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Daisy Libório e

Ana Paula Henrique Salvan


Antropologia e cultura
Sumário
CAPÍTULO 4 - As questões étnico-raciais no mercado de trabalho........................................05

Introdução.....................................................................................................................05

4.1 Relações étnico-raciais no mercado de trabalho...........................................................05

4.1.1 Relações étnico-raciais no trabalho....................................................................05

4.1.2 Conceitos de raça e etnia .................................................................................05

4.1.3 Preconceito, discriminação, estereótipo e desigualdades........................................... 06

4.1.4 Desigualdades e globalização................................................................................ 08

4.2 Raça e etnia................................................................................................................... 08

4.2.1 Teorias raciais ...................................................................................................... 09

4.2.2 Teorias de etnia e identidade.................................................................................. 10

4.3 Gênero, religião e pessoas com necessidades especiais nas relações de trabalho................. 11

4.3.1 Questões de gênero no trabalho............................................................................. 11

4.3.2 Religião ............................................................................................................... 13

4.3.3 Necessidades especiais.......................................................................................... 14

4.4 Inclusão e cidadania....................................................................................................... 15

4.4.1 Conceitos de cidadania ....................................................................................... 16

4.4.2 Conceitos de inclusão.......................................................................................... 16

Síntese...........................................................................................................................18

Referências Bibliográficas.................................................................................................19

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Capítulo 4
As questões étnico-raciais no
mercado de trabalho

Introdução
O mundo moderno é palco de problemas étnicos, raciais, de gênero e de aceitação do “diferen-
te” em amplo sentido. O reconhecimento das diferenças, sejam elas políticas, sociais, culturais
ou de gênero, é um dos focos da Antropologia, que vem contribuindo para uma melhor compre-
ensão das relações humanas.

No mercado de trabalho e nas relações de consumo, essas diferenças tornam-se ainda mais gri-
tantes. A ciência antropológica busca estudara heterogeneidade, desenvolvendo um novo olhar
sobre a experiência humana no tempo e no espaço. O mundo globalizado possui uma caracterís-
tica muito complexa: os choques culturais nascem, muitas vezes, de incertezas e estranhamentos,
da ênfase colocada no indivíduo, em que o “outro” torna-se o nosso inimigo reconhecido.

A partir da concepção de individualismo moderno, a impessoalidade transformou-se em


indiferença,gerando infinitas contradições. A abordagem antropológica apresenta-nos a noção
de que o “outro”, antes de ser uma ameaça, é alguém com quem podemos nos identificar, sem
supervalorizar nossa individualidade e enxergar apenas o que é diferente.As relações com o que
é diferente podem acontecer pelo reconhecimento e pelo respeito, pela prática da alteridadee
valorização do ser humano como um todo.

Neste capítulo, compreenderemos as relações étnico-raciais no mercado de trabalho, enfatizan-


do as questões do negro, do índio, da mulher, do portador de necessidades especiais, da religião
e de gênero na sociedade brasileira, abordando também as questões de cidadania e inclusão.
Em um primeiro momento, vamos abordar os conceitos de raça, diversidade e etnia, enfatizando-
-os no conceito do mercado de trabalho, abordando também conceitos complementares à dis-
cussãocomo desigualdade e relativismo. Em seguida, veremos os conceitos de raça e etnia na
perspectiva da Antropologia, evidenciando a evolução desses conceitos, as teorias raciais do
século XIX (biologização das diferenças culturais), bem como as abordagens contemporâneas
sobre os temas.

Finalmente, vamos compreender melhor a inclusão da cidadania em diferentes perspectivas,


evidenciando como esse conceito é percebido e praticado no contexto do trabalho e quais os
desafios que ainda existem a partir de um olhar crítico.

Tenha um bom estudo!

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Antropologia e cultura

4.1 Relações étnico-raciais no mercado de


trabalho
Neste tópico, veremos as relações étnico-raciais dentro do contexto do mercado de trabalho atu-
al, conceituando “raça” e “etnia” e investigando como eles impactam no cotidiano de milhares
de pessoas. Veremos também o conceito de globalização em relação a questões como desigual-
dade e preconceito. Acompanhe!

4.1.1 Relações étnico-raciais no trabalho


A Antropologia, assim como outras ciências cujo foco é o homem e a sua relação com o meio
e com o “outro”, frequentemente lança novas discussões sobre a existência de desigualdades
sociais, com destaque para as desigualdades étnico-raciais no mercado de trabalho no Brasil. O
país, que se caracteriza por uma diversidade cultural muito intensa e pela miscigenação, é palco
de divergências quanto à disposição de oportunidades igualitárias de trabalho e de relações de
choque entre indivíduos de diferentes etnias e raças.

As divergências se intensificam conforme o impacto que o fenômeno tem na atualidade. As políti-


cas públicas, que recentemente têm levantado discussões e privilegiado ações que supostamente
atenuam as desigualdades raciais (seja pela oferta de cotas em cursos de graduação ou em
concursos públicos, por exemplo),são alvos de críticas por uma parcela da sociedade.

