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Aula 02

Curso de Direito Constitucional p/ OAB (2 fase) XXVII Exame de


Ordem
Diego Cerqueira Berbert Vasconcelos

01071358251 - JOSINALDO PEREIRA DA SILVA


Diego Cerqueira Berbert Vasconcelos
Aula 02

Curso Direito Constitucional


XXVII Exame de Ordem OAB

Olá, alunos do Estratégia OAB.

Como andam as revisões do direito material? Além disso, firmes e fortes para
mais um encontro de Constitucional?

Pois bem. Na aula de hoje continuaremos nossa revisão verticalizada, alcançando


temas sensíveis e que merecem uma atenção extra, a exemplo da organização
do estado, repartição de competência, intervenção....

Fiquem ligados, pois a FGV adora cobrar esses assuntos. :)

Abraço e boa aula a todos!

Diego Cerqueira

diegocerqueira@estrategiaconcursos.com.br

https://www.facebook.com/profdiegocerqueira/

@profdiegocerqueira

*Esse curso é desenvolvido por mim Diego Cerqueira, mas conta com a
participação dos Profs. Ricardo Vale e Prfª Nádia Carolina na elaboração do
conteúdo da revisão de Direito Material Constitucional, assim como
trabalhamos na 1ª fase do Exame da OAB.

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SUMÁRIO PÁGINA
1 – Organização do Estado 2-15
2 – Repartição de competências 15-35
3 – Intervenção 36-43
4 – Administração Pública 44-64
5 – Poder Executivo 65-90
6 – Marcação do Código 91

1. Organização do Estado
A doutrina tradicional considera que os elementos constitutivos do Estado são o
território, o povo e o governo soberano. Nesse sentido, Manoel Gonçalves
Ferreira Filho afirma que “o Estado é uma associação humana (povo), radicada
em base espacial (território), que vive sob o comando de uma autoridade (poder)
não sujeita a qualquer outra (soberana).”1 Assim, temos que:

Povo É a dimensão pessoal do Estado; são os seus nacionais.

Território É a dimensão física sobre a qual o Estado exerce seus poderes; é o


domínio espacial (material) onde vigora uma determinada ordem
jurídica estatal.

Governo É a dimensão política; o Governo deve ser soberano, ou seja, sua


vontade não se subordina a nenhum outro poder, seja no plano
interno ou no plano internacional.

Os Estados possuem diferentes maneiras de se organizar, isto é, existem


diferentes formas de Estado. Ressalte-se, que esta é a maneira pela qual há a
distribuição territorial do poder. Assim, os Estados podem ser classificados:

a) Estado unitário: Existe, aqui, a centralização política do poder. O


poder está centralizado em um núcleo estatal único, do qual se irradiam
todas as decisões; Ex: O Brasil, até a promulgação da Constituição de
1891, também foi um Estado unitário.

b) Estado federal: Há várias pessoas jurídicas com capacidade política,


cada uma delas dotada de autonomia política. São vários os centros
produtores de normas; existe uma pluralidade de ordenamentos

1
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional, 38ª edição. Editora Saraiva, São Paulo, 2012, pp. 75-76.

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jurídicos. Ex: Brasil possui como entes federativos a U, E, DF, e M. Todos


eles são dotados de autonomia política, que lhes é garantida pela CF/88.

E qual a diferença entre federação e confederação?

Na federação, há uma união indissolúvel de entes autônomos, que tem como


fundamento uma Constituição. A federação não pode ser desmantelada: não
há direito de secessão. Já na confederação tem-se uma reunião de Estados
soberanos. O vínculo é estabelecido com base em um tratado internacional, o
qual pode ser denunciado (vínculo dissolúvel). A confederação é uma
referência histórica, pois não existe nenhuma atualmente. Historicamente: Ex:
Confederação os EUA de 1781 a 1787.2

FEDERAÇÃO CONFEDERAÇÃO

• UNIÃO INDISSOLÚVEL • UNIÃO DISSOLÚVEL


• OS ENTES FEDERADOS SÃO • OS ENTES FEDERADOS SÃO
AUTÔNOMOS SOBERANOS
• TEM COMO FUNDAMENTO A • TEM COMO FUNDAMENTO UM
CONSTITUIÇÃO ACORDO INTERNACIONAL

1.1 A federação - Características

A federação, conforme já afirmamos, tem como característica central, a


descentralização do poder político. Os entes federativos são dotados de
autonomia política, que se manifesta por meio de 4 (quatro) aptidões:

a) Auto-organização: Os entes federativos têm competência para se


auto-organizar. Os estados se auto-organizam por meio da elaboração das
Constituições Estaduais e os municípios por meio de suas Leis Orgânicas.
Trata-se da capacidade de autoconstituição.3
b) Autolegislação: Muitos autores entendem que a capacidade de
autolegislação estaria compreendida dentro da capacidade de auto-
organização.4 No entanto, a autolegislação é a capacidade de os entes
federativos editarem suas próprias leis. Há diferentes centros
produtores de normas. (pluralidade de ordenamentos jurídicos).
c) Autoadministração: É o poder de exercer suas atribuições de
natureza administrativa, tributária e orçamentária - elaboração de
orçamentos; arrecadação de tributos e execução políticas públicas.

2
CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional: Teoria do Estado e da Constituição, Direito Constitucional Positivo, 16ª
edição. Ed. Del Rey. Belo Horizonte, 2010.
3
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional, 6ª edição.
Editora Saraiva, São Paulo, 2011. pp. 828.
4
MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional, Ed. Juspodium, Salvador: 2013, pp. 429.

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d) Autogoverno: É o poder de eleger seus próprios representantes.

O estabelecimento de um Estado federal tem como ponto de partida uma decisão


do Poder Constituinte. É a Constituição, afinal, que estabelecerá o pacto
federativo e criará mecanismos tendentes a protegê-lo. A nossa CF/88 revela
logo no art. 1º, caput, que a “República Federativa do Brasil é formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal”. Assim, podemos
afirmar que uma federação deve possuir as seguintes características:5

Repartição constitucional de competências: cada ente federativo é dotado


de uma gama de atribuições que lhe são próprias e essa repartição de
competências é definida pela Constituição.
Indissolubilidade do vínculo federativo: Em uma federação, não existe
direito de secessão; em outras palavras, os entes federativos estão ligados por
um vínculo indissolúvel.
Nacionalidade única: Os cidadãos dos estados (BA, SP, RJ...) da federação
possuem nacionalidade única; não há nacionalidades parciais.
Rigidez constitucional: Em um Estado federal, é necessário que exista uma
Constituição escrita e rígida, que proteja o pacto federativo. Ressalte-se que,
no Brasil, o princípio federativo é uma cláusula pétrea e, portanto, não pode ser
objeto de deliberação emenda constitucional que tenda a aboli-lo.
Existência de mecanismo de intervenção: Os atos que contrariem o pacto
federativo darão ensejo à utilização dos mecanismos de intervenção (federal ou
estadual, dependendo do caso).
Existência de um Tribunal Federativo: É necessário que exista um Tribunal
com a competência para solucionar litígios envolvendo os entes federativos. No
Brasil, o STF atua como Tribunal federativo ao processar e julgar, originariamente,
as causas e os conflitos entre a União e os Estados ou entre os Estados. Cabe
destacar que, no Brasil, o STF não julga os conflitos envolvendo Municípios.
Participação dos entes federativos na formação da vontade nacional: deve
existir um órgão legislativo representante dos poderes regionais. No Brasil, esse
órgão é o Senado Federal, que representa os Estados e o Distrito Federal.
Destaque-se que, na federação brasileira, os Municípios não participam da
vontade nacional.

A federação brasileira

Segundo o art. 18, da CF/88, “a organização político-administrativa da República


Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os

5
MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional, 9ª edição. São Paulo Editora Atlas: 2010,
pp. 636.

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Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição”. Os Territórios


não são entes federativos; portanto, não possuem autonomia política.

Os entes federativos (U, E, DF, M) são todos autônomos, isto é, são dotados de
auto-organização, autolegislação, autoadministração e autogoverno,
dentro dos limites estabelecidos pela CF/88. Há uma limitação de poder.

Soberania
• É atributo apenas da República Federativa do Brasil, do Estado federal em seu
conjunto. A União é quem representa a RFB no plano internacional (art. 21, I),
mas possui apenas autonomia, jamais soberania.

União

A União é pessoa jurídica de direito público interno, sem personalidade


internacional, autônoma, com competências administrativas e legislativas
enumeradas pela Carta Magna. É esse ente federativo que representa a República
Federativa do Brasil no plano internacional. A União atua em nome da federação.
Pode editar leis nacionais (às quais se submetem todos os habitantes do território
nacional) ou leis federais (que estão apenas sob a jurisdição da União – Ex: Lei
nº 8.112/90.

Segundo o art.18, § 2º, os Territórios Federais integram a União; não são


dotados de autonomia política, são meras descentralizações administrativas.
Por isso, são considerados pela doutrina autarquias territoriais da União.
Atualmente, não existe nenhum Território Federal.

1.2.2 Estados

Os Estados6, assim como a União, são entes autônomos, apresentando


personalidade jurídica de direito público interno. Possuem autonomia
política e, por isso, apresentam capacidade de auto-organização, autolegislação,
autoadministração e autogoverno. Ex: art. 25, da CF/88, que dispõe sobre a
capacidade de auto-organização e autolegislação:

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas


Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição.

No que tange à capacidade de autogoverno, os Estados elegem seus


representantes nos Poderes Legislativo e Executivo, os quais não terão
qualquer vínculo de subordinação ao poder central. No caso do legislativo

6
Não confunda Estado federado (sinônimo de Estado-membro) com Estado federal (sinônimo de República Federativa do Brasil). Os
primeiros são parte do segundo.

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estadual, importante dizer que este é unicameral, sendo formado apenas pela
Assembleia Legislativa, diferentemente do Legislativo federal, que é bicameral.

Os deputados estaduais são eleitos para mandatos de quatro anos, pelo


sistema proporcional. Seu número é determinado pela regra estabelecida no
art. 27, “caput”, da Carta Magna:

Art. 27. O número de Deputados à Assembleia


Legislativa corresponderá ao triplo da representação
do Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o
número de trinta e seis, será acrescido de tantos
quantos forem os Deputados Federais acima de doze.
§ 1º - Será de quatro anos o mandato dos Deputados
Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta
Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade,
imunidades, remuneração, perda de mandato,
licença, impedimentos e incorporação às Forças
Armadas.

O número de deputados estaduais será, então, o triplo dos deputados


federais. Se um Estado-membro possuir 10 deputados federais, ele terá por
consequência 30 deputados estaduais (3 x 10). No entanto, uma vez atingido o
número de 36, serão acrescidos tantos quantos forem os Deputados
Federais acima de 12. Assim, caso um estado tenha 20 deputados federais,
fazemos a conta 36+(20-12), o que totaliza 44 deputados estaduais.

Além de auto-organização, autolegislação e autogoverno, os Estados possuem


autoadministração. Assim, são competentes para se administrarem, no
exercício das atribuições definidas pela Constituição.

Determina ainda Carta Magna que os Estados poderão, mediante lei


complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e
microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para
integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de
interesse comum (art. 25, § 3º, CF/88). São, portanto, 3 (três) os requisitos:

Lei complementar estadual

Os municípios envolvidos devem ser limítrofes

Finalidade de integrar a organização, o planejamento e a


execução de funções públicas de interesse comum

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As regiões metropolitanas são formadas por um conjunto de Municípios cujas


sedes se unem, com certa continuidade urbana, em torno de um Município-polo.
As microrregiões, por sua vez, são formadas por Municípios limítrofes, sem
continuidade urbana, com características homogêneas e problemas
administrativos comuns. Finalmente, os aglomerados urbanos são áreas
urbanas cujos Municípios apresentam tendência à complementaridade de suas
funções, exigindo, por isso, um planejamento integrado e uma ação coordenada
dos entes públicos. É o caso da Baixada Santista, por exemplo.

Em 2013, o STF julgou Ação Direta de Inconstitucionalidade que versava sobre a


criação da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e a Microrregião dos Lagos. 7
Na oportunidade, o Tribunal considerou que:

A criação de regiões metropolitanas depende da edição de lei


complementar, sendo compulsória a participação dos Municípios e
não há necessidade de condicionar à prévia manifestação da
respectiva Câmara dos Vereadores.
O “interesse comum” inclui funções e serviços públicos
supramunicipais, que extrapola interesse local. Ex: saneamento básico.
Não há uma mera transferência de competências para o Estado. O que
deve haver é uma divisão de responsabilidades. O poder decisório e o
poder concedente (dos serviços públicos) não podem ficar apenas nas
mãos do Estado. Deve ser constituído um órgão colegiado. Mas, a
não precisa ser paritária, desde que apta a prevenir a concentração
do poder decisório no âmbito de um único ente.

Distrito Federal

A natureza jurídica do Distrito Federal tem gerado algumas discussões. Alguns


autores defendem possuir natureza híbrida, por apresentar algumas
características dos Estados e outras dos Municípios. Para José Afonso da Silva, o
“DF” não é nem Estado nem Município. Já o STF afirma que se trata ente
federativo com autonomia parcialmente tutelada pela União.

O Distrito Federal é ente federado autônomo e, como tal, dispõe de auto-


organização, autoadministração, autolegislação e autogoverno (CF, arts. 18, 32
e 34). A auto-organização do Distrito Federal se manifesta por meio de Lei
Orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e
aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos
os princípios estabelecidos na Constituição (art. 32, “caput”, CF/88).

No que se refere à autolegislação, o Distrito Federal apresenta uma


característica peculiar: a ele são atribuídas as competências legislativas
reservadas aos Estados e Municípios (CF, art. 32, §1º e 147). Mas não são

7
ADI 1.842, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe: 13.09.2013.

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todas. Algumas não lhe foram estendidas (Ex: competência para dispor sobre sua
organização judiciária, que é privativa da União (art. 22, XVII, CF).

Além disso, ao contrário dos Estados, a competência para organizar e manter


o Ministério Público, o Poder Judiciário, a polícia civil, a polícia militar e
o corpo de bombeiros militar é da União (CF, art. 21, XIII e XIV).

Já no que tange ao autogoverno, a eleição do Governador e do Vice-Governador


segue as regras da eleição para Presidente da República. A dos deputados
distritais segue a regra dos deputados estaduais.

Outra peculiaridade do Distrito Federal é que não há previsão constitucional para


alteração dos seus limites territoriais. Ressalta-se, ainda, que, ao contrário dos
Estados-membros, o Distrito Federal não pode ser dividido em Municípios
(art. 32, “caput”, CF/88).

Além disso, não pode organizar nem manter o Judiciário nem o Ministério Público,
nem as polícias civil e militar e o corpo de bombeiros. Todos esses órgãos são
organizados e mantidos pela União, cabendo a ela legislar sobre a matéria. Nesse
sentido, determina a Súmula Vinculante nº. 39 do STF que:

“compete privativamente à União legislar


sobre vencimentos dos membros das polícias
civil e militar e do corpo de bombeiros militar
do Distrito Federal”.

Municípios

Os Municípios são entes autônomos, sendo sua autonomia alçada, pela CRFB/88
à condição de princípio constitucional sensível (CF, art. 34, VII, “c”).

Segundo Alexandre de Moraes, o Município se auto-organiza por meio de sua Lei


Orgânica Municipal; autolegisla, por meio das leis municipais; autogoverna-
se por meio da eleição direta de seu Prefeito, Vice-Prefeito e vereadores sem
qualquer ingerência dos Governos Federal e Estadual; e, por fim, se
autoadministra ao pôr em exercício suas competências administrativas,
tributárias e legislativas, diretamente conferidas pela Constituição Federal. 8

Um ponto importante: Nos Municípios não há Poder Judiciário. O Poder


Legislativo, assim como nos Estados-membros, é unicameral.

No que diz respeito à auto-organização, a Lei Orgânica do município será


votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por

8
MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional, 9ª edição. São Paulo Editora Atlas: 2010,
pp. 714.

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dois terços dos membros da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos


os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo
Estado. (art. 29, CRFB/88)

O Prefeito e Vice-Prefeito serão eleitos pelo sistema majoritário, para mandato


de 4 (quatro) anos. A eleição é realizada no primeiro domingo de outubro do ano
anterior ao término do mandato dos que devem suceder. No caso de Municípios
com mais de 200.000 eleitores, a eleição de Prefeito e Vice-Prefeito ocorrerá
pelo sistema majoritário de 2 turnos; caso o número de eleitores seja inferior
a 200.000, haverá apenas 1 (um) turno de votação.

Por fim, ainda de acordo com art. 29, XIII, CF/88, a iniciativa popular de leis no
Município se dará através da manifestação de, pelo menos, 5% do eleitorado.

Meus amigos, um detalhe importante para nossa prova! A quem compete julgar
o Prefeito?

Nossa CRFB/88, em seu artigo 29, inciso X, trata do julgamento do Prefeito


perante o Tribunal de Justiça. “Mas, Diego, isso se aplica a todos os
casos?”

Então. O Supremo Tribunal entende que a competência do TJ se limita aos


crimes de competência da justiça comum estadual. Para as demais
situações, a competência originária ficará no tribunal de segundo grau. Por
exemplo, se tivermos crimes eleitorais, a competência será do TRE; se tivermos
crimes federais, a competência será do TRF...

Olha só também o que diz essas duas súmulas do STJ:

Súmula 208 STJ:

“Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal


por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão
federal”.

Súmula 209 STJ:

“Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio


de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal”.

Outro detalhe. Para o Superior Tribunal, o Prefeito será julgado pelo Tribunal de
Justiça (e não pelo tribunal do júri) no caso de crimes dolosos contra a vida.

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Agora, cumpre destacar pessoal que essa competência originária disposta pela
CRFB/88 (resguardada as exceções mencionadas), vale para o processo e
julgamento das infrações penais comuns contra o Prefeito Municipal. Isso não
se estende ações populares, ações civis públicas e demais ações de
natureza cível. Não há foro privilegiado...

“Diego, e em relação ao crime de responsabilidade? ”Opa! Aqui temos duas


situações: os crimes próprios deverão ser julgados pela Câmara Municipal,
enquanto os crimes impróprios deverão ser julgados pelo Judiciário,
independentemente do pronunciamento da Câmara de Vereadores9.

Pelo art. 29-A, § 2º, temos alguns exemplos de crime de responsabilidade:


efetuar repasse que supere os limites definidos no artigo 29-A, que vimos
anteriormente; não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou enviá-lo a
menor em relação à proporção fixada na Lei Orçamentária.

Territórios Federais

Os Territórios Federais integram a União, sendo considerados meras


descentralizações administrativas. (a doutrina fala em autarquias territoriais).
Portanto, eles não são entes federativos e não possuem autonomia política,
muito embora possam ser divididos em Municípios.

Apesar de não existir, atualmente, nenhum Território Federal 10, estes poderão
ser criados a qualquer tempo. Para a criação dos Territórios Federais, é
necessária lei complementar.

O Poder Executivo nos Territórios Federais é chefiado pelo Governador, que não
é eleito pelo povo. O Governador do Território é nomeado pelo Presidente da
República, com nome aprovado previamente, por voto secreto, após
arguição pública pelo Senado Federal. Compete privativamente à União
legislar sobre a organização administrativa dos Territórios (art. 22, XVII).

Existe Poder Legislativo nos Territórios? Sim, existe. O Poder Legislativo é


exercido pela Câmara Territorial. Segundo o art. 33, §3º, CF/88, a lei disporá
sobre as eleições da Câmara Territorial e sua competência legislativa. A Câmara
Territorial exercerá apenas a função típica de legislar; a função de controle
externo da administração dos territórios é exercida pelo Congresso Nacional, com
o auxílio do TCU.

9
Crimes próprios: são infrações político-administrativas, cuja sanção corresponde à perda do mandato e à suspensão dos direitos políticos;
crimes impróprios são verdadeiras infrações penais, apenados com penas privativas de liberdade.
10
Atualmente, não existe nenhum Território Federal. Com a CF/88, os territórios de Roraima e do Amapá foram transformados em estados
federados; por sua vez, o território de Fernando de Noronha foi incorporado ao estado de Pernambuco.

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Cada um dos Territórios elege 4 Deputados Federais; trata-se, portanto, de


número fixo, não proporcional à população. Os Territórios, por não serem
entes federativos, não elegem Senadores.

Detalhe. O Poder Judiciário, nos Territórios Federais, é organizado e mantido pela


União. Com efeito, possui a competência privativa para organizar e manter o
Poder Judiciário do Distrito Federal e Territórios. Nos Territórios Federais, a
jurisdição e as atribuições cometidas aos juízes federais caberão aos juízes da
justiça local, na forma da lei.

Assim como o Poder Judiciário, o Ministério Público, nos Territórios Federais, é


organizado e mantido pela União. Assim, temos o TJDFT (Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios) e o MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios). Existe, ainda, a Defensoria Pública dos Territórios, também
organizada e mantida pela União.

Cuidado! Não há que se falar mais em Defensoria


Pública do Distrito Federal e Territórios (DPDFT).
Após a EC nº 69/2012, a Defensoria Pública do
Distrito Federal (DPDF) é organizada e mantida pelo
próprio Distrito Federal. Temos, então, dois órgãos
diferentes: a Defensoria Pública do DF (organizada e
mantida pelo DF) e a Defensoria Pública dos
Territórios (organizada e mantida pela União).

Quando os Territórios tiverem mais de cem mil habitantes, além do


Governador, haverá órgãos judiciários de primeira e segunda instância,
membros do Ministério Público e defensores públicos federais.

Alterações na estrutura da federação

Formação dos Estados

A federação é cláusula pétrea do texto constitucional, ou seja, não pode ser


objeto de emenda que seja tendente à sua abolição. Todavia, ela poderá sofrer
alterações em sua estrutura nos termos do art. 18, § 3º, CF/88:

§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si,


subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a
outros, ou formarem novos Estados ou Territórios
Federais, mediante aprovação da população
diretamente interessada, através de plebiscito, e do
Congresso Nacional, por lei complementar.

