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Projeto de fundações profundas

1. Introdução

A fundação profunda transmite a carga ao terreno pela base (resistência de ponta), por sua
superfície lateral (resistência de fuste) ou por combinação das duas, e está assente em profundidade
superior ao dobre de sua menor dimensão em planta, e no mínimo, a 3m. Nesse tipo de fundação
incluem-se as estacas e os tubulões.
P
Carga

Fuste

Ptotal= Pponta + Pfuste

Fuste Total
Recalque Ponta
Ponta

Figura 1. Mecanismos de capacidade de carga de fundações profundas

2. Tipos de estaca

Quanto ao efeito provocado

As estacas podem ser:


- de deslocamento: estacas cravadas em geral, uma vez que o solo no espaço que a estaca vai ocupar é
deslocado horizontalmente;
- de substituição: são as estacas escavadas, uma vez que o solo no espaço que a estaca vai ocupar é
removido, causando algum nível de redução nas tensões horizontais geostáticas.
- sem deslocamento: não há praticamente remoção de solo e/ou na ocasião de concretagem, são
tomadas medidas para restabelecer as tensões geostáticas (mesmo que parcialmente).

Tipo de execução Estacas


Madeira
Pré-moldada de concreto
Grande Tubos de aço de ponta fechada
Franki
De deslocamento
Microestacas injetadas
Perfis de aço
Pequeno Tubos de aço de ponta aberta
Estacas hélice de pequeno deslocamento
Escavadas com revestimento metálico perdido
Sem deslocamento
Estaca raiz
Escavadas sem revestimento ou com lama
De substituição Strauss
Estacas hélice-contínua

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Em função do material

2.2.1. Estacas de madeira

São constituídas por troncos de árvores retilíneos, que tem uma preparação do topo e ponta para
cravação, limpeza da superfície lateral, e em caso de obras permanentes recebem um tratamento com
produtos para preservação.
A norma alemã (DIN 4026) recomenda a seguinte relação entre comprimento e diâmetro para
estacas de madeira:
Se L<6m → Ø=25 ± 2 cm
Se L≥6m → Ø=20+L cm (com L em metros).

Segundo a DIN 4026 são as seguintes as cargas admissíveis para estacas de madeira

Carga admissível (kN)


Penetração na camada resistente (m) Diâmetro da ponta (cm)
15 20 25 30 35
3 100 150 200 300 400
4 150 200 300 400 500
5 - 300 400 500 600

2.2.2. Estacas Metálicas

São encontradas em diversas formas, desde perfis (laminados ou soldados) a tubos. Os perfis
podem ser trilhos de trem usados, ou novos, isolados ou soldados.
Os trilhos usados, desde que verificado seu alinhamento e grau de desgaste, tem carga máxima
entre 200 kN e 900 kN. Os perfis I e H, de aço A36, tem carga máxima variando de 300 a 1200 kN, em
função das dimensões. Os perfis H de aço A572 tem carga máxima entre 700 e 2000 kN.
Deve-se prever, no entanto, uma espessura de sacrifício em função da classe do solo em que a
estaca está inserida. Pode variar entre 1,0 mm (em solos naturais e aterros controlados) e 3,2 mm (em
solos turfosos). Em solos contaminados a espessura de sacrifício é determinada após estudos
específicos.

2.2.3. Estacas de Concreto

As estacas de concreto podem ser divididas em dois grupos: pré-moldadas e moldadas no solo.

2.2.3.1. Estacas pré-moldadas

Tem como grande vantagem a boa qualidade do concreto que se pode obter pelo fato de se ter
grande controle sobre o processo de moldagem, pega e cura, evitando a ação de agentes agressivos.
Como desvantagem cita-se a dificuldade de adaptação às variações do terreno, tendo-se prejuízos com
processos de corte e emenda de estacas.

2.2.3.2. Estacas moldadas no solo

A grande vantagem dessas estacas é a possibilidade de se executar a concretagem no


comprimento estritamente necessário e através de camadas muito resistentes (na qual não seria
possível a cravação de uma pré-moldada). Podem oferecer ainda valores de capacidade de carga mais
elevados que as pré-moldadas. A qualidade das estacas moldadas no solo depende muito da habilidade
da equipe executora. Podem ser:

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- Escavadas sem auxílio de revestimento ou fluido estabilizante
A escavação se dá com um trado (manual ou mecânico). É executada acima do lençol freático.