Para compreender o pensamento social e econômico e medir as desigualdades econômicas e ét-


nico-raciais, é preciso entender o processo histórico-cultural desse ambiente e buscar referências
dessas dificuldades presentes hoje, principalmente no que tange ao mercado de trabalho. Ainda
há dificuldades em compreender os choques raciais nos dias atuais, pelos elementos complexos
oriundos do processo de globalização – a questão racial, por mais que seja uma constante em
Antropologia, ainda é vista sobre os moldes neoclássicos.

As desigualdades étnico-raciais foram construídas, em especial na América Latina e no Brasil, pe-


los processos culturais e políticos de colonização europeia, desde o século XVI. No contato com
os povos oriundos dos continentes invadidos, os europeus se depararam com culturas e traços
humanos diferentes dos seus – seja dos asiáticos, africanos, aborígenes, indígenas, entre outros.

Percebia-se o “outro” pela perspectiva da inferioridade e do etnocentrismo. Mesmo que o povo


dominado sofresse um processo de aculturação, isto é, fosse adquirindo um pouco do modo de
ser de seus colonizadores, o fato de haver uma clara distinção que perpassava não apenas a
cultura, mas a questão da raça e da etnia, teve inúmeros desdobramentos que chegam até nós
e influenciam o modo como enxergamos o mundo.

É certo dizer que esse entendimento vigora entre certos grupos sociais que buscam influenciar
processos educativos e as relações de trabalho e de consumo, entre outros aspectos sociais.
Veem-se ideias, comportamentos e posturas forjados do século XVI, que a globalização e univer-
salização dos modelos culturais só deixou ainda mais em evidência.

4.1.2 Conceitos de raça e etnia


O termo raça é bem complexo e refere-se aos traços biológicos de espécies distintas. A Antropo-
logia atual compreende a unidade de raça, sem, contudo, encerrar as discussões interétnicasnes-
se conceito. Gomes (2005, p. 49) afirma que raça é “um misto de construções sociais, políticas
e culturais nas relações sociais e de poder ao longo do processo histórico. Não significa, de
forma alguma, um dado da natureza. É no contexto da cultura que nós aprendemos a enxergar
as raças”.

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Já o conceito de etnia refere-se ao pertencimento ancestral e étnico/racial dos grupos em nossa
sociedade. Trata-se de um conjunto de indivíduos que têm um ancestral comum (real ou imaginá-
rio); têm uma língua em comum, uma mesma religião, crenças, valores ou visão de mundo; uma
mesma cultura, o mesmo espaço geográfico e outros aspectos que os identifiquem em relação a
outros grupos e identifique o indivíduo a um grupo em específico.

4.1.3 Preconceito, discriminação, estereótipo e desigualdades


Das relações sociais entre raças e etnias distintas, há muitos fenômenos resultantes e, entre eles,
o racismo, a discriminação e o estereótipo. Esses fenômenos estão presentes em ambientes em
que diferentes tipos sociais estão em confluência, como, por exemplo, o mercado de trabalho.

O racismo é um comportamento ou ação oriundos da aversão, por vezes, do ódio, em relação


às pessoas que possuem umaorigem racial diferente, seja a cor de pele, o tipo de cabelo, os
traços dos olhos, etc.

Envolvido pelos conceitos de raça, etnia e racismo, encontram-se o preconceito racial, a discri-
minação racial e a segregação, fenômenos que expressam o racismo e correspondem a dife-
rentes graus de violência. O preconceito implica um sentimento ou uma ideia estereotipada de
características individuais ou grupais, que correspondem a valores negativos (LIMA, 2008).

Figura 1 – A discriminação é a não aceitação daquilo que se considera “diferente”.


Fonte: Shutterstock, 2015.

Já a discriminação não se refere obviamente apenas à raça. Refere-se à rejeição ao diferente e


perpassa o gênero, a etnia, as diferenças religiosas, as classes sociais e diversas outras catego-
rias sociais. Pode ser tida como a efetivação do preconceito e intolerância pelo que é diferente.

Os estereótipos, ou seja, os clichês, são aquelas imagens cristalizadas ou idealizadas de indi-


víduos ou grupo de indivíduos, em que há uma “rotulação” pejorativa ou limitada do sujeito,
muitas vezes se reduzindo no preconceito.