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A leitura do dispositivo supracitado nos permite afirmar que há 5 (cinco)


diferentes tipos de alteração na estrutura dos Estados:

a) Fusão: Um Estado A se une a um Estado B, formando o Estado C. Há


a formação de um novo ente federado, distinto dos anteriores e com
personalidade própria. Os Estados anteriores deixam de existir.
b) Incorporação: Estado A se incorpora ao Estado B, o qual continua a
existir. O Estado A deixa de existir e o território do Estado B aumenta. Um
dos entes federativos mantém a sua personalidade jurídica. Ex:Estado
de Guanabara se incorporou ao Estado do Rio de Janeiro.
c) Subdivisão ou cisão: Um Estado A se subdivide, dando origem ao
Estado B e C. O Estado A deixa de existir, surgindo dois novos Estados
(duas novas personalidades jurídicas). A subdivisão de um Estado pode
dar origem a novos Estados ou territórios. Existe proposta para que o
Maranhão seja subdivido em Maranhão do Sul e Maranhão do Norte.
d) Desmembramento-anexação: Ocorre quando um ou mais Estados
cedem parte de seu território para que este seja anexado ao
território de outro Estado. Ex: o Estado A perde parcela do seu
território, que é anexada ao território do Estado B. Perceba que, nessa
operação, não houve extinção de nenhum Estado. O Estado A perdeu parte
de seu território, mas continuou existindo.
e) Desmembramento-formação: Ocorre quando um ou mais Estados
cedem parte de seu território para que haja a formação de um novo
ente. Foi o que aconteceu com Goiás, quando este cedeu parte de seu
território para a formação do estado do Tocantins. Perceba que, nessa
operação, não houve extinção de nenhum Estado. Goiás perdeu parte do
seu território, mas deu origem a um novo Estado-membro.

E quais são os requisitos para que sejam realizadas essas alterações na estrutura
dos Estados?

De início, será necessário que se proceda à consulta às populações


diretamente interessadas, mediante a realização de um plebiscito. Caso a
população seja desfavorável, a modificação territorial será impossível. Já quando
favorável, a decisão final sobre a modificação territorial é do Congresso Nacional,
pois este poderá editar ou não a lei complementar.

Na ADIN nº 2.650/DF, o STF considerou que se deve dar ao termo


“população diretamente interessada” o significado de que, nos casos de
desmembramento, incorporação ou subdivisão de Estado, deve ser consultada,
mediante plebiscito, toda a população do (s) Estado (s) afetado (s), e não
apenas a população da área a ser desmembrada, incorporada ou subdividida.

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Após a manifestação favorável da população diretamente interessada, será


necessária a oitiva das Assembleias Legislativas dos estados interessados.
Entende-se que a consulta às Assembleias Legislativas é meramente opinativa,
o que quer dizer que, mesmo que a Assembleia Legislativa for desfavorável à
mudança territorial, o Congresso Nacional pode editar a lei complementar que
aprova a subdivisão, incorporação ou desmembramento.

Consultada a população (mediante plebiscito) e feita a oitiva das Assembleias


Legislativa, resta apenas a edição de lei complementar, o que é um ato
discricionário do Congresso Nacional. Esse é o passo final para a alteração na
estrutura dos Estados. Assim, em resumo, temos os seguintes requisitos:

1) Consulta prévia, por plebiscito, às populações


diretamente interessadas
2) Oitiva das Assembleias Legislativas dos estados
interessados (art. 48, VI, CF/88)
3) Edição de lei complementar pelo Congresso Nacional

*Observe que a formação dos Territórios obedece aos mesmos requisitos


necessários para a incorporação, subdivisão e desmembramento de Estado.

Formação dos Municípios

A formação de Municípios é regulada pelo art. 18, § 4º da Constituição, cuja


redação foi dada pela EC nº 15/1996:

§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o


desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei
estadual, dentro do período determinado por Lei
Complementar Federal, e dependerão de consulta
prévia, mediante plebiscito, às populações dos
Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos
de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados
na forma da lei.

De 1988 até 1996, a criação de Municípios era bem simples. As restrições não
eram tão grandes e, como consequência disso, multiplicaram-se os Municípios.
Na tentativa de moralizar a criação de Municípios, foi promulgada a EC nº
15/1996, cujas regras estão válidas até hoje. São, 5 (cinco) os requisitos para a
criação, incorporação, fusão e desmembramento de municípios:

Edição de lei complementar federal pelo Congresso Nacional, fixando


genericamente o período dentro do qual poderá ocorrer a criação,

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incorporação, fusão e desmembramento de municípios. Destaque-se que


esta lei complementar até hoje não editada;
Aprovação de lei ordinária federal determinando os requisitos
genéricos e a forma de divulgação, apresentação e publicação dos estudos
de viabilidade municipal;
Divulgação dos estudos de viabilidade municipal, na forma
estabelecida pela lei mencionada acima;
Consulta prévia, por plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos.
O resultado do plebiscito, quando desfavorável, impede a criação do novo
Município. Por outro lado, caso seja favorável, caberá à Assembleia
Legislativa decidir se irá ou não criar o Município;
Aprovação de lei ordinária estadual pela Assembleia Legislativa
determinando a criação, incorporação, fusão e desmembramento do(s)
município(s). Trata-se de ato discricionário da Assembleia Legislativa;

Tendo em vista que, até hoje, o Congresso não editou lei complementar dispondo
sobre o período dentro do qual poderão ocorrer alterações na estrutura de
Municípios, conclui-se que, atualmente, esses entes não podem ser criados.

No entanto, a realidade foi diferente. Mesmo após a promulgação da EC nº 15/96,


foram criados centenas de Municípios pelo Brasil afora. A doutrina os chamou de
“Municípios putativos”, pois existiam de fato, mas sua criação havia sido
inválida, inconstitucional.

O Supremo, então, foi chamado a apreciar o problema na ADIN nº 3.682/MT. Na


oportunidade, a Corte reconheceu a mora do Congresso Nacional, que deu
“ensejo à conformação e à consolidação de estados de inconstitucionalidade”. Foi
atestada a inconstitucionalidade da criação dos Municípios. Todavia, em
nome da segurança jurídica, o STF “passou a bola” para o Congresso, já que, não
poderia o STF, da noite para o dia, determinar a extinção de Municípios.

O Congresso Nacional editou, então, a EC nº. 57/2008, que convalidou os atos


de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha
sido publicada até 31/12/2006, atendidos os requisitos estabelecidos na
legislação do respectivo Estado à época de sua criação.

2. Repartição de Competências
Repartição de competências e a federação brasileira

Na federação, o poder político é descentralizado; os entes federados são


dotados de autonomia política. Nesse sentido, a repartição de competências
pode ser considerada como um elemento fundamental da federação.

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O objetivo é dividir o poder político entre os entes federados de forma racional


e equilibrada, garantindo o federalismo de equilíbrio. Ao repartir competências
entre os entes federativos, a Constituição está harmonizando a convivência entre
eles, viabilizando o pacto federativo.11

A repartição de competências é baseada em dois princípios: i) princípio da


predominância do interesse; e ii) princípio da subsidiariedade.

Segundo o princípio da predominância do interesse, a União cuidará das


matérias de predominância do interesse geral (nacional); aos Estados, caberão
as matérias de interesse regional; e aos Municípios, caberão as matérias de
interesse local. Nesse sentido, tem-se como exemplos:

emissão de moeda: o interesse predominante é o nacional, logo,


a competência é da União.
assegurar a defesa nacional: o interesse predominante é o
nacional, logo, a competência é da União.
fixação do horário de funcionamento de agências bancárias:
como está em jogo o sistema financeiro nacional, o interesse é geral
e, portanto, a competência é da União. Já a fixação do horário de
funcionamento de estabelecimentos comerciais é de interesse é local
dos Municípios.
Já princípio da subsidiariedade se baseia na lógica de que, sempre que for
possível, as questões devem ser resolvidas pelo ente federativo que estiver mais
próximo da tomada de decisões. Guardem isso com carinho!  Como
exemplo, citamos as competências para dispor sobre transporte.
a) A exploração do transporte municipal é matéria de competência dos
Municípios. Veja que cada Município consegue regular satisfatoriamente o
transporte urbano (municipal).
b) A exploração do transporte intermunicipal é matéria de competência
dos Estados. Perceba que um Município (sozinho) não consegue regular o
transporte intermunicipal. Portanto, o ente federativo que consegue
cumprir satisfatoriamente essa tarefa são os Estados.
c) A exploração dos serviços de transporte rodoviário interestadual e
internacional de passageiros é competência da União. Veja que um Estado
(sozinho) não consegue regular satisfatoriamente o transporte
interestadual e internacional; só a União conseguirá fazê-lo.

Meus amigos, vamos partir agora para as técnicas de repartição de competências:


i) repartição horizontal e; ii) repartição vertical.

11
MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. Ed. Juspodium, Salvador, 2013, pp. 453.

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Na repartição horizontal, a Constituição outorga aos entes federativos


competência para atuar em áreas específicas, sem a interferência de um sobre o
outro, sob pena de inconstitucionalidade. É típico dos Estados que adotam um
federalismo dual ou clássico. Já a repartição vertical, as competências serão
exercidas em conjunto pelos entes federativos, que irão, portanto, atuar de forma
coordenada. É típico de Estados que adotam um federalismo de cooperação ou
neoclássico.

A CF/88, ao repartir competências entre os entes federativos, utilizou as 2 (duas)


técnicas. Ao definir as competências exclusivas e privativas da União, foi adotada
a técnica de repartição horizontal; por sua vez, ao estabelecer as competências
comuns e as competências concorrentes, resta caracterizada a repartição
vertical. Por utilizar a repartição ver tical de competências, entende-se que o
==11b158==

Brasil adota um federalismo de cooperação ou neoclássico.

A repartição de competências na federação brasileira é, todavia, mais complexa


do que isso. Ela é estruturada da seguinte forma:

A CF/88 enumera expressamente as competências da União


(arts. 21 e 22). As competências da União são exclusivas ou
privativas. As competências exclusivas são indelegáveis,
caracterizando-se por serem administrativas (estão relacionadas
à prestação de serviços públicos pela União. Já as competências
privativas são delegáveis, caracterizando-se por serem
legislativas.
A CF/88 enumera expressamente as competências dos
Municípios. (art. 30).
A CF/88 não lista as competências dos Estados. Por isso, diz-se
que os Estados possuem competência remanescente. As matérias
que não foram atribuídas pela CF/88 à União ou aos Municípios serão
outorgadas aos Estados.
A CF/88 estabelece competências comuns, que são de todos os
entes federativos, em conjunto. Utilizou-se, aqui, da técnica de
repartição vertical de competências.
A CF/88 estabelece competências concorrentes entre a União,
os Estados e o Distrito Federal. Nas competências concorrentes,
verticalmente repartidas, cabe à União estabelecer as normas gerais
e aos Estados e Distrito Federal a competência suplementar.

Pergunta clássica. É possível fazer alteração da repartição de competências por


Emenda Constitucional?

A doutrina entende que a repartição de competências pode sim ser alterada por
emenda constitucional, desde que não represente uma ameaça tendente a abolir

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a forma federativa de Estado (essa sim uma cláusula pétrea). Assim, apenas não
seria válida uma emenda constitucional que reduzisse de forma substancial a
autonomia de um ou mais entes federados.

Competências Exclusivas e Privativas da União

Pessoal, peço uma atenção extra pois entraremos num dos tópicos mais
recorrentes em provas da 2ª fase. Inclusive uma das questões discursivas do XX

Exame de Ordem foi sobre esse tema.  



São as competências enumeradas, respectivamente, no art. 21 e art. 22 da
CRFB/88. Ambas são competências expressas (explícitas). No art. 21, estão as
chamadas competências exclusivas da União. Trata-se de competências de
natureza administrativa ou material, isto é, estão relacionadas à prestação
(execução) de serviços públicos pela União. São indelegáveis: mesmo diante da
omissão da União, não podem os demais entes federados nessas matérias.

*Toda vez que você estiver diante de uma questão de


prova que trate sobre determinada ação do Estado X,
Município Y, União... ou sobre uma lei de algum ente
federativo sobre determinada matéria, aqui vale uma
atenção especial na consulta dos arts. 21 e 22 da
nossa CRFB/88.
*Muito provavelmente será de competência de
algum ente e a banca irá cobrar se aquela
matéria, de natureza administrativa ou
legislativa cabe ao ente federativo x, y ou z.

Vamos a seguir dar uma olhadinha nas competências exclusivas mais importantes
para fins de prova, ok? Após isso, vale a pena fazer uma leitura do dispositivo na
íntegra...

Art. 21. Compete à União:


I - manter relações com Estados estrangeiros e
participar de organizações internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz;
III - assegurar a defesa nacional;
IV - permitir, nos casos previstos em lei
complementar, que forças estrangeiras transitem
pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente;
V − decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a
intervenção federal;

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VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de


material bélico;

No caso do inciso VI, o Supremo Tribunal decidiu que é inconstitucional lei


estadual que autoriza a utilização, pelas polícias civil e militar, de armas
de fogo apreendidas. Segundo a Corte, “a competência exclusiva da União para
legislar sobre material bélico, complementada pela competência para autorizar e
fiscalizar a produção de material bélico, abrange a disciplina sobre a destinação
de armas apreendidas e em situação irregular.” 12

VII - emitir moeda;


VIII - administrar as reservas cambiais do País e
fiscalizar as operações de natureza financeira,
especialmente as de crédito, câmbio e capitalização,
bem como as de seguros e de previdência privada;

Com base no inciso VIII, o STF entende que é inconstitucional lei estadual
que estabeleça a obrigatoriedade de utilização, pelas agências bancárias,
de equipamento que atesta a autenticidade de cédulas.13 Ora, se a competência
para a fiscalização das operações de natureza financeira é competência exclusiva
da União, não cabe aos Estados editar lei nesse sentido.

X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;

O STF considera que é constitucional a atribuição de monopólio do serviço


postal à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.14

XI - explorar, diretamente ou mediante autorização,


concessão ou permissão, os serviços de
telecomunicações, nos termos da lei, que disporá
sobre a organização dos serviços, a criação de um
órgão regulador e outros aspectos institucionais;

O STF considera que é inconstitucional lei estadual ou distrital que proíba as


empresas de telecomunicações de cobrarem taxas para a instalação do
segundo ponto de acesso à internet. 15 Ainda com base nesse dispositivo,
entende a Corte ser inconstitucional lei estadual ou distrital que estabeleça a
possibilidade de acúmulo das franquias de minutos mensais ofertados pelas
operadoras de telefonia, determinando a transferência dos minutos não utilizados
no mês de sua aquisição para os meses subsequentes.

E, para fechar, em 2016 o STF entendeu que é inconstitucional lei estadual que

12
STF, ADIN 3258. Rel. Min. Joaquim Barbosa. 06.04.2005.
13
STF, ADIN 3515, Rel. Min. Cezar Peluso. 01.08.2011
14
STF, ADPF 46, Rel. Min. Eros Grau. 05.08.2009.
15
STF, ADIN 4083. Rel. Min. Carmen Lucia. 25.11.2010

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determina que as empresas telefônicas criem ou mantenham um cadastro de


assinantes interessados em receber ofertas de produtos ou serviços16.

XII - explorar, diretamente ou mediante autorização,


concessão ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e
imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o
aproveitamento energético dos cursos de água, em
articulação com os Estados onde se situam os
potenciais hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura
aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário
entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou
que transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual
e internacional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;

Nesse dispositivo, estão enumerados diversos serviços públicos da competência


da União. Destaque-se que todos eles poderão ser explorados diretamente
pela União ou, então, por meio de autorização, concessão ou permissão.

XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o


Ministério Público do Distrito Federal e dos
Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios;
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia
militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito
Federal, bem como prestar assistência financeira ao
Distrito Federal para a execução de serviços públicos,
por meio de fundo próprio;

Esses dois dispositivos são muito importantes e com


grandes chances de serem cobrados em prova. Com base
neles, a doutrina entende que o Distrito Federal tem uma
autonomia parcialmente tutelada pela União.

Como já comentamos, a partir do inciso XIV, o STF editou a Súmula Vinculante


nº 39, segundo a qual “compete privativamente à União legislar sobre
vencimentos dos membros das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros
militar do Distrito Federal”.

16
STF, ADI 3959/SP. Rel. Min. Luís Roberto Barroso, 20.04.2016.

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Fiquem atentos, para o fato de que, desde a EC nº. 69/2012, a Defensoria


Pública do DF passou a ser organizada e mantida pelo próprio DF.

Vamos agora ao estudo das competências privativas da União. São


competências legislativas, isto é, estão relacionadas à edição de normas pela
União. E são também competências delegáveis.

Agora, um detalhe. Na delegação de competências privativas aos Estados pela


União, esta deve ocorrer por meio de lei complementar e terá́ necessariamente
que ser feita para todos os Estados, não pode ser feita somente para um deles.

Temos, a seguir, os dispositivos mais importantes (aqui vale a mesma


recomendação anterior, ok?)

Art. 22. Compete privativamente à União legislar


sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e
do trabalho;

Há farta jurisprudência do STF sobre esse dispositivo. Olha só:

A União tem competência privativa para legislar sobre direito penal,


inclusive sobre crimes de responsabilidade. Segundo a Súmula
Vinculante nº 46, “a definição dos crimes de responsabilidade e o
estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são
da competência legislativa privativa da União.”
é inconstitucional a lei distrital ou estadual que disponha sobre
condições do exercício ou criação de profissão, sobretudo quando esta
diga à segurança de trânsito.17 Assim, não pode uma lei estadual
regulamentar a profissão de motoboy, uma vez que é competência
privativa da União legislar sobre direito do trabalho.
é inconstitucional lei estadual que limita o valor das quantias
cobradas pelo uso de estacionamento. É competência privativa da
União legislar sobre direito civil.
é inconstitucional lei estadual que dispõe sobre atos de juiz,
direcionando sua atuação em face de situações específicas18. Isso
porque compete privativamente à União legislar sobre direito
processual.

17
ADI 3610. Rel. Min. Cezar Peluso. 01.08.2011
18
ADI 2.257, Rel. Min. Eros Grau, j. 06.04.05, DJ de 26.08.05.

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é inconstitucional lei estadual que disciplina o valor que deve ser


dado a uma causa19. Novamente, a razão para isso é o fato de que a
União tem competência privativa para legislar sobre direito processual.

XI - trânsito e transporte;

A União tem competência privativa para legislar sobre trânsito e transporte. Logo,
são inconstitucionais:

lei estadual ou distrital que estabeleça a obrigatoriedade do uso de


cinto de segurança;
lei estadual ou distrital que comine penalidades a quem seja flagrado
em estado de embriaguez na condução de veículo automotor;
lei estadual ou distrital que dispõe sobre instalação de aparelho,
equipamento ou qualquer outro meio tecnológico de controle de
velocidade de veículos automotores nas vias do Distrito Federal;
lei estadual ou distrital que torna obrigatório veículo automotor
transitar permanentemente com os faróis acesos nas rodovias.
Lei estadual que verse sobre cancelamento, descontos ou mesmo
parcelamento de multas. O cancelamento de multa é de
competência da União, ainda que se trata de multa aplicada no
âmbito de rodovia estadual.

Muito cuidado na hora da prova! É competência privativa


da União LEGISLAR sobre trânsito e transporte. Mas, é
competência comum da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios estabelecer e implantar política de
educação para a segurança do trânsito.

XX - sistemas de consórcios e sorteios;

Com base nesse dispositivo, o STF editou a Súmula Vinculante nº 2: “É


inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre
sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias”.

XXIII - seguridade social;


XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;

19
ADI 2.655, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 09.03.04, DJ de 26.03.04.

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É preciso estarmos atentos para algumas pegadinhas:

 É competência privativa da União legislar sobre


seguridade social. No entanto, legislar sobre
previdência social é competência concorrente da União,
dos Estados e do Distrito Federal (art. 24).
 É competência privativa da União legislar sobre
diretrizes e bases da educação nacional. No entanto,
legislar sobre educação é competência concorrente da
União, dos Estados e do Distrito Federal (art. 24).

Na ADI nº. 4060/SC, o STF considerou que a competência legislativa concorrente


do estado-membro para dispor sobre educação e ensino (CF/88, art. 24, IX)
autoriza a fixação, por lei estadual, do número máximo de alunos em sala de
aula. Assim, não há violação à competência privativa da União para legislar
sobre diretrizes e bases da educação nacional. 20

Por sua vez, na ADI nº 4167, o STF reconheceu a competência da União para
dispor sobre “normas gerais relativas ao piso de vencimento dos professores
da educação básica, de modo a utilizá-lo como mecanismo de fomento ao
sistema educacional e de valorização profissional, e não apenas como
instrumento de proteção mínima ao trabalhador”. Além disso, na mesma ADI, o
STF considerou que é constitucional a norma geral federal que reserva o
percentual mínimo de 1/3 da carga horária dos docentes da educação básica
para dedicação às atividades extraclasse.

XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em


todas as modalidades, para as administrações
públicas diretas, autárquicas e fundacionais da
União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as
empresas públicas e sociedades de economia mista,
nos termos do art. 173, § 1º, III;
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar
os Estados a legislar sobre questões específicas das
matérias relacionadas neste artigo.

As normas gerais de licitação e contratação são da competência privativa da


União. No entanto, normas específicas podem ser editadas pelos Estados.

Para fecharmos. O art. 22 relaciona as matérias cuja iniciativa privativa é da


União. Ou seja, os demais entes federados não podem legislar, mesmo diante da
omissão da União. Entretanto, é possível que Estados e DF (jamais

20
ADI 4060/SC, Rel. Min. Luiz Fux. Data de Julg: 25.02.2015.

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Municípios!) legislem sobre questões específicas (nunca gerais!), desde que


a União lhes delegue tal competência por lei complementar.

Nessa hipótese, Estados-membros e Distrito Federal apenas podem fazer o que


foi permitido pela União via delegação legislativa, uma vez que a competência
originária permanece exclusivamente dela, em caráter pleno. Além disso, caso
haja a delegação legislativa, esta deverá contemplar todos os Estados-
membros e o Distrito Federal. Na falta da delegação, é inconstitucional
qualquer lei estadual ou do DF que disponha sobre as matérias do art. 22.

Destaca-se ainda que nada impede que a União retome, a qualquer momento,
sua competência, legislando sobre a matéria delegada. Isso porque a delegação
não se confunde com renúncia de competência. Para Alexandre de Moraes,
essa delegação depende do cumprimento de três requisitos:

a) Requisito formal: a delegação deve ser objeto de lei complementar


devidamente aprovada pelo Congresso Nacional;
b) Requisito material: só poderá haver delegação de um ponto
específico da matéria de um dos incisos do art. 22 da CF/88, pois a
delegação não se reveste de generalidade.
c) Requisito implícito: a proibição, constante do art. 19 da Carta Magna,
de que os entes federativos criem preferências entre si, implica que a lei
complementar editada pela União deverá delegar a matéria
igualmente a todos os Estados, sob pena de ferir o pacto federativo.

Competências Comuns

O art. 23 trata de competências comuns a todos os entes federativas. São


competência de natureza administrativa (material). Também é chamada de
competência concorrente administrativa, paralela ou cumulativa da União, com
inexistência de subordinação em sua atuação. Trata-se tipicamente de
interesses difusos, ou seja, interesses de toda a coletividade.

