Você está na página 1de 31

ÉTICA PROFISSIONAL E DIMENSÕES PSICOLÓGICAS DO EXERCÍCIO FÍSICO

PROF.ª: SABRINA RIBEIRO JORGE

RESUMO

A ética na Educação Física parte da existência de um conjunto de normas


regulamentadores do comportamento individual e social do homem, tendo como
ponto de partida seus valores, princípios e normas em atendimento aos anseios da
sociedade. Sustentar a atuação do profissional de Educação Física em preceitos
éticos é evitar sua redução a uma atividade normativa ou pragmática,
transformando-a um objeto de senso comum, incompatível com o desenvolvimento e
necessidades da atual sociedade brasileira. Nesse contexto social, o fenômeno
esporte e o treinamento físico-desportivo buscam no entendimento do treinamento
das competências psicológicas a chave para a melhora planejada e sistemática do
rendimento físico-motor, a estabilização e otimização do desempenho esportivo, a
garantia e aceleração dos processos regenerativos e por fim a otimização dos
processos de comunicação social no contexto da Educação Física e do esporte.

PALAVRAS CHAVE: Ética, Esporte, Psicologia do esporte, Competências


psicológicas, Exercício físico.

INTRODUÇÃO

Ética vem do grego ethos, que significa modo de ser, caráter,


comportamento. É o ramo da filosofia que busca estudar e indicar o melhor modo de
viver no cotidiano e na sociedade.

Muitas vezes confundidas e confrontadas, a ética diferencia-se da moral,


pois enquanto esta se fundamenta na obediência a normas, tabus, costumes ou
mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos, aquela ao contrário,
busca fundamentar o bom modo de viver pelo pensamento humano dentro de um
grupo social.

Ao falarmos desse tipo de moral grupal é necessário entender que esses


valores e normas servem para os membros do grupo, mas não necessariamente são
aplicados para indivíduos fora do grupo ou para outros grupos sociais. Ou seja, não
há pretensão de universalidade. Muitas vezes, o grupo pode pressupor um duplo
padrão de exigência moral.

Como por exemplo, para os membros, a solidariedade, honestidade e


respeito, e para os “estrangeiros” ou estranhos, dominação e trapaça. Um exemplo
extremo desse tipo de duplo padrão é a moral que rege uma família mafiosa. Muitas
vezes a distinção do conceito de ética de moral acontece para superar esse tipo de
comportamento de duplo padrão moral ou costumes morais opressivos com uma
reflexão crítica sobre os princípios, critérios e normas morais vigentes em
sociedades concretas. Desta forma, a ética seria então uma reflexão teórica e crítica
sobre os comportamentos e valores morais estabelecidos em uma determinada
comunidade humana ou em uma sociedade tendo como referência, preceitos éticos
que possam ser universalizados ou pelo menos aplicados para todos os grupos
envolvidos nas relações e ações humanas e sociais que envolvem aspectos de
ordem moral ou ética (SUNG in TOJAL e BARBOSA, 2006).

Enquanto a ética busca entender e contemplar o viver e o como se


comportar num determinado ambiente social, a psicologia do esporte é o estudo do
comportamento de atletas e praticantes de atividade física e da influência que a
parte mental tem sobre o rendimento físico. Nesse contexto o ambiente esportivo é o
lócus. Pode-se dizer que o aspecto mental é uma das dimensões do treinamento
esportivo.

Sugere-se que quanto mais treinado for o indivíduo, tanto mais importante se
torna o aspecto mental no seu rendimento. Sendo que muitas vezes, no alto
rendimento, o controle mental é o detalhe que determina a vitória ou a derrota.
Diversos aspectos de personalidade, estresse, liderança, atenção, imaginação, entre
outras competências psicológicas e emoções vêm sendo observadas nas diversas
modalidades esportivas. Isso se dá com o intuito de entender e controlar variáveis
que poderão significar o detalhe entre o sucesso e o fracasso. A conseqüência
destas observações leva a psicologia do esporte a buscar teorias e metodologias
psicofisiológicas que melhor se adaptam a especificidades esportivas. Nesse
contexto, Becker e Samulski (1998) reforçam que o treinamento psicológico deve
considerar alguns preceitos éticos como a participação voluntária do indivíduo estar
associada ao seu interesse e desprovida de qualquer pressão externa; o total
conhecimento prévio por parte do aluno/atleta dos objetivos, métodos, indicações e
efeitos do treinamento que deve ser cientificamente comprovado; além do que o
treinamento deve contribuir para o desenvolvimento da personalidade, saúde, bem-
estar, autodeterminação e responsabilidade social.

Dimensões Éticas da Educação Física

A ética na Educação Física parte da existência da história da moral


enquanto um conjunto de normas regulamentadores do comportamento individual e
social do homem, tendo como ponto de partida seus valores, princípios e normas em
atendimento aos anseios da sociedade.

Sustentar a atuação do profissional de Educação Física em preceitos éticos


é evitar sua redução a uma atividade normativa ou pragmática, transformando-a um
objeto de senso comum, incompatível com o desenvolvimento e necessidades da
atual sociedade brasileira, bem como com o papel assumido pelo profissional de
Educação Física no contexto social do século XXI.

Como bem sugere o Código de Ética da Educação Física, cabe à dimensão


ética deste profissional incorporar as dimensões existentes de ordem política e
técnica do seu exercício e a competência especial para a sua devida aplicabilidade,
definindo a condição de unicidade e indissociabilidade do conhecimento e
habilidades na competência profissional.

O Código de Ética refere-se a um conjunto de normas que um grupo


estabelece para seu exercício profissional e serve para guiar o comportamento dos
profissionais no exercício das atividades, sempre no intuito de servir aos interesses
da classe profissional, ao mesmo tempo que promove a defesa da sociedade em
todas as suas instâncias.

A garantia dos interesses da sociedade passa também pela formação


adequada dos futuros profissionais, sugerindo uma inserção acadêmica já nos
momentos mais precoces, quando se molda o perfil profissional.

Outro objetivo prioritário do Código de Ética está em oferecer explicações e


respostas a problemas e situações que os profissionais vivenciam no mercado de
trabalho, balizando as Comissões de Ética profissional nas suas análises e
determinações legais nos diversos processos éticos profissionais.

Além disso, o Código de Ética busca contribuir para que o reconhecimento


do trabalho realizado ocorra, e que não haja profissionais diminuídos em seus
direitos e também que maior número de cidadãos usufrua dos serviços dos
profissionais e que esses serviços sejam cada vez de melhor qualidade.

Justifica-se a existência de um código de ética para a área na tentativa de


formar um consenso mínimo entre os profissionais de Educação Física, que seriam
os condutores, no plano individual e subjetivo, da realização ética, através do
enunciado de responsabilidades, direitos e deveres, bem como proibições, infrações,
penalidades e identificação das instâncias de análise e julgamento processual.

