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FACULDADES SOUZA MARQUES

CURSO: ENGENHARIA CIVIL – 5º PERÍODO


DISCIPLINA: CONSTRUÇÃO CIVIL

NOTAS DE AULA DO ASSUNTO: LOCAÇÃO DA OBRA (extraída do livro Prática das


Pequenas Construções, V1)

Locação de estacas
Os diversos detalhes de um projeto sobre o terreno são mostrados pelas paredes que aparecem na
planta. Porém, desde que haja necessidade de estaqueamento, a posição da estaca deve ser fixada
inicialmente. Só depois do estaqueamento pronto, locaremos as paredes. Devemos lembrar que o bate-
estacas, como máquina extremamente pesada, e que é transportada arrastando-se no terreno, des-
mancharia qualquer locação prévia das paredes.
Para locação das estacas, convém preparar uma planta desse detalhe, tal como aparece na
Figura 5-2. Notem a preocupação de se escolher uma origem para os eixos de coordenadas
ortogonais, e as distâncias marcadas sobre eles serão, portanto, acumuladas desde a referida origem.
Para construções que possuem estruturas de concreto, caberá ao escritório de cálculo o fornecimento
da planta de locação das estacas. No local, providenciamos a colocação de tábuas ou sarrafos em volta de
toda a área de construção formando um retângulo. Os sarrafos devem ser colocados inteiramente
nivelados. Sobre os sarrafos serão medidas as diversas distâncias marcadas na planta, fixando por
intermédio de cravação de pregos os mesmos pontos nos lados opostos do retângulo. Isso faz com que
uma estaca exija a colocação de quatro pregos sobre os sarrafos, como mostra a Figura 5-3. A estaca X
tem seu local fixado pela interseção de duas linhas esticadas: uma do prego l ao 2 e outra do 3 ao 4.
Caso sejam diversas estacas no mesmo alinhamento, o mesmo par de pregos servirá para todas elas.
Depois de terminada a cravação de todos os pregos necessários, esticaremos linhas duas a duas e as
interseções estarão no mesmo prumo do local escolhido pelo projeto para a cravação da estaca.
Porém, como o cruzamento das linhas poderá estar muito acima da superfície do solo, por intermédio
de um prumo levamos a vertical até o chão e nele cravamos pequena estaca de madeira (piquete),
geralmente de peroba, com 2,5 x 2,5 cm e 15 cm de comprimento. Esse piquete deverá ser pintado com
uma cor berrante (laranja) para sua fácil identificação posterior. O piquete deve ser cravado até o nível
do chão, para que o bate-estacas não o arranque ao passar sobre ele.

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Locação das paredes
Tanto a locação das paredes como a das estacas deve, de preferência, ser executada pelo próprio
engenheiro. Uma locação deficiente trará desarmonia entre projeto e execução, cujas consequências
poderão ser bem graves. Caso na obra haja um mestre de obras experiente, a locação pode ser feita por

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ele, desde que verificada as suas partes básicas (esquadros perfeitos e comprimentos totais exatos)
pelo engenheiro.
Devemos marcar as posições das paredes pelo eixo, para que haja distribuição racional das diferenças
de espessura da parede, no desenho e na realidade. Nas plantas, é hábito desenhar as paredes de um
tijolo com 25 cm de espessura. Sabemos que na execução depois do revestimento, fica com espessura
27 ou 28 cm. As paredes de meio tijolo aparecem nos desenhos com 15 cm e na execução com 14 cm.
Essas diferenças, isoladamente são insignificantes, porém acumuladas representam considerável
modificação entre projeto e execução, caso não sejam bem distribuídas. A melhor forma de
distribuição será a locação das paredes pelo eixo e não por uma das faces. A seguir, como exemplo, as
Figuras 5-4, 5-5 e 5-6 explicam a razão do fato.
Na Figura 5-4 aparece o trecho de construção tal como é desenhado na planta construtiva. A Figura
5-5 mostra o resultado da locação pelas faces das paredes, e nota-se que a diferença total de 3 cm foi
acumulada na sala 2.
Na Figura 5-6 aparece o resultado da locação pêlos eixos, notando-se que a diferença de 3 cm total
foi distribuída pelas duas salas e pêlos dois recuos laterais, de forma a não modificar sensivelmente o
projeto.

Além dessa vantagem, teríamos menor risco de confusão por parte dos pedreiros, uma vez que
sabemos que todos os alinhamentos marcados representam o eixo das paredes e, portanto, os tijolos
serão colocados metade para cada lado. Marcando pelas faces, poderia surgir dúvida quanto a parede
ser de um ou de outro lado do alinhamento marcado.

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Quanto ao processo de fixação dos alinhamentos no terreno, são conhecidos dois processos:
1. Processo dos cavaletes
Os alinhamentos são fixados por pregos cravados em cavaletes. Estes são constituídos de duas
estacas cravadas no solo e uma travessa pregada sobre elas. A Figura 5-7 mostra como o
alinhamento da parede foi estabelecido por intermédio de dois cavaletes opostos.
Deve-se, tanto quanto possível, evitar tal processo, em função dos cavaletes serem facilmente
deslocados por batidas de carrinhos de mão, pontapés, por exemplo, sem que tal mudança seja
notada.

