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“OS PLÁSTICOS E O AMBIENTE: O outro lado da história…”

Por vezes, quando se conta uma história, opta-se por contar apenas uma parte dessa história,
aquela que mais convém ou interessa partilhar… Mas a verdade é que só é possível entendermos
o real contexto quando estamos na posse de toda a informação, ou seja, da história completa.
Nos dias de hoje, este é um dos problemas de que “sofre” o material plástico, já que grande
parte das alegações mais frequentes se baseiam em mitos.

O plástico, enquanto material versátil que é, veio revolucionar a nossa sociedade de consumo
nas mais diversas áreas, como sejam: embalagem, transportes, saúde, eletrónica, construção,
entre outras, contribuindo globalmente para a minimização de impactes e custos ambientais.

Fonte: Trucost Plastics and Sustainability: A Valuation of Environmental Benefits, Costs and Opportunities for Continuous Improvement, July 2016.
Costs shown in US Billion dollars.

Mas de um momento para o outro, como que por magia, este material passou a ser
percecionado, um pouco por todo o mundo, como o mal de todos os males, em que o tema da
poluição dos oceanos se tornou o principal veículo. Mas ao contrário do que se possa imaginar,
os plásticos que aparecem nos oceanos têm na sua maioria origem em terra, cerca de 80%, onde
o maior contributo provém de países asiáticos e africanos, onde não existem sistemas de recolha
eficientes. A contribuição da Europa para este problema, que existe e que é grave, é cerca de
1%. E portanto o problema, em si, não é o facto de serem plásticos mas o facto de terem sido
abandonados, ou seja, estamos perante um problema comportamental!

Fonte: Jambeck et al Research Report – “Marine Pollution: Plastic waste inputs from land into the ocean”, Feb 2015.

E ao invés de se procurar combater a raiz do problema, não, opta-se por olhar para o lado e visar
o material, restringindo a sua utilização. Talvez seja a via mais fácil, mas certamente a mais
errada. Proibir pura e simplesmente o uso do plástico representa um retrocesso ambiental,
económico e civilizacional. Antes de se querer proibir um determinado produto deve-se estudar
previamente o impacto de tal medida, de forma a garantir a sua sustentabilidade,
proporcionalidade, segurança e viabilidade. A este nível, o estudo nunca ficará completo se não
forem avaliados, através de análises de ciclo de vida, os impactes dos produtos de materiais
alternativos, cujo desempenho ambiental é bastante inferior ao plástico.

Fonte: The impact of plastic packaging on life cycle energy consumption and greenhouse gas emissions in Europe: Executive summary July 2011, Bernd
Brandt and Harald Pilz.

Infelizmente, esta análise nem sempre é efetuada, levando muitas empresas, não só pelo
mediatismo que o tema plástico tem tido como também pela pressão dos próprios
consumidores, nem sempre devidamente informados, a tomar opções que no final se vêm a
revelar menos sustentáveis que a opção inicial e contrárias à economia circular. Temos como
exemplo prático a substituição dos copos de plástico de polipropileno, um material reciclável,
por copos de “papel”. Contudo, este copo dito de “papel” é plastificado no seu interior, podendo
inclusive sê-lo também no exterior, quando projetado para acondicionar bebidas frias, por
questões de condensação. Resultado, passamos de um monomaterial reciclável, para um
material complexo não reciclável. Na prática, a solução encontrada em nada beneficiou o
ambiente, muito pelo contrário. E como este, muitos outros casos têm tido expressão no
mercado.

É, pois, essencial que todos os atores que integram a cadeia de valor do material desenvolvam
ações que contribuam para a circularidade do plástico. Em primeira instância, é fundamental
que as embalagens, por via do ecodesign, sejam projetadas cada vez mais para a reciclagem e
para o ambiente, com o propósito de aumentarmos a sua reciclabilidade, sempre com o
princípio básico de não comprometermos a sua função. Neste capítulo, a inovação, com recurso
à investigação e desenvolvimento de novos materiais, produtos e ou tecnologias, ganha uma
relevância extrema. Paralelamente, é fundamental que a incorporação de material reciclado nas
mais diversas aplicações seja impulsionada.

No entanto, de pouco serve termos embalagens bem concebidas e fáceis de reciclar se no final
o consumidor não adotar os comportamentos de separação e deposição seletivas. Esta simples
atitude será decisiva para o desígnio da gestão de resíduos em Portugal, nos próximos tempos,
desde logo, pelos objetivos futuros a que o país está obrigado em matéria de taxas de reciclagem
e de deposição em aterro, ambas bastante ambiciosas.

Em resumo, todos nós, enquanto consumidores, temos um papel determinante no caminho


para a sustentabilidade e economia circular, quer pela via de um consumo cada vez mais
racional, quer pela adoção de um comportamento mais cívico e mais responsável na forma de
descarte dos resíduos gerados. O Ambiente envolve-nos a todos e a responsabilidade também…

Nuno Aguiar

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