Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DISCIPLINA:
CENÁRIO E FIGURINO
PROFESSORA:
BEATRIZ TREVISAN
- “Os povos necessitam da moda para sua estabilidade mental. (...) Entendem-
se por moda os costumes, os hábitos, os trajos, a forma do mobiliário e da casa (...);
contudo, é a moda do trajo que mais forte influência tem sobre o homem, porque é
aquilo que está mais perto de seu corpo e seu corpo continua sempre sendo a parte
do mundo que mais interessa ao homem.” (Carvalho, 1956)
O que é coleção?
Quando se fala em moda, logo agente pensa naquela modelo magrinha na passarela.
Nos desfiles, as tops, os estilistas e os maquiadores formam o cenário do espetáculo.
São profissões importantes, mas não são tudo quando se pensa no mercado de
trabalho na área. Longe dos holofotes, tem muito a ser feito por gente como você.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções, a Abit, a
indústria da moda ocupa o segundo lugar no ranking de empregadores do Brasil. São
cerca de 1,4 milhão de pessoas nas confecções, indústrias têxteis e lojas. "O mercado
está crescendo rápido", diz George Homer, professor da FIT (Fashion Institute of
Technology), em Nova York. "Se eu tivesse 17 anos hoje, diria que uma faculdade de
engenharia têxtil seria uma ótima opção", diz Marcia Drysdale, gerente de RH da
Rhodia. "Mas tem que gostar". Veja onde você se encaixa nas quatro grandes áreas
do mercado.
Desenvolve a idéia e coordena tudo que envolve um desfile. Precisa saber dirigir uma
equipe grande (luzes, técnicos, modelos, costureiras, maquiadores) para que tudo seja
feito no tempo certo e sem erros. Não existe formação específica para a atividade. Em
geral, os cargos são ocupados por profissionais que fizeram teatro, cinema ou TV.
Função de quem cuida dos detalhes do evento - som, iluminação, organização dos
participantes, platéia, infra-estrutura dos bastidores etc.
MODELO
MAQUIADOR
PRODUTOR DE MODA
FIGURINISTA
FOTÓGRAFO DE MODA
EDITOR DE MODA
JORNALISTA DE MODA
ASSESSORIA DE IMPRENSA
ENGENHEIRO TÊXTIL
Passa para o papel a idéia de uma roupa e procura as soluções técnicas para
desenvolver a peça. Concluída esta fase, faz a prova e os ajustes e passa o molde
para produção. É um trabalho que exige muita precisão e, hoje em dia, grande
experiência na área técnica, já que os dados de uma peça aprovada são processadas
em computador, que faz a transposição para os diversos tamanhos.
CONSULTORIA
VAREJO:
GERENTE DE LOJA
VENDEDOR DE LOJA
As lojas sofisticadas dos shopping centers e das grifes famosas trouxeram um novo
status à vendedora. Dispondo de treinamento constante, elas aprendem a se
comportar, a se vestir e a interpretar o perfil do cliente. São preparadas para atuar
como consultoras, indicando o produto adequado em vez de empurrá-lo.
Profissional de Moda
Depois de quase ter ido à lona com a concorrência dos produtos asiáticos nos anos 1990, a
indústria têxtil e de confecção nacional viu que não basta competir com os preços. É preciso
investir naquilo que os produtos importados não têm: estilo próprio.
Essa lição, aprendida a duras penas, tem aberto espaço para os profissionais de moda no
Brasil.
O analista econômico Carlos Bastos observa que, em moda, muitas vezes é mais competitivo
quem consegue vender produtos mais caros, diferenciados pelo estilo e design. Investir em
profissionais de criação, portanto, é essencial para o setor.
A segmentação das empresas de moda de acordo com públicos-alvos, dividido por “tribos”,
faixa etária, estilo de vida, etc, obriga que modelos de roupas e acessórios sejam criados e
recriados o tempo todo, exigindo mais profissionais.
Segundo Máslova Valença, assessora do Senac e co-autora do livro A moda no século XX, “a
área têm sido impulsionada pela valorização social do novo”. As modas duram cada vez
menos, expandindo o mercado de trabalho para quem cria para esse público sedento de
novidades.
De acordo com análise da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as pequenas e médias empresas,
que em 2004 respondiam por 98% das confecções no Brasil, estão se profissionalizando
rapidamente, demandando profissionais preparados para as exigências do mercado.
As confecções, antes concentradas no Sudeste, estão se espalhando pelo país, abrindo vagas
em todas as regiões do Brasil, com destaque para o Nordeste.
