Você está na página 1de 8

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0000080049

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Remessa Necessária nº


1001330-60.2018.8.26.0268, da Comarca de Itapecerica da Serra, em que é apelante
ESTADO DE SÃO PAULO e Recorrente JUÍZO EX OFFICIO, é apelada GISLENE DE
OLIVEIRA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 12ª Câmara de Direito Público


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao
reexame necessário e ao recurso de apelação, V. U., de conformidade com o voto do
relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores J. M. RIBEIRO DE


PAULA (Presidente) e EDSON FERREIRA.

São Paulo, 11 de fevereiro de 2019.

Osvaldo de Oliveira
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO N.º 28.062


COMARCA: ITAPECERICA DA SERRA
APELAÇÃO CÍVEL N.º 1001330-60.2018.8.26.0268
REEXAME NECESSÁRIO
APELANTE: FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
APELADA: GISLENE DE OLIVEIRA
INTERESSADA: DIRIGENTE REGIONAL DE EDUCAÇÃO DA
DIRETORIA DE ENSINO DE ITAPECERICA DA SERRA E REGIÃO
Juiz de Primeira Instância: Filipe Mascarenhas Tavares

APELAÇÃO CÍVEL MANDADO DE SEGURANÇA


Professora de Educação Básica II, admitida com base na Lei
Estadual n.º 500/74 Licença para tratamento de saúde Redução
da carga horária e respectivos vencimentos Inadmissibilidade
Aplicável ao funcionário admitido pela Lei Estadual n.º 500/74 as
regras pertinentes aos servidores públicos (artigos 25, inciso II, e
26) Legislação Estadual que assegura ao servidor licença para
tratamento de saúde remunerada e manutenção da carga horária
originariamente atribuída Exegese do artigo 191 da Lei Estadual
n.º 10.261/68 e artigo 91 da Lei Complementar Estadual n.º 444/85
Segurança concedida Confirmação da sentença Reexame
necessário e recurso de apelação não providos.

Trata-se de mandado de segurança impetrado por Gislene de


Oliveira em face do Dirigente Regional de Educação da Diretoria de Ensino
de Itapecerica da Serra e Região, no qual alega que é professora da rede
pública estadual, contratada nos termos da Lei Estadual n.º 500/74. Afastou-
se em auxílio doença em junho de 2015 e ainda não regressou às atividades
laborativas. Mesmo com afastamentos ininterruptos e contínuos, em seu
demonstrativo de pagamento percebeu que houve redução de sua jornada de
trabalho, com consequente prejuízo salarial. Requer, inclusive em sede
liminar, a manutenção de sua carga horária, bem como dos vencimentos

Apelação / Remessa Necessária n.º 1001330-60.2018.8.26.0268 - Itapecerica da Serra - Voto n.º 28.062 2
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

enquanto perdurar a sua licença-saúde de forma contínua, anulando o ato


administrativo que reduziu a sua carga horária e os vencimentos durante o
gozo da aludida licença. Por fim, pleiteia a concessão dos benefícios da
justiça gratuita (fls. 01/07).

A segurança foi concedida (fls. 87/88), a fim de anular o ato


administrativo que reduziu a carga horária da impetrante, bem como seus
vencimentos, mantendo-os iguais aos da época em que fora concedida a
licença. A autoridade impetrada deverá arcar com o pagamento das custas e
despesas processuais. Não houve condenação em honorários advocatícios.

A Fazendo do Estado interpôs recurso de apelação (fls. 92/95),


alegando, em síntese, que a impetrante estava afastada do serviço público por
ocasião da atribuição de aulas para o ano letivo de 2018. Dessa forma, não
obteve aulas atribuídas, ficando apenas com a carga horária mínima
obrigatória, que é denominada “horas de permanência”, ou seja, doze aulas
semanais, totalizando sessenta horas mensais. Ademais, as licenças não são
contínuas desde 2015, ao contrário do quanto alegado pela impetrante. Não se
vislumbra direito líquido e certo da apelada, uma vez que sua carga horária
docente foi concretizada com a nova realidade advinha do ano letivo 2018
(fevereiro), juntamente com o encerramento do período de licença-saúde
ocorrido em 26/02/2018, nos termos do artigo 13, § 2.º, da Resolução SE n.º
72/2016. Pleiteia o provimento do presente recurso e, por conseguinte, a
reforma da sentença impugnada para que a ordem mandamental seja
denegada.

Com apresentação de contrarrazões (fls. 100/107), pelo


desprovimento ao recurso interposto.

Apelação / Remessa Necessária n.º 1001330-60.2018.8.26.0268 - Itapecerica da Serra - Voto n.º 28.062 3
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

É o relatório.