- Strauss
Insere-se um tubo de revestimento por percussão, ou por escavação do interior do tubo com
uma piteira. Atingida a cota desejada, enche-se o tubo com cerca de 75 cm de concreto úmido é
apiloado na medida em que se retira o tubo. O procedimento é repetido até se atingir a cota de
arrasamento.

Figura 2. Método de execução de estacas Strauss.

Vantagens: Ausência de trepidação; Facilidade de locomoção dentro da obra; Possibilidade de


verificar corpos estranhos no solo; Execução próxima à divisa.
Cuidados: Quando não se conseguir esgotar água do furo não deve ser executada; Na presença
de argilas muitos moles e areias submersas; para a retirada do tubo

- Franki
Crava-se um tubo e derrama-se nele uma quantidade de areia e brita que é socada por um pilão
de 1 a 4 ton. Sob os golpes do pilão, a mistura de brita e areia forma na parte inferior do tubo uma
bucha estanque, cuja base penetra ligeiramente no terreno e cuja parte superior, energicamente
comprimida contra as paredes do tubo, arrasta-o por atrito no seu afundamento. A bucha impede
entrada de solo e água no tubo.

Figura 3. Esquema de execução de estacas Franki.

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Terminada a cravação do tubo, se expulsa a bucha para execução da base alargada. Para isso o
tubo é levemente levantado enquanto que com golpes do pilão a bucha é expulsa. Introduz-se concreto
seco para formação da base alargada, insere-se a armadura e concreta-se o fuste.
Um aspecto negativo deste tipo de fundação são as excessivas vibrações impostas à vizinhança,
tendo sido desenvolvidos métodos alternativos de execução por conta disso.

- Estacas raiz
Para perfuração utiliza-se sistema rotativo com circulação de água, que permite a colocação de
um tubo provisório até a ponta da estaca.
Terminada a perfuração, introduz-se a armadura.
A concretagem é feita com argamassa de areia e cimento, bombeada por um tubo até a ponta da
estaca. À medida que a argamassa sobe pelo tubo de revestimento, esse é retirado e são dados golpes
de ar comprimido que adensam a argamassa e promovem contato com o solo.

Figura 4. Execução de estacas tipo raiz.

- Microestacas
O processo de execução de microestacas é o seguinte:
Para a perfuração usa-se o processo rotativo com circulação de água ou lama bentonítica.
Quando necessário – caso de areias fofas e argilas moles – coloca-se um tubo de revestimento
provisório.
Depois de perfurado insere-se a armadura. Esta pode ser constituída de uma gaiola de
vergalhões ou um tubo de aço munido de válvulas expansíveis de borracha (manchetes), através dos
quais se injeta calda de cimento sob pressão.
Para a injeção, numa primeira etapa preenche-se o espaço entre as paredes do furo e o tubo de
injeção com calda de cimento, formando uma bainha que impede o fluxo à superfície. A segunda etapa
consiste na injeção de calda de cimento sob pressão (até 2 MPa) através de válvulas manchetes, uma a
uma. Após a série de injeções procede-se ao enchimento do tubo de injeção com argamassa ou calda
de cimento.

- Hélice contínua
Consiste de um trado em hélice de grande comprimento fixada a um tubo por onde é inserido o
concreto.
A perfuração é feita pela hélice até que atinja a profundidade requerida. Em seguida injeta-se
concreto à medida que a hélice vai sendo retirada. Durante a retirada da hélice o solo deslocado é
trazido à superfície.
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Figura 5. Execução de estacas tipo hélice contínua.

A pressão do concreto deve garantir que todos os vazios do solo sejam preenchidos. A
concretagem é levada até um pouco acima da cota de arrasamento e ao seu fim é inserida a armadura,
em geral com 4 metros de comprimento, abaixo da superfície. Em caso de estacas submetidas a
esforços de tração ou carregamento horizontal, a ferragem pode ser inserida à cotas maiores.
Estacas hélice contínua permitem o controle da execução. O equipamento informa ao longo do
processo de execução dados como: pressão do concreto, velocidade de subida, pressão de torque,
velocidade de rotação, velocidade de avanço.
- Diâmetros de 0,275m a 1,20m;
- Comprimentos de até 33m, em função da torre;
- Executada abaixo do NA;
- Tempo de execução de estaca de 0,40m de diâmetro e 16m de comprimento em torno de
10min (escavação e concretagem).
- Não ocasiona vibração no terreno

- Ômega
Semelhante a estaca hélice contínua, porém difere no fato de que o formato da hélice não
provoca a retirada de material do furo, e sim desloca o solo para as laterais, o que eleva muito a
capacidade de carga por acréscimo do atrito lateral.