Apesar da evolução, esse mercado só não tem crescido mais por conta de fatores como a
concorrência com produtos asiáticos, a informalidade de boa parte empresas, a irregularidade
do mercado interno e a pirataria, que desestimulam o investimento na criação.
MERCADO DIVERSIFICADO
Se você deseja trabalhar no setor de moda, saiba o seguinte: o campo de atuação é imenso. O
profissional dessa área encontra trabalho em toda a cadeia de produção e comércio de roupas
e acessórios, como bolsas, sapatos e jóias.
Embora o estilista, ou seja, o criador do estilo e modelos das coleções de roupas, seja a figura
mais celebrada pela mídia, o campo de atuação dos profissionais de moda vai muito além dos
ateliês.
Uma das especializações de quem trabalha nessa área é a de modelista. Esse profissional tem
a tarefa de dar forma aos esboços do estilista, criando os moldes que serão usados pelas
costureiras para cortar o tecido e confeccionar as peças.
Analisando o comportamento do público-alvo e do mercado, o profissional de moda também é
contratado pelas indústrias, confecções e magazines para afinar suas coleções aos gostos do
consumidor e desenvolver campanhas de marketing.
As grandes lojas ainda contam com especialistas em moda em seus departamentos de
compras, orientando os investimentos das empresas.
Na indústria têxtil e confecções, eles podem cuidar da escolha de matérias-primas e participar
da pesquisa e desenvolvimento de novos materiais e técnicas de produção.
O profissional de moda ainda encontra trabalho na criação e produção de desfiles e outros
eventos, vitrines, exposições, figurinos em teatro, tevê e cinema, fotografias para revistas,
catálogos e anúncios - vagas que surgem com freqüência, mas costumam ser temporárias.
Outro campo é a consultoria pessoal, como personal stylist, que orienta o cliente a compor o
visual mais adequado conforme seu físico e estilo de vida.
A moda também se alimenta da busca pelo diferenciado. Clientes interessados em produtos
exclusivos formam um mercado muito mais reduzido, mas que dá oportunidade para criadores
autônomos com seus próprios ateliês e confecções.
É o caso de Sônia Paschoalick, estilista e proprietária de uma confecção especializada em
moda íntima, cujo diferencial é a produção de lingeries sob medida.
Ela oferece produtos sob medida para suas clientes, que podem acertar com a estilista cada
detalhe dos modelos que vestirão.
“Minhas clientes adoram, muitas não encontram nas lojas lingeries que fiquem bem nelas, e,
mesmo pagando mais pela exclusividade, elas são fiéis e fazem muita propaganda entre as
amigas. Além de ser bom para o negócio, me dá satisfação como criadora”, diz Sônia,
ressaltando as vantagens.
Por outro lado, ninguém pode saber se uma nova marca vai vingar, ou quanto tempo e
investimento serão necessários até conseguir reconhecimento e retorno financeiro. Tantas
incertezas, além do mercado restrito e concorrência intensa, são obstáculos para os quais os
empreendedores têm que considerar.
A FORMAÇÃO
A variedade de ocupações na área de moda reflete-se nas opções oferecidas pelas escolas.
Cursos técnicos, tanto em nível médio como superior, além de habilitações e pós-graduações
em cursos de desenho industrial ou comunicação, surgem como opções para quem quer se
formar na área.
Segundo Máslova, do Senac, cada curso costuma dar ênfase a um dos aspectos da profissão,
como estilismo, modelagem e negócios, variando o peso das disciplinas conforme a habilitação
em foco.
Os cursos com ênfase na modelagem, por exemplo, reforçam técnicas de criação de moldes e
montagem das peças de vestuário, desenho técnico, conhecimento dos tecidos e
desenvolvimento do produto.
Nos cursos voltados para o estilismo, a ênfase é dada ao processo criativo, e disciplinas como
desenho de moda, planejamento de coleções, pesquisa e história da moda têm mais espaço.
Matérias como criação de padronagem têxtil, produção de eventos, gestão e marketing de
moda, empreendedorismo, legislação, joalheria e fotografia também fazem parte do currículo
de algumas escolas.
Os salários iniciais são muito variáveis. Há recém-formados ganhando de R$ 700 a R$ 2.500,
conforme a ocupação, região e porte da empresa.
http://www.klickeducacao.com.br/2006/conteudo/pagina_vestibular/0,6414,IGP-614-
,00.html
Moda e estilo
Introdução a uma estética da moda
Renata Pitombo Cidreira
Resumo: A recepção e a produção são dois aspectos da problemática estética que vamos
tentar explorar neste ensaio, enfatizando sobretudo o aspecto da produtividade, com a
contribuição de autores como Luigi Pareyson (1993, 1989) da mesma forma que pretendemos
enfatizar a aproximação entre estético e artístico, a partir das considerações de John Dewey
(1974). Certamente que outros autores nos guiarão na tentativa de explicitar a associação
emblemática entre recepção e produção na moda, sobretudo por conta da dimensão de
artisticidade presente neste fenômeno.