O CONFEF, sendo formador de opinião e assumindo compromisso ético e


moral na promoção de maior justiça social, deve: disciplinar a promoção das
atividades físicas; desportivas e similares através dos direitos e deveres
universalmente aceitos. Sendo assim coube ao Sistema CONFEF/CREF estabelecer
os princípios fundamentais do exercício profissional e construir o Código de Ética da
profissão de Educação Física através do estudo da historicidade da sua existência,
da experiência de profissionais da área no Brasil e da resposta específica de
profissionais que atuam no segmento nacional.

Importante registrar que o Código de Ética enquanto instrumento legitimador


do exercício profissional está sujeito a um aperfeiçoamento contínuo, garantia do
sentido educacional em relação aos direitos e deveres da categoria.

A ética tem como objetivo estabelecer um consenso suficientemente capaz


de comprometer todos os integrantes de uma categoria profissional a assumir um
papel social, fazendo com que, através da intersubjetividade, migre do plano das
realizações individuais para o plano da realização social e coletiva, entretanto com o
cuidado de evitar o corporativismo medíocre em detrimento da promoção social.

O profissional da área, como elo de ligação com a sociedade é o elemento


que articula teorias com práticas para a difusão, através do esporte, do jogo, da
ginástica, da brincadeira, das manifestações rítmicas, da música e das atividades de
lazer, dar qualidade social à vida, independente do campo e área de atuação
profissional.

Além da necessária preparação profissional, os espaços institucionais


podem ser (re) criados com a perspectiva de contribuir no convívio democrático das
relações, entendendo o profissional como um interventor social mantenedor do
compromisso ético com a sociedade a partir do seu serviço e independente de
qualquer interesse corporativista.

O Código de Ética Profissional de Educação Física é composto de 18


artigos. Foi oficializado através da resolução CONFEF 056 de 03 de dezembro de
2003 e na sua elaboração foi norteado pelas seguintes considerações:

- que a Educação Física é comprometida com o desenvolvimento corporal,


intelectual e cultural, bem como com a saúde global do ser humano e da
comunidade, devendo ser exercida sem discriminação e preconceito de qualquer
natureza;

- que o profissional de Educação Física deve respeitar a vida, a dignidade, a


integridade e os direitos do ser humano, em particular de seus beneficiários;

- que o profissional de Educação Física deve procurar no exercício da sua


profissão prestar sempre o melhor serviço a um número cada vez maior de pessoas,
com competência, responsabilidade e honestidade;

- que o profissional de Educação Física deve atuar dentro das


especificidades de seu campo e área do conhecimento, no sentido da educação e
desenvolvimento das potencialidades humanas daqueles aos quais presta serviço;

- que o profissional de Educação Física deve exercer sua profissão com


autonomia, respeitando os preceitos legais e éticos;

- as relações do profissional de Educação Física com os demais


profissionais com os quais mantenha interface de trabalho sejam pautadas no
respeito, liberdade e independência profissional de cada um, na busca do interesse
e bem estar do beneficiário.

Parâmetros do Código de Ética


O Código de Ética profissional é um instrumento normatizador em
permanente discussão visando o seu constante aperfeiçoamento, e que apresenta
os seguintes parâmetros:

1. Aperfeiçoamento contínuo do profissional e do código.

2. Não corporativismo: O profissional como interventor.

3. Definição de funções.

1. Destinatário= professional.

2. Beneficiário= indivíduo e sociedade.

3. Mediador= Sistema CONFEF/CREF.

4. Caracterização: direitos, deveres, qualidade e competência.

5. Operacionalização: atualização técnica, científica e moral.

6. Valorização educacional: através de valores legais e morais.

7. Dever fundamental: preservação da saúde dos beneficiários.

8. Direito pleno do exercício: aos profissionais formados e diplomados.

9. Viabilização da transparência: acesso ao sistema CONFEF/ CREF.

Ética na relação: Professor e Aluno

Tal relação, conduzida em ambiente democrático, constitui a alternativa


privilegiada da ação pedagógica e com ela a ética como valor fundamental,
desenvolve sua potencialidade.

Assim, o ideal da profissão define-se pela prestação de um atendimento


melhor e mais qualificado a um número cada vez maior de pessoas, tendo como
referência o conjunto de princípios, normas e valores éticos livremente assumidos
pelos profissionais.

Isso significa uma aproximação entre aquele que elabora e executa ações (o
professor) e aqueles que buscam aprendizagem (os alunos).
O profissional de Educação Física age na promoção da saúde, e como tal
deve assumir compromisso ético para com a sociedade, colocando-se a seu serviço,
primordialmente, independentemente de qualquer outro interesse, sobretudo da
natureza corporativista.

Indubitável que a Educação Física Escolar assume papel primordial como


instrumento educacional na formação social e do caráter do cidadão, porém sem
perder seu objetivo maior que é a promoção da saúde através do movimento
humano.

Campos de Atuação Profissional: caracterizando Licenciatura x Bacharelado.

As competências profissionais no âmbito da formação acadêmica em


Educação Física foram estabelecidas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a
graduação/bacharelado da SESU/MEC, resolução CNE/CES 07 de 31 de março de
2004 e para a licenciatura através das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
formação de Professores da Educação Básica, licenciatura plena, resolução
CNE/CP 01 de 18 de fevereiro de 2002.

O MEC entende o bacharelado em Educação Física como uma área de


conhecimento e de intervenção acadêmico-profissional que tem como objeto de
estudo e de aplicação o movimento humano, com foco nas diferentes formas e
modalidades do exercício físico, da ginástica, do jogo, do esporte, da luta/arte
marcial, da dança, nas perspectivas da prevenção de problemas de agravo da
saúde, promoção, proteção e reabilitação da saúde, da formação cultural, da
educação e da reeducação motora, do rendimento físico-esportivo, do lazer, da
gestão de empreendimentos relacionados às atividades físicas, recreativas e
esportivas, além de outros campos que oportunizem ou venham a oportunizar a
prática de atividades físicas, recreativas e esportivas Por outro lado, conforme o que
estabelece as Diretrizes Curriculares, a licenciatura visa capacitar o profissional para
o exercício formal do Magistério na Educação Básica, tendo como orientações
inerentes à formação para a atividade docente, entre as quais o preparo para:

I - o ensino visando à aprendizagem do aluno;


II - o acolhimento e o trato da diversidade;

III - o exercício de atividades de enriquecimento cultural;

IV - o aprimoramento em práticas investigativas;

V - a elaboração e a execução de projetos de desenvolvimento dos


conteúdos curriculares;

VI - o uso de tecnologias da informação e da comunicação e de


metodologias, estratégias e materiais de apoio inovadores;

VII - o desenvolvimento de hábitos de colaboração e de trabalho em equipe.

Parecer recente do MEC estabeleceu as áreas de atuação profissional em


vários setores o que diminuiu as dúvidas no que concerne a atuação do bacharel e
do licenciado em Educação Física.

Caracterização do Sistema CONFEF/CREF e outras instituições


representativas.

O Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) e os Conselhos


Regionais de Educação Física (CREFs) são autarquias federais criadas pela Lei
9696/98 para organizar e operacionalizar a regulamentação da profissão de
Educação Física.

A Lei 9696/98 foi assinada em 1º. de setembro de 1998 e regulamentou o


exercício profissional na área de Educação Física e Esporte, em seu parágrafo 3º.
estão determinadas as competências e prerrogativas exclusivas do profissional de
Educação Física, listadas a seguir:

...coordenar, planejar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir,


organizar, avaliar e executar trabalhos, programas, planos e projetos, bem
como prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria, realizar
treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e
interdisciplinares e elaborar informes técnicos, científicos e pedagógicos,
todos nas áreas de atividades físicas e do desporto.
A partir dessas competências é que está permeada a atuação do Sistema
CONFEF/CREF na defesa social do exercício profissional em Educação Física.
Embora a principal função dos conselhos profissionais seja regulamentar e fiscalizar
o exercício profissional, outras ações também sido desenvolvidas como a
representação política da categoria em diversas instâncias da sociedade civil,
sempre tendo como referência uma Educação Física de qualidade e promoção da
saúde nos diversos campos de atuação, sejam eles formais ou informais. Essa
atuação possibilita que os reais valores e benefícios da Educação Física sejam
efetivos à sociedade de forma totalitária. Ao Sistema por essência também cabe
assegurar qualidade, competência e atualização técnica, científica e moral dos
profissionais nele incluídos.

Conforme estabelece a Lei 9696/98, podem ser registrados no Sistema os


seguintes profissionais:

I - os possuidores de diploma obtido em curso de Educação Física,


oficialmente autorizado ou reconhecido;
II - os possuidores de diploma em Educação Física expedido por instituição
de ensino superior estrangeira, revalidado na forma da legislação em vigor;
III - os que, até a data do início da vigência desta lei, tenham
comprovadamente exercido atividades próprias dos Profissionais de Educação
Física, nos termos a serem estabelecidos pelo Conselho Federal de Educação
Física. Esses são chamados não-graduados ou provisionados.
Neste contexto social, outras entidades podem colaborar com o Sistema
CONFEF/CREF para promover uma Educação Física melhor para a sociedade,
assim como para o profissional. O Ministério da Educação tem como função
prioritária definir as competências profissionais a serem ministradas nos cursos
superiores de Educação Física, bem como avaliar as Instituições de Ensino Superior
para que essas apresentem condições mínimas adequadas para a formação
profissional, tanto para o bacharelado como para a licenciatura.

O Ministério do Esporte, as Secretarias Estaduais e Municipais de Esporte


são os organismos governamentais que fazem a gestão política do esporte e lazer,
cada qual na sua esfera de abrangência.
Os Sindicatos profissionais são as entidades responsáveis por mediar as
relações entre empregador e empregado, buscando, além da defesa dos direitos,
garantir condições mínimas para o exercício laboral do profissional de Educação
Física junto aos seus empregadores. Instituições que buscam promover a Educação
Física como espaço de discussão política e promoção do conhecimento científico,
caso do CBCE (Colégio Brasileiro de Ciência do Esporte) e da FIEP (Federação
Internacional de Educação Física), órgão este de abrangência mundial que tem
grande participação na Educação Física no Brasil e América Latina, através da
promoção de cursos, intercâmbios regionais (como os Professores de Educação
Física Sem Fronteiras) e elaboração de documentos orientadores.

Dentre esses documentos destacamos o Manifesto Mundial de Educação


Física, a Carta da Educação Física Escolar e a Carta Brasileira de Educação Física
com os objetivos de garantir o reconhecimento profissional e uma Educação Física
de qualidade e compromissada com a sociedade.

Dimensões psicológicas do exercício físico e do esporte

A psicologia do esporte e do exercício é o estudo científico de pessoas e


seus comportamentos no contexto do esporte e dos exercícios físicos e a aplicação
desses conhecimentos.

A psicologia do esporte se aplica tanto às modalidades coletivas como


individuais, embora em cada um desses casos a manifestações sejam distintas e
com diferentes graus de importância, pois no esporte individual o resultado final é
produto do desempenho apenas de um único individuo, ao contrário do esporte
coletivo. Nesse contexto cabe ao atleta e às equipes utilizar a psicologia a seu favor.

A história da psicologia do esporte enquanto especialidade é recente. Há


pouco mais de 30 anos, Morgan (1979, apud Gould e Maynard, 2009) observou que
remadores e wrestlers olímpicos bem sucedidos exibiam um perfil de saúde mental
positivo, caracterizados por altos escores de vigor e baixos escores de tensão,
depressão, raiva, fadiga e confusão do que seus adversários.
Recentemente, Taylor et al (2008) acompanharam os atletas norte-
americanos nas Olimpíadas de Sidney e observaram que os atletas medalhistas (52)
apresentaram melhor controle emocional e automaticidade do que os 124 atletas
não-medalhistas, estes por sua vez apresentaram escores negativos mais
acentuados nas competências psicológicas avaliadas. Atletas olímpicos canadenses
bem sucedidos que se preparavam para os Jogos Olímpicos de 1984 apresentaram
melhor foco de atenção e controle da imaginação (Orlick e Partington, 1987, apud
Gould e Maynard, 2009). De forma semelhante, wrestlers norte-americanos que
competiram nas Olimpíadas de Seul apresentaram diferenças entre não-medalhistas
e medalhistas, sendo que estes apresentavam melhor atenção, pensamentos
positivos e se utilizavam muito mais de práticas mentais (Gould et al, 1993).

Estudo com arqueiros olímpicos da Itália mostrou que expectativas positivas


(confiança, competitividade, determinação, motivação) foram fatores mentais críticos
para o sucesso (Robazza e Bortoli, 1998).

Dentro do contexto do esporte de rendimento diversos fatores têm sido


apontados como intervenientes direta ou indiretamente nos aspectos psíquicos que
podem determinar o sucesso ou o fracasso, dentre eles Gould e Maynard (2009)
destacam distrações na preparação, planejamento e aderência ao planejamento,
treinamento físico ótimo, preparação mental, confiança em si e na equipe, harmonia
e coesão coletiva, relação com o técnico e com o treinamento, pessoal de apoio,
assistência residencial, familiares e amigos, empresários, importância da
competição, processo de seleção, condições do tempo, equipamentos, influências
ambientais, fatores associados à viagem, fatores coletivos, treinamento mental e
suporte psicológico específico.

Atualmente a atuação psicológica no esporte pode se dividir em dois


momentos: durante a carreira desportiva na preparação para a competição
propriamente dita, constituindo-se dessa forma num elemento fundamental do
treinamento e após o encerramento da carreira, momento para o qual o atleta deve
ser preparado e acompanhado, a fim de enfrentar a situação da maneira menos
traumática possível.