Figura 5. Execução de estacas ômega.

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- A carga admissível pode chegar a 2000 kN.
- Diâmetros de 0,31m a 0,66m;
- Comprimento em função da torre (até 33m);

- Tubulões
São elementos de fundação profunda, construídos concretando-se um poço (revestido ou não)
aberto no terreno, geralmente dotado de base alargada.
Diferenciam-se das estacas porque em sua etapa final é necessária a descida de um operário
para completar a geometria ou fazer a limpeza. Deve-se evitar trabalho simultâneo em bases alargadas
de tubulões, cuja distância, seja inferior ao diâmetro da maior base.
Quando é necessário executar abaixo do NA utiliza-se o recurso do ar comprimido.

Figura 6. Características geométricas de tubulões

2.3. Características técnicas de algumas estacas pré-moldadas disponíveis no mercado

Tipo de estaca Dimensão (cm) Carga usual (kN) Carga Max. (kN) Obs.
Pré-moldada vibrada, de 20x20 250* 350 Disponíveis até 12m.
concreto armado, quadrada, 25x25 400* 550
maciça. 30x30 550* 800
σ=6 a 10 MPa 35x35 800* 1000
Pré-moldada vibrada, de φ 22 300 400 Disponíveis até 10m.
concreto armado, circular com φ 25 450 550 Furo central a partir
furo central φ 29 600 750 do φ 29cm.
σ=9 a 12 MPa φ 33 700 800
Pré-moldada vibrada, de φ 20 300 350 Disponíveis até 12m.
concreto armado φ 25 500 600 Podem ter furo
σ=10 a 14 MPa φ 33 800 900 central.
Pré-moldada centrifugada, de φ 20 250 300 Disponíveis até 12m.
concreto armado φ 26 400 500 Com furo central
σ=10 a 14 MPa φ 33 600 750 (ocas) e paredes de 6
φ 42 900 1150 a 12cm.
φ 50 1300 1600
φ 60 1700 2100
Nota: *obras sem controle de cravação por ensaios estáticos ou dinâmicos.

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2.4. Características técnicas de algumas estacas moldadas in loco.

Tipo de estaca Dimensão (cm) Carga usual (kN) Carga Max (kN) Obs.
Escavadas circulares, sem φ 20* 100 120 * estacas broca
revestimento ou fluido φ 25* 150 200
estabilizante φ 30* 200 250 Não são indicadas
σ=3 a 5 MPa φ 60* 1000 1400 abaixo do N.A.
Escavadas com φ 60 1100 1400 Escavação estabilizada
revestimento ou fluido φ 80 2000 2500 com lama ou camisa de
estabilizante φ 100 3100 3900 aço.
σ=3 a 5 MPa φ 120 4500 5600
φ 25 150 200 Não são indicadas em
Strauss φ 32 250 350 argilas muito moles e
σ=3 a 4 MPa φ 38 350 450 abaixo do N.A.
φ 45 500 650
φ 17 250 300 Diâmetro acabado:
φ 22 400 500 dimensão + 3cm.
Raiz
φ 27 600 700
σ=11 a 12,5 MPa
φ 32 850 1000
φ 37 1200 1400
Hélice φ 40 600 800 Comprimento de até
σ=5 a 6 MPa φ 60 1400 1800 33m.
φ 80 2500 3000
φ 100 4000 4700

3. Capacidade de carga em estacas (métodos estáticos)

3.1. Métodos aplicados a tubulões

3.1.1. Método empírico

N SPT
σ adm = + q (MPa) para 5 < NSPT < 20
50

Onde:
NSPT: é a média de valores de NSPT na profundidade 2B abaixo da base do tubulão (B=base do tubulão)
ou o valor de NSPT na base quando este é o menor contido pelo bulbo.
q: é a tensão efetiva aplicada na cota do tubulão.

3.1.2. Métodos semi-empíricos

a) Aoki e Velloso
qc K ⋅ N SPT
σ rup = =
F1 F1

Onde:
qc: resistência de ponta do cone;
NSPT: média de valores de NSPT na profundidade 2B abaixo da base do tubulão (B=base do tubulão);
F1: coeficiente de transformação adimensional. Para estacas escavadas (é o caso dos tubulões, F1=3);
K: coeficiente que depende do tipo de solo (Ver método Aoki e Velloso para estacas em geral).

