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CADERNO DE
TECNOLOGIA
DE LATICÍNIOS
UFV
Universidade Federal de Viçosa
fazer melhor
Identificação e quantificação
do perfil proteico do leite
Fabiano Freire Costa1, Maria Aparecida Vasconcelos Paiva e Brito2, Marta Fonseca
Martins Guimarães2, Marco Antônio Moreira Furtado3; Isabela Silvestre Barreto Pinto4
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Pós-Doutorando (PNPD Capes), 2Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite: Rua Eugênio do Nascimento 610; CEP: 36038-330
Juiz de Fora/MG, 3Professor Farmácia-Bioquímica UFJF; 4Bolsista BAT II (Fapemig) – e-mail: fabianofreirecosta@gmail.com
Tabela 1 – Porcentagem de indústrias que consideraram os itens citados como de maior importância
Itens avaliados com nota 3 pelas indústrias (%)
Itens considerados de maior importância
Pagam por qualidade Não pagam por qualidade
Alta contagem de células somáticas (CCS) 100,0 83,3
Alta contagem bacteriana (CTB) 100,0 100,0
Baixo teor de sólidos totais 75,0 16,7
Baixo teor de proteína 87,5 16,7
Baixo teor de gordura 50,0 16,7
Leite ácido 37,5 83,3
Leite positivo no teste do alizarol (teste do álcool) 62,5 83,3
Resíduos de antimicrobianos e outros produtos químicos 100,0 66,7
Fraude no leite 87,5 83,3
Falta de adoção de procedimentos adequados na ordenha 87,5 100,0
Falta de manutenção de equipamentos de ordenha 75,0 83,3
Uso de vasilhame em condições inadequadas de higiene 62,5 83,3
Infraestrutura deficiente de frio nas propriedades 75,0 66,7
Falta de compromisso do produtor 75,0 100,0
Falta de informação do produtor 62,5 33,3
Reduzida vida de prateleira dos produtos 87,5 50,0
Problemas de processamento dos lácteos 87,5 16,7
Ausência de programa de bonificação pela qualidade 75,0 50,0
Infraestrutura de estradas deficiente 100,0 33,3
Infraestrutura de energia elétrica deficiente 87,5 33,3
Inadequação das normas governamentais 25,0 50,0
Inadequação de material educativo 12,5 33,3
Inadequação das políticas públicas para os produtores 37,5 50,0
Falta de pesquisas de como aumentar os sólidos no leite 50,0 33,3
Falta de pesquisas de como diminuir a CCS e CBT 37,5 33,3
Custo das análises da qualidade do leite 75,0 33,3
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e-mail e pelo correio. Buscou-se conhecer as demandas e tempo de permanência do leite na propriedade, até a
das indústrias sobre diversos temas relacionados à qua- coleta pelo veículo transportador. Sabe-se que o leite,
lidade do leite e também quais os itens considerados como um produto perecível, pode ser armazenado no
importantes, dentre uma lista de aspectos relevantes à prazo máximo de 48 horas, se mantido em temperatura
obtenção de leite de alto padrão de qualidade, de ma- de 2 a 4°C. Caso contrário, o crescimento e a multiplica-
neira que as ações de pesquisa fossem direcionadas ao ção de bactérias podem comprometer a qualidade desta
atendimento dessas necessidades. As respostas foram matéria-prima (Pinto et al., 2006).
recebidas entre os meses de abril e junho de 2009. Quanto ao item “falta de pesquisas de como diminuir
As perguntas do questionário trataram dos princi- a CCS e a CBT”, menos de 50% das Indústrias (Indústrias
pais problemas relacionados à produção de leite com que pagam pela qualidade – 37,5%; Indústrias que não
qualidade. Foi solicitado notas de 0 a 3 para cada item, pagam pela qualidade – 33%) acham que são poucos
sendo a nota 0 para o item de menor importância e os estudos direcionados para o controle de CCS e CBT.
a nota 3 para o item de maior importância. Os dados No entanto, se as pesquisas estão disponíveis, mas os
foram analisados de forma descritiva. resultados de CCS e CBT publicados pela RBQL ainda
apontam valores acima do recomendado pela IN 51,
RESULTADOS é preciso intensificar os trabalhos de transferência de
Das 132 indústrias contactadas apenas 15 indústrias tecnologia e valorizar os programas de pagamento de
responderam, o que corresponde a 11,4% do total. Destas qualidade, como alternativas para aumentar a eficiência
15 indústrias, oito (57, 1%) adotam programas de paga- de aplicação das técnicas direcionadas para melhoria da
mento do leite pela qualidade, que incluem bonificação qualidade do leite, medida por meio da CCS e CBT.
para contagem de células somáticas (CCS), contagem Considerando as diferenças de resultados das avalia-
total de bactérias (CTB), teores de proteína, gordura e ções, quando comparadas as indústrias que pagam por
sólidos totais. Os resultados são mostrados na Tabela 1, qualidade com aquelas que não executam esta prática,
de acordo com a importância dada a cada item. pode-se concluir que os programas de pagamento por
Todas as indústrias consideraram o item “alta CTB” qualidade estão se constituindo em um importante fa-
de maior importância, recebendo nota 3 de todas elas. tor de valorização das relações de transação entre pro-
Os itens “falta de adoção de procedimentos adequados dutor e indústria, em prol da melhoria da qualidade do
na ordenha” e “alta CCS” receberam nota 3 de 92,9% das leite, da renda das propriedades e do bem estar social.
indústrias, seguidos de “fraude no leite”, “resíduos de an-
timicrobianos”, “resíduos de outros produtos químicos” AGRADECIMENTOS
e “falta de compromisso do produtor quanto à produção Às indústrias de laticínios que se dispuseram a co-
de leite com qualidade”, que receberam nota 3 de 85,7% laborar com a pesquisa e responderam prontamente ao
das indústrias. questionário.