No que se refere à lei complementar prevista no parágrafo único do art. 23 da


Constituição, nota-se que esta tem como finalidade evitar conflitos e
dispersão de recursos, coordenando-se as ações dos entes federativos em prol
de melhores resultados.

Competência legislativa concorrente

O art. 24 trata da chamada competência concorrente, que se caracteriza por ser


uma competência legislativa. Aqui, chamo a atenção para alguns pontos:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito


Federal legislar concorrentemente sobre:

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I - direito tributário, financeiro, penitenciário,


econômico e urbanístico;
(...)
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência,
tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e
inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de
2015)
(...)
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
§ 1º - No âmbito da legislação concorrente, a
competência da União limitar-se-á a estabelecer
normas gerais.
§ 2º - A competência da União para legislar sobre
normas gerais não exclui a competência suplementar
dos Estados.
§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os
Estados exercerão a competência legislativa plena,
para atender a suas peculiaridades.
§ 4º - A superveniência de lei federal sobre normas
gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe
for contrário.

Muito cuidado na hora da prova! A regra do art. 24,


I e II despenca em prova (rs). Mas, temos uma
salvação! Vamos levar o seguinte mnemônico para
prova: “PUFETO”
Penitenciário — Urbanístico — Financeiro —
Econômico — Tributário - Orçamento

A competência legislativa concorrente é atribuída à União, aos Estados e ao DF


(os Municípios não foram contemplados!). A competência da União está limitada
ao estabelecimento de regras gerais. Caberá, então, aos Estados e DF
complementarem a legislação federal (competência suplementar).

Caso a União não edite as normas gerais, Estados e DF exercerão


competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
Entretanto, caso a União posteriormente ao exercício da competência legislativa
plena pelos Estados e Distrito Federal edite a regra geral, ela suspenderá a
eficácia da lei estadual (veja que não se fala em revogação, mas em
suspensão!) apenas no que for contrária àquela.

Outro ponto de destaque é que a competência suplementar dos Estados-


membros e do Distrito Federal pode ser dividida em duas espécies: i)
competência complementar e; ii) competência supletiva. A primeira dependerá

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de existência prévia de lei federal, a ser especificada pelos Estados-membros e


pelo Distrito Federal. Já a segunda, surgirá quando da inércia da União em editar
a lei federal, permitindo aos Estados-membros e ao Distrito Federal exercerem a
competência legislativa plena, tanto para a edição de normas de caráter geral
quanto de normas específicas.

Competências dos Estados e do Distrito Federal

A CF/88 não lista taxativamente as competências dos Estados, reservando-lhes


a chamada competência remanescente ou residual (art. 25, §1º, CF):

§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes


sejam vedadas por esta Constituição.

Essa técnica foi adotada originariamente pela Constituição norte-americana e,


desde então, por todas as Constituições brasileiras, por privilegiar a autonomia
dos Estados em relação à União. Isso porque permite que a maior parte das
competências seja dos Estados, uma vez que as competências da União
são listadas taxativamente, enquanto as dos Estados são indefinidas.

Entretanto, é errado afirmar que nenhuma competência dos Estados está


expressa na Constituição. A Carta Magna enumera isoladamente algumas
competências dos Estados. Veja quais são as mais cobradas em concursos, a
partir da leitura das correspondentes normas constitucionais:

Art. 25, § 2º - Cabe aos Estados explorar


diretamente, ou mediante concessão, os serviços
locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a
edição de medida provisória para a sua
regulamentação;
Art. 25, § 3º - Os Estados poderão, mediante lei
complementar, instituir regiões metropolitanas,
aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas
por agrupamentos de municípios limítrofes, para
integrar a organização, o planejamento e a execução
de funções públicas de interesse comum.
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça,
observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição.

Destaca-se, ainda, que a Constituição atribui ao Distrito Federal as


competências legislativas, administrativas e tributárias reservadas aos
estados e aos municípios (CF, art. 32, §1º).

Contudo, há exceções (competências estaduais que não foram atribuídas ao


Distrito Federal). Os Estados possuem competência para organizar e manter seu

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Poder Judiciário, Ministério Público, polícia civil, polícia militar e corpo de


bombeiros militar. Agora, lembrando que no Distrito Federal, todas essas
instituições são organizadas e mantidas pela União.

Também é importante destacar que nem toda a competência residual foi


atribuída aos Estados. Há uma exceção: compete à União instituir os
impostos residuais, não previstos na CF/88, desde que sejam não cumulativos
e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados na Carta
Magna. Trata-se da chamada competência residual tributária.

Competências dos Municípios

As competências dos Municípios são listadas, em sua maior parte, no artigo 30,
CF. Nele, há competências materiais (administrativas) e legislativas.

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no
que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua
competência, bem como aplicar suas rendas, sem
prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e
publicar balancetes nos prazos fixados em lei;
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a
legislação estadual;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime
de concessão ou permissão, os serviços públicos de
interesse local, incluído o de transporte coletivo, que
tem caráter essencial; (...)

A competência legislativa dos municípios subdivide-se em:

Competência exclusiva para legislar sobre assuntos de interesse


local (CF, art. 30, I);
Competência suplementar, para suplementar a legislação federal
ou estadual, no que couber (CF, art. 30, II). Destaque-se que os
Municípios poderão, inclusive, suplementar a legislação federal ou
estadual que trate de matéria afeta à competência concorrente. É o
caso, por exemplo, da legislação tributária municipal, que
suplementa a legislação federal e estadual.

A competência administrativa dos Municípios autoriza sua atuação sobre


matérias de interesse local, especialmente sobre aquelas constantes dos incisos
III a IX do art. 30 da Carta Magna. Agora, questão complexa é definir exatamente
o que é ou não considerado interesse local. Nesse sentido, a jurisprudência do
Supremo Tribunal entende que:

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 O Município é competente para fixar o horário de funcionamento de


estabelecimento comercial (Súmula Vinculante nº 38, STF). Esse
entendimento também abrange drogarias, farmácias...
 O Município é competente para, dispondo sobre a segurança de sua população,
impor a estabelecimentos bancários a obrigação de instalarem portas
eletrônicas, com detector de metais, travamento e retorno automático e vidros
à prova de balas.
 A fixação do horário de funcionamento das agências bancárias, por estar
relacionado ao sistema financeiro nacional, extrapola o interesse local.
Portanto, não é de competência dos Municípios.
 O Município é competente para legislar sobre limite de tempo de espera em
fila dos usuários dos serviços prestados pelos cartórios localizados no seu
respectivo território, sem que isso represente ofensa à competência privativa
da União para legislar sobre registros públicos. Também entende a Corte que
o Município possui competência para legislar sobre tempo de atendimento em
filas nos estabelecimentos bancários, tratando-se de assunto de interesse
local, o que não se confunde com a atividade-fim do banco.
 É constitucional lei estadual que concede “meia passagem” aos estudantes nos
transportes coletivos intermunicipais. Já no caso de serviço de transporte local,
a competência para dispor a respeito é da legislação municipal.
 É inconstitucional lei municipal que obriga ao uso de cinto de segurança e
proíbe transporte de menores de 10 anos no banco dianteiro dos veículos, por
ofender à competência privativa da União Federal para legislar sobre trânsito
(CF, art. 22, XI).
 Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação
de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área.
(Súmula Vinculante nº 49). Seria o caso, por exemplo, de uma lei municipal
que impede a existência de dois restaurantes em uma mesma rua. Essa lei
seria inconstitucional, por violar o princípio da livre concorrência.

1. (OAB — Exame XXIV) Em uma Federação, sob o argumento de que, entre


os governantes do estado Alfa (os anteriores e o atual), consolidou-se uma
forma de atuação administrativa que privilegia de forma desmedida a
população de determinada região geográfica, a população das outras
regiões passou a pleitear autonomia política por meio de grandes
manifestações. Para tanto, alimentam a pretensão de formar um novo
estado-membro, a ser denominado estado Beta. Diante do quadro acima e
considerando o que informa o sistema jurídico-constitucional, responda aos
itens a seguir.

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A) De acordo com a CRFB/88, é viável a formação do estado Beta? (Valor


0,45)
B) O surgimento do estado Beta configurará o fenômeno da secessão?
Justifique. (Valor 0,40)
C) Caso seja criado o estado Beta, de acordo com o sistema jurídico-
constitucional brasileiro, suas competências materiais e legislativas
estariam todas expressas na CRFB/88? Justifique. (Valor 0,40)

Meus amigos, questão fresquinha do XXIV Exame de Ordem. :)


A) Sim. Temos o fenômeno do desmembramento territorial de estado com previsão
no art. 18, § 3º, da CRFB/88: Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-
se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou
Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada,
através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.
B) Não. A secessão ocorre quanto há separação de um estado em relação ao país
do qual fazia parte. A CRFB/88 não admite o direito de secessão, tendo em vista que
nossa república federativa é formada pela união indissolúvel (Art. 1º da CRFB/88.
Inclusive, a forma federativa é cláusula pétrea prevista no art. 60, § 4º, da CRFB/88,
de modo que não há possibilidade de Emenda Constitucional.
C) Não. Nossa CRFB/88 trouxe para o Estado a chamada competência remanescente
ou reservada, prevista no art. 25, § 1º. Isso quer dizer que cabe ao Estado, por meio
de sua Constituição Estadual, definir essas competências matérias não expressas ou
não enumeradas.

2. (OAB — Exame XXII) A Câmara de Vereadores do município Beta aprova


projeto de lei que divide o mencionado município em dois, sem qualquer
espécie de consulta pública à população e sem realizar qualquer estudo
prévio de viabilidade do novo ente federativo. O prefeito de Beta veta o
referido projeto e a Câmara derruba o seu veto, promulgando a lei. Logo em
seguida, o prefeito de Beta, inconformado com a norma aprovada, decide
realizar um referendo a fim de saber a opinião da população local, a qual,
após a consulta, manifesta-se favoravelmente ao desmembramento. A
partir da situação narrada, responda aos itens a seguir.
A) A referida norma municipal é constitucional? Justifique. (Valor: 0,90)
B) À luz do sistema constitucional vigente, seria possível a fusão do
município Beta com o Município vizinho Alfa? Justifique. (Valor: 0,35)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação
do dispositivo legal não confere pontuação.

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A) Estão lembrados do que estudamos agora a pouco sobre a formação dos


Municípios? A FGV cobrou uma questão relativamente simples, que é a regra do art.
18, § 4º, CRFB/88. Conforme prevê a referida norma, compete ao Estado autorizar,
mediante lei ordinária, o desmembramento do município, desde que: i) seja realizada
consulta pública prévia com a participação dos interessados; ii) seja apresentado e
publicado Estudo Prévio de Viabilidade Municipal; iii) se respeitem as limitações de
calendário dispostas em lei complementar federal, a qual, por ainda não existir,
inviabiliza a criação de novos municípios.
Nesse sentido, analisando o caso prático, entende-se que a norma municipal é
inconstitucional. A questão afirma que houve aprovação de projeto de lei sem essa
consulta pública e sem estudo de viabilidade municipal.
B) Não seria possível, pois hoje nem a criação, nem o desmembramento e nem a
fusão de municípios pode ocorrer até que seja editada a lei complementar federal,
prevista no Art. 18, § 4o, da CRFB/88, que discipline as limitações de calendário para
tais atos. Esse tema, inclusive foi tratado pelo Supremo Tribunal na ADI 2.702/PR e
na ADI no 2.632/BA.

Régua de correção:

Item Pontuação

0,00/0,80/0,90
A. A norma municipal é inconstitucional, porque inexistente
consulta pública à população e qualquer estudo prévio de
viabilidade do novo ente federativo OU porque compete ao
Estado autorizar, mediante lei ordinária, o desmembramento do
município (0,80), segundo o Art. 18, § 4o, da CRFB/88 (0,10).

0,00/0,25/0,35
B) Atualmente, a criação, o desmembramento e a fusão de
municípios não é possível até que seja editada a lei
complementar federal que discipline as limitações de calendário
para tais atos (0,25), conforme Art. 18, § 4o, da CRFB/88

3. (OAB — Exame XIV) A circulação no Brasil do subtipo 4 do vírus da dengue


e o retorno do subtipo 1 podem aumentar o número de casos graves da
doença no período que, historicamente, já registra o maior contingente de
infectados. Para tentar conter a epidemia, o Estado com maior índice de
contágio elabora lei que obriga os médicos públicos e particulares que
atuam em seu território a notificarem os casos de dengue à Secretaria de

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Saúde. A mesma lei, mediante outro dispositivo, imputou responsabilidade


civil ao médico por falta de notificação. Diante do caso, responda,
fundamentadamente, aos itens a seguir.

A) É constitucional a obrigatoriedade de notificação dos casos de dengue


(Valor: 0,60)

B) É constitucional a responsabilização dos médicos que não


notificarem?(Valor: 0,65) Obs.: a simples menção ou transcrição do
dispositivo legal não pontua.

Opa! Lembram da dica que deixei quando revisamos a repartição de competências


dos entes? Pois bem. É sempre assim. Vem uma “questãozinha” contando um caso
prático de determinada ação de ente federativo, administrativa ou legislativa, e a
resposta passará ao final pelo entendimento do examinando sobre os arts. 21 e 22
da CRFB/88, se determinado é de competência é exclusiva, privativa ou concorrente.

No caso da questão, vimos em aula que a Constituição estabelece que o direito à


saúde é um dos temas de competência concorrente da U, E e DF em matéria
legislativa. (art. 24, XII, CRFB/88). Em tal situação, não há óbice para que o Estado
elabore lei que obrigando os médicos à notificarem os casos de dengue à Secretaria
de Saúde.

No que toca ao item b, o tema de responsabilização do médico não pode ser editado
por lei estadual, já que a atribuição de responsabilidade civil é matéria de
competência da União, nos termos do art. 22, I, CRFB/88.

A) Sim. A necessidade de notificação dos casos de dengue é constitucional, pois


a matéria encontra-se no âmbito da competência legislativa concorrente dos
Estados para legislar sobre defesa da saúde, conforme Art. 24, XII, da CF.

B) Não. O dispositivo da lei estadual que atribui responsabilização civil ao médico


por falta de notificação é inconstitucional; cabe à União legislar sobre essa matéria
conforme Art. 22, I, da CF. (ADI2875, 20/06/2008).

Régua de correção:

Item Pontuação

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A) Sim. A necessidade de notificação dos casos de dengue é 0,00/0,50/0,60


constitucional, pois a matéria encontra-se no âmbito da
competência legislativa concorrente dos Estados para legislar
sobre defesa da saúde (0,50), conforme o Art. 24, XII, da CF
(0,10).
B) Não. O dispositivo da lei estadual que atribui 0,00/0,55/0,65
responsabilização civil ao médico por falta de notificação é
inconstitucional; cabe à União legislar sobre essa matéria (0,55),
conforme Art. 22, I, da CF (0,10).

4. (OAB — Exame XVIII) O Estado X editou a Lei nº 1.234, de 5 de fevereiro


de 2010, para criar o Município Z, desmembrando-o do então Município W.
Para a criação do ente federativo foram devidamente realizados os estudos
de viabilidade municipal, bem como a consulta prévia às populações dos
entes federativos envolvidos nesse evento. O novo Município estava em
pleno funcionamento até que, em final de 2015, o vereador Toninho do Bem,
do Município W, aventa publicamente a intenção do diretório municipal de
seu partido “Vamos Brasil”, com representação no Congresso Nacional, de
propor uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), perante o Supremo
Tribunal Federal, para questionar a criação do Município Z. Com base no
fragmento acima, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.

A) A partir das normas constitucionais sobre a criação de município, a lei do


Estado X é constitucional? (Valor: 0,65)

B) O diretório municipal do partido “Vamos Brasil” possui legitimidade para


a propositura de Ação Direta de Inconstitucionalidade? (Valor: 0,60) Obs.:
sua resposta deve ser fundamentada. A simples menção ao dispositivo legal
não será pontuada.

*Meus amigos, peço por enquanto, que se concentrem apenas no item “a”, já que a
alternativa “b” trata do tema de controle de constitucionalidade, tema este que
faremos a revisão nas aulas seguintes.

A) A lei do Estado X é inconstitucional, pois o Art. 18, § 4º, da CRFB/88, desde a


EC nº 15/96, exige a edição de lei complementar federal para determinar o
período de criação de municípios por meio de lei estadual, transformando o
referido dispositivo constitucional em norma constitucional de eficácia limitada,
dependente de integração do legislativo federal para que todos os seus efeitos
jurídicos possam ser produzidos.

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Até o presente momento não existe lei complementar a que se refere o Art. 18, §
4º, da CRFB/88, e o período da lei estadual está fora do âmbito da EC 57 (Art. 96
do ADCT), evidenciando, portanto, flagrante inconstitucionalidade por omissão, já
pronunciada pelo STF.

Régua de correção:

Item Pontuação
A. Não. A lei do Estado X é inconstitucional, pois segundo o Art. 0,00/0,10/0,2
18, § 4º, da CRFB/88 (0,10), norma constitucional de eficácia 0/0,45/0,55
limitada (0,10), é necessária a elaboração de lei complementar
federal para a produção de seus efeitos (0,45). / 0,65

5. (OAB — Exame XI) Determinado Estado-membro aprovou uma lei que


incluiu a disciplina de formação para o trânsito nos currículos do 1º e do 2º
graus de ensino da rede pública estadual. A esse respeito, responda aos
itens a seguir, utilizando os argumentos jurídicos apropriados e a
fundamentação legal pertinente ao caso.

A) Analise a constitucionalidade dessa lei estadual. (Valor: 0,65) (...)

O candidato deverá, na essência, observar quanto às perguntas, o seguinte:

A) A lei é constitucional, pois o Art. 24, IX, atribui competência concorrente à


União, aos Estados e ao Distrito Federal para legislar sobre educação, cultura,
ensino e desporto. Esta lei trata de educação no trânsito e não sobre trânsito e
transporte, que seria de competência privativa da União Federal (Art. 22, XI,
CRFB). Neste sentido, já se pronunciou o STF, ao julgar a ADI 1991/DF (Rel.
Ministro Eros Grau, Tribunal Pleno, unânime, j. 03.11.2004).

6. (OAB — Exame XI) O partido político “X” move, perante o Supremo


Tribunal Federal, ação direta de inconstitucionalidade contra a lei do Estado
“Y”, que dispõe sobre licitações e contratos administrativos no âmbito
daquele Estado federado, para atender às suas peculiaridades, sem afrontar
normas gerais preexistentes. O partido alega que a referida lei estadual é
inconstitucional, uma vez que a competência privativa para legislar sobre a
matéria é da União, conforme o Art. 22, XXVII da Constituição da República.
Parecer da Procuradoria-Geral da República opina no sentido do não
conhecimento da ação, uma vez que o partido político “X” possui em seus
quadros apenas seis Deputados Federais, mas nenhum Senador, não sendo
dessa maneira legitimado a mover a referida ação direta. Além disso, não

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estaria demonstrado na inicial o requisito da pertinência temática. A partir


da hipótese apresentada, responda justificadamente aos questionamentos
a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e apresentando
a fundamentação legal pertinente ao caso.

(...)

B) Quanto ao fundamento de mérito apresentado, tem razão o partido


político ao questionar a constitucionalidade da norma impugnada? (Valor:
0,60). A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não pontua.

B) Não. Quanto ao mérito, não tem razão o partido político no seu pleito, sendo
caso de improcedência da ação, uma vez que a competência privativa da União
do Art. 22, XXVII, da Constituição Federal se refere a normas gerais, tendo os
estados federados competência para legislar sobre o tema para atender às suas
peculiaridades, desde que não haja afronta às normas gerais editadas pela União.

7. (OAB — Exame XII) Após intenso debate, a Assembleia Legislativa do


Estado X editou a Lei n. 1.001, de iniciativa do Deputado “M”, que prevê a
obrigatoriedade de instalação, em até 360 (trezentos e sessenta dias), de
um sistema eletrônico de limitação da velocidade de veículos automotores,
de baixo custo, a fim de reduzir o número de acidentes com vítimas nas
estradas estaduais. Irritado, o Deputado “P”, da oposição, quando
procurado por jornalistas, afirmou que estava envergonhado daquele dia,
pois a lei aprovada era “uma piada, uma palhaçada, ridícula”, protegia os
empresários, e não a população e só poderia ter, como origem, um Deputado
associado a grupos interessados no mercado de peças automotivas.
Considerando o exposto, responda fundamentadamente, aos itens a seguir.

(...)

B) É válida a lei estadual que impôs a obrigatoriedade de instalação de


sistema de controle de velocidade de veículos automotores? (Valor: 0,40)

B) A resposta é negativa. A Constituição estabelece um sistema de repartição de


competências legislativas, atribuindo privativamente à União legislar sobre
trânsito e transportes (Art. 22, XI). Dessa forma, não se admite aos Estados a
edição de lei que disponha sobre a adoção de mecanismos ou sistemas eletrônicos

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de controle da velocidade de veículos automotores, por constituir invasão de tema


reservado à competência privativa da União. Nesse sentido já se manifestou o
Supremo Tribunal Federal, em reiteradas ocasiões.

8. (OAB — Exame XVIII) O governador do Estado M decidiu propor duas


emendas à Constituição estadual. A primeira, com o objetivo de instituir
normas que disciplinem o rito procedimental e de julgamento dos crimes de
responsabilidade, acrescentando sanções mais severas que as vigentes. A
segunda, por sua vez, com o propósito de alterar o critério de escolha dos
conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, de forma que três, do total
de sete membros, passem a ser escolhidos, dentre os candidatos
habilitados, pelo voto popular. Sobre as propostas acima formuladas, de
acordo com o sistema jurídico-constitucional brasileiro, responda aos itens
a seguir.

A) É possível que o poder constituinte derivado do Estado-membro M altere


a Constituição Estadual para instituir normas que disciplinem o rito
procedimental e de julgamento dos crimes de responsabilidade, bem como
para acrescer sanções? Justifique. (Valor: 0,65)

B) A autonomia estadual é suficiente para fundamentar a proposta de


eleição para Conselheiro do Tribunal de Contas, nos termos propostos pelo
Governador? Justifique. (Valor: 0,60) Obs.: o examinando deve
fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere
pontuação.

A) Não. O sistema jurídico-constitucional brasileiro estabelece que o Estado-


membro não pode legislar sobre crime de responsabilidade, ainda que por
intermédio de sua Constituição (estadual). A competência para legislar sobre
crime de responsabilidade é privativa da União nos termos do Art. 22, I, (mais
especificamente no que se refere ao direito penal e ao direito processual) e do
Art. 85, parágrafo único, ambos da CRFB/88, reforçado pelo que dispõe a Súmula
Vinculante nº 46.