σ rup
σ adm =
FS
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Segundo recomendação dos autores do método, para determinação da tensão admissível de fundações
profundas o FS=2.

b) Decourt e Quaresma

σ rup
σ rup = α ⋅ C ⋅ N SPT σ adm =
4
Onde
α = a um coeficiente de redução;
C = a um fator característico do solo;
NSPT = média de valores de NSPT na profundidade 2B abaixo da base do tubulão (B=base do tubulão).

3.2. Métodos semi-empíricos para estacas em geral

A capacidade de carga de uma estaca é dada por duas parcelas: atrito lateral (Rℓ) e resistência
de ponta (Rp).

Rl = f s Al = rl Al
R p = σ rup Ap = rp Ap
Rrup = Rl + R p
Onde:
Aℓ = área lateral da estaca;
Ap = área da ponta da estaca;
ƒs = resistência de atrito lateral;
σrup = tensão de ruptura na ponta da estaca;

a) Aoki e Velloso (1975)

A resistência de ponta é dada por:

qc K ⋅ N ⋅ Ap
Rp = =
F1 F1

A resistência por atrito lateral é dada por:

f α .qc U n
Rl = c =
F2 F2
=
F2
∑ (α .K .N .Δl)
1
l

Onde
qc – resistência da ponta do ensaio de cone;
Ap – área da seção transversal da ponta da estaca;
F1 e F2 – fatores de transformação que englobam o tipo de estaca e o efeito de escala entre a estaca
(protótipo) e o cone do CPT (modelo);
α – fator que correlaciona a resistência lateral ƒs com a resistência de ponta qc;
K – fator de correção entre qc e o índice à penetração (NSPT);
N – índice de resistência a penetração (NSPT).
U – perímetro da estaca

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Valores de K e α aplicados ao método de Aoki e Velloso
Tipo de solo K (MPa) α (%)
Areia 1,00 1,4
Areia siltosa 0,80 2,0
Areia silto-argilosa 0,70 2,4
Areia argilosa 0,60 3,0
Areia argilo-siltosa 0,50 2,8
Silte 0,40 3,0
Silte arenoso 0,55 2,2
Silte areno-argiloso 0,45 2,8
Silte argiloso 0,23 3,4
Silte argilo-arenoso 0,25 3,0
Argila 0,20 6,0
Argila arenosa 0,35 2,4
Argila areno-siltosa 0,30 2,8
Argila siltosa 0,22 4,0
Argila silto-arenosa 0,33 3,0

Valores de F1 e F2 aplicados ao método de Aoki e Velloso


Tipo de estaca F1 F2
Franki 2,5 5,0
Metálica 1,75 3,5
Pré-moldada de concreto 1,75 3,5
Escavada 3,0 6,0
Hélice / Raiz / Ômega 2,0 4,0

b) Décourt e Quaresma (1978)

A carga de ruptura é dada por:

Rrup = R p + Rl

A carga admissível é definida conforme expressão abaixo. Para este método recomenda-se
utilizar um FSP=4,0 e FSL=1,3.

Rp Rl
Radm = +
FS p FS l

A carga de ponta fica:


R p = rp Ap = C .N p . Ap

Onde Np é a média entre o valor correspondente à ponta da estaca, o imediatamente anterior e o


imediatamente posterior.

A carga por atrito lateral é dada por

n
Rl = U ∑ (rl .Δl)
1

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⎛ Nl ⎞
Onde: rl = 10⎜ + 1⎟ (kPa)
⎝ 3 ⎠
Na determinação de Nℓ:
Se NSPT< 3 assume-se N=3
Se NSPT>50 assume-se N=50

Onde:
Rp – resistência de ponta;
Rℓ – resistência de atrito lateral;
C – fator característico do tipo de solo;
Np – resistência a penetração SPT na ponta da estaca;
Nℓ – resistência a penetração SPT na lateral da estaca;
U – perímetro da estaca.

Fatores característicos do solo “C” (Décourt & Quaresma, 1978).


Tipo de Solo C (kPa) C* (kPa)
Argilas 120 100
Silte argiloso (solo residual) 200 120
Silte arenoso (solo residual) 250 140
Areia 400 200
* Estacas escavadas com lama bentonítica.