A impetrante é servidora pública estadual, vinculada à Secretaria


da Educação, admitida nos termos da Lei Estadual n.º 500/74, exercendo a
função de Professora de Educação Básica II.

A partir de 2015, afastou-se diversas vezes de suas atividades


laborativas em virtude de licenças-saúde que lhe foram concedidas. Estava
com 175 (cento e setenta e cinco) horas-aula mensais atribuídas. Entretanto,
em fevereiro de 2018, mesmo ainda afastada, sua carga horária foi reduzida
pela Administração Pública para o equivalente a 60 (sessenta) horas-aula
mensais de trabalho.

Inconformada, impetrou o presente mandamus, alegando ser


absolutamente ilegal o ato de redução de aulas perpetrado pela autoridade
impetrada.

E razão lhe assiste.

Há que se considerar, primeiramente, que os comandos


constitucionais (tanto o federal como o estadual) estenderam aos admitidos
sob o regime da Lei Estadual n.º 500/74 todos os direitos e deveres
assegurados aos demais servidores.

A propósito, dispõe o artigo 191 do Estatuto dos Funcionários


Públicos Civis do Estado de São Paulo (Lei Estadual n.º 10.261/68):

Artigo 191 Ao funcionário que, por motivo de saúde, estiver


impossibilitado para o exercício do cargo, será concedida
licença, mediante inspeção em órgão médico oficial, até o
máximo de 4 (quatro) anos, com vencimento ou remuneração.
Apelação / Remessa Necessária n.º 1001330-60.2018.8.26.0268 - Itapecerica da Serra - Voto n.º 28.062 4
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

A Lei Estadual n.º 500/74, que instituiu o regime jurídico dos


servidores admitidos em caráter temporário, ao tratar das licenças, assegura a
concessão de licença para tratamento de saúde (artigo 25, inciso II), bem
como a aplicação da legislação em vigor para os funcionários públicos civis
do Estado (artigo 26).

O Estatuto do Magistério Paulista (Lei Complementar Estadual


n.º 444/85), por sua vez, dispõe que as horas-aula e/ou horas-atividade que o
docente deixar de prestar em virtude de gozo de licença-saúde serão
consideradas para efeitos de pagamento:

Artigo 91 Consideram-se efetivamente exercidas as horas-aula


e/ou horas-atividade que o docente deixar de prestar por motivo
de férias escolares, suspensão de aulas por determinação
superior, recesso escolar, e de outras ausências que a legislação
considere como de efetivo exercício para todos os efeitos legais.

Parágrafo único As horas-aula e horas-atividade que o docente


deixar de prestar, em virtude de licença concedida para
tratamento de saúde, considerar-se-ão exercidas para fins de
pagamento e, para os efeitos de incorporação aos cálculos dos
proventos.

Conforme demonstrado, o Estatuto dos Funcionários Públicos


Civis do Estado de São Paulo (artigo 191) e a Lei Estadual n.º 500/74 (artigos
25 e 26) estabelecem ao servidor o direito à licença para tratamento de saúde,
sem prejuízo da percepção dos respectivos vencimentos.

É oportuno ressaltar que a Administração Pública está


intimamente adstrita ao princípio da legalidade, consoante expressa
Apelação / Remessa Necessária n.º 1001330-60.2018.8.26.0268 - Itapecerica da Serra - Voto n.º 28.062 5
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

disposição constitucional (artigo 37, caput), não lhe sendo franqueada a


possibilidade de agir fora de seus limites, sob pena de anulação ou
invalidação do ato administrativo.

Além disso, a sua atuação discricionária atrela-se aos parâmetros


e limites que a lei determina. Na hipótese vertente, a apelada, afastada em
razão de licença-saúde, recebeu normalmente por anos, até que sofreu
diminuição na carga horária atribuída.

A Administração Pública não poderia ter diminuído sua carga


horária, como fez, independentemente da contratação ter sido efetuada em
caráter precário e transitório ou de nova atribuição de aulas.

Não há de se cogitar na proibição de se alterar o número de aulas


atribuídas, conforme o processo aberto para tal fim, mas na harmonização
desse sistema com os direitos do servidor em licença-saúde, nos termos da
legislação vigente. Nesse contexto, até o término de seu afastamento para
tratamento de saúde, legitimamente conferido e prorrogado pela
Administração Pública, as aulas atribuídas à apelada não podem ser alteradas,
mormente porque se mantém o vínculo funcional inicial.

Ademais, na vigência da licença-saúde, o vínculo funcional não


pode ser rompido, porque o gozo deste benefício, com a correspondente
percepção dos vencimentos, é direito conferido aos servidores admitidos sob
a égide da Lei Estadual n.º 500/74.