Sendo assim as tarefas e funções do psicólogo do esporte podem ser


identificadas através das seguintes ações:
• Ensino.

• Pesquisa.

• Intervenção.

• Treinamento das competências psicológicas (ou treinamento mental).

Sendo assim, vamos a partir de agora abordar as competências psicológicas


que podem ser observadas ou treinadas no contexto da atividade física e do esporte.

Concentração

Concentração pode ser definida como a capacidade para controlar o


pensamento e concentrar-se em uma tarefa, prestando atenção seletivamente ao
que é relevante e ignorando o que não é pertinente, tem sido considerada uma das
mais importantes chaves para uma boa atuação esportiva (STEFANELLO, 2007).

A concentração pode ser significativamente melhorada com o treinamento e


com a prática esportiva.

Os fatores que influenciam no estado atual de atenção são classificados em


internos e externos.

Reconhecer e identificar os fatores internos e/ou externos que interferem na


capacidade de concentração é fundamental para que as estratégias e metodologias
de treinamento sejam adequadamente empregadas. Da mesma maneira, identificar
e classificar a importância desses fatores é fundamental para que prioridades sejam
atribuídas no treinamento.

Dentre as estratégias empregadas para melhorar a capacidade de


concentração podemos apontar:

- Familiarizar-se com os fatores de distração.

- Usar palavras-chave para focalizar a concentração.

- Desenvolver e treinar um padrão de comportamento nos eventos


competitivos.
- Desenvolver planos de competição e mentalizá-los.

- Praticar o controle visual.

- Aprender a sintonizar-se com o próprio corpo, a fim de conseguir total


integração entre os componentes físicos e mentais.

Imaginação e Treinamento Mental

É definida como “a imaginação de forma planejada, repetida e consciente de


habilidades motoras, técnicas esportivas e estratégias táticas” (SAMULSKI, 2000, p.
45).

Stefanello (2007) sugere que é uma experiência sensorial que ocorre na


mente para recriar ou criar um evento sem a participação do ambiente.

Entretanto quais seriam as vantagens da imaginação para a prática


esportiva:

– Aprendizagem, manutenção e aperfeiçoamento de competências motoras.

– Prática de destrezas esportivas.

– Prática de estratégias.

– Regulação da ativação.

– Recuperação de lesões e controle da dor.

– Promoção da autoconfiança.

– Controle atencional.

Três estratégias são empregadas como formas de treinamento mental:

Auto-verbalização:

Consiste em repetir mentalmente a prática do movimento de forma


consciente.

Exemplo: Saque do tênis.


Treinamento por auto-observação:

No qual o individuo deve se observar através de “olhos mentais”, como se


fosse um filme bem definido sobre a prática do movimento que ele realiza. Assim, o
indivíduo assume o papel de espectador de si próprio, ou seja, ele se observa de
uma perspectiva externa.

Treinamento ideomotor:

Quando o indivíduo deve atualizar intensa e profundamente a perspectiva


interna do movimento. Ele deve procurar se autotransferir no movimento para poder
sentir e vivenciar os processos internos que ocorrem na execução do movimento.

Autoconfiança

Segundo Hardy et al (1996) a autoconfiança é um dos pontos-chave para


distinguir atletas de elite daqueles de menor nível de rendimento.

Observa-se que atletas mais bem sucedidos crêem firmemente em si


mesmos e na sua capacidade de adquirir destrezas e competências que lhes
permitam alcançar seu máximo potencial (WEINBERG e GOULD, 1996).

Vealey (1986) afirma que a autoconfiança representa o grau de certeza que


um indivíduo habitualmente possui nas suas capacidades para ser bem-sucedido em
diferentes situações.

Dentre as vantagens da autoconfiança no contexto esportivo, podemos


elencar diversos fatores:

– A autoconfiança ativa emoções positivas.

– A autoconfiança facilita a concentração.

– A autoconfiança influencia os objetivos a alcançar.

– A autoconfiança aumenta o esforço a despender.

– A autoconfiança afeta as estratégias de jogo.


– A autoconfiança afeta o ímpeto psicológico.

Algumas estratégias para a promoção da autoconfiança no contexto


esportivo podem ser empregadas:

– Preparar-se adequadamente para as competições.

– Familiarizar-se com as situações competitivas.

– Observar modelos positives.

– Ter objetivos específicos para cada competição.

– Ter estratégias específicas para a competição.

– Desenvolver um inventário pessoal de autoconfiança no esporte.

– Recorrer à utilização de afirmações positivas.

– Quebrar o elo de pensamentos negativos.

– Atribuir créditos pessoais pelo sucesso.

– Utilizar estratégias de reavaliação da ativação fisiológica e emocional.

– Fazer uso da autocomparação e da auto-recompensa.

– Recorrer ao treino da imaginação ou visualização mental.

– Demonstrar autoconfiança realista.

– Basear-se em dados concretos.

– Reduzir a carga emocional atribuída às situações.

– Atuar com confiança.

– Confiar nas próprias possibilidades.


Motivação para o alto rendimento

É caracterizada por Samulski (2009) como um processo ativo, intencional e


dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e
ambientais (extrínsecos).

A motivação representa a razão pela qual as pessoas selecionam, persistem


e desenvolvem com intensidade ou trabalho ou atividade. Dentre suas
características podemos apontar: seletiva (sugere preferência por diferentes
atividades), persistência (representada pela persistência e manutenção numa
mesma atividade) e intensidade (os indivíduos diferenciam-se no grau de desejo
pelo sucesso).

A motivação tem relação com três pontos de referência específicos:

– As razões (intrínsecas e extrínsecas) para a prática e o abandono.

– A motivação para o rendimento.

– A motivação relacionada ao estresse competitivo.

Diversos profissionais têm lançado mão da formulação de objetivos como


estratégia motivacional. Essa atitude apresenta vantagens substanciais enquanto
estratégia motivacional principalmente porque os objetivos ajudam o atleta a dirigir
sua atenção a aspectos importantes, inclusive o treinar e permitem que ele tome
consciência do seu crescimento gradual, sabendo onde está, e para onde vai.

Os princípios fundamentais para um programa de formulação de objetivos:

- Formular objetivos de rendimento em vez de objetivos de resultado.

- Determinar prioridades ao estabelecer objetivos.

- Estabelecer objetivos específicos mensuráveis por meio de dados objetivos


do comportamento.

- Estabelecer objetivos difíceis e desafiadores, porém realistas.

- Determinar períodos temporais ou datas-limite para a concretização de


cada objetivo.
- Estabelecer objetivos a curto, médio e longo prazo.

- Formular objetivos para os treinos.

- Formular objetivos positivos.

- Estabelecer objetivos individuais.

- Determinar estratégias para o alcance dos objetivos.

- Registrar por escrito os objetivos a serem alcançados.

- Avaliar continuamente o progresso no alcance dos objetivos.

- Incluir variações e formas de diversão nos treinos.