Décourt (1996) introduziu os coeficientes α e β na fórmula de capacidade de carga para


permitir a utilização do método para outros tipos de estacas. Para as estacas cravadas α=β=1.

Rrup = α .R p + β .Rl

Valores típicos de α em função do tipo de estaca e do tipo de solo.


Tipos de Estacas
Tipo de solo Escavada em Escavada Hélice Raíz Injetada sob
geral (bentonita) contínua altas pressões
Argilas 0,85 0,85 0,30* 0,85* 1,0*
Solos intermediários 0,60 0,60 0,30* 0,60* 1,0*
Areias 0,50 0,50 0,30* 0,50* 1,0*
* valores obtidos a partir de reduzido números de casos.

Valores típicos de β em função do tipo de estaca e do tipo de solo.


Tipos de Estacas
Tipo de solo Escavada em Escavada Hélice Raíz Injetada sob
geral (bentonita) contínua altas pressões
Argilas 0,80* 0,90* 1,0* 1,5* 3,0*
Solos intermediários 0,65* 0,75* 1,0* 1,5* 3,0*
Areias 0,50* 0,60* 1,0* 1,5* 3,0*
* valores obtidos a partir de reduzido números de casos.

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Curiosidade
Por ocasião do Second European Symposium on Penetration Test (ESOPT II), realizado em
Amsterdã, Holanda, em 1982, promoveu-se um concurso internacional para previsão da capacidade
de carga de um elemento isolado de fundação.
Uma estaca foi cravada próximo do local do evento, e dos mais de 700 congressistas, apenas
25 se candidataram ao desafio, recebendo, como antecedência, os resultados da investigação
geotécnica completa do terreno, incluindo diversos ensaios in situ (SPT, CPT, etc.) e de laboratório,
além das informações sobre a estaca e sua cravação.
Durante o congresso realizou-se a prova de carga, encontrando-se a carga de ruptura de
1200kN. Concluiu-se que a melhor previsão apresentada foi a do Engenheiro Luciano Décourt, 1180
kN, que utilizou o método Décourt e Quaresma (1978), ou seja, apenas os dados do SPT.

3.3. Provas de carga sobre estacas

A NBR 6122/2010 cita provas de carga como um dos métodos para estimativa da capacidade
de carga de estacas. No meio geotécnico as provas de carga são tidas como o método mais confiável de
avaliação de desempenho, devido à dificuldade de modelar o mecanismo de interação solo-estaca.
A execução de provas de carga sobre estaca é normalizada pela NBR 12131/1992. O esquema
de execução de prova de carga sobre estaca é o seguinte:

Viga de Reação

Macaco Hidráulico

Relógio
comp. Viga de
referência

Tirante

Estaca

Figura 7. Arranjo de equipamentos para ensaios de prova de carga estáticas sobre estacas.

3.3.1. Execução de Provas de carga (Ensaio lento)

- A prova de carga deverá ser executada até a ruptura ou duas vezes a carga admissível prevista para a
estaca;
- O carregamento é feito em estágios iguais, e a carga aplicada em cada estágio não deve ser superior a
20% da carga de trabalho prevista para a estaca ensaiada;
- Em cada estágio a carga deve ser mantida até a estabilização dos deslocamentos e, no mínimo, por 30
min;
- Em cada estágio os deslocamentos devem ser lidos imediatamente após a aplicação da carga
correspondente, seguindo-se de leituras decorridos 2min, 4min, 8min e 30min, contados a partir do
início do estágio e posteriormente a cada 30min, até se atingir a estabilização;

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- A estabilização dos deslocamentos é determinada através da avaliação do desempenho da curva
tempo x deslocamento, quando o recalque entre duas leituras for inferior a 5% do recalque total já
ocorrida no estágio;
- A carga máxima da prova de carga deverá ser mantida por no mínimo 12 horas;
- O descarregamento poderá ser efetuado em estágios de 25% da máxima carga aplicada;
- Após o descarregamento total, as leituras dos deslocamentos devem continuar até a sua estabilização.