Os itens relacionados ao rendimento e processa-
mento dos produtos lácteos, como “baixo teor de sólidos LITERATURA CONSULTADA
totais”, “baixo teor de proteína”, “baixo teor de gordura”, BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste-
“reduzida vida de prateleira” e “problemas no processa- cimento. Instrução Normativa n° 51, de 18 de setembro
mento” foram considerados de maior importância pela de 2002. Regulamento Técnico de Produção, Identidade e
maioria das indústrias que pagam pela qualidade. As Qualidade do Leite Tipo A, do Leite Tipo B, do Leite Tipo
indústrias que não pagam pela qualidade do leite deram C, do Leite Pasteurizado e do Leite Cru Refrigerado e o
maior importância aos itens relacionados às práticas Regulamento Técnico da Coleta de Leite Cru Refrigerado
ligadas ao produtor de leite, como “leite ácido”, “leite e seu transporte a Granel. Diário Oficial da União, Bra-
positivo ao teste do alizarol”, “uso de vasilhames em sília, DF, 18 set. 2002. Secção 3. Disponível em: <http://
condições inadequadas de higiene” e “falta de compro- www.agricultura.gov.br/ das/dipoa/in51.htm>. Acesso
misso do produtor”. em: 10 mar. 2009.
Os itens relativos à infraestrurura, como “infraestru- BRANDÃO, S. C. C. Fundamentos da busca pela quali-
tura de estradas deficiente” e “infraestrutura de energia dade na indústria. In: Perspectivas e avanços da qualida-
elétrica deficiente” foram considerados de grande im- de do leite no Brasil. Goiânia: Talento, 2006. p. 291-312.
portância pela maioria das indústrias que pagam pela PINTO, C. L. O.; MARTINS, M. L.; VANETTI, M. C. D.
qualidade, mas pela minoria das que não pagam. As Qualidade microbiológica de leite cru refrigerado e isola-
más condições das estradas e abastecimento de energia mento de bactérias psicrotróficas proteolíticas. Ciência e
elétrica têm relação direta com a refrigeração adequada Tecnologia de Alimentos, Campinas, v.26, n.3, 2006.
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fazer melhor
Gestão da Inovação e
a Cadeia do Leite
José Alberto Bastos Portugal1, Cláudio Furtado Soares2,
Aziz Galvão da Silva Júnior2, Ronaldo Perez2
Embrapa Gado de Leite - Rua Eugênio do Nascimento, 610 – Juiz de Fora – MG – CEP 36038-330. jabportugal@cnpgl.embrapa.br
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2
Universidade Federal de Viçosa – Viçosa - MG
3.1 Objetivo
O objetivo deste trabalho foi apresentar diretrizes
para a construção de um modelo de gestão da inovação
para a cadeia do leite, como ferramenta estratégica para
planejamento de ações visando ao aumento da eficiên-
cia e da competitividade desse segmento agroindustrial,
entendendo que conhecimento, inovação e tecnologia
são os fatores diferenciais para o crescimento e o desen-
volvimento econômico e social.
3.2 Metodologia
A metodologia do trabalho foi dividida em duas
etapas, a Pesquisa Descritiva, que apresenta o cenário
de Ciência, Tecnologia e Inovação do agronegócio do
leite no Brasil e no Estado de Minas Gerais e, na segunda
etapa, o levantamento dos fatores de impacto no pro-
cesso de consolidação de um sistema de inovação para
a cadeia do leite, de ordem econômica, organizacional,
tecnológica, de políticas públicas e sócio-culturais, agru-
pados como pontos fortes, pontos fracos, oportunidades
e ameaças, constituindo uma matriz SWOT. À análise
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fazer melhor
estabelecida a partir dos pesos atribuídos aos fatores Stakeholder variaram de 0,04 e 0,06 e para a combinação
(HOUBEN et al., 1999; FORMAN; SELLY, 2001; SHRES- total dos fatores, a inconsistência global foi de 0,01,
THA et al., 2004; CHANG; HUANG, 2006; TONINI et al., atendendo ao preconizado pelo método AHP (Taxa de
2007; WOLFF, 2008). Consistência ≤ 0,1) (SAATY, 2004).