A exposição Shoes, de 147 pares de sapato da estilista britânica Vivienne Westwood (criadora
do estilo punk na moda) chamou a atenção de milhares de espectadores durante a24ª São
Paulo Fashion Week (SPFW), que ocorreu entre 17 e 21 de janeiro, no espaço da Bienal, em
São Paulo. Além da exposição, cerca de 40 desfiles, das mais renomadas marcas, integraram
esta edição do evento que mostrou as tendências para o inverno de 2008, sob o tema
“Diversidade e o lugar do indivíduo em meio à confusão do dia-a-dia nos grandes centros”.
Muitos foram os flashs, e os espaços ocupados pela SPFW nos mais variados meios de
comunicação: revistas, blogs, portais, jornais, telejornais... enfim, todos tiveram em suas pautas
a cobertura deste grande evento de moda do país. E muitos foram aqueles que tomaram
conhecimento das novas tendências para o inverno 2008. Mesmo os mais refratários aos
assuntos da toilette foram atingidos, de algum modo, pela moda. É assim que pelo menos duas
vezes ao ano, através de grandes eventos de lançamento, a moda se torna tema e objeto de
atenção.
Para dar conta do problema global da recepção no âmbito da moda, deveremos levarem
consideração os fenômenos relacionados ao gosto (PARRET) e aos mecanismos de distinção
social que operam no plano imaginário (BOURDIEU). Faremos isso oportunamente. Nesta
comunicação, contudo, mesmo sem deixar de reconhecer que recepção e produção são dois
aspectos indissociáveis da problemática estética, privilegiaremos a produção, tendo em vista o
plano profissional e industrial, mas investigando também o papel de uma certa produtividade
cotidiana, presente nas próprias práticas de consumo.
O estético e o artístico
Como sabemos, o termo estética vem do grego aísthesis que significa sensação, sensibilidade.
A idéia de sensibilidade, por sua vez, acolhe tanto a sensação, que remete a uma condição
individual, quanto o sentimento, que pressupõe uma adesão comunitária. Desde já nos
defrontamos, portanto, com uma situação ambígua, na medida em que envolve um modo de
ser “afetado” que é individual, mas quer ser partilhado.
A partir dos anos 60, essa discussão ganha novos contornos com o desenvolvimento dos
meios de comunicação e os produtos oriundos da chamada cultura de massa e a ‘estética da
comunicação’ passa a ser incorporada na tentativa de compreensão desses produtos. Como
observa Monclar Valverde, nesse registro podemos encontrar pesquisas fundadas na crítica ao
imaginário e à ideologia, análises inspiradas na semiologia, na semiótica, na teoria da
informação, nos estudos culturais, na psicanálise, bem como abordagens sobre as novas
condições de recepção tendo em vista as poéticas baseadas nos meios de comunicação. Em
todas elas, ressalta o autor, o aspecto estético é negligenciado. Por isso mesmo é preciso não
apenas analisar esses produtos e criticá-los, mas encarar a relação da problemática estética
com a experiência ordinária.
(...) uma estética da comunicação deve ser algo mais amplo do que o estudo
das interações verbais ou a análise poética das ‘linguagens’
contemporâneas.(...) O que se exige, portanto, é o desenvolvimento de um
modo de abordagem em que os aspectos pragmático, plástico, semântico e
sócio técnico sejam igualmente considerados, segundo os padrões da
experiência contemporânea”(VALVERDE, 2003, p.9).
Do nosso ponto de vista, reivindicar o espaço do cotidiano como terreno para a experiência
estética significa apenas reconhecer a amplitude que a constitui, qual seja, o fato de que a
estética não diz respeito apenas a uma ciência do belo ou a uma filosofia das artes, como
determinou Baumgarten (quando cunhou a estética enquanto disciplina), mas que ela diz
respeito a nossa sensibilidade e, portanto, ao nosso corpo, a nossa percepção. Podemos
experimentar o sublime, o êxito, a consumação no nosso dia-a-dia e nâo apenas em situações
extraordinárias... É disso que Dewey parece falar.
A distinção que ele estabelece entre o estético e o artístico, no texto “Tendo uma experiência”,
é bastante significativa e nos auxilia a não conceber o estético como sinônimo de artístico,
embora percebendo as aproximações entre ambos. O autor observa que, em geral, a arte
envolve um processo de fazer, de operar, uma intervenção sobre uma materialidade física. “Já
a palavra ‘estética’ refere-se (...) à experiência enquanto apreciativa, perceptiva e agradável.