B) Não. O Art. 75 da CRFB/88 impõe, explicitamente, a necessidade de se


observar a simetria entre as regras constantes na Seção IX, do Capítulo I, do
Título IV, da CRFB/88, estabelecidas para o Tribunal de Contas da União e as
regras a que devem se submeter os Tribunais congêneres estaduais. Ora, sendo
a Constituição Estadual obra do poder constituinte derivado decorrente, não pode
afrontar mandamento imposto pelo constituinte originário.
No caso de a proposta do Governador ser levada à frente, estariam sendo
violadas, minimamente, as regras constantes do Art. 73, § 2º, e do Art. 75,
parágrafo único, ambos dispositivos da CRFB/88.

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3. Intervenção
Intervenção Federal

A autonomia dos entes federados poderá ser temporariamente suprimida, em


situações excepcionais, determinadas taxativamente pela Constituição. Nesses
casos, haverá intervenção da União sobre Estados ou Distrito Federal ou sobre
Municípios situados em Territórios (intervenção federal) ou, ainda, intervenção
do Estado em seus Municípios (intervenção estadual).

A intervenção é um mecanismo de supressão temporária da autonomia


política de um ente federativo, típico de um Estado federal. Trata-se de
elemento de estabilização constitucional, devendo ser utilizado quando o
princípio federativo estiver em risco. Segundo o STF, a intervenção, por ser
medida de caráter excepcional, é limitada pelo princípio da proporcionalidade.

Somente pode ser decretada intervenção federal


em Municípios localizados em Territórios Federais.
A intervenção em Município situado em um Estado
não poderá ser decretada pela União; trata-se de
caso em que é cabível intervenção estadual.

A competência para decretar intervenção é do Chefe do Poder Executivo. No


caso de intervenção federal, a tarefa será do Presidente da República; já na
intervenção estadual, a competência é do Governador. As hipóteses de
intervenção federal nos Estados são dispostas em rol taxativo. Olha só:

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no


Distrito Federal, exceto para:
I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da
Federação em outra;
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem
pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes
nas unidades da Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação
que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais
de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias
fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos
estabelecidos em lei;

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VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão


judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios
constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime
democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta
e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de
impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do
ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

Nos casos previstos no art. 34, I, II, III e V, o Presidente age de ofício,
independentemente de provocação. É a intervenção federal espontânea.

Já nos casos do art. 34, IV, VI e VII, a decretação de intervenção pelo


Presidente da República depende de provocação (por solicitação ou requisição).
É o que se chama de intervenção federal provocada.

Quando houver coação ou impedimento ao livre exercício do Poder Executivo e


Legislativo (art. 34, IV), a intervenção dependerá de solicitação, ao Presidente
da República, do Poder que está sofrendo a coação ou o impedimento. Caberá
ao Presidente decidir acerca da conveniência e oportunidade de atender ao
pedido. A decretação da intervenção, portanto, será ato discricionário.

Agora, se estivermos diante de coação ou impedimento ao livre exercício do Poder


Judiciário em uma unidade da federação (art. 34º, IV, combinado com o art. 36º,
I, segunda parte), a intervenção dependerá de requisição do STF. Nesse caso,
como se trata de “requisição”, a decretação de intervenção será um ato
vinculado do Presidente da República. Havendo requisição, o Presidente deverá
decretar a intervenção federal.

Solicitação do Requisição do
PE e PL

PR PR
PJ

Ato discricionário Ato vinculado

conveniência e
oportunidade
Deverá decretar

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A requisição também irá ocorrer para prover a execução de ordem ou


decisão judicial (art.34, VI). Esse será o caso em que houve descumprimento
de ordem emanada do Poder Judiciário. Ex: não pagamento de
precatórios.21Importante frisar que o STF tem sido bastante cauteloso ao analisar
esses casos, afirmando que não é autorizada a intervenção federal quando
os recursos do Estado são limitados e existem outras obrigações relevantes a
serem cumpridas, em respeito à cláusula da reserva do possível. “a
intervenção, como medida extrema, deve atender à máxima da
proporcionalidade”.22

A competência para proceder à requisição dependerá de onde emanou a decisão


judicial que está sendo descumprida. Assim, a requisição será feita:

TSE • no caso de descumprimento de ordem ou decisão da Justiça


Eleitoral

STJ • no caso de descumprimento de ordem ou decisão do STJ ou


de ordem da Justiça Estadual ou Federal

STF • no caso de descumprimento de ordem ou decisão do


próprio STF, da Justiça do Trabalho ou da Justiça Militar

A competência para proceder à requisição também será do STJ quando a decisão


descumprida for da Justiça Federal ou da Justiça Estadual, salvo quando
estiver relacionada a alguma questão constitucional, hipótese em que a
requisição será efetuada pelo STF.

Finalmente, ainda existem casos em que a intervenção provocada dependerá do


provimento, pelo STF, de representação do Procurador-Geral da
República (PGR). São as hipóteses do art. 34, VI, 1ª parte (“prover a execução
de lei federal”) e do art. 34, VII (“assegurar a observância dos princípios
constitucionais sensíveis”). Nessas situações, o PGR irá efetuar representação
junto ao STF; caso haja provimento da representação pela Corte Suprema,
será dada ciência ao Presidente da República para que, no prazo
improrrogável de 15 dias, seja decretada a intervenção.

A representação do PGR para prover a execução de lei federal é chamada de


“ação de executoriedade de lei federal”. Por sua vez, a representação do PGR
para assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis é
denominada Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva.

A ADIN Interventiva é uma ação que possui duplo efeito:

21 O precatório é uma ordem judicial para pagamento de débitos dos entes federativos.
22
IF nº 164 / SP. Rel. Min. Gilmar Mendes. DJe: 13.12.2003.

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efeito jurídico: invalidação do ato que violou um princípio


constitucional sensível.
efeito político: abre caminho para a decretação de intervenção pelo
Presidente da República.

Intervenção Estadual

Vamos analisar as hipóteses em que os Estados poderão intervir em seus


Municípios ou a União nos Municípios situados em seus Territórios:

Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a


União nos Municípios localizados em Território Federal,
exceto quando:
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por
dois anos consecutivos, a dívida fundada;
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita
municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e
nas ações e serviços públicos de saúde;
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação
para assegurar a observância de princípios indicados na
Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei,
de ordem ou de decisão judicial.

Primeiro ponto, pessoal. A intervenção estadual é medida excepcional; a


regra é a autonomia municipal, que foi, inclusive, alçada ao status de princípio
constitucional sensível. Em razão disso, a intervenção estadual somente poderá
ocorrer nas hipóteses taxativamente elencadas no art. 35, CF/88. Como ato
político que é, a intervenção estadual compete ao Governador do Estado.

No caso previsto no inciso IV, a representação é formulada pelo Procurador-


Geral de Justiça. Caso haja provimento pelo Tribunal de Justiça, o Governador
deverá decretar a intervenção estadual. Por outro lado, caso seja negado
provimento pelo Tribunal não haverá que se falar em intervenção.

Destaque-se, ainda, que a decisão do TJ que negar provimento à representação


do Procurador-Geral de Justiça não poderá ser objeto de recurso
extraordinário ao STF. Isso porque essa decisão não é jurídica, possuindo, ao
contrário, natureza político-administrativa.

O Controle Político na Intervenção

Como vimos, a intervenção federal será decretada pelo Chefe Executivo. Para
isso, ele edita um decreto. É o chamado decreto interventivo, que especificará
a amplitude, o prazo e as condições de execução e, se couber, nomeará o
interventor. Esse decreto será submetido à apreciação do Congresso Nacional

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ou da Assembleia Legislativa (no caso de intervenção estadual). A submissão


do decreto ao Poder Legislativo irá ocorrer no prazo de 24 horas. Caso o
Congresso ou a Assembleia Legislativa não estejam funcionando, será feita
convocação extraordinária, no mesmo prazo de 24 horas.

Esse é, portanto, o controle político da intervenção, realizado pelo Poder


Legislativo. Destaque-se que, caso haja a rejeição do decreto interventivo pelo
Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa, o Presidente da República ou
o Governador deverá cessar a intervenção imediatamente.

O controle político do Poder Legislativo está dispensado nas seguintes situações:

a) Intervenção federal para prover a execução de lei federal, ordem ou


decisão judicial;
b) Intervenção federal em caso de afronta aos princípios sensíveis da
Constituição.

Nesses casos (art. 34, VI e VII – atuação do PGR), a Constituição estabelece que,
dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa,
o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa
medida bastar ao restabelecimento da normalidade. Caso, porém, essa medida
não for suficiente para restabelecer a normalidade, o Presidente da
República decretará a intervenção federal, que será submetida ao controle
político do Congresso Nacional.

Nos demais casos (art. 34, I, II, III, IV e V), uma das consequências da
intervenção será o afastamento temporário das autoridades de seus cargos.
Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a
estes voltarão, salvo impedimento legal. Ufa... vamos treinar um pouco.

STOP 26 03 2019
9. (OAB — Exame X) O Estado W, sem motivo de força maior, não repassa
aos municípios receitas tributarias determinadas pela Constituição Federal,
nos prazos nela determinados. O Município JJ necessita dos recursos para
realizar os serviços básicos de atendimento à população. Diante do narrado,
responda aos itens a seguir.

A) Quais as consequências do não repasse das verbas referidas? (Valor:


0,50)

B) Quais os procedimentos exigidos pela Constituição nesse caso? (Valor:

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0,75) O examinando deve fundamentar corretamente sua resposta. A


simples menção ou transcrição do dispositivo legal não pontua.

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A) Nos termos do Art. 34, V, b) da CFRB. (Art.34. A União não intervirá nos Estados
nem no Distrito Federal, exceto para: V - reorganizar as finanças da unidade da
Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos
consecutivos, salvo motivo de força maior; b) deixar de entregar aos Municípios
receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em
lei;). Trata-se de intervenção para defesa das finanças estaduais.

B) O ato de intervenção será formalizado por decreto do Poder Executivo (CFRB,


Art. 36). No caso em tela dependerá apenas da constatação dos fatos, ou seja, do
não repasse. Haverá a nomeação de um interventor, pois se trata de intervenção
no Executivo.

Será o decreto submetido ao Congresso Nacional que, se em recesso, sofrerá


convocação extraordinária (CFRB, Art. 36, §§ 1º e 2º). O ato pode ser realizado ex
officio pelo Presidente da República ou decorrer de comunicação do município.
Deverão ser ouvidos o Conselho da República (Art. 90, I, da CRFB) e o Conselho
de Defesa Nacional (Art.91, § 1º, II, da CRFB).

Régua de correção:

Item Pontuação
A) Intervenção da União nos Estados (0,25). Art. 34, V, ”b”, 0,00/0,25/0,50
da CRFB (0,25).
B1) Decreto do Presidente (CFRB, Art. 36) (0,15). 0,00/0,15/0,30/0,45
Submissão ao Congresso (CFRB, Art. 36) (0,15).
Convocação extraordinária (0,15)
B2) Conselho da República (Art. 90, I, da CRFB) (0,15) e o 0,00/0,15/0,30
Conselho de Defesa Nacional (Art.91, § 1º, II, da CRFB)
(0,15).

10. (OAB — Exame XII) Com a aproximação do pleito eleitoral, o Prefeito do


Município ABC, que concorrerá à reeleição, vem tentando resgatar a sua
imagem, desgastada por conta de sucessivos escândalos. O Prefeito deu
início a uma série de obras públicas de embelezamento da cidade e
quadruplicou as receitas destinadas à publicidade. Para fazer face a essas
despesas, o Município deixou de aplicar o mínimo exigido da receita
municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e
serviços públicos de saúde e anunciou corte ainda maior nas verbas
destinadas à educação e saúde para o exercício financeiro seguinte.
Considerando que a Constituição da República autoriza a intervenção nessa
hipótese, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.

A) A União pode intervir nos Municípios, caso o Estado deixe de fazê-lo?


(Valor: 0,65)

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B) Caso o Governador decrete a intervenção do Estado no Município, tal ato


estará sujeito a alguma forma de controle político? (Valor: 0,60)

A) A resposta é negativa. A intervenção é medida excepcional, que só poderá


ocorrer nas hipóteses taxativamente enumeradas no texto constitucional. E a
Constituição somente autoriza a intervenção federal em Estados ou em Municípios
situados em territórios federais (artigos 34 e 35, da CRFB), mas não a intervenção
federal em municípios situados em Estados (ainda que haja omissão do Estado).

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, de longa data, deixou assentada essa
impossibilidade, registrando que os municípios situados no âmbito dos estados-
membros não se expõem à possibilidade constitucional de sofrerem intervenção
decretada pela União, eis que, relativamente a esses entes municipais, a única
pessoa política ativamente legitimada a neles intervir é o Estado-membro. Por isso
mesmo, no sistema constitucional brasileiro, falece legitimidade ativa à União para
intervir em quaisquer Municípios, ressalvados, unicamente, os Municípios
localizados em Território Federal.

B) A resposta é positiva. A intervenção estadual no município, no caso descrito, é


ato executado pelo Chefe do Poder Executivo (Governador). Nada obstante, a
própria Constituição da República estabelece o controle político a posteriori da
Assembleia Legislativa do Estado sobre o Decreto de intervenção expedido pelo
Governador (Art. 36, § 1º, CRFB).

Régua de correção:

Item Pontuação
A) Não, pois a intervenção é medida excepcional, que só poderá 0,00/0,45/0,55/
ocorrer nas hipóteses taxativamente enumeradas no texto 0,65
constitucional. E a Constituição somente autoriza a intervenção
federal em estados ou em municípios situados em territórios
federais (0,45) - artigos 34 (0,10) e 35 (0,10) da CRFB.
Entretanto veda a intervenção federal em municípios situados
em estados (ainda que haja omissão do Estado). Obs.: A mera
citação do dispositivo legal não pontua.
B) Sim, pois a própria Constituição da República estabelece o 0,00/0,50/0,60
controle político a posteriori da Assembleia Legislativa do Estado
sobre o decreto de intervenção expedido pelo Governador
(0,50), de acordo com Art. 36, § 1º, CRFB (0,10). Obs.: A mera
citação do dispositivo legal não pontua.

11. (OAB — XXVI Exame de Ordem 2018) O Presidente da República, ao


constatar que o índice de violência no Estado Delta alcançará números
alarmantes, resolveu decretar a intervenção federal nesse Estado.
Apresentou como justificativa a necessidade de pôr fim a grave

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comprometimento da ordem pública. Ao consultar os Conselhos da


República e de Defesa Nacional, esses órgãos desaconselharam a medida,
entendendo que outras ações menos invasivas na esfera de autonomia do
referido Estado poderiam ser tomadas. Todavia, convicto de que a ação se
fazia absolutamente necessária, o Presidente, agindo de ofício, decretou a
intervenção, sem submeter a referida questão ao controle político. Diante
de tal fato, responda, tendo por pressuposto a inteligência jurídico-
constitucional da Constituição da República de 1988, aos itens a seguir.

A) No caso em tela, havia necessidade de a referida intervenção ter sido


submetida a algum controle prévio de natureza política? (Valor: 0,60)

B) O Presidente da República, ao decretar a intervenção federal


desconsiderando os aconselhamentos dos Conselhos da República e de
Defesa Nacional, agiu nos limites constitucionais a ele impostos? Justifique.
(Valor: 0,65)

A) Há uma intervenção federal de ofício decretada pelo Presidente. Então,


pessoal, o controle será posterior e não de maneira prévia. Trata-se da
incidência do art. 36, § 1º, CRFB: O decreto de intervenção, que especificará
a amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o
interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da
Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas.
B) Está amparado constitucionalmente. O conselho da República e de Defesa
Nacional são órgãos consultivos, opinativos. Os pareceres emitidos por eles não
são não vinculantes. Este é o entendimento contido no art. 89, 90, inciso I e
91, § 1º da CRFB/88)

Régua de correção:

Item Pontuação
A Não, porque o controle político exigido nessa hipótese é a 0,00/0,50/0,60/
posteriori (0,50) conforme o Art. 36, § 1o, da CRFB/88 (0,10).
B) Sim, porque embora obrigatória a oitiva dos Conselhos da 0,00/0,55/0,65
República e de Defesa Nacional, suas manifestações não
possuem caráter vinculante OU possuem caráter meramente
consultivo (0,55), conforme dispõem os Artigos 89 E 91, caput.
(0,10).

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4. Administração Pública
Princípios Explícitos da Administração Pública

A Administração Pública, em todos os seus níveis, deverá observar certos


princípios constitucionais em sua atuação. Nas lições do art. 37, temos que:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de


qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte: (...)

São 5 (cinco) os princípios constitucionais da Administração Pública: legalidade,


impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Esses princípios vinculam
toda a Administração Pública (seja a direta ou indireta), dos três Poderes
(Executivo, Legislativo e Judiciário) e de todas as esferas da federação (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios).

“LIMPE"

LEGALIDADE IMPESSOALIDADE MORALIDADE PUBLICIDADE EFICIÊNCIA

a) Princípio da legalidade

A legalidade é princípio essencial dentro de um Estado democrático de direito,


representando a submissão do Estado à lei. É por meio da observância das leis
que se concretiza a vontade do povo e, assim, atendido o interesse público.
Ressalte-se que, ao falarmos em “lei”, não estamos nos referindo apenas à lei
formal, elaborada pelo Poder Legislativo. Pelo princípio da legalidade, devem ser
observar as normas em geral, inclusive os atos infralegais.

A Administração Pública somente pode fazer o que está expressamente


previsto em normas jurídicas. Assim, a Administração só pode agir segundo
a lei (“secundum legem”), jamais contra a lei (“contra legem”) ou além da lei
(“praeter legem”) com base apenas nos costumes.

É claro, às vezes, as normas deixam certa liberdade de escolha para o


administrador público; dizemos que, nesse caso, há discricionariedade da

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Administração. Por exemplo, a concessão de licença a um servidor, para tratar


de interesse particular, é discricionariedade da Administração.

Já para os particulares, o princípio da legalidade tem uma conotação diferente: a


eles, é lícito fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. Aqui, os particulares têm maior
liberdade de atuação e só não podem fazer o que a lei lhes proíbe.

b) Princípio da impessoalidade

O princípio da impessoalidade é também conhecido como princípio da finalidade


ou, ainda, princípio da isonomia. Para compreender o exato alcance desse
princípio, é necessário analisá-lo em suas 4 (quatro) diferentes acepções.

Na primeira acepção, de finalidade, o princípio da impessoalidade traduz a ideia


de que toda atuação da Administração deve buscar a satisfação do interesse
público. Quando um ato é praticado com objetivo diverso, é nulo, por desvio de
finalidade. O administrador é mero executor do ato, que serve para manifestar
a vontade do Estado. Pode-se dizer, portanto, que o princípio da impessoalidade
decorre do princípio da supremacia do interesse público.

Segundo a doutrina, em sentido amplo, o princípio da impessoalidade busca o


atendimento do interesse público, enquanto em sentido estrito, visa a
atender a finalidade específica prevista em lei para o ato administrativo.
Ressalta-se que, sempre que o ato administrativo satisfizer sua finalidade
específica, a finalidade em sentido amplo também terá sido atendida. Nesse
sentido, destaca-se a lição de Hely Lopes Meirelles:

“(…) o princípio da impessoalidade, referido na Constituição de 1988


(art. 37, “caput”), nada mais é que o clássico princípio da finalidade,
o qual impõe ao administrador público que só pratique o ato para o
seu fim legal. E o fim legal é unicamente aquele que a norma de
direito indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato, de
forma impessoal”. 23

Na segunda acepção, o princípio da impessoalidade traz a ideia de vedação à


promoção pessoal. O agente público não pode utilizar as realizações da
Administração Pública para promoção pessoal. Olha só art. 37, § 1º, da CF/88:

§ 1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e


campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo,
informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes,
símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de
autoridades ou servidores públicos.

23
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 21a Edição, 1995

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Uma terceira acepção do princípio da impessoalidade é aquela que o relaciona à


isonomia. É o que se verifica na exigência de concurso público para o acesso
aos cargos públicos. A oportunidade de se ter acesso a esses cargos é igual para
todos. Outro exemplo dessa acepção do princípio da impessoalidade diz respeito
ao pagamento das dívidas do Estado, que deverá observar, em regra, a
ordem cronológica de apresentação dos precatórios (art. 100, CF/88).

Finalmente, a quarta acepção do princípio da impessoalidade é a que considera


que os atos praticados pelo agente público não são imputáveis a ele, mas
ao órgão ou entidade em nome do qual ele age. A ação dos agentes é, portanto,
impessoal. Essa regra é extraída do art. 37, § 6º, da CF/88:

§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Destaca-se, ainda, que uma importante aplicação do princípio da impessoalidade


diz respeito à consideração dos atos praticados por agente de fato (putativo)
como válidos. Agente de fato é aquele indivíduo que ingressa na
Administração Pública irregularmente. Devido à teoria da aparência (o
agente parece ser servidor público “de direito”), seus atos são mantidos quando
atingem terceiros de boa-fé, pois a Administração é impessoal.

Extrai-se também do art. 37, CF, alguns incisos importantes que se relacionam
com o princípio da impessoalidade, a exemplo dos incisos I e II, que tratam da
acessibilidade dos cargos e empregos públicos, de acordo com requisitos legais
(e não apenas pessoais), além é claro a obrigatoriedade do procedimento
licitatório de modo imparcial e impessoal nos termos da lei, regra que deve ser
observância obrigatória para as aquisições do Poder Público (art. 37, XXI).

c) Princípio da moralidade

Impõe aos agentes públicos a atuação ética e honesta na gestão da coisa


pública. Não basta que o administrador público atue segundo a Lei; ele deve agir
segundo os princípios da probidade e boa fé.

Assim, é perfeitamente possível que um ato administrativo esteja em


conformidade com a lei, mas contrarie o princípio da moralidade, podendo, então,
ser anulado. Como instrumento de controle da moralidade administrativa,
o art. 5º, LXXIII, previu a ação popular, que pode ser proposta por qualquer
cidadão:

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular


que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio

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ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo


comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência.

O art. 37, § 4º, CF/88, por sua vez, prevê a responsabilização por atos de
improbidade administrativa. Os atos de improbidade administrativa poderão
ensejar a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao Erário. Tudo isso sem
prejuízo da ação penal cabível, que também poderá ser proposta.

SU
PER
SUspensão dos REI Mnemônico: “SUPER REI”
direitos políticos PERda da função
pública REssarcimento ao
erário +
Indisponibilidade
dos bens

É bastante comum assertivas como a seguinte:


“Atos de improbidade administrativa importarão a
perda da função pública e dos direitos políticos”.
ERRADA, pois a improbidade administrativa gera
suspensão dos direitos políticos. (art. 15, V, CF)

d) Princípio da publicidade

O princípio da publicidade deve ser analisado em duas acepções diferentes:

Exigência de publicação em órgão oficial como requisito de eficácia


dos atos administrativos gerais que devam produzir efeitos externos
ou onerem o patrimônio público;
Exigência de transparência da Administração em sua atuação, de
forma a possibilitar o controle pelos administrados.