Foi gerada uma estrutura do modelo de decisão A hierarquização dos fatores combinados, priori-
dentro do sistema ExpertChoice® (Figura 1) e o conjunto zados em função do objetivo “selecionar as melhores
de respostas (priorizações) foi organizado em tabelas de diretrizes para compor o modelo de gestão da inovação
dados. As discussões finais foram baseadas nos escores na cadeia do leite” está descrita na Figura 2.
das prioridades por grupo de fatores. Na análise dos dados, a “qualificação técnica e cientí-
fica dos pesquisadores” (Prioridade combinada, L: 0,381)
3.3 Resultados é um fator essencial na promoção da inovação, apesar
Na Tabela 1 estão dispostas as comparações dos do segmento “Empresas” entender que o ponto forte para
fatores por ambiente operacional e pela combinação inovação está no “Mercado consumidor” (L: 0,388). Na área
total. As medidas de inconsistência das relações por de abrangência do Polo do Leite são 44 pesquisadores e 29
Figura 1 – Estrutura do modelo de decisão para seleção das melhores diretrizes para o modelo de gestão da
inovação.
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Tabela 1 – Escores de prioridade dos fatores e da prioridade total da análise SWOT-AHP.
Prioridade dos Fatores (Por Stakeholder)
Instituições Empresas Governo Produção Prioridade
SWOT/ Grupos
de P,D&I dos Fatores
(Combinado)
Strengths - S 0,275 0,163 0,337 0,238 0,245
S1 – Qualificação técnica e científica dos pesquisadores 0,374 0,277 0,447 0,325 0,381
S2 - Infraestrutura física para P,D&I 0,135 0,110 0,096 0,070 0,110
S3 - Políticas de Governo para C,T&I 0,252 0,098 0,226 0,129 0,154
S4 - Políticas de investimento em P,D&I 0,143 0,126 0,110 0,159 0,142
S5 - Mercado consumidor 0,096 0,388 0,121 0,317 0,213
Weaknesses - W 0,220 0,347 0,299 0,296 0,292
W1 - Articulação dos agentes de P,D&I 0,177 0,048 0,062 0,072 0,084
W2 - Coordenação da cadeia do leite 0,353 0,100 0,152 0,097 0,155
W3 - Capacidade das empresas para inovar e/ou absorver 0,158 0,269 0,285 0,348 0,264
tecnologia transferida
W4 - Infraestrutura física das empresas para inovação 0,106 0,200 0,098 0,126 0,137
W5 - Políticas de investimento em inovação pelas empresas 0,206 0,383 0,403 0,357 0,360
Opportunities - O 0,192 0,257 0,218 0,257 0,246
O1 - Alcance de novos mercados 0,404 0,353 0,593 0,088 0,357
O2 - Melhoria da qualidade de vida e do bem estar social 0,194 0,237 0,098 0,312 0,212
O3 - Agregação de empresas, como vantagem competitiva 0,298 0,157 0,166 0,086 0,193
O4 - Desenvolvimento sustentável: econômico, social e 0,103 0,254 0,143 0,515 0,238
ambiental
Threats - T 0,313 0,234 0,106 0,209 0,217
T1 - Barreiras de entrada: tarifárias e não-tarifárias 0,230 0,119 0,194 0,176 0,193
T2 - Poder de competitividade das empresas das economias 0,434 0,337 0,065 0,217 0,237
avançadas
T3 - Legislação tributária, trabalhista e ambiental 0,337 0,544 0,741 0,606 0,570
Nota: Em negrito, os escores por quadrante da matriz SWOT; em vermelho, o escore do fator preponderante, por Stakeholder; em azul, o maior
escore da combinação de fatores.
Figura 2 – Organização dos fatores em ordem de prioridade, aplicando o comando “Síntese dos resultados” do ExpertChoice®
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fazer melhor
tecnologias concentrados nas universidades e centros de pendência dos fatores, onde valorizar um ponto forte
pesquisa, com projetos direcionados para a cadeia do leite pode significar reverter um ponto fraco em uma poten-
(POLO DE EXCELÊNCIA DE LEITE E DERIVADOS, 2009). cialidade ou eliminar uma ameaça, ampliando, assim, o
Entretanto, os estudos de Penido (2010) indicam leque de oportunidades que se vislumbra com a conso-
uma baixa cooperação tecnológica entre os agentes de lidação de um sistema de inovação, onde a melhoria da
P,D&I, mas, ainda assim, este não é o principal ponto qualidade de vida e do bem estar social e o desenvolvi-
fraco para a inovação na cadeia do leite. Os resultados mento sustentável passam a ser meta fim.
mostram que a falta de “Políticas de investimentos de
inovação pelas empresas” (Prioridade combinada, L: 360) 4. Conclusões
é o fator preponderante que se destaca neste processo. Podemos concluir, ao final deste trabalho, que a aná-
O desafio está em encontrar mecanismos para lise SWOT e o método AHP, aplicados na ordenação e
incrementar a inovação nas empresas, aproveitando hierarquização dos fatores críticos, foram fundamentais
o potencial de capital intangível e tangível disponível. no processo de organização dos pontos fortes, pontos
Esta afirmativa está de acordo com as considerações dos fracos, oportunidades e ameaças, ranqueando-os con-
relatórios do Banco Interamericano de Desenvolvimento forme a expectativa de impacto sobre o desenvolvimen-
(IDB, 2010 a,b). to e a competitividade do setor, tendo a inovação como
Associado à necessidade das empresas inovarem, ponto de referência.