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Antropologia e cultura

CASO
No ambiente de trabalho, a discriminação pode ocorrer por parte dos outros funcionários, pelos
administradores e até mesmo pelo contato com o público da empresa ou instituição. Foi o caso
ocorrido no Distrito Federal em um salão de beleza, que ganhou visibilidade em todo o Brasil.
Em 2014, uma australiana que vive no Brasil foi denunciada duplamente por racismo pelo Mi-
nistério Público do Distrito Federal. Louise Stephanie Garcia Gaunt se recusou a ser atendida por
uma manicure negra em um salão de Brasília. A mulher também é investigada por discriminação
a duas funcionárias terceirizadas da Companhia Energética de Brasília (CEB), empresa em que
trabalhava. Além disso, Louise justificou as suas atitudes durante interrogatório afirmando sim-
plesmente que teria sido criada em ambiente estrangeiro e não foi acostumada a ter relação com
pessoas negras. A australiana responde a processos (BARBOSA apud EXAME, 2015).

4.1.4 Desigualdades e globalização


O mundo globalizado faz com que o mercado de trabalho seja mais afunilado e inacessível para
as pessoas consideradas diferentes pela sociedade. Prova disso são os constantes conflitos entre
indivíduos de distintas etnias e raças, bem como aqueles que se distinguem em gênero, religião
e aspectos físicos. As desigualdades sociais e econômicas são uma terrível consequência para os
indivíduos que se diferem étnica e racialmente do perfil dominante.

Se a globalização, por um lado, trouxe um contato maior entre diferentes grupos sociais, por ou-
tro, intensificou os conflitos e reconfigurou a luta por espaços e direitos. Isso se deve também ao
fato de a globalização suprimir a comunicação entre esses diferentes elementos – a experiência
de conhecer o outro não é valorizada e isso provoca impactos econômicos, políticos, no modo
de perceber o tempo, na divisão dos espaços e na estruturação social.

Os antropólogos acreditam que, no interior da sociedade contemporânea, há uma diversidade de


fenômenos indesejados provenientes da globalização com múltiplos contornos e complexos no que
se refere aos conflitos étnico-raciais. O conceito de identidade, como você já conhece, é relevante
nessas relações e em uma sociedade composta por vertentes culturais profundamente heterogêneas.

VOCÊ O CONHECE?
Claude Lévi-Strauss (1908-2009) foi um antropólogo francês fundador da vertente es-
truturalista. Os seus primeiros trabalhos foram referentes aos povos indígenas brasilei-
ros ainda na década de 1930. O autor nunca aceitou a visão histórica da civilização
ocidental como privilegiada e exclusiva, enfatizando que a mentalidade “selvagem”
seria similar à da considerada “civilizada”, ou seja, as características humanas são as
mesmas em diferentes contextos culturais. Entre as suas obras mais famosas está Tristes
Trópicos (a que lhe deu visibilidade), que fala de suas percepções do período em que
esteve no Brasil, e As estruturas elementares do parentesco.

4.2 Raça e etnia


As diferenças raciais e étnicas geram desencontros no mercado de trabalho e são alvos de pes-
quisas por parte das ciências sociais. Vejamos agora os conceitos de raça e etnia na perspectiva
da Antropologia, evidenciando a evolução desses conceitos, as teorias raciais do século XIX (bio-
logização das diferenças culturais), bem como as abordagens contemporâneas sobre os temas.

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4.2.1 Teorias raciais
Pode-se dizer que as raças são, cientificamente, uma construção social e devem serestudadas
pela Antropologia e pelas demais ciências sociais com profundidade. Por muito tempo, o concei-
to esteve ligado a fundamentações teóricas que o explicavam pelo viés biológico, ou das ciências
biológicas, não considerando os aspectos sociais. Essa discordância entre as ciências sempre
causou estranhamento.

O conceito de raça para a Antropologia, por exemplo, considera os traços fisionômicos, os va-
lores, a produção material relacionada a ela, as origens do grupo que a compõe, o sangue, os
traços psicológicos, etc.Já para a Biologia, é um conjunto de características físicas e biológicas,
oriundas da herança genética, tal como cor da pele, textura dos cabelos, estatura, etc. Essa
perspectiva da Biologia ainda é mencionada nos livros didáticos, mas não se aplica mais ao
indivíduo humano.

Pode-se dizer que os conceitos de raça, cultura e identidade são conceitos paradigmáticos na
Antropologia e nas demais ciências sociais – ou seja, as suas diferentes perspectivas têm motiva-
do mudanças metodológicas, gerando novas tendências. A história da disciplina antropológica
evidencia isso.

A definição de todos os conceitos, e especialmente desses temas paradigmáticos que visam a


delimitar grupos humanos, tem sido objeto não apenas de debates e polêmicas acadêmicas, mas
também de brigas políticas e ideológicas. Não cabe aqui fazer uma exposição de toda a história
de cada um desses termos,mas podemos observá-los, por exemplo, dentro do contexto brasileiro,
para assim compreendê-los melhor.

Para Hofbauer (2003), o conceito de raça aparece na literatura científica apenas a partir do
século XVIII. Isso porque, na época, as diferenças humanas eram entendidas como uma con-
sequência do impacto do clima e da geografia, por exemplo. Dessa forma, essas concepções
acreditavam que muitos aspectos físicos eram provenientes das migrações, o que interferia na cor
da pele, por exemplo. Um dos teóricos que sustentavam essas observações foi o cientista natural
George Leclerc de Buffon (1707-1788). Por muito tempo, essas explicações foram aceitas.