Na primeira acepção, deve ficar claro que a Administração tem a obrigação de


tornar públicos os seus atos. A publicidade dos atos administrativos é requisito
de eficácia dos atos administrativos gerais e de efeitos externos ou, ainda,
daqueles que onerem o patrimônio público. Ex: Portaria: somente produzirá seus
efeitos (será eficaz) após a publicação no Diário Oficial da União.

Na segunda acepção, a Administração Pública tem a obrigação de dar


conhecimento aos administrados (cidadãos) da conduta interna de seus
agentes. Segundo o art. 5º, XXXIII, “todos os cidadãos têm o direito de receber

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dos órgãos públicos informações de interesse particular, de interesse coletivo ou


de interesse geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado”.

A partir da leitura do dispositivo supratranscrito, é possível concluir que os órgãos


públicos não precisam fornecer aos cidadãos toda e qualquer informação de que
disponham. As informações cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado não precisam ser fornecidas.

Cabe destacar, ainda, que somente com a publicidade dos atos administrativos é
que se torna viável o exercício do controle da Administração, seja este controle
realizado pelos próprios cidadãos (controle social) ou pelos chamados órgãos de
controle (CGU e TCU).

Nesse sentido, o STF entendeu ser válida a divulgação da remuneração


bruta, cargos e funções titularizados por servidores públicos, bem como
dos órgãos de sua formal lotação. Isso porque, sendo essas informações de
interesse coletivo ou geral, estão expostas à divulgação oficial. Não cabe, de
acordo com a Corte: “falar de intimidade ou de vida privada nesse caso, pois os
dados objeto da divulgação em causa dizem respeito a agentes públicos enquanto
agentes públicos mesmos; ou, na linguagem da própria Constituição, agentes
estatais agindo “nessa qualidade” (§6º do art. 37)”. 24

e) Princípio da eficiência

O princípio da eficiência passou a estar expresso na Constituição a partir da EC


nº 19/98, que o introduziu com o objetivo de promover uma quebra de paradigma
na Administração Pública, substituindo a antiga administração burocrática pelo
novo modelo: a administração gerencial. A administração gerencial tem ênfase
na obtenção de resultados e na participação do cidadão, que é visto como cliente
dos serviços públicos.

O art. 37, CF/88 impõe verdadeiro dever de eficiência à Administração Pública.


Não basta que os agentes públicos atuem em conformidade com os ditames da
legalidade. É necessário que sua desempenhem suas atribuições da melhor forma
possível, a fim de obter os melhores resultados. Deve-se buscar a melhoria da
qualidade dos serviços públicos e a racionalidade dos gastos públicos. A
Administração deve observar o princípio da economicidade, que determina
que seja avaliado o custo versus benefício dos gastos.

24
Pleno, SS 3902 AgR-segundo / SP - SÃO PAULO, Rel. Min. Ayres Britto, j. 09.06.2011, DJe-189 DIVULG 30-09-2011 PUBLIC 03-10-
2011.

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O princípio da eficiência se manifesta em diversos dispositivos constitucionais:

O art. 41, § 4º, estabelece que a avaliação especial de


desempenho por comissão instituída com essa finalidade é condição
para aquisição de estabilidade por servidor publico.
O art. 41, § 1º, III, estabelece a possibilidade de perda do cargo
por servidor público mediante procedimento de avaliação periódica
de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla
defesa.
O art. 37, § 8º, estabelece a possibilidade de que a Administração
Pública celebre contratos de gestão com órgãos e entidades da
administração direta e indireta, fixando metas de desempenho
para o órgão ou entidade.
O art. 37, § 3º, prevê que a lei disciplinará as formas de participação
do usuário na administração pública direta e indireta. Esse
dispositivo busca promover a gestão participativa.
O art. 39, § 2º, dispõe que a União, os Estados e o Distrito Federal
manterão escolas de governo para a formação e o
aperfeiçoamento dos servidores públicos, constituindo-se a
participação nos cursos um dos requisitos para a promoção na
carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos
entre os entes federados.
O art. 39, § 7º, estabelece que “lei da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios disciplinará a aplicação de recursos
orçamentários provenientes da economia com despesas
correntes em cada órgão, autarquia e fundação, para aplicação no
desenvolvimento de programas de qualidade e produtividade,
treinamento e desenvolvimento, modernização,
reaparelhamento e racionalização do serviço público, inclusive
sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade.” Essa é a
previsão de adicional ou prêmio de produtividade, como forma de
estimular a excelência no serviço público e dar concretude ao
princípio da eficiência.
O art. 70, caput, prevê que o controle da Administração Pública
deverá, dentre outros parâmetros, observar a economicidade.

Princípios Implícitos da Administração Pública

Além dos princípios explícitos no texto constitucional, há também em nosso


ordenamento jurídico os princípios implícitos da Administração Pública. Para
prova de Constitucional, basta sabermos o seguinte:

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a) Controle judicial dos atos administrativos: No Brasil, adota-se o sistema


inglês de jurisdição única, no qual o Poder Judiciário pode efetuar o controle
dos atos administrativos. Decorre do princípio da inafastabilidade de jurisdição,
segundo o qual “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito” (art. 5º, XXXV).
b) Princípio da autotutela: Segundo esse princípio, a Administração Pública
tem competência para controlar seus próprios atos, anulando-os (quando
ilegais) ou revogando-os (conveniência e oportunidade). Nesse sentido, a
Súmula nº 473 do STF, dispõe que:

“A Administração pode anular seus próprios atos, quando


eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se
originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e
ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.”

c) Presunção da segurança jurídica: Trata-se de princípio implícito que


encontra previsão no art. 2º da Lei nº 9.784/99. Esse princípio impõe que as
normas sejam interpretadas de forma a garantir o atendimento do fim público a
que se dirigem, vedada a aplicação retroativa de nova interpretação.
d) Princípio da motivação: Um dos requisitos dos atos administrativos é o
motivo, que é a situação de fato ou de direito que autoriza a edição do ato. A
motivação consiste na declaração dos motivos que fundamentaram o ato.
e) Princípio da razoabilidade e da proporcionalidade: Os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade estão intimamente relacionados. A doutrina
majoritária considera, inclusive, que o princípio da proporcionalidade está
contido no princípio da razoabilidade.
O princípio da proporcionalidade consiste na adequação entre os meios e os
fins almejados; caso o ato administrativo não respeite essa relação, será
desproporcional e, portanto, passível de invalidação pelo Poder Judiciário.
O princípio da razoabilidade possui três aspectos: i) adequação; ii) necessidade
e; iii) proporcionalidade em sentido estrito. Assim, esses três aspectos devem
ser observados para a aferição da razoabilidade de um determinado ato.
A adequação consiste em observar se o meio escolhido é o mais adequado para
se alcançar o fim perseguido. A necessidade, por sua vez, consiste em analisar
se o meio utilizado é o melhor ou menos oneroso para alcançar o objetivo do ato.
Por último, a proporcionalidade, conforme já comentamos, é a aferição da
relação entre os meios e os fins almejados.
f) Princípio da continuidade do serviço público: Os serviços públicos não
podem sofrer solução de continuidade, isto é, não podem ser paralisados. É em
razão desse princípio que podem ser impostas restrições ao direito de greve dos

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servidores públicos (art. 37, VII). Recorde-se que o direito de greve dos
servidores públicos é norma constitucional de eficácia limitada.

Agentes Públicos

Acesso aos cargos, empregos e funções públicas

Segundo o art. 37, inciso I, CF/88, “os cargos, empregos e funções públicas são
acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei,
assim como aos estrangeiros, na forma da lei”.

Os brasileiros, para que possam ter acesso aos cargos, empregos e funções
públicas, devem cumprir os requisitos definidos em lei. Assim, somente a lei
é que pode definir os requisitos para acesso a cargos públicos. E, aqui, o Supremo
já se manifestou várias vezes seguindo esse entendimento:

Súmula Vinculante nº 44 (STF): "Só por lei se pode sujeitar a exame


psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público." Em outras palavras,
um edital de concurso público só pode trazer a exigência de exame psicotécnico
se a lei que criou o cargo assim o tiver estabelecido.
Súmula nº 14 (STF): “Não é admissível, por ato administrativo, restringir, em
razão da idade, inscrição em concurso para cargo público."
“A exigência de experiência profissional prevista apenas em edital importa em
ofensa constitucional.”25
“A fixação do limite de idade via edital não tem o condão de suprir a exigência
constitucional de que tal requisito seja estabelecido por lei.”26
Súmula nº. 683 (STF): “O limite de idade para a inscrição em concurso
público só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa
ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido”.
(Inclusive foi objeto do XXII Exame de Ordem).

Um ponto digno de nota, pessoal, principalmente pela recente posição do STF é


sobre o tema das tatuagens. Em 2016 o STF passou a entender que “Editais de
concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com
tatuagem, salvo situações excepcionais em razão de conteúdo que viole
valores constitucionais”

Para a Corte, a opção pela tatuagem está diretamente relacionada à liberdade de


expressão e de manifestação (art. 5o, IV e IX). No entanto, vale uma ressalva.

25
RE 558.833-AgR. Rel. Min. Ellen Gracie. Julgamento em 08.09.2009.
26
RE 559.823-AgR. Rel. Min. Joaquim Barbosa. Julgamento em 27.11.2007.

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Tatuagens que fazem apologia a ideias extremistas (racismo, terrorismo,


violência, criminalidade....) vão de encontro a valores constitucionalmente
protegidos. Estas podem ser objeto de questionamento e restrição.

Os estrangeiros também podem ter acesso a cargos, empregos e funções


públicas, mas somente quando a lei assim o autorizar. Há necessidade de que
exista uma lei definindo essas hipóteses.

Destaca-se que essa lei não poderá estabelecer distinções arbitrárias e


abusivas, privilegiando determinados estrangeiros em detrimento de outros, em
função do país de origem. Ressalta-se, ainda, que essa previsão constitucional se
aplica igualmente aos estrangeiros residentes ou não no país, permitindo, por
exemplo, que, após a edição da referida lei, estes tenham acesso a cargos,
empregos ou funções públicas em repartições brasileiras no exterior.

Percebe-se, dessa maneira, que o acesso de brasileiros a cargos públicos é norma


de eficácia contida. Todos os brasileiros têm direito a ocupar cargos públicos,
podendo a lei estabelecer requisitos, restringindo esse acesso. Por outro lado, o
acesso de estrangeiros a cargos públicos é norma de eficácia limitada. Assim,
para que estrangeiros possam ocupar cargos na Administração, será necessária
a edição de lei autorizadora.

Concurso Público

O art. 37, inciso II, CF/88, dispõe que “a investidura em cargo ou emprego público
depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e
títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na
forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão
declarado em lei de livre nomeação e exoneração”.

Desse dispositivo, podemos extrair várias regras importantes:

O acesso aos cargos e empregos públicos depende de prévia aprovação


em concurso público. Nesse sentido, o STF editou a Súmula
Vinculante nº 43, que diz: “é inconstitucional toda modalidade de
provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação
em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não
integra a carreira na qual anteriormente investido”.
O concurso público deve ser de provas ou de provas e títulos. Desse
modo, não se admite a realização de concurso público com base
unicamente em avaliação de títulos.
A exigência de concurso público vale para o provimento de cargos e
empregos na administração pública direta e indireta, inclusive para
empregos em sociedades de economia mista e empresas pública.

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A exigência de concurso público só vale para o provimento de cargos


efetivos. Os cargos em comissão independem de concurso público.

A definição do prazo de validade do concurso é definida pelo edital. Segundo o


art. 37, III, CF/88, o prazo de validade será de até 2 (dois) anos, prorrogável
uma vez por igual período. A contagem do prazo de validade é feita a partir da
homologação, que é o ato administrativo que atesta a conclusão do concurso
público. Dentro do prazo de validade do concurso é que poderão ser nomeados
ou contratados os aprovados.

Há vasta jurisprudência do STF acerca do tema “concursos públicos”. Mas, para


fins de prova em Constitucional, peço atenção especial para 02 entendimentos:

a) Segundo o STF, a aprovação em concurso dentro do número de vagas


previsto no edital garante direito subjetivo do candidato à
nomeação27. Se o edital prevê 30 vagas para o cargo de Procurador, os 30
primeiros colocados terão direito subjetivo a serem nomeados. Em outras
palavras, a Administração não poderá deixar de nomeá-los.

“E pode a Administração nomear um candidato fora da ordem de


classificação? Nomear o 26º antes do 1º, por exemplo?”

Não pode. A Administração deverá nomear os candidatos aprovados


observando a ordem de classificação. Mas isso já aconteceu no passado...
Tanto é que o STF chegou a editar a Súmula nº 15 para evitar que algum
candidato melhor classificado fosse preterido: “Dentro do prazo de validade
do concurso, o candidato aprovado tem o direito à nomeação, quando
o cargo for preenchido sem observância da classificação”. Assim, se o
15º colocado de um concurso for nomeado, por óbvio, todos aqueles que
estão à sua frente também o deverão ser.

O STF também deixou consignado que é possível que, em situação


excepcionalíssima, a Administração deixe de nomear os candidatos
aprovados dentro do número de vagas. No entanto, essa situação deverá
ser caracterizada pela superveniência, imprevisibilidade e gravidade.

b) Outro Ponto. Decisão fresquinha “saindo do forno”. No final de 2015, o


STF no curso no RE 837.311 fixou a tese de repercussão geral sobre
nomeação de candidatos fora das vagas de edital antes da convocação
dos aprovados em concurso posterior. Estabeleceu-se, então, que:

27
RE 598.099. Rel. Min. Gilmar Mendes. Julgamento em 10.08.2011.

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“O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo


concurso para o mesmo cargo, durante o prazo de
validade do certame anterior, não gera
automaticamente o direito à nomeação dos
candidatos aprovados fora das vagas previstas no
edital, ressalvadas as hipóteses de preterição
arbitrária e imotivada por parte da administração,
caracterizada por comportamento tácito ou expresso do
Poder Público capaz de revelar a inequívoca necessidade
de nomeação do aprovado durante o período de validade
do certame, a ser demonstrada de forma cabal pelo
candidato”.

Percebam que não basta apenas o surgimento de novas vagas ou abertura de


novo concurso. É preciso que haja preterição de candidato por parte da
administração. E essa preterição deve ser arbitrária e imotivada, caracterizada
por comportamento tácito ou expresso do Poder Público capaz de revelar a
inequívoca necessidade de nomeação do aprovado durante o período de validade
do certame, a ser demonstrada de forma cabal.

Portanto, pessoal, importante ficar atento a esse novo posicionamento do STF,


pois de acordo com o Supremo, o direito subjetivo à nomeação do candidato
aprovado surgirá quando ocorrer as seguintes condições:

Quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas do edital;


Quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem
de classificação;
Quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante
a validade do certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de
forma arbitrária e imotivada por parte da administração.

C) Constitucionalidade do sistema de cotas para concurso público: O


STF entende que ser constitucional a reserva de 20% das vagas
oferecidas nos concursos para provimento de cargos efetivos e
empregos públicos no âmbito da administração pública direta e
indireta. “É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios
subsidiários de heteroidentificação, desde que respeitada a dignidade da
pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa”. (STF.Plenário.
ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado 8/6/2017 - Informativo 868).

(...)

Continuando o estudo do tema dos concursos públicos. Vejamos o que dispõe o


art. 37, IV, CF/88:

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IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação,


aquele aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos
será convocado com prioridade sobre novos concursados para
assumir cargo ou emprego, na carreira;

Há muita confusão quanto ao significado do termo “prazo improrrogável”. Ora,


sabemos que o prazo de validade do concurso público é de até 2 anos,
prorrogável uma vez por igual período. Devemos considerar que findo esse
período é que o prazo se torna improrrogável.

A CF/88 não impede que, no prazo de validade de um concurso, a Administração


realize novo concurso para o mesmo cargo. No entanto, o art. 37, IV, estabelece
a prioridade de nomeação para os aprovados no concurso anterior sobre
os novos aprovados.

PAUSA 27 03 2019
Cargos em comissão e funções de confiança

No art. 37, inciso V, a Carta da República trata das funções de confiança e dos
cargos em comissão:

V - as funções de confiança, exercidas


exclusivamente por servidores ocupantes de
cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem
preenchidos por servidores de carreira nos
casos, condições e percentuais mínimos
previstos em lei, destinam-se apenas às
atribuições de direção, chefia e assessoramento;

É importante que você não confunda cargos em comissão com funções de


confiança. São coisas diferentes.

As funções de confiança são exercidas exclusivamente por servidores


ocupantes de cargo efetivo, regra introduzida pela EC nº 19/98. Os cargos em
comissão, por sua vez, são de livre nomeação e exoneração. Todavia, existe
previsão em lei de um percentual mínimo dos cargos em comissão que devem
ser ocupados por servidores de carreira.

Tanto os cargos em comissão quanto as funções de confiança destinam-se apenas


às atribuições de direção, chefia e assessoramento. Nesse sentido, o STF já
declarou a inconstitucionalidade de lei estadual que criou cargos em comissão
com atribuições de natureza técnica.

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Funções de confiança
Funções de confiança Cargos em comissão
e cargos em comissão

Podem ser preenchidos por


pessoas com ingresso sem
concurso público. Entretanto,
Destinam-se exclusivamente Ocupadas exclusivamente a Lei deve estabelecer
às atribuições de direção, por servidores ocupantes de percentuais mínimo de vagas
chefia e assessoramento. cargo efetivo a serem preenchidas por
servidores de carreira, que
ingressaram no serviço
público mediante concurso

Em relação às nomeações para cargos em comissão, importante trazer o


entendimento do STF sobre o nepotismo. A Corte considera ofensiva essa prática,
vedando inclusive o “nepotismo cruzado”, que ocorre quando dois agentes
públicos nomeiam parentes um do outro, para mascarar a contratação.

A Suprema Corte entendeu que a prática do nepotismo ofende os princípios da


moralidade e da impessoalidade, devendo a vedação a esta prática ser
observada por todos os Poderes da República e por todos os entes da Federação,
independentemente de lei formal. Olha só Súmula Vinculante no 13 do STF:

“A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha


reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da
mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção,
chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em
comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada
na administração pública direta e indireta, em qualquer dos
poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, compreendido o ajuste mediante designações
recíprocas, viola a Constituição Federal.”

Vale destacar que o STF interpretou que a vedação ao nepotismo não alcançaria
a nomeação em 02 condições:

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Servidores nomeados via concurso: o STF afirmou que essa vedação


não pode alcançar os servidores admitidos mediante prévia aprovação em
concurso público, ocupantes de cargo de provimento efetivo, haja vista que
isso poderia inibir o próprio provimento desses cargos, violando, dessa
forma, o art. 37, I e II, da CF/88, que garante o livre acesso aos cargos,
funções e empregos públicos aos aprovados em concurso público. (STF.
Plenário. ADI 524/ES, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acordão Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 20/5/2015 - Info 786).
Cargos políticos: como regra geral um Governador de um Estado, por
exemplo, pode nomear seu irmão para o cargo de secretário estadual que
é um cargo de natureza eminentemente política.

Além disso, cumpre destacar que em 2016 o Supremo Tribunal Federal firmou
uma nova posição de que “Nomeação para cargo político não afasta (por si
só) aplicação da súmula sobre nepotismo”. A análise deve ser caso a caso.
Tanto que cita até a possibilidade de verificar a eventual ocorrência de
“nepotismo cruzado” ou outra modalidade de fraude à lei e descumprimento dos
princípios administrativos.

“Nessa seara, tem-se que a nomeação de agente para exercício


de cargo na administração pública, em qualquer nível, fundada
apenas e tão somente no grau de parentesco com a autoridade
nomeante, sem levar em conta a capacidade técnica para o seu
desempenho de forma eficiente, além de violar o interesse
público, mostra-se contrária ao princípio republicano”.

Para a Corte, é importante observar se o agente nomeado possui a


qualificação técnica necessária ao seu desempenho e se não há nada que
desabone sua conduta.

Direitos Sociais dos servidores públicos

Nesse tópico, estudaremos sobre os direitos sociais dos servidores públicos.


Inicialmente, comentamos sobre o direito à associação sindical, o qual é
assegurado pelo art. 37, VI, CF/88:

VI - é garantido ao servidor público civil o direito à


livre associação sindical

O servidor público tem, portanto, o poder de se associar a um sindicato.


Entretanto, destaca-se que a Súmula 679 do STF proíbe a convenção coletiva
para fixação de vencimentos dos servidores públicos. Destaca-se, ainda,
que aos militares são vedadas a sindicalização e a greve (art. 142, IV, CF),
sem exceção.

Os servidores públicos civis também têm o direito de greve (art.37, VII):

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VII - o direito de greve será exercido nos termos e


nos limites estabelecidos em lei específica.

Observe que, ao contrário do direito à associação sindical, que é uma norma


constitucional de eficácia plena, o direito de greve do servidor público é uma
norma constitucional de eficácia limitada. Em tese, é necessária uma lei para
que os servidores públicos possam usufruir do direito de greve.

Como tal lei ainda não foi editada, o STF, no julgamento de três mandados de
injunção, adotando a posição concretista geral, determinou a aplicação ao setor
público, no que couber, da lei de greve vigente no setor privado (Lei no
7.783/1989) até a edição da lei regulamentadora.

Destaca-se, porém, que a Corte decidiu pela inaplicabilidade do direito de


greve a determinados servidores públicos, como, por exemplo, às forças
policiais, devido à índole de sua atividade. Segundo o Pretório Excelso:

"servidores públicos que exercem atividades relacionadas à manutenção


da ordem pública e à segurança pública, à administração da Justiça – aí
os integrados nas chamadas carreiras de Estado, que exercem atividades
indelegáveis, inclusive as de exação tributária – e à saúde pública”
estão privados do direito de greve" (STF, Rcl. 6568-SP, Rel. Min.
Eros Grau).

Uma novidade em relação ao direito de greve e que agora em outubro de 2016,


o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 693456, com
repercussão geral reconhecida, acabou decidindo que a administração pública
deve fazer o corte do ponto dos grevistas, mas admitiu a possibilidade
de compensação dos dias parados mediante acordo. Também foi decidido
que o desconto não poderá ser feito caso o movimento grevista tenha
sido motivado por conduta ilícita do próprio Poder Público. Vejamos:

"A administração pública deve proceder ao desconto dos dias


de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve
pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo
funcional que dela decorre, permitida a compensação em caso
de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar
demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do
Poder Público".