está a baixa “Coordenação da cadeia do leite”, conside- Conhecidos os fatores críticos, priorizadas as dire-
rando também um limitador à inovação, conforme re- trizes e dirimidos os pontos fracos e ameaças é possível
gistrado pelos representantes das Instituições de P,D&I conquistar novas oportunidades e valorizar e ampliar os
(L: 353). Portanto, melhorar o arranjo institucional, como pontos fortes.
preconizado por RICYT (2009), também será crucial para Essa ação foi decisiva para a consolidação das dire-
avanços em direção à consolidação de um modelo de trizes que irão compor o Modelo de Gestão da Inovação.
gestão da inovação. As Diretrizes são:
Considerando a incorporação da cultura para inova- l incentivar a cooperação tecnológica entre as insti-
ção no ambiente interno da cadeia do leite, diferentes tuições de P,D&I;
tendências e expectativas poderão ser pensadas pelas l definir mecanismos de integração e organização
empresas para alcançar novas oportunidades no am- da cadeia do leite;
biente externo. l promover programas de capacitação tecnológica
Dentre estas oportunidades, a que mais se destaca para todos os segmentos da cadeia do leite;
é o “Alcance de novos mercados” (Prioridades combina- l fortalecer os programas de apoio à inovação para
da, L: 357). Esta tendência é comum na percepção das as empresas;
Instituições de P,D&I (L: 0,404), das Empresas (L: 0,353) e l redefinir estratégias para posicionar a cadeia do
do Governo (L: 0,593). leite frente às barreiras de entrada;
Por sua vez, os representantes do segmento da Pro- l incrementar os processos de transferência de
dução (L: 0,515) entendem que um sistema de inovação tecnologia, buscando a maximização do uso das tecno-
poderá trazer como importante oportunidade o “Desen- logias incorporadas;
volvimento sustentável: econômico, social e ambien- l ajustar a legislação tributária, trabalhista e am-
tal”, corroborando com as expectativas apontadas pela biental à realidade do complexo agroindustrial.
Embrapa (2002) e se estabelece como uma tendência,
quando se entende a inovação como um fator de pro- Pelas diretrizes apresentadas, podemos perceber a
moção do crescimento e desenvolvimento econômico e importância da interação e comprometimento de todos
do bem-estar da sociedade (IDB, 2010a). os atores e agentes do processo de inovação, como pro-
Paralelamente às oportunidades, são percebidas fissionais, empresários, Instituições de P,D&I, agências
ameaças que podem comprometer o avanço do proces- de apoio, fomento e de financiamento, associações de
so de inovação na cadeia do leite. A principal ameaça é classe e organizações empresariais, no intuito de sensi-
originada no ambiente Brasil e se refere às questões de bilizar os tomadores de decisões para a importância da
“Legislação tributária, trabalhista e ambiental” (Priorida- implementação e equacionamento das mesmas.
de combinada, L: 0,570). Esta percepção é compartilhada Dessa forma, um Modelo de Gestão da Inovação
pelos setores que interagem mais diretamente com esta passa a ser uma ferramenta-chave para a constituição
questão, que são as Empresas (L: 0,544), Governo (L: do Sistema de Inovação da Cadeia do Leite e a inovação,
0,741) e Produção (L: 0,606). aplicada nas suas diferentes formas (de produtos, de
A adequação da agroindústria às exigências da legis- processos, organizacional, marketing), é o ponto-chave
lação vigente, por meio de um novo modelo de gestão, para um planejamento estratégico de longo prazo.
poderá se reverter em uma vantagem competitiva para O Brasil já está caminhando nesse sentido. O País
o agronegócio do leite. PIAU (2010) propõe, por exemplo, dispõe de políticas e programas de Governo direciona-
“harmonizar os sistemas de produção com os sistemas dos para a inovação, além de um aparato científico e
de preservação. Rezende & Kreter (2008) discutem os de infraestrutura para P,D&I bem definidos, mas ainda
impactos das relações de trabalho com os custos de falta fortalecer a cultura da inovação.
transação e Silva et al. (2005) apontam a integração do As empresas nacionais precisam repensar os seus
planejamento tributário ao planejamento estratégico modelos de gestão, procurando conciliar a experiência
das empresas, para atender às exigências da legislação incorporada na empresa com esse potencial disponível
tributária. no Brasil, transformando o conhecimento científico e
Percebe-se, de fato, uma nítida relação de interde- tecnológico gerado nas instituições de P,D&I, em inova-
132
ção nos produtos, processos e sistemas de gestão, rever- ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND
tendo esses benefícios em uma vantagem competitiva. DEVELOPMENT (OECD). Manual de Oslo: diretrizes para coleta
Assim, o Modelo de Gestão da Inovação aplicado à Ca- e interpretação de dados sobre inovação. 3. ed. (Trad.) Paris/Rio
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deia do Leite será uma referência na promoção do desen-
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133
fazer melhor
Avenida Roraima (1000), Santa Maria, Rio Grande do sul, Brasil. E-mail: mattannapaula@hotmail.com
136
Figura 1 – Resultados do teste de aceitação das formulações de queijos frescais analisadas.
a,b
Médias seguidas de letras minúsculas diferentes diferem estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância.