Já a partir da segunda metade do século XIX, o conceito de raça torna-se uma categoria bioló-
gica. Ainda assim, buscavam-se as causas das diferenças humanasencerradas no corpo huma-
no e seus aspectos físico-biológicos como determinantes de todas as distinções observáveis no
contexto social. Essas teorias foram desenvolvidas na Europa e nos EUA e isso explica o fato de
essa concepção partir de elementos como a burocratização das relações sociais, consagração
dos estados-nações, racionalização da economia, pensamento tradicional, etc. Vale destacar
também que essas teorias serviram para “justificar” tendências ideológicas que viriam a surgir
nesse período e evoluir na primeira parte do século XX, como o segregacionismo americano e
sul-africano e as tendências nazifascistas na Europa (HOFBAUER, 2003).

A crítica teórica de Boas dirigia-se não apenas aos teóricos raciais, mas também aos
evolucionistas clássicos, que entendiam que todas as sociedades estivessem condenadas a
percorrer as mesmas etapas de desenvolvimento e, – a partir desta crença cega no progresso
–concebiam a cultura como um processo unilinear. (HOFBAUER, 2003, p. 58.)

Na década de 1930, o antropólogo Franz Boas propôs uma nova abordagem paraa questão da
raça, observandoa luta política contra o racismo nos EUA e o nazismo na Europa. Ele separou o
conceito de raça de seu sentido biológico, ou seja, afirmou que raça não influencia o desenvol-
vimento das culturas.Dessa forma, abriu uma nova abordagem para a Antropologia moderna.

Após a Segunda Guerra, novas políticas globais surgiram para combater as problemáticas raciais
em todo o mundo, com a contribuição das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(Unesco).

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A própria biologia e as teorias genéticas também passaram a restringir o conceito de raça, como
é o caso do geneticista Luigi Cavalli-Sforza que, em 1993, afirmou que a raça não possui qual-
quer realidade observável que não seja a genético-biológica (CAVALLI-SFORZA, 1997). Assim
como esse autor, o geneticista francês Albert Jacquard (1925-2013) também acreditava que não
é possível definir populações humanas explicando-as exclusivamente pela raça.

4.2.2 Teorias de etnia e identidade


Na década de 1960, alguns antropólogos, contudo, observaram que o conceito de cultura não
conseguia explicar os desdobramentos das características sociais humanas, ou seja, os limites
culturais não coincidiam com os limites grupais. Em um mesmo grupo, poderia haver diversidade
cultural, bem como grupos diferentes poderiam ter valores similares – como a mesma língua, por
exemplo. Surge, então, a questão das identidades e o conceito de etnia.

O antropólogo Fredrik Barth,em sua obra Ethnic groups and boundaries (Grupos étnicos e suas
fronteiras), de 1969, afirmouque o que faz os seres humanos definirem distintos grupos étnicos
não são as suas diferenças objetivas, mas que eles se constroem por emblemas de diferença –
pode ser pela linguagem, pelas vestimentas, uma forma específica de fazer um penteado, etc., e
que pode ser ainda justificado pela cor de pele. Alguns traços são evidenciados e outros ignora-
dos, formando uma identidade, que é construída gradativamente.

Hoje, a identidade e a etnia são conceitos amplamente estudados dentro da Antropologia. O


antropólogo brasileiro Roberto Cardoso de Oliveira, por exemplo, afirmou, na década de 1970,
em sua obra Identidade, etnia e estrutura social, que a identidade contrastiva refere-se à “afir-
mação dos nós diante dos outros”. O conceito de identidade e identidade étnica para Hofbauer
(2003) contribuiu muitíssimo para que as Ciências Sociais pudessem compreender a dimensão e
as escolhas que o indivíduo ou o grupo dispõem, inclusive para a sua legitimação social.

Percebe-se que a concepção de raça é culturalmente construída e, muitas vezes, justifica que
grupos que a concebem ainda sob o viés clássico, em que um grupo “diferente” é inferior a outro,
e que uma suposta “cultura” deve ser preservada em relação a outra. Esse tipo de “confusão”,
para se ter uma ideia, pode ser observado nos grupos neonazistas atuais, por exemplo, e em
muitos outros casos.

Veja que, no discurso, há termos como cultura, valores, identidade nacional e muitos outros em
uma ótica que se faz limitada diante das comprovações científicas. E discursos similares muitas
vezes estão presentes no mercado de trabalho, por exemplo, na escolha de trabalhadores “dese-
jáveis” ou “indesejáveis”, por não pertencer aos parâmetros de um grupo.

NÃO DEIXE DE VER...


Assista à apresentação O mito da raça(2013) do cientista social Demétrio Magnoli,
exibida pelo programa Café Filosófico da TV Cultura. No caso, o cientista questiona o
que se entende por raça, termo criado a partir de uma memória fabricada. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=p6NYwiQlqX0>.