Os fatores que caracterizam a motivação podem ser de quatro tipos:

- situacionais sujeitos a mudança.

- situacionais não-sujeitos a mudança.

- pessoais sujeitos a mudança.

- pessoais não-sujeitos a mudanças.

Ativação

A ativação refere-se a uma função energizante, que varia desde um sono


profundo até um grau de intensa excitação, sendo responsável pelo aproveitamento
dos recursos do corpo em diferentes situações (SAGE, 1984). Pode-se dizer que a
ativação reflete o grau de prontidão do indivíduo para uma determinada tarefa num
dado momento.

O aumento nos níveis de ativação manifestado pelos atletas pode ser


acompanhado de sentimentos agradáveis e desagradáveis, com efeitos
diferenciados sobre a conduta do esportista. Considere-se o fato de que o nível
adequado de ativação é variável de atleta para atleta, bem como pode também
variar conforme a situação.
Aspectos a serem considerados para o alcance e a manutenção do estado
ideal de motivação:

Certos atletas necessitam de mais estímulos que os outros: alguns


indivíduos necessitam de uma maior ativação para apresentar um desempenho
satisfatório, enquanto que para outros o mesmo grau de ativação pode deteriorar a
performance. Isso pode se dar muitas vezes por um condicionamento físico
insuficiente.

A ativação manifesta-se em termos fisiológicos, motores ou cognitivos.

O desempenho físico pode ser otimizado num grau de ativação adequado,


com melhora na resistência força, velocidade ou potência; dois bons indicadores
fisiológicos são a freqüência cardíaca e os níveis circulantes de cortisol. Igualmente
a coordenação e a técnica pode ser melhoradas ou depreciadas pela ativação;
muitas vezes o indivíduo pode apresentar tremores ou distúrbios motores.

O nível de ativação influencia o rendimento esportivo por duas vias: a via


motora/fisiológica que vai interferir na tensão muscular, mobilização de energia e
coordenação motora; a outra via é a psíquica/mental, com variações na atenção,
processamento de informações e tomada de decisão.

Cada mudança fisiológica do corpo corresponde a uma mudança paralela no


estado emocional da pessoa.

Há uma relação entre as respostas fisiológicas e psíquicas durante a


atividade física. É nesses momentos que os indivíduos enfrentam de maneira
distinta a fadiga, bem como a motivação para iniciar e manter uma atividade física
regular e um desempenho considerado satisfatório.

Um nível ótimo de ativação é necessário ao alcance de um nível superior de


esforço e um estado ideal de execução.

Essa necessidade está associada também ao grau de treinabilidade e o


nível de desempenho apresentado pelo indivíduo. Nesse caso o grau de ativação é
diferente para cada atividade, seja uma aula de Educação Física Escolar, de
musculação ou uma sessão de treinamento no alto rendimento.
Estresse

O estresse é um estado de desestabilização psicofísica ou perturbação do


equilíbrio entre a pessoa e o meio ambiente (McGRATH, 1981; SAMULSKI, 1995;
SELYE, 1981).

O processo do estresse, geralmente, inicia-se em situações ou


circunstâncias que o indivíduo percebe ou avalia como ameaçadoras (perigosas,
nocivas ou potencialmente frustantes). A avaliação das circunstâncias como uma
ameaça depende das características individuais da pessoa, da sua capacidade de
controle e das suas experiências passadas, assim como o próprio perigo objetivo
inerente à situação. O treinamento pode ser direcionado para a simulação de
determinadas circunstâncias com o direcionamento da resposta mais adequada à
situação.

As inúmeras situações encontradas durante a atividade física podem


provocar, independentemente da presença de um perigo objetivo, uma reação
emocional (ansiedade) que se caracteriza por sentimentos de tensão, apreensão,
nervosismo e preocupação.

Esses momentos são vivenciados subjetiva e conscientemente, em conjunto


com a ativação elevada do sistema nervoso autônomo, induzindo respostas do
componente neuro-motor.

A avaliação que o indivíduo faz das situações que vivencia aponta para a
existência de processos que determinam o surgimento das reações de estresse que,
nem sempre, são negativas, desde que elas possam ser direcionadas para a
melhora do desempenho. Muitos profissionais chamam isso de controle do estresse
e nem todas as pessoas percebem os eventos do mesmo modo, tampouco
respondem a eles da mesma forma (CRUZ, 1996). Esse enfrentamento é algo
pessoal e que sugere um treinamento adequadamente direcionado.

Entretanto a ansiedade é, em essência, um sentimento negativo,


experimentado em uma situação ou um momento particular que surge,
freqüentemente, como um produto dos processos de estresse (SMOLL; SMITH,
1996; SPIELBERGER, 1989).

O estresse é um processo resultante de qualquer demanda sobre o


organismo caracterizado pelas alterações fisiológicas e psicológicas quando o
indivíduo se encontra em uma situação que requeira uma reação mais forte do que a
que corresponde sua atividade orgânica normal (VASCONCELLOS, 1995). De tal
modo, uma situação de estresse manifesta-se sempre que se apresenta um
desequilíbrio entre a condição da ação individual e a situacional (ou motivacional),
isto é, quando ocorre uma discrepância entre as capacidades da pessoa e as
exigências da situação ou entre suas necessidades e as possibilidades de satisfazê-
las, com importantes consequências para o indivíduo (SAMULSKI et al., 1996).

O estresse se manifesta como uma síndrome específica que se constitui por


uma reação do organismo, com componentes físicos e psicológicos, causada pelas
alterações psicofisiológicas que podem ocorrer quando uma pessoa, frente à
determinada situação, se sente irritada, ameaçada, amedrontada, excitada, confusa
ou mesmo imensamente feliz (CAPITANEO, 2004; KELLER, 2006).

Ao confrontar-se com a fonte de estresse inicia-se um longo processo, que


inclui a demanda ambiental, a percepção da demanda, as respostas ao estresse e
as consequências comportamentais (McGRATH,1981).

A demanda ambiental imposta ao indivíduo pode ser física ou psicológica.


Contudo, as pessoas não percebem as demandas exatamente da mesma forma, de
modo que as respostas físicas e psicológicas do indivíduo ao estresse variam de
acordo com a sua percepção da situação. Ou seja, se a percepção de desequilíbrio
entre as demandas situacionais e a capacidade de resposta do indivíduo faz com
que ele se sinta ameaçado, o resultado poderá ser uma ansiedade-estado
aumentada, acompanhada por preocupação (ansiedade cognitiva), ativação
fisiológica aumentada (ansiedade somática), alterações na concentração e tensão
muscular, que poderão deteriorar o seu desempenho. Por outro lado, se esse
desequilíbrio entre a capacidade e a demanda não for avaliado como uma ameaça,
e sim como um desafio que pode ser superado pelo atleta, o seu desempenho não
será afetado negativamente (SAMULSKI, 2002).
O processo de reação de estresse é explicado por Selye (1981) com base
na síndrome da adaptação geral, que ocorre em três fases: alarme, resistência e
esgotamento

A fase de alarme caracteriza-se pela mobilização das forças de defesa do


organismo, como uma reação imediata a uma superexigência. Essa fase inicia com
uma reação curta de choque, quando o indivíduo se confronta com uma situação de
ameaça na qual a sua capacidade de resistência está reduzida de maneira
acentuada. A essa fase, segue uma fase de contrachoque, na qual os mecanismos
de defesa do organismo são ativados imediatamente, iniciando-se uma reação de
alarme. A fase de resistência acontece quando os sintomas que assinalam a fase
de alarme desaparecem com a obtenção de um estado de adaptação ótimo por
parte do organismo.