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Só se justifica o uso de cavaletes em construção muito pequena, em que os "alinhamentos
permanecem fixados nos cavaletes poucas horas e logo são levantadas as paredes (construção de
dormitórios de criada, garagem etc.).
2. Processo da tábua corrida
Consiste na cravação de pontaletes de pinho (3" x 3" ou "3 x 4"), distanciados entre si em 1,50
m aproximadamente, e afastados das futuras paredes cerca de 1,20 m. Esses pontaletes servirão
mais tarde para o erguimento de andaimes, sempre necessários. Nos pontaletes serão pregadas
tábuas sucessivas, formando uma cinta em volta da área a ser construída. As tábuas deverão estar
estendidas em nível, para que se possa esticar a trena sobre elas. Pregos fincados nas tábuas
determinam os alinhamentos.
Não há dúvida de que o deslocamento dos pontos marcados desse modo é impossível e,
considerando que os pontaletes serão usados para andaimes, não haverá perda de tempo. Esse
processo é considerado o ideal.
A locação deve ser procedida com trena de aço, a única que nos merece fé. É proibido o uso de
trena de pano, já que estica a vontade de quem a usa (pode-se empregar também trena de plástico).
Para perfeito esquadro entre dois alinhamentos, devemos usar o teodolito. Atualmente é
empregado equipamento a raio laser com leitura ótica.
Desde que se fixem dois alinhamentos ortogonais com o aparelho, os pontos restantes podem ser
marcados com trena de aço. É hábito, ao terminarmos a locação, estendermos linha em dois
alinhamentos finais e verificar a exatidão do ângulo reto com o aparelho. Se o primeiro e o último
esquadros estiverem perfeitos, os intermediários também estarão, salvo engano facilmente visível e
retificável.
A Figura 5-8 mostra um trecho de construção locada pelo processo de tábua corrida.
Ponto A, que servirá de referência de distância e nível. (Figura -5-9)

Desde que apenas o eixo foi demarcado, caberá ao mestre a colocação de pregos laterais que
marquem a largura necessária para a abertura da vala, do alicerce e da parede. A Figura 5-10 mostra
um conjunto de pregos que 2 a 2 marcam com 20 cm a largura da parede (só tijolos, sem revestimento),
com 30 cm a largura do alicerce (de um tijolo e meio) e com 45 cm a largura da vala. Este último
par de pregos pode ser dispensado, já que os pedreiros abrem a vala um pouco maior do que a
largura do alicerce. A recomendação é que os pregos utilizados sejam sempre diferentes (menores) do
que aquele que marca o eixo, para evitar confusão.
Execução do esquadro no gabarito, utilizando o processo do triângulo re-tângulo 3-4-5. (Figura
5-11) Nivelamento do gabarito com nível de pedreiro ou nível de mangueira. (Figura 5-12) Locação de
um ponto específico (cruzamento de eixos). (Figura 5-13)

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Geralmente, o engenheiro preocupa-se com a falta de exatidão na colocação da tábua estendida
em volta da obra, quando esta é feita pelo mestre de obra. Queremos mostrar em um exemplo que
esta preocupação é injustificada; em outras palavras: a falta de precisão nos ângulos retos e no
nivelamento das tábuas não significa valor apreciável. Supomos que o mestre de obra ao colocar as
tábuas cometa o erro que aparece na Figura 5-14, ou seja, ao colocá-las em redor da área a ser
locada, acertou em todas as medidas, exceto que na tábua dos fundos (10 m 30) errou em 30 cm.
Verifique a consequência deste erro na locação das paredes que aparecem na Figura 5-15. Para não
tornarmos a solução muito longa, vamos verificar quais os erros cometidos na locação dos eixos 2-2
(longitudinal) e C-C (transversal).
Solução:
O eixo 2-2 não será afetado, não aparecendo nenhum erro, isto porque ele será marcado a partir
do eixo 1-1, e este, por sua vez, a partir do alinhamento lateral do lote, que nada tem a ver com a
tábua lateral esquerda, que se encontra mal colocada.
Quanto ao eixo C-C, este será afetado pêlos erros que aparecem na Figura 5-16 (ex e ey). Nesta
figura verificamos que deveriam ser medidos os 5 m ao longo do alinhamento SR, e, no entanto, foram
marcados 5 m no alinhamento SM.

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Ora, o erro ex = 0,10 não afetará o levantamento das paredes, pois, sendo a linha esticada entre os
pregos C-C, sua posição somente será afetada pelo erro em y ou seja ey = 0,001 (desprezível). Isso
mostra que a tábua corrida em volta da construção poderá ser colocada pelo mestre de obra, mesmo
sabendo que serão cometidos erros nos ângulos retos e nos nivelamentos, uma vez que o mestre de
obra não possui os recursos (teodolito e nível topográfico) do engenheiro e usará o sistema 3-4-5 ou
esquadro de pedreiro e o nível com tubo de plástico cheio d'água (vasos comunicantes).
Terminando este capítulo, apresentamos a planta de execução de uma casa térrea de área
relativamente grande: 322 m2 em terreno de 24 m x 30,30 m = 727,2 m2. (Figura 5-17) E, logo a

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seguir, o preparo das coordenadas para locação dos eixos das paredes, aliás em grande quantidade. No
sentido transversal são 19 eixos, e no sentido longitudinal também 19 eixos. Esse preparo merece um
cálculo cuidadoso, para serem evitados enganos. Seria interessante que os leitores fizessem o seu
próprio cálculo, como treino, precavendo-se principalmente nos locais onde se juntam duas paredes,
uma de um tijolo com outra de meio tijolo, na mesma direção e com uma das faces em comum. Essa
obra foi depois facilmente locada, sendo gastas apenas três horas no local. Tanto a planta como o
preparo das coordenadas são mostradas a seguir.
Em seguida, sequência ilustrativa das etapas que compõem os serviços de locação de uma obra.

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REFERÊNCIAS
 BORGES, Alberto de Campos. Prática das Pequenas Construções. V1. Editora Blücher,
2009.

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