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4.3 Gênero, religião e pessoas com necessidades
especiais nas relações de trabalho
As questões de gênero, religião e portadores de necessidades especiais são categorias que re-
velam aspectos interessantes sobre as diferenças sociais no mercado do trabalho. Neste tópico,
abordaremos conceitos de gênero, religião e necessidades especiais dentro do contexto do mer-
cado de trabalho, explicando a problemática nas relações do “eu” com o “outro”.

4.3.1 Questões de gênero no trabalho


Como você pôde compreender, o mercado de trabalho brasileiro está marcado por significativas
e persistentes desigualdades de gênero, etnia, raça, questões religiosas, entre outros aspectos.É
algo que se considera (ou deveria ser considerado) nos processos de desenvolvimento de políti-
cas públicas em geral e, em particular, das políticas de emprego, inclusão social e redução da
pobreza.

O gênero é um conceito diferente de sexo para muitos teóricos das ciências humanas e é como a
questão é vista atualmente. Não se trata da mesma coisa, apesar de os termos se relacionarem.
O gênero é um conjunto de ideias sobre o masculino e o feminino, ao passo que o sexo refere-se
às características biológicas de homens e mulheres. Entenda, portanto, que o gênerose refere às
construções sociais e culturais que se desenvolvem a partir desses elementos biológicos.

NÃO DEIXE DE LER...


Para compreender melhor a questão de gênero e divisão sexual do trabalho, leia a obra
de Hirata e Segnini,Organização, Trabalho e Gênero (Senac SP, 2008), que traz onze
discussões sobre o tema.

A questão de gênero, assim como a raça, as etnias e outras categorias sociais, está relacionada
aos estereótipos e à discriminação daquilo que é diferente do “natural” em determinados grupos.
Por exemplo, na sociedade ocidental, percebe-se uma supremacia masculina nas relações de tra-
balho ao longo do tempo, resultando em funções específicas para homens e mulheres, distinção
de oportunidades, salários e condições de trabalho.

Essas noções se transformam com o tempo. Claudia Natividade Felipe (2006) pontua, como
principal elemento para o estudo dos gêneros, que as desigualdades e os sistemas que geram
desigualdades podem ser transformados. A modernidade e a globalização acentuaram as crises
de identidade e os problemas sociais que não devem ser vistos como alheios da vida social. Para
a autora, gênero refere-se a “[...] um construto analítico que diz respeito à organização social
dos sexos”. O gênero também está relacionado às práticas políticas e situações como o mercado
de trabalho sexualmente delimitado e a educação diferenciada.

A autora afirma que o feminismo, por exemplo, um movimento oriundo da modernidade, ques-
tiona as “oposições binárias que são responsáveis pela fixação das identidades” (FELIPE, 2006,
p. 57). O movimento contesta a posição social de mulheres e avança nas discussões sobre a
formação de identidades sexuais e de gênero. Esse movimento foi incontestavelmente responsá-
vel por muitas modificações culturais e trouxe luz às discussões sobre as construções sociais da
identidade.

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Antropologia e cultura

NÃO DEIXE DE VER...


Assista à entrevista da antropóloga e pesquisadora do IEG (Instituto de Estudos de Gê-
nero) da UFSC,Miriam Pillar Grossi, sobre as conquistas feministas no Brasil da década
1970 até a atualidade. A entrevista foi concedida ao programa Educação e Cidada-
nia News (Band News, 2014). Disponível em: <http://educacaoecidadania.com.br/
blog/?p=10073>.

No que tange à discriminação, as questões de gênero estão fortemente relacionadas aos fenô-
menos de exclusão social, que originam e reproduzem a pobreza. Há muitas barreiras para que
pessoas e grupos discriminados possam transcender a pobreza e ter acesso a mais oportunidades
de trabalho.

Se antes as relações de gênero e desigualdade social eram vistas sob a ótica das minorias, vê-se
que se referem à maioria da população, se considerarmos os dados oficiais das pesquisas, como
a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2014. Nesta, as mulheres
representam 43% da população economicamente ativa (PEA) no Brasil. No quesito distribuição
de renda, a pesquisa revela que 62% da população masculina têm ganhos de no máximo cerca
de dois salários mínimos e, entre as mulheres, a taxa bate em 71%. Já os homens sem rendimento
de trabalho representam 17% da população economicamente ativa (PEA) e, entre as mulheres, as
que não possuem renda resultam em 28%.

Figura 2 – A mulher enfrenta desigualdades no mercado de trabalho.


Fonte: Shutterstock, 2015.

Veja como as desigualdades de gênero no mercado de trabalho podem se expressar em números


e não se encerram apenas em termos de distribuição de salários, que está longe de ser igualitá-
ria: seus rendimentos são sistematicamente inferiores aos dos homens, mesmo com os mesmos
níveis de escolaridade. Por hora trabalhada, as mulheres recebem, em média, 79% da remune-
ração média dos homens (ou seja, 21% a menos) (PEA, 2014).

