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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2019.0000150124

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2270703-11.2018.8.26.0000, da Comarca de Indaiatuba, em que é agravante
ANJE PARTICIPAÇÕES E EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA., é
agravado D GLASS COMERCIAL, TRANSFORMADORA E IMPORTADORA
DE VIDROS LTDA..

ACORDAM, em 26ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça


de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao
recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores FELIPE


FERREIRA (Presidente), ANTONIO NASCIMENTO E BONILHA FILHO.

São Paulo, 28 de fevereiro de 2019.

FELIPE FERREIRA
RELATOR
Assinatura Eletrônica
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26ª CÂMARA

Agravo de Instrumento Nº 2270703-11.2018.8.26.0000

Comarca: Indaiatuba – 2ª Vara Cível


Agte. : ANJE Participações e Empreendimentos Imobiliários Ltda.
Agda. : D Glass Comercial, Transformadora e Importadora de Vidros Ltda.
Interessados: Paulo Jorge Araujo de Campos e outros
Juiz de 1º Grau: Sérgio Fernandes
Distribuído(a) ao Relator Des. Felipe Ferreira em: 17/12/2018

VOTO Nº 43.502

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO.


LOCAÇÃO DE IMÓVEL. EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXTRAJUDICIAL. INCIDENTE DE
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. TUTELA DE URGÊNCIA. 1. Ausente a
probabilidade do direito alegado, fica afastada a
antecipação da tutela. 2. Apontada pela exequente que a
empresa RLX Brasil em certo período foi sócia da
empresa executada, de rigor sua manutenção no polo
passivo do incidente, para fins de defesa. Recurso
parcialmente provido.

Trata-se de agravo de instrumento contra a r.


decisão copiada às fls. 40/42, integrada à decisão de fls. 45, que em
Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica, em Execução
de Título Extrajudicial, rejeitou os Embargos de Declaração, mantendo a
decisão que indeferiu o arresto de bens em nome dos sócios, bem como
a desconsideração pleiteada em face da empresa RXL Brasil
Investimentos Imobiliários Ltda.

Pleiteia a agravante a reforma da decisão


alegando, em síntese, que ajuizou o referido incidente a fim de ter seu
débito quitado, de responsabilidade da ora agravada, decorrente de
relação locatícia. Aduz que apesar da decisão do Juízo a quo, verifica-se
que houve o encerramento irregular da sociedade agravada, desvio de
patrimônios pelos sócios e confusão patrimonial. Tece comentários ainda
sobre erro material da r. decisão, vez que não havia pedido de
desconsideração da personalidade jurídica da empresa RLX Brasil
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Investimento Imobiliário, e sim, em verdade, tratando-se de pessoa


jurídica sócia da empresa executada, requereu a sua inclusão no polo
passivo para responsabilizá-la pelos débitos. Afirma que mesmo
apontando o mencionado erro material, os Embargos de Declaração
foram rejeitados. Menciona o encerramento irregular da agravada e
ausência de endereço atualizado. Tece comentários acerca da
movimentação societária às vésperas do despejo, o que evidenciaria a
tentativa de blindar seu patrimônio. Ressalta que ficou comprovado nos
autos que os sócios ocultaram o maquinário de alto valor da empresa, e o
levaram para local não sabido. Pugna pela concessão do arresto de bens
dos sócios, considerando que há sérios riscos de ver seu crédito não
satisfeito, caso seja determinada prévia citação, ressaltando que se trata
de medida acautelatória. Requer a concessão de liminar e, ao final, o
provimento do recurso.

Relegada a apreciação da questão ao mérito


recursal, conforme decisão de fls. 317, e apresentada contraminuta,
encontra-se o recurso em termos de julgamento.

É o relatório.

O recurso merece prosperar em parte.

Inicialmente verifica-se que a r. decisão


respondeu ao pedido liminar formulado pela ora agravante, quando da
interposição do incidente de desconsideração da personalidade jurídica,
assim redigido:

“Independentemente de tais medidas, a Exequente desde


logo requer digne-se Vossa Excelência determinar a tutela
cautelar de urgência de arresto e sequestro de bens em
nome das pessoas físicas e jurídicas indicadas acima, com a
realização de pesquisas nos sistemas BACENJUD,
INFOJUD e RENAJUD, para a localização de bens livres e
desimpedidos para posterior satisfação do crédito detido
pela Exequente.” (Fls. 39)
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Cabe então destacar que o referido Incidente


de Desconsideração da Personalidade Jurídica ainda não fora julgado
pelo mérito, tratando-se a r. decisão agravada de pronunciamento inicial.