Determinação da carga de ruptura

Rrup
D RL
Carga Δr = +
30 AE
D/30
Δr – recalque de ruptura
convencional;
D – diâmetro da estaca;
R – carga de ruptura
convencional;
L – comprimento;
A – área da seção da estaca;
E – módulo de elasticidade
da estaca.
Recalque

O módulo de elasticidade deve ser obtido segundo ensaio descrito na ABNT NBR 8522, sendo
considerado nesta Norma o módulo de deformação tangente inicial cordal a 30% fc,ou outra tensão
especificada em projeto. Quando for o caso, é esse o módulo de elasticidade a ser especificado em
projeto e controlado na obra. Possibilita, na ausência de ensaios, estimar:
Ec = 5600 ⋅ fck 0,5

Segundo a NBR 6122/2010 o FS aplicado à carga de ruptura determinada por prova de carga,
para obtenção da carga admissível é 1,6.

3.4. Considerações sobre escolha das cargas admissíveis

1) A NBR 6122/2010 tem uma prescrição especial para estacas escavadas: a carga admissível não deve
ultrapassar 1,25 vezes a capacidade de carga de atrito lateral, ou seja.

σ adm ≤ 1,25Rl
Onde:
σadm – carga admissível da estaca.
Rℓ - Carga devida exclusivamente ao atrito lateral na ruptura

2) Em tubulões concretados com revestimento é comum desprezar o atrito lateral. No caso de tubulões
executados sem revestimento deve-se, no entanto, utilizar parte da resistência por atrito lateral. Do
contrário ter-se-ão estimativas muito conservadoras para a capacidade de carga dessas fundações.

3) A resistência por atrito lateral deve-ser desprezada em estacas cravadas em argilas moles e tomadas
medidas que visem eliminar a ocorrência de atrito negativo.

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4. Capacidade de carga em estacas (métodos dinâmicos)

Embora não recomendado, os métodos dinâmicos podem ser aplicados na determinação de


capacidade de cargas. Contudo a teoria do choque tem sido utilizada com respaldo como ferramenta
bastante útil no monitoramento do estaqueamento, para determinação da nega de estacas.

4.1. Fórmula de Brix

Pm ⋅ h Pm ⋅ Pe
Prup = ⋅
e (Pm + Pe )2
Prup
Pt =
FS

FS=5

4.2. Formula dos Holandeses

Pm ⋅ h Pm
Prup = ⋅
e Pm + Pe
Prup
Pt =
FS

FS= 10 para martelo de gravidade


FS=6 para martelo a vapor

Onde:
Prup – carga de ruptura;
Padm – carga admissível;
h – altura de queda;
Pm – peso do martelo;
Pe – peso da estaca;
e – nega.

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5. Recalques em estacas

Segundo Poulos e Davis (1980) o recalque de uma estaca é dado por:

PI
ρ=
Es B
Onde:
E p ⋅ Ra
I = I 0 ⋅ Rk ⋅ Rh ⋅ Rv ⋅ Rb K=
Es
ρ – recalque;
P – carga aplicada;
I – Produto dos fatores de correção;
Es – módulo de elasticidade do solo;
B – diâmetro da estaca;
Bb – diâmetro da base da estaca;
Eb – módulo de elasticidade do solo resistente em que a estaca se apóia;
K – fator de rigidez da estaca em relação ao solo;
Ep – módulo de elasticidade da estaca;
Ra – razão entre a área da seção transversal estrutural da estaca e área do círculo externo (para estacas
maciças Ra=1);
υ – coeficiente de Poisson.
P

L
B
h
Es = Módulo de elasticidade
do solo
νs = Coef. Poisson

Camada rígida
Eb = Módulo de elasticidade do solo da base

Figura 8. Parâmetros para cálculo de recalque em estacas.

Para estimar o módulo de elasticidade do solo Poulos e Davis (1980) sugerem:

Solo Consistência/compacidade E υ
Mole E 0,4
200 < < 400
Argila Média Su 0,3
Rija 0,15
Fofa 27 – 55 MPa
Areia Medianamente compacta 55 – 70 MPa 0,3
Compacta 70 – 110 MPa

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Embora menos usual, pode-se avaliar o recalque em argilas saturadas com parâmetros elásticos
para a condição não-drenada:
υ=0,4 a 0,5
Eu/Su = 400 a 500 (pequenas deformações, alto FS)
Eu/Su = 100 (grandes deformações, próximo à ruptura)

O módulo de elasticidade da estaca (Ep) pode ser adotado como:


Ep concreto = 21000 a 28000 MPa
Ep aço = 205000 MPa
Ep madeira = 13600 MPa (eucalipto)

O Fator de correção “I” é dado pelo produto do fator de influência de recalque (I0), dos fatores
de correção pela compressibilidade da estaca (Rk), para a espessura finita do solo compressível (Rh),
para o coeficiente de Poisson (Rυ) e para a base ou ponta em solo mais rígido.