Acumulação remunerada de cargos, empregos e funções públicas

A CF/88 prevê, como regra geral, a vedação à acumulação remunerada de


cargos, empregos e funções públicas. Essa proibição de acumular também se
estende àqueles que ocupam empregos e funções em autarquias, fundações,
empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias e
sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público.

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A proibição de acumular é ampla, alcançando todas as esferas de governo (U, E,


DF, M) todos os Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) e toda a
Administração Pública (direta ou indireta). Assim, uma pessoa que ocupe cargo
público federal (qualquer que seja o Poder) não poderá, em regra, acumulá-lo
com um cargo público em outra esfera de governo.

A Constituição Federal de 1988 estabelece exceções à regra geral de proibição


de acumulação de cargos. Vejamos o que dispõe o art. 37, XVI:

XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos


públicos, exceto, quando houver compatibilidade de
horários, observado em qualquer caso o disposto no
inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou
científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de
profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas;
XVII - a proibição de acumular estende-se a
empregos e funções e abrange autarquias, fundações,
empresas públicas, sociedades de economia mista,
suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou
indiretamente, pelo poder público;

Assim, é possível a acumulação de cargos públicos em certos casos, mas mesmo


assim é necessário que exista compatibilidade de horários. São admissíveis
a acumulação de:

• É possível, por exemplo, que uma pessoa atue como professor em


2 cargos de professor. duas universidades públicas.

• É possível que um servidor ocupante de “cargo técnico ou científico”


1 cargo de professor com outro seja, simultaneamente, professor em uma universidade pública.
técnico ou científico.

• É possível, por exemplo, que um indivíduo tenha 2 cargos públicos de


2 cargos ou empregos privativos médico, em órgãos diferentes.
de profissionais de saúde.

Segundo o STF, o art. 37, XVI, “c”, da Constituição


Federal autoriza a acumulação de dois cargos de médico,
não sendo compatível interpretação ampliativa para
abrigar no conceito o cargo de perito criminal com
especialidade em medicina veterinária.

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Vale frisar que a vedação à acumulação remunerada de cargos diz respeito


apenas a atribuições públicas. Ela não alcança atividades privadas. O servidor
público poderá, então, exercer atividades privadas, desde que não sejam
incompatíveis com o regime jurídico próprio do cargo. Por exemplo, a Lei nº
8.112/90 proíbe que servidores públicos participem da gerência ou administração
de sociedade privada.

A Constituição estabelece, ainda, outras possibilidades de acumulação de cargos.


Destaque-se, porém, que, em todo e qualquer caso de acumulação, haverá
necessidade de compatibilidade de horários.

Vejamos a tabela abaixo:

Artigo da CF Permissão
Art. 38, III Acúmulo do cargo de vereador e outro cargo, emprego ou função,
sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo
Art. 95, parágrafo Permissão para que juízes exerçam o magistério
único, I
Art. 125, § 5º, II, Permissão para que membros do Ministério Público exerçam o
“d” magistério

É relevante destacar que, havendo acumulação lícita de cargos, será


necessário que seja observado o teto remuneratório do funcionalismo público.
É o que se depreende da leitura da parte final do art. 37, XVI, quando se diz que
deverá ser “observado em qualquer caso o disposto no inciso XI”.

Ressalto que esse é um tema controverso no âmbito do Direito Administrativo.


Na doutrina, há quem defenda que o teto constitucional deve ser observado em
relação à soma da remuneração dos cargos; por outro lado, há autores que
consideram que o teto deve ser considerado para cada cargo, isoladamente.

Na jurisprudência, agora em 2017 o Plenário do Supremo pacificou entendimento


de que o teto remuneratório constitucional deve ser aplicado de forma
isolada para cada cargo público acumulado.

Segundo o STF, “Nos casos autorizados,


constitucionalmente, de acumulação de cargos,
empregos e funções, a incidência do artigo 37, inciso XI,
da Constituição Federal, pressupõe consideração de
cada um dos vínculos formalizados, afastada a
observância do teto remuneratório quanto ao somatório
dos ganhos do agente público”.

Não menos importante, o art. 37, §10, CF/88 estabelece importante regra sobre
os proventos de aposentadoria. Como regra geral, é vedada a acumulação de

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proventos de aposentadoria pago pelo regime próprio de previdência social


(RPPS) com a remuneração do cargo em atividade. Suponha, por exemplo,
que João se aposente como Analista Judiciário. Depois de aposentado, ele é
aprovado e toma posse no cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil.
Poderá ele acumular a aposentadoria com a remuneração do cargo de Auditor? A
resposta é não, nos termos do art. 37, §10, CF/88.

§ 10 - É vedada a percepção simultânea de proventos


de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42
e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função
pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma
desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos em
comissão declarados em lei de livre nomeação e
exoneração.

Há 3 (três) exceções à vedação de percepção simultânea de proventos de


aposentadoria do RPPS com a remuneração do cargo em atividade:

Cargos acumuláveis: Um Analista Judiciário aposentado não pode


receber os proventos de sua aposentadoria com a remuneração do cargo
de Auditor-Fiscal RFB. No entanto, é possível que um Analista Judiciário
receba os proventos de sua aposentadoria e, além disso, a remuneração
de um cargo público de professor. Isso será possível porque os dois
cargos (Analista Judiciário e professor) são acumuláveis.
Cargos eletivos: Um Analista Judiciário aposentado pode receber os
proventos de sua aposentadoria e a remuneração do cargo de Deputado
Federal, para o qual foi eleito.
Cargos em comissão Suponha que um Delegado da Polícia Federal se
aposente e, após isso, seja nomeado Diretor-Geral da Agência Brasileira
de Inteligência (ABIN). Como trata-se de cargo em comissão, ele poderá
acumular a remuneração do cargo com os proventos de aposentadoria no
cargo de Delegado da Polícia Federal.

Servidores Públicos e Mandato Eletivo

Um último detalhe para fecharmos esse tópico. O art. 38 da Carta Magna traz as
regras aplicáveis aos servidores que estiverem no exercício de mandato eletivo:

Art. 38. Ao servidor público da administração direta,


autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo,
aplicam-se as seguintes disposições:
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou
distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do
cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela

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sua remuneração;
III - investido no mandato de Vereador, havendo
compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de
seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da
remuneração do cargo eletivo, e, não havendo
compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior;
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o
exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será
contado para todos os efeitos legais, exceto para
promoção por merecimento;
V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de
afastamento, os valores serão determinados como se
no exercício estivesse.

Qualquer que seja o mandato eletivo federal, estadual ou distrital, o servidor


ficará afastado do seu cargo, emprego ou função (art.38, I). Não importa se
ele está ocupando um cargo no Poder Executivo (Presidente ou Governador) ou
no Poder Legislativo (Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual ou
Deputado Distrital). Se ele estiver exercendo mandato eletivo federal,
estadual ou distrital, ocorrerá o afastamento do cargo. Destaque-se que
essa regra de afastamento vale tanto para os servidores ocupantes de cargo
efetivo quanto para os ocupantes de cargo em comissão.

E qual remuneração será recebida pelo servidor afastado para exercer mandato
eletivo federal, estadual ou distrital? Boa pergunta. Ele receberá a remuneração
do mandato eletivo, obrigatoriamente. E se o for investido em mandato eletivo
municipal?

Nesse caso, temos regras diferentes. O servidor que for investido no mandato
de Prefeito, será afastado do cargo e poderá optar pela remuneração do
seu cargo ou pela remuneração do mandato eletivo.

Por outro lado, o servidor investido no mandato de Vereador poderá acumular


os dois cargos (mandato eletivo e cargo público), desde que haja
compatibilidade de horários. Receberá, nesse caso, as duas remunerações.
Se não houver compatibilidade de horários, o servidor investido no mandato de
Vereador será afastado do cargo, podendo optar pela remuneração.

Cargo Eletivo Regra

Cargos do Executivo ou do Afastamento do cargo efetivo ou em comissão, função ou


Legislativo Federal, emprego público. A remuneração percebida será a do cargo
Estadual ou Distrital eletivo.
Prefeito Afastamento do cargo efetivo ou em comissão, função ou
emprego público. A remuneração poderá ser a do cargo

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eletivo ou a do cargo efetivo ou em comissão, função ou


emprego público, de acordo com a opção do servidor.
Vereador Poderá, caso haja compatibilidade de horários, acumular o
cargo político com o cargo efetivo ou em comissão, função
ou emprego público. Nesse caso, receberá as duas
remunerações. Caso não haja compatibilidade, será afastado
do cargo efetivo ou em comissão, função ou emprego
público, podendo optar pela remuneração de qualquer um
deles.

O art. 38, IV, da CF/88 determina, ainda, que nos casos de afastamento do
servidor, seu tempo de exercício no mandato eletivo será contado como tempo
de serviço para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento.
Para efeito de benefício previdenciário, no caso de afastamento, os valores serão
determinados como se no exercício estivesse.

Obrigatoriedade de Licitação

A Constituição, como forma de proteger os princípios da legalidade,


impessoalidade, moralidade e probidade e indisponibilidade do interesse público
determinou, como regra, a obrigatoriedade de licitação. Trata-se de
procedimento formal, disciplinado em lei, de observância obrigatória para as
aquisições do Poder Público (obras, serviços, compras). O art. 37, XXI, da
Constituição Federal, determina que:

XXI - ressalvados os casos especificados na


legislação, as obras, serviços, compras e alienações
serão contratados mediante processo de licitação
pública que assegure igualdade de condições a todos
os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual
somente permitirá as exigências de qualificação
técnica e econômica indispensáveis à garantia do
cumprimento das obrigações.

A obrigatoriedade da licitação, decorrente do princípio da indisponibilidade do


interesse público, visa garantir à Administração a proposta mais vantajosa,
possibilitando que todos ofereçam seus bens e serviços aos órgãos estatais.
Busca-se, com isso, impedir conluios entre agentes públicos e terceiros, que
acarretam negócios desfavoráveis para a Administração, ou, ainda, favoritismos
ou perseguições, que não se coadunam com o princípio da igualdade.

Destaca-se, porém, que a Carta Magna permite que alguns casos excepcionais
sofram ressalva na legislação. Como se trata de situações excepcionais, as

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hipóteses em que a licitação é afastada compõem um rol taxativo na legislação,


em respeito ao caráter finalístico da norma constitucional.

Responsabilidade Civil do Estado

A responsabilidade do Estado é extracontratual e de natureza civil. É


extracontratual porque não tem amparo em um contrato; é civil porque
consiste em uma obrigação de indenizar por um dano causado.

A responsabilidade civil do Estado é objetiva, o que quer dizer que este terá a
obrigação de indenizar os danos que seus agentes, atuando nessa qualidade,
produzirem independentemente de terem agido com dolo ou culpa. É
exatamente isso o que dispõe o art. 37, § 6º, CF/88:

§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de


direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de
dolo ou culpa.

A regra da responsabilidade civil objetiva é bastante abrangente, alcançando:

as pessoas jurídicas de direito público (órgãos públicos,


autarquias e fundações de direito público).
as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços
públicos (como exemplo, as empresas públicas e as sociedades de
economia mista prestadoras de serviço público). Observe que a
responsabilidade civil objetiva não alcança as empresas públicas e
sociedades de economia mista que exploram atividades econômicas.
as pessoas jurídicas de direito privado que não integram a
Administração Pública, mas que prestam serviços públicos. É
o caso das concessionárias e permissionárias de serviços públicos.

12. (OAB - XXV Exame de Ordem 2018) O Município Alfa, com o objetivo de
solucionar a falta de profissionais dedicados à saúde pública, após o regular
processo legislativo, altera a Lei Orgânica Municipal (LOM), de modo a
permitir a acumulação remunerada de 3 (três) cargos de profissionais da
área de saúde. No que tange à acumulação de cargos, as normas da
Constituição do estado em questão reproduzem as normas da Constituição
da República Federativa do Brasil, de 1988.

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Dito isso, a associação municipal de enfermeiros resolve tomar providências,


com o objetivo de afastar o novo regramento conferido pela LOM, pois
entende que a referida acumulação acarretará desgaste à saúde dos
profissionais e comprometerá a eficiência dos serviços prestados na área de
saúde pública municipal. A partir da situação narrada, responda aos itens a
seguir.

1. A) Diante da autonomia federativa do Município Alfa, a referida norma


da Lei Orgânica Municipal é constitucional? Justifique. (Valor: 0,70)
2. B) A Lei Orgânica Municipal que permitiu a acumulação de cargos
pode ser objeto de Ação de representação por inconstitucionalidade,
ajuizada por um dos legitimados ativos previstos na Constituição
Estadual? Justifique. (Valor 0,55)

A) No caso prático, tem-se que a norma é inconstitucional. Isto porque, o art. 37,
inciso XVI, alínea c, da nossa Constituição de 1988 somente permite a acumulação
remunerada de 2 (dois) cargos ou empregos de profissionais da área de saúde,
sendo de observância obrigatória pela Lei Orgânica Municipal, conforme dispõe o
Art. 29, caput, da CRFB/88.

B) Pessoal, essa alternativa B ela traz um tema relacionado ao estudo do controle


de constitucionalidade. Fiquem tranquilos que iremos abordar em aula. Mas, para
fins de fechamento da questão, temos o seguinte.

A norma da Lei Orgânica ela possui natureza municipal e, assim sendo, pode vir a
ser objeto da representação por inconstitucionalidade estadual, na forma do Art.
29 e do Art. 125, § 2o, ambos da CRFB/88.

Régua de correção:

Item Pontuação

A) Sim. A norma é inconstitucional. A acumulação 0,00/0,25/0,35/0,45/


remunerada é limitada a dois cargos ou empregos de 0,60/0,70
profissionais da área de saúde é permitida (0,35), segundo
o Art. 37, inciso XVI, alínea c, da CRFB/88 (0,10), sendo
de observância obrigatória pela Lei Orgânica Municipal
(0,25).
B) A norma da Lei Orgânica, por ter natureza municipal, 0,00/0,45/0,65
pode ser objeto da representação por inconstitucionalidade
estadual (0,45), nos termos do Art. 125, § 2º, da CRFB/88
(0,10).

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5. Poder Executivo
Funções do Poder Executivo

O Poder Executivo, assim como os demais Poderes do Estado, possui funções


típicas e funções atípicas. A função típica deste poder é a função executiva, que
abrange atividades de Chefia de Governo, Chefia de Estado e de Chefia da
Administração Pública.28 O Poder Executivo é, afinal, o responsável por
impulsionar e dirigir a ação estatal, seja no plano interno ou internacional.29

A doutrina considera que a função executiva se subdivide em duas: i) função de


governo (atribuições de decisão política) e; ii) função administrativa
(atribuições relacionadas à prestação de serviço público).30

O Poder Executivo também exerce funções atípicas: função legislativa (quando


edita medidas provisórias, leis delegadas e decretos autônomos) e função de
julgamento (no âmbito do contencioso administrativo – julgamento processo
administrativo disciplinar). No entanto, cabe destacar que a doutrina majoritária
entende que o Poder Executivo não exerce função jurisdicional.

Presidencialismo x Parlamentarismo

O sistema de governo adotado por um Estado é o modo como se dá a relação


entre os Poderes, notadamente entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo.
Não se confunde com forma de governo (que pode ser República ou Monarquia),
tampouco com forma de Estado (Estado unitário ou Estado federal).

Há dois sistemas de governo amplamente utilizados mundo afora: i)


presidencialismo e; ii) parlamentarismo. Como exemplo de países que adotam o
presidencialismo, citamos o Brasil e os EUA. Por outro lado, a Inglaterra é um
exemplo de país que adota o parlamentarismo.

O presidencialismo tem suas origens nos EUA, que o adotaram como sistema
de governo na Constituição de 1787. Possui como características principais:

A Chefia do Poder é unipessoal ou monocrática. O Presidente da


República exerce a função de Chefe de Estado (representando o
País em suas relações internacionais) e, ainda, a função de Chefe

28
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 35ª edição, Ed. Malheiros, São Paulo, 2012.
29
MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional, 9ª edição. São Paulo Editora Atlas: 2010,
pp. 1228.
30
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, COELHO, Inocência Mártires. Curso de Direito Constitucional, 5ª edição.
São Paulo: Saraiva, 2010, pp. 935

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de Governo (dirigindo as políticas públicas e chefiando a


administração federal).
Inexistência de vínculo entre Poder Legislativo e o Executivo. No
presidencialismo, há independência entre estes poderes. O
Presidente pode ser eleito sem que tenha o apoio da maioria
parlamentar, pois Deputados e Senadores também são eleitos
democraticamente pelo povo.
Mandato por tempo determinado. O Presidente da República,
quando eleito, já tem um tempo pré-fixado durante o qual irá
exercer o seu mandato. Não existe a possibilidade de o Poder
Legislativo, a seu bel prazer, abreviar o mandato presidencial,
destituindo o Presidente do cargo. No Brasil, a única possibilidade
de perda do cargo de Presidente por atuação do Poder Legislativo é
a condenação por crime de responsabilidade (processo de
“impeachment”).

O parlamentarismo, por sua vez, tem suas origens, na Inglaterra do século XI.
Suas características principais são as seguintes:

A Chefia do Poder Executivo é dual, pois o Chefe de Estado e o


Chefe de Governo são pessoas diferentes. Nas monarquias
parlamentaristas, o Chefe de Estado é o monarca, ao passo que o
Chefe de Governo é o Primeiro-Ministro. Por outro lado, nas
repúblicas parlamentaristas, há o Presidente (como Chefe de
Estado) e o Primeiro-Ministro (como Chefe de Governo).
Interdependência entre os Poderes Executivo e Legislativo.
O Primeiro Ministro e os demais membros do Gabinete são
integrantes do Parlamento e são por ele nomeados. Assim, a Chefia
de Governo só se mantém no poder enquanto possuir o apoio do
Parlamento; caso o Primeiro Ministro perca o apoio, poderá ser
destituído pelo Parlamento.
Mandato por prazo indeterminado. O Primeiro-Ministro (Chefe
de Governo) ocupa o cargo por tempo indeterminado, enquanto
possuir o apoio do Parlamento. Destaque-se, ainda, que em
situações em que o povo perde a confiança no Parlamento, este
também pode ser dissolvido pelo Primeiro-Ministro, convocando-se
eleições extraordinárias para a formação de um novo Parlamento.

A doutrina aponta que uma das vantagens do sistema parlamentarista é a


existência de uma relação harmoniosa entre o Poder Legislativo e o Poder
Executivo, que resulta em maior governabilidade. Esta é obtida pelo fato de que
o Primeiro-Ministro e os demais membros do Gabinete são oriundos do
Parlamento e, como tal, suas ações terão apoio do Legislativo. Vale destacar que,
no sistema parlamentarista, é possível a substituição simplificada do Governo (o

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que não é possível no presidencialismo!), o que é particularmente importante


para contornar de forma mais eficiente situações de crise política.31

A partir do momento em que o Brasil adotou a República, o presidencialismo


passou a ser o sistema de governo. Apenas durante o período de setembro de
1961 a janeiro de 1963, adotamos o parlamentarismo em nosso País.

República Federativa do Brasil


• Forma de estado = Federação
• Regime político = Democracia
• Forma de governo = República
• Sistema de governo = Presidencialismo

Investidura e Posse
A CRFB/88 diz que o Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República,
auxiliado pelos Ministros de Estado. Para que um indivíduo possa ocupar o cargo
de Presidente, ele deverá cumprir os seguintes requisitos constitucionais:

 Ser brasileiro nato (art. 12, § 3º, CF/88).


 Possuir alistamento eleitoral.
 Estar no pleno gozo dos direitos políticos.
 Ter mais de 35 anos. Destaque-se que essa idade deve ser comprovada
na data da posse.
 Não se enquadrar em nenhuma das inelegibilidades previstas na
Constituição.
 Possuir filiação partidária.

A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República é feita pelo sistema


majoritário de dois turnos. Por esse sistema, considera-se eleito o candidato
que obtiver a maioria absoluta dos votos válidos (não computados, portanto,
os votos em branco e os nulos). Caso não obtenha essa maioria na primeira
votação, será realizado um novo turno de votações.

Existem dois tipos de sistema majoritário:


1) Sistema majoritário puro (ou simples): é eleito o
candidato com o maior número de votos (maioria simples).
Esse sistema é utilizado para a eleição dos Senadores e de
Prefeitos em municípios com até 200.000 eleitores.
2) Sistema majoritário de dois turnos: é eleito o
candidato que obtém a maioria absoluta dos votos válidos.
A maioria absoluta é obtida quando o candidato tem mais
da metade dos votos válidos. Esse sistema é utilizado nas

31
MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. Ed. Juspodium, Salvador, 2013, pp. 731-732

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eleições do Presidente, dos Governadores e de Prefeitos


em municípios com mais de 200.000 eleitores.

Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido


político, obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e
os nulos. Assim, para se eleger no primeiro turno, o candidato deverá ter mais
votos do que o somatório dos votos de todos os seus adversários; precisará,
portanto, ter mais da metade dos votos válidos.

Se a maioria absoluta não for obtida no primeiro turno, será realizado o segundo
turno. Irão concorrer os dois candidatos mais votados no primeiro turno. Havendo
empate em segundo lugar, será qualificado o mais idoso, que irá, então,
disputar o segundo turno. Destaque-se que será considerado eleito, no segundo
turno, aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.

Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou


impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o
de maior votação. Cuidado! Não será convocado o Vice do candidato que
faleceu, desistiu ou foi impedido, mas sim chamado aquele que ficou na
terceira posição no primeiro turno. Caso ocorra empate entre os remanescentes,
qualificar-se-á o mais idoso.

Um outro detalhe importante. Se, decorridos dez dias da data


fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo
de força maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado
vago (art. 78, parágrafo único). A partir desse dispositivo, é
possível vislumbrarmos 6 situações diferentes:

Presidente da República e Vice-Presidente não comparecem dentro de 10


dias da data fixada para posse, SEM motivo de força maior. Nesse
caso, será declarada a vacância dos dois cargos. Precisarão ser realizadas
novas eleições diretas, como estudaremos mais à frente.
Presidente da República não comparece dentro de 10 dias da data fixada
para a posse, SEM motivo de força maior. Nesse caso, o Vice assumirá
o cargo de Presidente e exercerá o mandato inteiro sem Vice.
Vice-Presidente não comparece dentro de 10 dias da data fixada para a
posse, SEM motivo de força maior. Nesse caso, o Presidente irá exercer
todo o mandato sem Vice.
Presidente e Vice-Presidente não comparecem dentro de 10 dias da data
fixada para posse, COM motivo de força maior. Posse será adiada para
que, após cessado o motivo, eles possam assumir o cargo.
Presidente não comparece dentro de 10 dias da data fixada para a posse,
COM motivo de força maior. O Vice toma posse e assume,
interinamente, o cargo de Presidente até cesse o motivo de força maior.

