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SOCIEDADE DE ENSINO SUPERIOR DE SERRA TALHADA

FACULDADE DE INTEGRAÇÃO DO SERTÃO


COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO

YARA NUNES DE CARVALHO

O REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL: Uma análise sistemática e as


dificuldades de acesso pelos trabalhadores.

Serra Talhada
2019
YARA NUNES DE CARVALHO

O REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL: Uma análise sistemática e as


dificuldades de acesso pelos trabalhadores.

Monografia Jurídica apresentada à disciplina


intitulada de Trabalho de Conclusão de Curso do
curso de Bacharelado em Direito, da Faculdade de
Integração do Sertão – FIS como requisito parcial
para a aquisição do título de Bacharel em Direito,
sob a orientação do Prof. Ms. Isaac Ribeiro Luna.

Serra Talhada
2019
YARA NUNES DE CARVALHO

O REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL: Uma análise sistemática e as


dificuldades de acesso pelos trabalhadores.

Monografia Jurídica apresentada à disciplina


intitulada de Trabalho de Conclusão de Curso do
curso de Bacharelado em Direito, da Faculdade de
Integração do Sertão – FIS como requisito parcial
para a aquisição do título de Bacharel em Direito,
sob a orientação do Prof. Ms. Isaac Ribeiro Luna.

Monografia ____________________ pela banca examinadora, _______ ressalvas


(Aprovada/Reprovada) (com/sem)

com nota ________ (_______________)

em ____ de _________________ de _________

Banca Examinadora:

______________________________________________
Examinadora: Ms. Welison Araújo Silveira
Faculdade de Integração do Sertão – FIS

______________________________________________
Examinador: Ms. Ítalo Wesleyde Oliveira Lima
Faculdade de Integração do Sertão – FIS

____________________________________________
Orientador: Ms. Isaac Ribeiro Luna.
Faculdade de Integração do Sertão – FIS
A minha mãe, Ione, que me apoia e me conduz para o
caminho do saber!
AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente a Deus, por ter me concedido saúde, força, disposição e


iluminação durante a trajetória deste caminho. Sou imensamente grata por todas as bênçãos que
recaíram, não só sobre mim, mas também sobre todos aqueles que amo.
Agradeço aos meus pais, Ione e Sebastião, por sempre terem me proporcionado o melhor
que eles poderiam oferecer, conjugado com apoio, força e amor incondicional. Sem vocês a
realização desse sonho não seria possível. As minhas irmãs, Julia e Laura, por sempre me
impulsionaram a buscar meus sonhos e que fizeram de tudo para tornar os momentos difíceis
mais brandos, eu jamais serei capaz de retribuir todo carinho, amor e incentivo.
Externo agradecimentos ao meu companheiro Cledson, que nunca me negou apoio,
carinho e incentivo. Sempre se desdobrando em esforços para me ajudar durante a elaboração
desse trabalho, sem você este trabalho não seria possível.
Agradeço ao meu orientador Prof. Ms. Isaac Luna por ser sempre solícito e ter me
ajudado com importantes orientações para a realização deste trabalho.
“Quando alguém compreende que é contrário à sua
dignidade de homem obedecer a leis injustas, nenhuma
tirania pode escravizá-lo”.

(Mahatma Gandhi)
RESUMO

Dentro das políticas de acesso a previdência social existe milhões de trabalhadores que não
conseguem ter acesso a essa política, justamente por não se enquadrarem aos requisitos que
garantem benefícios. O Brasil tem um classe trabalhadora que constitui-se por imigrantes e
escravos libertos, no qual o escravo foi posto em uma nova organização de trabalho sem ter
tempo para se adaptar, restando os piores postos. Com a crise econômica que assolou o
mercado, as relações de trabalho formal ficaram cada vez mais fragilizadas. Utilizou-se o
referencial teórico de Karl Marx, O Capital: critica a economia política, que coloca o
proletariado como figura que fundamenta a sociedade. Com o objetivo de mostrar que as
instituições da Previdência Social acabam por excluir os trabalhadores que não possuem um
trabalho formal, estipulando requisitos no qual uma parte dos trabalhadores ficam desassistidos,
tendo seus direitos fundamentais desrespeitados. Empregando-se a método dedutivo,
analisando informações que utiliza o raciocínio lógico e a dedução para se chegar a conclusão.
A Constituição Federal de 1988 proporcionou um destaque para os direitos sociais, inovando
na proteção dos trabalhadores, no entanto, desde a sua promulgação tais direitos sofre
repressões e dificuldade na efetivação. Não bastando toda exclusão operacionalizada pelo
sistema previdenciário o poder executivo tende a piorar essa situação sempre realizando
reforma que retira a segurança jurídica dos trabalhadores, segurança que é fundamental nas
relações de trabalho, que com muito sacrifícios foram conquistados, desde constitucionalização
dos direitos previdenciários que se observa o desrespeito desses diretos, por parte de todos os
governantes que já se tive desde promulgação constitucional.

Palavras-chaves: Previdência social. Reformas. Seguridade Social. Classe trabalhadora.


Constituição Federal.
ABSTRACT

Within the policies of access to social security there are millions of workers who can not access
this policy, precisely because they do not fit the requirements that guarantee benefits. Brazil
has a working class that consists of immigrants and freed slaves, in which the slave was placed
in a new work organization without having time to adapt,occupying the worst places. With the
economic crisis that plagued the market, formal labor relations became increasingly fragile. The
theoretical reference of Karl Marx, The Capital, was used: criticizes the political economy, that
puts the proletariat like figure that bases the society. With the aim of showing that Social
Security institutions end up excluding workers who do not have a formal job, stipulating
requirements in which part of the workers are helpless, and their fundamental rights are not
respected. Using the deductive method, analyzing information that uses logical reasoning and
deduction to reach the conclusion. The Federal Constitution of 1988 gave prominence to social
rights, innovating in the protection of workers, however, since their enactment, these rights
have been repressed and hardly achieved. Notwithstanding any exclusion operationalized by
the social security system, the executive may tend to aggravate this situation by always carrying
out reforms that distract the legal security of workers, fundamental security in labor relations,
which with great sacrifices were won, based on the constitutionalization of social security rights
that one observes the disrespect to these guidelines, on the part of all the rulers who have had
since the constitutional promulgation.

Key-words: Social Security. Reforms. Social Security. Working class. Social Constitution.
LISTA DE ABREVIATURA

CAP’s – Caixas de Aposentadorias e Pensões


CF – Constituição Federal
CLT – Consolidação de Leis Trabalhistas
COFINS - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
CSLL - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
DRU – Desvinculação das Receitas da União
FGTS – Fundo de Garantia de Tempo de Serviço
INPS – Instituto Nacional de Previdência Social
INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social
IAPAS – Instituto Nacional de Administração da Previdência Social
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias
OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
PPA – Plano Plurianual
RGPS – Regime Geral de Previdência Social
RPPS – Regime Próprio de Previdência Social
PRORURAL – Programa Estadual de Apoio ao Pequeno Produtor Rural
STF – Superior Tribunal de Justiça
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11

1 DA PREVISÃO CONSTITUCIONAL .................................................................. 13

1.1 Distinção entre trabalhador e empregado .......................................................... 14

1.2 Constitucionalidade da previdência social ......................................................... 19

1.3 Funcionalidades da previdência social................................................................ 23

2 DO ACESSO DO TRABALHADOR AS POLÍTICAS DA PREVIDÊNCIA .... 29

2.1 Princípio da universalidade da cobertura e do atendimento ............................ 30

2.2 Desamparo do trabalhador .................................................................................. 34

2.3 Conflito com a isonomia formal .......................................................................... 39

3 A REFORMA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL E SEUS IMPACTOS À CLASSE


TRABALHADORA ................................................................................................................ 45

3.1 As reformas que ocorrem durante as últimas décadas ..................................... 45

3.2 A atual reforma do Poder Executivo .................................................................. 51

3.3 Uma síntese das transformações previdenciárias .............................................. 55

CONCLUSÃO ............................................................................................................. 60

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 62
INTRODUÇÃO

O direito se perfaz como uma ciência que estuda as normas obrigacionais para que
exista um equilíbrio entre os indivíduos, garantindo direitos e deveres para todos, no qual devem
as normas se enquadrar a realidade da sociedade. Do direito derivam-se duas outras categorias,
que são os direitos positivos e naturais. Os direitos positivos seriam aqueles direitos instituídos
pelo Estado, já os direitos naturais referem-se aos direitos que advém da natureza, às leis
naturais que orientam os seres humanos.
Isto posto, é importante comentar que o Direito Previdenciário vem substancialmente
criar normas e institutos para zelar pela qualidade de vida desse povo, regulamentando a
previdência social, que terá utilidade tanto durante como no fim da vida do beneficiado. A
Previdência Social assegura os trabalhadores quando estes perdem a capacidade de trabalho,
podendo ocorrer em diversas fases da vida, tanto pelo desempenho da atividade por parte do
trabalhador, como também por causa externa.
O Direito Previdenciário trata de assegurar os trabalhadores, mas, apresenta
contrariedade em um de seus princípios bases - universalidade de cobertura e atendimento. Este
princípio implica em dizer que todos têm o direito de contribuir, e contribuindo, terão direito
aos benefícios. Logo, nem todos os trabalhadores são formais, ou seja, tem sua carteira de
trabalho assinada e, consequentemente, estarão fora do alcance previdenciário. Deste modo, o
mesmo direito que deve ser garantidor, segrega. Esta não é a função que deve ser
desempenhada, já que é um conjunto de normas que busca o justo, portanto, é necessária uma
análise deste problema.
O direito como ciência que deriva do povo deve se adequar à sociedade. As implicações
deste problema causado obrigatoriedade da contribuição deixam uma grande parte de
trabalhadores à margem da proteção e formalização do trabalho, ou seja, todos esses
trabalhadores têm como incerto seu presente e futuro. Destarte, esse trabalho tem o
compromisso de apresentar que o direito previdenciário não está surtindo efeitos necessários
para a formação de uma sociedade justa e protegida como um todo, causando um conglomerado
de problemas na efetivação de direitos instituídos.
Os direitos sociais têm papel importante nas quebras dos paradigmas que se acumularam
durante a história. Portanto, há necessidade de ações do Estado, sendo essas ações negativas e
positivas, no qual geram obrigações tanto para si quanto para terceiros, com o intuito de garantir
que todos tenham seus direitos efetivados, fazendo das pessoas cidadãos detentores de direitos
e deveres para com o próximo e com o Estado. A previdência é um direito social garantido pela
Constituição de 1988: a constituição cidadã onde há o intuito de distribuição de renda devendo
ser aplicado a todos os trabalhadores sem distinções, aqueles que vendem seu trabalho como
forma de subsistência, deste modo, sendo imprescindível a interpretação de seus dispositivos
para a qualidade de vida dos trabalhadores.
Dado estas informações, é importante saber que este trabalho, no primeiro capítulo,
tratará da previsão constitucional onde será explanado a diferença entre trabalhador e
empregado - a composição da classe social dentre o processo de trabalho descrito por Karl
Marx, demostrando que não existe diferença entre trabalhador e empregado, visto que os
mesmos constituem a classe social de trabalhadores. Nesse mesmo capítulo será tratado a
previsão constitucional da previdência social, que impõe requisitos para que os trabalhadores
possam usufruir dos benefícios da previdência social. A terceira seção deste primeiro capítulo
falará sobre a funcionalidade da previdência, desde quando instituída até os dias de hoje, e quais
fundamentos essa política possui.
No segundo capítulo tratará sobre o acesso da classe trabalhadora à políticas da
previdência social, demonstrando os princípios constitucionais que consubstanciam essa
política, falando sobre a instituição dos direitos sociais - válido salientar que estes são resultados
de conquistas recentes, advindos de movimentações e muita luta da classe operária, que se
consolidaram e tiveram seu reconhecimento com a Constituição Federal de 1988; no entanto,
desde sua promulgação, é duramente atacada; diante de tamanha resistência, as formas como o
trabalhador tem acesso a política da previdência não surte os efeitos necessários, já que os
trabalhadores não estão assegurados por completo, de modo que existe a obrigatoriedade da
contribuição para que seja assegurado, algo que fere o princípio da isonomia.
Ainda neste segundo capítulo, será tratado o desamparo do trabalhador e a seletividade
desta política. Na última seção será tratado o conflito da isonomia e os efeitos que produz,
ocasionando uma falha na efetivação desse instrumento que deveria ser de inclusão social e
passa a ser exclusiva para alguns trabalhadores.
No terceiro capítulo será tratado a respeito das reformas existentes desde a promulgação
de tais direitos constitucionais que advém das relações de trabalho, pontuando as reformas já
existentes e as que estão para acontecer.
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1 DA PREVISÃO CONSTITUCIONAL

Este capítulo trata da previsão constitucional da previdência social, do seu contexto


histórico e da sua justificativa. Após o golpe militar de 1964, o Brasil passava por uma
redemocratização momento em que as questões democráticas se perderam, enquanto,
paralelamente, também se enfraqueceram as representatividades das minorias. Passados alguns
anos a ditadura militar foi se desarticulando por diversos motivos, havendo a transição
democrática, período marcado por negociações entre conservadores e progressistas. A partir
deste novo período, os movimentos estudantis e sociais começavam a se reorganizar depois de
perderem forças durante a Ditadura Militar (FAGNANI, 2010).
Durante a transição democrática se organizou a Assembleia Nacional Constituinte-
ANC, combinado com os novos ares que se tinham no Brasil, surgiu a nossa “Constituição
Cidadã” que dentre seus capítulos tem um exclusivo para a Seguridade Social, artigo 194 da
CF, Capítulo II. Revelando uma conquista muito importante para os trabalhadores. A
Seguridade é um conjunto que compõe à Saúde, Previdência Social e à Assistência Social, é de
suma importância todo esse aparato que foi incrementado pela Carta Magma, justamente pelo
período que antecedeu esse acontecimento. No § único do dispositivo 194, da CF, fala que o
Poder Público organizará a seguridade social tendo como base alguns objetivos que estão
dispostos pelos seus incisos.
Logo depois será feita uma diferenciação entre trabalhador e empregado, apresentando
a formação da classe trabalhadora brasileira e os acontecimentos que refletiram diretamente
nessa composição e até que ponto reflete nos dias de hoje. Mostrando que erros do passado
merecem muito comprometimento por parte da administração do país para que eles não se
perpetuem e acabem dizimando qualquer perspectiva que se tenha de alcançar o bem estar da
população como um todo, atendendo cada parte da sociedade de acordo com suas
particularidades, buscando uma democracia participativa garantindo a liberdade que não atenda
somente que está inserido no regime econômico – capitalismo - me refiro ao capitalismo porque
é o regime econômico adotado pela nossa Constituição Federal art. 1º, IV, sendo assim é
resultado dos problemas sociais que somos detentores.
Ademais, demostra-se como funciona o regime previdenciário brasileiro e como foi
instituída a ideia que o trabalhador deve estar amparado por recursos mesmo quando não esteja
trabalhando, pois ele pode ter que parar de trabalhar por motivos que estão alheios a sua
vontade. Apresentando os benefícios gerados por essa instituição tantos para os trabalhadores
14

como para o meio que estão inseridos, mostrando que a Seguridade Social como um todo é
ferramenta fundamental formação do Estado de Bem-Estar.

1.1 Distinção entre trabalhador e empregado

Trabalhador é a pessoa que presta serviços, assim como o empregado, porém, há


algumas peculiaridades entre ambos que servem para caracterizá-los ou conceituá-los. O
trabalhador é aquela pessoa – jurídica ou física - que realiza serviços de forma autônoma e
eventual, onde se combinam o prazo de entrega e as tarefas a serem executadas. Já o empregado
é aquele que presta serviços de maneira pessoal, habitual, subordinada, onde recebe uma
remuneração. Esses quatro elementos são justamente o que difere o trabalhador do empregado.
Logo, se entende que trabalhador não é sinônimo de empregado, no entanto, todo trabalhador é
empregado (BEEFPOINT, 2010, online).
Em um sistema capitalista no qual as relações de trabalho existentes figuram dois polos,
o detentor dos meios de produção e a pessoa que transforma a natureza com sua própria ação,
onde trabalhador é todo aquele que transforma, tanto o trabalhador como o empregado são as
mesmas pessoas, pois ambos desempenham essa transformação, a esse respeito Marx pontua:

A utilização da força de trabalho é do próprio trabalhador. O comprador da


força de trabalho consome-a, fazendo o vendedor dela trabalhar, este, ao
trabalhar, torna-se realmente no que antes era potencialmente: força de
trabalho em ação, trabalhador [...]. Quando o trabalhador chega ao mercado
para vender sua força de trabalho, é imensa a distância histórica que media
entre sua condição e a do homem primitivo, com sua forma ainda instintiva de
trabalho. Pressupomos o trabalho como forma exclusivamente humana.
(MARX, 1998, p.211).

A Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT – traz em seu art. 3º o conceito de


empregado: “Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não
eventual ao empregador, sob a dependência deste e mediante salário”. Aqui, são perceptíveis
os quatro elementos diferenciadores: “pessoa física” refere-se à pessoalidade; “não eventual” à
eventualidade; “sob dependência deste” à subordinação; e “mediante salário” à remuneração,
constituindo assim a distinção entre trabalhador e empregado.
Para Marx (1998, p. 206), “os homens fazem sua própria história”, ou seja, são suas
condições que o determina, e por isso o proletário é fundamental para a civilização, para a
constituição de uma sociedade. Diante de condições, interesses e oposições comuns que pode
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se caracterizar em determinada classe, o proletário possui o ponto central da produção das


necessidades humanas, em todos os sentidos.
Vale ressaltar que, embora exista distinção entre trabalhador e empregado, os dois fazem
parte da mesma classe social, tendo em vista que os dois vendem sua força de trabalho; além
de que, se entende por classe social quando determinado grupo de pessoas se classificam por
diversos critérios, entre eles está o critério econômico. A esse respeito Marx fala:

Os proprietários de simples força de trabalho, os proprietários de capital e os


proprietários de terras, cujas respectivas fontes de receitas são o salário, o
lucro e a renda do solo, ou seja, os operários assalariados, os capitalistas e os
latifundiários, formam as três grandes classes da sociedade moderna, baseada
no regime capitalista de produção (MARX,1998, p.99).

O trabalho em si acontecia entre o homem e a terra, no qual o resultado de tal produto


era do próprio homem ou produtor, no entanto, foi vendido os meios de produção deste trabalho
para uma única pessoa, que deste modo comprou também a força de trabalho daquele homem
que produzia anteriormente. O processo de trabalho é algo anterior ao capitalismo. Neste
cenário, surgem diferentes tipos de trabalho que estão ligados à atividade social, cada um com
sua importância para a completude dos ciclos do capitalismo, atendendo as camadas sociais que
emergem.
No entanto, ao se ter o capitalismo instituído ou em desenvolvimento,
consequentemente se terá classes dominantes e classes dominadas. Aqui se faz importante
comentar o que são classes dominantes e o que são classes dominadas. As classes dominantes
seriam os proprietários de capital e de terras, possuidores dos meios de produção, enquanto as
classes dominadas são os proprietários das forças de trabalho. Portanto, classe trabalhadora e
classe dominante são diferenciadas pelos lugares que ocupam no meio social de produção
capitalista; embora suas atividades estejam interligadas, elas ocupam lugares distintos na
sociedade, consequentemente com relações em desequilíbrio, haja vista que uma é dominante
e outra dominada, uma está em detrimento da outra, respectivamente.
A classe dominante está ligada ao Estado, direta ou diretamente, um estado dominado
pela burguesia, que é a classe dominante, terá como escopo a própria burguesia, instituído como
um meio de dominação. Com isso, a classe trabalhadora enfrentará dificuldades ao acesso
daquilo que pode beneficiá-la, a fim de diminuir a disparidade existente. Assim sendo,
trabalhador e empregado compõem as classes dominadas, visto que eles vendem suas
capacidades laborativas, e apesar de serem figuras jurídicas diferentes, estão na mesma situação
de exploração feita pela burguesia.
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Fazendo uma análise da formação da classe trabalhadora no Brasil, Florestan Fernandes


(2007, p.206) causam inquietação sobre o tema quando diz: “Como a economia de trabalho
livre se organizou sobre um patamar pré-capitalista e colonial, seria lamentável se ignorássemos
como as determinações de raças se inseriram e afetaram as determinações de classes”.
O movimento escravocrata no Brasil é algo que marca a constituição da classe
trabalhadora brasileira (PEREIRA, 2018, online). Por um lado, estava a predominância do
pensamento de superioridade da raça branca, que fundamentava a escravidão. Em consequência
disto, nasce outro paradigma: a recusa, por parte das classes dominantes, de aceitar os negros
libertos para o desempenho de tarefas que já executavam, mas na condição de escravo. Estas
são coisas que acontecem em momentos diferentes, o primeiro momento acontece no final do
século XVIII e no início do século XIX, fundamentado pelo filósofo Joseph Arthur de Gobinau,
um dos principais defensores de tais ideias (ARAÚJO, 2017, online).
Por certo, é vislumbrado o papel importante na definição das classes sociais no Brasil,
que vivia uma realidade paradoxal onde se buscava o progresso, a república, mas com técnicas
arcaicas. Embora a escravidão tenha sido abolida em 1888, não se dissipou as ideias racialistas,
que viam o negro como diferente e sub-humano e acabaram por transformar, através de suas
teorias, disparidades estruturais.
Dentre essas teorias existia a de que o Brasil precisaria ser civilizado e acreditava-se que
era necessário fazer um branqueamento da população, introduzir a cultura de origens europeias,
já que é a Europa considerada o berço da civilização. Destarte, antes mesmo da abolição, já se
tinha uma valoração maior para o trabalhador branco e vindo do exterior, já que estes trariam
seu arcabouço civilizatório. O próprio Arthur de Gobinau, quando veio ao Brasil a mando de
Napoleão III, disse que o “Brasil estava fadado ao fracasso”, pontuando a necessidade do
branqueamento da população através da pauta de higienização científica, por existirem raças
inferiores.
Com isso, o negro tinha que se adaptar ao mundo branco, que no momento era a classe
dominante que os explorava ainda em uma produção pré-capitalista. Sobre esse tema, Florestan
Fernandes expõe:

O negro foi exposto a um mundo social que se organizou para os segmentos


privilegiados da raça dominante. Ele não foi inerte a esse mundo. Doutro lado,
esse mundo também não ficou imune ao negro. Todos os que leram Gilberto
Freyre sabem qual foi a dupla interação, que se estabeleceu nas duas direções.
Todavia, em nenhum momento essas influências recíprocas mudaram o
sentido do processo social. O negro permaneceu sempre condenado a um
mundo que não se organizou para tratá-lo como ser humano e como "igual".
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Quando se dá a primeira grande revolução social brasileira, na qual esse


mundo se desintegra em suas raízes - abrindo-se ou rachando-se através de
várias fendas, como assinalou Nabuco - nem por isso ele contemplou com
equidade as "três raças" e os "mestiços" que nasceram de seu intercruzamento.
Ao contrário, para participar desse mundo, o negro e o mulato se viram
compelidos a se identificar com o branqueamento psicossocial e moral.
Tiveram de sair de sua pele, simulando a condição humana-padrão do "mundo
dos brancos". (FERNANDES, 2007, p. 33, grifos no original).

Embora não existisse mais a escravidão, e neste momento estivesse acontecendo uma
reorganização do trabalho, isso não foi o suficiente para abarcar os negros que agora eram
libertos, nem seus descendentes que já nasciam livres. O autor diz no trecho acima que o negro
tinha que sair da sua pele, perder suas características, para que depois disso viesse a ter a
possibilidade de ocupar postos do trabalho livre.
Em contrapartida, existia o processo de imigração que foi incentivado nesta época, com
o objetivo de substituir os negros escravizados por mão de obra imigrante para organizar
relações de trabalho livres. No entanto, Florestam Fernandes diz “que não houve, stricto sensu,
a substituição populacional de nativos por imigrantes”, ou seja, em números, não existiam mais
negros que imigrantes em território nacional, porém, a “urbanização também significou, de
modo extremo e profundo, a europeização”, deste modo atingiu-se o que se buscava a época
diante das teorias racialistas.
Diante disso, os imigrantes passaram a ocupar os postos de trabalho de maior interesse
econômico, mesmo existindo mais libertos na cidade que imigrantes. Florestan Fernandes
(2007, p.112) afirma que “antes do colapso do regime servil, o negro e o mulato sofreram de
maneira bem definida os efeitos negativos da concorrência como imigrante”.
Dessa forma, conclui-se que a classe trabalhadora no Brasil surge a partir de nativos,
negros libertos, imigrantes europeus. Vale ressaltar que o negro ocupa lugares de desvantagem
na reformulação do trabalho livre, gerando disparidade no acesso a postos de trabalhos rentáveis
que garantam a efetividade de direitos.
Com isso, é negado ao negro o acesso a ascensão para trabalhador livre, inclusive,
quando o capitalismo é instaurado, o negro está à margem das relações de trabalho. Marx falava
sobre excedente da população trabalhadora:

[...] se uma população trabalhadora excedente é um produto necessário da


acumulação ou do desenvolvimento da riqueza com base capitalista, essa
superpopulação se converte, em contrapartida, em alavanca da acumulação
capitalista, e até mesmo numa condição de existência do modo de produção
capitalista. Ela constitui um exército industrial de reserva disponível, que
18

pertence ao capital de maneira tão absoluta como se ele o tivesse criado por
sua própria conta (MARX, 2012, p.858).

Essa superpopulação é chamada de exército de reserva industrial, e o negro passa a


integrar essa camada, que pertence ao capital porque resulta da forma de produção utilizada
pelo capitalismo. O capitalismo por si só já produz esse exército de reserva industrial, pois ele
não é capaz de gerar empregos para todos. Os meios de produção estão nas mãos de poucos e
muitos precisam do trabalho como meio de subsistência, sem contar que os meios de produção
que antes eram na maioria terras e animais, passam a ser incrementados por máquinas que
consequentemente substituem a força de trabalho humana, diminuindo ainda mais os postos de
trabalho disponíveis.
O trabalhador nacional, o qual eram os negros libertos e seus descendentes, começaram
a ocupar postos de trabalho instáveis e deteriorantes, justamente por não ter tido tempo de se
adaptar ao “sistema de trabalho urbano”. Assim, aquilo que deveria ser um problema provisório
torna-se estrutural. (FERNANDES, 2007, p. 113).
Por isso, a constituição da classe trabalhadora brasileira está marcada não só pela
exploração do homem pelo homem, que é proporcionada pelo próprio capitalismo, mas também
tem como elemento constituidor a escravidão, as teorias racialistas e o machismo, também
presente no país, onde negros e mulheres estavam propensos a adquirir os piores postos de
trabalho, sem nenhuma regulamentação ao acesso a direitos inerente aos trabalhadores.
Sobre esse tema, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE demonstra que
as desigualdades de gênero e raça estão presentes até os dias de hoje. Em 2016, o nível de
ocupação é maior dentre os homens com 53,7%, e menor para as mulheres, 46,3%. Com isso,
fica claro que há mais homens empregados que mulheres, e consequentemente, para
desocupação, o índice para as mulheres estava em 50,8% e para os homens,49,2%; neste caso
a mulher está em desvantagem novamente1.
No tocante a raça, os trabalhadores que estão inseridos em relações de trabalho formais,
a porcentagem é de 65,8% dos cargos são ocupados pelos trabalhadores brancos e 51,7% por
pretos e pardos, de acordo com a pesquisa realizada pelo IBGE de 2016. Com isso a classe
trabalhadora miscigenada está com uma fratura, perpetuando até os dias de hoje a submissa e
exploração que a constituiu. Com isso, é demonstrado que o pouco trabalho formal existente é

1
Pesquisa Mensal de Emprego realizada em 2016, nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, pelos indicadores do IBGE.
19

seletivo quanto a quem emprega, configurando uma implementação de problemas ocasionados


pela exploração do homem pelo homem desde os primórdios.

1.2 Constitucionalidade da previdência social

A organização da Previdência Social é dada pela Constituição Federal de 1988 no


capítulo que trata da Seguridade Social. Como já foi demonstrado, a seguridade surge com o
intuito de amparar as pessoas dos infortúnios atualmente chamados de “risco social”. Assim,
constitui um grande sistema de proteção social composto por ações de integração de Saúde,
Previdência Social e Assistência Social. Dessa forma, compreende-se a Previdência como um
seguro público de filiação obrigatória que exige contribuição direta de seus beneficiários,
diferentemente da Saúde e da Assistência Social, que todos podem ter acesso.
Em 1835 foi criado o Montepio Geral da Economia dos Servidores do Estado
(Mongeral) no qual foi classificada como a primeira previdência privada a ser instituída, sendo
que cada membro realizava fracionados pagamentos e quando faleciam sua família tinha acesso
a pensão. Em 1888 foram criadas as “Caixas de Socorros” que tinham como destinatários os
trabalhadores das estradas de ferro. No entanto, o que se destaca como marco nas legislações
previdenciários foi a publicação da Lei Eloy Chaves nº 4.682 que criou as Caixas de
Aposentadorias e Pensões- CAPs, pois foi a partir deste episódio que o Governo Federal pode
se intrometer nas relações de trabalho fundando conceitos e bases legais que introduziram a
previdência social brasileira.
A proteção social surge com o intuito de assegurar o trabalhador de situações que
excepcionalmente podem vir a surgir no cotidiano deste. Consequentemente, a seguridade
social vislumbra um capítulo da nova Constituição Federal, e é composta por: Assistência
Social, Saúde e Previdência Social2, a qual visa ações integradas destas três políticas. O objeto
de estudo é justamente a previdência social, que é o terceiro componente da seguridade social,

2
Art.194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes
Públicos e da sociedade, destinada a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e a assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos
seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos
benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade nas prestações dos
benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - equidade na forma de participação e custeio;
VI – diversidade da base de financiamento (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988).
20

que, para Luiz Eduardo Afonso (2010), possui características de seguro social, no qual por meio
de um fluxo continuado de pagamentos o empregador e seus dependentes estão assegurados.
O primeiro dispositivo3 que fala sobre a previdência social, intitulando como direito
social; um direito de todos, onde o estado deve promover ações positivas para sua efetivação.
Logo depois ter-se-á o dispositivo4 que tratará da organização previdenciária brasileira, que
institui caráter contributivo de filiação obrigatória para o trabalhador, estipulando o que a
previdência social cobrirá.
A previdência social tem função de assistir, cobrir e amparar a população com recursos
suficientes para sua subsistência quando por determinados motivos – invalidez, doença,
gravidez, idade avançada – que não depende da vontade do assistido tenham que se afastar do
trabalho, constituindo assim um direito social. Sendo assim, mostra-se a previdência um sistema
de caráter obrigatório no qual todos os trabalhadores devem se filiar. Seus princípios mostram
que apenas quem está assegurado é quem contribui, por enquanto este trabalho restringe-se
apenas a essas afirmações visto que mais a frente será tratado sobre o princípio em
particularidade.
O art. 202 da CF/88 trará a previdência privada5, que tem caráter complementar e
facultativo. A previdência pública atua por dois tipos de regimes: Regime Geral de Previdência

3
Art. 6º. São direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).
4
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de
filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos
da lei, a: I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II - proteção à maternidade,
especialmente à gestante; III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; V - pensão por
morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º
(CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).
5
Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma
em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que
garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar. § 1° A lei complementar de que trata este artigo
assegurará ao participante de planos de benefícios de entidades de previdência privada o pleno acesso às
informações relativas à gestão de seus respectivos planos. § 2° As contribuições do empregador, os benefícios e
as condições contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência
privada não integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedidos,
não integram a remuneração dos participantes, nos termos da lei. § 3º É vedado o aporte de recursos a entidade de
21

Social – RGPS e os Regimes Próprios de Previdência Social – RPPS, onde estes são designados
apenas para servidores públicos que atuam na administração pública direta ou indireta, tendo
previsão legal no art. 40 da CF, e aquele é o seguro para todos os que estão desempenhando
atividade laborativa que não se filiam ao RGPS.
Vale ressaltar que essa conquista se deu através de um pacto político que deu origem a
constituinte, que se deu na sucessão presidencial de 1984, com a união entre o Movimento
Democrático Brasileiro e a Frente Liberal, que tinha o intuito de lançar alguém que tivesse
apoio do então presidente general João Baptista Figueiredo (FARIA, 2008)6. Ademais, existia
a preocupação com a necessidade de direitos previdenciários, mas não a níveis constitucionais.
No entanto, a previsão constitucional sofria bastante resistência para se consolidar, por conta
disso, desde a Assembleia Nacional Constituinte a falsa argumentação de que surgiram déficits
ou de que a máquina pública não suportaria gastos com a seguridade. José Sarney era o
presidente da república e não concordava com o texto constitucional e tornou-se um crítico
acérrimo:

Mas nada se compara a um ato emblemático, do presidente José Sarney.