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Figura 9. Ábacos para obtenção dos fatores de correção para cálculo de recalques em estacas.

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6. Atrito Negativo

O fenômeno designado atrito negativo ocorre geralmente quando estacas são cravadas através
de aterros recentes, construídos sobre solos compressíveis, com suas pontas assentes em solos
competentes, isto é, relativamente incompressíveis e de elevada resistência ao cisalhamento. Nesse
caso poderá ocorrer recalque de parte do solo circunscrito às estacas, invertendo a tendência natural,
que é a de recalque das estacas com relação ao solo estável circunvizinho.
As principais causas são:
• Adensamento de uma camada de solo devido à aplicação de uma sobrecarga (Aterro);
• Rebaixamento do lençol freático;
• Adensamento da camada de argila devido à cravação de estacas. (neste caso o atrito negativo
tem valores reduzidos);
• Colapso de solos.

Aterro

Solo Mole

Solo Resistente

Solo Muito Resistente


Figura10. Esquema de ocorrência de atrito negativo.

Sabe-se que a capacidade de carga de uma fundação (Qt) é dada por Qp+QL. Supõe-se que a
capacidade de carga por atrito lateral é dada por duas parcelas QL1 e QL2, e que QL2 é passível de sofrer
inversão de valor.
Nesse caso QL1 não apenas deixa de atuar como parcela resistente, mas também passa a atuar
como esforço solicitante. Então:

Qt=Qp + QL1 - QL2

Alguns procedimentos podem ser adotados para reduzir o atrito negativo:


• Pré-carregar a camada compressível antes da instalação das estacas.
• Eliminação do contato direto do solo com a estaca, instalando as estacas após a cravação de
tubo de maior diâmetro.
• Pintura da superfície da estacas com mistura betuminosa especial. Esta pintura deve ser feita
com uma técnica que garanta que a mesma não seja removida durante a cravação.
• Utilizar estacas tronco-cônicas com a menor seção voltada para baixo de modo que a camada
de solo ao recalcar se descole do fuste

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Pode-se avaliar o atrito negativo utilizando-se os métodos de capacidade de carga de Decourt e
Quaresma e Aoki e Velloso, por exemplo.

7. Estacas carregadas transversalmente

Quando uma estaca é submetida a uma carga horizontal, ela irá mover-se aproximadamente na
direção da força aplicada, se for curta e fixa no seu topo, ou então girar em torno de um ponto, até que
o empuxo de terra seja mobilizado a ponto de a condição de equilíbrio ser satisfeita.
A capacidade de carga lateral é atingida quando o empuxo de terra chega ao seu limite superior
ou quando a estaca quebra por flexão.
Praticamente todas as fundações são submetidas a algum tipo de esforço horizontal. Na maioria
dos casos a magnitude desses esforços é, no entanto, pequena quando comparada às cargas verticais a
que essas fundações estão submetidas. Esses esforços são facilmente assimiláveis, sem que nenhuma
medida especial tenha que ser adotada.
Porém, quando uma estaca é submetida a um carregamento horizontal de magnitude
significativa, as tensões normais irão aumentar no lado oposto ao da aplicação da carga, e decrescer no
outro lado. A um certo estágio do carregamento, uma fenda irá abrir-se atrás da estaca e o solo da
frente da estaca irá romper, como uma cunha.
A estimativa de cargas de ruptura horizontal de estacas é realizada por métodos iterativos,
envolvendo procedimentos mais complexos.

8. Efeito de grupo em estacas

No projeto de fundações profundas é comum a utilização de mais de uma estaca para suportar
as cargas aplicadas à fundação, sendo empregados então grupos de estacas.
Grupos de estacas são aplicados quando:

• Pilares transmitem cargas superiores à suportada por uma única estaca;


• A capacidade de carga do solo não possibilita a transmissão do carregamento através de apenas
uma estaca;
• Ocorrem cargas laterais, excentricidade ou momentos fletores que necessitam ser combatidos.

Figura11. Esquema de ocorrência de ruptura de fundação por efeito de grupo.