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Vice-Presidente não comparece dentro de 10 dias da data fixada para a


posse, COM motivo de força maior. O Presidente toma posse e governa
sem Vice até que cesse o motivo de força maior.

O mandato presidencial tem a duração de 4 anos e terá início em 1º de janeiro


do ano seguinte ao da eleição do Presidente da República. É permitida a
reeleição para um único período subsequente. No entanto, é plenamente
possível que um indivíduo seja eleito para mais de 2 mandatos presidenciais,
desde que não sejam consecutivos.

Impedimento e Vacância

Impedimentos são os afastamentos temporários do Presidente da República.


É o que ocorre, por exemplo, quando o este se afasta do País. Quando há um
impedimento, diz-se que haverá a sua substituição pelo Vice-Presidente.

A vacância do cargo de Presidente da República, por sua vez, representa o


afastamento definitivo do cargo. Ocorrerá, por exemplo, se o Presidente
morrer ou se for condenado pela prática de crime de responsabilidade. Quando
ocorre a vacância do cargo de Presidente, diz-se que o Vice o sucederá.

Não comparecimento dentro de 10 dias da data fixada para a posse,


exceto por motivo de força maior.

Por morte, renúncia, perda ou suspensão dos direitos políticos e


perda da nacionalidade brasileira.
Quais são as
hipóteses de vacância
do cargo de
Condenação por crime de responsabilidade, ou comum, mediante
Presidente e Vice? decisão do Senado Federal ou do STF, respectivamente.

Ausência do país por mais de 15 dias sem autorização do Congresso


Nacional. O Presidente pode se ausentar do País por mais de 15 dias;
no entanto, para isso, precisará de autorização do Congresso Nacional.

Se o Presidente for condenado por crime de responsabilidade, ele perderá o


cargo e ficará inabilitado por 8 anos para o exercício de função pública. (art.
52, parágrafo único, CRFB/88)

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Pessoal, temos aqui uma novidade! Antes, o entendia-se que, no caso de


Governadores e Vices, a exigência de autorização de Assembleia Legislativa só
poderia constar da Constituição estadual se reproduzisse o modelo federal, ou
seja, quando a ausência ocorresse por mais de quinze dias. Entretanto, no
Informativo 863, o Supremo Tribunal restou consignado que:

 Não há necessidade de prévia autorização da assembleia legislativa


para o recebimento de denúncia ou queixa e instauração de ação penal contra
governador de Estado, por crime comum, cabendo ao Superior Tribunal de
Justiça (STJ), no ato de recebimento ou no curso do processo, dispor,
fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive
afastamento do cargo.

Dito isso, vejamos o que dispõem os art. 79 e 80, CRFB/88:

Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de


impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-
Presidente.
Parágrafo único. O Vice-Presidente da República,
além de outras atribuições que lhe forem
conferidas por lei complementar, auxiliará o
Presidente, sempre que por ele convocado para
missões especiais.
Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e
do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos
cargos, serão sucessivamente chamados ao
exercício da Presidência o Presidente da Câmara
dos Deputados, o do Senado Federal e o do
Supremo Tribunal Federal.

O art. 80 da CRFB/88 nos apresenta a linha sucessória do Presidente da


República. Nos casos de impedimento ou vacância dos cargos de Presidente e
Vice, serão chamados ao exercício da Presidência, na ordem:

• Presidente da Câmara dos Deputados



• Presidente do Senado Federal


• o Presidente do STF

Destaque-se, todavia, que apenas o Vice-Presidente poderá suceder o


Presidente em caráter definitivo; todos os outros poderão exercer a Presidência
apenas interinamente, ou seja, em caráter temporário. Dessa forma, havendo

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vacância dos cargos de Presidente e de Vice-Presidente, serão convocadas novas


eleições. Temos, então, o seguinte:

a) Se a vacância dos cargos de Presidente e Vice-


Presidente ocorrer nos dois primeiros anos do mandato
presidencial, serão feitas eleições 90 (noventa) dias
depois de aberta a última vaga. Trata-se, nesse caso,
de eleições diretas.
b) Se a vacância dos cargos de Presidente e Vice-
Presidente ocorrer nos dois últimos anos do mandato
presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita
30 (trinta) dias depois da última vaga, pelo Congresso
Nacional. Serão feitas, portanto, eleições indiretas.

Aqueles que forem eleitos dessa maneira deverão apenas completar o


mandato dos seus antecessores. É o que se chama de “mandato-tampão”.
Vamos então a um exemplo para deixar as coisas mais claras!

Suponha que José Polvo assuma a Presidência da República em 2019. Em 2021,


ele vem a falecer. Temos a vacância do cargo de Presidente. O Vice-Presidente,
João Urubu, assume a Presidência e irá exercê-la até o final de 2022, quando o
mandato chegará ao fim. No entanto, em janeiro de 2022, João Urubu é
condenado por crime de responsabilidade e, consequentemente, perde o cargo
de Presidente. Percebam que, na situação apresentada, houve vacância do cargo
de Presidente e também do Vice-Presidente.

O que irá acontecer? Sabemos que somente o Vice-Presidente pode assumir a


presidência em caráter definitivo. Então, o Presidente da Câmara dos Deputados
assumirá a Presidência temporariamente e convocará eleições indiretas, uma
vez que a vacância dos dois cargos ocorreu nos últimos dois anos do mandato
presidencial. Caso a vacância dos dois cargos tivesse ocorrido nos dois
primeiros anos do mandato, seriam convocadas eleições diretas.

É possível a previsão de eleição indireta no ordenamento jurídico dos Estados?


Sim. O Supremo entende que é plenamente possível que a Constituição Estadual
preveja que, no caso de dupla vacância dos cargos de Governador e Vice-
Governador nos últimos 2 anos do mandato, serão realizadas eleições indiretas
pela Assembleia Legislativa. Regra semelhante também deve ser aplicado na
hipótese de vacância dos cargos de Prefeito e Vice-Prefeito.

Atribuições do Presidente da República

As atribuições do Presidente da República estão relacionadas no art. 84, CF/88.


Trata-se de rol não-exaustivo, a ele competindo outras atribuições previstas no

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texto constitucional. Vamos analisar algumas competências importantes para fins


de prova.32

a) Direção da Administração Federal

O Presidente exerce a função de Chefe da Administração Pública Federal. Nessa


condição, ele possui algumas competências importantes, a saber:

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da


República:
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a
direção superior da administração federal;

Os Ministros de Estado33 são nomeados e exonerados pelo Presidente da


República; trata-se de cargos de livre nomeação e exoneração. São os
auxiliares diretos do Presidente e exercerão, em conjunto com este, a direção
superior da administração federal.

IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem


como expedir decretos e regulamentos para sua fiel
execução;
(...)
VI − dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal,
quando não implicar aumento de despesa nem criação ou
extinção de órgãos públicos;
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;

No inciso IV, está prevista a competência para expedir decretos e regulamentos


para a fiel execução das leis. Trata-se de competência para edição dos chamados
decretos executivos - atos normativos secundários (infralegais). Ao editar
esses atos, o Executivo estará exercendo o poder regulamentar.

Há uma notória distinção entre as leis e os decretos executivos. A lei pode inovar
o ordenamento jurídico, criando direitos e obrigações; o decreto executivo não
poderá fazê-lo, limitando-se a facilitar a execução das leis. Conforme lição de
Alexandre de Moraes, essa vedação não significa que o regulamento deva se
limitar a reproduzir o texto da lei, sob pena de inutilidade.

Caberá ao Poder Executivo evidenciar e explicitar todas as previsões legais,


decidindo a melhor forma de executá-las e, eventualmente, até mesmo suprindo

32
A divisão nesses grupos de funções se baseia na doutrina do Prof. Gilmar Mendes.
33
Há que se observar apenas que os Ministros de Estado devem ser escolhidos entre brasileiros com mais de 21 anos e no pleno exercício
dos direitos políticos.

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lacunas de ordem prática ou técnica. Vale lembrar que a edição dos decretos
executivos é competência indelegável do Presidente da República.

A doutrina faz menção a um tipo específico de decreto executivo: o


“regulamento autorizado”. Quanto à forma, este em nada se diferencia de um
decreto típico do Poder Executivo; no entanto, quanto ao conteúdo, o
“regulamento autorizado” busca complementar a lei, conforme expressa
determinação nela contida. Mas, a lei deverá determinar precisamente os
contornos dos decretos ou regulamentos autorizados.

Não menos importante, temos a competência do Presidente para editar os


chamados “decretos autônomos”. Trata-se de instituto diferente dos decretos
executivos. Foram inseridos na Constituição pela EC nº 32/2001; são atos
normativos primários, possuindo a mesma hierarquia das leis formais; seu
fundamento de validade extrai-se diretamente da Constituição.

O Presidente da República poderá dispor, mediante decreto autônomo, sobre:

organização e funcionamento da administração federal, quando não


implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos
públicos.
extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;

Perceba que a criação ou extinção de órgão público não poderá ser objeto de
decreto autônomo: haverá necessidade de lei formal. Da mesma maneira, é
necessária lei para tratar da organização e funcionamento de administração
federal quando houver aumento de despesa. A extinção de funções ou cargos
públicos que estiverem ocupados também depende de lei formal.

Por último, cabe destacar que a edição de decretos autônomos é competência


delegável do Presidente da República, que poderá concedê-la aos Ministros de
Estado, ao Advogado-Geral da União ou ao Procurador-Geral da República.

Decretos ou regulamentos de execução


•São atos normativos secundários, sendo editados para possibilitar a fiel
execução de uma lei. Sua edição é competência indelegável do Chefe do Executivo.

Decretos ou regulamentos autorizados


•São atos regulamentares que complementam a lei com base em
expressa determinação nela contida. Essa lei deve determinar
precisamente os contornos dos decretos ou regulamentos autorizados.

Decretos ou regulamentos autônomos


•São atos normativos primários que disciplinam a organização ou a atividade
administrativa, extraindo sua validade diretamente da Constituição. Existem em
nosso ordenamento jurídico desde a EC n o 32/2001 (art. 84, VI, da CF). A
competência para sua edição pode ser delegada, (art. 84, parágrafo único, CF).

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XII - conceder indulto e comutar penas, com


audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em
lei;

O indulto é o perdão da pena. Comutação da pena é a substituição de uma pena


mais grave por uma pena menos grave. A concessão de indulto e comutação de
penas é competência privativa do Presidente da República, efetuada mediante
decreto executivo que, conforme a prática, é publicado ao final de todo ano. Cabe
destacar que essa é uma competência delegável.

XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os


Ministros do Tribunal de Contas da União;

O Tribunal de Contas da União (TCU) possui 9 (nove) Ministros. Desses, 2/3 são
escolhidos pelo Congresso Nacional e 1/3 pelo Presidente da República. Aqueles
que forem escolhidos pelo Presidente da República deverão ter seu nome
previamente aprovado pelo Senado Federal, após o que serão nomeados.
Destaque-se que, na forma do art. 84, XV, mesmo os Ministros do TCU escolhidos
pelo Congresso Nacional, serão nomeados pelo Presidente.

XVII - nomear membros do Conselho da República,


nos termos do art. 89, VII;
XVIII - convocar e presidir o Conselho da
República e o Conselho de Defesa Nacional;

O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente, que se


pronuncia, sem efeito vinculante, sobre intervenção federal, estado de defesa,
estado de sítio e demais temas para a estabilidade das instituições democráticas.

O Conselho de Defesa Nacional também é órgão superior de consulta do


Presidente, mas nos assuntos relacionados com a soberania nacional e a
defesa do Estado democrático. Suas manifestações também não possuem
efeito vinculante, mas simplesmente opinativo.

O Presidente da República tem competência privativa para convocar e


presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional. Segundo a
doutrina, quando ele convoca e preside o Conselho da República, ele está atuando
na condição de Chefe de Governo; por outro lado, ao convocar e presidir o
Conselho de Defesa Nacional, ele estará atuando como Chefe de Estado.34

XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais,


na forma da lei;

34
MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. Ed. Juspodium, Salvador, 2013, pp. 749

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O provimento de cargos públicos é competência privativa do Presidente.


Assim, a nomeação de aprovado em concurso público e a nomeação de alguém
para exercer cargo em comissão são tarefas que cabem ao Presidente da
República. Segundo o STF, a competência para prover cargos públicos inclui
também a competência para desprover cargos públicos. Dessa forma, o
Presidente detém competência para exonerar e demitir servidores públicos.

Não entanto, importante ressaltar que a competência para prover e


desprover cargos públicos (art.84,XXV, primeira parte) é delegável aos
Ministros de Estado, ao Advogado Geral da União e ao Procurador-Geral da
República. Nesse sentido, entende o STF que o presidente da República pode
delegar aos ministros de Estado, por meio de decreto, a atribuição de demitir, no
âmbito das suas respectivas pastas, servidores públicos federais.

Já no caso da extinção de cargos públicos, quando vagos, poderá ser feito por
decreto autônomo. No entanto, quando os cargos estiverem ocupados, a sua
extinção dependerá de lei formal. Considerando que a edição de decretos
autônomos é delegável, a extinção de cargos públicos vagos poderá ser
delegada aos Ministros de Estado, ao Advogado Geral da União e ao Procurador-
Geral da República. No entanto, a extinção de cargos públicos ocupados não é
matéria delegável.

b) Relação com o Congresso Nacional e atuação no processo legislativo

O Presidente da República tem importantes funções no âmbito do processo


legislativo e em seu relacionamento com o Congresso Nacional. Vejamos:

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da


República:
(...)
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos
casos previstos nesta Constituição;
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem
como expedir decretos e regulamentos para sua fiel
execução;
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
(...)
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional,
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão
legislativa, as contas referentes ao exercício
anterior;

O Presidente da República pode dar início ao processo legislativo, seja


apresentando projetos de lei de sua iniciativa privativa (art.61, § 1º), seja
apresentando projetos de lei de iniciativa geral. Um exemplo de projeto de lei
de iniciativa privativa do Presidente é o que trata do regime jurídico dos

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servidores públicos da União. Já um exemplo de projeto de lei de iniciativa geral


ou comum é aquele que tratar de matéria tributária.

No caso do inciso XXIV, atenção mais que especial (rs). Ele faz referência à
prestação de contas do Presidente da República, que deve ser apresentada
ao Congresso Nacional dentro de 60 dias após a abertura da sessão legislativa.
Destaque-se que compete ao Congresso Nacional julgar as contas do
Presidente da República, com parecer prévio do TCU.

E o que acontece se o Presidente não prestar contas ao Congresso Nacional em


até 60 dias após a abertura da sessão legislativa? Nesse caso, a Câmara dos
Deputados (representante do povo) irá “cobrar” do Presidente. Segundo o art.
51, II. CF/88, compete privativamente à Câmara dos Deputados proceder à
tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao
Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa.

XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano


plurianual, o projeto de lei de diretrizes
orçamentárias e as propostas de orçamento
previstos nesta Constituição;
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei,
nos termos do art. 62;

c) Atribuições no plano das relações internacionais

O Presidente, na condição de Chefe de Estado, representa o Brasil em suas


relações internacionais. Nesse sentido, exerce as seguintes competências:

(...)
VIII - celebrar tratados, convenções e atos
internacionais, sujeitos a referendo do Congresso
Nacional;

Cabe dar um destaque especial à competência do Presidente para celebrar


tratados internacionais (art.84, VIII). O Presidente da República é responsável
por assinar os tratados (consentimento provisório) e por ratificá-los
(consentimento definitivo).

A ratificação depende de aprovação pelo Congresso Nacional por meio de


decreto legislativo. Essa aprovação representa uma verdadeira autorização
para que o Presidente ratifique o tratado. Mas, importante dizer que a aprovação
do Congresso Nacional não obriga a ratificação pelo Presidente; Trata-se de ato
discricionário. Uma vez tendo sido aprovado pelo Congresso Nacional, o
Presidente irá promulgar e publicar o tratado, por meio de decreto executivo.
A partir daí o tratado poderá produzir efeitos no plano interno.

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d) Atribuições concernentes à segurança interna, preservação da ordem


institucional e da harmonia das relações federativas

No plano da segurança interna, preservação da ordem institucional e harmonia


das relações federativas, temos as seguintes competências:

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da


República:
(...)
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
X - decretar e executar a intervenção federal;
O Presidente da República tem competência privativa para decretar a
intervenção federal, o estado de sítio e o estado de defesa. Todos esses
são mecanismos que buscam salvaguardar a ordem jurídica nos momentos de
instabilidade institucional; são, por isso, institutos do sistema constitucional
de crises. Cabe destacar que a decretação de estado de sítio depende de prévia
autorização pelo Congresso Nacional.

Um ponto crucial, meus amigos. A suspensão do estado de defesa, do estado


de sítio e da intervenção federal não é competência do Presidente da
República, mas sim do Congresso Nacional. É o que dispõe o art. 49, V:
“compete exclusivamente ao Congresso Nacional aprovar o estado de defesa e a
intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma
dessas medidas”

Competências Delegáveis do Presidente da República

Um dos pontos mais importantes desse assunto é saber quais são as


competências delegáveis do Presidente da República. Olha só:

Art. 84. Parágrafo único. O Presidente da República


poderá delegar as atribuições mencionadas nos
incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros
de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao
Advogado-Geral da União, que observarão os limites
traçados nas respectivas delegações.

As competências delegáveis do Presidente da República são as seguintes:

Editar decretos autônomos. Recorde-se que, mediante decreto


autônomo, o Presidente poderá dispor sobre: i) organização e
funcionamento da administração pública federal, quando não implicar
aumento de despesa, nem criação ou extinção de órgão público e; ii)
extinguir funções ou cargos públicos, quando vagos.
Conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos
órgãos instituídos em lei.

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Prover e desprover cargos públicos, na forma da lei. Ressalte-se que


essa é apenas a primeira parte do art.84, XXV, cujo inteiro teor é o
seguinte: “prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei”.
A extinção de cargos públicos ocupados não é atribuição delegável
do Presidente da República. Apenas é delegável a extinção de cargos
públicos vagos (que é objeto de decreto autônomo).

Responsabilização do Presidente da República

A República tem como característica a possibilidade de responsabilização


pessoal do governante por suas ações. É diferente da monarquia, na qual
predomina a absoluta irresponsabilidade do rei. O ordenamento jurídico brasileiro
prevê, portanto, a responsabilização do Presidente da República. A história
recente de nosso país, inclusive, ilustra muito bem essa possibilidade: em 1992,
ocorreu o “impeachment” do ex-Presidente Collor.

Contudo, é inegável que o Presidente, para exercer suas funções com


independência, precisa possuir certas prerrogativas especiais. São as chamadas
imunidades do Presidente.

No tema das imunidades, verificamos que estas se dividem em dois tipos:


imunidade formal (prerrogativas relacionadas ao processo) e imunidade
material (inviolabilidade civil e penal por palavras e opiniões). O Presidente da
República possui apenas imunidades formais (prerrogativas relacionadas ao
processo); ele não possui imunidade material, isto é, pode ser responsabilizado
civil e penalmente por suas palavras e opiniões.

Vamos estudar, a seguir, as imunidades (formais) do Presidente da República:

a) Cláusula de irresponsabilidade penal relativa: Na vigência do


mandato, o Presidente da República só pode ser responsabilizado por atos
praticados no exercício da função (in officio) ou em razão dela (propter
officium). Assim, durante o seu mandato, o Presidente não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício da função. Diz-se,
portanto, que o Presidente tem uma relativa irresponsabilidade pela
prática de atos estranhos ao exercício das funções.

Mas, importante ter em mente que essa imunidade somente se aplica


às infrações de natureza penal. Assim, pode haver apuração, durante
o mandato do Presidente da República, de sua responsabilidade civil,
administrativa, fiscal ou tributária.

Suponha, por exemplo, que o Presidente da República se envolva em uma


briga de trânsito. Furioso, ele sai do carro e dispara 4 (quatro) tiros na
cabeça do indivíduo que com ele havia discutido. Foi um homicídio, mas

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que não está relacionado ao exercício da função. Na vigência do mandato,


o Presidente não poderá ser responsabilizado por esse crime.

No entanto, ao contrário do que muitos pensam, isso não significa que


o Presidente ficará impune pela prática desse crime. Após o término
do mandato, ele poderá, sim, ser responsabilizado por crime que cometeu
na vigência do mandato, mas que não estava relacionado ao exercício da
função. O STF entende que, nesse caso, haverá suspensão provisória do
processo e a consequente suspensão do prazo prescricional.35

b) Vedação à prisão cautelar: O Presidente somente estará sujeito à


prisão após sentença condenatória, nas infrações penais comuns. Não
são admitidas prisões cautelares (flagrante delito, prisão temporária,
prisão preventiva) do Presidente da República. É necessária uma sentença
penal condenatória, emanada do STF (como veremos mais à frente, é essa
Corte que julga o Presidente nos crimes comuns).

c) Autorização da Câmara dos Deputados: Para que o Presidente da


República seja processado e julgado, nos crimes comuns ou de
responsabilidade, há um prévio juízo de admissibilidade político pela
Câmara dos Deputados. Dito de outra forma, o Presidente somente será
processado e julgado após autorização da Câmara dos Deputados,
por 2/3 dos seus membros, em votação nominal (aberta).

Pessoal, antes tínhamos um entendimento que a Constituição Estadual poderia


estabelecer regra para que o Governador somente fosse processado e julgado
após juízo de admissibilidade da Assembleia Legislativa.

Acontece que, em 201736, o Supremo Tribunal federal alterou totalmente sua


posição jurisprudencial. Uma verdadeira mutação constitucional (rs). Agora,
entende-se que os Estados não têm competência para editar normas que
condicionem a instauração de ação penal contra Governador, por crime
comum, à prévia autorização da Assembleia Legislativa.

Não há que se falar mais em prévio juízo de admissibilidade da


Assembleia Legislativa!!!

Nesse caso, O STJ poderá inclusive receber a denúncia contra o Governador,


visando instaurar a ação penal, sem qualquer autorização. Agora, tal fato não

35
Inq. 672/DF. Rel. Min Celso de Mello, 16.04.1993.
36
ADI 4764, ADI 4797 e ADI 4798. Rel. Min. Luís Roberto Barroso. 04.05.2017.

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implica em afastamento automático do Governador. Competirá ao STJ decidir a


respeito sobre a aplicação de medidas cautelares.

(...)

Agora que já estudamos as imunidades do Presidente, é importante que


entendamos o processo de responsabilização em si.