Quando teria início a votação da última fase da ANC, numa derradeira
tentativa para modificar os rumos dos trabalhos, Sarney convocou cadeia
nacional de rádio e televisão para “alertar o povo e os constituintes” para “os
perigos” que algumas das decisões contidas no texto aprovado no primeiro
turno representavam para o futuro do país. Defendeu a tese que o país tornar-
se-ia “ingovernável”. O inimigo da governabilidade era a seguridade que
causaria uma “explosão brutal de gastos público” (FAGNANI, 2010, p. 02-
03, grifos do autor).

previdência privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, fundações, empresas
públicas, sociedades de economia mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade de patrocinador, situação
na qual, em hipótese alguma, sua contribuição normal poderá exceder a do segurado. § 4º Lei complementar
disciplinará a relação entre a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, inclusive suas autarquias, fundações,
sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente, enquanto patrocinadoras de
entidades fechadas de previdência privada, e suas respectivas entidades fechadas de previdência privada. § 5º A
lei complementar de que trata o parágrafo anterior aplicar-se-á, no que couber, às empresas privadas
permissionárias ou concessionárias de prestação de serviços públicos, quando patrocinadoras de entidades
fechadas de previdência privada. § 6º A lei complementar a que se refere o § 4° deste artigo estabelecerá os
requisitos para a designação dos membros das diretorias das entidades fechadas de previdência privada e
disciplinará a inserção dos participantes nos colegiados e instâncias de decisão em que seus interesses sejam objeto
de discussão e deliberação. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL,1988)
6
Informação obtida de uma edição especial do Jornal do Senado que ocorreu em 2008 em comemoração
aos 20 anos da Constituição Federal de 1988.
22

Isso demonstrava que a Constituição “Cidadã” enfrentaria grandes barreiras para


conseguir se efetivar quanto aos direitos sociais. Por outro lado, tinha o deputado Ulysses
Guimarães, que refutava suas teses e dava notoriedade aos assuntos sociais. Passaram-se 31
anos e os discursos são os mesmos, contudo, não foi provado que a seguridade social - saúde,
assistência social e previdência social – engesse a máquina pública impedindo de investir em
outras áreas, mas nem por isso deixaram de existir ações de todos os chefes do poder executivo
a fim de minimizar as conquistas sociais (mais à frente o assunto será esboçado melhor, por ora
ficaremos na análise da previsão constitucional).
Diante desse contexto, ainda surgem discursos midiáticos que afirmam que a
previdência é algo que onera as contas públicas e aumenta o fardo tributário carregado pela
sociedade, sendo assim, menospreza toda a função social desempenhada não só pela
previdência, mas por toda a seguridade social que também abrange saúde e assistência social,
sendo que é algo que garante a efetivação do Estado Democrático de Direito; configurando o
desconhecimento da realidade brasileira que acarreta problemas perpetuados pelas
desigualdades sociais presente no Brasil, que foram aprofundadas pelas mudanças que
ocorreram no campo político em diversos momentos da nossa história.
Tendo em conta que a partir da Constituição de 1988 protagonizou-se os direitos sociais,
reservando capítulo próprio para a seguridade social, é necessário destacar que os direitos
sociais já tinham tido status constitucionais na Constituição de 1934, no entanto a
implementação de todas as categorias de trabalhadores só foi dada mais tarde (SERAU, 2014).
Mesmo sendo algo que era clamado e pressionado principalmente pela classe trabalhadora há
muito tempo, esses direitos deverão ser proporcionados por ações do poder executivo e a
previdência é uma parte da concretização dos direitos sociais garantidos na Constituição de
1988; sendo que desde antes da promulgação da Constituição já se tinha a tese do “país
ingovernável”, alimentando a ideia de que não era possível cuidar do bem-estar da população,
desprezando o papel de distribuição de renda que tem a própria previdência, como afirma
Álvaro Solon França:

Entre esses aspectos desconhecidos há um que se mostrou extremamente


relevante, após extensa pesquisa que tivemos a oportunidade de realizar,
com base nos dados de 2003: em 3.773 dos 5.561 municípios brasileiros
avaliados (67,85%), o volume de pagamento de benefícios previdenciários
efetuados pelo INSS - Instituto Nacional do Seguro Social supera o FPM -
Fundo de Participação dos Municípios (2004, p.20).
23

Haja vista, toda a desigualdade social que compõe nosso país, a disparidade existente
entre municípios criada pelo processo de emancipação de municípios, existindo bastante
dificuldade para se desenvolver e poder promover o bem-estar da sua população, os recursos
que são injetados pelos benefícios pagos pela Previdência Social reforçam e incrementam os
recursos municipais, corroborando para um dos objetivos fundamentais da Carta Magma, art
3º, II ao qual fala em “garantir o desenvolvimento nacional”. Sendo assim, reforça-se a tese de
que a atual Constituição trouxe à positivação de normas que tem como escopo o social, dando
ênfase às garantias antes ignoradas.
No entanto a Constituição Federal traz a seguridade social como direito social onde tem
classificação de direito fundamental, que visa algo para previdência social além da substituição
de recursos, e passa a desempenhar também, elemento constitutivo de cidadania que deve servir
para todos. Não protege apenas a situação que advém do labor, onde o sujeito ativo é o
trabalhador, tendo como fundamento a proteção das famílias, do menor, da maternidade, dentre
outras que completam esse núcleo, atendendo a uma lógica social que engloba esses fatores.
Consequentemente é nesta ótica que os direitos previdenciários têm caráter
fundamental, pois tem ligação direta com a promoção de dignidade humana, afim de garantir
direitos inerentes à condição de humanos, possibilitando assim o desenvolvimento da vida.
Esses direitos têm base na Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948, qual cita em
seu art. 25 à previdência social como direito do homem.

1.3 Funcionalidades da previdência social

Os problemas que atingem os trabalhadores desde a modernidade até a atualidade, que


não serão aprofundados e sim citados, causam a má estruturação nas relações de trabalho, as
formas como elas se desenvolvem e atingem as instituições sociais, a má estruturação nas
relações de trabalho implica em uma concatenação de resultados negativos. Ricardo Antunes
(2013, p.23) aponta que esse fenômeno é proporcionado pela ideia que se deve aumentar à
produtividade e competitividade entre as empresas, ocasionando a deterioração do trabalhador
que esteja inserido neste modo de produção.
Essa afirmação critica o modo de produção do capitalismo, onde há uma crise estrutural
que afeta diretamente o trabalhador em todo ponto geográfico, já que a globalização interliga a
todos. Essa precarização do trabalho acontece com respaldo do Governo, o capitalismo explora
o trabalhador enquanto está em suas atividades.
24

De acordo com Karl Marx:

Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a


natureza, processo em que o ser homem, com sua própria ação, impulsiona,
regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a
natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de
seu corpo – braços e pernas, cabeças e mãos -, a fim de apropriar-se dos
recursos da natureza, imprimindo-lhe forma útil a vida humana (1988, p.211).

O trabalhador explora seus próprios recursos, com intenção de gerar moeda de troca
para que através dela tenha garantido sua subsistência, Marx fala sobre o mecanismo do
capitalismo, fazendo críticas ao modo que ele se desenvolve. A dissipação do trabalho ocorre
com intenção de cada vez mais se obter lucros, ocorrendo em toda área que compõe atividades
comercias com fins lucrativos. Nessa conjuntura, o trabalho seria o sumpto de energia na
modificação da natureza, com a função de gerar meio de vida.
Dessa forma, surge um paradoxo com o significado do trabalho para o capitalismo; o
que antes era para atender as carências do produtor, transforma-se em algo que surge com a
ideia de mercadoria que será trocada no mercado, passando a ter valor de troca e não de uso,
ocorrendo a substituição de mercadorias com valores que se equivalessem a fim de atender a
necessidades diretas. Tanto o empregador como o empregado têm interesses comuns, cada um
está concomitantemente vislumbrando o que o outro tem a lhe oferecer.

O capitalista compra a força de trabalho e incorpora o trabalho, fermento vivo,


aos elementos mortos constitutivos do produto, os quais também lhe
pertencem. Do seu ponto de vista, o processo do trabalho é apenas o consumo
de trabalho que comprou, a força de trabalho, que só pode consumir
adicionando-lhe meios de produção. O processo de trabalho é um processo
que ocorre entre as coisas que o capitalista comprou, entre as coisas que lhe
pertencem (MARX, 1998, p. 219).

Esta composição deveria ser um ciclo perfeito, onde cada um tem interesse naquilo que
o outro tem a oferecer, um atende a necessidade do outro, desse modo, deveria atingir um grau
de completude. No entanto, o trabalhador e o capitalista passam negarem-se mutuamente,
justamente porque existe o desejo de acumulação de capital, com a ideia de aumentar a
concorrência e a produtividade, o trabalho se transforma em mercadoria, perdendo o sentido
finalístico de transformação do meio e tornando-se meio parta ter como fim o produto. Vale
ressaltar que todos os recursos naturais cessam e, o mesmo acontece com as forças que o homem
pode executar durante sua atividade laborativa, sendo ocasionado por diversas circunstâncias.
25

Além do mais, os desgastes realizados tanto pelas relações de trabalho pautadas na


produtividade, como pelas ações governamentais que dificultam o acesso aos benefícios
oriundos das instituições sociais resultam em uma condição onde o trabalhador fica escravo de
seu próprio corpo e a mercê de um futuro incerto - já que precisam do seu trabalho para sua
subsistência. É com intenção de assegurar o trabalhador, diante dos fatores adversos, que existe
a previdência social.
Por consequência, fica evidenciada a necessidade da previdência social que é algo que
promove a estabilidade social, a fixidez dos trabalhadores através de suas políticas que promove
segurança, onde mesmo que algo lhe aconteça (seja por idade, condições especiais ou casos
fortuitos) estarão com sua subsistência garantida pela previdência, além de ser algo que
promove a redistribuição de renda, isso porque os benefícios pagos pela previdência são
aplicados na economia - geralmente as municipais - é um dos principais recursos usados em
âmbito municipal (FRANÇA, 2004).
Desse modo, também possui função de melhorar a qualidade de vida dos indivíduos,
tanto dos beneficiários, como do mercado consumidor que eles estão inseridos, visto que o
custeio da previdência é feito pelo governo em sua capacidade arrecadatória, e também pelos
empregados e empregadores através da contribuição, os beneficiários e os trabalhadores em
geral não deixam de contribuir em um só instante já que também é fonte de custeio tributos
pagos ao governo. Através da concatenação das próprias ações do trabalhador é custeada sua
segurança porvindoura almejada.
Como dito anteriormente a Previdência social têm dois regimes, o próprio onde os entes
políticos – união, estados, Distrito Federal e municípios criam o regime previdenciário para
inserirem seus servidores públicos ocupando cargos de provimento efetivo, e o regime geral
que abriga todos aqueles que não estão inseridos no regime próprio e desempenha atividade
remunerada, para os agentes públicos que ocupam cargos comissionados, emprego ou funções
temporárias estarão filiados compulsoriamente ao RGPS. A gestão do RGPS é feita pelo
Instituto Nacional de Seguro Social- INSS que faz parte da administração indireta, realizando
atividade administrativa de forma descentralizada não existindo hierarquia entre ela o ente que
a criou, havendo apenas um uma supervisão ministerial por parte do ente, para verificar se
estiver sendo realizadas as atividades que deveriam, também chamado de controle finalístico.
O INSS está vinculado diretamente ao Ministério da Previdência Social- MPS que foi
instituído pela Lei nº 8.029 de 1920 e estruturado atualmente pelo Decreto nº 7.556/2011. Essas
pessoas que são amparados pela previdência social são chamados de beneficiários, que se
subdivide em dependentes e segurados, este pode ser facultativos ou obrigatórios e são a eles
26

que se destinam as prestações previdenciárias e consequentemente o dever de prestar


contribuições, já os beneficiários dependentes não contribuem para seguridade social e em
algum momento poderem usufruir das prestações previdenciárias.
Essas prestações podem ser em formas de benefícios que tem caráter pecuniário
(auxílio-doença; auxílio-acidente; aposentadoria por invalidez; salário-maternidade; salário-
família; aposentadoria por tempo de contribuição; aposentadoria especial; aposentadoria por
idade; pensão por morte e auxílio reclusão) ou podem ser em formas de serviços que tem caráter
não pecuniário (serviço social e habilitação e reabilitação profissional).
Aos segurados é garantido o direito aos serviços e aos benefícios de aposentadoria por
invalidez, auxílio-doença, salário-maternidade, aposentadoria especial, salário-família, auxílio-
acidente, aposentadoria por idade e aposentadoria por tempos de contribuição, no tocante aos
dependentes tem o direito aos serviços e aos benefícios de pensão por morte e auxílio-reclusão.
A filiação do segurado segundo o Decreto nº 3.048 no art. 20 “é o vínculo que se
estabelece entre pessoas que contribuem para a previdência social e está, do qual decorrem
direitos e obrigações” da onde transcorrem diretamente “do exercício de atividade remunerada”
essa atividade remunerada é justamente o trabalho formal, da filiação advém a “qualidade de
segurado”, mas somente para quem está filiado, os dependentes não se filiam ao RGPS, eles
são inscritos por um ato formal no qual a empresa, ou o INSS ou os próprios segurados e seus
dependentes se cadastram, a inscrição é um ato que individualiza a pessoa que passa a ter direito
às prestações previdenciárias. Teoricamente existem dois trabalhadores que são excluídos do
RGPS que são os que estão vinculados ao regime próprio e os que estão em condições de
estrangeiros sem residência permanente no Brasil, é usado a palavra teoricamente porque mais
a frente será visto que a previdência acaba excluindo outros trabalhadores do seu rol de
segurados.
O custeio da previdência social é feito pelo financiamento geral da seguridade social
que está disposto no art. 195 da Carta Política7.Percebe-se que primeiramente as fontes de

7
A seguridade social será financiada por toda sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei,
incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à
pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II
- do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e
pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; III - sobre a receita de concursos
de prognósticos. IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.
27

financiamento da Seguridade Social advêm de recursos reservados nos orçamentos dos entes
políticos – União, Estados, Distrito Federal e Municípios, cada um em sua respectiva esfera.
No que se refere a contribuições diretas se tem as contribuições sociais dos trabalhadores e dos
outros segurados da Previdência Social, no dispositivo 195, II da CF trará a negativa de
incidência de contribuições sobre pensões e aposentadorias outorgada pelo RGPS, nesses casos
só haverá incidência de contribuições se concedidas pelo RPPSs, conforme trata o art. 40, caput
da CF. As receitas que correspondem ao orçamento da Seguridade Social na esfera federal são
promovidas pela Lei nº 8.212, de 1991, chamada de “Plano de Custeio da Seguridade Social”,
regulamentada pelo Decreto nº 3.048, de 1999 que se chama “Regulamento da Previdência
Social”.
Portanto as contribuições sociais se subdividem para Previdência Social e para
Seguridade Social, para estes vale salientar que as contribuições sociais têm natureza tributária,
ou seja, são prestações compulsórias que não depende da vontade do sujeito para o seu
pagamento, deste modo todos contribuem, para aqueles o custeio é proporcionado pelos
empregadores sobre as folhas de salários e empregador domésticos, estas são as formas diretas
de custeio, mas existem também as indiretas que resulta justamente do poder de império do
Estado, o poder de tributar, e é através dos tributos que se completa o ciclo de custeio da
Seguridade Social e consequentemente o da Previdência Social, Assistência Social e Saúde,
visto que são regras comuns para as três políticas.
Ademais existem regimes financeiros que estabelece o modo pelo qual serão adquiridos
os recursos que serviram para o pagamento dos benefícios, onde se dividi em repartição simples
e capitalização. No regime financeiro de capitalização o trabalhador durante sua vida útil produz
recursos para constituir seu próprio benefício previdenciário, por conta disso é chamado de pré-
financiamento, justamente por ter o trabalhador de custear sua estabilidade diante do futuro
incerto, não havendo compromisso nem cooperação com nenhuma outra parte, tendo sua
origem ainda no século XIX na Alemanha, após muitas greves e constrição por parte dos
trabalhadores durante a gestão de Otto Bismarck, por conta chamou-se “modelo bismarkiano”.
Já para o regime de repartição simples há um pacto entre as gerações, onde são divididas
as despesas de manutenção entre os contribuintes, calculando as contribuições que são
necessárias para o pagamento dos benefícios daquele momento, quando se fala em pacto é
porque os trabalhadores ativos contribuem para o pagamento dos benefícios inativos, que em
outro tempo já pagaram para outros inativos e assim sucessivamente, por isso denomina-se
pacto das gerações.
28

Nota-se também a solidariedade entre os segurados, tendo similaridade com o “modelo


beveridgiano” que surgiu na Inglaterra na conjuntura da segunda guerra mundial que
preconizava o Estado do Bem-Estar Social de Welfare State com acesso universal, que se
destinasse a todos independente de contribuições. Boschetti (2009) diz que a Seguridade Social
a primórdio é fundada na congruência de seguro social, mas logo depois do advento da
Constituição de 1988 é passou a ter características dos dois regimes. Independente do regime
financeiro o papel que a previdência social desenvolve é de suma importância para o
trabalhador, sobre o tema Mariana Batich pontua:

Os sistemas previdenciários podem diferir de uma sociedade para outra, pois


fatores de ordem política, econômica, social e cultural interferem na história
de sua formação e desenvolvimento, mas em todas possuem uma função
comum: assistir com recursos financeiros a população adulta quando afastada
do mercado de trabalho, por motivos alheios à sua vontade, com doença,
invalidez e idade avançada (2004, p. 25).

