tais fatores.

No dia a dia, estes fenômenos podem ser subsídios para o desenvolvimento de práticas e
seus respectivos indicadores quando observados de forma sistemática. A aplicação correta destes
métodos e indicadores humanos em segurança, quando aliados a todos os demais elementos
existentes no Sistema de Gestão de Segurança, permite uma compreensão aprimorada e
consistente do componente humano no processo de prevenção dos acidentes de trabalho.

Vale destacar que a simples existência destes elementos e ações não garante resultados
positivos em prevenção de acidentes. Quando falamos de pessoas é necessário levar em conta que
somos indivíduos distintos, algo que funciona em uma empresa provavelmente não terá o mesmo
resultado em outra, porque as pessoas são diferentes, e a cultura e o nível de desenvolvimento do
Sistema de Gestão em SST também. Ações de Segurança Comportamental têm como ponto de
sucesso a competência avançada em identificar e analisar os fatores psicossociais de maneira
adequada e tecnicamente embasada. Profissionais que se propõem a atuar sobre o comportamento
humano devem ser devidamente capacitados para este fim, sob pena de incorrer em graves
equívocos conceituais e até problemas éticos.

Finalizando, sempre foi dada ênfase ao “tecnicismo” na formação dos profissionais que
atuam nos ambientes produtivos, e este é um fator que certamente influencia na dificuldade de
gerenciar as pessoas com foco em SST pois, quando tratamos de comportamentos, atitudes,
cognição, cultura, estamos falando de pessoas e não de máquinas ou equipamentos.
Para que seja possível gerenciar a segurança e a saúde das pessoas com consistência e
ética é necessário desenvolver diferentes componentes deste universo como uma formação mais
“humanitária” dos profissionais, do presidente da empresa ao auxiliar de produção, normas e
políticas públicas que considerem os aspectos mais subjetivos deste processo, relações de trabalho
mais saudáveis para ambos os lados, e tantos outros. Enfim, para gerenciar comportamento
humano é preciso verdadeiramente humanizar o contexto produtivo.
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REFERÊNCIAS

BLEY, J. Z. Competências para prevenir: ensino-aprendizagem de comportamentos seguros


no trabalho. Anais do 2O Congresso Mundial de Manutenção Industrial. Curitiba:
ABRAMAN, 2004.

BLEY, J. Z. Variáveis que caracterizam o processo de ensinar comportamentos seguros no


trabalho. Dissertação de Mestrado em Psicologia, UFSC, 2004.

BOTOMÉ, S. P. Sobre a noção de comportamento. In: H. P. Feltes, & U. Zilles, Filosofia:


diálogos e horizontes. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001

COLETA, J. A. D. Acidentes de trabalho: fator humano, contribuições da psicologia do


trabalho, atividades de prevenção. São Paulo: Atlas, 1991.

DAVIES, D.R.; SHACKLETON, V.J. Psicologia e trabalho. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1977.

DEJOURS, C. O fator humano. Rio de Janeiro. Editora FGV, 1999.

GELLER, E.S. Psychology of Safety Handbook. Boca Raton: Lewis publishers, 2002.

GLENDON, I.; McKENNA, E.F. Human safety and risk management. Londres: Chapman &
Hall, 1995.

GUÉRIN, R. M. E col. Compreender o trabalho para transformá-lo: a prática da ergonomia.


São Paulo: Edgar Blucher, 2001.

MELIÁ, J. L. Medición y métodos de intervención en psicología de la seguridad y prevención


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MELIÁ, J. L.Un modelo causal psicosocial de los acidentes laborales. Anuario de Psicología,
29 (3), 25-43, 1998.

TURBAY, J.C.F. La seguridad y la accidentabilidad en el modelo sociológico de Tom Dwyer.

ZANELLI, J.C. e col. Psicologia: organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed,
2004.

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