Staphylococcus (BRASIL, 2000). As análises microbiológi- ções entre as formulações, não apresentaram diferença
cas comprovam que o processo de obtenção dos leites significativa.
e seus respectivos beneficiamentos foram adequados
seguindo as medidas de higiene estabelecidas pela Perfil de textura
legislação e o controle do binômio tempo/temperatu- Os resultados da análise de textura instrumental
ra utilizados na fabricação resultaram em contagem dos queijos são encontrados na Tabela 3. Observou-se
microbianas satisfatórias. que os parâmetros coesividade e elasticidade não dife-
riram estatisticamente entre os tratamentos (P>0,05).
Análise sensorial Diferenças estatísticas (P<0,05) foram observadas nos
Os resultados do teste de aceitação são apresentados parâmetros de firmeza e adesividade. As formulações
na Figura 1. É possível observar que os queijos produzi- produzidas com adição de leite caprino (F100, F75, F50
dos com leite caprino (F100, F75, F50 E F25) foram bem e F25) obtiveram valores estatisticamente menores no
aceitos pelos painelistas, não diferindo estatisticamente parâmetro firmeza (2,24; 2,49; 2,37 e 2,34, respectiva-
da formulação produzida com leite bovino (F0) nos pa- mente) que a formulação F0 produzida com leite bo-
râmetros aroma e sabor, demonstrando a aceitação do vino (3,21). Isto possivelmente deve-se a formação de
queijo frescal produzido com leite de cabra. um coágulo mais frágil e quebradiço gerado pelo leite
O aroma de produtos oriundos de leite de cabra são caprino, devido à ausência da α-s1-caseína (JENNESS,
característicos devido à presença de diversos compos- 1980).
tos, principalmente ácidos graxos livres tais como ácido
4-metiloctanóico e ácido 4-etiloctanóico (MORGAN & CONCLUSÃO
GABORIT, 2001). Porém, quando o leite é processado, De acordo com os resultados obtidos, é possível
estas características são menos evidentes, o que pode constatar que o leite de cabra pode ser utilizado como
ser observado no teste de aceitação, pois as formulações matéria-prima para a produção de queijo frescal, já
foram classificadas pelos painelistas pela escala adota- que o mesmo apresentou características sensoriais e
da como “gostei” e “gostei muito”. tecnológicas satisfatórias. O uso do leite caprino na
No teste de ordenação, as formulações com 75% e produção de derivados lácteos surge como uma alter-
50% de leite de cabra apresentaram preferência esta- nativa interessante para este leite, já que o consumidor
tística em relação à formulação com 25% de leite de não possui o hábito de consumo deste leite devido ao
cabra (p < 0,05). A formulação com 50% de leite de cabra seu sabor diferenciado, nos derivados lácteos este sabor
também apresentou preferência estatística em relação à é mascarado ou minimizado, tornando este um produto
formulação com 100% de leite de cabra. As demais rela- bem aceito pelos consumidores.
137
fazer melhor
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138
DESENVOLVIMENTO DE LEITE DE VIDA DE PRATELEIRA
ESTENDIDO PELO USO DE TECNOLOGIA DE MICROFILTRAÇÃO
Jéssica Yoko Suda / Michele da Silva Pinto / Beatriz Rodrigues de Paula Lana / Laura Fernandes Melo Correia
Antônio Fernandes de Carvalho*
Este trabalho teve como objetivos avaliar a tecnolo- Quando comparado ao leite UHT, o leite pasteuriza-
gia de microfiltração, membranas de 0,8 µm, na redução do possui uma vida de prateleira reduzida, em média
da microbiota do leite cru sem alterar suas proprieda- cinco dias, enquanto o leite UHT possui durabilidade de
des físicoquímicas, nutricionais e sensoriais e utilizá- três a seis meses. No entanto, devido às mudanças cau-
-la no desenvolvimento de leite de vida de prateleira sadas nas propriedades organolépticas, em consequên-
estendida. Para isto, foram avaliadas as alterações cia da alta temperatura do tratamento UHT, o produto
microbiológicas e físicoquímicas no produto devido ao apresenta um leve sabor de cozido. Com o intuito de
processamento e ao armazenamento em duas tempera- solucionar estes problemas, a indústria de laticínios tem
turas distintas (4 e 14 °C). No processo de microfiltração, buscado novas tecnologias com o objetivo de obter um
o leite desnatado e aquecido a 50 °C foi microfiltrado em leite com maior vida de prateleira e melhor qualidade
um equipamento em escala piloto e envasado em potes nutricional e sensorial.
de polietileno de alta densidade. Análises de pH, acidez, Neste contexto, as técnicas de separação por mem-
teor de proteína, teor de umidade, gordura e crioscopia, branas, mais especificamente, a tecnologia de microfil-
bem como contagem de mesófilos aeróbios estritos e tração oferece uma alternativa interessante ao trata-
facultativos psicrotróficos, coliformes, Escherichia coli mento térmico do leite, pois possibilita a obtenção de
e Staphylococcus aureus foram realizadas nas amostras um produto com baixa carga microbiana e preserva os
de leite cru e leite microfiltrado, no tempo zero. Para o constituintes naturais do leite, gerando um produto com
acompanhamento da vida de prateleira, foram realiza- vida de prateleira estendida e com alta qualidade nutri-
das, a cada três dias, análises de pH, acidez, contagem cional e sensorial (CARVALHO & MAUBOIS, 2009).