Denota o ponto de vista do consumidor, mais do que do produtor” (1974, p.256).
No entanto, pondera ele, essa distinção não implica uma separação, pois a perfeição na
execução necessita daqueles que percebem e gozam o produto executado; o produtor só
concebe sua obra como finalizada quando se põe na condição de espectador. É nesse sentido
que Dewey afirma: “a arte une as mesmas relações de fazer e padecer” (id., ibid., p.257).
É nesse sentido que Pareyson, na sua teoria da formatividade, insiste em enfatizar o processo
e não o resultado da obra. Ao acentuar a relação entre o artista e sua arte, o autor ilumina o
fato de que, ao produzir, o autor produz também seu modo de produzir, seu estilo, num diálogo
constante com a matéria prima. Nessa perspectiva, o artista desce do pedestal da pura
inventividade e assume também a condição de padecimento, ao se deixar conduzir pela obra.
Ao associar-se à filosofia de Dewey, que se preocupa com o caráter uno de toda experiência
completa, Pareyson, assim como ele, enfatiza justamente o processo artístico como algo
orgânico, cuja trajetória inclui gestação, incubação, nascimento, crescimento, maturação. Nas
palavras do autor: “A obra inclui em si o processo da sua formação no próprio ato que o
conclui, e o processo artístico consiste precisamente no acabar, no levar a termo, no fazer
amadurecer: em suma, no perficere” (id., ibid., p. 147).
Moda e artisticidade
Quando o estilista Issey Miyake apresenta, em 1963, em seu espetáculo “A Poem of Cloth and
Stone”, a vestimenta como ‘criação visual’ e ‘ferramenta funcional’, reintroduz a questão: moda
é arte? Muitos estilistas afirmam que sim, mas alguns insistem em dizer que não. Diante de tal
polêmica, considera-se que talvez a resolução do problema passe por um deslocamento do
ponto de vista, que deve pôr em relevo uma outra questão: existe na moda uma dimensão de
artisticidade?
Por muito tempo, descartou-se a possibilidade de se pensar a moda como um campo artístico,
devido ao argumento de que antes de tudo a moda é algo da ordem do funcional, servindo para
cobrir o corpo. Ora, esta é uma objeção muito reducionista, pois já se demonstrou que o
funcional também pode ser criativo e, porque não, artístico. Em Mode et Société (1992),
Quentin Bell argumenta que muitos dos seus contemporâneos rejeitavam sua preocupação em
pensar certos artigos da moda como arte, acionando um discurso pautado na funcionalidade,
em contraposição à pura contemplação.
Assim, a figura do costureiro não tinha muito reconhecimento unânime, apesar de ser
endeusada por alguns. Na prática, o que se observa é que, desde o final do século XIX, o
costureiro ocupa um espaço cada vez mais importante. E sua importância só tende a crescer.
A partir dos anos 70, com a proliferação do prêt-à-porter, o personagem criador-estrela é
reforçado através da mídia, numa tentativa de recuperar um certo ‘glamour’ em torno do
universo da moda, que havia sido relativizado com a queda do poderio da Alta Costura.
Acreditamos que uma forma interessante de tentar responder a esta questão é adotar a
perspectiva de Luigi Pareyson (1989, 1993) que reconhece a arte como uma atividade
formativa. Dizer, pois, com Pareyson, que a arte é formatividade, é reconhcer que ela é
invenção, sim, mas um tipo de inventividade que floresce no próprio ato de execução, no
contato com a matéria prima, como assinalamos anteriormente. O artista produz, assim,
concomitantemente, a obra e o seu próprio modo de produzir, ou seja, seu estilo. Nesse
sentido, toda atividade em que se dá a produção do seu modo de produção deve ter
reconhecida uma qualidade artística, uma artisticidade.
O fato de reconhecer a especificidade da arte (que é ser “formatividade pura”) não nos autoriza
a desconsiderar que existe uma dimensão de artisticidade nas atividades humanas em geral. É
o que acentua essa passagem de Pareyson:
Se as coisas são assim, podemos facilmente reconhecer uma certa dimensão de artisticidade
em muitos empreendimentos tanto da Alta Costura como do prêt-à-porter, sem falar das
customizações feitas pelo próprio usuário, ainda que elas respondam, também, a imperativos
funcionais.