Contudo, uma adaptação como essa só é possível se houver uma redução


da capacidade de adaptação do indivíduo a outros estressores. O que significa que
o indivíduo se torna susceptível a cargas adicionais, que podem conduzi-lo a uma
fase de esgotamento. Esta última fase (esgotamento) ocorre com a continuidade do
estresse, após o consumo das “energias de adaptação”. Ou seja, quando os
mecanismos de defesa e adaptação fracassam, os sintomas da fase de alarme se
repetem, mas o processo se estagna. Sob determinadas condições o indivíduo
pode chegar à morte (SAMULSKI, 1995).

Para que este estágio não aconteça, é necessária uma recuperação


adequada, caracterizada como um processo através do qual as consequências
psicológicas do estresse resultantes da atividade anterior são equilibradas e a
condição individual para agir é restaurada (KELLMANN et al., 2009).

O intervalo de tempo entre dois agentes estressores (como, por exemplo,


entre duas competições) deveria ser destinado à recuperação física e psicológica,
para aperfeiçoar os processos psicofísicos que se seguem após períodos de altas
demandas e possibilitar ao atleta alcançar condições de lidar otimamente com as
demandas de treinamento e competição, aumentando seus limites fisiológicos e
psicológicos. Porém, a utilização eficaz do tempo de recuperação disponível é de
fundamental importância para o sucesso no esporte (KELLMANN et al., 2009).
A recuperação é um processo individual e específico de cada atleta. Cada
um possui suas estratégias de recuperação que devem ser aplicadas sempre que
necessário. Desempenhos esportivos elevados são possíveis de serem alcançados
por atletas que se recuperam rapidamente durante a competição, ou seja, que
podem se adaptar rapidamente às mudanças entre situações de estresse e
recuperação.

A pausa ideal entre dois períodos de estresse inclui 3 fases: avaliação,


transição e preparação (EBERSPÃCHER 1990, 1995 apud KELLMANN et al.,
2009). Na fase de avaliação, o atleta processa os resultados obtidos na competição
anterior e enfrenta o estresse psicológico e físico gerados. A fase de transição leva
mais tempo, o principal objetivo é a recuperação em si. As atividades nesta fase
podem ser realizadas de formas variadas. Comer, beber, dormir, encontrar amigos
ou realizar outras estratégias individuais de recuperação, são atividades típicas de
transição em competições. Essa fase deve contemplar estratégias individuais dos
atletas, pois alguns podem se sentir devidamente recuperados após um breve
cochilo, porém, outros estão absolutamente letárgicos. A fase final, ou fase de
preparação, inclui a preparação para a próxima partida. Esta começa com um
aquecimento físico e mental, focando a próxima competição e se preparando
mentalmente e fisicamente.

É, portanto, de suma importância que essas 3 fases da recuperação sejam


realizadas, pois uma recuperação inadequada pode resultar em efeitos crônicos nas
áreas fisiológicas e psicológicas. Em estados de recuperação adequados o atleta
pode reagir de forma eficaz para enfrentar com sucesso o estresse, sem que
atividades adicionais de recuperação sejam necessárias. De modo geral, os
momentos de recuperação devem acontecer para que os níveis ótimos (mental e
físico) de desempenho sejam restabelecidos (KELLMANN et al., 2009).

Considerações para o controle dos níveis de estresse e ansiedade no esporte.

Elevados níveis de estresse provocam aumento de tensão muscular geral e


conseqüente deterioração do rendimento. Tudo depende da capacidade que o
indivíduo tem para administrar a situação de estresse e não permitir a manifestação
de uma situação de angústia e/ou ansiedade.

Elevados níveis de estresse ocasionam déficits de atenção, com alterações


negativas do desempenho. O nível de queda estará associado a importância da
concentração como fator determinante do resultado final, sendo que em algumas
modalidades esportivas a desatenção é fundamental, caso do tênis e das lutas.

O sucesso esportivo pode ser associado à capacidade do atleta para render


sobre pressão. Alguns atletas apresentam rendimento excepcional em condições
onde a pressão não é elevada, entretanto quando expostos a momentos decisivos
observa-se uma queda muito evidenciada do desempenho. Por outro lado
determinados atletas se destacam justamente nesses momentos. Por fim alguns
indivíduos são pouco influenciáveis pela pressão e seu desempenho é caracterizado
pela estabilidade, não produzindo qualquer tipo de surpresa, seja ela positiva ou
negativa.

Em condições de pressão, poderão ocorrer diferentes condutas: fuga, apatia


e enfrentamento. É fundamental que as reações a essas condutas sejam previstas e
treinadas.

Preocupação e ansiedade do confronto do atleta com situações estressantes


apresentam um caráter circular. A percepção que o atleta tem da situação é o que
leva a degradação da performance, por isso a importância do indivíduo em
reconhecer a situação de forma antecipada e o controle do enfrentamento e da
ansiedade.

A importância de um acontecimento modela a resposta emocional e


comportamental do atleta. Essa importância é altamente pessoal e pode ser
influenciada pela preparação e indução repetitiva da situação com o subseqüente
remodelamento da respostas.

A ansiedade tem um componente de ativação física percebida (ansiedade


somática) e um componente de pensamento (ansiedade cognitiva). Enquanto o
primeiro é representado pelas situações que podem se repetir diversas vezes na
carreira desportiva, enquanto que a segunda pode ser planejada e exercitada, ou
seja, alterar a avaliação cognitiva de situações e acontecimentos dá ao atleta
maiores capacidades e competências para utilizar mecanismos eficazes e
adaptativos nas situações de conforto.

O corpo proporciona, um grande número de indicativos, em caso de se estar


“fora de controle”. Essa percepção e leitura são decisivas para a administração das
respostas às situações do atleta bem como para explorar desequilíbrios
apresentados pelo adversário. Nessa condição pode se dizer que o estresse,
utilizado como arma psicológica, visa claramente debilitar o rendimento do
adversário.

Da mesma forma, o adversário pode se valer desse instrumento para


desestabilizar o atleta, que por sua vez deve sintonizar-se com o próprio corpo e
percebendo as próprias reações diante dos enfoques agressivos (verbais ou físicos)
dos adversários, poderá com o enfrentamento adequado da situação, tornar ineficaz
a guerra psicológica.