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Para falar de desigualdades de gênero no Brasil quanto ao mercado de trabalho,podemos situar
as questões de gênero na raiz da reprodução das situações de pobreza e exclusão social. Essa
discussão é muito pertinente para descontruir teoricamente a característica estrutural da socieda-
de brasileira, já que isso se encontra nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

NÓS QUEREMOS SABER!


Você sabe o que são os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio? Refere-se à De-
claração do Milênio, instituída em setembro de 2000 pelas Nações Unidas, com a
declaração de compromisso de 189 nações (incluindo o Brasil) para combater a extre-
ma pobreza e outros problemas sociais. Essa promessa acabou se concretizando nos
8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) que deveriam ser alcançados até
2015.As questões de gênero e as suas relações com a desigualdade de oportunidades
no mercado de trabalho também estão em pauta.

Essas pesquisas têm contribuído de forma muito importante para evidenciar as desigualdades de
gênero que caracterizam o mercado de trabalho e a sociedade brasileira. Contudo, é importan-
te dizer que há fenômenos e situações que não se explicam meramente por dados estatísticos.
Compreender esses indicadores, assim como os aspectos mais complexos das relações de gêne-
ro no mercado de trabalho, é uma forma de propor soluções aos obstáculos da inserção mais
igualitária de mulheres e superação dessas desigualdades. Esses indicadores revelam também o
funcionamento do mercado de trabalho em sua integralidade e a dinâmica de produção e repro-
dução das desigualdades sociais no Brasil.

4.3.2 Religião
A religião é um aspecto social e cultural amplamente estudado pela Antropologia, inclusive em
suas manifestações no mercado de trabalho, já que são recorrentes nas práticas produtivas e
ambientes organizacionais. É outro aspecto relacionado a conflitos, aquisição e privação de di-
reitos, ideologias e exclusão. A discriminação e alienação dos direitos básicos do indivíduo por
conta de suas crenças e práticas religiosas criam conflitos diariamente.

Figura 3 – A discriminação no ambiente de trabalho pode ter origem na diferença religiosa.


Fonte: Shutterstock, 2005.

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Antropologia e cultura

Na cultura e na religião, existe uma dualidade muito importante: o sagrado e o profano. Obvia-
mente, essa dualidade está evidente no que cada indivíduo considera sagrado e profano – in-
clusive entre pessoas que trabalham em um mesmo ambiente. O sagrado é objeto de interdição
e o profano é onde essas interdições se aplicam. De um grupo para outro, as normas religiosas
de comportamento se tornam mais evidentes nos momentos de crise ou de importância relativa,
como no casamento, na doença, na fome, no nascimento, na morte, etc.

NÃO DEIXE DE LER...


O livro Etnologia-Antropologia (Vozes, 1999), de Tolra e Warnier, é uma importante
obra bastante completa para quem deseja iniciar e se aprofundar em diversos conceitos
abordados pela Antropologia Social.

Para exaltar esses momentos, há muitos ritos, como os de iniciação, de transição e de intensi-
ficação. Na prática cotidiana há ainda elementos como vestimentas específicas, modo de usar
o cabelo, dias específicos para se trabalhar e se abster do trabalho, linguagens e vocabulários
adequados e tudo o que represente uma série de crenças e valores do indivíduo para com a sua
prática religiosa ou o grupo religioso ao qual pertence.

A religião é um sistema de representação com muitos e diferentes processos significantes e, para


os seus adeptos, os objetos que representam o sagrado. Quando não há a relativização das
diferenças no ambiente de trabalho, os elementos religiosos justificam a discriminação e estig-
matização por parte de uma parcela dominante.

4.3.3 Necessidades especiais


A cultura impacta não só o modo como as pessoas convivem umas com as outras em uma socie-
dade, mas também no modo de valorização de si mesmas. Toda sociedade possui um tipo ideal
de indivíduo que dela faz parte e isso pode implicar a exclusão, em diferentes níveis, daqueles
que estão fora desse padrão. A cultura influencia e determina o comportamento das pessoas
de sua sociedade. Dessa forma,conforme a cultura,cada sociedadevê e valoriza as pessoas de
determinado modo, propondo seus princípios de respeito e de ideologia e a sua relação com
aqueles que são diferentes.

Figura 4 – As necessidades especiais ainda são vistas com discriminação no mercado de trabalho.
Fonte: Shutterstock, 2015.

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Em uma sociedade complexa, as pessoas que são integrantes de grupos ou classes diferentes
das consideradas “normais” são efetivamente estereotipadas, estigmatizadas e segregadas. No
que se refere aos portadores de necessidades especiais, por exemplo, aquilo que os diferencia é
considerado algo individual – as suas limitações ou adaptações não são entendidas como algo
que afeta a sociedade como um todo.

