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LEITURA DA OBRA DE SIGMUND FREUD

PRIMEIRO SEMESTRE DE 2014 A PRIMEIRA TÓPICA

Depois de doze anos em que a leitura da obra de Freud foi feita em blocos divididos ao longo
de quatro anos, esta atividade foi reformulada para permitir a ampliação do rodízio de
coordenadores e para neutralizar a postura do participante que se pretende “aluno de um
curso”.

A partir de 2014 essa atividade de leitura será feita de modo mais conciso, exigindo do
participante a efetiva leitura da obra e permitindo a renovação dos coordenadores que,
embora já versados na obra de Freud, não haviam ainda se envolvido com a transmissão da
psicanálise, atividade que, no entanto, é fundamental e imprescindível para a sustentação da
clínica de um analista.

O primeiro semestre, dedicado à Primeira Tópica, será formado por dois blocos temáticos: Os
Primórdios e o nascimento da Psicanálise e a Metapsicologia.

Primeira Tópica foi como se convencionou chamar a primeira formulação que Freud deu do
aparelho psíquico descrito em termos de consciente, pré-consciente e inconsciente.

A certidão de nascimento da psicanálise é dada pela publicação da “Interpretação dos


Sonhos”, em 1900. Essa obra inaugura uma nova episteme que dará conta de uma clínica
própria de fenômenos que até então estavam a cargo da medicina. Eram as denominadas
doenças nervosas, para as quais a medicina não apresentava nenhuma solução satisfatória.
Por ser neurologista de formação, Freud vai se haver com esses casos. Porém, desde o início,
põe em prática um método completamente inédito, criado por outro neurologista (Breuer) e
inventado pela própria paciente de Breuer (Ana O), que pede que ele a deixe simplesmente
falar. Trata-se do método catártico, experimentado por Breuer nessa única experiência com
essa histérica, cerca de dez anos antes do relato que faz a Freud. Esse é o início de Freud
psicanalista. Ele passa a atender doentes dos nervos, pondo em prática um método que utiliza
apenas a fala. A partir do que escuta de suas pacientes (em sua grande maioria mulheres
histéricas, pois a histeria é a grande doença psíquica do final do século 19), Freud dará início à
formulação teórica que constituirá a psicanálise.

A Interpretação dos Sonhos é a obra que apresentará ao a Psicanálise ao mundo. Aqui Freud
apresenta o aparelho psíquico, um aparelho a mais a constituir o ser humano, além dos
demais já estabelecidos pela medicina. Esse aparelho, embora seja parte constituinte do ser
humano e tenha capacidade de afetar seu corpo, não é físico propriamente. Ele é totalmente
simbólico, operando através dos efeitos da linguagem. O aparelho psíquico é estruturado

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como uma linguagem e disso dará provas o texto da Interpretação dos Sonhos. É a
interpretação de um sonho que inaugura esse novo método, já agora totalmente afastado
daquele que o inspirou – o método catártico de Breuer.

O próprio Freud assim o anuncia numa carta a Fliess : “Nesta casa o segredo dos sonhos foi
revelado para o Dr. Sigmund Freud.” Trata-se do sonho da “Injeção de Irma”, sonho
considerado prínceps da psicanálise.

A principal descoberta de Freud é que os sonhos têm sentido e seu sentido é o cumprimento
do desejo. Como se não bastasse o escândalo de atribuir sentido àquilo que toda tradição
médica e filosófica havia considerado rebotalho mental, Freud ainda afirma que o desejo que
se cumpre nos sonhos é um desejo sexual.

Já no ano seguinte, publica a “Psicopatologia da Vida Cotidiana”. Ali serão todos os atos falhos
e equivocados que, como os sonhos, também testemunharão o cumprimento do desejo. Isso
representa uma questão de grande importância para a psicanálise que está se firmando como
uma teoria do psiquismo humano e não apenas do psiquismo doente, acometido de sintomas.
Embora os sonhos sejam produzidos por qualquer pessoa e não apenas pelos doentes, nessa
obra Freud analisa sonhos relatos por seus pacientes, além de seus próprios sonhos, mas isso
não é suficiente para sustentar uma tese sobre o psiquismo do ser humano em geral. Com a
análise de atos do cotidiano, Freud encontra farto material comprobatório de sua tese, que
postula um aparelho psíquico onde a diferença entre o normal e o patológico não reside mais
numa diferença estrutural. Escândalo e desconforto renovados: além de o homem normal não
ser psiquicamente superior ao doente, está claro que ele tampouco é senhor em sua própria
casa. Algo comanda suas ações, seus sonhos, e não é sua consciência.

Com a publicação do “Chiste e sua Relação com o Inconsciente”, em 1905, Freud completará a
trilogia do funcionamento inconsciente segundo as leis da linguagem. O Chiste é o próprio não-
senso que produz sentido e prazer; também ele cumpre o desejo inconsciente.

Com essas três obras, que Lacan qualificou de “canônicas”, a psicanálise está definitivamente
situada como uma teoria (e uma técnica) completamente inédita e única.

O bloco seguinte, dedicado à Metapsicologia, tratará das principais obras teóricas que definem
e sustentam a primeira tópica. Aqui, Freud apresenta sua obra teórica que pouco a pouco vai
redesenhando o ser humano, a infância e os processos mentais: o recalque, o inconsciente, as
pulsões, pilares conceituas da psicanálise.

Regina Steffen

BIBLIOGRAFIA:
Freud, S., Edição Standart Brasileira das Obras Completas 24
vols., Rio de Janeiro, Imago.
--------------, Obras Completas, 3 vols., Madrid, Biblioteca Nueva.
--------------, Obras Completas, 24 vols., Buenos Aires, Amorrortu
Editores.

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Roudinesco, E. e Plon, M. Dicionário de Psicanálise, Rio de
Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1998.
Kauffmann, P. (editor), Dicionário Enciclopédico de Psicanálise –
O legado de Freud e Lacan. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro,
1996.
Laplanche, J. e Pontalis, J.B., Vocabulário da Psicanálise, Livraria
Martins Fontes Ed., Lisboa, 1970.

SUGESTÃO DE LEITURA: BIOGRAFIAS DE FREUD


Gay, P. Freud – Uma Vida Para Nosso Tempo, Companhia das
Letras.
Anzieu, D. L’auto-analyse de Freud et la découverte de la
psychanalyse, PUF.
Jones, E. Vida e Obra de Sigmund Freud, Zahar.
Schur, M. Freud: Vida e Agonia, 3 vols., Imago.
Freud, L.N. (org.), S. Freud: Correspondência de Amor e Outras
Cartas - 1873-1939, Ed. Nova Fronteira.
Gabbi Jr., O. F. Notas a projeto de uma psicologia, Imago, Rio de
Janeiro, 2003.

COORDENAÇÃO: Comissão de ensino

HORÁRIO: quintas-feiras das 20h00 às 21h30

INÍCIO: 06/03/2014

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