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Introdução
Desde sua formação, o Estado brasileiro se consolidou como um país que teve seu
processo de desenvolvimento pautado pelas desigualdades socioeconômicas que
se leem através das regiões e suas diferenças no processo produtivo e de
acumulação. Quando o eixo econômico se transportou dos canaviais do Nordeste
para os cafezais do Sudeste há mais de um século, os estados dessa região e, em
menor escala, os do Sul, concentram o capital industrial, inclusive os de maior
dinamismo econômico, e detém boa parte da produção fabril brasileira.
Teoria
A partir de 1930, São Paulo, por ser a região mais avançada, tende a comandar o
processo de crescimento econômico promovendo a integração dos mercados. Esse
processo se dá muito por uma questão de localização geográfica privilegiada.
Desde os anos 20, as facilidades do território paulista podem ser caracterizadas
pelo entroncamento ferroviário que havia se constituído ali nos últimos anos,
resultado do processo de fortalecimento do comércio interno. A vantagem logística
deu para São Paulo a dianteira para que o estado tivesse um desenvolvimento
superior aos outros. Daí em diante, as outras regiões tem no relacionamento com o
estado de SP um fator decisivo em suas evoluções.
Cano também traz um resumo desse processo produtivo de crescimento da
indústria em 3 tendências: aprofundamento da indústria; concentração destas em
grandes capitais como SP e o desequilíbrio da divisão do excedente de produção. A
nível nacional, a indústria paulista era considerada como a que emprega mais
operários e que tem maiores níveis de produção por pessoa, ou seja, operários mais
capazes de gerar valor em comparação a outras regiões do Brasil.
Análise
Buscando entender como o Governo Federal, por meio das suas Cartas Magnas,
pode operar na diminuição das desigualdades regionais, analisamos os títulos de
tributação e orçamento referentes aos repasses da União para os Estados e
Municípios.
“Art 26 - Do produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 22, n.º s IV e V, oitenta por
cento constituem receita da União e o restante distribuir-se-á, à razão de dez por cento, ao Fundo de
Participação dos Estados e do Distrito Federal, e dez por cento, ao Fundo de Participação dos
Municípios.”
No ano seguinte, o artigo foi alterado e detalhado, reduzindo ainda mais os recursos
destinados aos Estados e Municípios
“Art. 26 - Do produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 22, nºs IV e V, a União
distribuirá doze por cento na forma seguinte:
Até esse período, nenhuma medida de transferência de renda direta específica para
regiões menos desenvolvidas era citada, pelo menos não em texto constitucional. É
só com a constituição de 1988 que esse cenário começa a mudar.
Passados 20 anos, a sociedade brasileira já tem maior compreensão dos níveis das
desigualdades brasileiras, sobretudo as regionais. A necessidade da atuação do
Estado em reduzir essas desigualdades através de transferência de renda, em
especial a renda vinculada a fatores de desenvolvimento, torna-se cada vez mais
inequívoca. Essa nova compreensão do estado fica explícita no artigo 159, item I,
alínea "c":
I - do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre
produtos industrializados, quarenta e sete por cento na seguinte forma:
a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito
Federal;
b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao Fundo de Participação dos Municípios;
c) três por cento, para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através de suas instituições financeiras de caráter regional, de
acordo com os planos regionais de desenvolvimento, ficando assegurada ao semi-árido do Nordeste
a metade dos recursos destinados à Região, na forma que a lei estabelecer;”
É nesse artigo específico que surge o primeiro grande esforço do Governo, através
de dispositivo constitucional, de combater diretamente o subdesenvolvimento
regional. Além do percentual de 3% acrescido especialmente a região Norte,
Nordeste e Centro-oeste, o repasse é direcionado à aplicação em "programas de
financiamento ao setor produtivo". Mais tarde, essa mesma redação terá o valor do
produto arrecadado reajustado de 47% para 48% e 49% até os dias atuais.
Art. 1° O cálculo, a entrega e o controle das liberações dos recursos do Fundo de Participação
dos Estados e do Distrito Federal - FPE e do Fundo de Participação dos Municípios - FPM, de que
tratam as alíneas a e b do inciso I do art. 159 da Constituição, far-se-ão nos termos desta Lei
Complementar, consoante o disposto nos incisos II e III do art. 161 da Constituição.
Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, integrarão a base de cálculo das
transferências, além do montante dos impostos nele referidos, inclusive os extintos por compensação
ou dação, os respectivos adicionais, juros e multa moratória, cobrados administrativa ou
judicialmente, com a correspondente atualização monetária paga.
Art. 2° Os recursos do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal - FPE serão
distribuídos da seguinte forma:
I - 85% (oitenta e cinco por cento) às Unidades da Federação integrantes das regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste;
II - 15% (quinze por cento) às Unidades da Federação integrantes das regiões Sul e Sudeste.
“Art. 1o O art. 2o da Lei Complementar no 62, de 28 de dezembro de 1989, passa a vigorar com
a seguinte redação:
“Art. 2o Os recursos do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE), observado o
disposto no art. 4o , serão entregues da seguinte forma:
II - a partir de 1o de janeiro de 2016, cada entidade beneficiária receberá valor igual ao que foi
distribuído no correspondente decêndio do exercício de 2015, corrigido pela variação acumulada do
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou outro que vier a substituí-lo e pelo
percentual equivalente a 75% (setenta e cinco por cento) da variação real do Produto Interno Bruto
nacional do ano anterior ao ano considerado para base de cálculo;”
Conclusão
Dentro uma análise que busque menos culpabilizar e muito mais entender os fatores
que levam a uma organização e desenvolvimento desigual do nosso território,
concluímos que os desequilíbrios regionais são, em suma, o resultado de um
processo de divergência nas taxas de expansão de um estado para o outro, que se
apoia numa lógica capitalista de localização industrial visando maiores lucros de
produção. O que existe por trás de outras teorias é um mito de estagnação de
regiões em detrimento de outras, sem levar em consideração as verdadeiras causas
da miséria e do desemprego de regiões mais marginalizadas do nosso país, em
termos de acumulação de capital. Podemos citar a estrutura fundiária e o capital
Mercantil como causas que forjam essa teoria.
Bibliografia
BRASIL. Lei Complementar nº 143, de 17 de julho de 2013. Altera a Lei Complementar no
62, de 28 de dezembro de 1989, a Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código
Tributário Nacional), e a Lei no 8.443, de 16 de julho de 1992 (Lei Orgânica do Tribunal de
Contas da União), para dispor sobre os critérios de rateio do Fundo de Participação dos
Estados e do Distrito Federal (FPE); e revoga dispositivos da Lei no 5.172, de 25 de outubro
de 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp143.htm#art1>