Em muitas sociedades, como afirmam Alves (1992) e Goffman (1975), as necessidades especiais
eram vistas com discriminação, ocorrendo inclusive extermínio por parte do grupo ou a tolerân-
cia, quando a característica especial era vista como exótica. Mesmo no Brasil, entre os povos
indígenas no início da colonização, eram comuns as práticas de exclusão ou valorização de
indivíduos portadores de necessidades especiais, conforme relatado por Alves (1992).

Em outro exemplo no que se refere ao Brasil, Freyre (2006, p. 157) fala que o regime agrário
escravista concebia o negro (após a substituição da mão de obra indígena) não como um ser
humano, mas como um bem produtivo. Caso este se acidentasse, nascesse com necessidades es-
peciais ou sofresse uma mutilação, era descartado e excluído dos demais – inclusive essa prática
era prevista pela Lei do Sexagenário.

Isso poderia ser uma das raízes da segregação e discriminação do trabalhador com necessidades
especiais na sociedade brasileira no âmbito do trabalho, como vemos na atualidade. Há uma
cultura da discriminação nas esferas do trabalho em todos os campos profissionais quanto ao
portador de necessidades especiais.

A deficiência, assim, tem suas raízes ligadas muito mais ao meio social e ao tratamento que as
pessoas dispensam aos portadores de deficiência do que às suas limitações. [...] O entendimento
dos problemas e a superação das barreiras dos portadores de deficiência requerem o estudo
de situações sociais mais amplas, que vão muito além das suas limitações físicas, sensoriais ou
mentais. (PASTORE, 2000, p. 18).

Como a globalização passou a exigir mais dos trabalhadores, gerou competições de todos os
tipos, muitas vezes descantando as chamadas minorias e, entre estes, aqueles que possuem limi-
tações no aspecto físico, tornando difícil o acesso às boas oportunidades. As leis específicas que
garantem esse acesso nem sempre são cumpridas e possuem um alcance tímido.

Pelo viés da Antropologia, a questão do portador de necessidades especiais da sociedade atual é


complexa, sendo que esta categoriza as pessoas por cultura de valorização do corpo e atributos
físicos, aquilo que é saudável, desejável, produtivo e bonito. Mas, conforme Pastore (2000), a
sociedade que não proporciona os ajustamentos dos portadores de necessidades especiais aca-
ba aprisionando-os dentro de seu próprio interim.

O ser humano possui necessidades de todos os tipos, uns mais que outros, e no ambiente de tra-
balho as características produtivas exigidas pelo mercado globalizado são as mais valorizadas.
Se há uma função comprometida ou um fator que não seja bem visto como produtivo pelo grupo,
ocorrerão discriminação e conflitos nas relações sociais.

4.4 Inclusão e cidadania


Os conceitos de inclusão e de cidadania estão em pauta nas discussões sobre as relações de
trabalho do mundo moderno e são percebidos pela Antropologia. Neste tópico, vamos compre-
ender a inclusão e cidadania em diferentes perspectivas, evidenciando como esses conceitos são
percebidos e praticados no contexto do trabalho e quais os desafios que ainda existem a partir
de um olhar crítico.

15
Antropologia e cultura

4.4.1 Conceitos de cidadania


O conceito de cidadania é bastante antigo. Provém da Grécia e Roma da Idade Antiga e Europa
da Idade Média. Mas há uma nova percepção do que é cidadania após o período moderno e a
estruturação do estado-nação (MACHADO, 2011).

Trata-se de um estatuto de pertencimento de um indivíduo a uma comunidade politicamente


articulada, tendo esses direitos e obrigações, sob a forma de leis. A cidadania pode ser vista
na modernidade sob duas categorias: formal (refere-se ao direito indicativo de nacionalidade
– como um “cidadão brasileiro”) e substantiva (definida pela sociologia e pela ciência política
como posso de direitos sociais).

Marshall é quem aponta o caráter substantivo da cidadania em Cidadania e classe social (de
1950),em querelata o que são os direitos civis, políticos e sociais de uma população ou nação.
Essa configuração intensifica-se após aSegundaGuerra Mundial, quando os direitos sociais fica-
ram em evidência, pelos ideais coletivistas e igualitários. A partir desse período, intensificaram-se
também os movimentos sociais e a efetiva participação da população pelos direitos políticos,
sociais e civis para o bem-estar econômico, valorização das minorias, lazer, educação e político.

Nota-se que cidadania é algo que está sempre em construção e o seu reconhecimento ocorre
nas relações com o outro. Mesmo que se refira à humanidade, aos direitos igualitários, às indivi-
duais e coletivas, muitas vezes ocorrem confrontos às dominações, seja do próprio Estado ou de
outras instituições. A cidadania é a pauta das lutas daqueles que são desprovidos das condições
igualitárias.