Há dois tipos de infrações que podem ser cometidas pelo Presidente da República:
i) crimes comuns e; ii) crimes de responsabilidade. Os crimes comuns são as
infrações penais comuns, tipificadas no Código Penal e em outras leis penais
especiais. Já os crimes de responsabilidade são infrações político-
administrativas cometidas no exercício do cargo.

Nos crimes comuns, o Presidente da República é processado e julgado perante


o STF, após autorização da Câmara dos Deputados. Assim, a denúncia ou
queixa-crime é apresentada ao STF, mas este só poderá recebê-la após o
juízo de admissibilidade político da Câmara dos Deputados. Vale ressaltar que,
mesmo após a autorização da Câmara dos Deputados, é possível que o STF
decida rejeitar a denúncia e não instaurar o processo.

Uma vez que seja recebida a denúncia ou queixa-crime pelo STF, o Presidente
ficará suspenso das suas funções. Ele ficará suspenso e só retornará às suas
funções caso seja absolvido ao final do julgamento, ou se decorrerem mais
de 180 dias sem que o julgamento tenha sido concluído. Se o julgamento
demorar muito (mais de 180 dias), cessará o afastamento do Presidente, sem
prejuízo do regular prosseguimento do processo.

Se o STF condenar o Presidente pela prática de crime comum, seus direitos


políticos serão suspensos (conforme art. 15, III) e, consequentemente, ele
perderá o mandato presidencial, sem prejuízo da sanção penal cabível.

O STF também tem competência para julgar o Presidente da República em


algumas ações civis, como o mandado de segurança é o “habeas data”. No caso
da ação popular, entretanto, por falta de previsão constitucional, não é de
competência da Corte Suprema o julgamento do Presidente.

Já nos crimes de responsabilidade, o Presidente é processado e julgado pelo


Senado Federal, após juízo de admissibilidade político da Câmara dos
Deputados. Cabe destacar que, no processo de impeachment, não se aplicam
aos Senadores as regras de impedimento e suspeição previstas no Código
de Processo Penal.37 Como o Senado é um órgão político, este não se submete
por completo às rígidas normas às quais estão sujeitos os órgãos Judiciário.

37
MS 21.623/DF. Rel. Min. Carlos Velloso, Julgamento em 17/12/1992.

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O art. 85, da CF/88, relaciona alguns atos do Presidente da República que


configuram crimes de responsabilidade. Vamos fazer uma leitura:

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do


Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra:
I - a existência da União;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder
Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes
constitucionais das unidades da Federação;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e
sociais;
IV - a segurança interna do País;
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei
especial, que estabelecerá as normas de processo e
julgamento.

O art. 85 define genericamente, em lista meramente exemplificativa, atos


considerados crime de responsabilidade. É necessária lei especial, cuja edição
compete privativamente à União38, para tipificar essas condutas e estabelecer
normas de processo e julgamento. Atualmente, a lei que regula os crimes de
responsabilidade é a Lei nº 1.079/50.

Súmula Vinculante nº 46: A definição dos crimes de


responsabilidade e o estabelecimento das respectivas
normas de processo e julgamento são da competência
legislativa privativa da União.

Nos termos do art. 22, I, CF/88, a União tem competência


privativa para legislar sobre direito penal, incluindo-se aí
os crimes de responsabilidade.

*Muito cuidado, pois esse tema foi um dos fundamentos


da peça processual do XX Exame de Ordem!

A denúncia por crime de responsabilidade deve ser apresentada à Câmara dos


Deputados. Ela pode ser feita por qualquer cidadão; trata-se, portanto, de
denúncia popular. (art. 14 e 16 Lei 1.079/1950).

Caberá, então, à Câmara realizar o juízo de admissibilidade político: a


denúncia será admitida ou rejeitada, autorizando-se ou não a realização do

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julgamento pelo Senado Federal. Segundo o STF, é assegurado ao Presidente o


direito à ampla defesa e ao contraditório.39

Se a acusação for admitida pela Câmara dos Deputados (em votação nominal,
por 2/3 dos seus membros), o processo será remetido ao Senado Federal, a
fim de que este órgão processe e julgue o Presidente. (art. 51, CRFB/88)

*Novidade! Agora no final de 2015, na ADPF 378, o STF decidiu que, no Senado,
haverá novo juízo de admissibilidade da denúncia (por maioria simples). O
Senado Federal possui, dessa forma, discricionariedade para decidir pela
instauração ou não do processo contra o Presidente da República. Em outras
palavras, o Senado Federal não está vinculado ao juízo de admissibilidade
da Câmara dos Deputados.40

Com a abertura do processo de impeachment da


Presidente Dilma Rousseff em dezembro/2015, algumas
discussões começaram a surgir em torno do rito
processual. Na ADPF 378, o Supremo Tribunal adotou
uma nova sistemática, indo de certa forma, em sentido
contrário ao que afirmava a doutrina e a jurisprudência
acerca do julgamento do Presidente.
Foram vários os temas examinados pelo Corte. No
entanto, trago para vocês 04 pontos fundamentais que
precisam ser levados para provas. 
Antes do recebimento da denúncia não há que se
falar em direito à defesa prévia pelo Presidente da
Câmara;
A eleição da comissão especial do impeachment
deve se dar por indicação dos líderes. Não há
possibilidade de candidaturas avulsas para
formação da comissão. E voto deverá ser aberto em
Plenário;
Há a possibilidade de aplicação subsidiária dos
Regimentos Internos da Câmara e do Senado que
tratam sobre o procedimento do impeachment.
O Senado Federal não está vinculado ao juízo de
admissibilidade da Câmara dos Deputados. O
papel da Câmara no processo de impeachment, é na
visão do STF, um momento pré-processual, isto é,
anterior à instauração do processo pelo Senado. "a
Câmara apenas autoriza a instauração do processo:

39
MS-MC-QO 21.564/DF. Rel. Min. Carlos Velloso. 27.08.1993.
40
ADPF 378. Rel. Min. Luiz Edson Fachin. Julg. 17.12.2015.

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não o instaura por si própria, muito menos determina


que o Senado o faça”

Admitida a denúncia pelo Senado Federal (por maioria simples), será instaurado
o processo contra o Presidente. O Senado Federal irá, então, atuar como
verdadeiro “Tribunal político”41, sendo presidido pelo Presidente do STF.

Após a instauração do processo pelo Senado Federal, o Presidente ficará


suspenso de suas funções; ele só retornará ao exercício da presidência se
absolvido ou se, decorridos 180 dias, o julgamento não tiver sido concluído. Nesse
último caso, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular
prosseguimento do processo.

1) Nos crimes comuns, o Presidente ficará


suspenso de suas funções desde o recebimento da
denúncia ou queixa-crime pelo STF.
2) Nos crimes de responsabilidade, o Presidente
ficará suspenso de suas funções desde a instauração
do processo pelo Senado Federal.
O que as bancas fazem? Elas invertem dizendo
que o Presidente fica suspenso, nos crimes de
responsabilidade, desde o recebimento da
denúncia (ERRADO).

A condenação do Presidente pelo Senado Federal depende do voto nominal


(aberto) de 2/3 dos seus membros. Segundo o Prof. Alexandre de Moraes,
“a votação ostensiva e nominal no julgamento dos agentes políticos é a única
forma condizente com os princípios da soberania popular e da publicidade”.42

Cabe destacar que, segundo o STF, não é cabível recurso contra o mérito da
decisão do Senado Federal no processo de “impeachment”.43 Entretanto, o STF
considera que, no processo constitucional de “impeachment”, devem ser
assegurados os princípios do devido processo legal, dentre eles o
contraditório, a ampla defesa e a fundamentação das decisões. Assim, é cabível
controle jurisdicional quanto aos aspectos processuais (formais).

Uma vez condenado por crime de responsabilidade, não haverá qualquer pena
privativa de liberdade. As penalidades aplicadas serão duas: i) perda do cargo
e; ii) inabilitação, por 8 (oito) anos, para o exercício de função pública.

41
MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, COELHO, Inocência Mártires. Curso de Direito Constitucional, 5ª edição.
São Paulo: Saraiva, 2010, pp. 959.
42
MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional, 9ª edição. São Paulo Editora Atlas: 2010,
pp. 1279.
43
STF, MS 21.689-1/DF. Rel. Min. Carlos Velloso. 07.04.1995.

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Destaque-se que essa inabilitação vale para toda e qualquer função pública,
sejam aquelas obtidas mediante aprovação em concurso público, cargos
comissionados ou mandatos eletivos.

Na história brasileira, há o conhecido episódio do “impeachment” do ex-


presidente Fernando Collor de Mello. Tendo sido instaurado o processo no Senado
Federal, Collor renunciou ao cargo, objetivando esquivar-se da penalidade de
inabilitação por 8 (oito) anos para o exercício de função pública.

Em tese, a renúncia paralisaria o processo de “impeachment”. O Senado Federal,


todavia, entendeu de forma diversa e continuou o julgamento, aplicando a pena
de inabilitação para o exercício de função pública. Chamado a apreciar a questão,
o STF referendou o entendimento do Senado Federal e decidiu que “a
renúncia ao cargo, apresentada na sessão de julgamento, quando já iniciado este,
não paralisa o processo de impeachment”.

Agora em agosto de 2016, tivemos o processo de impeachment da ex Presidente


Dilma Rousseff, que culminou com a condenação por crime de responsabilidade
em razão das chamadas "pedaladas fiscais" no Plano Safra e dos decretos que
geraram gastos sem autorização do Congresso Nacional.

O problema, pessoal, é que o Senado acabou decidindo que a ex Presidente não


ficaria inabilitada para o exercício de função pública. Confesso que é até
complicado explicar o inexplicável (rs). “Mas, Diego a Constituição não diz de
forma contrária?”. A Constituição é clara em seu parágrafo único, art. 52,
CRFB/88 “a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos
do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o
exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais
cabíveis”.

Em verdade, tivemos uma decisão estritamente política, meus amigos. A ,


ra
o
g
para fins de prova, continuamos seguindo a literalidade da Constituição. (A não
ser que tenhamos uma questão narrando o que aconteceu com o processo da
Presidente Dilma...nesse caso a banca pode estar buscando essa informação do
ocorrido na prática)

Substituição Presidencial
Por fim, para fecharmos nosso estudo, temos um detalhe importante.
Estudamos agora a pouco que, quando o Presidente da República se torna réu
em processo-crime, ele fica afastado do exercício de suas funções. (Retornará

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apenas se for absolvido ou se o julgamento não for concluído dentro de 180 dias).
Até aqui tudo bem?
E como ficaria a linha sucessória professor? Se os pretendentes na linha
sucessória forem réus em processo penal, eles podem vir a ocupar o cargo do
Presidente?
Então. No julgamento da ADPF nº. 402, o Supremo Tribunal entendeu que
aqueles que forem réus em processo-criminal não poderão exercer o cargo de
Presidente da República em substituição.
Por outro lado, dada a condição de réu em processo criminal, tal fato não impede
que o sujeito continue exercendo a função que ocupa, a exemplo do
Presidência da Câmara, do Senado, do STF.....

13. (OAB — Exame IX) O Brasil assinou tratado internacional, discutido e


votado no âmbito da Organização Mundial do Comércio, que regulamentava
novas formas de controle sobre o comércio exterior. Ao invés de a função
ser exercida pelo Ministério da Fazenda, como preceitua o Art. 237 da
Constituição Federal, o texto do tratado veda qualquer possibilidade de
controle interno do comércio internacional pelos países signatários. A partir
do fato acima, responda aos itens a seguir.
A) De acordo com o ordenamento constitucional vigente, a que autoridade
ou órgão compete promover a internalização do referido tratado
internacional? (Valor: 0,50)

B) Uma vez internalizado o tratado em questão, com que hierarquia ele


passa a integrar o ordenamento jurídico pátrio? (Valor: 0,25)
C) Qual (is) princípio(s) de Interpretação Constitucional deve(m) nortear a
resolução do conflito entre o texto do tratado e o texto constitucional?
(Valor: 0,50)
*Pessoal! Havíamos resolvido essa questão no início das nossas revisões, quando
abordamos o tema dos Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos. No entanto,
faltava fechar o raciocínio com a aplicação do tema da competência do Presidente da
República para celebrar tratados. Vamos fechar esse ponto? 

A) Cabe ao Presidente da República tão somente assinar o documento


internacional (Art. 84, VIII), que deve ser submetido ao Congresso Nacional, a

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quem compete resolver definitivamente sobre Tratados, promovendo a sua
internalização, conforme dispõe o Art. 49, inciso I, da Constituição Federal.
B) Tratados internacionais que não versam sobre direitos humanos, como o
referido na questão, depois de internalizados, ingressam no ordenamento jurídico
com status de Lei Ordinária.
C) Pelo Princípio da Supremacia da Constituição, conflito entre norma
constitucional e norma com hierarquia de Lei Ordinária deve ser resolvido
atestando-se a primazia do dispositivo constitucional.


Régua de correção:

Item Pontuação

A. Cabe ao Presidente da República assinar o documento 0,00/0,50


internacional (Art. 84, VIII), que deve ser submetido ao Congresso
Nacional a quem compete resolver definitivamente sobre
Tratados, promovendo a sua internalização, conforme dispõe
o Art. 49, inciso I, da Constituição Federal. (0,50)

B. Tratados internacionais que não versam sobre direitos 0,00/0,25


humanos, depois de internalizados, ingressam no ordenamento
jurídico com status de Lei Ordinária. (0,25)

C. Pelo Princípio da Supremacia da Constituição (0,50) 0,00/0,50

14. (OAB — Exame XII) Insatisfeito com a demora para a efetivação das
desapropriações necessárias à construção de uma rodovia federal, o
Presidente da República editou o Decreto nº. 9.999, por meio do qual,
expressamente, determinou a revogação do Decreto-Lei n. 3.365/1941, que
dispunha sobre a desapropriação por utilidade pública, e, ao mesmo tempo,
institui novo regramento a respeito do tema.
Sobre a hipótese apresentada, responda, justificadamente, aos itens a
seguir.
A) Em nosso ordenamento jurídico constitucional, existe previsão para a
edição de decreto autônomo? (Valor: 0,50)
B) É possível a revogação do Decreto-Lei n. 3.365/1941 pelo decreto
presidencial? (Valor: 0,75)

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A) A resposta é positiva. “A Emenda Constitucional n. 32/2001, que modificou a


redação do Art. 84, VI da Constituição da República, permitiu, em nosso
ordenamento pós-Constituição de 1988, o chamado `decreto autônomo', isto
é, aquele decreto de perfil não regulamentar, cujo fundamento de validade
repousa diretamente na Constituição”.
Contrapõe-se aos chamados decretos regulamentares, ou de execução, previstos
no Art. 84, IV, da Constituição, que não criam, modificam ou extinguem direitos,
mas apenas desenvolvem a lei já existente, de onde buscam fundamento de
validade. Tanto assim que o Supremo Tribunal Federal admite o controle, por via
de ação direta de inconstitucionalidade, do decreto autônomo, revestido de
conteúdo normativo, mas não o admite quando se tratar de decreto de
regulamentação da lei.
*OU
A resposta é negativa. O princípio da legalidade, de acordo com o Art. 5º, II da
CRFB/88, em harmonia com o Art. 84, VI da CRFB, não permite a existência de
decretos autônomos no ordenamento jurídico brasileiro, ou seja, regulamentos
com a capacidade de inovar primariamente a ordem jurídica.
(Pessoal, essa foi uma questão atípica que, à época, a banca acabou
considerando duas possibilidades na alternativa “a”, mas atualmente
podemos seguir com a posição positiva sobre a permissibilidade da
figura do decreto autônomo em nosso ordenamento jurídico.)

B) A resposta é negativa. Em primeiro lugar, a desapropriação é matéria que exige


lei em sentido formal para a sua disciplina, conforme previsão constante do Art.
5º, XXIV, da Constituição. Desse modo, o Decreto Lei n. 3.365/1941, que se
reveste de forma não mais existente em nosso ordenamento, foi recepcionado
com status de lei ordinária, e somente por essa forma legislativa pode ser
revogado ou alterado. A mesma conclusão pode ser extraída do princípio da
legalidade, que condiciona restrição a direito à existência de lei em sentido formal.
Além disso, o decreto autônomo só encontra espaço, em nosso ordenamento, para
as hipóteses do Art. 84, VI, da Constituição, cabendo-lhe, no mais, apenas a
regulamentação das leis. Por essa razão, decreto que cria disciplina nova ou que
revoga ato normativo hierarquicamente superior exorbita da disciplina
constitucional. Nesse mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal já se
manifestou, reiteradas vezes, afirmando que “falece competência ao chefe do
Poder Executivo para expedir decreto destinado a paralisar a eficácia de ato
normativo hierarquicamente superior” e a possibilidade de “controle de
constitucionalidade de decretos que determinam a suspensão de lei complementar
e a introdução de inovações legislativas, em extrapolação da função
regulamentar”.

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Régua de correção:

Item Pontuação

A. Sim, o decreto autônomo, isto é, aquele que busca seu 0,00/0,40/0


fundamento de validade diretamente do texto constitucional, não ,50
se destinando meramente à regulamentação da lei (0,40),
encontra previsão expressa no Art. 84, VI, da CRFB (0,10).
OU
A resposta é negativa. O princípio da legalidade, não permite
a existência de decretos autônomos no ordenamento jurídico
brasileiro, ou seja, regulamentos
com a capacidade de inovar primariamente a ordem jurídica
(0,40), de acordo com o Art. 5º, II da CRFB/88, em harmonia
com o Art. 84, VI da CRFB (0,10).
Obs.: A mera citação do dispositivo legal não pontua.

B. Não é possível a revogação. A desapropriação exige lei em 0,00/0,25/0


sentido formal para a sua disciplina, conforme Art. 5º, XXIV, da ,50/0,75
Constituição. Desse modo, o Decreto Lei n. 3.365/1941, que se
reveste de forma não mais existente em nosso ordenamento, foi
recepcionado com status de lei ordinária, e somente por essa forma
legislativa pode ser revogado ou alterado, corolário do princípio da
legalidade e do princípio do paralelismo de formas (0,50). Além
disso, o decreto autônomo só encontra espaço, em nosso
ordenamento, para as hipóteses do Art.84, VI, da Constituição,
cabendo-lhe, no mais, apenas a regulamentação das leis. Por essa
razão, decreto que cria disciplina nova ou que revoga ato normativo
hierarquicamente superior exorbita da disciplina constitucional
(0,25).

15. (OAB — XXI Exame de Ordem 2016) O Governador do Estado Z, no


decorrer de seu mandato, é processado por agredir fisicamente um
funcionário do hotel em que se hospedara no decorrer de suas férias,
pois esse funcionário não teria tido o devido cuidado no transporte de
suas malas. O fato ganhou as manchetes dos meios de comunicação, o
que deu origem a uma forte pressão popular para que o agente político
respondesse penalmente pelo desvio de conduta cometido. O
Governador, preocupado, alega em sua defesa que se trata de conduta
não passível de responsabilização, pois, quando a Constituição
estabelece que o Presidente da República não responde por crimes
estranhos ao exercício de sua função, estende tal direito, com base no
princípio da simetria, a todos os chefes de Poder Executivo. Sobre o fato
descrito, responda aos itens a seguir.
A) Tem razão o Governador quando afirma que, se a conduta descrita

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fosse praticada pelo Presidente da República, este não responderia


criminalmente? Justifique. (Valor: 0,60)
B) No caso em tela, o Ministério Público poderia ajuizar a ação penal, de
imediato, em face do Governador? Justifique. (Valor: 0,65)

A) Não possui. O que o Art. 86, § 4o, da CRFB/88 confere ao Presidente da


República é uma prerrogativa de índole processual, ou mesmo uma imunidade
temporária à persecução penal. O preceito não dispõe que o Presidente é
irresponsável por crimes não funcionais praticados no curso do mandato, mas
apenas que, por tais crimes, não poderá ser responsabilizado enquanto não
cessar sua investidura na Presidência da República.
B) Sim. De acordo com o sistema jurídico-constitucional brasileiro, as
prerrogativas contempladas nesse preceito da Lei Fundamental, por serem
unicamente compatíveis com a condição institucional de Chefe de Estado, e não
com a de Chefe de Governo, são aplicáveis apenas ao Presidente da República,
não sendo extensíveis aos Governadores. Além disso, poder-se-ia alegar que a
aplicação da simetria no caso em tela é medida violadora ao princípio
republicano. Nessa linha, o Governador do Estado Z, não gozando dessa
prerrogativa, não possui nem mesmo direito à imunidade temporária à
persecução penal garantida ao Presidente, podendo a ação penal ser ajuizada
de imediato.

Meus amigos, concluímos a aula de hoje. Espero que tenham gostado. ;)

Forte abraço a todos e até breve.

Prof. Diego Cerqueira

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6. Marcação do Código

Artigos Jurisprudência relacionada

Art. 18 e parágrafos 2º ao 4º

Art. 21, caput, I, II, III, V, VI

Art. 21, incisos VII, VIII, X, XI, XII

Art. 21, incisos XIII e XIV, c/c art. 32, §1º Súmula vinculante 39, STF

Art. 22, caput e inciso I Súmula vinculante 36, STF

Art. 22, incisos II, V, XI, Súmula vinculante 2, STF


Art. 22, inciso XX
Art. 22, incisos XXIII e XXIV, XXVII e XXIX

Art. 23, caput

Art. 24, incisos I, IX, VII, XII, XIII, e XV

Art. 24, §1º ao 4º

Art. 25 caput e parágrafos


Art. 27, caput

Art. 29, caput e inciso VIII


Art. 30, caput e incisos I ao V

Art. 34, caput e incisos

Art. 35, caput e incisos I ao IV

Art. 37, caput, §1º e 6º

Art. 37, §4º c/c art. 15, V

Art, 37 (eficiência – c/c §2º, 3º, 7º e 8º + art. 41 §1º, III + §4º + art. 70, CRFB/88

Art. 2º da Lei nº 9.784/99 + art. 5º, XXXV, art. 37, VII Súmula 473, STF

Art. 37, inciso I Súmula vinculante 14 e 44, STF

Art. 37, II e III e IV Súmula vinculante 43, STF

Art. 37, V Súmula vinculante 13, STF

Art. 37, VI e VII, c/c art. 142 Súmula 679, STF

Art. 37, XVI + art. 38, III + art. 95, parágrafo I e único + art. 125, § 5º, II, “d”

Art. 37, XXI

Art. 79 e 80

Art. 84 caput e incisos I ao VI, VIII, XIX e X + XV, XVII, XVIII, XXIII, XXV e XXVI
+ parágrafo único

Art. 84, XXIV c/c art. 51, II

Art. 85, caput e incisos. Súmula Vinculante 46, STF

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