Nesse sentido, já decidiu esta Corte de Justiça:

APELAÇÃO. Mandado de Segurança. Licença Saúde. Redução


de vencimentos. 1. Professora de Educação Básica II-F, admitida
sob a então vigente Lei n.º 500/74. Redução de sua carga horária

Apelação / Remessa Necessária n.º 1001330-60.2018.8.26.0268 - Itapecerica da Serra - Voto n.º 28.062 6
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

face ao gozo de licença saúde. Inadmissibilidade. 2. Intelecção


do art. 191 do Estatuto dos Funcionários Públicos civis do
Estado de São Paulo e art. 91 do Estatuto do Magistério Paulista.
Resolução SE 90/2005 que não possui o condão de estabelecer
regra diversa da prevista em lei diante da prevalência da força
normativa da lei. Precedentes desta Corte. Sentença concessiva
da segurança. Manutenção. Remessa necessária e recurso
voluntário não providos, com observação.

(TJSP; Apelação 1040318-19.2018.8.26.0053; Relator


(a): Oswaldo Luiz Palu; Órgão Julgador: 9.ª Câmara de Direito
Público; Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes 15.ª Vara da
Fazenda Pública; Data do Julgamento: 07/12/2018; Data de
Registro: 07/12/2018);

Apelação cível Reexame Necessário Mandado de segurança


Servidora Pública Estadual Professora de Educação Básica I
Redução salarial em vista da concessão de licença-saúde
Inadmissibilidade Remuneração garantida pelos valores do
momento do afastamento Aplicação do artigo 191 da Lei n.º
10.261/689 e 91 da LCE n.º 444/85 Sentença de procedência
que será mantida. Recursos improvidos.

(TJSP; Apelação/Remessa Necessária


1020621-12.2018.8.26.0053; Relator (a): Eduardo Gouvêa;
Órgão Julgador: 7.ª Câmara de Direito Público; Foro Central -
Fazenda Pública/Acidentes 15.ª Vara da Fazenda Pública; Data
do Julgamento: 26/11/2018; Data de Registro: 26/11/2018);

SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. Professor de Educação


Básica II. Redução salarial ante a concessão de licença médica
Impossibilidade. Preservação de seus vencimentos pelo número
de aulas que possuía antes da licença. Observância dos artigos
191 da Lei n.º 10.261/68 e 91 da LCE n.º 444/85. Sentença de
procedência mantida. RECURSO DESPROVIDO.

(TJSP; Apelação 1005248-81.2017.8.26.0438; Relator (a): Isabel


Cogan; Órgão Julgador: 12.ª Câmara de Direito Público; Foro de
Penápolis 2.ª Vara; Data do Julgamento: 22/06/2018; Data de
Registro: 22/06/2018);

Funcionalismo Mandado de segurança Mantença da carga

Apelação / Remessa Necessária n.º 1001330-60.2018.8.26.0268 - Itapecerica da Serra - Voto n.º 28.062 7
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

horária anterior ao afastamento por licença-saúde, preservando-


se os vencimentos Suposta interrupção da licença pelo período
de dois dias que corresponde ao final de semana Razoabilidade
da referida descontinuidade diante dos burocráticos trâmites
administrativos para a prorrogação Redução dos vencimentos
indevida, ainda que o docente não tenha participado da sessão de
atribuição de aulas Inteligência artigo 91 da Lei 444/85 e 191
da Lei 10.261/68 Precedentes deste E. Tribunal Concessão da
ordem mantida Recurso e reexame necessário desprovidos.

(TJSP; Apelação 1002261-97.2017.8.26.0268; Relator (a): Souza


Meirelles; Órgão Julgador: 12.ª Câmara de Direito Público; Foro
de Itapecerica da Serra 3.ª Vara; Data do Julgamento:
28/01/2018; Data de Registro: 28/01/2018).

Este Relator já teve oportunidade de apreciar a matéria: Apelação


Cível n.º 1013060-74.2016.8.26.0224 Guarulhos 12.ª Câmara de Direito
Público j. 14.02.2018.

Pelas razões acima expendidas, conclui-se que o decisum


impugnado deve ser prestigiado em sua integralidade.

Diante do exposto, nega-se provimento ao reexame necessário e


ao recurso de apelação interposto pela Fazenda Pública do Estado de São
Paulo.

OSVALDO DE OLIVEIRA
Relator

...

Apelação / Remessa Necessária n.º 1001330-60.2018.8.26.0268 - Itapecerica da Serra - Voto n.º 28.062 8

Você também pode gostar