Você está na página 1de 1

Foucault inicia o dialogo citando o que um “maoísta” 1 havia dito: “Eu compreendo que

Sartre esta conosco, porque e em que sentido ele faz política; você, eu compreendo
um pouco: você sempre colocou o problema da reclusão. Mas Deleuze eu realmente
não compreendo”.
Assim, Deleuze procura ressaltar a concepção “teoria-prática”, pois alerta que a teoria
é determinante na prática, como a prática é determinante na teoria; considera que no
caso da prática há um “conjunto de revezamentos de uma teoria a outra” e no caso da
teoria “um revezamento de uma prática a outra”. Usa como exemplo, os estudos de no
meio de reclusão nos asilos psiquiátricos, onde Foucault apresenta a necessidade de
dar voz aos reclusos tornando determinante a prática na teoria. Com efeito, considera
um absurdo afirmar, como faz o maoísta, que Foucault teria “passado à prática
aplicando suas teorias”.
Deleuze, ainda considera que no caso de tais estudos, Foucault, havia aplicado “um
sistema de revezamentos em um conjunto, em uma multiplicidade de componentes ao
mesmo tempo teóricos e práticos”. Portanto, concluí que o teórico, isto é, o intelectual,
deixou de “ser um sujeito, uma consciência representativa”; afinal, assim como no
caso dos “reclusos”, também os representados ganharam voz na própria
representação.
Foucault, então, demonstra a existência de dois tipos de intelectual, o “maldito” e o
“socialista”; entende que as massas, de fato, não necessitam dos intelectuais para
saber, porém, o “sistema de poder” determina tal necessidade.
Os intelectuais são parte do sistema de poder, daí se tornam “consciências
representativas” pelo próprio sistema; Foucault enfatiza que o intelectual é ao mesmo
tempo “objeto e instrumento” do sistema de poder, seja na ordem do “saber”, da
“verdade”, do “discurso” e da “consciência”. Portanto, Foucault considera que a teoria
não é determinante na prática, mas é a própria prática.
Deleuze concorda com Foucault, acrescenta que a “teoria é como uma caixa de
ferramentas”, sempre válida conforme o momento e a necessidade. A teoria não
totaliza, mas multiplica-se diante do que esta por vir. E qualquer tipo de representação
isolada ou reforma; isto é, o “falar pelos outros” não permitindo que falem, é indigno.
Então, Foucault faz alusão à condição dos prisioneiros, concluindo que o falar, a
manifestação destes expressa mais do que uma delinqüência, e sim, uma “teoria da
prisão”, “penalidade” e “justiça”; permitindo o interesse do não-prisioneiro em querer
ouvir tais manifestações; o que certamente causa surpresa. Ele alega que nas prisões
o sistema de poder se torna evidente, pois “não se mascara cinicamente, se mostra
como tirania levada aos mais íntimos detalhes, é puro...” chegando a tornar-se infantil.
Deleuze responde alegando que não são “apenas os prisioneiros que são tratados
como crianças, mas as crianças como prisioneiros”; considera que tal infantilização
sofrida pelas crianças, não é próprio delas, e que o mesmo que ocorre nas prisões,
ocorre nas escolas e fábricas. Conclui citando o próprio Foucault, de “que não existe
justiça popular contra a justiça; isso se passa em outro nível”.
Foucault acrescenta que a justiça é uma forma de poder do sistema; pois, exemplifica
com a Revolução Francesa, onde os modelos dos tribunais impunham uma ideologia
de justiça burguesa.

Você também pode gostar