de mesófilos aeróbios estritos e facultativos e psicrotró-
ficos, durante 30 dias ou até que a contagem de mesófi- 2. Revisão de literatura
los atingisse valores superiores a 8,0 x 104 UFC.mL-1. De Do ponto de vista físicoquímico, o leite é uma
acordo com os resultados, a qualidade microbiológica secreção produzida pelas glândulas mamárias de ma-
do leite cru encontrava-se fora dos padrões recomen- míferos fêmeas, com pH próximo à neutralidade (6,50
dados pela legislação (7,5 x 105UFC.mL-1). Porém, após o a 6,70), que se constitui em uma emulsão de gorduras
processo de microfiltração as amostras se apresentaram e água, estabilizada por uma dispersão coloidal de
em conformidade com a Instrução Normativa 51. Os proteínas, em uma solução de sais, vitaminas, pep-
parâmetros analisados durante a vida de prateleira não tídeos, lactose, oligossacarídeos, caseínas e outras
foram significativamente afetados pelos fatores tempo proteínas. O leite também possui enzimas, anticorpos,
e temperatura (P<0,05). O estudo apresentou resultados hormônios, pigmentos (carotenos, xantofilas, riboflavi-
favoráveis à aplicação da microfiltração em leite de con- na), células (epiteliais, leucócitos, bactérias e levedu-
sumo para aumentar sua vida de prateleira. ras) e gases dissolvidos (CO2, O2 e N2) (WALSTRA et al,
2006).
1. Introdução A composição do leite o torna um alimento susceptí-
Devido à sua composição físicoquímica, o leite é vel à deterioração enzimática ou microbiana e, portanto,
um alimento altamente perecível, o que o torna um altamente perecível. Dessa forma, faz-se necessário um
meio altamente susceptível ao crescimento microbiano. tratamento para preservar o leite e, assim, assegurar
Sendo assim, para garantir a qualidade e a segurança sua utilização e segurança (MARTH & STEELE, 2001).
microbiológica do leite e dos produtos lácteos, a indús- Os processos industriais utilizados comumente
tria de laticínios tem utilizado, tradicionalmente, um para o controle das populações microbianas do leite,
tratamento térmico para redução da carga microbiana. entre os quais, o tratamento térmico e a refrigeração,
Entre os tratamentos térmicos mais utilizados pelas têm o objetivo de assegurar a qualidade do leite e dos
indústrias para conservação do leite encontram-se o derivados lácteos, mas não possuem capacidade de
tratamento UHT e a pasteurização. Porém, a utilização corrigir os problemas da matéria-prima (LANGE &
destes processos causa alterações indesejáveis no pro- BRITO, 2005).
duto como alteração nas propriedades físicoquímicas e A pasteurização e a esterilização UHT, tratamentos
modificações nas propriedades sensoriais do leite fluido térmicos mais frequentemente utilizados pelos laticí-
e produtos lácteos, bem como a capacidade de fabrica- nios, modificam as qualidades nutricionais e sensoriais
ção de queijos. do leite. Durante o tratamento térmico, os microrga-
139
fazer melhor
nismos são inativados, porém os cadáveres das bacté- degradado pelas suas enzimas (SABOYA & MAUBOIS,
rias e suas enzimas proteolíticas ficam no leite, o que 2000). Quando se trata de células vegetativas e espo-
justifica a substituição pela técnica de microfiltração ros microbianos, estes são retidos quando membranas
(LORTAL & DELAGE, 2008), haja vista que as tecnolo- de microfiltração com poros de 0,8 µm são utilizadas,
gias de membrana, quando comparadas aos processos originando um leite microfiltrado totalmente estéril
convencionais, apresentam a vantagem de, geralmente, (MAUBOIS, 1997).
prescindir do uso de calor, favorecendo a preservação O leite obtido pelo processo de microfiltração,
de nutrientes e constituintes de aroma e sabor, fun- ausente de microbiota patogênica e com maior vida
damentais para a qualidade do produto final (RODRI- de prateleira, associa as vantagens sensoriais do leite
GUES, 2002). pasteurizado, quando comparado ao UHT e esteri-
Neste contexto, a indústria de laticínios tem busca- lizado, com a praticidade de um produto de vida de
do novas técnicas para conservação do leite, visando prateleira mais longa, quando comparado ao produto
à obtenção de um leite com maior durabilidade e que pasteurizado; porém, o leite microfiltrado não pode
mantenha suas qualidades nutricionais e sensoriais. ser distribuído na temperatura ambiente, como o leite
Para assegurar a conservação e segurança do leite, as UHT (STEENKAMP, 1997). Segundo Eino (1997), o grande
tecnologias utilizadas se baseiam em diversos proces- sucesso comercial experimentado pelo leite microfil-
sos, essencialmente de ordem física, sendo aplicados trado, em vários países, é devido ao seu sabor melho-
isoladamente ou em combinação, como a separação de rado (não apresenta gosto de cozido) e à capacidade de
microrganismos pelo processo de microfiltração (LOR- armazenamento.