Em “Cortar é pensar: arte & moda”, o crítico de arte Germano Celant procura evidenciar a
artisticidade presente na criação e produção da moda. Seu argumento tem como foco central o
próprio ato de cortar, seja um papel (em se tratando de um molde), seja um tecido. Segundo o
autor, o golpe de tesoura marca uma superfície que gera uma realidade; o corte dá significado
e seu uso une artista e fotógrafo, designer e costureiro, pois cada um deles recorta uma forma
no magma dos materiais: sejam elas tintas e bronze, película, tecido, lãs, metais, tela ou
madeira. O autor defende, ainda, que o corte é a alma do vestir e do vestuário. “Talha o fio
infinito de uma veste como simples contentor e retrato da figura humana, transformando-o em
ato criativo, em linguagem construtora de novos objetos” (CELANT apud CERON & REIS,
1999, p. 170). Ele nos convida a visualizar as iniciativas que corroboram sua visão, afirmando:
A roupa, com Judith Shea e Rosemarie Trockel, com Jana Sterbak e Jan
Fabre, torna-se um engenho inquietante, autômato e manequim, estátua e
máquina, figura de sonho e pesadelo, simulação delirante e cenografia
paranoico-crítica. Já com Charles Le Dray, Oliver Herring, Wiebke Siem e
Beverly Semmes transforma-se em vetor de um impulso fantástico e fascinante
que reativa a lógica sonhada do vestuário como jogo e prazer, vida e
espetáculo, máscara e
travestimento (id.,ibid., p.176).
A criação de Miyake revela uma dupla preocupação: por um lado procura produzir as imagens
a partir dos corpos que a vestimenta cobre e, por outro, introduz a imagem da figura e do corpo
humano sobre a vestimenta (a esse respeito, o tecido – material ou suporte da roupa – pode
ser definido como um plano esculpido, projetado sobre um volume em movimento no espaço).
Observa-se, assim, uma intensa necessidade do estilista em sublinhar que a moda refere-se,
sobretudo, ao corpo. A moda aparece, desse modo, como uma espécie de exercício de
interpretação do corpo, e enquanto tal pode ser apreendida como uma representação do
presente e mesmo uma re-apresentação do corpo presente.
Amplitudes de volumes que deixam espaços vazios entre o corpo e a roupa, simplicidade
moderna de formas desestruturadas, cores clássicas como brancos, cinzas e pretos, bem como
cores luminosas e elétricas e os famosos plissados são as marcas do estilista que soube e
continua a atender as necessidades do homem cosmopolita.
Quando Miyake depara-se com as formas e dinâmicas corporais e o diálogo entre o corpo e a
roupa, investindo em pesquisas de novos materiais, explorando as possibilidades do tecido e
de suas tessituras, e exibindo seu processo de criação e produção, ele descobre e aprimora
seu modo de formar. E o exibe através de um estilo inconfundível, capaz de integrar de forma
harmoniosa expressividade e funcionalidade. “Eu quero mostrar o processo e permitir que o
próprio usuário participe dele”, afirma.
Reconhecer o processo formativo do criador de moda é uma conquista. Mas não podemos
esquecer que também o consumidor contemporâneo tem a possibilidade de “produzir”,
executar seu próprio look.
Hoje fala-se de consumo ativo, refletido, no qual o binômio preço/qualidade se revela como um
dos critérios, ao lado de uma vontade lúcida e lúdica de singularidade. Como observa
Christiane Mesquita (2006), “esta é uma época em que é possível definir a moda com frases
como ‘a gente é quem faz a moda’ ou ‘a moda não é roupa, é atitude’. O consumidor sente-se
liberto das amarras das tendências e das marcas” (p.142).
Esse processo vem se insinuando desde a década de 60, mas ganha certa radicalidade com a
customização. Como nos relata a jornalista Érika Palomino (1999), a customização apareceu
como reação à entediante logomania de fins da década de 90, quando tudo o que importava
era a marca da grife. Vivia-se, assim, a glorificação do status e de uma moda calcada em
ícones de riqueza.
A customização, palavra oriunda da expressão inglesa custom made, que significa “feito sob
medida”, aparece justamente por conta da impossibilidade de se consumir marcas e, portanto,
da vontade de brincar de “trabalhar” as peças, bordando, aplicando acessórios em busca de
um look único. O verbo to customize significa “fazer ou mudar alguma coisa de acordo com as
necessidades do comprador”.
Referências Bibliográficas
BELL, Quentin. Mode et Société: essai sur la sociologie du vêtement. 2ª ed. Trad. Isabelle
Bour. Paris: Presses Universitaires de France, 1992.
CELANT, Germano. Cortar é pensar: arte & moda In: PRADILHA, Céron; REIS, Paulo. Kant:
crítica e estética na modernidade. São Paulo: Editora Senac SP, 1999.
CIDREIRA, Renata Pitombo. Os Sentidos da Moda. São Paulo: Annablume, 2005.