Sendo assim sempre irão existir sistemas previdenciários diferentes, mas o que deve importar
é se ele estará cumprindo com o que fundamenta sua criação.
Com isso o grau de cobertura do regime previdenciário está atrelado ao desempenho
econômico do país e das suas relações de trabalho, em consequência disso quando o
crescimento econômico estagnado ou quando desemprego cresce e afeta diretamente o regime
previdenciário. Isto posto, fica evidenciado que deve existir um comprometimento sério por
parte do Poder Público, justamente por ser ele que regulamenta o regime previdenciário fazendo
com que ele surta os efeitos necessários na garantia de direitos que não são só previdenciários.
29

2 DO ACESSO DO TRABALHADOR AS POLÍTICAS DA PREVIDÊNCIA

Como explanado anteriormente existe trabalhador e empregado os dois ocupam a


mesma classe social, ambos vendem sua força de trabalho para financiar sua subsistência e
conseguir condições de se sustentar e sustentar sua futura prole. Porém por diversos motivos o
modo como se adquire estes recursos que é por meio do trabalho, pode ser interrompido,
justamente nesse momento é acionada a previdência social que vem para substituir os recursos
provenientes do trabalho que não pode ser mais executado.
Será exposto que a Seguridade Social (que engloba Saúde, Assistência Social e
Previdência Social) constitui direitos sociais tutelados pela Carta Política, tem como objetivo a
universalização de cobertura e atendimento, mas que no que tange à seara da Previdência Social
essa política é deficitária, visto que todos têm o direito de contribuir e em consequência disso
teriam acesso aos benefícios previdenciários, mas tão somente se contribuírem. Tratando do
caráter obrigatório de contribuição e filiação, presente no art. 201 da CF, que configura um
princípio da Previdência Social que impõe requisitos a serem seguidos pelo trabalhador
resultando em uma limitação dos efeitos que devem ser alcançados pela previdência social.
As relações de trabalho têm interação fundamental no caráter adotado pelas políticas da
previdência, pois após uma análise do sistema de Seguridade Social tem-se a percepção de que
muitos aspectos podem influenciar nas conquistas de outros direitos fundamentais de maneira
indireta, desempenhando de forma diferente importantes papéis frente às necessidades do
trabalhador. Porém, quando não existe um comprometimento por parte do poder público a
previdência em vez de universalizar passa a ser seletiva, ou seja, passa a excluir parte dos
trabalhadores.
Logo depois será atestado que o modo que se desenvolve a seguridade social brasileira
desrespeita a isonomia formal daqueles que estão inseridos nas relações de trabalho como
também de todo o restante da população, visto que inviabiliza os objetivos constitucionais com
o da “garantia do desenvolvimento nacional” a fim de atenuar as desigualdades sociais que
marcam o nosso país, que foram causadas justamente pelo Poder público, direta ou
indiretamente, que surte efeitos muito negativos para a conquista do bem-estar da população
como um todo devendo ser seriamente tratadas.
Configurando ser responsabilidade do governo os problemas que emergem do povo,
toda particularidade, toda a necessidade e carência existente no seio social, independente se é
de acordo ou não com suas convicções particulares jamais poderá ser contra aquilo que é direito
fundamental do homem e está garantido pela Carta Magma. Os direitos constitucionais devem
30

ser fielmente respeitados e amparados pelo maior representante do povo, o estado


obrigatoriamente tem papel promovedor.

2.1 Princípio da universalidade da cobertura e do atendimento

A Previdência Social compõe um conjunto da Seguridade Social, no qual é tipificada


pelo art. 194 da CF que possui sete princípios, dentre eles está o da universalidade da cobertura
e do atendimento, que pretende dar um caráter de igualdade em que todos têm o direito de
contribuir e o indivíduo terá seu atendimento de acordo com a contribuição. No Brasil nós temos
um mister entre o modelo bismarkiano e beveridgiano para a Seguridade Social, no qual um se
caracteriza por uma lógica de seguro e o outro em uma lógica social, respectivamente.
Ivanete Boschette diz que o modelo bismarkiano tem a função de “proteger o
trabalhador dos riscos sociais”, promovendo recursos quando este por diversos motivos não
poder mais trabalhar, quando se refere ao modelo beveridgiano diz que este é uma “luta contra
a pobreza” (2009, p. 4). Portanto a previdência social se assemelha ao modelo bismarkiano pois
para ser um beneficiário da previdência social é necessário efetuar contribuições anteriormente,
assim sendo a previdência estar para quem contribui com a lógica de contrato. A saúde e
assistência social tem similaridade com o modelo beveridgiano onde as contribuições são feitas
por todos de maneira indireta, a saúde configura-se a nível constitucional como um direito de
todos universalizando-se, já a assistência é limitada para aqueles que estão necessitados.
Então uma política que deveria ter ações integradas e princípios que servisse para todos
segue apenas um dos princípios presentes no art. 194 do texto constitucional, que é justamente
o da “seletividade e distributividade dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais”,
onde os beneficiários são seletos diante de acontecimentos narrados anteriormente, logo como
um todo tem-se uma seguridade limitada com uma de suas ações - a previdência social -
restringindo seus efeitos para apenas uma parte da população.
Após a Segunda Guerra Mundial teve-se a consolidação da ideia de buscar o Welfare
State – o Estado do Bem-Estar Social -, que como o próprio nome diz busca o bem-estar da
sociedade, e surgiu o modelo de Seguridade Social beveridgiano que era uma crítica ao modelo
alemão de Otto Bismarck que tem a ótica de uma Seguridade Social contratual que é custeada
por um contribuição prévia do trabalhador, que era predominantemente único naqueles tempos,
já o novo modelo que se institui tinha a intenção de minimizar as desigualdades sociais existente
buscando o bem-estar da população.
31

Seguridade Social tinha o intuito de buscar a isonomia da sociedade dando condições


do desenvolvimento social, estando firmada pela lógica social e que derivaria das relações de
trabalho, então seguridade e trabalho andavam lado a lado a fim de suprir as necessidades que
surgiam diante do modelo econômico capitalista adotado por diversos países.
O trabalho no sistema capitalista tem como função a exploração do homem de maneira
diferente, a exploração do homem em detrimento de outro homem que possui os meios de
produção e certamente já os conseguiu por uma ideia de superioridade que põe um homem
acima de outro por estereótipos, um exemplo disso é a ideia de superioridade de raças onde as
pessoas de cor branca estão acima dos negros. A seguridade social tem a ideia de ir dizimando
as barreiras que são produzidas pelo capitalismo, já que nesse regime econômico a exploração
do trabalho promove a alienação do homem que é algo negativo justamente por homens estarem
em detrimento dos outros.
Pois o trabalho torna-se mercadoria e é por meio desta que o trabalhador consegue seu
sustento, ademais, para o capitalista o que importa é o produto resultado do trabalho, quanto
mais o trabalho mais produto, isto posto, o trabalhador está em desvantagem pois ou ele
aumenta sua produtividade ou outros trabalhadores que estejam predispostos a trabalhar mais
ocupam seu lugar.
Karl Marx pontua que:

Se observarmos o processo de produção do ponto de vista do processo do


trabalho, veremos que o trabalhador, os meios de produção não são do capital,
mas simples meios e materiais de sua atividade produtiva adequada a um fim.
Num curtume, por exemplo, as peles para ele não passam de simples objeto
de trabalho. Ele não está curtindo a pele do capitalista. A situação muda de
aspecto quando observamos o processo de produção do ponto de vista do
processo de criar valor. Os meios de produção se transformam imediatamente
em meios de absorção de trabalho alheio. Não é mais o trabalhador que
emprega os meios de produção, mas os meios de produção que empregam o
trabalhador (1998, p. 357).

Nesses moldes o trabalhador ficar submisso, tendo que aceitar as condições de trabalho
que é imposta pelo meio, sendo destituído do poder de controle sobre suas escolhas e ações,
visto que estão inseridos em uma relação de trabalho desequilibrada e de hipossuficiência, mas
são a partir dessas que eles conseguem recursos para prover sua subsistência. Quando o
capitalista compra a força de trabalho é como se estivesse alugando um animal para
desempenhar tal tarefa, mas não é bem assim, pois o um humano é diferente já que ele idealiza
como realizar tal ato, que dá outro valor ao que ele produz, tendo como resultado não apenas
aplicação da força de trabalho.
32

Ora, o trabalhador precisa do trabalho para sua sobrevivência, no entanto a exploração


deste trabalho por meio da classe dominante gera alguns males que devem ser suprimidos pelo
poder intervencionista do Estado, não pode o mesmo Estado que deve ser garantidor constituir
uma previdência ineficiente que deveria ter por finalidade a segurança dos trabalhadores e não
a segregação desta classe.

Nos países como o Brasil, ainda há um esforço de universalização da proteção


social, pois os sistemas previdenciários ainda são especialmente voltados a
funcionário públicos ou a uma pequena parcela da população que trabalha com
registro empregatício formal. Enfim uma estrutura elitista, clientelista e
ineficaz no combate a exclusão social, de reforma muito custosa em termos
políticos (SERAU, 2014, p. 40-41).

Diante disso deve ser pontuada a diferença entre a previdência, assistência social e
trabalho, visto que estão interligadas pelos resultados que surtem de umas para outras. Foi
demostrado que a exploração do trabalho no sistema econômico capitalista produz efeitos
negativos, que a Seguridade Social tem a função de atenuar tais efeitos negativos, então eles
devem estar interligados e não em sentidos opostos. Como pode tal instrumento exigirá a
contribuição de todos os trabalhadores se estes não estes não estão inseridos no mercado formal
que é da onde se origina o vínculo previdenciário, fazendo referência aos segurados
obrigatórios.
No entanto no RGPS também pode filiar-se como segurados facultativos, que são
aquelas pessoas maiores de dezesseis anos que não se enquadram na categoria dos segurados
obrigatórios, sendo eles a dona de casa, o síndico que não recebe remuneração, o artesão, o
estudante, o desempregado, etc. É uma medida paliativa pois não soluciona a fato de não existir
posto de trabalho para todos, neste momento o próprio sistema reconhece que não consegue
atender a todos e traz tratamentos diferenciados para estes. A contribuição não é calculada pela
base do INSS, e sim pela aferição de renda ao mês respeitando um limite de no mínimo R$
954,00 e o máximo de R$ 5.645 a partir de 2018 (ARAÚJO, 2018).
Assim que surgiu a Seguridade Social com o modelo beverigdiano tinha a ideia de
complemento no qual através deste se tinham o combate de agravamento de desigualdades
sociais, mas isso só é possível em países que conseguem manter ou promover direito ao
trabalho, ao pleno emprego para população, com isso além de conseguir realizar com
efetividade papéis previdenciários, também consegue instituir outros direitos que se originam
do trabalho, portanto eles não se repelem e sim se complementam, tendo uma lógica social.
33

Isso passa sofrer mudanças após a adoção de medidas neoliberais que são
fundamentadas pela crise que assolou o capitalismo a partir da década de 1970, ocorreu o que
Marx alertou há muito tempo, uma crise estrutural no capitalismo, onde fica impossibilitado de
manter e garantir o pleno emprego, não havendo mais trabalho para interligar o ciclo de
completude com seguridade, tende-se a ter não mais uma complementação e sim substituição
por parte da seguridade para os recursos que deveriam advir dos postos de trabalho, mas que
agora são inexistentes.
Boschette explana:

Essa situação atual não resolve, ao contrário, agudiza a histórica tensão entre
trabalho e assistência social, pois é a ausência de trabalho/emprego que
provoca a demanda pela expansão da assistência, sem que essa seja capaz de
resolver a questão do “direito ao trabalho” e o direito a ter direitos, nos marcos
do capitalismo. Assim, a assistência social não pode e não deve substituir o
trabalho, mas pode ser um elemento intrínseco de um sistema maior de
proteção social, complementar aos direitos do trabalho, podendo contribuir
para transferir renda do capital para o trabalho (2009, p. 09).

Quando se fala em trabalho não está falando de qualquer posto de trabalho, e sim
trabalho que possa garantir direitos que é justamente o trabalho formal, é nesse momento que o
Poder Público deve atuar, e não esperar pela mão invisível de Adam Smith, que já não prosperou
há muito tempo. É necessário que o Estado promova o emprego formal efetivamente para todos
os trabalhadores e logo depois possa exigir algo que é produto de tal trabalho, como a
contribuição.
Outro ponto importante é de como a organização previdenciária brasileira se dá,
exatamente por estar fundado na ótica securitária do modelo bismarkiano, a necessidade de
contribuição e filiação para ter acesso aos benefícios previdenciários como o próprio art. 201
da CF traz. Embora ela seja fundada por repartição simples onde há um pacto entre gerações,
os ativos pagam os benefícios dos inativos demonstrando uma solidariedade contributiva, que
acaba custeando os benefícios a serem pagos é o trabalhador como um todo, tanto os
empregados formais como informais, de acordo com as fontes de custeio da Seguridade Social.
Portanto quando se universalizar a contribuição sem antes dar condições para que todos
contribuam por meio do trabalho formal, esse princípio apenas perpetua a caráter excludente
que a previdência social sempre teve, onde desde os primórdios dividiu a classe trabalhadora
em setores e foi proporcionando direitos apenas como era conveniente ao Estado. Condicionar
a previdência a uma contribuição direta do trabalhador não garante seguridade promovida pelo
34

Estado, diante de sua funcionalidade assemelha-se mais um fundo particular contratado para
gerir recursos.
Comprovando mais uma vez que o modo como à política é adotada no Brasil acaba
excluindo parte da população, tendo caráter limitador e não promovedor como é a ideia
primordial. Então a saúde de que faz parte do tripé da Seguridade e dentre as ações é a única
tem uma classificação de universalidade na cobertura e no atendimento, que embora tenha
dificuldade em sua efetivação e é muito criticada pela falta de investimento e qualidade em seus
serviços prestados, tem caráter social a fim de promover saúde para todos.
Ficando a previdência social pelos cuidados do próprio trabalhador, onde através do
seu trabalho contribui para sua segurança no futuro ou para condições adversas que possam lhe
acontecer. Podendo configurar um risco até para os que estão empregados, visto que podem ser
demitidos e perde seu vínculo formal a qualquer momento. A estruturação do trabalho no Brasil
é algo em constante formação e por isso é fragilizada, dessa maneira, se perpetua trabalhos
informais com baixos salários devido as recorrentes mudanças econômicas, por consequência
é muito contraditório se exigir contribuições e filiação obrigatória para todos os trabalhadores,
visto que o trabalhador não é caracterizado pela contribuição que efetue ou não, o trabalhador
é caracterizado pelo poder de transformação da natureza, como aponta Marx (1998).
Vale ressaltar que o empregador também contribui, a Constituição Federal institui
regras comuns para o custeio das ações das três políticas específicas, e o art 195 da Carta
Política dispões sobre o financiamento da Seguridade Social como um todo, destarte isso não
quer dizer que ele contribui diretamente para a previdência.