TAL & DELAGE, 2008). Em indústrias de alimentos, a contaminação pelo ar
A tecnologia de microfiltração surge em resposta às se apresenta como um grande problema, pois a presen-
necessidades da indústria de se adequar às exigências ça de microrganismos no ambiente de processamento
do consumidor moderno e de “sobreviver” no mercado, pode levar à contaminação do produto acabado, redu-
pois o processo possibilita a obtenção de um leite com zindo a sua qualidade e sua durabilidade. Portanto, o
baixa carga microbiana, além de preservar os consti- controle de contaminação do ar deve ser realizado com
tuintes naturais do leite, oferecendo um produto com o objetivo de estender a vida de prateleira dos produtos
maior vida de prateleira e com características nutricio- (APHA, 2001).
nais e sensoriais preservadas (CARVALHO & MAUBOIS, Geralmente, a qualidade da maioria dos alimentos e
2009). bebidas diminui com a estocagem, havendo um tem-
Como mencionado anteriormente, microfiltração po finito no qual o produto se mantém aceitável. Este
é uma das técnicas de separação por membranas na tempo entre a produção e a inaceitabilidade é conheci-
qual a força-motriz responsável pela separação é o do como vida de prateleira, ou seja, é o tempo em que
gradiente de pressão que se forma através da membra- o alimento pode manter-se na prateleira do varejista
na. O processo utiliza membranas porosas com poros ou do consumidor antes de se tornar inaceitável. Três
na faixa entre 0,1 e 10 μm, sendo, portanto, indicado fatores determinam a vida de prateleira: as característi-
para a retenção de materiais em suspensão e emulsão. cas do produto, o ambiente no qual o produto é exposto
O líquido microfiltrado que flui através da membrana durante a distribuição e as propriedades da embalagem
tem a mesma concentração dos componentes do fluxo (ROBERTSON, 1993).
de alimentação que possuem tamanho menor que o Este trabalho teve como objetivos avaliar a tecnolo-
poro da membrana (SABOYA & MAUBOIS, 2000). No gia de microfiltração na redução da microbiota do leite
caso do leite a microfiltração, dependendo do tama- cru sem alterar suas propriedades físicoquímicas, nutri-
nho dos poros da membrana, promove a retenção dos cionais e sensoriais e utilizá-la no desenvolvimento de
glóbulos de gordura, micelas de caseína, bactérias e leite de vida de prateleira estendida, bem como avaliar a
células somáticas. qualidade do ar do ambiente de processamento.
Durante o processo de microfiltração, o leite desna-
tado microfiltrado é misturado com uma quantidade de 3. Material e Métodos
creme de leite previamente tratado (95 °C/20s) reque- Os produtos foram fabricados no Laticínios Escola
rido para a padronização de gordura; a mistura obtida e as análises físicoquímicas e microbiológicas foram
é então homogeneizada e assepticamente embalada. realizadas no Laboratório de Pesquisa em Leite e Deriva-
A França é o único país que autorizou, oficialmente, a dos, ambos situados no Departamento de Tecnologia de
comercialização de leite cru microfiltrado com vida de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa.
prateleira estendida. Neste país, o prazo de validade
autorizado para o produto estocado em uma tempera- 3.1. Amostra
tura na faixa de 4 a 6 °C é de três semanas, sendo que A amostra de leite cru utilizada para fabricação dos
o volume anual deste leite microfiltrado produzido por produtos foi fornecida pelo Laticínios Escola. O leite
uma única empresa de laticínios, sob a marca “Margue- cru foi desnatado a 45 °C, apresentando um teor médio
rite®”, atingiu em 2008 10 milhões de litros. Em outros de gordura de 0,33%. Antes de ser submetido ao pro-
países, outras plantas de processamento aplicam à mis- cesso de microfiltração, o mesmo foi aquecido a 50 °C
tura homogeneizada, antes do acondicionamento, uma para eliminação das enzimas endógenas presentes no
pasteurização rápida (HTST – 72 °C/20 s), estendendo a leite que podem causar alterações no produto durante
vida de prateleira até cinco semanas. sua conservação. As amostras foram envasadas em
Como já mencionado, na microfiltração do leite as potes de polietileno de alta densidade (PEAD) previa-
células somáticas são totalmente retidas pela mem- mente higienizados e sanitizados com solução clorada
brana, o que faz com que o leite microfiltrado não seja a 200 ppm.
140
Foram realizadas três repetições no experimento, as Para determinação da relação funcional entre o
quais foram armazenadas em duas temperaturas (4 e tempo e a temperatura de estocagem com os parâ-
14 °C) para o acompanhamento da vida de prateleira. metros avaliados foram realizadas análises esta-
As temperaturas citadas foram definidas de acordo tísticas descritivas – média e desvio padrão – e de
com a legislação vigente (4 °C) e com base na situação regressão. Os dados das análises microbiológicas e
observada nos postos de venda do produto (14 °C). As físico-químicas foram analisados utilizando pro-
amostras obtidas foram mantidas e analisadas nestas cedimentos do software estatístico SAS (Statistical
temperaturas até atingirem uma contagem de mesófilos Analysis System, SAS Institute Inc., Carolina do
aeróbios estritos e facultativos superior a 8,0 x 104UFC. Norte, EUA), versão 9.1, licenciado pela Universidade
mL-1 conforme exigido pela Instrução Normativa n° 51 Federal de Viçosa, 2010.