DEWEY, John. A Arte como experiência In: Os Pensadores. Trad. Murilo Leme. São Paulo:
Abril S.A. Cultural e Industrial, 1974.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Pequenas crises: experiência estética nos mundos cotidianos In:
GUIMARÃES, César; LEAL, Bruno e MENDONÇA, Carlos (Organização). Comunicação e
experiência estética. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2006.
ISSEY MIYAKE MAKING THINGS. Paris: Fondation Cartier pour l’art contemporaine, 1999.
LIPOVETSKY, Gilles e ROUX, Elyette. O Luxo Eterno: da idade do sagrado ao tempo das
marcas. Trad. Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
MESQUITA, Christiane. A liquidação do estilo ou o luxo de gaguejar na própria língua In:
KATHIA, Castilho e VILLACA, Nízia (Organizacao). O Novo Luxo. São Paulo: Editora Anhembi
Morumbi, 2006.
Profissão: cool hunter
Caçar tendências. Detectar o que as pessoas vão querer antes de todo mundo
imaginar. Essa é a premissa básica para ser um cool hunter. Para isso, é preciso
informação (não muita, mas a informação certa), pesquisa, e um certo dom para
adivinhação.
E que função é essa? Ir às ruas, bares, clubs, se infiltrar no lifestyle dos jovens e intuir
se um produto que uma grande empresa irá lançar dará certo. Tem como função
também, informar às empresas como despertar o desejo daquele público e que tipo de
estratégia de marketing vai “pegar” o mercado de vez. A Apple, por exemplo, antes de
lançar um produto, manda amostras para blogueiros influentes para testar seus
produtos. Isso mostra que o tipo de marketing está mudando, mas já é uma outra
conversa.
Enfim, ele tem que saber se um produto será atraente daqui a 5 anos, com base em
pesquisas e sabendo de todas as novas tecnologias e manias que surgirão no
mercado. Um cool hunter tem que sempre estar à frente de seu tempo.
“O cool hunter é, acima de tudo, uma pessoa bem informada, atenta, curiosa e
sensível, capaz de raciocinar de forma não linear e com base em informações
desestruturadas. Recomendo a leitura do livro Reconhecimento de Padrões (Willian
Gibson), cuja protagonista, Cayce Pollard, exerce essa nobre profissão.” diz Flávio
Ferrari, diretor executivo do IBOPE.
Wiliam Gibson mostra que o futuro é aqui e agora
Por: Eduardo Fernandes
Reconhecimento de Padrões (Pattern Recognition) é o mais recente livro de William
Gibson. O livro apresenta uma evolução temática do autor, conhecido como um dos
pais do cyberpunk e da ficção científica contemporânea, no abandono da fantasia e
aproximação do real. Esqueçam as viagens interplanetárias. A grande viagem agora é
intro e essa realidade paralela (virtual) é totalmente mediada. Turn on, jack in, drop
out.
Cayce Pollard é uma "cool hunter", consultora de publicidade que tem por objetivo
andar pelas ruas e detectar o "cool" que vem delas, as novas tendências em moda,
linguagem, costumes que surgem das ruas e da cultura marginal com objetivo de
sistematizá-las e informar aos publicitários o que está pegando. Ela também tem uma
sensibilidade especial no que tange às marcas. É alérgica a marcas globais e tem o
"poder" de definir se uma marca vai pegar ou não. A situação muda de figura quando
ela é contratada para descobrir e achar o autor de uma série de vídeos underground
que surgem na internet, que é visto pelo seu contratante Bigend (um jovem publicitário
mega hypado) como "the next big thing" e como uma excelente estratégia de
divulgação ao se tornar objeto de culto internético mundo afora.
Londres, Tóquio, Moscou. Estilo impressionista, narrativa proustiana. Gibson pincela
sua visão do mundo contemporâneo e cria uma série de coadjuvantes e ações que
apresentam uma visão crua, porém fantástica de uma cultura que se transformou em
commodity, onde as marcas, a publicidade e a comerciabilidade de idéias e pessoas
se tornou moeda corrente. Um mundo reificado e transformado em logotipo que sufoca
a protagonista.
As ações laterais são mais interessantes do que as ações verticais. Os pequenos
personagens, como o pai perdido no 11 de setembro, o artista tecnológico que
pretende fazer uma instalação com Spectruns ZX81(TK 80 para nós brasileiros) em
rede, a designer de chapéus que recebe cachê para fazer publicidade boca a boca na
noite de Londres, o ex-espião que mora num trailer park, o diretor de publicidade que
vai fazer documentário e sua bimbo russa, as amizades virtuais que raramente se
concretizam, os plutocratas russos e um parceiro ex-dotcommer. Todos eles são
ingredientes do caldo em Reconhecimento de Padrões.