Como a ameaça e o insulto são frutos da avaliação cognitiva, não duvidar da


própria capacidade e não ceder à pressão psicológica do adversário são condutas
essenciais a um bom desempenho.

Não demonstrar reações emocionais é uma estratégia para irritar o


adversário. Isso só é possível com um adequado controle emocional e tem sido
muito utilizado por alguns atletas no enfrentamento principalmente com adversário
de melhor qualidade técnica. Alguns técnicos sugerem que esse controle emocional
favorável coincide também com uma melhor resistência física e tolerância à fadiga.

Nessas situações, manter o autocontrole é necessário para uma boa


atuação, independente de fracassos ou sucessos em determinados momentos da
competição.

Quando o insucesso técnico advém uma boa estratégia é identificar o estado


de execução ideal e contrastá-lo com o real, tomando consciência de rotinas
instintivas. Esta técnica favorece a recuperação do controle em situações de
desvantagem.
Entretanto caso a falha técnica ainda perdure, é desejável e necessária a
recuperação do atleta face aos erros cometidos prontamente. Isso pode ser induzido
e treinado.

Adoção de algumas técnicas para redução dos níveis de estresse tem


apresentado resultados bem sucedidos conforme a situação. Dentre essas técnicas
podemos elencar:

- relaxamento.

- auto-entendimento.

- treinamento mental.

- super aprendizado.

- ritual comportamental.

Controle do Pensamento

Alguns autores têm constatado que as variações na atuação dos atletas


durante uma competição, ou mesmo em competições que acontecem em um breve
período de tempo, são, muitas vezes, conseqüências de flutuações cognitivas
(HARRIS, 1991; RAVIZZA, 1991; NIDEFFER, 1991). Embora não se observem
grandes variações na técnica desportiva, entretanto o controle da mente não se
apresenta da mesma forma e isto não é uma situação considerada incomum, ao
contrário.

É natural que os pensamentos dos atletas oscilem entre resultados


agradáveis e desagradáveis e que a desejada conexão mental desapareça em
muitas situações, conduzindo-os a conseqüências negativas. Afim de que isso não
apresenta um impacto tão grande no desempenho, é interessante que essas
situações sejam previstas, induzidas no treinamento e a partir daí se desenvolva um
controle para os pensamentos.

Ao se preocupar excessivamente quando sua atuação for inferior à esperada


ou quando seu desempenho em uma situação precedente não esteve no seu nível
usual, o atleta experimenta níveis de estresse e ansiedade que, quase sempre, são
disfuncionais, impedindo-o de atuar no seu nível potencial. É nessa situação que
desestabilizações do pensamento podem advir, exigindo do atleta habilidade para se
desviar de pensamentos negativos e valorizar pensamentos positivos.

Compreender como a mente trabalha, de que modo os pensamentos afetam


os sentimentos, e como o atleta pode disciplinar-se, é de suma importância para
uma atuação eficaz, pois pontos fortes podem elevar o desempenho a um grau
superior, enquanto que pontos negativos devem ser trabalhados para que a
performance sofra o menor impacto possível. Em outras palavras podemos dizer que
pensamentos pouco apropriados ou errôneos conduzem a sentimentos negativos e
a uma execução pobre, da mesma forma que pensamentos positivos conduzem a
sentimentos que capacitam uma boa execução (BUNKER; WILLIAMS, 1991).

No contexto do alto rendimento é fundamental que o atleta saiba controlar os


seus processos de pensamento, distinguindo pensamentos que são probabilidades
daqueles que são possibilidades, pois muitos fatos são possíveis, mas nem todos
possuem uma probabilidade concreta de acontecer, ou seja, é importantíssimo que o
indivíduo tenha equilíbrio para distinguir entre o exeqüível e o improvável. Uma
forma de tornar essa situação mais acessível ao atleta é a utilização do auto-
informe, pois ele é chave na garantia do controle cognitivo da tarefa motora.

O auto-informe é um diálogo interno do atleta com ele mesmo, pois qualquer


pensamento que o atleta tenha sobre algo implica, em algum sentido, no fato de ele
falar para si mesmo, e o corpo, simplesmente, executar o que a mente pensa.

O auto-informe pode ser utilizado:

- Para a aquisição e execução de destrezas.

- Para a substituição de um hábito consolidado por outro mais eficaz.

- Para a reprogramação de técnicas ou estratégias, evitando a repetição de


erros.

- Para a manutenção da mente focalizada.

- Para o controle do esforço e a manutenção do estado de ânimo.


- Para promoção e manutenção da autoconfiança.

A conscientização dos pensamentos e das convicções presentes na mente


antes, durante e após a atuação é o primeiro passo para o atleta conseguir o
controle do auto-informe. A identificação de barreiras psicológicas auto-impostas é
imprescindível, pois elas podem impedir até o atleta mais dotado de realizar e pôr
em prática o seu máximo potencial.

O atleta deve procurar reconhecer seu estado mental quando conseguiu um


bom desempenho, procurando repetir, em outras situações, o especial estímulo que
o conduziu àquela ação. Identificar e reconhecer bons pensamentos que coincidiram
com bons momentos no desempenho esportivos devem ser recriados com a
finalidade de garantir uma boa performance.

Manter um registro diário do auto-informe pode ser útil ao aumento do grau


de conscientização do atleta. O auto-informe acontece a partir da indagação do
técnico, psicólogo ou profissional competente e subsequente feed-back ao atleta.

A interrupção dos pensamentos negativos ou contraproducentes ajuda o


atleta a recuperar um foco de atenção mais adequado a partir do desvio do
pensamento de aspectos negativos.

Após a identificação de pensamentos negativos, uma maneira eficaz de


utilização de interrupção do pensamento é combiná-la com a imaginação e procurar
trazer a lembrança registros mentais fortes e, preferencialmente, positivos.

Os pensamentos negativos produzem uma reação fisiológica


correspondente, com queda da força, potência e tolerância ao esforço,
acompanhadas de tremores, imprecisão e grandes descargas de cortisol. Sendo
assim, deve se procurar com que pensamentos negativos ou inapropriados devam
ser substituídos imediatamente por pensamentos positivos ou mais apropriados para
que se preserve o desempenho.

Algumas vezes, uma simples mudança de pensamento pode não ser


suficiente, sendo necessário construir sólidos argumentos contra as manifestações
negativas; isso é que se chama de técnica da contradição, quando o indivíduo não
aceita pensamentos negativos muito fortes e passa a contra-argumentar contra elas.
Quanto mais concretas forem essas argumentações, tão mais bem sucedida será a
técnica da contradição.

Personalidade

Personalidade para Weinberg e Gould (1999) pode ser entendida como o


conjunto de todas as características que fazem de cada pessoa uma pessoa
única.Esse conceito acaba permitindo um elevado número de teorias sobre a
personalidade.