para leite pasteurizado, de 18 de setembro de 2002, do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 3.5. Sedimentação de microrganismos do ar em
(BRASIL, 2002). meio sólido
Para avaliar a qualidade do ar do ambiente de
3.2. Microfiltração processamento realizou-se a técnica de sedimentação
Para a microfiltração do leite foi utilizado um de microrganismos do ar em meio sólido. A técnica foi
equipamento de microfiltração em escala piloto (Tetra realizada expondo-se, por 15 minutos, uma placa de
Pak Filtration Systems, França) com membrana cerâ- Petri contendo ágar PCA solidificado, em três regiões di-
mica Sterilox®, dotada de poros de 0,8 μm, área total ferentes da sala de envase do leite, de maneira que toda
de 0,24 m2, velocidade de permeação de 7m/s, variação região de envase fosse avaliada. Em seguida, as placas
da pressão transmembrana de no máximo 0,5 bar e foram incubadas a 35 ± 1°C/ 48 ± 2 horas. O resulta-
fluxo de 120 L/h. No processo, foi utilizado um fator de do foi expresso em UFC.cm-2.semana-1, de acordo com
concentração de 20:1. recomendação da APHA. Para cálculo da área da placa,
Como mencionado anteriormente, o leite previamen- considerou-se o diâmetro de 9,1 cm, totalizando uma
te desnatado foi aquecido a uma temperatura de 50°C área de 65 cm2.
para obtenção de um fluxo com menor viscosidade, de
forma a reduzir a camada de polarização na membrana 4. Resultados e Discussão
(fouling). Logo após, o mesmo foi colocado no equipamen-
to previamente higienizado. Durante o processo, cuidados 4.1. Qualidade inicial do leite e após o processo de
foram tomados para evitar que o leite não ultrapassasse microfiltração
50 °C, pois do contrário, poderiam ocorrer precipitações Os resultados das análises microbiológicas e físi-
de proteínas do soro, principalmente quando se trabalha coquímicas do leite cru e do leite após o processo de
em maiores escalas, o que contribuiria para a elevação microfiltração são apresentados nas Tabelas 1 e 2,
da camada de polarização da membrana. respectivamente.
141
fazer melhor
Tabela 3 - Requisitos físico-químicos e mais de 30 dias, o que indica uma vida de prateleira
substancialmente longa, quando comparada com o
microbiológicos de qualidade de leite cru,
leite pasteurizado.
fixados pela IN 51/2002
REQUISITO LEITE CRU DESNATADO
Teor de gordura (g/100g) >3,0
Acidez (g ácido lático/100mL) 0,14 a 0,18
Proteína total (g/100g) Min. 2.9
Índice crioscópico máximo -0,530 °H
Contagem padrão em placas 7,5 x 105
(UFC.mL-1)
143
fazer melhor
1
Agrocampus Ouest, Renne, França, 2Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Viçosa, Brasil
*Professor orientador, autor para correspondência
1 – Introdução
Tabela 1 – Queijos preparados a partir de soro em
Durante o processo de fabricação de derivados lác-
vários países
teos, tais como queijo e iogurte, há a geração de soro de
leite, co-produto altamente valorizado no mercado mun- País Designação
dial. No Brasil, no entanto, este co-produto ainda não é Itália Ricotta gentile ou Ricotta
valorizado adequadamente, existindo ainda inúmeras Romana
indústrias que o descartam nos cursos d’água, gerando França Serac na Zona oriental
enorme poluição, enquanto outras o utilizam na alimen-
tação animal. Além da legislação ambiental, que proíbe Brousse no Sul
o descarte deste produto nos rios e penaliza as empresas Broccio em Cossiac
que adotam tal prática, as indústrias de laticínios que Grueil nos Pirinéus
ainda consideram o soro de leite como subproduto, estão
Grécia Manouri, Myzythra e Anthotyros
“perdendo dinheiro” e poder de competição frente às
demais. De acordo com Lira (2009), aproximadamente Portugal Requeijão
50% de todo o soro líquido produzido no Brasil não é Espanha Requesón
aproveitado, sendo este número ainda maior se forem
Noruega Mysost, Brunost, Gjestost,
consideradas as micro e pequenas empresas.
Primost e Gudbradsdaldost
O soro de leite é rico em proteínas com elevado teor
de aminoácidos essenciais e lactose, além de possuir Tunísia Klila
alta qualidade técnico-funcional, o que permite sua Norte da África Nicotta
utilização em uma gama de produtos alimentícios. Romênia Ziger
Baldasso (2006) acrescenta que com o aumento na pro-
dução mundial de queijo e o controle mais rigoroso da Ex-República da Iugoslávia Scutta e Puina
disposição de efluentes, a produção do soro se torna um Chipre Anari
dos problemas mais críticos para a indústria de lácteos. Israel Urda
Neste caso, com o contínuo desenvolvimento de tecno-
República Checa Zincica e Urda
logias e a crescente responsabilidade ambiental, exigida
das indústrias, a imagem do soro está modificando Fonte: PINTADO & MALCATA, 1999. Adaptado de Kandarakis (1986) e Jelen &
rapidamente de efluente, como um problema, para uma Buchhein (1976)
146