2.2 Desamparo do trabalhador

Segundo os dados do IBGE de 2016 cerca de 50,7% das pessoas estavam ocupadas, ou
seja, estavam trabalhando, desde os que estavam empregados no setor privados com carteira
assinada era em torno de 50,3% de trabalhadores e na margem da informalidade neste mesmo
setor estavam 8,3% dos trabalhadores, esse número já foi maior, em 2008 mais de 13% estão
sem carteira assinada, de acordo com essa mesma pesquisa esse número vem diminuindo até
2016, o que fundamenta uma arrecadação maior para a previdência, visto que tem mais pessoas
contribuindo8.

8
Pesquisa Mensal de Emprego realizada em janeiro de 2016.
35

Sendo assim quanto mais pessoas estiverem empregadas melhor funcionará a


previdência social, este é o primeiro ponto que deve ser analisado, é necessário que o Estado
mantenha o pleno emprego para os trabalhadores, que seja dado condições que garantam o
direito ao emprego, pois a Seguridade Social deve andar ao lado das relações de emprego,
promovendo o bem-estar da sociedade. Quando o Estado não consegue manter o acesso às
condições de trabalho dignas que geram direitos, a lógica social da seguridade falha, e passa-se
a ter um assistencialismo, pois não existe posto de trabalho para os trabalhadores, e a renda
advinda das políticas públicas têm caráter de substituição no modo em que se adquire recursos
para a subsistência do trabalhador.
Já sabemos que o custeio da previdência é dado tanto pelos trabalhadores formais
através das contribuições que suas relações de trabalho produzem como também pelos
empregadores, e que a União destina dotações de seu orçamento para a Seguridade Social,
portanto ela não tem efetivamente uma contribuição para esta e sim um complemento quando
existe um déficit.
Boschetti dirá:

Em relação ao financiamento, quem paga a conta da seguridade social é,


majoritariamente, a contribuição dos empregadores e dos trabalhadores
sobre folha de salário, o que torna o financiamento regressivo, já que
sustentado nos rendimentos do trabalho. Assim, quem paga a maior parte
da conta da seguridade social são os trabalhadores, com o desconto em
folha, sendo que as contribuições sociais baseadas no lucro (CSLL) e
faturamento das empresas (Cofins) acabam sendo transferidas para as
mercadorias onerando os consumidores (2009, p.15).

As contribuições sociais são aquelas que são instituídas pelo Estado por meio de
tributos, no Brasil se tem uma previdência social de caráter contributivo, de forma indireta e
direta, onde a forma direta é dada pelos próprios beneficiários e a indireta pelo todo, já que
todos fazem parte do mercado consumidor que é onde dão origem às outras contribuições
indiretas, então é uma falácia dizer que só os beneficiários são os contribuintes já que existe
outras fontes de custeio para a previdência que derivam não só das relações de trabalho formal.
Gerando um paradoxo, pois as pessoas que custeiam de maneira indireta, mas que não tem
acesso ou trabalho formal podem ficar impossibilitadas de ter acesso aos benefícios
previdenciários.
Isso ocorre da seguinte maneira, os trabalhadores inseridos no mercado de trabalho
formal contribuem através de descontos nas suas folhas de pagamento, e os empregadores tão
contribuem essa contribuição que é feita pelos empregadores é passada para o consumidor final
36

no valor de vender os produtos que são produziram, por tanto a carga tributária recai na maior
parte para o próprio trabalhador. Neste caso mesmo contribuindo os trabalhadores não têm
acesso as políticas da previdência.

A obrigatoriedade da contribuição aniquila o princípio mínimo de


solidariedade, assegurado pelo sistema de distribuição primária. Essa
verdadeira clivagem expressa-se na restrição aos direitos sociais de proteção
ao trabalho - árdua conquista dos trabalhadores, advinda da determinação de
suas lutas. Restringe mais, pois, introduz mecanismos burocráticos, que
modificam a atual estrutura de acesso e de concessão, provocando uma crise
em relação aos direitos de proteção social ao trabalho (CARTAXO, 2013, p.
264).

Destarte, a exigência de contribuição que advém do emprego formal para que se torne
um beneficiário é caracterizado como um requisito que não pode ser seguindo pelos
trabalhadores informais, deixando este apenas com a opção de ser um segurado facultativo ou
de não ser um segurado. Por conseguinte, mesmo eles tendo esse direito de contribuir estão
inseridos em lógica em que todos têm a mesma oportunidade de contribui, ignorando a
desigualdade existente nas relações de emprego no Brasil. Este é o segundo ponto que será
analisado, a previdência social brasileira é limitadora e seletiva e não é voltada para lógica do
social e sim para a lógica de seguro, desde sua origem com a Lei Eloy Chaves em 1923 já tinha
essa característica securitária.
Isto posto verifica-se que a previdência social brasileira sempre foi excludente, pois no
processo de instituições previdenciárias não existiam a participação de alguns grupos
representantes de terminadas categorias, deste modo, foram se estabelecendo gradativamente
setores profissionais a serem atendidos pela política previdenciária. Ocorrendo que só a partir
de 1960 depois de 37 depois das primeiras instituições previdenciárias serem constituídos na
qual atendiam aos ferroviários e trabalhadores de doca, é que com a criação do Instituto
Nacional de Previdência Social- INPS é que se pode se vislumbrar outras categorias que fossem
reguladas pela Consolidação de Leis Trabalhistas- CLT, no entanto ainda era deixado de lado
as trabalhadores rurais e empregados domésticos.
A inserção dos trabalhadores rurais só se dá em 1971, com a institucionalização do
PRORURAL, sendo assim os primeiros regulamentos atendia a apenas algumas categorias que
foram inseridas de acordo com o que era cômodo ao Estado para aquele momento,
fundamentando a crise social que o Brasil está inserido. Ademais o Estado não consegue manter
ou garantir o direito ao trabalho e nem mesmo à efetivação da previdência social, já que um
37

está atrelado ao outro, desrespeitando direitos fundamentais do ser humano, direitos inerentes
ao homem.
Nessa perspectiva Marco Aurélio Serau Junior classifica os direitos sociais como algo
que busca possibilidade para uma vida digna:

Os direitos sociais como a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a


moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade
e à infância, a assistência ao desamparados relacionam-se a questões que
compõem expectativas básicas para a vida e a dignidade humana , atuando
como premissas matérias para o exercício de outro direitos fundamentais,
como aqueles tidos como mais tradicionais - direitos civis e políticos, ou
direitos de primeira geração (SERAU, 2014, p.26).

Embora a Constituição tenha trazido avanços para os direitos sociais o modelo


econômico capitalista a constrange, por acarretar problemas estruturais, altos níveis de
desigualdades sociais, um acanhado assalariamento e muito posto de trabalho na informalidade.
E o Estado é omisso a tais acontecimentos, eles negam o direito ao trabalho e aos benefícios
previdenciários, impedindo o desenvolvimento o humano, abrindo fissuras ainda maiores nas
desigualdades sociais existentes.
Então antes de promover a todos o direito de contribuir, é necessário que se tenha em
mente que primeiro deve se instituir relações de trabalho formais, deve ser dado ao trabalhador
a condição de contribuir para o sistema, dando acesso a todas as oportunidades de emprego
iguais, a partir disso ter-se-á uma previdência social efetiva para todos, havendo
verdadeiramente a redistribuição do capital, mesmo diante de tamanhas falhas Álvaro Solón
França destaca que:

Entre esses aspectos desconhecidos há um que se mostrou


extremamente relevante, após extensa pesquisa que tivemos a
oportunidade de realizar, com base nos dados de 2003: em 3.773 dos
5.561 municípios brasileiros avaliados (67,85%), o volume de
pagamento de benefícios previdenciários efetuados pelo INSS -
Instituto Nacional do Seguro Social supera o FPM - Fundo de
Participação dos Municípios. Ao contrário do que muitos poderiam
imaginar, o maior volume de pagamento de benefícios previdenciários
em relação ao FPM não é um fenômeno estritamente nordestino. Os
percentuais também são expressivos na Região Sudeste. No Rio de
Janeiro, em 81 dos 92 municípios os benefícios previdenciários
superam o FPM, o que representa 91,30%; no Espírito Santo isto se
verifica em 74 dos 78 municípios (94,87%); em Minas Gerais em 585
dos 853 municípios (68,58%) e em São Paulo em 519 dos 645
municípios (80,47%). Na Região Sul o maior percentual está no Paraná:
de 399 municípios, 305 convivem com essa realidade, ou 76,44%. Em
Santa Catarina é de 212 (72,35%) para o total de 293 municípios, e,
38

finalmente, no Rio Grande do Sul, 323 dos 497 municípios (portanto,


65,19%) registram maior pagamento de benefícios previdenciários em
relação ao FPM. Na Região Nordeste o recorde fica com Pernambuco
(86,49%), onde em 160 dos 185 municípios o pagamento de benefícios
é superior ao FPM. Já o segundo lugar fica com a Bahia (78,42%), onde
em 327 dos 417 municípios o pagamento de benefícios é superior ao
FPM. Estes dados são altamente representativos de uma realidade que
não pode ser ignorada: a Previdência Social reduz as desigualdades
sociais e exerce uma influência extraordinária na economia de um
incontável número de municípios brasileiros (FRANÇA, 2015, p. 20).

Portanto a previdência social tende a promover o bem-estar para toda a população, e não
só para beneficiários, já que promove a redistribuição de capital, cada vez mais se destacando
grau de importância de sua devida efetivação. A previdência social tem como função primordial
a de assegurar o trabalhador de situações de risco em eventos futurísticos, garantindo a
dignidade de trabalhadores e de pessoas que dependem deles, produzindo deste modo a
efetividade do regime democrático, que vislumbra a liberdade das pessoas, mas em sua
operacionalização ela deve promover outros direitos fundamentais de forma secundária.

A finalidade constitucional ao estabelecer direitos sociais como a previdência


e a assistência social é de assegurar ao indivíduo, mediante a prestação de
recursos matérias essenciais, uma existência digna, busca-se não apenas a
sobrevivência que atende aos elementos padrões de dignidade (SERAU, 2014,
p.34).

Seguindo esta lógica, a previdência social estar proporcionando diretos ainda de


primeira geração visto que garanta a liberdade do indivíduo, que só os têm quando eles são
respeitados e garantidos rigorosamente, e também proporciona direitos de segunda geração
porque direitos sociais estão estritamente ligado a este momento de ruptura epistemológica,
onde se vislumbrava o proletariado e a promoção do Estado Social, através da intervenção de
poder público, abandonando a tese de Adam Smith que a economia tinha uma mão invisível
que ajustaria o mercado que era defendida do primeiro momento.
Sendo necessário, a todo o momento a garantia das ideias da Revolução Francesa que
pregava a liberdade, igualdade e solidariedade, sem um não é possível se garantir o outro, pois
estes se completam, essa divisão foi criada pelo polonês Karel Vasac, (SERAU, 2014).
Ajudando na manutenção de outros direitos que são gerados por estes, pois a negligencia do
trabalho formal não afeta a efetivação de apenas um direito social e fundamental mais a outros
tantos. Podendo surgir assim uma geração de trabalhadores que são apenas assistidos, a fim de
39

suprir necessidades que surgem por eles não possuem trabalho, assim percebe que não há
coesão social.
Neste cenário não tinha como garantir a liberdade para quem não estava inserido nas
relações do capitalismo pontuado pelo grau de utilidade que as pessoas tinham para a atividade
econômica, assim o regime econômico não está para a sociedade e sim ao contrário, o homem
estar em detrimento deste modelo econômico. E mesmo diante de toda essa construção do social
este tema está duramente limitado quando ligado a aspectos econômicos que será destacado no
próximo capítulo.

2.3 Conflito com a isonomia formal

O modo como à previdência social se institui e desenvolveu acaba por promover uma
política seletiva, a obrigatoriedade de filiação obrigatória e a universalidade de contribuição,
exclui até mesmo quem contribui para previdência social. Embora seja um direito social,
garantido pela Constituição Federal, acaba por não surtir plenamente seus efeitos, José Afonso
da Silva (2010, p. 467) pontua que os direitos sociais são direitos fundamentais, onde só cumpre
sua real finalidade com uma efetivação plena, isto é, as normas estabelecedoras devem permitir
sua real institucionalização.
A previdência não cobre todos os trabalhadores, o Estado não consegue garantir posto
de trabalho para estes, é sabido que a seguridade social está ligada com as relações de trabalho,
para dirimir as desigualdades sociais em função desta. Logo as pessoas que trabalham não têm
acesso aos benefícios da seguridade/previdência social, são marginalizados duas vezes,
primeira quando os trabalhadores não conseguem ter acesso ao emprego formal e a segunda
vez é quando eles estão impedidos de receber benefícios que são gerados pelas relações de
trabalho.
Em um país marcado pela forte desigualdade social, por uma grande extensão territorial
onde cada vez mais as pessoas têm seus direitos fundamentais desrespeitados, a previdência
não surte seus efeitos visto que parte da classe trabalhadora fica sem atendimento. A
classificação dos direitos sociais é de direito fundamental, que são inerentes à condição de
humanos, não existindo outra via para que se garanta a vida com dignidade, por isso é
importante que o Estado permita o desenvolvimento, o que passou e gerou desigualdade está
petrificado no passado, o que vai dirimi-las e evitar a perpetuação destas é atuação do poder
40

público, que dentre essa atuação está à seguridade social, com as suas três ações- saúde,
assistência social e previdência social.
No entanto essa política da Previdência Social vem privando a cidadania de alguns
trabalhadores, uma relação deveria ser verticalizada do modo que um tem obrigações para o
outro, acaba não sendo recíproco. Constata-se que a previdência social nunca amparou a classe
trabalhadora como um todo, que seus princípios acabam afetando a isonomia, pois o modo
como se universaliza a contribuição ignora toda a conjuntura social brasileira. Ana Maria
Cartaxo sinaliza que a política previdência que ampara a proteção ao trabalho é deficitária, pois
acaba com o princípio de solidariedade que existe no sistema de repartição no qual os
trabalhadores ativos custeiam o benefício dos inativos:

A obrigatoriedade da contribuição aniquila o princípio mínimo de


solidariedade, assegurado pelo sistema de distribuição primária. Essa
verdadeira clivagem expressa-se na restrição aos direitos sociais de
proteção ao trabalho - árdua conquista dos trabalhadores, advinda da
determinação de suas lutas. Restringe mais, pois, introduz mecanismos
burocráticos, que modificam a atual estrutura de acesso e de concessão,
provocando uma crise em relação aos direitos de proteção social ao
trabalho (CARTAXO, 2003, p. 294).