No Brasil, ainda há muito que fazer em relação à questão da cidadania, mesmo com as modifi-
cações realizadas nas Constituições e leis com o fim do regime militar (1964-1985) – inclusive no
âmbito do mercado de trabalho. Mesmo coma conquista dos direitos políticos, sociais e civis,há
milhares de pessoas privadas de seus direitos enquanto cidadãos – o que se reflete muitas vezes
em miséria, altos índices de desempregoe tratamento diferenciado quanto a gênero, faixa etária,
raça, etnia, etc., aumento de analfabetos e semianalfabetos, grandes níveis de violência, etc.

4.4.2 Conceitos de inclusão


O que define quem deve ou não ter participação em um grupo social? Há uma relação entre o
estigma e a inclusão – conceitos que em geral estão relacionados quando observados por uma
abordagem antropológica.

NÓS QUEREMOS SABER!


Você sabe o que é estigma? Para a Antropologia, o estigma social é a desaprovação
de aspectos ou crenças pessoais, que vão contra normas culturais estabelecidas, o que
pode levar à marginalização. É o que acontece muitas vezes entre pessoas com neces-
sidades especiais, portadores de doenças ou vírus como o HIV, etnicidade específica,
etc. Um teórico que observou a questão do estigma foi o antropólogo e cientista social
ErvingGoffman (1922-1982).

16 Laureate- International Universities


Se observamos a humanidade, veremos diversos movimentos sociais organizados que promovem
a conquista e perpetuação dos direitos. Esses grupos reconhecem que há a privação de direitos,
aceita implícita ou explicitamente por parte da população, mesmo que haja leis que garantam
esses direitos. Com a globalização, essas diferenças se acentuaram;contudo,jamais houve tanta
perspectiva de inclusão anteriormente na história. Mas é importante dizer que a inclusão sempre
foi um fenômeno em todas as sociedades e agrupamentos sociais. Tornou-se hoje, conforme
Machado (2011), um imperativo moral.

O fenômeno da inclusão é uma resposta à exclusão, a falta de direito ou acesso às necessidades


mais básicas, situações de injustiça, discriminação, à criação de estereótipos, à não aceitação
do que é diferente. É na segunda metade do século XX que se intensificou bastante a luta pela
igualdade de direitos, empreendida porvários setores da sociedade, com a organização de mo-
vimentos sociais reivindicatórios (MACHADO, 2011).

Outro aspecto importante é a dissociação da “pregação” da inclusão e de sua prática, muito em


voga nos últimos anos. No mundo do trabalho, mais especificamente no Brasil, percebemos que,
nas últimas duas décadas, se tornaram frequentes as políticas corporativas de inclusão, benefi-
ciadas inclusive por programas públicos de inserção de minorias no mercado de trabalho – como
as vagas reservadas a portadores de deficiências e aex-presidiários, por exemplo.

Contudo, essas mudanças ainda passam por um processo de assimilação da população maior:
para que as pessoas de algum modo excluídas ou sem acesso real aos seus direitos de trabalhar
e se prover pudessem se inserir no mercado de trabalho, foram necessárias políticas públicas e
intervenções, mas a aceitação do “diferente” requer processos mais complexos dentro do grupo.
Além disso, sugerir a inclusão pode significar e reforçar que algo (alguém) esteja excluído.

Omote (2004, p. 287) afirma que as coletividades humanas podem se tornar bastante inclusivas,
mas o modo como essas diferentes condições são acolhidas está relacionado às “condições de
existência e funcionamento de cada coletividade”. Então, como dito antes, para se tornar inclusiva,
uma sociedade acaba criando ainda mais estigmas em suas relações sociais. A diversidade justifica
o motivo pelo qual uma sociedade precisa ser inclusiva: há diversidades, heterogenia estrutural.
Isso implica uma igualdade de direitos e mobilidade social, que perpassa por novos estigmas.

17
Síntese Síntese
Neste capítulo, você pôde:

• compreender que a Antropologia sempre esteve relacionada às questões de raça,


identidade, étnica e desdobramentos como racismo e discriminação. Contudo, apenas no
início do século XX pôde-se observar a questão de raça por um viés não biológico;

• constatarque as diferenças grupais não podem ser explicadas pelos aspectos genéticos,
mas pela cultura, e não somente por ela;

• viu que a cultura não se explica apenas por si só, mas pelas escolhas individuais e grupais
que implicam que haja diferenças entre indivíduos de um mesmo grupo e similaridades
entre indivíduos de grupos distintos;

• concluirque o racismo é um discurso relacionado pela não aceitação de características


físicas de quem é diferente, mas que, muitas vezes, engloba aspectos culturais e étnicos;

• entender queas questões de gênero, religião e até mesmo referentes às necessidades


especiais encabeçam problemas sociais ainda muito presentes no mercado de trabalho;

• eperceber que a inclusão e a cidadania dependem muito do modo como é percebida a


coletividade, mesmo que haja intervenção ideológica ou política para que sejam aceitas
na sociedade.

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