Entretanto as discussões e relações entre esporte e personalidade são


centralizadas a partir de três hipóteses que tentam explicar a associação entre
esporte e personalidade:

A Hipótese de seleção sugere que o esporte é um fator de seleção.


Determinadas pessoas sentem-se atraídas por atividades com as quais se mostram
mais identificados. Nesta hipótese, pessoas agressivas buscam esportes de
combate ou lutas. Indivíduos que não apresentam qualquer competitividade ou baixa
tolerância a dor, evitam o alto rendimento e buscam atividades direcionadas à
aptidão física e saúde.

A Hipótese de socialização defende que a atividade desportiva interfere a


personalidade e seu desenvolvimento. A partir da prática desportiva o individuo
desenvolve aspectos de liderança

A Hipótese de interação sugere uma interação recíproca entre a seleção e a


socialização. Sendo assim o indivíduo tímido pode buscar uma modalidade
individual e acaba ficando ainda mais intrínseco; um atleta agressivo por natureza
procura uma modalidade de luta e se torna ainda mais agressivo.
CONCLUSÃO

Parece-nos inquestionável e fundamental que as categorias profissionais


precisam de um código de ética profissional para que a profissão possa ser exercida
de uma forma regulamentada.
Além disso, o código dá aos indivíduos profissionais uma clareza sobre como
atuar correta e legalmente, além de possibilitar que a categoria possa se proteger
contra os maus profissionais na perspectivas ainda de defesa da sociedade como
credora e consumidora dos serviços específicos prestados pelas inúmeras
categorias profissionais.
Sendo assim, um sentido que encontramos na sociedade é o de conjunto de
normas de comportamentos morais que regem uma comunidade ou um grupo social.
Este sentido da ética, ou também conhecido como a moral, tem semelhança
com a ética profissional, só que não se refere somente a uma categoria profissional
e não é tão codificada.
Todos os grupos sociais necessitam de um conjunto de valores e normas
morais que possibilitem uma convivência intragrupal. E um dos valores importantes
da moral de um grupo é a solidariedade entre os membros do mesmo grupo.
Solidariedade que nasce em parte da consciência de pertencer a um mesmo
grupo e de compartilhar os meus valores e normas e que permite a reprodução e o
desenvolvimento do grupo.
Na perspectiva e no lócus desse grupo, a busca pelo entendimento do seu
universo particular e as emoções e posturas comportamentais de seus sujeitos é um
importante caminho para o desenvolvimento de metodologias que visem caminhos e
respostas para a resolução de problemas inerentes ao desempenho individual e
melhor qualificação das ações coletivas que sugerem uma melhora nas
competências específicas do desempenho esportivo.
Desta forma recomenda-se a todos os envolvidos de forma direta ou indireta
no processo de orientação da atividade física a importância do entendimento e
leitura das emoções como manifestações singulares da complexidade humana e que
carecem da devida atenção e acompanhamento profissional capacitado.
REFERÊNCIAS

BECKER, B. e SAMULSKI, D. Manual de treinamento psicológico para o esporte.


Porto Alegre: Edelbra, 1998.

CAPITANEO, A.M. Contexto social esportivo: fonte de stress para a mulher. Revista
Digital. Buenos Aires,10, 78, 2004.

CONGRESSO NACIONAL DO BRASIL. Lei 9696/98. Brasília, 1998.

CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Código de Ética profissional.


Resolução 56. Rio de Janeiro, 2003.

CRUZ, J.F. Stress, ansiedade e rendimento na competição desportiva. Braga,


Lusografe, 1996.

GOULD, D. e MAYNARD, I. Psychological preparation for the Olimpic Games.


Journal of Sports Sciences, 27 (13), 1393-1408, novembro/2009.

GOULD, D; EKLUND, R.C. e JACKSON, S.A. Copping strategies used by U.S.


Olympic wrestlers. Research Quaterly for Exercise and Sport, 64, 83-93, 1993.

GRUHN, A.A. (org.) FIEP 60 anos no Brasil. Belo Horizonte: Casa da Educação
Física, 2009.

HARRIS, D.V. Técnicas de relajacion e energetización para la regulacion del


arousal. In: WILLIANS, J.M. Psicologia aplicada al deporte. Madrid, Biblioteca
Nueva, 1991. 471-92.

KELLER, B. Estudo comparativo dos níveis de cortisol salivar e estresse em


atletas de luta olímpica de alto rendimento. Dissertação de mestrado, curso de
Educação Física, Universidade Federal do Paraná. Curitiba. 2006.

KELLMANN, M; KALLUS, W.K; SAMULSKI, D.M; COSTA, L.O.P; SIMOLLA, R.A.P.


Questionário de stress e recuperação para atletas (RESTQ-76 Sport): manual
do usuário. Belo Horizonte: Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia
Ocupacional, 2009.

McGRATH, J. Stress und Verhalten in Organizationen. In: NITSCH, J. Stress:


Theorien, Untersuchugen und Massnahmen. Bern Stuttgart: Verlag Hans Huber,
441-500, 1981.

NIDEFFER, R.M. Entrenamiento para el control de la atencion y la concentración. In:


WILLIANS, J.M. Psicologia aplicada al deporte. Madrid, Biblioteca Nueva, 373-91,
1991.

RAVIZZA, K. Incremento de la toma de conciencia para el rendimiento en el deporte.


In: WILLIANS, J.M. Psicologia aplicada al deporte. Madrid, Biblioteca Nueva, 231-
44, 1991.
ROBAZZA, C. e BORTOLI, L. Mental preparation strategies of Olympic archers
during competition: An exploratory investigation. High Abilities Psychology, 9, 219-
235, 1998.

SAMULSKI, D. M. Psicologia do esporte: Teoria e aplicação prática. Belo


Horizonte: Imprensa Universitária/UFMG, 1995.

SAMULSKI, D. M; CHAGAS, M.H; NITSCH, J.R. Stress - teorias básicas. Belo


Horizonte: Editora gráfica Costa e Cupertino LTDA. 1996.

SAMULSKI, D. Psicologia do Esporte: Conceitos e Novas Perspectivas. 2ª. Ed.


Barueri, SP: Manole, 2009.

SELYE, H. The stress of life. 2a. ed. New York: McGraw Hill Co, 1978.

STEFANELLO, J.M.F. Treinamento de Competências Psicológicas: em busca de


excelência esportiva. Barueri, SP: Manole, 2007.

TAYLOR, M.K; GOULD, D. e ROLO, C. Performance strategies of U.S. Olympians in


practice and competition. High Abilities Psychology, 19, 15-32, 2008.

TOJAL, J.B. e BARBOSA, A.P (organizadores). A ética e a bioética na preparação


e intervenção do Profissional de Educação Física. Belo Horizonte: Casa da
Educação Física, 2006.

VASCONCELLOS, E.G. O prazer e a dor do corpo em estresse. Instituto de


Psicologia. USP, São Paulo, 1995.

WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do


Exercício. 2ª. Ed, Porto Alegre: Artmed, 2001.

Você também pode gostar