Reconhecimento de Padrões é uma das raras traduções do Gibson para a língua
portuguesa no Brasil. Neuromancer e Idoru já foram publicados por aqui. Gibson
costuma escrever trilogias, vamos esperar para ver se vem mais dois por aí.
Os caçadores do cool
The coolhunters
Isleide A. Fontenele
RESUMO
ABSTRACT
Tais mudanças podem ser tomadas como tendo forte influência na maneira
como se formataram as pesquisas de mercado de tendências culturais a
partir da década de 1990. Na verdade, essa forma de pesquisa "de
tendências" surgiu desde os anos 1970 a partir de uma constatação do
mercado: "às profundas transformações que passam a ocorrer, a partir do
final dos anos 1960, grosso modo, nos países capitalistas avançados... liga-
se a consciência crescente, no âmbito dos estudos de mercado, da
importância das chamadas variáveis sociais e, particularmente, das
socioculturais, para a determinação dos estilos de vida e padrões de
consumo dos agentes sociais", Goldenstein (1990, p. 3).
O concorrente à altura do "L Report" é o relatório "Hot Sheet" criado por Irma
Zandl, considerada, do ponto de vista do formato do negócio, a fundadora do
negócio coolhunting. Zandl foi a criadora do termo "consumidor alfa" e,
desde 1986, se dedica à tarefa de caçar tendências jovens, algo que
começou intuitivamente, pois ela afirma que desde o início ela sabia se algo
se tornaria cool, mas não sabia como ela sabia disso. Daí porque Zandl
montou a sua empresa e passou a buscar informações mais concretas,
inventando um modo novo de analisar tendências e criando com isso toda
uma indústria. Hoje, ela administra um grupo de 3.000 jovens, entre 8 e 24
anos, etnicamente, geograficamente e com gênero diversificados que, com
uma Polaroid na mão, e um questionário na outra, saem em busca do cool.
Mas Lee aponta outro fator: uma mudança tecnológica, com o boom da
internet, que "deu a esses jovens um poder no interior da família, de
tornarem-se os chefes tecnológicos de suas casas, está havendo um reforço
no conceito de individualidade no interior desta cultura: são jovens que são
pensadores originais, mas que não tiveram essa parte de suas
personalidades aceitas pelo mundo em geral" (embora, contraditoriamente,
um conceito genérico de juventude seja o paradigma por excelência para
todo um mercado de consumo baseado no conceito de ser jovem). Segundo
Lee, os jovens contemporâneos são otimistas, contrários ao pensamento
adulto de que são angustiados, que odeiam coisas e que são obcecados
com coisas como o que ocorreu em Columbine. E elas também os acham
muito educados, usando a internet para se educarem desde questões
políticas até como cozinhar. Por isso, Gordon e Lee consideram que há
grande esperança e criatividade. E elas dizem que começaram a perceber
isso acontecendo já há alguns anos, quando todos achavam que os jovens
só assistiam a MTV e elas perceberam que eles estavam interessados em
educar-se, acessando canais mais educativos como o Discovery, em busca
do que estava acontecendo de novo. E, ainda segundo elas, isso não
significa que eles também não busquem entretenimento, eles apenas
provam que nós não podemos separar as coisas e unidimensionar as
pessoas jovens.
Portanto, mais do que uma forma de pesquisa sobre que produtos e serviços
a lançar, a caçada ao cool é uma maneira de compreender o que e como
comunicar. Não por acaso, há uma relação profunda entre a idéia de cool e
de marca publicitária, tendo em vista a força que a marca tem em comunicar
um produto e o quanto o melhor dos produtos pode ser descartado em
função de uma marca ser considerada "não cool". Como exemplo, Gladwell
(1997) narra um episódio relacionado à marca de tênis Reebook, que
passou a ser preterida pelos jovens do mundo inteiro em função da
ascensão da Nike. Ele nos conta que um dos jovens entrevistados sobre um
novo tênis Reebook teria dito que o tênis era realmente cool e que gostaria
de usá-lo, se ele não tivesse a marca da Reebook.
Segundo a leitura de Gordon; Lee (2001), "não é que esses jovens odeiem
todo o mercado, todo o marketing e toda a mídia. É que eles sabem o que
está sendo vendido, eles sabem tudo sobre marketing. Eles foram
crescendo com a desconstrução da propaganda. E o que precisa ser feito é
se criar algum tipo de conexão emocional com eles, onde eles possam estar
interessados e eles respeitem você e sejam respeitados. E o desrespeito
que geralmente ocorre é fruto de um entendimento muito superficial dessa
cultura – de tomá-los como consumidores estúpidos. Mas a verdade é que
eles querem honestidade, autenticidade da companhia. Não se trata apenas
de vender o produto, mas estabelecer com eles um diálogo de longo tempo".
