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Introdução
Nos domínios da História, da Geografia e das Ciências Sociais, têm vindo a ser publicadas,
desde 1986 , pelo INRP, as Actas dos Encontros ( anuais ) sobre a Didáctica da História , da Geografia,
das Ciências Económicas e Sociais.
Em 1 de Outubro de 1990 foi criado no INRP - Institui National de Recherche Pédagogique -
o Departamento das "Didácticas das disciplinas ", constituído por nove "unidades de investigação-:
Unidade "Didáctica das Matemáticas ". Unidade "Didáctica do Francês e da Filosofia ', Unidade
"Didácticas da História , Geografia e Ciências Sociais", Unidade "Didácticas das Línguas Vivas",
Unidade " Didáctica das Ciências Experimentais ", Unidade " Didáctica da Educação Física e
Desportiva e dos Ensinos Artísticos ", Unidade " Processos Cognitivos e Didácticas dos Ensinos
Tecnológicos ", Unidade " Didáctica das Aprendizagens de Base", e Unidade " Didáctica e Formação
de Professores".
Sobre a controvérsia em tomo das didácticas específicas veja- se: BAILLY , D. - "A propos
de Ia didactique " in Les Sciences de l'E,ducation , n° 1-2/1987 : 37-51; MARTINAND. J.-L. -
"Quelques remarques sur les didactiques de disciplines " in Les Sciences de l'Éducation , n° 1-2/
1987:23-35; e MIALARET, G. - "Les sciences de I'éducation et les didactiques " in Les Sciences
de l'Éducation , n° 1-2/1987:13-22; e ROPE , F. - "Didactiques spécifiques , didactique générale et
sciences de I'éducation " in Les Sciences de l'Éducation , 2/1989:5-21.
3 O relatório elaborado por J . Derrida e J . Bouveresse sobre o ensino da filosofia , publicado
em 1989, refere - se explicitamente à necessidade de uma reflexão didáctica.
Nos recém -criados IUFM - Instituis Universitaires de Formation des Maitres - os candidatos
ao concurso de recrutamento de professores são obrigados a abordar os problemas didácticos
disciplinares respectivos.
Nos estágios do MAFPEN , em Montpellier , em Toulouse , em Nice, em Creteil , etc, tem sido
posta com insistência a questão da possibilidade e da necessidade de uma didáctica específica da
filosofia.
Na sequência de muitos cursos de pós-graduação conducentes aos DEA - Diplome d'Études
Aprofondis - e aos doutoramentos , começam a surgir trabalhos que contêm elementos relevantes
para uma didáctica da filosofia.
No INRP - Institui National de Recherche Pédagogique - a instituição francesa mais
importante nos domínios da investigação em educação - foi criada recentemente uma unidade de
investigação designada " Didáctica do Francês e da Filosofia".
Em diversas publicações periódicas vêm aparecendo , desde há já vários anos, "dossiers"
temáticos sobre o ensino da filosofia que tratam explicitamente de uma didáctica da filosofia. Cf.
Zeitschrift für Didaktik der Philosophie , Philosopher (Lavai), Cahiers Pédagogiques , Dialogue
(GFEN ), Revista de Filosofia y Didáctica Filosófica, e Paideia ( Soc. Esp . de Prof. s de Filosofia de
Instituto).
4 Durante os anos lectivos de 1989/ 1990 e 1990/1991 , M. Tozzi orientou , na Universidade Paul
Valery- Montpellier III, dois seminários sobre didáctica da filosofia , donde sairam as brochuras
"Enseigner Ia philosophie aujourd ' hui / (89 - 90) e // (90 - 91), publicadas pelo Departamento de
Ciências de Educação daquela universidade . Nos meses de Julho de 1991 e de 1992 , M. Tozzi
coordenou , em colaboração com Yveline Fumai , responsável pelos Departamentos de Formação de
Professores e de Ciências da Educação, as Universités d'Été, jornadas que deram lugar a uma vasta
documentação reunida nos volumes Apprendre à Philosopher 1. Contributinn à une Didactique de
Ia Philosophie (Université d'Été 91) e Apprendre à Philosopher. 11- La prise en compte des
repré.sentatians de l'élève. (Université d'Été 92). Retomando alguma documentação já publicada nas
brochuras anteriores, acrescida de outros textos, saiu, ainda em 1992, a brochura 88-92: Contribution
à une Didactique de l'Apprenti.ssage du Philosopher. Trace d'une recherche collective. Université
Paul Valery- Montpellier 111.
Também em 1992, da autoria de M. Tozzi e outros foi publicada, na Librairie Hachette, a obra
Apprendre à Philosopher dans le s Lycées d'Aujoud'hui.