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Segundo De Mello (1969), a cravação de estacas em argila provoca perturbações no entorno da
estaca até uma distância de 1,5 a 2,0 diâmetros.
Em areias, o solo no entorno da estaca é normalmente densificado por ação dos deslocamentos
impostos e pelas vibrações geradas pela cravação.
Deve-se para o dimensionamento seguro de grupos de estacas calcularo fator de eficiência do
grupo que é dado por:

Qgrupo
η=
∑Q individual

Se η<1 então Q(G)ult = η∑Qult;


Se η≥1 então Q(G)ult = ∑Qult;

A eficiência normalmente é igual a 1 para grandes espaçamentos, e reduz com a diminuição do


espaçamento. Para estacas que tem capacidade apenas pela ponta, considera-se a eficiência igual a 1
para todos os espaçamentos. Em estacas que trabalham também por atrito lateral os efeitos de grupo na
capacidade de carga são bastante pronunciados.

Figura 11. Esquema de ocorrência de grupos de estaca.

8.1. Cálculo da eficiência (η) em grupos de estaca

8.1.1. Estacas em argila

Converse-Labarre
A eficiência de um grupo de estacas pode se calculada por:

η = 1− ξ ⋅
[(n − 1) ⋅ m + (m − 1) ⋅ n]
m ⋅ n ⋅ 90
⎛d ⎞
ξ = arctan⎜ ⎟
⎝s⎠
Onde:
n – nº de colunas de estacas; m – nº de linhas de estacas; d – diâmetro da estaca e s – espaçamento
entre estacas.

Regra de Feld

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De acordo com este método a capacidade ultima de uma estaca se reduz em 1/16 para cada
diagonal adjacente a fila de estacas. A estaca A possui 8 estacas adjacentes, a estaca B possui 5 e a
estaca C possui 3. Montando a tabela tem-se:

Tipo Nº de estacas Estacas adjacentes Fator de redução Q ultima


A 1 8 1-(8/16) 0,5 Qu
B 4 5 1-(5/16) 2,75 Qu
C 4 3 1-(3/16) 3,25 Qu
∑6,5 Qu

Qg ( u ) 6,5Qu
η= = = 72%
∑Q u 9Qu

Segundo de Mello (1969), uma maior eficiência de grupos nestas condições é obtida quando:
• Razão L/D é pequena
• Grande espaçamento entre estacas
• Poucas estacas nos blocos

Para espaçamentos da ordem de 2,5Ø a 4Ø a eficiência varia entre 0,7 e 0,85.

8.1.2. Estacas em areia

A quantidade de informação disponível acerca do efeito de grupo em areias é menor que em


argilas. Sabe-se que frequentemente em areias η pode ser superior a 1, exceto em areias compactas.
Vesic mediu a eficiência de grupos de forma a separar resistência de ponta e atrito lateral. Quando η se
torna superior a 1, isso se da por ação do atrito lateral, tendo a ponta pouca influência. Maiores η são
obtidos para espaçamento < 2Ø a 3Ø, sendo o intervalo “ótimo” 1,3Ø < e <2Ø.
Para estacas trabalhando sob atrito lateral em areias, Das (2001) propõe a seguinte equação
simplificada para determinação da resistência de grupo.

⎡ 2 ⋅ (m + n − 2 ) ⋅ s + 4 ⋅ D ⎤
Qg ( u ) = ⎢
p⋅m⋅n ⎥ ⋅ ∑ Qu
⎣ ⎦

Onde:
n – nº de colunas de estacas; m – nº de linhas de estacas; s – espaçamento entre estacas (de centro a
centro); D – diâmetro das estacas; p – perímetro das estacas.

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Referências Bibliográficas

ALONSO, U. R. Exercícios de fundações. São Paulo: Edgard Blücher, 2000. 202p.


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8044. Projeto Geotécnico. 1983.
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estática. 1991.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13208. Estacas – Ensaio de
carregamento dinâmico. 1994.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e execução de DAS,
B.M., Principios de Ingeniería de Cimentaciones. International Thomson Editores. Mexico D.F., 2001.
HACHICH, W. Fundações – teoria e prática. 2.ed. PINI, São Paulo, 1996.
POULOS, H.G., DAVIS, E.H. Pile Foundation Analysis and Desing. Rainbow-Bridge Book Co.
Sydney, 1980.
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SCHNAID, F. Notas de aula – disciplina de fundações, PPGEC – UFRGS.
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TOMLINSON M.J., Pile Desing and Construction Practice, fourth edition. E & FN Spon. New York,
1994.
VELLOSO, D. A.; LOPES, F.R. Fundações, Vol. 2. Oficina de Textos, São Paulo, 2009.

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