E a busca por esses espaços alternativos está chegando a tal ponto que as
fronteiras entre o coolhunter e o publicitário estão se diluindo absurdamente.
Não por acaso, os coolhunters já estariam selecionando jovens
representativos de seu nicho, que são pagos para convencer, através da
propaganda boca a boca, um outro número significativo de jovens pessoas a
comprar certos produtos. Essa prática estaria sendo utilizada baseada na
crença de que as pessoas jovens acreditarão em outras pessoas jovens,
mais do que na mídia (Marisa, 2002).
Tal fato guarda uma relação muito próxima com o que tem sido praticado
como "marketing oculto", uma nova técnica de comunicação de um produto
que parte do princípio de que está cada vez mais difícil alcançar a atenção
do consumidor através do anúncio tradicional. Devido a isso, as agências de
publicidade da Madison Avenue têm desenvolvido uma forma de
apresentação do produto de maneira que não provoque resistência no
possível consumidor, simplesmente porque ele não sabe que se trata de
uma abordagem do mercado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Venho pensando há muito tempo sobre o que vem a ser tendência. Já ouvi diversas
pessoas falando, já tive uma definição na minha cabeça, já li a respeito, mas eu
mesmo não sei afirmar o que é. Além de, obviamente, ter um lado subjetivo.
Já ouvi falar que tendência é tudo aquilo que um dia irá virar moda, ou seja, que um
dia todos, ou pelo menos a maioria, irão usar. Por exemplo, tem uma banda que é
muito boa, mas poucos conhecem. Só uma pequena galera escuta e conhece o setlist
dessa banda. É isso que faz deles uma tendência? Não, o que pode fazer deles uma
tendência é modo como eles se vestem, o ritmo de música que eles tocam ou até
mesmo o comportamento deles. O que faz deles tendência, é o diferente, o novo. Logo
tendência é o novo, o diferente, o inovador.
Quando abordamos o mundo da moda, vide Fashion Weeks da vida, a mesma coisa.
Estilos de roupas, cortes, que serão usados na próxima temporada. A mesma coisa
com as cores, sei lá como, os estilistas, decoradores e sei lá mais quem determina
qual será a cor da próxima temporada. Até uma vez, fazendo campo, entrei em uma
loja de decoração e a mulher falou para a consumidora: “olha esse amarelo-chá, vai
ser a cor da moda”. Eu nem sabia o que era amarelo-chá, como ainda não sei. Agora
além do diferente, chegamos que tendência é aquilo que as pessoas irão desejar um
dia.
Quando abordamos cinema, podemos achar outro ponto de tendência. O ano passado
A Pequena Miss Sunshine foi tendência. Talvez pela forma, pelo roteiro, pela
adaptação simples da história e foi o que aconteceu com o Juno esse ano. Entretanto,
filmes nesses moldes já foram feitos antes, afinal já vivemos em uma época na qual
não existiam efeitos especiais e coisas do tipo. O que foi apontado como tendência já
foi feito antes, ou seja, ela pode ser algo que voltou a ser legal.
Outro dia precisava enviar para Nova Iorque tendências sobre publicidade. Fiquei
horas pensando o que seria tendência em publicidade. Pensei um pouco e respondi:
interatividade, brand experience (experiência de marca) e consumidor como gerador
de conteúdo (user generated content, para quem quiser linguagem de publicitário). E
depois de ter enviado, fui encarregado a tabular e vi coisas como: aumento do número
de anúncios com ícones nacionais, aumento do número de anúncios com
“pagodeiros”, brand experience, marcas criando serviços para o consumidor e por aí
vai. Enfim tudo que vi, já está sendo usado e com certa freqüência. Resumindo, fiquei
confuso.
Junto com um amigo, comecei a discutir e chegamos à conclusão que tendência em
publicidade é aquilo que as pessoas estão fazendo, mas que não saturou ainda. Mais
um ponto para tendência, tudo aquilo que está sendo feito e que as pessoas
continuam aderindo, ou seja, não necessita ser diferente, nem inovador. O quero dizer,
o fato de a Ivete Sangalo estar sendo muito utilizada, é tendência.
Cheguei a algumas conclusões: tendência como algo inovador e diferente, tendência
como algo aspiracional, tendência como algo “reutilizado” e tendência como algo que
está em uso. E até mesmo tendência como um conjunto de tudo isso, seja englobando
todos esses pontos, alguns deles, ou até mesmo uma evolução a partir deles.