Com efeito, o Código de Processo Civil rege a


matéria objeto deste recurso por meio das disposições contidas no art.
300 do CPC, que é expresso ao estabelecer que:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando


houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.” (g.n.)

A probabilidade do direito para a concessão da


tutela antecipada é aquela que, em virtude das provas apresentadas, traz
elementos para que o juiz se convença da possibilidade daquele direito
somado ao perigo de dano ou ao risco ao resultado útil do processo para
que não torne a espera prejudicada ou imprestável.

Neste sentido nos ensina o professor Daniel


Amorim Assumpção Neves (in Novo Código de Processo Civil
Comentado, ed. JusPodivm, 2016) o seguinte:

“A concessão da tutela provisória é fundada em juízo de


probabilidade, ou seja, não há certeza da existência do
direito da parte, mas uma aparência de que esse direito
existia. É consequência natural da cognição sumária
realizada pelo juiz da concessão dessa espécie de
tutela. Se ainda não teve acesso a todos os elementos
de convicção, sua decisão não será fundada na certeza,
mas na mera aparência ou probabilidade do direito
existir.” (Fls. 461).

(...) Segundo o art. 300, caput, do Novo CPC, tanto para


a tutela cautelar como para a tutela antecipada exige-se
o convencimento do juiz da existência de elementos que
evidenciem a probabilidade do direito. A norma encerra
qualquer dúvida a respeito do tema, sendo a mesma
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probabilidade de o direito existir suficiente para a


concessão de tutela cautelar e de tutela antecipada.

O legislador não especificou que elementos são esses


capazes de convencer o juiz, ainda que mediante uma
cognição sumária, a conceder a tutela de urgência
pretendida. É natural que o convencimento do juiz para
a concessão da tutela de urgência passa pela parte
fática da demanda, já que o juiz só aplicará o direito ao
caso concreto em favor da parte se estiver convencido,
ainda que em juízo de probabilidade, da veracidade das
alegações de fato da parte.” (Fls. 476).

E no dizer de Teresa Arruda Alvim Wambier (e


outros autores, Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil,
p. 498, RT, 2015) “só é possível cogitar de tutela de urgência se
houver uma situação crítica, de emergência. Dessa forma, a técnica
processual empregada para impedir a consumação ou o
agravamento do dano que pode consistir no agravamento do
prejuízo ou do risco de que a decisão final seja ineficaz no plano dos
fatos, que geram a necessidade de uma solução imediata é que
pode ser classificada como a tutela de urgência. É, pois, a resposta
do processo a situação de emergência, de perigo, de urgência.”

Analisando detidamente os autos, verifica-se


que as alegações da agravante no que tange ao pleito do arresto de bens
não se mostram suficientes para a concessão da liminar neste momento.

Cabe ressaltar que o procedimento do


incidente é disposto na Lei Processual sob a seguinte redação:

“Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa


jurídica será citado para manifestar-se e requerer as
provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.

Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o


incidente será resolvido por decisão interlocutória.”
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Em que pese a combatividade do patrono da


agravante, verifica-se que não há elementos robustos que demonstram a
dilapidação do patrimônio dos sócios neste momento, para que se
determine o arresto de seus bens antes mesmo do processamento do
incidente.

Desse modo, havendo o procedimento próprio


para a análise da desconsideração da personalidade jurídica, que conta
com o contraditório aos sócios da empresa executada, prudente que se
proceda conforme o determinado no Código de Processo Civil.

No mais, pequeno reparo cabe à decisão


agravada, a fim de que se reconheça que a agravante pretende a
inclusão da empresa RLX Brasil Investimentos Imobiliários em razão de
ser sócia da pessoa jurídica executada, e não a desconsideração da
personalidade desta.

Note-se da certidão emitida pela JUCESP às


fls. 69/72 a empresa RLX Brasil constou como sócia da executada D-
Glass Comercial, Transformadora e Importadora de Vidros Ltda.

Logo, apontada pela exequente que a empresa


RLX Brasil em certo período foi sócia da empresa executada, de rigor sua
manutenção no polo passivo do incidente, para fins de defesa.

Desse modo, cabe parcial acolhida do pleito


apenas para que conste a empresa RLX Brasil seja considerada como
requerida no incidente

Por fim, apenas para que não se alegue


qualquer omissão, prudente a análise da viabilidade da desconsideração
da personalidade jurídica e até mesmo quais serão eventualmente
responsabilizados pelo débito da empresa executada apenas após o
julgamento final do incidente.

Ante o exposto, dou parcial provimento ao


recurso, a fim de que seja inclusa no polo passivo do incidente a empresa
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RLX Brasil Investimentos Imobiliários, possibilitando-lhe o exercício da


ampla defesa e contraditório.

FELIPE FERREIRA
Relator
Assinatura Eletrônica

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