Portanto é necessário que as normas se adequem as diferentes realidade do trabalhador,


pois cada um tem uma história, no qual os fatores externos podem piorar ou lhe permitir um
privilégio sobre o outro trabalhador, haja vista que já foi demonstrado toda a composição a
classe trabalhadora e suas particularidades, questões de cor e gênero ainda permeiam a
ocupação de posto de trabalhos formais existentes, destarte é mais fácil um homem branco
conseguir um trabalho do que o homem negro, para a mulher negra a dificuldade é ainda maior,
sendo que possui dois pesos acarretados sua cor e seu gênero.
Consequentemente não temos uma universalização da previdência social, temos uma
proteção apenas aos trabalhadores que estiverem inseridos no mercado de trabalho formal,
contudo a previdência social não ampara o risco social do desemprego, então estes podem vim
a perder seus vínculos a qualquer momento. A outra grande parcela de proteção se concentra
na classe dos servidores públicos, tendo em conta que os servidores públicos podem ser
exonerados embora tenham que atender requisitos legais, também sofre os riscos do
desemprego que acaba atingindo a todos, porém não se compara com os riscos que o trabalhador
da iniciativa privada, que trabalha para gerar lucros e tem sua força de trabalho transformada
em mercadoria.
41

A previdência social deve ser um instrumento promotor de cidadania, atenuante de


desigualdades sociais e promovedor de justiça social, no entanto isso está sempre atrelado a
onerosidade das contas públicas, argumento que visa ridicularizar o projeto de efetivar a
cidadania, usa a palavra projeto, justamente porque não surtir os efeitos necessários para a plena
efetivação. Tendo atualmente defensores que afirma existir direitos sociais classificados como
o mínimo existencial para uma vida digna e outros que estão destinados a reserva do possível.
Diante disso Karine Rocha Martin Volpe conceitua ambas:

No caso do Brasil, constata-se um País desigual, em que as condições mais


primárias para uma vida digna não são atingidas por grande parcela da
população, ainda desprovida de serviços básicos de saúde, educação,
saneamento, alimentação e moradia. Nesse sentido, o mínimo existencial pode
ser compreendido como as condições básicas, fundamentais, para que as
pessoas consigam viver com um mínimo de dignidade, e isso exige prestações
positivas por parte do Estado[...]. A Reserva do Possível está relacionada com
as limitações orçamentárias e financeiras que restringem o integral
atendimento dos direitos sociais constitucionalmente estabelecidos. A
escassez de recursos econômicos exige que essas demandas sejam
gradativamente atendidas por intermédio de planejamento governamental e
seleção de prioridades. Nesse momento de escolha das prioridades é que a
reserva do possível relaciona-se com o mínimo existencial, de forma que as
limitações econômicas não deveriam ser consideradas suficientes para a
inércia do poder público frente à garantia dos direitos mínimos, ou seja, não
deveria ser justificativa o argumento de que não existem recursos para
realização do mínimo (2012, p. 02-03).

Diante destes argumentos em tela é discutido onde os direitos sociais se enquadram, em


que classificação estar, se contemplam todos ou apenas uma parte destes direitos, defendendo
o que é obrigação primordial do Estado se referindo ao mínimo existencial, mas que na nossa
conjuntura engloba todos os direitos sociais, fazendo parte de um único núcleo visto de um
depende do ouro com concatenações de atividades, onde fica impossibilitado pular etapas, e
isto é fundamentado pelo enquadramento de direitos sociais como diretos fundamentais,
portanto toda a seguridade social não pode ser tratada como reserva do possível.
No entanto Ricardo Lobo Torres (2009, p. 244) não considera que todos os direitos
sociais façam parte do mínimo existencial, para ele apenas os diretos querelados pela seguridade
social, o direito à moradia, educação e acesso à justiça, no entanto como este trabalho versa
sobre os direitos instituído pela seguridade social, estes deveriam ser garantidos pelo Estado
essencialmente. Portanto o trabalhador pode exigir esse direito quando não instituídos pelas
vias judiciais, no tocante a toda a seguridade.
42

Já para Ana Paula de Barcellos (2008. p. 288), o que constitui o mínimo existencial seria
os diretos que versam sobre a garantia da dignidade humana, portanto ação primordial do estado
é garantir a efetivação da dignidade humana e esses direitos não pode estar enquadrado na
reserva do possível, o Estado não pode julgar se é necessário ou não está promoção, e se valer
do argumento de falta de recurso para o desempenho deste.
Sendo assim institui apenas quatro elementos constituidores do mínimo existencial, que
são eles assistência aos desamparados, saúde básica, educação básica e acesso à justiça. À vista
disso ela classifica a seguridade social como algo que está relacionado a reserva do possível, a
classificando de maneira pior, os deixando ao bel prazer do chefe do poder executivo, já que
são eles que elaboram o Lei Orçamentária Anual- LDO em conformidade com o Plano
Plurianual- PPA, sendo assim é um risco contextualizá-lo desta forma, visto que diante de
estarmos passando por uma construção democrática e possa ser eleitos pessoas que demonizam
tais direitos e diante disso suprimi-los.
É demonstrado desse modo o desmonte da previdência social, aquilo que nem conseguiu
se efetivar vem sofrendo grandes abalos, não consegue se efetivar por conta da forma como se
instalou e de seus princípios basilares, deixando de proteger as relações de trabalho e tendente
a se tornar uma política de assistencialismo, forma outra classe de dependentes que são os
desempregados, isso ocorre por conta da crise econômica que se instalou nos anos 70 e vêm
corroendo as relações de trabalho, baixos rendimentos salariais e junto com a escassez de posto
de trabalho, isso tem um agravamento ainda maior nos países emergente como o Brasil, que
acaba por acumular todos os problemas, tendo sempre que se reinventarem por isso os direitos
sociais não são estáticos sempre estão se modificando com o passar do tempo visando uma
coaduna com as necessidades do social.
Ademais é possível perceber que o movimento que pleiteava a garantia previdenciária
no Brasil foi tardio e andou na contramão do que acontecia no restante do mundo foi quando
Welfare State entra em crise que o Brasil o institui constitucionalmente, enquanto o Brasil está
nos seus primeiros passos quanto à instauração de um Estado-Providência eram aplicados
mundo afora medidas neoliberais que vieram para decompô-lo.
Marco Aurélio Serau Junior afirma outro ponto de tais medidas neoliberal:

O modelo neoliberal privilegia as relações de mercado com o


fator de regulação de economia e da sociedade. Além disso
divulga uma concepção de Estado-mínimo e subserviente ao
processo produtivo, acompanha de atitude agressiva contra os
gastos públicos, inclusive sociais, tido como duvidosos e
inúteis, estabelecendo a intocabilidade do lucro fácil e
43

desimpedido, sem qualquer forma de compromisso com os


direitos fundamentais (2014, p.43).

Desta forma é colocado o ser humano sob os pilares de cunho econômico, acontecendo
deste modo uma dessocialização do Estado, o desobrigado de promover o desenvolvimento por
meio do adelgaçamento das desigualdades sociais, o homem está em detrimento do lucro.
A universalização da contribuição que dar a oportunidade de todos contribuírem não
está de acordo com as necessidades de alguns desta forma não os pode tratar de maneira igual,
sendo que sua posição já é de desigualdade, primeiro deve ser promovida a isonomia que é o
tratamento dos desiguais de acordo com suas desigualdades.

A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar


desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam.
Nesta igualdade social, proporcionada à desigualdade natural,
é que se acha a verdadeira lei da igualdade. Tratar com
desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria
desigualdade flagrante, e não igualdade real. (RUI BARBOSA,
2003).

Consequentemente não se pode aplicar o conceito de igualdade de modo engessado, ela


precisa ir se moldando, alcançando paulatinamente todos os campos e inserindo cidadania aos
individuas, os humanizando-os. Este princípio deve ser fundamentador da previdência social
no Brasil, pois ao contrário trará apenas mais desigualdades, mas distanciação entre classe e
corroboraram para a destituição de direitos inerentes ao homem. Deste modo estará designada
ao fracasso já que não atende a função social, se dissipando por deter normas que impedem a
efetivação plena ou parcial dos direitos fundamentais do homem.
Deste modo é notória a realidade e disparidade no sistema previdenciário brasileiro que
sempre promoveu tal política dividindo os trabalhadores por setores, no qual criou-se um
clientelismo na previdência, onde se deixou de fora parte dos trabalhadores, com o tempo que
tais setores eram introduzidos nos mecanismos previdenciários de acordo com a conjuntura
política que se passava no momento. Os que foram inseridos por último foram os trabalhadores
rurais, no entanto como vem se demonstrando não se deixou de excluir setores, e ainda são
excluídos os trabalhadores que estão inseridos no mercado informal.
Contudo tais princípios atende apenas igualdade, que é aquela que trata todos de maneira
igual perante a lei, que está presente na nossa Constituição Federal. Essa universalização da
contribuição atende somente a esta igualdade engessada. No entanto ela deveria seguir o caráter
isonômico material, onde trabalhadores podem receber tratamentos desiguais ou iguais de
44

acordo com a conjuntura que este pertence. Quando as situações colocarem o trabalhador em
condições iguais, igualmente estes devem ser tratados, mas quando os põe em situações
diferentes deve atendê-los de maneira diferenciada.
45

3 A REFORMA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL E SEUS IMPACTOS À CLASSE


TRABALHADORA

As fortes intenções e ações por parte do Poder Executivo para reduzir ainda mais as
formas de acesso da classe trabalhadora a esta política serão abordadas neste capítulo. Ficando
claro que a classes dominante estão no poder e da lá não saem, mesmo que de forma indireta
controlam as ações do chefe do estado, a fim de aumentar ainda mais as formas de exploração
do homem que constitui as classes trabalhadoras.
Logo depois será mostrada as reformas do poder executivo, desde Constituição Federal
de 1988 até os dias de hoje, como cada uma delas podem afetar a vida do trabalhador que está
inserido na conjuntura social brasileira, reforçando que aumentam as desigualdades e
compactua com as ações de agravamento dos males que foram causados no passado.
No segundo momento analisar-se-á o atual projeto de reforma que tem a pretensão de
ser instituída pelo governo atual, e o que ele tem incomum com as demais já realizadas por
outros chefes de estado, sinalizando as principais mudanças que terá de enfrentar classe
trabalhadores na efetivação de seus direitos, dando ênfase maior a possibilidade desta reforma
trazer retrocessos significativos para o trabalhador como um todo.
Por fim será feito uma síntese de tudo que fomenta a decomposição da previdência
social e de suas transformações que descaracteriza a real função da lógica social. Evidenciando
os problemas estruturantes do capitalismo, que foram demonstrados há dois séculos por Marx,
que a denominou por crise do capital. No entanto este trabalho não tem nenhuma pretensão de
defender outro modelo econômico, e sim demonstrar os problemas que existe nesse já que é o
que foi adotado pelo Brasil constitucionalmente.

3.1 As reformas que ocorrem durante as últimas décadas

Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988 que surgiu a tese de que o país
se tornaria ingovernável, pois iria trazer uma onerosidade muito grande para os gastos públicos,
já no início o Estado-Providência foi duramente criticado até pelos chefes do poder executivo
que no momento era José Sarney, inclusive a fala do país ingovernável foi dele onde foi
transmitida pelo por uma rede de televisão. E isso fomenta uma grande desinformação e
desinteresse para toda atividade que tenha como escopo o social, foi criado na mente das
46

pessoas diversas teses que passam uma imagem negativa para diversas ações que emergem do
social ou para o social.
Assim sendo existiu e existe uma negação dos direitos sociais da constituição, logo após
a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi designado que Instituto de Administração
da Previdência Social- IAPAS que era o responsável constitucionalmente de cuidar da gerência
do orçamento da seguridade social fosse transferido para o Ministério da Fazenda, deste modo
às receitas ficaram subordinadas e foram recolhidas pelo Tesouro Nacional, essas foram umas
das primeiras manobras para retardar a efetivação dos direitos sociais, mas não a última.
Neste cenário também não foi observado os prazos que foram instituídos pela CF/88
para que o poder executivo organizasse a regulamentação da seguridade social, mediante lei
que integrasse as três ações, no entanto organizou-se por setores em contradição com o texto
constitucional que visava promover a articulação das três políticas. Também deixou o executivo
de formular projeto de orçamento para a seguridade social, ademais se apoderaram de receitas
da seguridade social para o financiamento do déficit público. E tudo isso era fundamentado pela
acusação que o constituinte teria sido irresponsável em criar despesas que não estão de acordo
com as receitas arrecadadas. Desde já, sinalizavam não existir recursos suficientes para suprir
os novos direitos.

O argumento da “catástrofe” fiscal também foi retomado pela área econômica


para justificar as deformações impostas na fase de regulamentação
complementar da Seguridade Social. A previdência social foi particularmente
vítima dessa estratégia alarmista. O discurso oficial era claro e direto: as
causas do déficit da previdência eram os novos direitos, cujos impactos
financeiros “não foram avaliados pelos constituintes”; estes, de forma
“irresponsável”, criaram “despesas sem contrapartida de receitas”; logo, caso
o Congresso não apontasse novas fontes de financiamento ou cortasse
despesas pré-existentes, a única alternativa técnica possível era negar a
concessão dos novos direitos (FAGNANE, p. 5, 2010, grifos no original).

Deste modo desde instituição, a seguridade social era duramente atacada, sendo
demonstrado a resistência da classe dominante em aceitar a distribuição do capital, e de
reconhecer direitos das classes que dominavam. Muito embora já tenha sido esses direitos
instituídos de maneira tardia, onde o mundo promovia o Estado-mínimo, essa onda não
demorou muito a chegar por aqui, aliás, ela se quer saiu. Com isso os conservadores apoiaram
eleição de Collor, assim teriam eles a oportunidade de manter alguém dentro do poder executivo
que pactuarem de seus ideais, e assim ocorreu, Collor ganhou as eleições presidenciais.
47

Os constituintes de 1988 determinaram que a Constituição fosse revisada em


1993, integralmente, pela maioria absoluta dos votos do Congresso Nacional.
Esse seria o momento aguardado para, de uma vez por todas, enterrar a
“anacrônica” Constituição da República. Nesse contexto, a estratégia do
Governo Collor para a política social era formular nova agenda de reformas,
na expectativa dessa revisão constitucional prevista para 1993. Entretanto, as
turbulências decorrentes do impeachment do presidente Collor ao longo de
1992 e as indefinições e instabilidades presentes em 1993 acabaram
inviabilizando a revisão constitucional. Assim, o funeral da Carta de 1988 teve
de ser adiado (FAGNINE, 2010, p.5).

Sendo assim, a mais tardar viria reforma a fim de alcançar estes intuitos, e foi o que
aconteceu, não foi criado o Ministério da Seguridade Social no qual trataria das três ações e, o
que se concretizou foi a instituição do atual INSS que era a fusão do IAPAS e o INPS. As ações
para sensibilizar orçamento da seguridade social seguiram forte, e em 1994 foi instituído o que
na época chamou-se de Fundo Social de Emergência onde 20% dos recursos que estavam
destinados às despesas da seguridade se desvincularam de tal destino para serem usados em sua
maioria para o pagamento dos juros da dívida pública, hoje chama-se de Desvinculação de
Receitas da União- DRU, também foi alterado a porcentagem que subiu para 30%.
Logo, em 1998 houve primeira contrarreforma realizada no governo de Fernando
Henrique Cardoso, a Emenda constitucional de nº 20/98 onde instituiu mudanças no sistema
probatório que se referia ao tempo de serviço, a partir deste advento deveria se referir ao tempo
de contribuição; pois fim a aposentadoria proporcional; salário mínimo e benefício
previdenciário não se vinculam mais para os benefícios que estavam acima do teto e também
foi diminuído a o teto nominal do benefício. No tocante às mudanças ocorridas pelo tempo de
contribuição, até o momento a aposentadoria era apenas exigido a tempo de serviço de 35 anos
para o homem e 30 anos para a mulher.
Porém a reforma institui a acumulação com idade mínima de 65 anos para homens e 60
anos para mulheres, mas tal ideia não prosperou e foi dada a alternativa de ter a idade mínima
combinado com 15 anos de contribuição, para a aposentadoria por idade. Para a aposentadoria
por tempo de contribuição ficou instituído 30 anos para a mulher e 35 para homem, com idade
mínima de 53 e 48 anos, respectivamente. E a partir de 1999 foi criado o fator previdenciário e
começou a incidir sobre as aposentadorias do tempo de contribuição, com isso teve-se uma
perda nos valores dos benefícios.