Para dar sequência a este projecto foi criada entretanto a ARDAP - A.ssociation pour Ia
Recherche en Didactique de l'Apprenti.ssage du Philosopher
M. Tozzi, o principal responsável por estas iniciativas, que apresentara , já em 1989, na
Universidade Lyon 11, para a obtenção de um DEA, a tese Enseigner Ia philosophie aujourd'hui,
apresentou , em Junho de 1992, na mesma Universidade, sob a orientação do Prof. Philippe Meirieu,
a sua tese de doutoramento intitulada justamente Vers une Didactique de l'Apprentissage du
Philosopher.
5 Para além do presente projecto de uma didáctica específica da filosofia não temos
conhecimento , em França, de qualquer outro . Até no INRP, onde foi criado e funciona desde há
alguns anos o referido Departamento de "didáctica das disciplinas ", presentemente em grande
actividade , nunca existiu nem existe qualquer projecto de investigação em didáctica da filosofia, não
obstante uma das unidades de investigação do departamento de didácticas das disciplinas se
denominar precisamente " Didáctica do Francês e da Filosofia". A única actividade em curso, no
INRP, no âmbito do ensino da filosofia é um seminário que vem decorrendo , desde 1991 , subordinado
ao tema "Philosophie : dissertation sur texte", sob a orientação de M11c F. Raffin.
6 Cf. TOZZI, M. et al. - Apprendre à philosopher dans les lycées d' aujourd ' hui. Paris,
Hachette /CRDP Lille, 1992, pp. 24-26.
aluno para aluno. Por estas razões exige-se do professor de filosofia que diver-
sifique os seus métodos e as suas estratégias pedagógicas. A aula expositiva, a
chamada lição, não pode ser tida senão como uma das muitas possibilidades de
gerar situações de ensino-aprendizagem.
O mínimo que se poderá dizer é que uma tal definição é controversa e insu-
ficiente.
Controversa e insuficiente por reduzir o pensamento, independentemente de
ser filosófico ou não, às três operações referidas. O pensamento é uma totalidade
complexa, global e unitária, não decomponível mecanicamente numas quantas
operações intelectuais ou nuns tantos processos cognitivos.
Controversa e insuficiente também por pressupor uma independência das
operações e dos processos cognitivos relativamente aos conteúdos. Em todas as
áreas disciplinares há conhecimentos básicos que configuram epistemolo-
gicamente esses saberes específicos e sem os quais já não se pode falar em Física,
Matemática, Geografia ou Filosofia. Em filosofia esta separação é particular-
mente grave. Não há iniciação ao filosofar que não exija uma cultura e uma
informação filosóficas que incida sobre os textos e os autores clássicos e actuais.
Sem esta referência fundamental já não estamos em filosofia, mas fora dela.
Controversa e insuficiente ainda por reduzir a aprendizagem do filosofar à
sua dimensão puramente formal ou técnica. Reduzir os objectivos do ensino da
filosofia aos três objectivos nucleares assinalados (conceptualizar, problematizar
e argumentar), por mais importantes que sejam (e são-no efectivamente), seria
reduzir a filosofia a uma sofística. De resto, essas operações constituiram já a
base curricular do programa sofista. Elas podem também ser tomadas, hoje, como
os grandes objectivos de um qualquer programa de retórica ou de um qualquer
curso de argumentação persuasiva. O Programa "Filosofia para Crianças"
de Matthew Lipman ou o "Projecto Inteligência" da Universidade de Harvard
regem-se por objectivos e pressupostos semelhantes.
Controversa e insuficiente, para terminar, porque, mesmo do ponto de vista
formal ou técnico, seria necessário acrescentar aos três objectivos nucleares
outros igualmente indispensáveis ao trabalho filosófico, tais como a análise e
comentário de textos, a dissertação, etc.
Diga-se, em segundo lugar, que não se encontra em toda a documentação
publicada até ao presente uma resposta para as questões primeiras que uma
didáctica da filosofia levanta e que o próprio M. Tozzi, num artigo publicado
em 1989, no n° 270 dos Cahiers Pédagogiques, 12 colocou nos seguintes termos:
" - Uma investigação em ciências da educação será filosoficamente
autorizada em didáctica da filosofia?
- Uma vez que a filosofia se situa ao nível do fundamento e não podendo
receber fundamento senão de si mesma, poder-se-á fazer uma investigação em
didáctica da filosofia que não seja filosófica?
- Poderá haver lugar a uma didáctica da filosofia que não seja
prioritariamente filosófica?
- Poderá haver lugar a uma didáctica da filosofia que não pressuponha uma
determinada filosofia da educação?