Com a adoção do fator previdenciário houve perda de valor dos benefícios, o


que pôde ser comprovado em 2005, primeiro ano em que o fator foi aplicado
integralmente. Segundo estudo feito pela Associação Nacional dos Auditores
Fiscais da Previdência Social (Anfip), o fator previdenciário, criado em 1999,
48

foi utilizado de forma gradual (0,5% ao mês) e crescente durante cinco anos.
Só em 2005 o INSS adotou o fator “cheio” para calcular os benefícios, o que
levou à redução do valor médio das aposentadorias por tempo de contribuição
em 3,09% naquele ano (GENTIL, 2006, p.143).

Ademais vale ressaltar de nesta década a expectativa de vida era de 68,4 anos para os
ambos os sexos segundo o IBGE, portanto essa instituição foi contraditória para a realidade dos
idosos daquela época, visto que quando finalmente os idosos seriam amparados por conta de
sua idade e por terem atendidos requisitos existentes, em média com três anos passados viriam
a falecer, também ficou proibido à condição de segurado facultativo para os que já integravam
o RGPS, apenas trabalhadores baixa renda passou a ser designado o salário família. Também
houve a extinção da pensão integral por morte, alguns estados e município chegaram a instituir
contribuições para os aposentados, porém, foi impedido pelo STF essa prática.
De mesmo modo Fernando Henrique Cardoso usava como atributo desta reforma as
desigualdades entre o RGPS e o RPPS, desde valores dos benefícios até a possibilidade de
aposentadoria integral, defendendo que a existências dos dois regimes privilegia setores,
trazendo a possibilidade na reforma de regras únicas para os dois regimes, fomentado o teto
para os benéficos, no entanto não foram aprovados tais projetos pelo Congresso Nacional, visto
que a classe de servidores se opôs a essas ações.
Foram medidas que viriam limitando a seguridade que passou a ter o caráter de seguro
social, nesse tempo tinha-se a tese da reforma da previdência com o cunho de ajuste fiscal,
todos os países da América Latina viveram esse momento, com o intuito de desenvolver essas
economias. Em 2003 O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional controlavam de
maneira indireta as reformas estruturais no qual versam pela migração dos sistemas
previdenciários para o modelo de capitalização, que naquele tempo foi considerado que seria
pago custos muitos altos para o social. Todavia, essa reestruturação previdenciária tem feito
com que o trabalhador que tenho salários melhores busque o sistema de previdência privada.
Com a eleição que deu vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, tinha se em mente nos ares
na concepção dos trabalhadores que finalmente tinham verdadeiramente um representante, não
obstante as reformas que eram estruturadas pelo FMI e Banco Mundial continuaram a serem
implementadas como outro escopo, a reforma dos servidores públicos que não foi aprovada por
FHC, tomou uma nova forma e foi encaminhada para o congresso pelo então presidente Lula
no início do ano de 2003, recendendo a denominação de Pec nº 41/03, onde tinha a
fundamentação de promover a justiça social, atingindo principalmente os servidores públicos.
49

Havia vários argumentos em torno da urgência da reforma do regime próprio


dos servidores. O primeiro deles era de que, nas reformas ocorridas em vários
países da OCDE, mesmo entre aqueles que são referência para políticas de
bem-estar, houve uma tendência de convergência entre os sistemas
previdenciários dos setores público e privado, por meio da unificação dos
regimes ou da homogeneização das regras. Este processo tem sido
acompanhado pelo desenvolvimento de esquemas de previdência
complementar e suplementar privada, de benefício definido (GENTIL, 2006,
p.5).

OCDE é uma organização que pretende desenvolver economicamente os países que


participam, estes devem coadunar com os princípios da economia de mercado. O OCDE é
regido pelas regras do Estado-mínimo, ou seja, o estado pouco deve interferir, com isso visam
promover as previdências privadas e complementares, deste modo faz com que previdência
social perde seu caráter de lógica social promovida pelo setor público. Todavia essa proposta
de unificar os regimes não prosperou justamente por custar muito caro para os estados e
municípios, a transição de seus servidores para o INSS.
Portanto a reforma de 2003 resulta apenas em um ajustamento no sistema de repartição
para a geração de novos servidores, gerando novas regras. Tendo o intuído de fazer com que os
servidores que se aposentarem recebessem benefícios de acordo com a contribuição que fizeram
enquanto estavam ativos. Foram criadas contribuições para os servidores inativos, sendo
estabelecido um teto de R$ 2.400,00 para que o servidor recebesse na integralidade seus
benefícios, passando disso incidia o valor de 30% de desconto. Para os servidores futuro ficou
instituída a idade de 65 anos para homens e 55 para mulheres, também incidindo a porcentagem
de 5% para aqueles que preferisse adiantar sua aposentadoria.
Ficou vedada também a possibilidade de mais de um RPPS, cabendo o beneficiário a
escolha daquele que preferisse ter acesso, estabelecendo um teto para as grandes aposentadorias
que eram instituídas pelo regime próprio, assim sendo não pode ultrapassar a remuneração do
ministro do STF, no tocante aos municípios não devem ultrapassar a remuneração do prefeito,
para os estados e o Distrito Federal o limite é a remuneração dos governadores. Proporcionando
um prêmio para aqueles servidores que protelar a sua aposentadoria, nestes termos teria ele o
incide o valor de 11% em seu benefício. No tocante a previdência complementar é exigida pela
reforma que seja instituída por Lei de iniciativa dos entes políticos, atuando pelo regime de
capitalização, sendo facultada ao servidor sua filiação, ademais, essa promoção do regime
complementar visa transformar a previdência social em uma comercialização de benéficos,
perdendo seu caráter de lógica social.
50

Com isso é vislumbrado que o RPPS foi o maior alvo da reforma, ainda em 2003 veio o
advento de outra Emenda sob o nº 43 de 2003, uma reforma tributária que alcançava a
seguridade social, dentre elas estava a exigência de lei complementar regulamentar o tratamento
diferenciado para as microempresas e empresas de pequeno porte, foi permitido que a lei
promovesse contribuição para a seguridade através do PIS- Importação e COFINS- Importação,
também estabeleceu setores que não caberia acumulação de contribuições incidente sobre
faturamento e receita.
Dilma expandiu ainda mais essas reforma em seu governo, como regras para a concessão
de pensão por morte e do auxílio-reclusão, estipulando a necessidade de dois anos de casamento
ou união estável, ainda foi posto como requisito uma carência de 24 meses de contribuição, o
auxílio-doença que era custeado pelo empregador por 15 dias e depois de transcorrido esse
tempo à seguridade era quem custeava seu afastamento, após a reforma passou ser de 30 dias o
custeio do empregador e só depois destes 30 dias é que começava a ser custeado pela
seguridade, passando a ser proporcional às contribuições existentes, se passar de 12 salários
contribuições a média será calculada sobre estes, neste mesmo moldes está a aposentadoria por
invalidez. Trazendo também mudanças nos quesitos de abono-salarial, seguro-desemprego,
seguro-desemprego para os pescadores artesanais, chamando de seguro defeso.
Dilma também permitiu que o INSS terceirizasse as perícias, podendo ela serem feitas
pela empresa onde o empregador estar trabalhando, interferindo substancialmente na
imparcialidade de tais perícias, agravando a condição de hipossuficiência do trabalhador,
ademais ainda desonerou as empresas. No segundo mandato Dilma através da Lei nº 13.183
fortaleceu o fator previdenciário, promoveu também à inserção de todo novo servidor a
previdência complementar.
Dentre todo esse conglomerado de ações onde setores foram prejudicados
gradativamente, tem-se a dificuldade do acesso da classe trabalhadora a previdência social.
Ações do poder executivo que visam junto com detentores do meio de produção a dissipação
do homem, influenciado pela ideia de acumulação de riquezas em detrimento do homem,
algumas ações dos detentores dos meios de produção são legitimadas pelo poder executivo tanto
do Brasil como de outros países. E não para por aí, a tese da ingovernabilidade anda mais viva
que nunca, por isso outras ações estão por vir, esse modelo da atual previdência parece não ser
mais satisfatório para trabalhador, passa-se por uma reformulação que não se sabe até onde vão
suas consequências.
51

3.2 A atual reforma do Poder Executivo

Essa reforma pretende promover a financeirização e instituição de um modelo de


previdência privada, através de cortes que prejudicam os menos favorecidos, as pessoas que a
muito tempo desde seus antepassados vivem marginalizados. Com essa nova reforma se perder
qualquer resquício que a seguridade social brasileira tenha de promover o bem-estar para a
sociedade, se perde a função social do instituto. A economia de despesa almejada pela reforma
está intrinsecamente ligada ao o aumento de obstáculos para a classe trabalhadora ter acesso a
essa política.
Dentre as ações do poder executivo e suas teses, atualmente tem o projeto de outra
reforma da previdência, com a fundamentação de déficit previdenciário, e da necessidade que
ela aconteça para que se possam gerar empregos, atualmente a taxa de desemprego segundo
IBGE/2019 é de 12,4%, isto é, 13,1 milhões de pessoas desempregadas 9, essa tese já era
defendida para legitimar a Reforma Trabalhista que ocorreu 2017, Lei nº 13.467/2017, onde
algumas regras para o trabalho autônomo, trabalho temporário, trabalho intermitente, com as
indenizações por dano moral e com alguns quesitos ligados a jornada de trabalho dentre outras
coisas mudaram, me abstenho da análise visto que o objeto deste trabalho é outro.
No primeiro momento, é visto que as regras para a previdência não têm mais como base
a Constituição, passando a ser tratado por lei complementares, promovendo menos rigor em
futuras possíveis alterações. A matéria dessas leis complementares é bastante vaga, e irá seguir
regras básicas, mas precisará de maioria absoluta para sua aprovação. A PEC 6/2019 faz novas
exigências para o acesso a novos benéficos, coibindo a acumulação de benefícios, sendo
bastante dura com os trabalhadores rurais, deficientes físicos e idosos carentes.

Os aspectos essenciais dos direitos previdenciários dos servidores públicos e


dos segurados do regime geral são remetidos para a regulamentação em lei
complementar, que deve tratar dos requisitos de elegibilidade dos benefícios,
entre os quais idade mínima, tempo de contribuição, caráter progressivo da
contribuição, regras de cálculo, reajustamento dos benefícios e forma de
equacionamento de déficits (QUEIROZ, p.15, 2019).

A atual proposta traz inovações de uma forma negativa para os dois regimes, no que e
refere à RPPS, logo no começo traz a possibilidade de readaptação do servidor que tenha sofrido
limitações, eles serão readaptados para áreas em que possa trabalhar de acordo com suas

9
Regiane Oliveira, online EL PAÍS.
52

limitações, também é necessário que o servidor tenha completado idade, tempo de serviço,
cargo e atividade específica, para tenha acesso ao benéfico na sua integralidade, e o tempo de
contribuição aumentou agora é de 40 anos. O prazo para aquele que pretendia se aposentar sem
a integralidade do benefício, antes era exigido ao menos 15 anos de contribuição, a partir da
reforma esse tempo aumentou para 20 anos. Permitiu a instituição de contribuições
extraordinárias que estará vinculada ao equacionamento do déficit previdenciário atual, que terá
alíquota em consonância com o valor de base da contribuição e a condição da atividade.
Sendo assim a atual reforma assim como as dos governos passados visam unificar os
dois regimes, essa traz a limitação do benefício dos servidores ao teto do RGPS, que atualmente
é de R$ 5.839,45. Avoca a União, Estados e Municípios a obrigatoriedade de estabelecimento
da previdência complementar, que perde o caráter público podendo ter a gestão por entidade
privada. Do mesmo modo diz que a União, os Estados e os Municípios instituem um novo
regime de previdência social, que tenha como base no regime de capitalização, e os termo e
prazos serão definidos por lei complementar.
Neste dado momento a lógica social é perdida por completo, e que se caracteriza é
justamente um contrato de seguro, de caráter privado e contributivo, custeado apenas por ele
mesmo, perdendo a natureza de seguridade pública e solidária. É extinto o princípio da
solidariedade, a segurança do trabalhador dependerá somente dele, ademais a parte dos
trabalhadores que é desamparada pela atual previdência aumentará, visto o baixo nível salarial
presente no país quem estar à margem das relações de trabalho não recebe o valor estipulado
como mínimo de salário, deste modo não terá condições de tirar do pouco que ganha para
contribuir para sua previdência, a desigualdade no Brasil crescerá ainda mais.

Embora de forma pouco esclarecedora, o texto sugere que a capitalização


individual será um regime obrigatório e concorrerá com o RGPS e os RPPSs.
Ao contrário de outros países, não se trata de uma proposta de
complementaridade entre regime de repartição, que seria um pilar, e outro, de
capitalização. Seria, como dito, uma concorrência entre dois regimes. De
acordo com a proposta, a opção por esse sistema será “de caráter obrigatório
para quem aderir” e o optante não poderá reconsiderar sua decisão e ingressar
no sistema de repartição. No pressuposto razoável de que as empresas só
oferecem empregos sob o sistema de “carteira de trabalho verde-amarela” e
sem contribuição patronal para a Previdência, o sistema de repartição tende a
morrer de inanição a longo prazo. A adoção de um regime de capitalização
privatizado, em contas individuais e com benefícios de contribuição definida,
suprime características básicas e bem-sucedidas da política de proteção
previdenciária hoje existente no país, de cunho solidário. A experiência dos
países latino-americanos e do leste europeu que adotaram esse tipo de sistema
resultou em aumento da pobreza entre a população idosa, a ponto de impor a
necessidade de reforma do modelo. O sistema de contas individuais e mantidas
53

por entidades privadas cria um terreno propício para a transferência da gestão


da Previdência Social a bancos e seguradoras, ou seja, para a privatização
dessa política social. De todo modo, a possibilidade de capitalização nocional
poderia levar a um regime previdenciário organizado coletivamente e de
natureza pública, menos suscetível à volatilidade e risco dos sistemas
privatizados (DIEESE, 2019, p.14).

O conteúdo da proposta altera a nomenclatura do que define a condição de segurado do


RGPS, onde despreza o risco social de doença e substitui por “incapacidade temporária”,
também muda o que se refere à proteção à maternidade, referindo-se ao salário-maternidade,
no qual fica restrito o acesso até os 180 dias após o nascimento, antes era de 5 anos. O projeto
omite a vinculação com o salário mínimo da pensão por morte, visto que perde a caracterização
de risco social, em que a pensão deveria substituir os recursos provenientes do trabalho, o
cálculo será feito de maneira diferente onde utiliza cotas familiares de 50% com o acréscimo
de 10% por menores, conjugando com o cálculo de duração do benefício.
Sempre se referindo que a lei completar irá dispor sobre os assuntos. Também é
instituída uma contribuição para o segurado especial, que são os trabalhadores rurais e
pescadores artesanais, juntamente com seus cônjuges e filhos maiores de dezesseis anos devem
contribuir por 20 anos, de maneira mensal. Essa contribuição individual acaba por excluir
mulheres e jovens, pois a formação patriarcal das famílias pode interferir na condição de
contribuinte para cada indivíduo, e outra muitas vezes essas famílias plantam alimentos que
visam apenas a sua manutenção, não gerando dessa forma renda e sim produtos, essas famílias
geralmente são numerosas, a condição de contribuintes individualizados os prejudicam e não
estar de acordo com sua realidade.
Para os trabalhadores rurais, pescadores artesanais, e para os professores, fica
determinado idade básica de 60 para ambos os sexos, e o tempo de contribuição fica de 30 anos,
para a mulher aumenta cinco anos na idade e cinco anos de contribuição, para o homem só
aumenta o tempo de contribuição, com isso a mulher passa a se aposentar com mais idade,
ademais tem que se comprovar efetivo serviço em função do magistério, de maneira exclusiva.
Hoje em dia era exigido apenas 25 anos de exercício de magistério, no entanto se o professor
atingir o tempo de contribuição ficará ainda em trabalho esperando atingir a idade de 60 anos
imposta como requisito para usufruir da aposentadoria.

Ao dificultar, sobremaneira, a aposentadoria de professores, em especial das


mulheres, a regra contribui fortemente para o ajuste financeiro e atuarial dos
RPPSs, já que essas trabalhadoras formam parcela expressiva dos segurados
desses regimes, sobretudo nos Estados. Esta medida, como a restrição ao BPC,
é outro exemplo de que a redução de gastos almejado não se dará através da
54

adoção de medidas restritivas focadas em segmentos populacionais


privilegiados (DIEESE, 2019, p. 20).

Sobre o abono salarial, hoje o limite é para aqueles que recebem até dois salários
mínimos, e visa alcançar os trabalhadores de renda baixa, com o projeto a um cálculo de um
doze avos do salário por mês trabalhado e impõe um limite de um salário mínimo para que se
tenha acesso ao benefício (Art. 239, § 3º). A proposta também afetará quem se aposentar e
mantiver vínculo empregatício que deixará de ter direito aos 40% do FGTS. Ocorre uma
substituição de termos que tem por intenção limitar o acesso ao benéfico, no que se refere ao
auxílio-reclusão e salário família, é trocado os termos que fazem alusão aos segurados de baixa
renda por segurados de renda mensal de até um salário mínimo.
Confecciona uma nova forma de financiamento da seguridade social, prevê o
desmembramento das ações de assistência social, previdência social e saúde, contrariando o
próprio texto constitucional que configura o tripé da seguridade social. No mesmo liame prevê
a redução de 40% para 28% da fração das parcelas que é destinado aos programas que visam o
desenvolvimento.

Essa mudança é um retrocesso em relação à atual concepção constitucional de


Seguridade Social e de Previdência como um “contrato social solidário e
democrático”. Embora o artigo 201 já preveja o caráter contributivo da
Previdência Social, a Carta Magna concebeu as políticas públicas de
previdência, saúde e assistência social como partes articuladas e integradas de
um sistema de proteção social, denominado Seguridade Social, que conta com
uma base ampla e diversificada de fontes de financiamento, sem vinculação
específica a nenhuma dessas três políticas públicas. Ao promover a
segregação contábil dos orçamentos da saúde, previdência e da assistência, a
PEC reforça a concepção de previdência como um seguro relativo à perda de
capacidade laboral, de natureza contributiva e desvinculado de uma política
maior, de Estado, voltada à proteção social dos brasileiros (DIEESE, 2019,
p.20, grifos no original).

Neste cenário fica extinta a aposentadoria por tempo de contribuição, de acordo com a
PEC art. 12, § 3º, a aposentadoria voluntária com no mínimo, para as mulheres 62 anos e para
o homem 65 anos, com 5 anos no mesmo cargo, 10 anos de serviços público, e 25 anos de
contribuição, a exigência de tempo de serviço e cargo se caracteriza a meu ver o pleonasmo. A
aposentadoria compulsória continua com a exigência de 75 anos. No entanto será majora pela
expectativa de sobrevida da população, já neste ponto se ver um aumento de 5 anos para o
homem e para a mulher o aumento é de 7 anos.
55

O valor da aposentadoria atende a regra de 60% mais o acréscimo de 2% ao ano que


exceder os vinte anos, visto que a partir de 20 anos de contribuição desde que atenda a idade se
pode requerer a aposentadoria, a idade irá subir gradativamente a partir de 2024, essas regras
são para o RGPS. A aposentadoria por incapacidade permanente de trabalho que mudou a
nomenclatura, como dito anteriormente, terá suas regras disciplinados por lei complementar,
enquanto estas não forem editadas atenderá a esta regra dos 60% mais 2% ao ano.
Fica vedado a acumulação de aposentadoria com pensões na íntegra, pensões e
aposentadoria que estejam em regimes diferentes ou no mesmo, estarão limitados ao valor de
100% do benefício mais favorável, com o acréscimo de 80% do primeiro salário mínimo, 60%,
40%, 20%, dos outros três subsequentes. Os Benefícios de Prestação Continuada- BCP também
sofreu mudanças, para o deficiente físico continua as mesmas regras para os idosos passa a ser
um salário apenas com 70 anos de idade, mas podem ter acesso desde os 60 anos como o valor
reduzido a R$ 400,00, que difere da atualidade quando estes podem receber integralmente – um
salário mínimo - a partir dos 65 anos.
Diante desses fatos cada vez é mais notório o quanto os direitos sociais estão sendo
desrespeitados, foi e é um ataque a todos os trabalhadores, a garantia constitucional parece não
existir, o modo de operacionalização da previdência social é deficitário, que cada dia que passa
redistribui menos o capital.

3.3 Uma síntese das transformações previdenciárias

A exploração do homem pelo homem sempre existiu, não é de hoje que o capitalismo
promove essa situação, todas essas mudanças fazem o homem perder suas características de
cidadão, pois o Estado passa o vê-lo apenas como contribuinte. É introduzida no Brasil uma
ideia conservadora em que cada uma deve ser responsabilizado pelos seus problemas, no qual
é inaceitável a ideia que para dirimir as desigualdades sociais é preciso um comprometimento
de todos.
A previdência social tem a finalidade de salvaguardar o trabalhador quando este não
estiver mais condições de através do seu trabalhado tirar seu sustento e de sua família, logo o
trabalho funciona como meio de subsistência. A incapacidade do trabalhador pode chegar a
qualquer momento, não precisa ser necessariamente na velhice, o homem faz parte da natureza,
diferente do que se parece ser entendido, o homem é tratado como algo destituído de natureza.
Marx disse que o homem quando produz, produzia com a própria natureza, mesmo que
56

mudando as formas das matérias, e que no trabalho que efetuado pelo homem tem-se a ajuda
das forças da natureza (MARX, 1998).
Nada é mais previsível que a certeza que tanto a natureza como o homem são detentores
de instabilidade, portanto podem acabar com ou sem previsão de quando será este fim, a
natureza dá a vida e o homem desempenha tarefa de assegurar essa vida, com as ações em
conjunto com a natureza, neste momento o que ocorre é o trabalho.

O trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo


que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu
intercâmbio material com a natureza. Defrontando-se com a natureza como
uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo –
braços, pernas, cabeças e mãos -, a fim de apropriar-se dos recursos da
natureza, imprimindo-lhe forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a
natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica a sua própria
natureza (MARX, 1998, p.5).

Deste modo é imprescindível que este trabalhador esteja protegido e amparado diante
de fatores externos, que não depende de sua vontade ou desenvoltura, o homem é ser inerte a
tudo que pode lhe acontecer. Consequentemente surge a ideia que o Estado deve assegurar tais
pessoas que fazem parte de relações de trabalho, promovendo assim a previdência social, tem-
se nesse momento um estado interventor, promovido pelo segundo momento da Revolução
Francesa, onde se tinha como sujeito o proletariado, um modelo econômico de distribuição de
renda, com o valor de igualdade, como bem pontua Rogério Portanova10 (2004, p. 15). Mas
como se pode falar em liberdade, para quem não está inserido na atividade do capitalismo, visto
que capitalismo já se caracteriza por meio da exploração. Será que quando se vende o trabalho
não está sendo vendido junto a liberdade?
Visto por um lado sim, pois sem o trabalho não tem como se pensar em liberdade, que
são direitos de primeira geração. Quando na Revolução Francesa acontece uma ruptura
epistemológica política no qual é deixada de lado a imagem do clero e da igreja, que era quem
praticavam atividade política afirmando serem legitimados pelo divino, e os reis eram pessoas
enviadas pela divindade com função de governa, tudo isso consubstanciado pela igreja,
caracterizando um Estado Absolutista. Porém, essa ruptura fez mudar a forma de dominação,
apenas é trocado a imagem do senhor feudal pelo burguês detentor de meios de produção, assim
sendo é estipulado uma dominação de tipo novo, mais não se deixou de haver dominação.

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Informação retirada de um artigo que trata sobre Direitos humanos e o Meio Ambiente.
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Percebe-se que a liberdade não foi conquistada efetivamente neste momento, pois a
classe menos favorecida continuou a ser explorada e não tinha liberdade, os direitos coletivos,
no entanto, só foram observados em terceira ruptura epistemológica, onde o terceiro valor era
a solidariedade, talvez tenha sido justamente a solidariedade que tenha faltado na hora de
instituir os direitos sociais na segunda ruptura. A instituição do direito não é suficiente se o
pensamento ainda não o reconhece.
Os direitos sociais que têm prestações positivas, ou seja, alguém tem que fazer algo para
outrem possa exercer tal direito, também são onerosos e indeterminados, sua efetivação
depende de disponibilidade financeira orçamentária, e depende da existência de políticas
públicas para sua efetivação. Justamente por isso pode deixar várias vezes de se concretizar sob
a alegação de indisponibilidade orçamentária, condicionando tais direitos a reserva do possível,
ademais o mínimo existencial está ligando aquilo que o homem precisa para a manutenção de
sua vida.
Precedentemente os autores conceituam o mínimo existencial de maneiras diferente,
Ana Paula Barcellos conceitua de maneira simplificada a educação e saúde básica, assistência
apenas aos desamparados e acesso à justiça (2010), o mínimo existencial é limitador na
concepção de Barcellos, aparentemente se enquadra a outra realidade menos a brasileira, um
país como Brasil é difícil conceituar algo que está ligado intrinsecamente a vida de maneira tão
exaustiva. Ricardo Lobos conceitua o mínimo existencial como todos os direitos sociais, e
parece ser o mais prudente visto que não deve existir um direito em prejuízo de outro,
proporcionando mais segurança para a sociedade em geral, e principalmente a classe
trabalhadora.
Destarte, esses direitos são de exigibilidade imediata, e quando suas consequências não
surtem efeitos cabe ao cidadão pleitear no judiciário seus efeitos. E como existe uma grande
lacuna entre se instituir, garantir e promover é que surge essa discussão de mínimo existencial
e reserva do possível, que são tese levantas para fundamentar a ineficiência do Estado onde
nem o básico consegue garantir. E em meio desses acontecimentos deixam de promover a
cidadania de seus cidadãos.
Já foi dito que uma onda neoliberal vem atuando no mundo desde a década de 70, e que
no Brasil nunca existiu a ideia de um estado social por completo, desde instituição da
previdência que ela é deficitária, não atendendo as necessidades que existiam, excluindo parte
da classe trabalhadora. Neste caso mesmo que eles estejam trabalhando não conseguem adquirir
direitos de primeira, segunda e terceira geração, não usufrui de liberdade, igualdade e
solidariedade, respectivamente. É questionada a existência de um Estado-provedor como
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ineficiente, fundamentando a tese de que é necessário promover o desenvolvimento econômico


através de cortes com o social, pois este era o motivo da crise.
Ademais a transpassado a ideia de indiferença entre o semelhante, esvaziando-os de
direitos, onde se postula que cada um é responsável pelos seus atos, pouco importando o que
gerou tais conflitos e diferenças, havendo o que Marco Aurélio Serau Junior prega como “uma
perda da ideia de solidariedade” e mais:

O que está em crise, na verdade, é o próprio paradigma assegurador do Estado-


Providência, os riscos sociais não são mais percebidos como homogêneos ou
aleatórios. Além disso, nem tudo é risco: há estados permanentes como a
exclusão ou o desemprego estrutural, que provocam a exclusão de vastos
segmentos sociais, de alcance da proteção social. A precariedade e
vulnerabilidade são mais relevantes que a noção de riscos, atualmente, e
demonstram a defasagem de antigos instrumentos de gestão social (SERAU,
2014, p.44).

A parte que é excluída na previdência social brasileira é justamente essa que estar
inserida nas relações de trabalho precárias, onde não se é garantido direitos que advém deste
trabalho, dentre eles a previdência que é um direito social tipificado pela Constituição Federal.
Estando esses trabalhadores vulneráveis ao tempo ou as condições adversas, essa realidade já é
vislumbrada por parte da classe trabalhadora, e paulatinamente é visto que eles ficam mais
vulneráveis diante dos obstáculos que são postos para que se tenha acesso à seguridade.
Na maneira que é o assunto é tratado aparenta-se viver um retrocesso de direitos que
nem conseguiram se efetivar ainda. O cenário político brasileiro está em formação, devido às
grandes mudanças que ocorrem durante a história, em certos momentos constituídos por
regimes ditatoriais, por democracia, por monarquia, etc. No qual os interesses econômicos eram
colocados como norteadores da política, no campo normativo essas mudanças também
refletiram, como consequência disto o Brasil já teve sete Constituições Federais.
Marco Aurélio Serau Junior continua a pontuar que sobre o assunto dizendo que existir
“uma crise no Estado Social, mais do que financeira ou ideológica, passa a ser filosófica,
exigindo sua refundação política e a revisão da ideia de solidariedade e do próprio conceito de
direitos sociais” (2014). Desse modo devesse achar outro modo de atuação da previdência que
cubra o trabalhador diante de suas necessidades, pois a atual adoção pelo modelo pecuniário
interessa apenas ao capital. No entanto é de extrema importância qualificar os direitos sociais
como direitos fundamentais para que se tenha uma sociedade mais justa e equilibrada, através
da garantia de tais de direitos e sua efetivação se consegue promover a justiça social.
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Com a finalidade de redimir os males que são causados pelo capitalismo, com toda sua
trajetória e estruturação diante do homem, com a concepção que o capital deve estar para o
homem e não ao contrário, já que ele faz parte da transformação do homem e da natureza através
do trabalho, que dá ou resultado deste processo o valor-de-uso segundo Karl Marx (1998).
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CONCLUSÃO

Portanto, os trabalhadores que não estão assegurados pela previdência social são os
informais, os que não contribuem porque não tem sua CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência
Social) anotada ou não tem condição de contribuir por conta própria, no entanto, não afasta a
possibilidade de contribuir de outra forma. Estes trabalhadores estão inseridos em mercado de
trabalho desequilibrado, isso acontece por conta das condições de emprego que são oferecidas
combinadas com a condição hipossuficiência que o trabalhador se encontra.
Desencadeando diversos problemas, porque mesmo que o trabalhador não contribua a
previdência de forma direta, ela está contribuindo de forma indireta, já que paga de forma
intrínseca através de outros meios, ou seja, contribui indiretamente. O que fomenta esse
problema é justamente o princípio norteador da previdência social, que exige a contribuição
filiação obrigatória para o trabalhador passe a ser um beneficiário.
Então por mais que a Seguridade Social conseguiu ampliar o acesso a saúde e a
assistência social, a previdência ainda está fundado no primeiro modelo que a deu origem, o
bismarkiano, seguindo a lógica de contrato. Por conseguinte, a seguridade social não atente ao
seu objetivo de universalizar a cobertura e o atendimento, sendo que previdência social deixa
de fora os trabalhadores que não conseguem um emprego formal ou que não o garante pelo
tempo que deveria.
Esses trabalhadores são produtos do próprio capital, visto que Marx pontuava sobre um
excedente de trabalhadores que o capital produz o chamado exército de reserva industrial.
Sendo assim o capital produz estes trabalhadores e os mantém em condições deteriorantes, por
outro lado a previdência exclui este das políticas que advém das relações de trabalho,
configurando-se como contraditório e ineficiente.
A Seguridade Social tem tipificação na Constituição Federal onde diz que é uma ação
integrada de Assistência Social, Previdência Social e Saúde, todavia, a previdência social se
afasta desse conjunto e não constitui ações integradas. Formando-se uma classe trabalhadora
dividida entre pessoas que estão inseridas no mercado de trabalho formal e outras no mercado
informal. Onde os que estão na informalidade caracterizam-se com uma lógica assistencialista
como complemento de renda suficiente para sua subsistência e, os que estão formalizados tem
uma lógica de seguro, onde a previdência tem caráter contratual.
A universalidade apresentada como objetivo é uma universalidade abstrata, onde não
atinge a todos, formando um grande contingente de trabalhadores que se encontram sem o
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devido amparo, ocasionando problemas estruturais na classe trabalhadoras que vivendo assim
a margem do direito previdenciário, dependo único e exclusivamente de si própria,
consequentemente enquanto tiverem forças para trabalhar terão garantido mesmo que em más
condições a sua subsistência.
Percebe-se que a previdência não produz efeitos atenuantes para as desigualdades
sociais, portanto é preciso que se encontra uma lógica que atenda às necessidades do social, das
classes trabalhadora como um todo. Cabendo ao Poder Público garantir direitos e romper com
a lógica de seguro que existe na previdência social, universalizando para todos os trabalhadores
o acesso aos benefícios desta política. Pois o acesso as políticas sociais devem ser público, visto
que seus custeios são realizados por todo o social.
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